A ARTE DE SABER ACOLHER
O tempo de isolamento
social que nos foi imposto pela pandemia nos pegou de surpresa no meio da correria
cotidiana e parecia que iria servir para a frear a agitação e a farsa necessidade
de correr atrás do tempo. Terminados os dois anos retomamos a vida com a mesma
velocidade estonteante. Continuam as imprudências no trânsito, o final do dia
nos deixa derrubados pelo cansaço, não temos tempo para a família, fazemos as
refeições às pressas com os nervos à flor da pele quando a internet não alcança
a velocidade contratada. Não somos capazes de digerir a paciência com que
algumas pessoas encaram a vida. Nesse contexto podemos nos perguntar qual seria
nossa disponibilidade para sentar aos pés de Jesus!
Uma leitura desatenta
do Evangelho desse domingo nos levaria a colocar em oposição a vida ativa e a
vida de oração. No entanto parece claro que a narrativa das duas irmãs sugere
outra coisa que significa dar tempo para escutar a Palavra de Jesus como ponto
de partida para o serviço, para a ação e para o trabalho de acolhida e comprometimento
com as pessoas e suas necessidades.
A resposta de Jesus: “Maria escolheu a melhor parte e
esta não lhe será tirada” significa
reconhecer a preciosidade da sua presença, a necessidade de frear nossa corrida
contra o tempo e permitir que a Palavra d’Ele seja luz em nosso caminho e força
em nossas ações. Estar com Jesus não é mesma coisa que conhecer doutrinas e
teorias, mas alimentar-se da essência da vida e então colocar-se na estrada da
doação e do serviço às pessoas e ao mundo.
“Marta,
Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas”. A advertência que Jesus faz para a irmã atarefada não
tem o objetivo de dizer que as ações cotidianas não são importantes e
necessárias, mas ao mesmo tempo não podem sufocar e impedir a escuta da
Palavra! O que Maria tem para nos ensinar significa estar atentos à Palavra e
que a partir dela nosso cotidiano ganha novas razões para viver.
Deixemo-nos transformar pelo Mestre, ouvindo e
praticando sua Palavra, pondo-nos no mesmo caminho que o dele. Aos seus pés e
ouvindo sua Palavra, encontraremos todo o necessário para que nossa vida ganhe
sentido aqui e se torne plena no seio de Deus.
O autor do livro do Gênesis, serve-se de uma
antiga lenda para mostrar Abrão como um homem íntegro, justo, misericordioso e
acolhedor. Abraão deixando suas ocupações corriqueiras dá ouvidos aos estranhos
visitantes a quem depois de lhes acolher e ouvir coloca-se a servi-los e recebe
como recompensa a realização da promessa que Deus lhe havia feito: “Voltarei, sem
falta, no ano que vem, por este tempo, e Sara, tua mulher, já terá um filho”.
A carta aos Colossenses apresenta
Paulo igualmente como um homem que colocou como referência fundamental para sua
vida Jesus Cristo e sua Palavra: “Alegro-me de tudo o que já sofri
por vós e procuro completar em minha própria carne o que falta das tribulações
de Cristo, em solidariedade com o seu corpo, isto é, a Igreja. A ela eu sirvo,
exercendo o cargo que Deus me confiou de vos transmitir a palavra de Deus em
sua plenitude: o mistério escondido por séculos e gerações, mas agora
revelado aos seus santos. A estes Deus quis manifestar como é rico e glorioso
entre as nações este mistério: a presença de Cristo em vós, a esperança da
glória”.
O convite que Paulo faz para a
comunidade de Colosso é extensivo a cada um de nós e se assemelha ao convite
que Jesus fez a Marta: “Maria escolheu a
melhor parte e essa não lhe será tirada”.
Certamente podemos nos perguntar como cristãos e
como Igreja como são acolhidas as pessoas em nossas comunidades e famílias, nas
repartições públicas, nos hospitais e escolas.
Rezemos e peçamos a graça de compreender e nos
colocar abertos à Palavra e aos ensinamentos para então servir melhor!
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