VENHA A NÓS O
SEU REINO
Dentre as historietas
que minha mãe contava sobre o poder da oração, uma delas era aquela do “menino
que viu na parede de casa uma imagem do crucificado e impressionado com o
estado deplorável da figura perguntou ao seu pai: “Porque ele está tão triste?
Ele está com fome? E o pai respondeu sim, ele está com fome. E o que ele come,
perguntou o garoto! Disse-lhe o pai ele se alimenta de reza ele é santo. Então
o garoto se lembrou das várias orações que tinha aprendido na catequese e se
propôs a alimentar aquela pobre criatura com as suas rezas.
Ora a Palavra de Deus
desse domingo é uma catequese sobre o poder e o conteúdo da oração. Abraão e
Jesus no são apresentado como modelos de atitude que devemos ter em nossa
relação com Deus.
Abraão mantém um
diálogo frente a frente com Deus. Ousado, confiante, irreverente apresenta as
suas inquietações, suas dúvidas e se mostra aberto para entender e aceitar a
vontade de Deus. O núcleo central da oração de Abraão quer nos fazer entender o
peso do justo e o peso do pecador diante de Deus: “Abraão disse: “Que o meu Senhor
não se irrite, se eu falar só mais uma vez: e se houvesse apenas dez? ” Ele
respondeu: “Por causa dos dez, não a destruiria”.
A contagem decrescente
do número de justos coloca em destaque a misericórdia e a justiça de Deus e
leva a concluir que a vontade de salvar é muito maior que a vontade de perder.
Em resumo Deus perdoa sempre, e não por causa do número e do merecimento de uns
e de outros.
A oração de Abraão nos
ensina que no diálogo com Deus o que conta não é uma repetição de palavras
ocas, repetidas como se fosse um papagaio. Nem se trata de uma
porção de rezas para alimentar um Deus que se alimenta das nossas orações.
Antes, trata-se de um diálogo sincero que coloca nas mãos e no coração de Deus
as mais profundas necessidades humanas.
Lucas é o evangelista da oração e coloca Jesus em
oração com o Pai todas as vezes que Ele está diante de alguma grande decisão na
sua vida. O Evangelho de hoje nos coloca na escola de oração de Jesus, a qual
se assemelha à de Abraão. Não se trata de repetir palavras, em Jesus somos
convidados a descobrir que Deus é Pai. Quando se trata da oração confiante ao
Pai, nos vem aquela afirmação de uma corrente da psicologia familiar que
afirma: “Um bom pai não é aquele que dá tudo o que filho pede, mas tudo o que
filho precisa”.
Também nós, muitas vezes queremos muitas coisas,
mas Deus sabe nos dar tudo aquilo que necessitamos. O alimento da nossa oração
mostra um diálogo que vale a pena e que nos leva a apresentar ao Pai uma prece
por todos os crucificados do nosso tempo. Iríamos longe na lista dos
crucificados pela fome, violência, desemprego, humilhação, e assim por diante.
Nos dirigindo a Deus que é Pai, não apenas se
parece ou se compara com um Pai, a oração que Jesus nos ensina leva a
considerar duas coisas na conversa com Deus: A forma e o assunto! Mas o aspecto
que merece mais atenção é o fato de Jesus ter aconselhado os seus discípulos a
reconhecer que Deus é Pai!
São Paulo aos colossenses volta a afirmar que Cristo deve ser colocado
como referência fundamental para a nossa vida e que só ele é absolutamente
necessário para a nossa salvação. Obviamente que também no que se refere as
nossas práticas de piedade e a nosso jeito de rezar, seja na frequência seja na
forma.
Reconhecer que Deus é Pai e estabelecer com Ele um diálogo franco,
aberto, respeitoso e ousado, que é muito mais do que alimentar a Deus com as
orações que aprendemos na catequese.
Nossos antepassados, colonos que desbravaram essas terras e nos deram
instrumentos para construir a próspera Itajaí e nos fez passar de ‘Patinho Feio
a príncipes encantados’ também nos ensinaram muitas orações que mais do que
repetição de palavras consistiam em diálogo franco, sincero e ousado do Deus
Pai, por meio de Jesus e de sua mãe Maria.
Tal como o Pai nosso, é a oração do salmista
que fazemos como sendo a nossa oração nesse domingo.