sexta-feira, 2 de junho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 11 DE JUNHO DE 2023 - 10º DOMINGO COMUM - ANO A

 

EU QUERO A MISERICÓRDIA E NÃO O SACRIFÍCIO!

Não bastam boas intenções, é preciso colocar em prática aquilo que se deseja. Essa máxima vale para muitas situações do cotidiano e serve para indicar que pensar e agir são dois lados da mesma moeda. Pois é este o ponto central da liturgia da Palavra nesse domingo.

Isso nós rezamos na oração que o padre faz antes das leituras, chamada de oração da coleta: “Ó Deus por vossa inspiração fazei-nos pensar o que é certo e realizá-lo com vossa ajuda”. As três leituras deixam bastante claro que o mais importante não são as palavras que saem da nossa boca transformadas em oração, ou declarações de boas intenções, mas o que conta é a concretização daquilo que sonhamos e queremos fazer de bem.

O profeta Oseias fala na primeira leitura colocando em duvidas a seriedade dos seus conterrâneos. Eles reconhecem que mais cedo ou mais tarde Deus se manifestará: “Certa como a aurora é a sua vinda, ele virá até nós como as primeiras chuvas, que regam o solo”. Apesar disso o profeta duvida da sinceridade de conversão do seu povo os ritos e orações que realizam são desligados da vida, quase como quem tenta fazer negociata com Deus. O profeta, porém, deixa clara a perspectiva de Deus: “quero amor, e não sacrifícios, conhecimento de Deus, mais do que holocaustos”.

A carta aos Romanos, Paulo escreve num contexto de dificuldade de relacionamento entre aqueles que aceitaram a proposta de Jesus, mas que tinham tradições religiosas diversas antes de conhecerem o cristianismo. Muito próximo das repreensões que fez o profeta na primeira leitura, Paulo fala para os convertidos mostrando o exemplo de Abraão. Ele não foi salvo, e nem se tornou modelo para as gerações por causa do seu conhecimento e das suas muitas palavras. Abraão se tornou exemplo para todos e pai de todas as gerações porque colocou em prática o que ouviu do Senhor. Sua fé e confiança nas promessas tornaram sua vida um modelo para ser seguido: “Abraão, contra toda a humana esperança, firmou-se na esperança e na fé. Assim, tornou-se pai de muitos povos, conforme lhe fora dito: Assim será a tua posteridade. Não fraquejou na fé, à vista de seu físico desvigorado pela idade, diante da promessa divina, não duvidou e isto lhe foi creditado como justiça”. Abraão foi o modelo da pessoa que tudo o que fez não são méritos seus, mas graça de Deus: “Ó Deus por vossa inspiração fazei-nos pensar o que é certo e realizá-lo com vossa ajuda”

O Evangelho nos apresenta uma catequese sobre a resposta que devemos dar a Deus que chama a todos sem distinção. Para Deus o que conta não é em primeiro lugar a perfeição, ele chama e abre oportunidade para todos, basta ter a coragem e predisposição para mudar o curso da vida que por sua vez mudará a própria história. O Caso de Mateus no evangelho de hoje é uma clássica situação de determinação e coragem. Na condição de cobrador de impostos, Mateus estava entre os excluídos do Templo e considerado pecador público a quem as autoridades judaicas e os fariseus não davam nenhum crédito.

Jesus não apenas convida o pecador a deixar para trás seus hábitos e costumes como também faz uma refeição com outros reconhecidamente impuros e não merecedores de confiança. Nesta ocasião Jesus responde aos fariseus: “Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Aprendei, pois, o que significa: 'Quero misericórdia e não sacrifício'. De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores". A atitude de Jesus ensina que antes de julgar, condenar e excluir é necessário acolher e perdoar.

Todos os chamados de Jesus partem de um mesmo princípio: trata-se de trabalhadores do cotidiano, não se tratam de super-heróis, perfeitos e que caminham nas nuvens. Os convidados são pessoas que vivem os mesmos dramas e sofrimentos de todos os seus conterrâneos Diante do convite, Mateus não pede esclarecimentos, define a sua vida a partir do chamado sem fazer objeções. A resposta de Mateus pode ser comparada com a resposta de Abraão e de tantos outros homens e mulheres ao longo da história, a quem também nós somos convidados a imitar deixando de lado as nossas certezas, nosso orgulho e autorreferecialidade, não nos conformando com as pequenas e insignificantes conquistas que fazemos seguindo nossos próprios hábitos e costumes.

Que o exemplo dos apóstolos e a coragem de Maria nos ensine a responder sempre com determinação, alegria e ousadia.

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