quinta-feira, 10 de agosto de 2023

HOMILIA PARA O DIA 13 DE AGOSTO DE 2023 - 19º DOMINGO COMUM - ANO A

 SENHOR, NÃO NOS DEIXE SER VENCIDOS PELO MEDO

 

Yuri Gagarin, o primeiro cosmonauta, que no dia 12 de abril de 1961 foi lançado ao espaço a bordo do foguete denominado Zemiorka deixou gravado a frase: A paisagem é absolutamente linda e nova ... a superfície da terra muda de cor à medida que é iluminada pelo céu negro, de onde vejo muito bem as estrelas". É atribuída também a ele a frase: “Olhei para todos os lados, mas não vi Deus”. É mais provável que o cosmonauta tenha afirmado que “não encontrou na estratosfera qualquer marca de Deus...” De fato, Deus não é uma criatura que tocamos com nossos sentidos, nenhum radar espacial jamais detectou qualquer vestígio de Deus. Convenhamos que não é necessário muito discurso para aceitar que todos somos pessoas a quem Deus inquieta. Independente de professar uma religião o coração humano contém interrogações sobre o extraordinário, o transcendente, o totalmente outro e que de modo nenhum os sentidos conseguem expressar.

É essa a imagem de Deus que as leituras bíblicas desse domingo querem revelar. Trata-se de um Deus disposto a percorrer passo a passo os caminhos humanos.

Elias retorna ao monte Sinai, onde pela primeira vez Deus falou com Moisés e ali de uma maneira totalmente diferente de tudo o que se poderia esperar reconhece a presença de Deus: ouviu-se um murmúrio de uma leve brisa. Ouvindo isso, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta”. A intenção do autor desta passagem é clarear também para nós que Deus não se manifesta em sinais extraordinários, amedrontadores e espetaculares, mas se dá a conhecer no silêncio e na calmaria do coração.

Também para nós, como para o cosmonauta Russo, não faltam oportunidades extraordinárias e propostas de felicidade ecoando em alta voz que não poucas vezes nos arrastam para a indiferença com os sofrimentos alheios. O texto da primeira leitura é um convite para nos encontrar de novo com o nosso interior.  

A carta de São Paulo aos Romanos é um convite a não perdermos as oportunidades que Deus nos oferece. Ele nunca falha e deixa claro que embora as pessoas nem sempre tenham sido fiéis aos compromissos assumidos a misericórdia de Deus se derrama com abundância sobre todos: “Irmãos: Não estou mentindo, Tenho no coração uma grande tristeza”. Paulo diz isso por causa da ingratidão dos seus conterrâneos, apesar disso o apóstolo afirma: “Eles são israelitas. A eles pertencem a filiação adotiva, a glória, as alianças, as leis, o culto, as promessas e também os patriarcas. Deles é que descende, quanto à sua humanidade, Cristo, o qual está acima de todos, Deus bendito para sempre! Amém!”.

O Evangelho desse domingo é a continuação do que ouvimos semana passada. Lá Jesus desafiou os discípulos a garantir comida para todos de uma maneira extraordinária e muito simples: “sentar e repartir”!

Agora, na travessia do mar os discípulos experimentam como nós as tempestades que desmascaram nossas seguranças e colocam a descoberto nossa vulnerabilidade, nossos programas, projetos hábitos e prioridades. As tempestades derrubam a maquiagem das nossas certezas. Quando somos tomados pelo medo e pela insegurança mais uma vez Deus se apresenta na serenidade da madrugada: “A barca, porém, já longe da terra, era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário. Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar” A reação dos discípulos diante de tudo o que estava acontecendo não poderia ser outra: ficaram apavorados, e gritaram de medo dizendo: "É um fantasma". Mas Jesus se encarrega de lhes revelar sua verdadeira identidade”: "Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!"

É bom ter presente que a comunidade para quem Mateus escreveu esse evangelho, por volta de 50 anos depois da morte de Jesus, já havia perdido o entusiasmo e vivia a fé com frieza e acomodação. As contrariedades do cotidiano, as perseguições representavam tempestades, confusão, medo, insegurança. Tal como os cristãos daqueles tempos também nós estamos numa continua travessia em que as ondas contrárias ameaçam e nos fazem como Pedro ter medo e começar a afundar. A resposta continua sendo a mesma. Para quem reconhece em Jesus a bondade e a segurança de Deus que é amor, comunhão e compaixão percebe que ele continua estendendo a mão que nos faz vencer a adversidade, a desilusão e todos os medos. O Evangelho se conclui com o a repreensão a Pedro e o convite para todos: “Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: "Senhor, salva-me!" Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: "Homem fraco na fé, por que duvidaste?" Assim que subiram no barco, o vento se acalmou. Os que estavam no barco, prostraram-se diante dele, dizendo: "Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!"

Não tenhamos medo embora não seja visível em carne e osso o Senhor nunca deixa de nos acompanhar. O maior problema não são as tempestades, mas nossa falta de fé! Sempre que colocamos o foco das nossas preocupações e nos nossos medos Jesus se torna um fantasma, uma miragem, uma aparição sem sentido. Bem declarou o Papa Francisco durante a pandemia: “não somos autossuficientes: precisamos do Senhor, convidemos Jesus a subir no barco da nossa vida”. Isso também rezamos no salmo:

Quero ouvir o que o Senhor irá falar: *

é a paz que ele vai anunciar.

Está perto a salvação dos que o temem, *
e a glória habitará em nossa terra. 

 

 



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