terça-feira, 26 de julho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 31 DE JULHO DE 2022 - 18º COMUM - ANO C

 

DAI AO NOSSO CORAÇÃO, SABEDORIA!

Algumas realidades cotidianas são muito simples e nos dão a ilusão de extraordinárias. Um dos exemplos é a diferença entre a janela e o espelho. A primeira por sua transparência permite que se veja o mundo exterior com a clareza que ele tem. Se uma fina camada de prata for aplicada no lado externo do vidro a gente só consegue enxergar a si mesmo e corre o risco de realizar consigo o mito de Narciso que morreu de sede admirando a própria beleza espelhada no fundo da água.

Em nosso cotidiano não são poucas as vezes que nos iludimos admirando e supervalorizando as próprias conquistas, realizações, feitos extraordinários e até riquezas acumuladas e que muitas vezes anoitecem e não amanhecem. São comparados a riscos na camada de prata do espelho, impedem de enxergar as próprias realizações e não permitem de ver para além do próprio reflexo.

No Evangelho desse domingo temos duas lições para ser aprendidas e que mostram como as riquezas acumuladas se comparam ao espelho. No primeiro caso é um fato real que trata da divisão de bens entre irmãos herdeiros. No segundo caso é uma parábola sobre a insensatez de quem gasta todas as forças para acumular tesouros que desaparecem tão rápido como chegam: “E disse Jesus: Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens... louco! Ainda esta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste? ’ Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus”. Nos dois casos o que estava em jogo era o apego excessivo aos bens materiais que em nenhuma situação respondem as mais profundas necessidades humanas! Quando temos nossa preocupação centrada nessas coisas que podem desaparecer rapidamente construímos deuses que desumanizam, ou seja passamos uma fina camada de prata na janela de nossa vida, transformando-a num falso espelho de felicidade. Sempre que agimos assim não temos escrúpulo de explorar, escravizar, cometer injustiças contra quem quer que seja tudo em nome de “ampliar a própria riqueza”.

O livro do Eclesiastes, de onde é tirada a primeira leitura desse domingo é todo ele uma crítica à maneira tola de viver a vida cuja existência termina num piscar de olhos: “Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade”. Por exemplo: um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso, vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou. Também isso é vaidade e grande desgraça”. As constatações do autor desse livro se assemelham às afirmações dos filósofos existencialistas modernos quando afirmam que a vida humana não tem nenhum sentido na medida em que a pessoa vive pensando só na efêmera realidade terrestre.

Para onde vai a nossa vida, se não tiver o horizonte em Deus? Ele é a única razão a qual se pode ver mediante a janela da nossa existência terrena. Daí sim tem razão o salmo que rezamos: “Ensinai-nos a contar os nossos dias, / e dai ao nosso coração sabedoria! / Senhor, voltai-vos! Até quando tardareis? / Tende piedade e compaixão de vossos servos”

Na segunda leitura São Paulo faz um convite para que todos nos identifiquemos com Cristo e deixemos os ‘deuses’ que construímos através do espelho das nossas falsas seguranças: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus”.

Peçamos a graça de nunca cruzar os braços e nos iludir fazendo de conta que não precisamos enxergar além das nossas próprias seguranças. É certo que elas são efêmeras e apenas espelham a própria fragilidade. Façamos de nossa vida o que cantamos no salmo de hoje:

Vós fostes, ó Senhor, um refúgio para nós.

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