quinta-feira, 15 de junho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 25 DE JUNHO DE 2023 - 12º DOMINGO COMUM - ANO B

 

ATENDEI-NOS SENHOR, POR VOSSO IMENSO AMOR!

Dentre as muitas frases atribuídas a Dom Helder Câmara que foi arcebispo de Olinda e Recife, uma delas diz assim: “É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca”. As leituras deste domingo trazem como destaque a questão do sofrimento e das dificuldades que rondam a vida daqueles que aceitam ser discípulos de Jesus para anunciar o projeto de Deus para o mundo. Mas ao mesmo tempo deixam claro que Deus não abandona aqueles que aceitam caminhar segundo a sua vontade.

Jeremias, cuja primeira leitura ouvimos, é o modelo do profeta sofredor. Ele experimenta todas as formas de perseguição até o abandono, mas em hipótese alguma perde a confiança em Deus e deixa de lado a coerência e a fidelidade: “Eu ouvi as injúrias de tantos homens e os vi espalhando o medo em redor”. Até os amigos mais próximos do profeta fizeram um lobby contra ele, apesar disso, do fundo da sua solidão Jeremias declara: “Mas o Senhor está ao meu lado, como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão vencidos. Por não terem tido êxito, eles se cobrirão de vergonha”. Confiante na verdade e autenticidade da sua missão ele expressa um hino de confiança em Deus: “Cantai ao Senhor, louvai o Senhor, pois ele salvou a vida de um pobre homem das mãos dos maus".

Na segunda leitura Paulo, mais uma vez, deixa claro aos cristãos de Roma que não importa a origem de cada pessoa, todos são destinatários da salvação de Deus e que o mais importante é acolher essa proposta. Paulo costuma falar sempre sobre dois aspectos distintos e hoje usa as figuras de Adão e de Cristo. Enquanto o primeiro escolhe o caminho do egoísmo e da autossuficiência que geram a morte como afastamento de Deus, Jesus Cristo escolhe a obediência. Esse caminho faz nascer uma criatura nova, livre e em plena comunhão com Deus. Em Jesus Cristo todos foram libertados do pecado e da morte, a cruz é apenas a aparência do fracasso, mas ao contrário é dessa provação que surge o dinamismo de uma nova vida: “O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens. A transgressão de um só levou a multidão humana à morte,
mas foi de modo bem superior que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos”.

No Evangelho Jesus continua o discurso sobre a missão e deixa claro aos discípulos: “Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma”. Para os que aceitam com fidelidade a missão não faltará a mão generosa de Deus, a ajuda e a presença do próprio Jesus ao longo da jornada: “O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia; o que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados”.

A promessa de Jesus no trecho de hoje já estava contida nas bem-aventuranças: “Felizes daqueles que forem perseguidos, insultados, incompreendidos por minha causa”. Não será o medo que deve acovardar os discípulos, acomodando-os dentro de quatro paredes. Quem dá a vida pela causa do Reino não precisa ter medo da morte física, pois o cristão sabe que a vida é um dom de Deus que não termina com a finitude dessa vida terrena. E Jesus conclui seu discurso com um convite a confiança absoluta: “Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais. Portanto, todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que está nos céus”. Ora, com um Pai que tem essas características ninguém precisa ter medo, nem tampouco exercer a missão com fraqueza. Esse é também o convite do Papa Francisco: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer”.

 

 

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