ATENDEI-NOS SENHOR, POR VOSSO
IMENSO AMOR!
Dentre as muitas frases
atribuídas a Dom Helder Câmara que foi arcebispo de Olinda e Recife, uma delas
diz assim: “É graça divina começar bem.
Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir
nunca”. As leituras deste domingo trazem como destaque a questão do
sofrimento e das dificuldades que rondam a vida daqueles que aceitam ser
discípulos de Jesus para anunciar o projeto de Deus para o mundo. Mas ao mesmo
tempo deixam claro que Deus não abandona aqueles que aceitam caminhar segundo a
sua vontade.
Jeremias, cuja primeira
leitura ouvimos, é o modelo do profeta sofredor. Ele experimenta todas as
formas de perseguição até o abandono, mas em hipótese alguma perde a confiança
em Deus e deixa de lado a coerência e a fidelidade: “Eu ouvi as injúrias de tantos homens
e os vi espalhando o medo em redor”. Até os amigos mais
próximos do profeta fizeram um lobby contra ele, apesar disso, do fundo da sua
solidão Jeremias declara: “Mas o Senhor
está ao meu lado, como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem
cairão vencidos. Por não terem tido êxito, eles se cobrirão de
vergonha”. Confiante na verdade e autenticidade da sua missão ele expressa
um hino de confiança em Deus: “Cantai ao
Senhor, louvai o Senhor, pois ele salvou a vida de um pobre homem
das mãos dos maus".
Na
segunda leitura Paulo, mais uma vez, deixa claro aos cristãos de Roma que não
importa a origem de cada pessoa, todos são destinatários da salvação de Deus e
que o mais importante é acolher essa proposta. Paulo costuma falar sempre sobre
dois aspectos distintos e hoje usa as figuras de Adão e de Cristo. Enquanto o
primeiro escolhe o caminho do egoísmo e da autossuficiência que geram a morte
como afastamento de Deus, Jesus Cristo escolhe a obediência. Esse caminho faz
nascer uma criatura nova, livre e em plena comunhão com Deus. Em Jesus Cristo
todos foram libertados do pecado e da morte, a cruz é apenas a aparência do
fracasso, mas ao contrário é dessa provação que surge o dinamismo de uma nova
vida: “O pecado entrou no mundo por um só
homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para
todos os homens. A transgressão de um só levou a multidão humana à morte,
mas foi de modo bem superior que a graça de Deus,
ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo,
se derramou em abundância sobre todos”.
No Evangelho Jesus continua o discurso sobre a
missão e deixa claro aos discípulos: “Não
tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma”.
Para os que aceitam com fidelidade a missão não faltará a mão generosa de Deus,
a ajuda e a presença do próprio Jesus ao longo da jornada: “O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz
do dia; o que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os
telhados”.
A promessa de Jesus no trecho de hoje já estava
contida nas bem-aventuranças: “Felizes
daqueles que forem perseguidos, insultados, incompreendidos por minha causa”.
Não será o medo que deve acovardar os discípulos, acomodando-os dentro de
quatro paredes. Quem dá a vida pela causa do Reino não precisa ter medo da
morte física, pois o cristão sabe que a vida é um dom de Deus que não termina
com a finitude dessa vida terrena. E Jesus conclui seu discurso com um convite
a confiança absoluta: “Quanto a vós, até
os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não tenhais medo! Vós
valeis mais do que muitos pardais. Portanto, todo aquele que se declarar a meu
favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu
Pai que está nos céus”. Ora, com um Pai que tem essas características
ninguém precisa ter medo, nem tampouco exercer a missão com fraqueza. Esse é
também o convite do Papa Francisco: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter
saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se
agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o
centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se
alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é
que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da
amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um
horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos
mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção,
nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos
sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus
repete-nos sem cessar: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer”.
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