segunda-feira, 25 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 01 DE OUTUBRO DE 2023 - 26º DOMINGO COMUM - ANO A

 MOSTRAI-ME Ó SENHOR VOSSOS CAMINHOS

Dentre as muitas falas atribuídas a São Francisco de Assis, uma delas diz assim: “Pregue o Evangelho todo o tempo, se necessário use palavras”. O Papa Francisco numa de suas falas faz uma advertência aos cristãos “Iludidos pela mundanidade espiritual que rezam como papagaios, sem qualquer entusiasmo pelo Evangelho”.

Essa mesma crítica fez o profeta Ezequiel no texto que ouvimos na primeira leitura fazendo um convite aos seus conterrâneos todos são desafiados a viver com coerência a aliança que fizeram com Javé. Tal como os israelitas também nós somos convidados a um compromisso sério e sem rodeios. Quando se trata de viver na perspectiva do Reino não servem meias palavras.

Paulo escreve aos cristãos da cidade de Filipos sugerindo seguir o exemplo de Cristo: “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas esvaziou-se a si mesmo”. Cristo tendo aceitado se fazer igual a todos deixou para o mundo a maior lição de amor. A recomendação de Paulo também serve para nós, trata-se de praticar a solidariedade e a comunhão não somente com palavras bonitas. Paulo conclui seu texto com a comparação entre Adão e Jesus o primeiro foi desobediente o segundo obediente. O resultado de um de outro não permite meias palavras.

No Evangelho Jesus apresenta mais um exemplo de coerência e de falta de coerência. Com a parábola dos dois filhos Jesus deixa claro que não bastam palavras bonitas e boas intenções. Mais do que responder com prontidão trata-se de cumprir o que se promete. O texto vem na continuação do último domingo, dizer sim implica em não se fazer indiferente quando se trata de colocar em prática aquilo que se acredita. Falando aos entendidos em leis e conhecedores da escritura e dos profetas Jesus garante que muitos dos que disseram não e se arrependeram são mais merecedores do que os que se julgam bons e perfeitos mas fazem somente com palavras bonitas e não entenderam nada da dinâmica do Reino.

A lição que Jesus dá aos fariseus se aplica a cada de nós que muitas vezes dissemos sim e agimos como quem disse não, outras vezes dizemos não e voltamos atrás agindo com lealdade superando a indiferença indo além de declarações teóricas e de boas intenções. O Verdadeiro cristão não é aquele que passa uma boa impressão, que finge respeitar as regras e tem um comportamento de fachada. O verdadeiro discípulo de Jesus e que faz como o Mestre é aquele que cumpre a vontade do Pai. Em resumo, ninguém está dispensado de colaborar na construção de uma sociedade mais fraterna, inclusiva e humana. Não serve, no dizer do Papa Francisco Cristãos papagaios. É mais importante e necessário o que diz Francisco de Assis: Prega o Evangelho sempre, se necessário use palavras.



quinta-feira, 21 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 24 DE SETEMBRO DE 2023 - 25º DOMINGO COMUM - ANO A

 

 MISERICÓRDIA E PIEDADE É O SENHOR

  

Uma das situações que aborrece qualquer pessoa é a falta de seriedade em relação aquilo que promete. Por exemplo, você agenda uma visita fica esperando e a pessoa não aparece; você compra um produto e no dia marcado o produto não chega; você faz um orçamento e na execução do serviço lhe apresentam outro valor. Em todas essas situações o que está em jogo é a seriedade e lealdade nas palavras. A Bíblia é o livro que contém a Palavra de Deus, e precisamente se dia A PALAVRA, porque Deus não é uma pessoa de muitas palavras.

A fala do profeta Isaias neste domingo não poderia ser mais animadora e cheia de ternura: Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor”. Tudo o que está nas mãos de Deus supera infinitamente todas as capacidades humanas. A palavra do profeta se resume: “Fidelidade, lealdade, coerência”.

Por isso mesmo a Igreja inteira reza, respondendo à Palavra do profeta: “Misericórdia e piedade é o Senhor, ele é amor, é paciência, é compaixão. O Senhor é muito bom para com todos, sua ternura abraça toda criatura”.

São Paulo, preso e apenas esperando sua execução, faz um balanço de toda a sua vida e de todas as suas ações e conclui com um convite que merece ser aplicado ao dia a dia de todas as pessoas: “Só uma coisa importa: vivei à altura do Evangelho de Cristo”.

Como em outras ocasiões, na parábola do bom patrão Jesus mostra como sua vida está em sintonia com as preocupações do seu tempo e do seu povo. Ele tinha clareza da falta de trabalho e oportunidade que deixava muitas pessoas à margem da sociedade. A prática do patrão não se limita a partir do certo e do errado a da concordância com a lei. O evangelho confirma o que disse o profeta: “meus pensamentos não são como os vossos pensamentos...” A pessoa justa, segundo a medida do coração de Jesus não se acomoda enquanto todos não estiverem incluídos no seu projeto e mais importante do que pagar com justiça aos trabalhadores é pagar o suficiente para que todos tenham o necessário para sua sobrevivência e a dignidade da sua família.

Jesus desmonta a ideia de direitos e méritos, ele identifica a inveja daqueles que se acham melhores que os demais. Na dinâmica do reino não tem espaço para disputas mesquinhas sobre quanto alguém faz supostamente pelo outro. Jesus de novo propõe a qualidade da ação mais do que a quantidade. O pagamento de uma diária igual, mais do que um valor numérico é uma maneira que Jesus tem para dizer: Deus não faz diferença entre as pessoas.

Reunidos em Assembleia de oração em súplica e ação de graças todos os que cremo no Cristo. Reunidos rezamos a elevamos louvores e agradecimentos pedindo por todos e com todos que a justiça de Deus aconteça em todos os lugares e com a colaboração de todos.

A liturgia convida a todos e a cada pessoa em particular a se deixar moldar pela Palavra de Deus de modo que pela prática dos conselhos evangélicos seja possível a construção de uma sociedade sempre mais autêntica, humana e fraterna. 

 

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 17 DE SETEMBRO DE 2023 - 24º DOMINGO COMUM - ANO A

 

O SENHOR É BONDOSO E COMPASSIVO!

Dentre as atitudes extraordinárias e que servem de lições para todos, estão os gestos de fraternidade e comunhão entre as crianças. Na simplicidade das suas relações muitas vezes disputam o mesmo brinquedo, o colo da mesma pessoa, os mesmos espaços e isto costuma causar algum tipo de desavença e até de choro, que parece ser muito dolorido. Entretanto, passados poucos minutos tudo volta ao normal a alegria toma conta e entre eles não há tristeza e rancor. Esses comportamentos merecem apreendidos por todos em todas as circunstâncias e tempos.

São Paulo, na segunda leitura desse domingo fala aos cristãos de Roma, chamando a atenção para uma verdade que nós conhecemos e nem sempre vivemos de acordo com o que acreditamos: “Ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos”. Esta constatação é absolutamente clara quando consideramos a brevidade da nossa vida, apesar disso muitas vezes gastamos tempo, forças e inteligência acumulando raiva, rancor, vingança, sofrimento, vaidade e assim por diante. O Convite do apóstolo está numa palavra que usamos com muita frequência: “Manter o foco”. Ou seja, vamos voltar nosso olhar e nossas preocupações naquilo que é essencial: Jesus Cristo que morreu e ressuscitou por todos. Logo, somos chamados a aprender com Ele o que significa viver como família com a simplicidade das crianças.

O ensinamento que a vida e a Palavra de Jesus nos transmitem não é outra coisa senão o que a sabedoria antiga já recomendava para a comunidade de Israel: “O rancor e a raiva são coisas detestáveis; até o pecador procura dominá-las. Perdoa a injustiça cometida por teu próximo: assim, quando orares, teus pecados serão perdoados”. Uma lição simples de ser entendida: nada mais cabe num recipiente que já está cheio. Ora, se nossa vida está repleta de raiva, rancor, vingança, e outros sentimentos que fazem sofrer obviamente não caberá nela a misericórdia e o perdão. Todavia, enquanto a misericórdia e o perdão produzem gratidão e felicidade, a raiva e o rancor produzem tristeza e sofrimento. A escolha é livre e de cada um.

Na mesma direção está a lição que Jesus dá a Pedro: “Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?  Jesus respondeu: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. Depois de dizer isso Jesus exemplifica com a parábola do patrão e do empregado. Num coração endurecido pela vingança não cabe mais nada e o resultado não poderia ser outro. Mais uma vez somos chamados a exercitar o que se chama “gentileza, gera gentileza”. Gente que sabe cultivar a reconciliação e o perdão não se paralisa no ódio e no rancor, na tristeza e na vingança. Um coração endurecido somente enxerga a força bruta como resposta possível a todo e qualquer erro alheio, ao contrário, uma alma generosa sabe separar as rosas dos espinhos, como bem sabemos cantar: Fica sempre um pouco de perfume!

Daí sim faz sentido cantar o salmo previsto para a liturgia desse domingo:

O Senhor é bondoso, compassivo e carinhoso.

Pois ele te perdoa toda culpa, *
e cura toda a tua enfermidade;

da sepultura ele salva a tua vida *
e te cerca de carinho e compaixão. R.

 

Não fica sempre repetindo as suas queixas, *
nem guarda eternamente o seu rancor.

Não nos trata como exigem nossas faltas, *
nem nos pune em proporção às nossas culpas. 

 

sábado, 9 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 10 DE SETEMBRO DE 2023 - 23º DOMINGO COMUM - ANO A

 

QUEM AMA SE COMPROMETE COM A PESSOA AMADA

Uma das exigências contemporâneas consiste em superar a indiferença e cuidar do próximo. Tanto a primeira leitura quanto o evangelho apresentam uma maneira de prestar atenção e de cuidar das pessoas.

Realizando qualquer tipo de consulta à população em geral, ou acompanhando os noticiários de rádio e TV, não é difícil perceber como as pessoas tem necessidade de ajuda e de solidariedade diante das dificuldades e provações que experimentam a cada dia.

As pessoas necessitam de perdão, de acolhida, de amparo de uma palavra amiga. Em resumo precisam ser amadas e reconhecidas.

As três leituras e o salmo desse domingo são uma resposta para essa necessidade: “Não feche hoje o seu coração, antes esteja aberto para a voz do Senhor”. É claro que a voz de Deus não vem do nada, ou do vento. A voz do Senhor poderá ser reconhecida naquele que pede e naquele que se dispõe falar e ouvir.

A figura descrita na primeira leitura não se trata de uma pessoa que está vigiando a vida alheia. Pelo contrário, o profeta, faz uma analogia com a responsabilidade das forças de segurança numa cidade cuja finalidade é perceber e cuidar para que nada ali aconteça em dissonância com os projetos de Deus e com o aviltamento da dignidade das pessoas. Ou seja, diante do sofrimento e das ameaças contra a vida aquele que ama não pode ficar indiferente.

A prática da correção e a orientação em vista de uma vida melhor e mais santa tem por finalidade trazer de volta aqueles que por qualquer motivo estão longe dos caminhos do Senhor. Não se trata de julgamentos para a condenação, mas de acolhida e carinho de modo que ninguém fique excluído ou se perca por falta de cuidado.

São Paulo proclama na liturgia deste domingo dizendo: “O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei”. Esta afirmação é a consequência dos mandamentos dos quais ele faz uma releitura ao longo do texto.  

A orientação dada por Paulo é o cumprimento das Palavras que foram ditas por Jesus: “Onde dois ou três vivem em comunhão, Deus aí está”.

De modo que a grande e primeira lição da Palavra de Deus neste domingo consiste em viver a comunhão e a fraternidade.

Neste sentido um momento importante e indispensável para todos os que querem provar o sabor do evangelho, reside no encontro de oração que a Igreja convida a cada domingo e que esta assembleia proporciona.

Reunidos na oração e na escuta os cristãos também participam da Eucaristia e partilham a palavra e a oração de tal modo que se realiza o que é rezado no Salmo: “Vinde Adoremos o Deus que nos criou. Ele é nosso Deus, nosso Pastor e nós somos o seu povo e seu rebanho”.

Na mesma direção Jesus insiste no Evangelho na missão que todos temos para estabelecer um diálogo fraterno e acolhedor que não condene o pecador, mas que facilite sua reinserção na sociedade por meio do amor misericordioso e compassivo. É nisto que se resumem todos os mandamentos e que São Paulo afirma ser a única dívida realmente importante e que devemos tratar de saldá-la sem demora: Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, - pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei”.

Peçamos a graça de transformar nossas famílias, nossas comunidades, e todas as nossas relações em oportunidades para que se possam ver as marcas do amor. De tal modo que todos proclamem: “Vejam como eles se amam”.

Reunidos nesta assembleia santa somos alimentados pela Palavra, pela Eucaristia e pela Oração comunitária e solidária. Juntos vamos construindo um lugar onde as pessoas seguem Jesus Cristo superam seus erros e fraquezas ganhando sempre mais irmãos ao longo do caminho e de cada circunstância. Então sim podemos cantar de novo:

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos o Rochedo que nos salva!
Ao seu encontro caminhemos com louvores,
e com cantos de alegria o celebremos.

 

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

HOMILIA PARA O DIA 03 DE SETEBMRO DE 2023 - 22º DOMINGO COMUM - ANO A

 

A MINHA ALMA TEM SEDE DE DEUS!

Conta a história que o rei Dom João V, teria estabelecido o preço de seis vinténs para uma saca de açúcar. Valor que foi considerado irrisório pelos produtores da época que nessas circunstâncias preferiram consumir o açúcar em vez de comercializar. Neste contexto surgiu o provérbio: “Mais vale um gosto do que seis vinténs”. Pois é sobre o prazer de fazer alguma atividade, a alegria e a determinação para realizar tarefas e projetos que trata a Palavra de Deus que ouvimos nesse domingo.

De outra maneira se pode dizer que a liturgia faz um convite para experimentar a loucura da cruz, cujo resultado será sempre a sensação de dever cumprido e de uma vida realizada no amor e por amor.

Na primeira leitura Jeremias faz um desabafo referindo-se ao fato de ter sido incompreendido na função de profeta. Se dependesse dos resultados e da aceitação tudo teria sido em vão. Ele se apresenta inicialmente como alguém revoltado contra Deus e disposto a abandonar tudo. Porém, o seu comprometimento e a certeza que ele tem de não estar trabalhando em vão não lhe permitem “jogar a toalha”, ou “pendurar a chuteira” como se diz hoje: “Todas as vezes que falo, levanto a voz, clamando contra a maldade; a palavra do Senhor tornou-se para mim fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro. Tornei-me alvo de riso o dia inteiro. Não quero mais lembrar-me disso nem falar mais em nome dele". Entretanto suas convicções são muito maiores que a revolta: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder”. Esta pode ser também na atualidade a certeza daqueles que aceitam a proposta e o convite de Deus vivendo com determinação e coragem os valores do Reino. Para quem se compromete com a Palavra de Deus verá que o coração arde de paixão pela causa e não se amedronta de colocar os pés na estrada. Não são as dificuldades que devem nos abater, mas a coragem que deve nos sustentar quando se trata de superar os percalços que a vida nos oferece.

Na mesma direção São Paulo recorda aos cristãos de Roma que entregar-se sem reservas nas mãos de Deus é a melhor e mais agradável oferenda que uma pessoa pode oferecer àquele que nos chamou para sair das trevas em direção a uma luz admirável: “Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus”. Viver em Deus e para Deus é muito mais do que milhões em ouro e prata, sem ser jocoso: “Mais vale um gosto do que seis vinténs”!

No Evangelho Jesus dialoga com os discípulos na mesma direção do profeta e de Paulo: “Jesus começou a mostrar a seus discípulos que devia ir a Jerusalém e sofrer muito...” Pedro, que sempre falava em nome de todos, não tinha entendido o anuncio do mestre e nesse texto age como o demônio descrito em outra passagem sempre querendo desviar Jesus da missão que havia assumido. Com firmeza Jesus repreende Pedro e estende o convite a todos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida”. Ontem, como hoje aceitar a proposta do Evangelho consiste mais em sair de si mesmo, das suas verdades e possibilidades de sucesso para transformar a sua vida em doação e serviço generoso aos irmãos e irmãs. Como palavra de conclusão a liturgia de hoje nos faz repetir com Jeremias: “Seduziste-me Senhor e eu me deixei seduzir”. Ou então vale muito mais fazer aquilo que nos traz realização pessoal do que abocanhar e acumular muito dinheiro, patrimônio, riquezas e viver em função de cuidar das coisas em lugar da gente.

 Não tenhamos medo de rezar com o salmista:

A minh'alma tem sede de vós,
como a terra sedenta, ó meu Deus
!

terça-feira, 22 de agosto de 2023

HOMILIA PARA O DIA 27 DE AGOSTO DE 2023 - 21º DOMINGO COMUM - ANO A

 

TUDO É DELE, POR ELE E PARA ELE!

 

Um dos piores sentimentos humanos diz respeito a confiança traída. A gente aposta em alguém com quem partilha e compartilha trabalhos, sentimentos, atividades, confidências e num determinado momento sem nenhuma razão aparente a resposta é uma quebra de confiança que desencanta qualquer possibilidade de continuar o trabalho e os relacionamentos que pareciam ser duradouros.

Na segunda leitura desse domingo, São Paulo escreve aos Romanos, começa e termina com algumas afirmações que retratam a sua absoluta confiança no Deus que ele acredita: “Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Como são inescrutáveis os seus juízos e impenetráveis os seus caminhos! Na verdade, tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória para sempre. Amém”! No entender de Paulo é impossível para a finitude humana compreender Deus. Mas de uma coisa todos podem ter certeza quem se entrega confiadamente nas mãos dele nunca terá o que temer. O convite é para todos reconhecer Deus como se reza no salmo:

Altíssimo é o Senhor, mas olha os pobres, *
e de longe reconhece os orgulhosos.

Ó Senhor, vossa bondade é para sempre! † 

Eu vos peço: não deixeis inacabada, *
esta obra que fizeram vossas mãos!

 

Ao contrário de Deus, as pessoas nem sempre são merecedoras da confiança que lhes é depositada. Esse é o sentimento narrado pelo profeta Isaias na primeira leitura: “Assim diz o Senhor a Sobna, o administrador do palácio: "Eu vou te destituir do posto que ocupas e demitir-te do teu cargo. Acontecerá que nesse dia chamarei meu servo Eliacim, filho de Helcias, e o vestirei com a tua túnica e colocarei nele a tua faixa, porei em suas mãos a tua autoridade; ele será um pai para os habitantes de Jerusalém e para a casa de Judá”. As palavras do profeta são um desabafo em relação a alguém que deixou de cumprir aquilo que tinha sido acordado. Ao longo do tempo as pessoas entenderam que se tratava também de uma quebra de confiança do povo de Israel nas relações com Deus, que por sua vez não lhes deixa na insegurança e no medo, pelo contrário estabelece outro acordo que permite ao seu povo seguir sem medo: “Hei de fixá-lo como estaca em lugar seguro e aí ele terá o trono de glória na casa de seu pai". Esta profecia vai se concretizar na pessoa de Jesus, que por sua vez estende sua missão a todos aqueles que lhe reconhecem: “Então Jesus lhes perguntou: "E vós, quem dizeis que eu sou?" Simão Pedro respondeu: "Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo". Respondendo, Jesus lhe disse: "Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus". Pedro representa a comunidade dos discípulos que merece a confiança irrestrita do mestre para agir com a força do amor: “Tudo o que ligarem na terra será ligado nos céus e o que desligarem na terra será desligado nos céus”. Jesus não precisa que ninguém diga quem ele é: “Jesus, então, ordenou aos discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Messias”.  Ele espera apenas que sejam fiéis seguidores dos seus ensinamentos e do seu estilo de ver e fazer as coisas. Responder à pergunta que Jesus continua a nos dirigir como fez com os discípulos não se trata de dar lições de catequese, de bíblia, de liturgia, de doutrina da Igreja, implica olhar para dentro do nosso coração e no cotidiano de nossas ações responder com sinceridade qual é o lugar de Jesus na minha vida!

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

HOMILIA PARA A FESTA DA ASSUNÇÃO DE MARIA - 20 DE AGOSTO DE 2023 - ANO A

 

EIA, POIS ADVOGADA NOSSA

A Salve Rainha é uma das preces da piedade popular que aprendemos desde muito cedo. Muitas vezes repetimos sem nos dar conta do significado da frase no mistério da nossa salvação. Mas de uma coisa é certa recorrer a Maria e rezar com Ela ao Pai é a forma mais segura de alcançar aquilo que precisamos. O adjetivo advogado Jesus também aplica ao Espírito Santo, nós usamos todas as vezes que precisamos de um socorro quando nossas forças e argumentos já não são suficientes diante das necessidades.

São Paulo VI escreveu sobre a Assunção de Maria com as seguintes palavras: “É a festa do seu destino de plenitude e de bem-aventurança, da glorificação da sua alma imaculada e do seu corpo virginal, da sua perfeita configuração com Cristo ressuscitado”.

Na oração eucarística na Missa de hoje nós rezamos: “Aurora esplendor da Igreja triunfante, ela é consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho, pois preservastes da corrupção da morte aquela que gerou, de modo inefável, o vosso próprio Filho feito homem, autor de toda a vida”.

Nós repetimos também as palavras de sua prima Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres”. Na festa da Assunção fazemos memória do dia em que o “Bendito fruto do seu ventre” acolhe sua mãe na glória do céu e a coroa com 12 estrelas.

Mas não podemos pensar que Maria alcançou o mérito da glória sem antes ter experimentado as dificuldades e agruras da vida.

A figura da mulher descrita na primeira leitura é a descrição de Maria que participa da vitória da Cristo sobre o mal e a morte. Vestida de sol, coroada de estrelas, venceu o dragão e foi alimentada por Deus no deserto.

A mesma coisa rezamos no salmo: A esposa do rei é Maria que encontra graça diante de Deus pelos méritos do seu Filho: “À vossa direita se encontra a rainha com veste esplendente de ouro de Ofir”.

Na carta aos coríntios, mais uma vez o Homem Novo, que ao contrário de Adão, venceu as tentações do pecado faz da Virgem Maria a Nova Eva. Ela está na sequência daqueles que ressuscitam: “Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada: Em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo”.

Agradecida por ter sido escolhida como Mãe do Salvador, Maria não se limita a palavras bonitas de gratidão. Ela realiza na prática aquilo que acredita: “Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia não sem razão o Papa Francisco, durante a Jornada Mundial da juventude, a chamou de A virgem que sai correndo, a Virgem apressada quando se trata de correr ao encontro dos necessitados.

A festa de hoje é um convite para aprender rezar com Maria que guardou todas as coisas no seu coração. Coloquemos nossos pés nos rastros de Maria e aprendamos com ela a fazer tudo o que Filho pedir!

 

 

                                                                                                   

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

HOMILIA PARA O DIA 13 DE AGOSTO DE 2023 - 19º DOMINGO COMUM - ANO A

 SENHOR, NÃO NOS DEIXE SER VENCIDOS PELO MEDO

 

Yuri Gagarin, o primeiro cosmonauta, que no dia 12 de abril de 1961 foi lançado ao espaço a bordo do foguete denominado Zemiorka deixou gravado a frase: A paisagem é absolutamente linda e nova ... a superfície da terra muda de cor à medida que é iluminada pelo céu negro, de onde vejo muito bem as estrelas". É atribuída também a ele a frase: “Olhei para todos os lados, mas não vi Deus”. É mais provável que o cosmonauta tenha afirmado que “não encontrou na estratosfera qualquer marca de Deus...” De fato, Deus não é uma criatura que tocamos com nossos sentidos, nenhum radar espacial jamais detectou qualquer vestígio de Deus. Convenhamos que não é necessário muito discurso para aceitar que todos somos pessoas a quem Deus inquieta. Independente de professar uma religião o coração humano contém interrogações sobre o extraordinário, o transcendente, o totalmente outro e que de modo nenhum os sentidos conseguem expressar.

É essa a imagem de Deus que as leituras bíblicas desse domingo querem revelar. Trata-se de um Deus disposto a percorrer passo a passo os caminhos humanos.

Elias retorna ao monte Sinai, onde pela primeira vez Deus falou com Moisés e ali de uma maneira totalmente diferente de tudo o que se poderia esperar reconhece a presença de Deus: ouviu-se um murmúrio de uma leve brisa. Ouvindo isso, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta”. A intenção do autor desta passagem é clarear também para nós que Deus não se manifesta em sinais extraordinários, amedrontadores e espetaculares, mas se dá a conhecer no silêncio e na calmaria do coração.

Também para nós, como para o cosmonauta Russo, não faltam oportunidades extraordinárias e propostas de felicidade ecoando em alta voz que não poucas vezes nos arrastam para a indiferença com os sofrimentos alheios. O texto da primeira leitura é um convite para nos encontrar de novo com o nosso interior.  

A carta de São Paulo aos Romanos é um convite a não perdermos as oportunidades que Deus nos oferece. Ele nunca falha e deixa claro que embora as pessoas nem sempre tenham sido fiéis aos compromissos assumidos a misericórdia de Deus se derrama com abundância sobre todos: “Irmãos: Não estou mentindo, Tenho no coração uma grande tristeza”. Paulo diz isso por causa da ingratidão dos seus conterrâneos, apesar disso o apóstolo afirma: “Eles são israelitas. A eles pertencem a filiação adotiva, a glória, as alianças, as leis, o culto, as promessas e também os patriarcas. Deles é que descende, quanto à sua humanidade, Cristo, o qual está acima de todos, Deus bendito para sempre! Amém!”.

O Evangelho desse domingo é a continuação do que ouvimos semana passada. Lá Jesus desafiou os discípulos a garantir comida para todos de uma maneira extraordinária e muito simples: “sentar e repartir”!

Agora, na travessia do mar os discípulos experimentam como nós as tempestades que desmascaram nossas seguranças e colocam a descoberto nossa vulnerabilidade, nossos programas, projetos hábitos e prioridades. As tempestades derrubam a maquiagem das nossas certezas. Quando somos tomados pelo medo e pela insegurança mais uma vez Deus se apresenta na serenidade da madrugada: “A barca, porém, já longe da terra, era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário. Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar” A reação dos discípulos diante de tudo o que estava acontecendo não poderia ser outra: ficaram apavorados, e gritaram de medo dizendo: "É um fantasma". Mas Jesus se encarrega de lhes revelar sua verdadeira identidade”: "Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!"

É bom ter presente que a comunidade para quem Mateus escreveu esse evangelho, por volta de 50 anos depois da morte de Jesus, já havia perdido o entusiasmo e vivia a fé com frieza e acomodação. As contrariedades do cotidiano, as perseguições representavam tempestades, confusão, medo, insegurança. Tal como os cristãos daqueles tempos também nós estamos numa continua travessia em que as ondas contrárias ameaçam e nos fazem como Pedro ter medo e começar a afundar. A resposta continua sendo a mesma. Para quem reconhece em Jesus a bondade e a segurança de Deus que é amor, comunhão e compaixão percebe que ele continua estendendo a mão que nos faz vencer a adversidade, a desilusão e todos os medos. O Evangelho se conclui com o a repreensão a Pedro e o convite para todos: “Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: "Senhor, salva-me!" Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: "Homem fraco na fé, por que duvidaste?" Assim que subiram no barco, o vento se acalmou. Os que estavam no barco, prostraram-se diante dele, dizendo: "Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!"

Não tenhamos medo embora não seja visível em carne e osso o Senhor nunca deixa de nos acompanhar. O maior problema não são as tempestades, mas nossa falta de fé! Sempre que colocamos o foco das nossas preocupações e nos nossos medos Jesus se torna um fantasma, uma miragem, uma aparição sem sentido. Bem declarou o Papa Francisco durante a pandemia: “não somos autossuficientes: precisamos do Senhor, convidemos Jesus a subir no barco da nossa vida”. Isso também rezamos no salmo:

Quero ouvir o que o Senhor irá falar: *

é a paz que ele vai anunciar.

Está perto a salvação dos que o temem, *
e a glória habitará em nossa terra. 

 

 



terça-feira, 1 de agosto de 2023

HOMILIA PARA O DIA 06 DE AGOSTO DE 2023 - 18º DOMINGO COMUM - ANO A - TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR BOM JESUS!

 

DEUS É REI! EXULTE A TERRA DE ALEGRIA

Se tem uma situação que faz parte das preocupações cotidianas é a que diz respeito ao futuro, às realizações profissionais, a felicidade e até ao que virá depois da morte. A liturgia da Igreja nos convida a fazer memória da Transfiguração do Senhor, também chamada na piedade popular de Festa do Senhor Bom Jesus. Note-se que esta celebração acontece 40 dias antes da Exaltação da Santa Cruz, e tem por objetivo deixar bem claro que a bondade e a vitória do Bom Jesus não estão desligadas da Cruz e do sofrimento. A Palavra de Deus que ouvimos nesse domingo nos apresenta três situações que apontam exatamente nessa direção.

Na primeira leitura o profeta Daniel fala de um reino futuro que não terá fim, mas que antes exige enfrentar provações: “Eu continuava olhando até que foram colocados uns tronos, e um Ancião de muitos dias aí tomou lugar. Seu trono eram chamas de fogo, e as rodas do trono, como fogo em brasa. Derramava-se aí um rio de fogo que nascia diante dele”. Passando por essa provação o que estava sentado no trono: “Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá”.

São Pedro, na segunda leitura, escreve com a autoridade de quem vivenciou todo o processo que levou Jesus à glória e a realeza: “Não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. Efetivamente, ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando do seio da esplêndida glória se fez ouvir aquela voz que dizia: "Este é o meu Filho bem-amado, no qual ponho o meu bem-querer". O texto de hoje se conclui com uma recomendação para o nosso tempo: “Façam brilhar a Palavra que vocês ouviram como um tesouro em seus corações”.

Mateus começa o Evangelho desse domingo apresentando os discípulos testemunhas da mais extraordinária revelação. Pedro, Tiago e João, foram levados para a montanha, lugar onde normalmente Deus se revelou aos antepassados, ali ouviram a voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!" O Fato acontece no sexto dia, o mesmo que Deus criou o primeiro homem que se deixou corromper pelo pecado, agora Deus revela sua nova criatura: O Filho de Deus plenamente renovado, o qual faz novas todas as criaturas.

Não se trata de uma mágica para impressionar os desavisados discípulos. A transfiguração acontece no contexto do cumprimento da lei cujo representante é Moisés e no cumprimento das profecias cujo representante é Elias. A nova criatura que se dá a conhecer no sexto dia é o cumprimento perfeito de tudo o que o povo de Israel acreditava. O homem perfeito veio realizar tudo que tinha sido prometido ao longo do tempo.

Os discípulos ficaram encantados com a cena deslumbrante que presenciavam e estavam dispostos a permanecer nessa condição para sempre. Entretanto a voz que veio do céu não termina com o reconhecimento daquele que foi enviado, mas convida todos em todos os tempos seguir o único e verdadeiro mestre. O Filho de Deus que se fez conhecer no sinal da transfiguração continua convidando-nos a descer da montanha das nossas certezas e seguranças para transfigurar o mundo

Jesus continua a chamar cada pessoa, como fez com os três discípulos: “Levantem-se não tenham medo”! Se acreditamos na oração que fazemos no salmo, podemos caminhar sem medo:

 Deus é Rei, é o Altíssimo,
 muito acima do universo.

As montanhas se derretem como cera *
ante a face do Senhor de toda a terra;

e assim proclama o céu sua justiça, *
todos os povos podem ver a sua glória!

 

quarta-feira, 26 de julho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 30 DE JULHO DE 2023 - 17º DOMINGO COMUM - ANO a

SENHOR, CONCEDE-NOS UM CORAÇÃO SÁBIO E COMPREENSIVO

Para fazer um link com a Palavra de Deus proclamada neste domingo é possível começar com a letra de uma canção sertaneja cuja letra diz assim:

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei.

As três leituras que ouvimos nos sugerem pensar sobre quais os valores que colocamos como fundamentos da nossa existência. Na primeira leitura temos o retrato de um sujeito que embora tendo sido considerado o mais sábio dos Reis de Israel, se apresenta como uma pessoa cuja sabedoria tem uma fonte inesgotável: “Senhor meu Deus, tu fizeste reinar o teu servo em lugar de Davi, meu pai. Mas eu não passo de um adolescente, que não sabe ainda como governar. Dá, pois, ao teu servo, um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal”.

A atitude de Salomão mostra também a serenidade de um homem sábio que não coloca seus objetivos pessoais acima dos interesses da comunidade. A resposta que Deus lhe dá está fundamentada nessa verdade: “Já que não pediste para ti longos anos de vida, nem riquezas, nem a morte de teus inimigos, mas sim sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu pedido; dou-te um coração sábio e inteligente”. O ensinamento que o texto nos traz é um convite para pautar nossa vida ao jeito de ser de Salomão, isto é, colocar como sustento de nossas ações valores que sejam duradouros e que não tenham pressa para que sejam realizados: “Ando devagar porque já tive pressa”!

Na carta que dirige ao Romanos Paulo faz um convite também para nós apontando como o mais alto valor para nossas ações é o caminho e a proposta de Jesus: “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus”. E amar a Deus não consiste em outra coisa senão em viver os valores do evangelho numa vida a serviço das pessoas, como canta Almir Sater: “É preciso amor pra poder pulsar, É preciso paz pra poder sorrir”.

No Evangelho, mais uma vez Jesus fala em parábolas com um objetivo muito claro e simples o maior e mais seguro tesouro que podemos guardar é o Reino de Deus: “O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo... O Reino dos Céus também é como um comprador que procura pérolas preciosas... O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar... Assim, pois, todo o mestre da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas". Quando Mateus escreveu esse evangelho os cristãos viviam uma espécie de cansaço em relação às novidades trazidas por Jesus, estavam desencorajados no enfrentamento das perseguições e hostilidades da vida. O evangelista coloca como pano de fundo para a vida dos seguidores de Jesus a necessidade de renovar as motivações e escolhas, porque quem anda segundo as escolhas do Reino pode dizer: “Hoje me sinto mais forte, Mais feliz, quem sabe... O tesouro do Reino é uma preciosidade a ser abraçada e buscada por todos os que sabem que fizeram uma escolha decisiva para suas vidas. Em resumo a decisão pelo Reino não permite escolhas pela metade, não serve agradar a Deus e ao diabo, não vale jogo duplo, mas aderir radicalmente ao projeto de Deus, porque “Cada um de nós compõe a sua história, Cada ser em si, Carrega o dom de ser capaz E ser feliz”. É isto que rezamos no salmo:

Como eu amo, Senhor, a vossa lei, vossa palavra!

É esta a parte que escolhi por minha herança:*
observar vossas palavras, ó Senhor!

A lei de vossa boca, para mim,*
vale mais do que milhões em ouro e prata.

 



 

 

quarta-feira, 19 de julho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 23 DE JULHO DE 2023 - 16º DOMINGO COMUM - ANOA

 

DEUS É BOM, CLEMENTE E FIEL!

São muitas as ocasiões do cotidiano que as pessoas têm dificuldade de expressar com clareza a sua opinião sobre um determinado assunto, ou relatar os detalhes de alguma situação particular. E sempre que isso acontece é preciso recorrer a figuras de linguagem, a metáforas, comparações e exemplos para se fazer entender.

Pois recurso de linguagem é uma das formas de escrever utilizada pelos autores sagrados em distintas ocasiões com o intuito de fazer compreender como Deus age na história. Neste domingo a Palavra de Deus proclamada nas celebrações litúrgicas tem por objetivo assegurar que a lógica de Deus nem sempre se equipara com as propostas humanas. A acolhida, o cuidado, a misericórdia, a paciência de Deus supera infinitamente o desejo de justiça e o sentido de pertença cultivado no cotidiano das pessoas e da sociedade do seu tempo e porque não dizer nos tempos atuais.

O livro da Sabedoria descreve Deus com palavras extraordinárias: “A tua força é princípio da tua justiça, e o teu domínio sobre todos te faz para com todos indulgente. Mostras a tua força a quem não crê na perfeição do teu poder; e nos que te conhecem, castigas o seu atrevimento. No entanto, dominando tua própria força, julgas com clemência e nos governas com grande consideração: pois quando quiseres, está ao teu alcance fazer uso do teu poder”. Independentemente dessa grandeza Deus age com misericórdia e convida todas as pessoas a terem o mesmo sentimento de compaixão e acolhida para com todos.

Deus não tinha que provar nada a ninguém, mas o autor do livro da Sabedoria conclui o texto de hoje com uma lição que se aplica para os tempos contemporâneos: “No entanto, dominando tua própria força, julgas com clemência e nos governas com grande consideração: pois quando quiseres, está ao teu alcance fazer uso do teu poder. Assim procedendo, ensinaste ao teu povo que o justo deve ser humano; e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores”.

São Paulo, aos Romanos reforça como Deus, por seu Espírito Santo vem em socorro da fraqueza humana, sobretudo quando as pessoas não sabem distinguir entre aquilo que necessitam a quilo que pedem: “O Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor”. Paulo procura clarear aos destinatários da sua carta que todas as criaturas humanas são filhos amados de Deus a quem ele não deixa perdidos e inseguros diante das provações. Deus ama a todos incondicionalmente e oferece gratuitamente a salvação.

A parábola do joio e do trigo, que Jesus conta hoje para destacar o modo de agir de Deus merece ser entendida no contexto de toda a vida de Jesus. Em sua caminhada pela Palestina de outrora Jesus não excluiu ninguém, nem tampouco discriminou qualquer pessoa, pelo contrário no convívio com pecadores e marginalizados mostrou que todas as pessoas têm oportunidade de crescer na prática do bem na verdade, na comunhão e na concórdia. O Reino de Deus que Jesus anunciou não é um clube de perfeitos, uma exclusividade para santos e bons. No Reino de Deus todos tem oportunidade para crescer e amadurecer suas escolhas, todos têm oportunidade de experimentar a graça de Deus e de fazer a melhor escolha ao longo do tempo.

Ao contrário dos fariseus que consideram a sua religião como único caminho para Deus, de modo nenhum os que estavam irregulares perante a lei poderiam fazer parte da assembleia dos escolhidos. Jesus dá uma lição clara e objetiva: Na lógica de Deus não cabem a exclusão e a segregação de alguns em benefício dos outros. Sem fazer distinção, Deus oferece oportunidade para todos, no final dos tempos aqueles que não aceitarem terão o seu julgamento. O cuidado com o trigo não permite arrancar o joio, porque facilmente pode ser confundido um e outro, assim também na convivência cotidiana. Não cabe nos planos de Deus confiar a quem quer que seja a tarefa de separar bons e maus, deve ficar claro que em todas as pessoas e em todos os lugares convivem o bem e o mal. (Parábola chinesas dos dois cães).

Para compreender a lógica de Deus basta rezar com serenidade e firmeza o salmo previsto para esse domingo:

 


Ó Senhor, vós sois bom, sois clemente e fiel!

Ó Senhor, vós sois bom e clemente,*
sois perdão para quem vos invoca.

Escutai, ó Senhor, minha prece,*
o lamento da minha oração! R.

 

As nações que criastes virão*
adorar e louvar vosso nome.

Sois tão grande e fazeis maravilhas:*
vós somente sois Deus e Senhor! R.

 

Vós, porém, sois clemente e fiel,*
sois amor, paciência e perdão.

Tende pena e olhai para mim!*
Confirmai com vigor vosso servo. R