quinta-feira, 18 de outubro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 21 DE OUTUBRO DE 2018 - 29º COMUM - ANO B


ESCOLHAS E PROMOÇÕES COM SEUS ÔNUS E BÔNUS

No auge das disputas eleitorais para os cargos de governadores e Presidente da República notam-se situações que fazem rir para não chorar. Diante de candidatos cujos nomes nem apareciam nas pesquisas eleitorais, do fracasso de grandes figurões da política, surgem os amigos da última hora, os companheiros e apoiadores de projetos de renovação. Gente que até ontem eram parceiros inseparáveis agora se engalfinham disputando novos lugares no cenário. Todos prometem fazer milagres e dar um basta em velhos problemas que em épocas eleitorais se potencializam.   
Jesus viveu há pouco mais de dois mil anos, veio com um projeto e uma proposta extraordinária para renovar as relações entre as pessoas. Seus amigos nem sempre tiveram clareza da proposta e do alcance das mudanças que a pessoa de Jesus trouxe para a humanidade. Por mais que convivessem com o mestre e diariamente pudessem ouvir seus ensinamentos eles ainda pensavam em “levar vantagem” e garantir sua fatia quando o “novo governo fosse instalado”.  Na conversa de hoje com os discípulos Jesus desmascara o oportunismo que borbulhava nas conversas de bastidores.
Primeiro são os dois irmãos: “Tiago e João, filhos de Zebedeu, foram a Jesus e lhe disseram: 'Mestre, queremos que faças por nós o que vamos pedir'. Ele perguntou: 'O que quereis que eu vos faça?' Eles responderam: 'Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória!” A proposta dos dois é tão imoral que outro evangelista diz que foi a mãe deles quem fez o meio de campo. Jesus dá uma resposta que deixaria envergonhado qualquer cidadão sério e de boa índole: “Vós não sabeis o que pedem” e aproveita para desestimular os outros que também estavam na espreita de uma fatia: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas, entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos”.
A resposta de Jesus faz entender o que já tinha dito o profeta Isaias na primeira leitura: Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens, fará cumprir com êxito a vontade do Senhor”. Em outras palavras no projeto de Jesus não tem lugar para conchavos, padrinhos, correligionários, “amigos da última hora”.
E sobre a identidade deste servo tem-se a resposta na carta dos Hebreus: Com efeito, temos um sumo sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado. Aproximemo-nos então, com toda a confiança e permaneçamos firmes na fé que professamos”.
O projeto de Deus revelado em Jesus Cristo não é uma proposta de vantagem e favores para alguns ou alguma categoria de pessoas. A escolha de Deus é por um projeto de serviço, de comunhão. Os verdadeiros discípulos de Jesus não são os que aproveitam as oportunidades para levar vantagem, mas aqueles que abraçam a causa aceitando como ele dar a vida para que todos tenham vida.
Neste tempo de tantas promessas e tantas ameaças, não nos deixemos enganar por salvadores da pátria com soluções simples e milagrosas uma vez mais, rezemos com o salmista de hoje: Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, pois, em vós, nós esperamos! No Senhor nós esperamos confiantes, porque ele é nosso auxílio e proteção! Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos”

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 14 DE OUTUBRO DE 2018 - 28º COMUM ANO B


SÓ A PALAVRA DE DEUS JULGA OS PENSAMENTOS E OS CORAÇÕES



Os conceitos de riqueza e pobreza são muito diferentes na sociedade contemporânea como foram também ao longo da história do Povo de Deus. Na Bíblia algumas vezes até parecem estar em oposição, ora defendendo uma condição ora outra. As leituras deste domingo apresentam uma resposta para esta angústia humana e deixam bem claro para que serve a riqueza e a pobreza.
O texto da Sabedoria que foi escrito cerca de cem anos antes do nascimento de Jesus aparece como uma coleção de pensamentos atribuídos ao rei Salomão que foi conhecido como um dos mais sábios reis de Israel. No texto proclamado hoje o povo percebe um impulso para reconhecer a verdadeira riqueza: Preferi a Sabedoria aos cetros e tronos e em comparação com ela, julguei sem valor a riqueza; a ela não igualei nenhuma pedra preciosa, pois, a seu lado, todo o ouro do mundo é um punhado de areia e diante dela, a prata, será como a lama. Todos os bens me vieram com ela, pois uma riqueza incalculável está em suas mãos”.
A carta aos Hebreus também afirma basicamente a mesma coisa: “A Palavra de Deus é viva, eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes. E não há criatura que possa ocultar-se diante dela. Tudo está nu e descoberto aos seus olhos, e é a ela que devemos prestar contas”. Ou seja, só a Palavra de Deus é a verdadeira sabedoria e verdadeira riqueza.
O Jovem do Evangelho não era uma dessas pessoas que não conhecem a escritura ou que fizesse pouco caso dos mandamentos de Deus. Ele apenas não tinha entendido uma coisa: “Jesus olhou para ele com amor, e disse: Se queres ser perfeito, só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!' Mas quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico”.
Ou seja, ele entendia bem o que queria, mas ainda não tinha tido a coragem de tomar a atitude radical e de se deixar conduzir pela sabedoria que vem da Palavra de Deus.
As palavras de Jesus para o jovem do evangelho são uma provocação também para os cristãos contemporâneos. Não basta conhecer o evangelho e os mandamentos é preciso ter a coragem de mudar a referência que se tem em relação ao que se possuí ou julga possuir.
Deixar todas as certezas e seguranças que se dispõe por uma causa maior é a forma mais sensata de compreender a verdadeira sabedoria que se encontra junto de Deus e que tantos homens e mulheres experimentaram ao longo do tempo.



sexta-feira, 5 de outubro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 07 DE OUTUBRO DE 2018 - 27º COMUM ANO B


DO JEITO QUE DEUS UNIU

Neste tempo de mudança de época, as discussões sobre relações humanas, corresponsabilidade, inclusão e exclusão de pessoas na sociedade costumam ser intensificadas e carregadas de mitos. Não faltam quem usa de muitas e fáceis explicações para justificar seu posicionamento sempre pensando em levar vantagem e ganhar a simpatia das pessoas. Isso acontece também em relação às famílias, ao matrimônio e ao respeito entre casais. Esta situação não era diferente entre os fariseus acostumados a controlar tudo pela força da lei e interpretando segundo os seus interesses.
A primeira leitura e o evangelho deste domingo apresentam com rara clareza qual o sentido do matrimônio e as razões para sua indissolubilidade. O livro do Gênesis apresenta a mais elementar necessidade humana: “viver em companhia” – “Não é bom que o homem esteja só...” diz o texto. E Deus mesmo se encarrega de apresentar a alternativa mais adequada na figura da mulher. A complementaridade desta relação faz de ambos uma só carne, ou seja, uma só realidade que se confirma pelo amor mais forte que a própria morte.
No Evangelho os fariseus não estão preocupados com uma alternativa para as relações entre marido mulher, pelo contrário, queriam legitimar sua posição legalista e colocar Jesus à prova: “É permitido ao homem divorciar-se da mulher por qualquer motivo?” E justificam “Assim Moisés escreveu na lei...” Jesus desmonta a interpretação mesquinha, utilitária e excludente que haviam transformado o matrimônio e todas as outras relações sociais. A resposta de Jesus os deixa desconcertados: “Moisés só permitiu por causa da dureza dos seus corações...” e continua: Vocês conhecem a escritura e sabem que no princípio, isso é, muito antes que a lei de Moisés tivesse importância “desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” Marcos afirma que Jesus se aborreceu vendo a dureza de coração dos seus conterrâneos e conclui dizendo que viver um para o outro é um sinal do Reino de Deus o qual precisa ser acolhido com a simplicidade das crianças: “Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas. Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele'. Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos”.
A carta aos hebreus deixa claro que Jesus é o “santo de Deus” e seu estilo e compromisso com a proposta do Pai: “Jesus, a quem Deus fez pouco menor do que os anjos, nós o vemos coroado de glória e honra, por ter sofrido a morte. Sim, pela graça de Deus em favor de todos, ele provou a morte. Convinha de fato que aquele, por quem e para quem todas as coisas existem, e que desejou conduzir muitos filhos à glória”
Em resumo, mais do que leis sobre as relações entre as pessoas é importante reconhecer que o matrimônio é um caminho dinâmico de crescimento e realização que vai se aperfeiçoando todos os dias e não um fardo para ser carregado. Em lugar de condenar as pessoas os cristãos são chamados a compreender e acolher sobretudo aqueles que a fragilidade humana levou a fracassar no compromisso de ser um para o outro sinal da comunhão e da vontade original do criador.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 30 DE SETEMBRO DE 2018 - 26º COMUM - ANO B


SENHOR, SALVAI O VOSSO POVO DO ORGULHO

Dentre os fatos que chamam a atenção do mundo inteiro nesta semana, merece ser citada Conferência das Nações Unidas, na qual líderes do mundo inteiro discutem sobre o futuro do planeta e das relações internacionais e promoção da dignidade humana. É consenso geral dos participantes e um desafio a ser perseguido por todas as pessoas e todas as instituições: “Trabalhar em conjunto, substituir a confrontação pela cooperação”.  O Papa Francisco, embora não estando participando da Conferência da ONU, também manifestou sua preocupação com as relações internacionais e com a dignidade humana por meio de uma declaração nas redes sociais: “Rezemos para que no mundo prevaleçam os programas de desenvolvimento e não aqueles para os armamentos”.
Este sentimento que cada vez mais ganha espaço e vai se tornando aceito até mesmo pelas mentalidades mais radicais e algumas vezes identificadas com a violência, a intransigência e a intolerância ajuda entender a Palavra de Deus sugerida para este domingo.
O livro dos Números que é uma coleção de fatos e situações pelas quais passou o povo de Deus entre a saída do Egito e seu estabelecimento na Terra Prometida, ajuda a entender como o Espírito de Deus sopra onde quer e como quer. Deus não limita sua presença por meio de alguns iluminados que ditam regras e normas segundo seus interesses. Acreditar em Deus significa perceber seus gestos proféticos acontecendo até mesmo onde muitas vezes parece impossível. Em lugar de excluir alguns e se julgar melhores e mais perfeitos, Moisés responde: “Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta,
e que o Senhor lhe concedesse o seu espírito!” No projeto de Deus não tem lugar para fanatismo, intolerância, preconceito, condenações, julgamentos apressados. Todos são convidados a reconhecer a presença de Deus em gestos de amor, paz, justiça, solidariedade e partilha.
São Tiago na segunda leitura faz a mesma advertência com outras palavras. Não é uma atitude cristã se achar mais importante e melhor do que os demais. Acumular bens e posses enquanto grandes parcelas da população vivem à miséria e vítimas da exclusão. O cristão é chamado ao respeito e a comunhão.
No evangelho os discípulos ainda mantêm a lógica da competição que Jesus já havia reprovado no texto do último domingo. Ainda estavam preocupados sobre quem é o maior. Estão preocupados com seus interesses mesquinhos e egoístas querem se sentir os donos do mundo e salvadores da pátria: “vimos uma pessoa expulsar demônios em teu nome, mas nós o proibimos porque não conosco”.   Aceitar Jesus e seu projeto implica em não ter atitude de fanáticos e intolerantes. A construção de uma sociedade nova e responsável não se faz com violência em relação aos outros, mas é preciso cortar nos próprios limites e defeitos. “Se o seu olho pecar, arranca-o.…”
Não permitamos que o período pré-eleitoral destrua amizades, construa muros em lugar de pontes. Pelo contrário peçamos a graça de ter a vida renovada na Eucaristia e na vida de Jesus Cristo. Aproveitemos estes dias para aprender que é “imperativo trabalhar em conjunto”, porque separados a gente perde e juntos a gente encontra. O momento é de substituir a confrontação pela comunhão.


quinta-feira, 20 de setembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 23 DE SETEMBRO DE 2018 - 25º COMUM - ANO B


CONFIAR-SE NAS MÃOS DO SENHOR QUE SUSTENTA TODA A VIDA

Em diversos lugares na sociedade é possível perceber como as pessoas sentem a presença de Deus em suas vidas. Um dos locais em que o sofrimento humano ganha contornos extraordinários são os espaços públicos reservados para os cuidados com a saúde e a promoção da dignidade humana. Nos centros de saúde, Unidades de pronto atendimento, hospitais é mais claramente percebível o sofrimento que Cristo anuncia estar sujeito com o consequente pedido para que os seus seguidores não se considerem uns melhores que os outros, nem mais perfeitos, nem tampouco merecedores de tratamento diferenciado. Abraçando uma criança coloca a condição ideal para todos os que desejam aproximar-se dele a quem reconhecem como Messias e Mestre.
O apóstolo Tiago fala ao coração das primeiras comunidades apontando onde se encontra a origem de todos os males: “Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más.  De onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das paixões que estão em conflito dentro de vós?  Cobiçais, mas não conseguis ter. Matais e cultivais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir”. Ao mesmo tempo apresenta a alternativa para que estas não aconteçam: “Por outra parte, a sabedoria que vem do alto
é, antes de tudo, pura, depois pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento. O fruto da justiça é semeado na paz, para aqueles que promovem a paz”.
A proposta apresentada por Tiago é a confirmação do pedido feito por Jesus no evangelho: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!' Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: 'Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo.
E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”.
Por mais que o sofrimento pareça desumano e traiçoeiro, aquele que confia em Deus e aceita sua “sabedoria” será capaz de produzir bons frutos sem parcialidade e sem fingimentos.
Que nossa participação nesta liturgia seja proveitosa para a nossa vida como se reza na oração pós comunhão: “Ó Deus, auxiliai sempre os que alimentais com o vosso sacramento para que possamos colher os frutos da redenção na liturgia e na vida”.

sábado, 15 de setembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 16 DE SETEMBRO DE 2018 - 24º COMUM ANO B

O SENHOR É JUSTIÇA E BONDADE

O cristianismo é uma religião diferente de todas as outras grandes religiões. Naquelas os fiéis seguem uma ideia, um livro, uma doutrina. No Cristianismo todas essas coisas existem, mas o seu fundamento é o seguimento da pessoa de Jesus Cristo. Reconhecer quem Ele é, sua missão no mundo e por extensão a missão de todos os que lhe seguem muda completamente a relação das pessoas entre si e com a doutrina que Ele trouxe.
A pergunta de Jesus e a resposta dada por Pedro representam a síntese de todas as preocupações do povo judeu em relação ao seu futuro e a sua aceitação a Deus e ao seu projeto. “E vocês, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: 'Tu és o Messias”. Reconhecendo que Jesus não é mais um dos grandes pregadores do seu tempo Pedro só não percebe a relação da pessoa dele com as palavras dos profetas. Jesus aceita a confissão de fé de Pedro e dos seus companheiros, mas lhe diz com outras palavras o que o profeta tinha anunciado: “Em seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei; devia ser morto, e ressuscitar depois de três dias”.
As palavras de Jesus não são outra coisa senão a atualização da primeira leitura: “Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba: não desviei o rosto de bofetões e cusparadas.   Mas, o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado”.
Logo se uma pessoa aceita que Jesus é o Messias, aceita também o desfecho desta condição e se propõe a segui-lo com todas as suas forças e com toda as suas exigências e consequências: Meus irmãos, que adianta alguém dizer que tem fé, quando não a põe em prática? A fé seria então capaz de salvá-lo? Imaginai que um irmão ou uma irmã não têm o que vestir e que lhes falta a comida de cada dia; se então alguém de vós lhes disser: 'Ide em paz, aquecei-vos', e: 'Comei à vontade', sem lhes dar o necessário para o corpo, que adiantará isso? Assim também a fé: se não se traduz em obras, por si só está morta”.
Resumindo, declarar que Jesus é o Messias implica aceitar a cruz que essa missão traz consigo. O mesmo se pode aplicar em relação ao cotidiano de cada pessoa, trata-se de aceitar a cruz e os sofrimentos comprometendo-se com a qualidade da vida.
Rezar com os irmãos como viemos fazer aqui implica compreender as palavras que se canta: 
Bem-vindos à mesa do Pai, onde o Filho se faz fraternal refeição / 
É Cristo a forte comida, o Pão que dá vida com amor-comunhão. 
Vinde, ó irmãos, adorar, vinde adorar o Senhor / 
A Eucaristia nos faz Igreja, comunidade de amor. 
No longo caminho que temos, o Pão que comemos nos sustentará /
 É Cristo o Pão repartido, que o povo sofrido vem alimentar. 
Há gente morrendo de fome, sofrendo e sem nome, sem terra e sem lar / 
Não é a vontade de Deus, pois Jesus, Filho seu, quis por nós se doar”. 

Então, Que a nossa fé seja sustentada por nossas obras e que a afirmação que Jesus é 
Messias coloque todos no caminho de aceitar a cruz e comprometer-se com todas as pessoas.  

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

HOMILIA PARA O DIA 02 DE SETEMBRO DE 2018 - 22º COMUM - ANO B


QUANDO A VIDA E A BÍBLIA SE ENCONTRAM...

Quantas pessoas a gente encontra cujo testemunho de vida é um exemplo de coerência e não poucas vezes se diz: “fulano de tal é um santo”. Por outro lado, é também frequente que a gente fale a respeito de pessoas e destes se diz: “Beltrano só parece santo”. A diferença nestas duas circunstâncias está no fato de colocar em prática aquilo que acredita e reza, ou simplesmente multiplicar palavras e se parecer com os fariseus que Jesus crítica no evangelho: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois, as doutrinas que ensinam são preceitos humanos”.
Na verdade, a ideia principal de toda a Sagrada Escritura consiste em: “Ouvir a Palavra e colocar em prática”. Esta recomendação aparece com clareza absoluta na carta de Tiago proclamada hoje: “Todavia, sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos”.
O texto do Deuteronômio, foca em alguns pontos fundamentais para o bem-estar entre as pessoas: “Nada acrescenteis, nada tireis, à palavra que vos digo, mas guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus que vos prescrevo. Vós os guardareis, pois, e os poreis em prática, porque neles está vossa sabedoria e inteligência perante os povos”.
E Jesus chamando a multidão para perto de si, desautoriza o legalismo dos fariseus quando afirma: “Escutai todos e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo”.
O que decide a proximidade com Deus não é o culto e as práticas legalistas, mas a capacidade de colocar em prática e ter para com todas as pessoas respeito e relações de fraternidade, cooperação e comunhão. A crítica mais séria que Jesus faz aos seus conterrâneos é a de aparentar aquilo que não são.
Peçamos a graça de ter coerência entre nossas palavras e nossas ações, não fazer uma coisa no mundo da religião e da igreja e outra no mundo dos negócios e da vida.



























sábado, 25 de agosto de 2018

HOMILIA PARA O DIA 26 DE AGOSTO DE 2018 - 21º ANO B


SERVIR AO ÚNICO DEUS

As pessoas que costumam jogar cartas, dominó, montar quebra cabeças, resolver palavras cruzadas, sabem muito bem que o jogo só continua se constantemente as cartas e pedras forem embaralhadas, se o quebra cabeça for desmontado e se as palavras cruzadas tiverem sempre um grau de complexidade mais exigente. Esta comparação é muito significativa com o dia a dia da vida que não teria a mesma importância e desfecho se não fossem os embaraços e a complexidade crescente de todos os empreendimentos realizados. Sem sombra de dúvida esta situação pode ser comparada também com a v ida de fé. Não poucas vezes as certezas sobre aquilo que se acredita são colocadas em xeque e a crença em Deus, na sua Palavra e no seu mistério sofrem abalos significativos. Ainda mais quando estes abalos ocorrem no âmbito da Igreja, das suas instituições, pastorais, movimentos, dos seus padres e bispos. Isto é o que se chama de crise.
Na história do povo de Deus e entre os amigos de Jesus não foi diferente. “As cartas do jogo” foram muitas vezes embaralhadas e acreditar que Deus estava com eles e que Jesus era o enviado do Pai não foi uma coisa tranquila para os israelitas.
Josué, no texto de hoje, coloca os chefes do povo diante de uma situação que exige maturidade e discernimento. As cartas estão embaralhadas... “Se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir: se aos deuses a quem vossos pais serviram na Mesopotâmia, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor”.
A condição de povo livre dependeria desta escolha, situação que não foi diferente para os discípulos de Jesus e seus conterrâneos. Enquanto Jesus fazia milagres e os alimentava tudo estava tranquilo e as multidões o seguiam. No momento em que ele pede uma tomada de posição muitos tomam outro rumo e preferem continuar na mediocridade da vida que estavam acostumados. Jesus “Sabendo que seus discípulos estavam murmurando” lança um desafio aos que permaneceram com ele: “Vós também vos quereis ir embora? ”.
Pedro, como de outras vezes responde em nome de todos: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”.
Ter a coragem de “continuar o jogo” com as cartas embaralhadas a cada dia é um desafio que São Paulo ajuda responder escrevendo aos Efésios: “Vós que temeis a Cristo, sede solícitos uns para com os outros”. Paulo dá uma série de conselhos sobre as relações entre os esposos recomendando que ambos percebam no jogo da vida “Este mistério é grande, e eu o interpreto em relação a Cristo e à Igreja”.
Peçamos também nós a graça, o discernimento e a coragem de seguir ao único e verdadeiro Pão da Vida que alimenta e sustenta nas inseguranças do cotidiano. Tenhamos a certeza do salmista quando reza: “O Senhor pousa seus olhos sobre os justos, e seu ouvido está atento ao seu chamado; Clamam os justos, e o Senhor bondoso escuta; Muitos males se abatem sobre os justos, Mas o Senhor liberta a vida dos seus servos, e castigado não será quem nele espera”.


sábado, 18 de agosto de 2018

HOMILIA PARA A MISSA NA SEMANA DA FAMÍLIA


EU CONFIO NO SENHOR E NADA TEMO

“O Senhor é minha força, meu louvor a salvação, ele fez prodígios e favores, publicai as maravilhas do Senhor”. O profeta Ezequiel faz uma parábola para contar sobre a infidelidade do povo na relação com Deus e conta como Deus “revestiu o seu povo com roupas bordadas, ungiu com perfume, calçou sandálias, enfeitou com joias e corou a cabeça dos seus escolhidos como se fosse salvar uma criança das forças da morte”. O Evangelho toca no cerne das relações familiares e mexe exatamente com a fidelidade matrimonial. A palavra de Jesus é muito clara quando diz que só é permitido o divórcio em caso de união ilegítima. Tal afirmação pode ser melhor entendida nas palavras de São João Paulo II: incompreensões recíprocas, ou quando Francisco diz: “matrimônios que nunca deveriam ter existido”. Em resumo se faltar o amor entre os esposos, termina o respeito e só uma legislação muito rigorosa seria capaz de garantir que a unidade permanecesse embora essa nem sempre fosse sinal de comunhão. Jesus é categórico quando responde aos judeus sobre a lei de Moisés: Ela só deve ser aplicada quando falta o amor, a solidariedade a responsabilidade e o perdão.
Quando falta ingredientes básicos para uma comunhão do casal acontece o que disse São João Paulo II: “Motivos diversos, quais incompreensões recíprocas, incapacidade de abertura a relações interpessoais, etc. podem conduzir dolorosamente o matrimónio válido a uma fratura muitas vezes irreparável. Obviamente que a separação deve ser considerada remédio extremo, depois que se tenham demonstrado vãs todas as tentativas razoáveis. A Igreja não pode abandonar aqueles que por algum motivo procuraram uma segunda união depois de ter feitos todos os esforços para manter o primeiro casamento, reze por eles a Igreja, encoraje-os, mostre-se mãe misericordiosa e sustente-os na fé e na esperança”.
Por sua vez o Papa Francisco afirma: “Quanto às pessoas divorciadas que vivem em segunda união é importante fazer-lhes sentir que fazem parte da Igreja, que “não estão excomungadas” Estas situações exigem acompanhamento e respeito de modo que ninguém se sinta discriminada de nada participando da comunidade. Fazendo isso a Igreja acolhe aqueles que precisaram iniciar uma nova família com o mesmo carinho como Deus fez com o povo de Israel: “banhei-te com água limpa, revesti-lhe com roupas bordadas, calcei uma sandália e te coroei” isso não é um enfraquecimento da fé e das normas da Igreja, mas uma forma de agir com misericórdia diante do sofrimento alheio. De modo que os movimentos, as pastorais e a Igreja inteira tem o dever de acolher, ouvir e compreender aqueles que tanto sofrem quando sua vida matrimonial passa por mares bravios e tempestades que não se acalmam.

HOMILIA PARA O DIA 19 DE AGOSTO DE 2018 - ASSUNÇÃO DE MARIA


DEUS ESTÁ CONTENTE COM VOCÊ

João Cabral de Melo Neto, considerado o maior poeta de língua portuguesa contemporânea, na poesia Morte e Vida Severina se expressa assim: “Somos muitos Severinos, iguais em tudo na vida, morremos de morte igual mesma morte Severina”. De fato, a morte é certa e para todos disto ninguém dúvida. Mas para os cristãos a morte não tem a última palavra e a partir da fé todos podem ter certeza disso: Como se lê na Carta aos Coríntios que é a segunda leitura de hoje: “Na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão”.
Costuma-se dizer que aqueles que morrem dormem à sombra da cruz, até que Cristo os ressuscite para a vida definitiva. Esta foi também a crença dos primeiros discípulos em relação a Maria, Mãe de Jesus. As primeiras comunidades cristãs celebravam a “dormição de Maria”. Tinham a absoluta certeza que assim como ela deu seu sim para que Cristo viesse ao mundo, Ele também teria dado o seu sim para que Maria participasse desde sempre na sua gloria.
A primeira leitura deste domingo mostra de um modo figurativo e muito extraordinário a vitória da vida sobre todas as forças da morte. Diante de um dragão com sete cabeças e dez chifres a mulher grávida dá à luz a um filho, sai vitoriosa para um lugar preparado por Deus enquanto seu filho é levado para Junto de Deus e do seu trono.  A rainha vestida de ouro que entra no palácio real entre cantos de festa e com grande alegria, desde muito cedo os cristãos entenderam que se tratava de Maria Mãe de Jesus.
Ela é a bendita entre as Mulheres, conforme proclamou Isabel. Bendita porque fez a vontade de Deus e não se recusou colocar-se a serviço dos irmãos e das irmãs. Ela mesma cantou as maravilhas que Deus realizou em seu favor.
Com a colaboração de Maria todas as pessoas receberam na pessoa de Jesus Cristo o perdão dos pecados e a certeza da vida definitiva, como diz São Paulo: “Como em Adão todos morreram, assim também em Cristo todos reviverão”.
Por estas razões a Igreja celebra hoje a festa da Assunção de Maria e proclama que ela a Bem-Aventurada, a Cheia de Graça, a Mãe de todos os povos que junto do seu Filho intercede por nós.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

HOMILIA PARA O DIA 12 DE AGOSTO DE 2018 - 19º COMUM ANO B


SEJAM IMITADORES DE DEUS

No documento, “Alegria do Evangelho”, o primeiro do Papa Francisco, ele apresenta para o mundo o que eram as suas convicções e a sua prática na Igreja em Buenos Aires, onde servia como Bispo. No número 49 Ele escreve: “Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Repito aqui, para toda a Igreja, aquilo que, muitas vezes, disse aos sacerdotes e aos leigos de Buenos Aires: prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada, por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos”.
É claro que esta afirmação trouxe alegria para muitos, perplexidade para outros, medo para outros e resistência daqueles que estavam acostumados a um estilo e modelo de Igreja presa em “obsessões e procedimentos”, normas, leis, regras e assim por diante. É importante perceber como essa preocupação do Papa não se diferencia da preocupação de Jesus narrada no evangelho deste domingo.
Quando Jesus diz: “Eu sou o pão que desceu do céu, quem dele comer, nunca morrerá. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo”. Sua Palavra traz alegria para muitos, esperança para outros, mas ao mesmo tempo medo e perplexidade aos judeus habituados ao ritmo dos ensinamentos de Moisés que eles haviam transformado num emaranhado de normas e regras, um fardo muito pesado para ser carregado.
Os judeus bem que preferiam manter o ritmo das coisas como estavam acostumados, embora não se davam conta da exclusão que vinham praticando e da falta de misericórdia com que julgavam as pessoas não permitindo que participassem do cotidiano da assembleia.
O tratamento que os conterrâneos dão a Jesus em nada se difere do que os antepassados fizeram em relação aos profetas. Elias, como narra a primeira leitura, também foi incompreendido e perseguido, fugiu para o deserto e desejou a morte. Mas Deus lhe devolve a alegria e o entusiasmo. Alimentando-o não resolve o problema do sofrimento e da perseguição, mas o anima a continuar a missão: “Levanta-se ainda tens um longo caminho a percorrer”.
Sem sombra de dúvida para os cristãos e para a Igreja contemporânea não faltam preocupações, desanimo e perseguição. Para todos vale a palavra de São Paulo: “Seja eliminado do meio de vós tudo o que é azedume, irritação, cólera, insulto, maledicência e toda a espécie de maldade. Sede bondosos e compassivos uns para com os outros e perdoai-vos mutuamente, como Deus também vos perdoou em Cristo. Sede imitadores de Deus, como filhos muito amados. Caminhai na caridade, a exemplo de Cristo”
Buscar e aceitar o batismo não é senão receber um sinal que se pertence a Deus, que se torna morada do Espírito Santo e, por isso mesmo, todo batizado é desafiado a deixar para trás os vícios da pessoa velha: “azedume, irritação, cólera, maledicência, insultos e toda espécie de maldade”. Em resumo Sede imitadores de Deus, como filhos que ele ama. Vivei no amor, como Cristo nos amou”.
Aceitar o evangelho implica ter a coragem de sair do comodismo e das práticas habitais de ser cristão para ir ao encontro daqueles que que mais necessitam da ajuda e do testemunho.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

HOMILIA PARA O DIA 05 DE AGOSTO DE 2018 - 18º COMUM - ANO B


RENOVAR-SE CONSTANTEMENTE

É inerente da condição humana buscar soluções rápidas e muitas vezes simplórias para problemas e exigências que, na maioria das vezes, exige planejamento, perseverança e organização coletiva. Entre nós é famoso o “jeitinho brasileiro” de resolver as coisas pelo caminho mais curto, mais fácil e mais rápido ainda que nem sempre mais correto nem tampouco mais honesto.
Prestando bem atenção na história do povo de Deus é possível perceber como o “jeitinho” não é uma coisa exclusivamente brasileira, pelo contrário aparece presente em diversas culturas e arraigado na história. Tanto a primeira leitura como o Evangelho deste domingo tratam desta situação.
A longa e exigente caminhada para a terra prometida a que o povo de Israel foi submetido não foi uma ação assimilada com facilidade por todos e durante todo o tempo. Por diversas vezes perderam o entusiasmo e pensavam em soluções simples, rápidas e que tudo se desse por um caminho mais curto, como num passe de mágica.
A primeira leitura trata do problema da fome, diante da qual o povo não exita de encontrar culpados e preferir outras soluções: “Quem dera que tivéssemos morrido escravos no Egito, quando nos sentávamos junto às panelas de carne e comíamos pão com fartura”. Apesar disso Moisés não perde a esperança e lhes apresenta uma alternativa que implica em solução definitiva e não apenas um paliativo para a fome momentânea. Recolher o maná na quantidade suficiente para continuar a caminhada, não acumular e ser capaz de repartir.
O mesmo fato acontece com Jesus e a multidão que o seguia. Aproximaram-se dele com uma pergunta interesseira: “Mestre quando chegaste aqui”. Jesus não se detém nesta resposta mas aponta o limite da busca e do interesse pelo qual as multidões o seguiam: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará”.
E o esforço para buscar o alimento que não se acaba está na palavra de São Paulo, na segunda leitura: “Eis pois o que eu digo e atesto no Senhor: não continueis a viver como vivem os pagãos, cuja inteligência os leva para o nada. Renunciando à vossa existência passada, despojai-vos do homem velho, que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras, e renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade. Revesti o homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade”.
Revestir-se como uma pessoa nova não é algo que se faz uma vez na vida, pelo contrário ele começa no dia do batismo e vai se repetindo por todo o sempre. Ledo engano procurar o batismo porque é tradição de nossos pais, ou costume das comunidades. A nossa adesão a Jesus deve partir de uma profunda convicção de que só Ele é o “pão” que nos dá vida. Deus vem, todos os dias, ao encontro das pessoas e os convida escutar a Palavra de Jesus ensinando-lhes os caminhos do amor, da partilha, do serviço. Convém que nos familiarizemos com os métodos e os caminhos de Deus.

terça-feira, 31 de julho de 2018

PELA VIDA E PELA DEMOCRACIA - A HORA É AGORA

PELA VIDA E PELA DEMOCRACIA

Em 1976, o álbum do ano de Roberto Carlos trouxe entre seus sucessos a música Progresso, e nela o Rei canta:
Eu não posso aceitar certas coisas que eu não entendo
O comércio das armas de guerra, da morte vivendo
Eu queira falar de alegria ao invés de tristeza mas não sou capaz
Eu queria ser civilizado como os animais. 

Não sou contra o progresso
Mas apelo pro bom-senso
Um erro não conserta o outro
Isso é o que eu penso.

O filósofo contemporâneo e ateu Leandro Karnal afirma: “Não existem fórmulas para ser ético, são conceitos básicos como respeitar o espaço do outro, não se fixar somente na sua felicidade pessoal, mas sim coletiva”.
O que estamos assistindo no Brasil nos últimos tempos não é outra coisa senão a “falta de bom senso” e de respeito pelos interesses coletivos em detrimento de vantagens pessoais. A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, não é outra coisa senão tentar “consertar um erro legalizando uma barbaridade ainda maior”, baseada num conceito de liberdade e felicidade pessoal, e com o pretexto de garantir saúde e segurança das mulheres certamente é “[...] um grave equívoco pretender resolver problemas, como o das precárias condições sanitárias, através da descriminalização do aborto. Urge combater as causas do aborto, através da implementação e do aprimoramento de políticas públicas que atendam eficazmente as mulheres, nos campos da saúde, segurança, educação sexual, entre outros, especialmente nas localidades mais pobres do Brasil. Espera-se do Estado maior investimento e atuação eficaz no cuidado das gestantes e das crianças. É preciso assegurar às mulheres pobres o direito de ter seus filhos. Ao invés de aborto seguro, o Sistema Público de Saúde deve garantir o direito ao parto seguro e à saúde das mães e de seus filhos” (Nota da CNBB pela Vida, contra o aborto, de 11 de abril de 2007).
O pedido que nasceu em algumas instâncias da sociedade que se organizam na forma de lobby levam o STF, a se dobrar perante interesses mesquinhos e corporativos numa clara ameaça à democracia e gastar seu precioso tempo em audiências públicas com a restrita finalidade de “modificar a constituição”. E não agir como   órgão máximo do Poder Judiciário e cuja função é proteger a Constituição da República Federativa do Brasil, que é a norma mais importante do país.
Desta Maneira a democracia se vê mais uma vez ameaçada pela clara interferência de um poder sobre o outro esquecendo-se que “As democracias modernas foram concebidas como formas de oposição aos absolutismos de qualquer gênero: pertence à sua natureza que nenhum poder seja absoluto e irregulável. Por isso, é imensamente desejável que, diante destas ameaças hodiernas, encontremos modos de conter qualquer tipo de exacerbação do poder” (http://www.cnbb.org.br/comissao-para-vida-e-a-familia-da-cnbb-mobiliza-cristao-na-luta-contra-a-legalizacao-do-aborto/).
O momento é agora para cada cidadão e para a sociedade como um todo dizer não a onipotência de qualquer um dos poderes da república, na certeza que todos eles são frutos da democracia cujo poder emana do povo e só é legítimo se exercido em seu nome e sob sua outorga.



quinta-feira, 26 de julho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 29 DE JULHO DE 2018 - 17º COMUM - ANO B


AJUDEM AS PESSOAS PENSAR...

O Evangelho deste domingo apresenta mais uma das provocações de Jesus quando vê a multidão que vinha ao seu encontro. Neste caso ele se dirige aos seus discípulos dizendo: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?' Disse isso para pô-los à prova, pois ele mesmo sabia muito bem o que ia fazer”. Interpretando a provocação de Jesus pode-se modificar a frase “'Fazei as pessoas sentar”, por “ajudem as pessoas pensar”.
Não se trata de forçar o evangelho, mas de perceber que a intenção de Jesus estava mais do que clara. Ele não estava apenas preocupado em saciar a fome da multidão que vinha ao seu encontro, sua preocupação se estendia também para a construção de novas relações que implicam responsabilidade, partilha, solidariedade, cuidado com o próximo e uma porção de outras exigências para a construção de uma sociedade justa e fraterna.
É perfeitamente possível sair do plano da simples fome de pão que assola milhares de pessoas pelo Brasil afora e pensar na “fome de justiça” que se houve em todos os cantos desta nação. Uma das notícias mais comentadas nesta semana foi a morte da estudante brasileira na Nicarágua. Em que pese o abuso de poder e a forma violenta como o governo daquele país vem respondendo às manifestações contrárias às reformas que afligem direitos das populações, é necessário se perguntar também quantos foram os brasileiros mortos nesta semana de forma violenta em muitas circunstâncias não explicadas e se explicadas não justificadas. Neste contexto Jesus diria: “Não se deixe iludir por respostas fáceis, mas vamos pensar juntos em soluções para a ‘fome de justiça”.
As convenções partidárias e a indicação dos pretendentes ao executivo e legislativo nos diversos níveis de governo no país movimentam alguns milhões de reais e muitos interesses nem sempre bem esclarecidos. Para este caso se poderia aplicar a palavra do profeta que se lê na primeira leitura: Veio também um homem de Baal-Salisa, trazendo em seu alforje para Eliseu, o homem de Deus, pães dos primeiros frutos da terra: eram vinte pães de cevada e trigo novo. E Eliseu disse: 'Dá ao povo para que coma”. Ou seja, todos os que se apresentam com propostas mirabolantes capazes de solucionar todos os problemas que a décadas afligem a nação se poderia pedir ao menos uma coisa: “Garanta que todos tenham comida, trabalho, saúde, educação, segurança,” e isto já seria uma grande proposta.
E neste sentido também é oportunidade para repetir o que se reza no salmo: “Saciai os vossos filhos ó Senhor. Vós que sois justo em seus caminhos, e santo em toda obra faz. Que está perto da pessoa que o invoca, de todo aquele que o invoca lealmente”.
Que a Palavra de Deus ajude todos a seguir e aprender com Jesus o que significa colocar em comum o que se tem para que todos vivam melhor.