terça-feira, 31 de julho de 2018

PELA VIDA E PELA DEMOCRACIA - A HORA É AGORA

PELA VIDA E PELA DEMOCRACIA

Em 1976, o álbum do ano de Roberto Carlos trouxe entre seus sucessos a música Progresso, e nela o Rei canta:
Eu não posso aceitar certas coisas que eu não entendo
O comércio das armas de guerra, da morte vivendo
Eu queira falar de alegria ao invés de tristeza mas não sou capaz
Eu queria ser civilizado como os animais. 

Não sou contra o progresso
Mas apelo pro bom-senso
Um erro não conserta o outro
Isso é o que eu penso.

O filósofo contemporâneo e ateu Leandro Karnal afirma: “Não existem fórmulas para ser ético, são conceitos básicos como respeitar o espaço do outro, não se fixar somente na sua felicidade pessoal, mas sim coletiva”.
O que estamos assistindo no Brasil nos últimos tempos não é outra coisa senão a “falta de bom senso” e de respeito pelos interesses coletivos em detrimento de vantagens pessoais. A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, não é outra coisa senão tentar “consertar um erro legalizando uma barbaridade ainda maior”, baseada num conceito de liberdade e felicidade pessoal, e com o pretexto de garantir saúde e segurança das mulheres certamente é “[...] um grave equívoco pretender resolver problemas, como o das precárias condições sanitárias, através da descriminalização do aborto. Urge combater as causas do aborto, através da implementação e do aprimoramento de políticas públicas que atendam eficazmente as mulheres, nos campos da saúde, segurança, educação sexual, entre outros, especialmente nas localidades mais pobres do Brasil. Espera-se do Estado maior investimento e atuação eficaz no cuidado das gestantes e das crianças. É preciso assegurar às mulheres pobres o direito de ter seus filhos. Ao invés de aborto seguro, o Sistema Público de Saúde deve garantir o direito ao parto seguro e à saúde das mães e de seus filhos” (Nota da CNBB pela Vida, contra o aborto, de 11 de abril de 2007).
O pedido que nasceu em algumas instâncias da sociedade que se organizam na forma de lobby levam o STF, a se dobrar perante interesses mesquinhos e corporativos numa clara ameaça à democracia e gastar seu precioso tempo em audiências públicas com a restrita finalidade de “modificar a constituição”. E não agir como   órgão máximo do Poder Judiciário e cuja função é proteger a Constituição da República Federativa do Brasil, que é a norma mais importante do país.
Desta Maneira a democracia se vê mais uma vez ameaçada pela clara interferência de um poder sobre o outro esquecendo-se que “As democracias modernas foram concebidas como formas de oposição aos absolutismos de qualquer gênero: pertence à sua natureza que nenhum poder seja absoluto e irregulável. Por isso, é imensamente desejável que, diante destas ameaças hodiernas, encontremos modos de conter qualquer tipo de exacerbação do poder” (http://www.cnbb.org.br/comissao-para-vida-e-a-familia-da-cnbb-mobiliza-cristao-na-luta-contra-a-legalizacao-do-aborto/).
O momento é agora para cada cidadão e para a sociedade como um todo dizer não a onipotência de qualquer um dos poderes da república, na certeza que todos eles são frutos da democracia cujo poder emana do povo e só é legítimo se exercido em seu nome e sob sua outorga.



quinta-feira, 26 de julho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 29 DE JULHO DE 2018 - 17º COMUM - ANO B


AJUDEM AS PESSOAS PENSAR...

O Evangelho deste domingo apresenta mais uma das provocações de Jesus quando vê a multidão que vinha ao seu encontro. Neste caso ele se dirige aos seus discípulos dizendo: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?' Disse isso para pô-los à prova, pois ele mesmo sabia muito bem o que ia fazer”. Interpretando a provocação de Jesus pode-se modificar a frase “'Fazei as pessoas sentar”, por “ajudem as pessoas pensar”.
Não se trata de forçar o evangelho, mas de perceber que a intenção de Jesus estava mais do que clara. Ele não estava apenas preocupado em saciar a fome da multidão que vinha ao seu encontro, sua preocupação se estendia também para a construção de novas relações que implicam responsabilidade, partilha, solidariedade, cuidado com o próximo e uma porção de outras exigências para a construção de uma sociedade justa e fraterna.
É perfeitamente possível sair do plano da simples fome de pão que assola milhares de pessoas pelo Brasil afora e pensar na “fome de justiça” que se houve em todos os cantos desta nação. Uma das notícias mais comentadas nesta semana foi a morte da estudante brasileira na Nicarágua. Em que pese o abuso de poder e a forma violenta como o governo daquele país vem respondendo às manifestações contrárias às reformas que afligem direitos das populações, é necessário se perguntar também quantos foram os brasileiros mortos nesta semana de forma violenta em muitas circunstâncias não explicadas e se explicadas não justificadas. Neste contexto Jesus diria: “Não se deixe iludir por respostas fáceis, mas vamos pensar juntos em soluções para a ‘fome de justiça”.
As convenções partidárias e a indicação dos pretendentes ao executivo e legislativo nos diversos níveis de governo no país movimentam alguns milhões de reais e muitos interesses nem sempre bem esclarecidos. Para este caso se poderia aplicar a palavra do profeta que se lê na primeira leitura: Veio também um homem de Baal-Salisa, trazendo em seu alforje para Eliseu, o homem de Deus, pães dos primeiros frutos da terra: eram vinte pães de cevada e trigo novo. E Eliseu disse: 'Dá ao povo para que coma”. Ou seja, todos os que se apresentam com propostas mirabolantes capazes de solucionar todos os problemas que a décadas afligem a nação se poderia pedir ao menos uma coisa: “Garanta que todos tenham comida, trabalho, saúde, educação, segurança,” e isto já seria uma grande proposta.
E neste sentido também é oportunidade para repetir o que se reza no salmo: “Saciai os vossos filhos ó Senhor. Vós que sois justo em seus caminhos, e santo em toda obra faz. Que está perto da pessoa que o invoca, de todo aquele que o invoca lealmente”.
Que a Palavra de Deus ajude todos a seguir e aprender com Jesus o que significa colocar em comum o que se tem para que todos vivam melhor.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 22 DE JULHO DE 2018


POLÍTICA E RELIGIÃO DUAS COISAS 
QUE TEM TUDO A VER

Uma das notícias nos grandes meios de comunicação em Santa Catarina nesta semana apresentava o volume de gastos que a Assembleia Legislativa Barriga Verde tem anualmente com cada deputado. Pasmem, cada um deles consome quase dezesseis milhões de reais. O mesmo veículo de comunicação anunciava que faltam em Santa Catarina, pelo menos, 179 leitos de UTI Neonatal. Não precisa ficar garimpando notícias para encontrar outras inúmeras barbaridades de malversação de recursos públicos nas diversas instâncias de governo. Sem pestanejar é possível repetir as palavras de Jesus: “Tenho pena deste povo, se parece ovelhas sem pastor”.
O relato do Evangelho proclamado na liturgia deste domingo apresenta o retorno dos discípulos depois de uma tarefa missionária que o mestre lhes havia confiado. O Texto diz que “Os apóstolos se reuniram com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer”. Apesar desta situação Jesus não se furta de atender o povo e ajuda a encontrar uma resposta para os seus sofrimentos. Diferente das autoridades do seu tempo, que se reúnem para planejar a morte, Jesus acolhe para lhes dar de comer e devolver a esperança.
O jeito de ser e agir de Jesus reproduz a ação de Deus reconhecida pelo povo ao longo da história na figura do bom pastor como se reza no Salmo: Ele me guia no caminho mais seguro, pela honra do seu nome. Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei; estais comigo com bastão e com cajado; eles me dão a segurança”.
Sobre Jesus é que São Paulo escreve aos efésios: Ele aboliu a Lei com seus mandamentos e decretos. Ele quis, assim, a partir do judeu e do pagão, criar em si um só homem novo, estabelecendo a paz. Quis reconciliá-los com Deus, ambos em um só corpo”.
Ora se a ação de Jesus teve este objetivo e de fato conseguiu realizar, também aos cristãos do terceiro milênio se pede a mesma coisa. Diante deste povo sem esperanças, diante das injustiças e mau uso do dinheiro público, diante de políticos corruptos que usurpam o direito dos povos, todos são convidados a não se calar, não concordar, não compactuar, em resumo: Política e religião tem tudo a ver. Um verdadeiro cristão vai dizer não ao estilo de fazer política que as nossas lideranças vem repetindo a décadas confirmando a exploração de alguns sobre a grande maioria.
Que todos tenham a coragem de ser missionários capazes de anunciar a vontade de Deus ao mundo como fez o profeta: “Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem, diz o Senhor! Suscitarei para elas novos pastores que as apascentem; este é o nome com que o chamarão: 'Senhor, nossa Justiça.”.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 15 DE JULHO DE 2018 - 15º DO TEMPO COMUM

MISSIONÁRIOS COM DESPRENDIMENTO E CORAGEM

O Salmo escolhido para a liturgia de hoje expressa um dos maiores desejos da humanidade: A verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão; da terra brotará a fidelidade, e a justiça olhará dos altos céus”. De fato, a sociedade contemporânea clama cada vez com mais força para que as relações humanas em todos os níveis sejam pautadas pelos valores da Verdade, do amor, da justiça, da fidelidade e estas condições todas podem ser a garantia para que a paz aconteça. Sem sombra de dúvida aqueles que tem alguma responsabilidade no governo e na condução das instituições e organizações sociais são os primeiros responsáveis por isso, mas não resta dúvida que todos em qualquer lugar onde estejam precisam estar comprometidos com os valores que promovam a paz e o bem querer entre as pessoas.
Amós foi categórico quando reafirmou sua vocação de profeta e deixou bem claro que sua função na sociedade era garantir que a Palavra e a vontade do Senhor estivessem ao alcance de todos: “Respondeu Amós a Amasias, dizendo: 'Não sou profeta nem sou filho de profeta; sou pastor de gado e cultivo figos. O Senhor chamou-me, quando eu tangia o rebanho, e o Senhor me disse: 'Vai profetizar para Israel, meu povo”.
E São Paulo escreve aos Efésios uma verdade que se aplica a todas as pessoas em todos os tempos: Ele nos fez conhecer o mistério da sua vontade, o desígnio benevolente que de antemão determinou em si mesmo, para levar à plenitude o tempo estabelecido e recapitular em Cristo, o universo inteiro: tudo o que está nos céus e tudo o que está sobre a terra”. Esta escolha e oportunidade de conhecer os mistérios de Deus não é outra coisa senão o envio para a missão que é dada como um dom do Espírito Santo.
Anunciar que a Justiça e a paz podem se encontrar e construir relações novas para uma sociedade que também precisa se renovar não é uma tarefa fácil. Jesus mesmo experimentou a incompreensão dos seus conterrâneos, não se deixou desiludir, pelo contrário, formou uma equipe e os enviou dando-lhes responsabilidade e autonomia. A missão daqueles que se declaram seguidores de Jesus é a mesma em todos os tempos. Portanto também para os cristãos do terceiro milênio pede-se a mesma coragem: “libertar as pessoas de tudo aquilo que as torna escravos e desconsolados”.
Neste sentido, ninguém que se declare cristão está excluído da atividade profética de SER MISSIONÁRIO COM DESPRENDIMENTO E CORAGEM exercendo a profecia no meio das pessoas e no seu ambiente de trabalho como “sal da terra e luz do mundo”.



sexta-feira, 6 de julho de 2018

COPA 2018 – UM DESAFIO DE ÉTICA, BOLA, EMOÇÃO E NEGÓCIO




O futebol é mais uma das invenções que, ao longo da história traçou caminhos inusitados. Não é à toa que o Brasil é conhecido como o país do futebol. Os brasileiros fazem por merecer esse título. Não porque exporta para o mundo grandes nomes do futebol, nem porque é a única seleção a colecionar cinco títulos mundiais.
Pode-se reconhecer o Brasil do futebol pela paixão que todo cidadão cultiva por esta prática desde a mais tenra infância. É praticamente impossível encontrar uma criança, sobretudo do sexo masculino, que não dê os primeiros passos correndo atrás de uma bola. Os pais, mesmo aqueles que não são fanáticos esportistas, desde muito cedo presenteiam seus filhos com camisas e uniformes dos times da moda.
Não há recanto de cidade ou interior onde não se possa identificar um espaço reservado para a “pelada” do fim da tarde e do final de semana. Começar uma partida com meia dúzia de competidores e terminar com mais de duas dezenas também não é novidade.
Entretanto, é sabido que no começo não foi assim. O futebol teve sua origem na alta burguesia inglesa no século 19, espalhou-se rapidamente para as camadas sociais menos favorecidas e hoje movimenta bilhões de dólares, emoções, negócios e princípios éticos extraordinários.
Santo Agostinho, ainda no século IV, fez uma afirmação que se aplica também para a atualidade: “Mens sana in corpore sano” = “Mente sadia em um corpo sadio”. Neste sentido, afirma-se que a prática de esportes tem uma função ética de destaque na formação do caráter, para a preservação da saúde envolvendo a pessoa por inteiro. Ainda mais importante que esta dimensão de saúde física pode-se aplicar ao futebol questões relativas à saúde espiritual e de estímulo para o associativismo, a cooperação e a parceria.
É fato incontestável que a profissionalização do futebol transformou o mais popular dos esportes numa “máquina de movimentar dinheiro” envolvendo interesses comerciais muito explícitos. É do conhecimento de todos que a FIFA vende a copa e que grupos transnacionais se servem desta oportunidade para promover seu negócio e seus produtos. Nesta trama pouco ética estão envolvidas marcas, jogadores, empresas, governos, que faturam e investem bilhões transformando a paixão em fetiche e compulsão para o consumo.
Para a copa da Rússia 2018 a FIFA vai distribuir 400 milhões de dólares entre as 32 seleções, o Brasil eliminado pela Bélgica receberá 16 milhões de dólares, cerca de 62,6 milhões de reais. Enquanto isso o Dólar alcança sua mais alta cotação desde janeiro de 2016, a inflação avança, o gás de cozinha tem novo aumento pesando cada vez mais no bolso do brasileiro, os casos de hepatite aumentem em mais de 70%. E poderíamos desfilar uma série de outras situações que cada vez mais fazem os brasileiros perder o entusiasmo para acompanhar a profissionalização do esporte mais popular do mundo.
Entretanto, a “paixão nacional” continua pertencendo aos amadores e torcedores que fazem por amor e com certo sentido de honra. Sendo um esporte de prevalência masculina o fascínio pela bola transforma os sisudos brasileiros, pouco afeitos a demonstrações públicas de afeto, em homens de sensibilidade capazes de trocar afetos publicamente, chorar e sorrir pelas mesmas causas diante das câmeras de televisão para o mundo inteiro.
Parodiando o hino da copa de 70, se pode escrever: “duzentos milhões em ação... De repente é aquela corrente pra frente Brasil...” Queira Deus que a derrota da Seleção Canarinho não faça esmorecer o patriotismo e o desejo de construir um novo Brasil e que de agora em diante continue sendo desfralda a Bandeira que fará escolher um time que mais do que levantar taças seja capaz de reerguer esse País.  
O Olé que se gritaria na copa poderá ecoar no sonho por um Brasil mais justo, sem miséria, menos corrupto e mais democrático, tudo isso sem se deixar manipular pela mídia e pelas paixões da violência e a cultura do “vamos quebrar tudo”.


quinta-feira, 5 de julho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 08 DE JULHO DE 2018 - 14º DOMINGO COMUM


NAS DIFICULDADES RECONHECER 
A FORÇA QUE ESTÁ EM DEUS

À medida que a Copa do Mundo vai caminhando para a reta final, os comentaristas esportivos vão apontando como aumenta o grau de dificuldade para cada uma das equipes classificadas para a fase seguinte. Nesta semana também ocupou espaço no noticiário internacional o resgate dos jovens tailandeses presos na caverna e também para este caso não faltaram opiniões sobre as perspectivas e os desafios de resgate e da garantia de vida de todos os envolvidos no episódio. Neste sábado, dia 07, o Papa Francisco teve um encontro com diversos líderes religioso, na cidade Bari no sul da Itália cujo centro das conversas é a preocupação com a paz no Oriente Médio e o doloroso martírio de muitos cristãos naquela região.
Todas estas situações podem ser entendidas como um “caminhar com Jesus” com todas as vantagens e desafios que esta jornada apresenta. Compreendendo todas as dificuldades da vida é possível repetir como São Paulo: “É na fraqueza que a força de Deus se manifesta, pois, quando sou fraco então é que sou forte”.  Deus que se manifestou ao longo da história não mostrou seu poder e sua força no enfrentamento e no desafio, mas na humilhação cujo ponto culminante se deu na crucificação do próprio Filho.
O profeta Ezequiel não teve medo e ousou falar a dura verdade que precisava ser dita ao povo de Israel: “Filhos de cabeça dura e coração de pedra”. E São Paulo faz uma afirmação extraordinária: “Basta-te a minha graça. Pois é na fraqueza que a força se manifesta'. Por isso, de bom grado, eu me gloriarei das minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim”. E qual é a força de Cristo se não a sabedoria que recebeu do Pai e que confundia os sábios do seu tempo.
Ontem como hoje, declarar-se seguidor de Jesus Cristo implica compreender que ser cristão é aceitar e estar sujeito a todas as fraquezas e dificuldades do mundo contemporâneo sem fraquejar ou perder a vibração e o entusiasmo. Caminhar com Jesus implica ir removendo as pedras de cada “caverna”, por meio do diálogo honesto construir jogadas confiantes que “tudo é possível naquele que é a única força” para onde se dirige o olhar confiante e se reza como no salmo de hoje: “Eu levanto os meus olhos para vós, que habitais nos altos céus. Como os olhos dos escravos estão fitos nas mãos do seu senhor”.


sábado, 30 de junho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 01 DE JULHO 2018 - SÃO PEDRO E SÃO PAULO - DIA DO PAPA


DISCÍPULOS E MISSIONÁRIOS NA IGREJA
 E NA SOCIEDADE

Em tempo de Copa do Mundo por todos os lados se respira solidariedade, participação, e uma constante partilha de sonhos e desejos. Esses sentimentos é o que se pode chamar de responsabilidade e missão. Os sonhos de ver sua equipe crescer e se projetar com um futebol que seja respeitado pelo mundo brota do fundo dos corações. Muitas pessoas choram, vibram, se emocionam, fazem qualquer ato para provar seu amor pela causa do seu time.
Pois foram estes sentimentos que tomaram conta dos primeiros cristãos. Aqueles que conheceram e conviveram com Jesus sabiam que o encontro com o Mestre tinha mudado a vida deles e de muitas outras pessoas. Sua convicção fazia que proclamassem com a vida e não tivessem medo de enfrentar qualquer dificuldade para que o nome e a doutrina de Jesus se tornasse conhecida.
Muitos que foram conhecendo o Evangelho por meio dos primeiros cristãos também deram sua vida pela mesma causa. Hoje a Igreja recorda São Pedro e São Paulo, cujo testemunho foi dado com a própria vida. Pedro fez tudo o que podia para confirmar a Igreja que nascia como uma instituição que tinha seu fundamento em tudo o que Jesus fez e ensinou. Paulo percorreu o mundo inteiro como missionário incansável a serviço desta causa. Por isso os dois se chamam “colunas da Igreja”.
As palavras de Jesus dirigidas a Pedro no Evangelho se confirmam ainda hoje: “Feliz és tu Simão filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou que Eu sou o Messias”. De Paulo  o mundo tem a confirmação das suas últimas palavras: “Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças; ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações”.
Recordando os Apóstolos que se chamam também primeiros frutos da Igreja, em todos os lugares eleva-se uma prece pelo Papa. Certamente hoje ninguém melhor que Francisco representa Pedro e Paulo. Adotando o nome e o compromisso do Pobrezinho de Assis, Bergoglio tem a mesma missão daquele: “Francisco Reconstrói a minha Igreja” e a cada cristão Ele continua desafiando: “Quero uma Igreja em saída”.
Que a coragem e a convocação de Francisco faça de cada pessoa um apaixonado pelo Evangelho e pela Igreja como torcedores que vibram com a vitória da sua seleção e das boas jogadas de cada um dos que entram em campo.


sexta-feira, 22 de junho de 2018

HOMILIA PARA A FESTA DE SÃO JOÃO BATISTA - 24/06/2018 - 12º DO TEMPO COMUM


MISERICÓRDIA É O SEU NOME

Ninguém duvida que a Copa do Mundo é uma oportunidade de lazer, esporte, turismo, entretenimento e uma série de outras oportunidades para desenvolver relações humanas saudáveis e prazerosas. Mas é também uma oportunidade para perceber como muitas situações que não deveriam acontecer entre pessoas educadas e que se respeitam tivessem lugar. Entre elas vale lembrar o episódio do grupo de brasileiros que usou das redes sociais para divulgar uma situação de absoluto desrespeito humano quando constrangeram publicamente uma pessoa de outra nacionalidade e que não conhecia o nosso idioma. Sem sombra de dúvida isso é o que se pode chamar numa linguagem litúrgica de “falta de misericórdia”.
Pois é de misericórdia que trata a Palavra de Deus neste dia em que se recorda também o nascimento do maior profeta que a religião cristã reconhece. João Batista tem um significado tão especial para a Igreja Ele é o único santo no calendário que se celebra o dia do nascimento e o dia da sua morte. O nome João significa: “Deus é misericórdia”. Filho de um casal de velhos cujas esperanças de paternidade já haviam se extinguido por força da sua idade e de outras condições humanas. O pai que era sacerdote do Templo de Jerusalém se comportava como um fiel cumpridor da lei em decorrência disso muitas vezes serviu de instrumento de opressão e de ações que não usavam da misericórdia para com as pessoas.
Neste contexto Deus mostra sua presença e seu amor, enche de alegria a casa de Zacarias e de Isabel ao mesmo tempo que faz a vizinhança exultar de admiração: “Todos se perguntavam: O que vai ser deste menino? ”. Quando Zacarias duvidou da ação de Deus ficou sem poder falar até o nascimento da criança neste tempo ouviu Maria proclamar a bondade de Deus quando cantou: “O poderoso fez obras grandiosas e santo é o seu nome, sua misericórdia se estende por todas as gerações daqueles que o amam”.
Em João Batista se confirma o que o profeta tinha anunciado 700 anos antes: “Nações marinhas, ouvi-me, povos distantes, prestai atenção: o Senhor chamou-me antes de eu nascer, desde o ventre de minha mãe ele tinha na mente o meu nome; fez de minha palavra uma espada afiada, protegeu-me à sombra de sua mão e fez de mim uma flecha aguçada, escondida em sua aljava, e disse-me: Tu és o meu Servo, Israel, em quem serei glorificado”.
Na esteira da fé herdada dos antepassados também a Igreja hoje se alegra porque sabe que Deus reconhece a fundo o coração de todos, sabe que as pessoas de hoje são tecidas pelo cuidado de Deus desde o ventre materno. Recordar João Batista não é simplesmente fazer a repetição de uma história, pelo contrário é pedir a graça de não se deixar macular pela falta de caridade, mas de agir com misericórdia para com todos.
Como Igreja em assembleia de oração todos são convidados a renovar o compromisso de respeito para com todas as pessoas em todos os lugares, ao mesmo tempo que se faz uma experiência da misericórdia de Deus pedir a força e a graça de ser para todos “Sal da terra e luz do mundo” como sinais de Deus em todas as relações humanas.


quinta-feira, 7 de junho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 10 DE JUNHO DE 2018 - 10º DO TEMPO COMUM


ALEGRAI-VOS E EXULTAI

No dia de São José neste ano o Papa Francisco publicou uma carta com o título: “Alegrai-vos e exultai”. O conteúdo da carta é um chamado à santidade no mundo atual. No primeiro capítulo o Papa escreveu: “Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e nas mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhada dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade ao ‘pé da porta’ daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou por outras palavras “esta é a classe média da santidade” (GE 7).
E ser santo não é outra coisa senão ouvir a Palavra de Deus e colocar em prática o Evangelho deste domingo. Marcos mostra Jesus cercado por duas categorias de pessoas: um grupo que o chama de louco e outro que consideram as suas ações como se fossem obras do diabo e afirmam que ele está possuído por Belzebu. Por sua vez Jesus é muito claro na suas declarações e sem meias palavras diz que estes dois grupos estão divididos entre si e que seus dias estão contados: “Assim, se Satanás se levanta contra si mesmo e
se divide, não poderá sobreviver, mas será destruído
”. E conclui com duas frases espetaculares: “
Ninguém pode entrar na casa de um homem forte para roubar seus bens, sem antes o amarrar. Só depois poderá saquear sua casa. E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: 'Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
O fim do reinado de satanás que Jesus afirma estar acontecendo é a concretização da responsabilidade que Deus havia dado para Eva, a mulher do primeiro pecado: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. Jesus, o Filho de Maria, com sua determinação e coragem é quem definitivamente “esmagará a cabeça da serpente” e todos os que como ele ouvirem a Palavra de Deus e colocarem em prática continuarão a fazer a mesma coisa.
E isto São Paulo fala aos coríntios: Sustentados pelo mesmo espírito de fé, conforme o que está escrito: 'Eu creio e, por isso, falei', nós também cremos e, por isso, falamos, certos de que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará também com Jesus e nos colocará ao seu lado, juntamente convosco. E tudo isso é por causa da abundância da graça para a glória de Deus. Por isso, não desanimamos”.
Nestes tempos difíceis, na hora em que o Papa convida a ser uma “Igreja em Saída” e a ser santos dando o “próprio testemunho nas ocupações da cada dia, onde cada um se encontra”(GE14) é natural que as dificuldades se potencializem  e que até muitas pessoas que se dizem religiosas e que até rezam muito sejam resistentes e insistam numa igreja que fique na sacristia, nos bancos das igrejas, nas orações destituídas de compromisso social, peçamos que a oração deste dia e a comunhão que recebemos nos liberte dos maus pensamentos e coloque a nossa vida na prática do bem, como o padre vai rezar na oração final da missa: “Ó Deus, agindo em nós pela Eucaristia, faça curar nossos males, libertando-nos das más inclinações e orientando nossa vida para a prática do bem”.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 03 DE JUNHO DE JUNHO 2018


ESTENDER A MÃO COMO DEUS FAZ

Todos os anos por ocasião da quaresma a Igreja convida a os cristãos a fazer penitência e realizar um gesto de solidariedade por meio de uma oferta concreta no Domingo de Ramos. O Resultado desta coleta é aplicado em obras de assistência social. Nesta semana, por exemplo, a Diocese de Criciúma no Sul de Santa Catarina inaugurou uma casa para acolhida e ressocialização de ex-presidiários. A obra teve investimentos com recursos da coleta da solidariedade no domingo de ramos. Por ocasião da mobilização dos caminhoneiros foram observadas diversas ações de solidariedade com a categoria, entre elas a de um grupo de ciclistas que se mobilizou para levar alimentos aos motoristas. Ambas são atitudes de quem é capaz de estender a mão.
As leituras deste domingo falam da solidariedade de Deus e da preocupação com aqueles que precisavam de uma mão estendida. O livro do deuteronômio pede para guardar o dia de sábado, como sendo o dia de Deus em que Ele estendeu a mão ao seu povo e recomendou o transformou em Senhor da sua existência. Nas duras lutas da vida o povo do Antigo Testamento sempre entendeu que a mão e Deus veio em seu socorro: Lembra-te de que foste escravo no Egito e que de lá o Senhor teu Deus te fez sair com mão forte e braço estendido. É por isso que o Senhor teu Deus te mandou guardar o sábado”.
No evangelho é Jesus, enviado pelo Pai, que percebe a fome dos discípulos e os leva a colher espigas para saciar a fome. No templo uma pessoa necessitada de ajuda estende a mão e Jesus cura seu ferimento: “E perguntou-lhes: 'É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?' Mas eles nada disseram. Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao homem: 'Estende a mão'. Ele a estendeu e a mão ficou curada”.
Só não entende de solidariedade e do sofrimento das pessoas aqueles que transformam a lei em ocasião para levar vantagem e em nome da lei patrocinam a morte: “Ao saírem, os fariseus com os partidários de Herodes, imediatamente tramaram, contra Jesus, a maneira como haveriam de matá-lo”.
Naquele tempo como nos dias atuais não falta quem se recusa estender a mão para ajudar e a reconhecer as mãos estendidas que pedem socorro e qualidade de vida. Para todos são preciosas as palavras de São Paulo na segunda leitura: “Somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angústia; postos entre os maiores apuros, mas sem perder a esperança; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados; por toda parte e sempre levamos em nós mesmos os sofrimentos mortais de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifestada em nossos corpos”.
Que a oração deste domingo ensine cada pessoa a compreender o que significa estender a mão e reconhecer a mão estendida para socorrer e fazer que todos em qualquer lugar experimentem a alegria de se tornar Senhores das leis a serviço da vida.


quinta-feira, 24 de maio de 2018

HOMILIA PARA A SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE - 27 DE MAIO 2018


O SENHOR É DEUS EM TODO LUGAR

O maior espaço dos noticiários desta semana foi ocupado pelas paralizações, desabastecimento, corrupção, impostos, preço dos combustíveis. Tudo isso revela muito mais que um descontentamento ocasional de uma ou diversas categorias profissionais com um ou outro sistema de governo. O que a sociedade brasileira vivenciou nesta semana é o que pode ser chamado alegrias, tristezas e esperanças que as sociedades e as pessoas vivem ao longo do tempo. É neste contexto que cada cristão e a Igreja inteira é chamada a ser Sal da terra e luz do mundo.
É no meio deste mundo marcado por contradições e dificuldades que Cristo continua a enviar seus seguidores: “Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”.
Deus que está com a gente não é outro senão o mesmo Cristo que subiu aos céus e que enviou o Espírito Santo. O mesmo que declarou estar presente em todas as ações humanas é aquele que a primeira leitura declara: “Existe, porventura, algum povo que tenha ouvido a voz de Deus falando-lhe do meio do fogo, como tu ouviste, e tenha permanecido vivo? Ou terá jamais algum Deus vindo escolher para si um povo entre as nações, por meio de provações, de sinais e prodígios, por meio de combates, com mão forte e braço estendido, e por meio de grandes terrores, como tudo o que por ti o Senhor vosso Deus fez no Egito, diante de teus próprios olhos”.
Deus, em quem aqueles que acreditam são batizados é o mesmo que se reza no salmo: “No Senhor nós esperamos confiantes, porque ele é nosso auxílio e proteção! Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamose que São Paulo afirma: “O próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos de Deus. E, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo”.
Acreditar na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo, implica valorizar tudo o que dele se recebeu no sentido de construir uma sociedade mais justa, mais fraterna, responsável pelo bem que esteja a serviço de todos, muito acima dos interesses de grupos e organizações muitas vezes criminosa. Acreditar e seguir as palavras de Jesus consiste aceitar a grande missão de ser sinal do projeto de Deus no meio do mundo.

sábado, 19 de maio de 2018

HOMILIA PARA O DOMINGO DE PENTECOSTES 2018


O ESPÍRITO INTERCEDE EM NOSSO FAVOR
Que a pessoa humana, muito facilmente, desenvolve mania de grandeza e constrói sonhos e castelos na areia, não é uma novidade. Estas coisas costumam ser tão frágeis, que no dizer de um grande pensador contemporâneo “tudo o que é sólido se desmancha no ar”. No cotidiano das relações interpessoais é possível se deparar com relativa frequência a projetos extraordinários que acabam por terra antes mesmo de começar a ser construídos. Nestes casos fica mais do que claro que alguma coisa estava errada no projeto ou no sonho. Poderia se dizer que alguém ou alguma estrutura muito importante deixou de ser considerada como base para o empreendimento.
Pois bem, é de projetos, de sonhos, de fundamentos, de empreendimentos sustentáveis que fala a Palavra de Deus neste domingo de Pentecostes.  O texto do livro do Gênesis é de uma clareza extraordinária mostrando como o ser humano sonha além de suas forças e esquece de quem é seu fundamento e sustentação: “Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja o céu. Assim, ficaremos famosos,” O resultado não poderia ser outro a realização do empreendimento resultou numa confusão de línguas e nunca foi concluído.
Por conta disto o salmista faz um apelo, reconhecendo aquele que pode levar a bom termo os desejos humanos: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor! Ó meu Deus e meu Senhor, como sois grande! Quão numerosas, ó Senhor, são vossas obras, e que sabedoria em todas elas! Encheu-se a terra com as vossas criaturas. Se tirais o seu respiro, eles perecem e voltam para o pó de onde vieram; enviais o vosso espírito e renascem e da terra toda a face renovais.
Esta certeza é recordada por São Paulo na carta aos romanos: “fomos salvos, mas na esperança. Ora, o objeto da esperança não é aquilo que a gente está vendo; como pode alguém esperar o que já vê? Mas se esperamos o que não vemos, é porque o estamos aguardando mediante a perseverança. Também, o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza.”
E Jesus garante no Evangelho: “Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Aquele que crê em mim, conforme diz a Escritura, rios de água viva jorrarão do seu interior.
Tudo isso se realiza pela ação do Espírito Santo de Deus que foi enviado para fazer novas todas as coisas. É o Espírito de Deus que abre as portas e as mentes para a construção de um mundo novo onde a pessoa não pense ter a última resposta e a solução para todos os seus problemas. Que o Espírito sobre também nas comunidades e na Igreja contemporânea.


domingo, 13 de maio de 2018

REFLEXÕES PARA A SEMANA DA ENFERMAGEM 2018


A CENTRALIDADE DA ENFERMAGEM 
NAS DIMENSÕES DO CUIDAR

A gramática da língua portuguesa chama de oração   o conjunto linguístico que se estrutura em torno de um verbo. Pois bem, a frase:  “A centralidade da enfermagem nas dimensões do cuidar,” tema escolhido para a semana da enfermagem, é uma oração.
Mas este tema pode ser entendido também como uma Oração, no sentido de ser uma prece que se eleva a Deus por meio daqueles que gastam suas vidas no serviço aos enfermos. As duas leituras escolhidas para a celebração da missa ajudam a compreender como esta oração, no sentido gramatical, é também uma Oração no sentido religioso.
A propósito disto sugerimos a leitura de dois textos bíblicos. O primeiro da carta de Tiago: “Se alguém de vocês está sofrendo ore. Se alguém está contente cante hinos de agradecimento. Se algum de vocês estiver doente, que chame os presbíteros da Igreja, para que façam oração e ponham azeite na cabeça dessa pessoa em nome do Senhor. Essa oração, feita com fé, salvará a pessoa doente. O Senhor lhe dará a saúde e perdoará os pecados que tiver cometido”. (5, 13 – 15). O segundo texto é conhecido como a Parábola do Bom Samaritano e se encontra em Lucas 10,30-35.
O texto da carta de Tiago é a motivação para todo o serviço do Capelão no Hospital e que encontra seu principal parceiro no pessoal que faz o serviço assistencial. São os colaboradores da área da enfermagem os primeiros a perceberem que o doente precisa de animação, de uma presença viva que o faça experimentar o amor gratuito de Deus.
Já o texto do Evangelho, com a parábola do Bom Samaritano é o que pode ser entendida como modelo de centralidade no que se refere ao cuidado. Não sem razão costuma-se dizer que uma pessoa foi Bom Samaritano, toda vez que teve compaixão e ajudou a outro em situação de necessidade.
O texto do Evangelho tem sete verbos e todos eles apontam para a “centralidade do cuidado”. A primeira atitude daquele que descia pelo caminho foi “enxergar” a realidade da pessoa caída à beira do caminho. Na sequência demostrou compaixão, aproximação e cuidado – chegou perto limpou seus ferimentos e enfaixou. Ainda não satisfeito “colocou o caído no seu próprio animal”, isso significa que não teve medo de colocar todas as capacidades a serviço do sofrimento alheio e que clamava por tratamento respeitoso, por compaixão e solidariedade, situações muito particulares daqueles que estão doentes.
Percebendo que sua condição permitia fazer mais ainda, mudou a sua rotina e levou o doente até a hospedaria adaptando-se para atender o necessitado. Mobilizou outras pessoas, outras estruturas, outras forças para cuidar do sofrimento alheio. Isso é muito importante, nem sempre na sua função o pessoal do assistencial pode dar conta de todas as demandas e desafios, mas sempre pode mobilizar outras pessoas criando parcerias para que o cuidado aconteça.
Chegando na hospedaria, o último verbo é “Cuidar”. A dimensão do cuidado completa o conjunto da intervenção do samaritano. E não foi apenas uma pessoa cuidando daquele que estava ferido o Bom Samaritano soube envolver os demais nesta tarefa dura que é a realidade experimentada pelo doa humana muito presente na pessoa daqueles que estão doentes.
Em resumo - A centralidade da enfermagem nas dimensões do cuidar - precisa ser impulsionada pelo espírito do Bom Samaritano que é capaz de aproximar-se dos doentes, dos fracos, dos feridos e de todos os que estão jogados no caminho a fim de acolhê-los e cuidar deles dando-lhes uma “injeção de esperança”.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

HOMILIA PARA O DIA 13 DE MAIO DE 2018 - ASCENSÃO DO SENHOR


CONSTRUIR RELAÇÕES HUMANIZANTES


Qualquer pessoa que se preocupe em deixar algum legado, ou ensinamento que se perpetue e que por meio dele possa permanecer na memória das pessoas, se preocupa em formar seguidores e discípulos que se apaixonem por sua ideia e seu modo de ver o mundo e as relações por ele construídas. Pois é desta preocupação que trata a Palavra de Deus deste domingo.
Jesus tinha convicção que foi enviado pelo Pai e que devia estabelecer um processo de conversão continuada e ampliação da sua doutrina e da sua visão de mundo a partir da misericórdia de Deus. Por conta disso, durante três anos fez um grande número de discípulos, de admiradores e preparou os apóstolos para que dessem continuidade a tudo o que ele havia iniciado.
Nos quarenta dias que se sucederam à páscoa Jesus apareceu diversas vezes ao seu grupo e lhes deu as últimas orientações sobre a continuidade da missão e os desafios que isto implicava. Hoje, subindo ao céu diante deles deixa o mandamento mais importante: “'Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura” dando-lhes essa tarefa ele faz menção às dificuldades que terão pela frente: lidar com serpentes, beber veneno, falar línguas estranhas, impor a mão em doentes e até reconhecer demônios. “Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus”.
Conforme o tempo passou aqueles que conheceram e que viveram com Jesus foram morrendo e sua doutrina corria o risco de cair no esquecimento. Para evitar isso foi preciso registrar os feitos a fim de que a lembrança pudesse ajudar na continuação da tarefa. Então Lucas escreve o livro dos Atos dos Apóstolos que começa com as palavras da primeira leitura de hoje: “No meu primeiro livro, ó Teófilo, já tratei de tudo o que Jesus fez e ensinou, desde o começo, até ao dia em que foi levado para o céu”. Fazendo a narrativa da ascensão de Jesus o autor faz uma advertência: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.
Quase que o mesmo pedido Paulo faz aos cristãos de Éfeso: “Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos, e que imenso poder ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente”.
Ora que ensinamento essa Palavra pode dar às pessoas do mundo contemporâneo? A missão dada por Jesus continua sendo desafiadora para todos os que creem e querem construir um mundo mais humanizado, cabe agora a tarefa de ser Sal da Terra e Luz do Mundo. Nada de ficar de braços cruzados e esperar que tudo seja fácil e romântico. Compreender a presença de Jesus que incita a transformar as estruturas desumanas destes tempos em local de fraternidade e vida humanizada exige coragem e abertura de coração para a luz de Deus que continuamente recrie a esperança.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

HOMILIA PARA O DIA 06 DE MAIO DE 2018


AMAR NÃO COM PALAVRAS, MAS EM AÇÕES E EM VERDADE

As notícias sobre a queda de um edifício ocupado irregularmente em São Paulo, trouxe à baila uma enorme e antiga discussão sobre o direito à moradia e a dignidade das pessoas. Esta semana todos os meios de comunicação dedicaram horas de reportagens tratando sobre uma infinidade de questões relacionadas ao fato. Quase não se viu uma opinião que tocasse no cerne do problema. As palavras do Cardeal de São Paulo não encontraram eco na grande imprensa. Dom Odilo colocou as igrejas a disposição para acolhimento dos vitimados pela tragédia, fez mediação com as autoridades, mas tudo isso não passa de medidas paliativas em relação ao grande problema que o mesmo arcebispo apontou: Não temos um déficit habitacional… o que nós temos é uma distribuição inadequada das habitações… falta uma política habitacional adequada para as necessidades da população”. Em outras palavras enquanto não se resolver isso vão continuar se repetindo tragédias deixando as pessoas e a sociedade sempre mais vulnerável.
Tratar destas questões com seriedade é uma forma de viver o Evangelho que recomenda não apenas discursos bonitos, mas ações e verdade: “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça”.
Amar as pessoas como Jesus pede no Evangelho, exige ter a coragem e o discernimento de não fazer pré-julgamentos das pessoas tratando-as como merecedoras disso ou daquilo. Pedro, inspirado pelo Espírito Santo declarou: Podemos, por acaso, negar a água do batismo a estas pessoas que receberam, como nós, o Espírito Santo? E mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo”.
Amar as pessoas significa compreender que “Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que tenhamos vida por meio dele” e não para julgar o mundo e os outros segundo nossos critérios.
Peçamos que a Eucaristia nos fortaleça e nos coloque no caminho dos pobres e desvalidos, daqueles que muitas vezes são excluídos das políticas de igualdade e inclusão e que invariavelmente são vítimas do descaso e do desrespeito daqueles que se dizem responsáveis e que governam e apenas se lembram de ver os desvalidos quando a desgraça já lhes bateu a porta.
Que os cristãos sejam fortalecidos pelo profetismo de Jesus e tenham a coragem de encarar as realidades que contradizem o Reino de Deus.