O QUE FAZER COM
OS POBRES?
Nestes dias que
antecedem as eleições o problema dos pobres e da pobreza salta aos olhos com
muito mais intensidade, sobretudo porque a solução parece estar ao alcance da
mão de todos e a pouco mais de uma semana para ser implementada. Entretanto é
de longa data conhecida a desigualdade social no Brasil cujos dados confirmam
que as seis pessoas mais ricas acumulam mais riquezas do que os cem milhões
mais pobres.
A Palavra de Deus
proclamada nesse domingo trata não precisamente de ter ou não ter riquezas, mas
do uso que dela se faz e do abismo que se estabelece entre aqueles que tem e
aqueles que não tem. As três leituras nos sugerem ver os bens deste mundo a
partir do uso que fazemos deles, ou seja, por mais que tenhamos adquirido bens
com honestidade e trabalho justo eles devem ser vistos sempre como dons de Deus
colocados em nossas mãos para que façamos uso com gratuidade e partilha. Convenhamos
que os Lázaros de hoje incomodam tanto quanto os de outrora.
A distância entre
pobres e ricos que é o tema claro do Evangelho já tinha sido condenada pelo
profeta Amós que viveu em Israel cerca de 700 anos antes de Jesus. O profeta
faz uma crítica severa àqueles que vivem no luxo à custa da exploração dos
pobres e que não se importam com o sofrimento dos últimos: “Assim diz o Senhor
todo-poderoso: Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião, os que se
sentem seguros nas alturas de Samaria! Os que dormem em camas de
marfim, deitam-se em almofadas, comendo cordeiros do rebanho e novilhos do seu
gado” as palavras do profeta deixam claro que Deus não concorda com essa
situação.
Nossa primeira tentação é culpar
os políticos e meia dúzia de pessoas que julgamos ser os responsáveis por essa
situação. Sem tirar a culpa da parte que lhes cabe é importante que nos
perguntemos se também nós não cultivamos os mesmos vícios denunciados pelo
Profeta? Não gastamos de forma descontrolada para sustentar nossos vicíos e
pequenos prazeres supérfluos?
No
evangelho Jesus conta uma parábola aos fariseus amigos do dinheiro. O cerne da
história reside na diferença entre a maneira como vive aquele que tem e outro
que não tem: “Jesus disse aos fariseus: Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e
elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias. Um pobre, chamado
Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico. Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa
do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas”.
O que está em jogo não é a posse dos bens
propriamente, mas o amor exgerado ao dinheiro que cega e desfigura as pessoas. Toda
a riqueza tem uma função social e todos somos chamados a colaborar para
derrubar os muros que separam ricos e pobres e no seu lugar construir pontes.
Este é também o convite do Papa Francisco ao convocar os jovens para o evento
chamado a “Economia de Francisco”.
A
conclusão dessa história pode até não ter um desfecho visível ao nosso curto
tempo da existência terrena, mas é certo que um dia seremos responsabilizados
pela maneira como fizemos uso dos bens deste mundo: “Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no
para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. Na região
dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a
Abraão, com Lázaro ao seu lado. Então gritou: Pai Abraão, tem piedade de
mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque
sofro muito nestas chamas”.
O abismo que existia entre a boa vida de um e
a desgraça do outro apenas se aprofundou: “Filho, lembra-te que tu recebeste teus bens durante a
vida e Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e
tu és atormentado.E, além disso, há um grande
abismo entre nós; por mais que alguém desejasse, não poderia passar
daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós”. De modo que está muito claro o que determina a
diferença dos destinos é o modo como usamos os bens deste mundo. Em síntese
essa é a doutrina da Igreja: “De resto, todos têm o direito de
ter uma parte de bens suficientes para si e suas famílias” (Gaudium et Spes,
69).
O evangelho nos interpela a
responder sobre o uso que fazemos dos bens que administramos e em que medida a
riqueza ou a pobreza nos fazer ter um coração egoísta e prepotente incapaz de
partilhar e se solidarizar com os necessitados da nossa porta.
Na carta de São Paulo que é a segunda leitura está descrito o perfil da
pessoa que agrada ao coração de Deus: “Tu, que és um homem de Deus,
foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a
firmeza, a mansidão. Combate o bom combate da fé,
conquista a vida eterna, para a qual foste chamado e pela qual fizeste tua
nobre profissão de fé diante de muitas testemunhas”.
Em resumo todo o nosso futuro depende do nosso
presente e o resultado implica em viver o amor para com os irmãos!