quinta-feira, 4 de março de 2021

HOMILIA PARA O DIA 07 DE MARÇO DE 2021 - 3º DOMINGO DA QUARESMA - ANO B

 

O NOSSO DEUS É UM DEUS CUIDADOR

Poucas vezes na vida nos confiamos tanto aos cuidados de Deus como nessa longa noite escura que estamos vivendo.  A expressão Deus cuide de Você, ou sob os cuidados de Deus, e ainda estamos nas mãos de Deus são repetidas com uma frequência nunca vista. Na verdade Deus sempre cuidou das pessoas e isso podemos perceber com clareza nas leituras desse domingo.

O texto do livro do êxodo apresenta uma relação de atitudes que servem de baliza para qualquer pessoa que precisa de cuidado e que, igualmente, se propõe a cuidar. E a dimensão do cuidado tem três eixos muito claros: a relação das pessoas entre si, a relação da pessoa consigo mesma e a relação com Deus.

O texto traz uma originalidade que nenhuma outra religião ou divindade se reserva: “Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, Não te prostrarás diante destes deuses, Não pronunciarás o nome do Senhor teu Deus em vão, Lembra-te de santificar o dia de sábado”. Essas quatro regras deixam muito claro que Deus é a única referência na vida do povo.

As outras seis prescrições podem ser descritas como a constituição de um povo. Todas elas fazem referência ao respeito da pessoa pelo outro e consequentemente respeito para si mesmo.

Note-se que essas regras foram dadas logo depois que o povo se libertou da escravidão do Egito. Elas não são novas regras para coloca-los de novo num regime de servidão, pelo contrário, são balizas necessárias para garantir que a liberdade conquistada, a duras penas, não seja perdida.

Ontem como hoje não faltam oportunidades para nos deixar escravizar por deuses estranhos: dinheiro, poder, afetos, profissão, status, interesses egoístas, ideologias, moda e uma infinidade de outros em relação aos quais condicionamos nossos comportamentos. Em resumo colocar em prática os ensinamentos não é se sujeitar a uma série de regras e normas, mas ir construindo, passo a passo a própria liberdade.

São Paulo fala aos coríntios: “Nós, porém, pregamos Cristo crucificado, pois o que é dito insensatez de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é dito fraqueza de Deus é mais forte do que os homens”. Esta afirmação implica compreender que nenhuma realização e nenhuma felicidade duradoura está no poder, na autoridade, na riqueza, mas na lógica da doação da vida até as últimas consequências, ou seja, no serviço e no diálogo fraterno com todos.

No Evangelho Jesus entra num ambiente cuja finalidade deveria ser a promoção do encontro com Deus e com as pessoas, mas o Templo de Jerusalém já não cumpre mais a missão para a qual foi construído: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio! 'O zelo por tua casa me consumirá”. A continuação das palavras de Jesus não deixa dúvidas que as autoridades dos judeus não tinham apenas profanado o Templo de pedra, mas também o templo humano. Fazendo uma alusão que só foi ser compreendida mais tarde, Jesus afirma: “Destruí, este Templo, e em três dias o levantarei”.

Se tem uma coisa que precisa ficar clara para todos é que Deus não se conforma enquanto as pessoas forem profanadas e escravizadas por quem quer que seja ou por qualquer razão que seja.

Uma vez batizados, todos fazemos parte do mesmo corpo de Jesus. Num mundo em que as pessoas são feridas, cicatrizadas, humilhadas pela fome, pela miséria, pelas doenças, pela intolerância todos somos chamados a transformar os verdadeiros templos em lugar onde mora Deus, e para isso será necessário garantir o cuidado, o respeito e a honra de todos em todos os lugares.

Que esta quaresma e o dialogo fraterno que nos ensina a Campanha da Fraternidade nos faça construtores e amantes dos Templos de Deus com quem convivemos diariamente.

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