EU
QUERO A MISERICÓRDIA E NÃO O SACRIFÍCIO!
Não
bastam boas intenções, é preciso colocar em prática aquilo que se deseja. Essa
máxima vale para muitas situações do cotidiano e serve para indicar que pensar
e agir são dois lados da mesma moeda. Pois é este o ponto central da liturgia
da Palavra nesse domingo.
Isso
nós rezamos na oração que o padre faz antes das leituras, chamada de oração da
coleta: “Ó Deus por vossa inspiração
fazei-nos pensar o que é certo e realizá-lo com vossa ajuda”. As três
leituras deixam bastante claro que o mais importante não são as palavras que
saem da nossa boca transformadas em oração, ou declarações de boas intenções,
mas o que conta é a concretização daquilo que sonhamos e queremos fazer de bem.
O
profeta Oseias fala na primeira leitura colocando em duvidas a seriedade dos
seus conterrâneos. Eles reconhecem que mais cedo ou mais tarde Deus se
manifestará: “Certa como a aurora é a sua
vinda, ele virá até nós como as primeiras chuvas, que regam o solo”. Apesar
disso o profeta duvida da sinceridade de conversão do seu povo os ritos e
orações que realizam são desligados da vida, quase como quem tenta fazer
negociata com Deus. O profeta, porém, deixa clara a perspectiva de Deus: “quero amor, e não sacrifícios, conhecimento
de Deus, mais do que holocaustos”.
A
carta aos Romanos, Paulo escreve num contexto de dificuldade de relacionamento
entre aqueles que aceitaram a proposta de Jesus, mas que tinham tradições
religiosas diversas antes de conhecerem o cristianismo. Muito próximo das
repreensões que fez o profeta na primeira leitura, Paulo fala para os
convertidos mostrando o exemplo de Abraão. Ele não foi salvo, e nem se tornou
modelo para as gerações por causa do seu conhecimento e das suas muitas
palavras. Abraão se tornou exemplo para todos e pai de todas as gerações porque
colocou em prática o que ouviu do Senhor. Sua fé e confiança nas promessas
tornaram sua vida um modelo para ser seguido: “Abraão, contra toda a humana esperança, firmou-se na esperança e na fé.
Assim, tornou-se pai de muitos povos, conforme lhe fora dito: Assim será
a tua posteridade. Não fraquejou na fé, à vista de seu físico
desvigorado pela idade, diante
da promessa divina, não duvidou e isto lhe foi creditado como justiça”.
Abraão foi o modelo da pessoa que tudo o que fez não são méritos seus, mas
graça de Deus: “Ó Deus por vossa
inspiração fazei-nos pensar o que é certo e realizá-lo com vossa ajuda”
O
Evangelho nos apresenta uma catequese sobre a resposta que devemos dar a Deus
que chama a todos sem distinção. Para Deus o que conta não é em primeiro lugar
a perfeição, ele chama e abre oportunidade para todos, basta ter a coragem e
predisposição para mudar o curso da vida que por sua vez mudará a própria
história. O Caso de Mateus no evangelho de hoje é uma clássica situação de
determinação e coragem. Na condição de cobrador de impostos, Mateus estava
entre os excluídos do Templo e considerado pecador público a quem as
autoridades judaicas e os fariseus não davam nenhum crédito.
Jesus não apenas convida o pecador a deixar
para trás seus hábitos e costumes como também faz uma refeição com outros
reconhecidamente impuros e não merecedores de confiança. Nesta ocasião Jesus
responde aos fariseus: “Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas
sim os doentes. Aprendei, pois, o que significa: 'Quero misericórdia e não
sacrifício'. De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores".
A atitude de Jesus ensina que antes de julgar,
condenar e excluir é necessário acolher e perdoar.
Todos os chamados de Jesus partem de um mesmo
princípio: trata-se de trabalhadores do cotidiano, não se tratam de super-heróis,
perfeitos e que caminham nas nuvens. Os convidados são pessoas que vivem os
mesmos dramas e sofrimentos de todos os seus conterrâneos Diante do convite, Mateus não
pede esclarecimentos, define a sua vida a partir do chamado sem fazer objeções.
A resposta de Mateus pode ser comparada com a resposta de Abraão e de tantos
outros homens e mulheres ao longo da história, a quem também nós somos
convidados a imitar deixando de lado as nossas certezas, nosso orgulho e
autorreferecialidade, não nos conformando com as pequenas e insignificantes
conquistas que fazemos seguindo nossos próprios hábitos e costumes.
Que o exemplo dos apóstolos e a coragem de
Maria nos ensine a responder sempre com determinação, alegria e ousadia.
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