O NOSSO DEUS É UM DEUS CUIDADOR
Poucas
vezes na vida nos confiamos tanto aos cuidados de Deus como nessa longa noite
escura que estamos vivendo. A expressão
Deus cuide de Você, ou sob os cuidados de Deus, e ainda estamos nas mãos de
Deus são repetidas com uma frequência nunca vista. Na verdade Deus sempre cuidou
das pessoas e isso podemos perceber com clareza nas leituras desse domingo.
O
texto do livro do êxodo apresenta uma relação de atitudes que servem de baliza
para qualquer pessoa que precisa de cuidado e que, igualmente, se propõe a cuidar.
E a dimensão do cuidado tem três eixos muito claros: a relação das pessoas
entre si, a relação da pessoa consigo mesma e a relação com Deus.
O
texto traz uma originalidade que nenhuma outra religião ou divindade se
reserva: “Eu
sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, Não te prostrarás diante
destes deuses, Não pronunciarás o nome do Senhor teu Deus em vão,
Lembra-te de santificar o dia de sábado”. Essas quatro regras deixam muito claro que Deus é a
única referência na vida do povo.
As outras seis prescrições podem ser descritas como a
constituição de um povo. Todas elas fazem referência ao respeito da pessoa pelo
outro e consequentemente respeito para si mesmo.
Note-se que essas regras foram dadas logo depois que o povo
se libertou da escravidão do Egito. Elas não são novas regras para coloca-los
de novo num regime de servidão, pelo contrário, são balizas necessárias para
garantir que a liberdade conquistada, a duras penas, não seja perdida.
Ontem como hoje não faltam oportunidades para nos deixar
escravizar por deuses estranhos: dinheiro, poder, afetos, profissão, status,
interesses egoístas, ideologias, moda e uma infinidade de outros em relação aos
quais condicionamos nossos comportamentos. Em resumo colocar em prática os
ensinamentos não é se sujeitar a uma série de regras e normas, mas ir
construindo, passo a passo a própria liberdade.
São Paulo fala aos coríntios: “Nós, porém, pregamos Cristo crucificado, pois
o que é dito insensatez de Deus é mais sábio do
que os homens, e o que é dito fraqueza de Deus é mais forte do que os homens”. Esta afirmação implica compreender que nenhuma realização e
nenhuma felicidade duradoura está no poder, na autoridade, na riqueza, mas na
lógica da doação da vida até as últimas consequências, ou seja, no serviço e no
diálogo fraterno com todos.
No Evangelho Jesus entra num
ambiente cuja finalidade deveria ser a promoção do encontro com Deus e com as
pessoas, mas o Templo de Jerusalém já não cumpre mais a missão para a qual foi
construído: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio! 'O
zelo por tua casa me consumirá”. A continuação
das palavras de Jesus não deixa dúvidas que as autoridades dos judeus não
tinham apenas profanado o Templo de pedra, mas também o templo humano. Fazendo
uma alusão que só foi ser compreendida mais tarde, Jesus afirma: “Destruí, este Templo, e
em três dias o levantarei”.
Se tem uma coisa que precisa
ficar clara para todos é que Deus não se conforma enquanto as pessoas forem
profanadas e escravizadas por quem quer que seja ou por qualquer razão que seja.
Uma vez batizados,
todos fazemos parte do mesmo corpo de Jesus. Num mundo em que as pessoas são
feridas, cicatrizadas, humilhadas pela fome, pela miséria, pelas doenças, pela
intolerância todos somos chamados a transformar os verdadeiros templos em lugar
onde mora Deus, e para isso será necessário garantir o cuidado, o respeito e a
honra de todos em todos os lugares.
Que esta quaresma e
o dialogo fraterno que nos ensina a Campanha da Fraternidade nos faça
construtores e amantes dos Templos de Deus com quem convivemos diariamente.
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