segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 01DE JANEIRO DE 2023 - SANTA MARIA MÃE DE DEUS - DIA MUNDIAL DA PAZ - ANO A

 

SANTA MÃE DE DEUS, ROGAI POR NÓS!

São inúmeras as motivações que levam os cristãos a se reunir na noite do último dia do ano e no primeiro dia do novo ano. A liturgia da Igreja nos coloca diante da figura de Maria Mãe de Deus e nos propõe celebrar o Dia mundial da Paz. Com essas duas intenções todos nos colocamos como meta e desafio caminhar juntos na perspectiva de novos tempos, para isso colocamos a nossa vida e tudo o que amamos nas mãos de Deus pedindo a sua bênção e proteção para todos os sonhos e projetos.

Tal como o povo de Israel também nós estamos confiantes que Deus caminhará ao nosso lado como tem feito em todos os tempos. Ao concluir, com uma ação de graças, o ano de 2022 dizemos todos: “Até aqui nos trouxe Deus”! E com o autor da primeira leitura repetimos três vezes o nome de Deus confiados na tríplice bênção que dele recebemos: “O Senhor te abençoe e te guarde! 'O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti!

O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz”! Nenhuma realidade humana fica descoberta ou desprotegida da bênção de Deus! Obviamente que isso supõe também uma resposta da nossa parte para que a Bênção de Deus realize tudo aquilo que ela significa.

Na carta aos Gálatas Paulo volta a recordar a estreita relação que tem a filiação de Jesus com a nossa condição de privilegiados filhos, livres e amados e por isso podemos como Jesus chamar a Deus de Abbá, que significa “paizinho”. Cristo veio para libertar a humanidade de todas as formas de escravidão e de medo: “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho para que todos recebêssemos a filiação adotiva. E porque sois filhos, Assim já não és mais escravo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro: tudo isso, por graça de Deus”.

Esse Jesus que nos devolveu a condição de nação livre se deu a conhecer primeiro aos sofridos e excluídos pastores de Israel, os quais apenas ouviram o anúncio do Anjo foram apressadamente ao encontro daquele cujo anuncio consistia em garantir uma condição totalmente nova.

Os pastores não tiveram dificuldade de reconhecer no menino de Belém o esperado messias e imediatamente voltaram louvando e glorificando a Deus por lhes ter dado a oportunidade de experimentar o encontro com Deus libertador.

Outra atitude extraordinária narrada no Evangelho é o comportamento da Mãe do menino: “Quanto a Maria, guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração”. Sem compreender o significado de tudo o que estava acontecendo Maria permaneceu observando e meditando os sinais que Deus realizada na história.

O comportamento de Maria e dos pastores pode ser chamado de atitude missionária que também cada um de nós é convidado a cultivar todos os dias do novo ano, de maneira discreta, mas atuante e transformadora somos convidados a agir como os pastores: “Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido”. Façamos isso cantando com o Salmista:

Que Deus nos dê a sua graça e sua bênção.

Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor, *
que todas as nações vos glorifiquem!

Que o Senhor e nosso Deus nos abençoe, *
e o respeitem os confins de toda a terra! 

 

 

 

HOMILIA PARA O DIA 25 DE DEZEMBRO DE 2022 - MISSA DO DIA DE NATAL - ANO A

 

O SENHOR FEZ CONHECER A SALVAÇÃO

O pênalti na trave chutado pelo Marquinhos foi só o derradeiro momento de 120 minutos de muita tensão e expectativa e que enterrou mais uma vez o sonho do hexa. O Brasil inteiro estava parado naquela trágica sexta-feira esperando a vitória que nos aproximaria do sonho que vem se repetindo há vinte anos. Ora, guardadas as proporções, o povo de Israel, alimentou durante centenas de anos a expectativa da vinda do Messias, daquele que iria restaurar a grandeza do reinado de Davi. É nessa perspectiva que podemos ler e interpretar a Palavra de Deus proclamada na liturgia que estamos celebrando.

Isaias anuncia a presença de uma figura extraordinária: “Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação, e diz a Sião: "Reina teu Deus!" A mensagem do profeta é um convite para substituir a frustração e a tristeza pela alegria, o desencanto pela esperança.

Em poucas palavras o convite do Profeta é um canto de alegria e de festa, apesar de todas as dificuldades as promessas de Deus vão se tornar realidade em favor do seu povo.

A segunda leitura é uma carta dirigida para uma comunidade em situação muito difícil e que por causa das perseguições, sofrimentos e derrotas facilmente se deixava vencer pelo medo e pela desolação. O autor apresenta a extraordinária dimensão do plano salvador que Deus tem para a humanidade, com isso ele quer estimular os cristãos a não perderem o fervor inicial: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho”.

Jesus é a mais extraordinária manifestação de Deus em favor do seu povo: “Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele sustenta o universo com o poder de sua palavra. Tendo feito a purificação dos pecados, ele sentou-se à direita da majestade divina, nas alturas”.

No Evangelho João reafirma a existência do Filho antes de tudo e de todas as coisas. Usa a expressão “verbo de Deus” para deixar claro que o Filho sempre existiu e que agora assume a condição humana para eliminar do convívio humano tudo o que dificulta e impede que as relações entre as pessoas sejam plenas de vida e de luz. A encarnação da Palavra cumprirá sua missão quando todas as criaturas alcançarem a condição de filhos e filhas amados de Deus, ou como diz São Paulo em outra ocasião: “Até que Cristo se forme em todos”. De forma poética o evangelista descreve a ação de Deus no mundo: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. No princípio estava ela com Deus. Tudo foi feito por ela e sem ela nada se fez de tudo que foi feito. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la”.

Acolher a Palavra que se fez gente é a condição para participar na vida de Deus, ou seja estabelece uma nova relação entre o mundo terreno e o mundo divino. Em Jesus Cristo a humanidade já não vive mais a experiência de uma derrota depois de uma difícil partida e um pênalti perdido.

A palavra que se fez gente permite que todos nos tornemos filhos no Filho e oferece para todos a possibilidade de ser uma criatura nova, acabada e perfeita.

Essa certeza nos faz cantar com o salmista:

Os confins do universo contemplaram
a salvação do nosso Deus.

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 25 DE DEZEMBRO DE 2022 - MISSA DA NOITE - ANO A

                                   UM FILHO NOS FOI DADO 


Não há diferença de idade. Todos em todas as circunstâncias da vida gostamos de nos sentir amparados, cuidados, protegidos. Quando alguém se aproxima, sobretudo, nas nossas fragilidades nos sentimos seguros e mais facilmente caminhamos para a realização de projetos e sonhos. Não é à toa que o Papa Francisco está convocando a Igreja inteira para vivenciar o Sínodo sobre a importância da sinodalidade, ou seja, sobre a necessidade de aprender caminhar juntos. Amparar, cuidar, proteger, ser solidário, corresponsável e assim por diante.

A Palavra de Deus na noite do Natal nos coloca nesta situação. Um filho nos foi dado, Ele veio para caminhar com a humanidade ferida e perdida. Na pessoa de Jesus Deus não nos deixa caminhar sozinhos pelos tortuosos e difíceis caminhos contemporâneos.

Na mesma condição do povo de Israel o profeta vivia desiludido com seus governantes e com a política de outrora. Nesse contexto Isaias sonha com um tempo novo: “O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu. Fizeste crescer a alegria, e aumentaste a felicidade”.

As razões para essa euforia estão expressas nas palavras do profeta: “Porque nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho; ele traz aos ombros a marca da realeza; o nome que lhe foi dado é: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz. Grande será o seu reino e a paz não há de ter fim”.

A carta de Tito que lemos hoje foi escrita num tempo de dificuldade em que os cristãos tinham perdido o entusiasmo inicial surgido com o anúncio da boa nova de Jesus Cristo. Nesse contexto o autor apresenta uma lista de conselhos para ajuda-los vivenciar a fé naquela situação conturbada e desafiadora: “A graça de Deus se manifestou trazendo a salvação para todos os homens. Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade aguardando a feliz esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo”. Para que isso seja experimentado o autor apresenta três razões: O amor de Deus foi oferecido gratuitamente; a esperança ajuda perceber que a vida presente é apenas a antecipação da vida definitiva; a obra redentora tem sem culminância na pessoa de Jesus.

Lucas é o evangelista que mais se preocupa em situar os acontecimentos nos lugares e tempos. O objetivo do autor é deixar claro que a ação de Deus se realiza numa época e num espaço perfeitamente integrado na vida e na história das pessoas.

No texto de hoje o autor quer deixar claro que o nascimento de Jesus é a realização da promessa feita por Isaias: O anjo, porém, disse aos pastores: Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura".

Apresentado primeiramente aos pastores e na fragilidade de uma criança fica claro que a proposta de Deus não se impõe pela força, mas pela ternura. Deus não se impõe pelas armas, pelo poder, pelo dinheiro, pela ajuda de uma grande agência publicitária. Ontem como hoje a lógica de Deus continua sendo a mesma. No menino de Belém somos convidados a contemplar o amor de Deus que se preocupa com a felicidade e a vida de todos.

Para celebrar dignamente o Natal é importante que nos perguntemos em que medida nossa vida é uma resposta coerente e autêntica que corresponda aos valores do Reino que Jesus veio inaugurar. Cristo é a referência da nossa vida? O seu jeito de viver e sua entrega para a salvação da humanidade é assumido por nós em nossas relações cotidianas?

Não tenhamos medo de cantar com o salmista

Hoje nasceu para nós

o Salvador, que é Cristo o Senhor.

O céu se rejubile e exulte a terra, *
aplauda o mar com o que vive em suas águas;

os campos com seus frutos rejubilem *
e exultem as florestas e as matas

HOMILIA PARA O DIA 18 DE DEZEMBRO DE 2022 - 4º DOMINGO DO ADVENTO - ANO A

 

ELE SE CHAMARÁ EMANUEL

Fazer a releitura dos acontecimentos cotidianos a partir da sabedoria dos antepassados é uma forma de confirmar a crença em novas realidades. Essa é a perspectiva da liturgia do advento que repetimos a cada ano. No advento atualizamos as promessas dos profetas e a realização do nascimento do Salvador.

O cerne da liturgia da Palavra deste domingo tem por objetivo acalmar os corações deixando claro que diante de todas as adversidades Deus está sempre conosco! O anuncio do profeta foi reinterpretado como sendo a disposição de Deus em caminhar lado a lado com seu povo, tal anuncio é também um convite para não perder a esperança: “O próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel”. Todos somos convidados a perceber a permanente presença de Deus que percorre nosso cotidiano.

Na segunda leitura, São Paulo se apresenta aos Romanos com três características: “Servo de Jesus Cristo; Apóstolo por chamamento divino e Escolhido para o Evangelho”. As três características de Paulo, devem fazer parte também das escolhas cotidianas dos cristãos contemporâneos e implicam na determinação de testemunhar a Boa Nova que receberam como seguidores de Jesus. Conhecer e testemunhar o Evangelho não é uma forma de superioridade em relação aos demais, mas sim uma missão que nos foi confiada e que precisa ser cumprida com espírito de serviço e com o testemunho da própria vida.

A narrativa do nascimento de Jesus feita por Mateus no Evangelho desse domingo, ganha maior significado à medida que for lida sob a ótica da concretização do que já havia previsto o Profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco". Obvio que Deus vindo caminhar conosco de forma gratuita nos oferece também uma série de benefícios ao mesmo tempo que pede uma contrapartida. Os anjos de Deus continuam a nos esclarecer como o mensageiro fez a José: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados".

Também nós somos desafiados a não ter medo e acolher Jesus e sua proposta de braços e corações abertos essa atitude transformará a nossa vida, começando pelo perdão dos pecados.

A maneira como é anunciado o nascimento de Jesus segue o estilo de outras grandes intervenções de Deus ao longo da história e o objetivo é bastante claro: Mostrar que Jesus vem de Deus, que sua origem é divina, que Ele é o Messias prometido que se faz gente na história humana, isso é, tem uma descendência terrena.

José aceita e reconhece sua paternidade terrena daquele que é o Deus conosco. Descendente de Davi ele personifica a esperança de um novo tempo de paz e felicidade para todo o povo.

O natal significa para nós a mesma responsabilidade que Paulo experimentou: Em Jesus todos temos a missão de fazer acontecer todas as promessas feitas pelos profetas ao longo dos tempos.

Deixemo-nos conduzir pelo que rezamos no salmo:

O rei da glória é o Senhor onipotente;
abri as portas para que ele possa entrar!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 11 DE DEZEMBRO DE 2022 - 3º DO ADVENTO - ANO A

 O SENHOR É FIEL PARA SEMPRE

No vocabulário regional do sul do Brasil, se usa a expressão: “Radio Peão” para designar notícias, comentários, conversas que passam de boca em boca e muitas vezes tem um fundo de verdade. Outras vezes se faz referência ao estilo de pessoas que costumam passar informações mirabolantes e deles se diz: “Fulano aumenta, mas não inventa”. Pois a Palavra de Deus deste domingo tem por objetivo clarear e confirmar os fatos que circulavam na região a respeito do Messias e sobre os quais as pessoas não tinham convicção.

A expectativa da intervenção de Deus na história gerou nas comunidades um clima que o profeta trata de confirmar dizendo: Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio. Germine e exulte de alegria e louvores”. Dito de outra forma: O que se houve por aí não é conversa fiada, pelo contrário, a chegada de Deus dará uma vida nova ao povo e o fará caminhar para o tempo e a terra da liberdade.

A primeira leitura é uma proclamação de esperança e para aqueles que acreditam a presença de Deus será uma oportunidade de grandes realizações. Deus nunca abandona a sua criatura, basta que as pessoas caminhem na esperança e tenham coragem de enfrentar as adversidades da história: “Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. Dizei às pessoas deprimidas: "Criai ânimo, não tenhais medo”!

Na mesma direção estão as palavras de Tiago na segunda leitura. O texto é um convite a não se deixar dominar pelo medo, pela angústia e o desespero. Antes trata-se de aguardar com confiança e esperança a vinda do Senhor: “Ficai firmes até à vinda do Senhor. Vede o agricultor: ele espera o precioso fruto da terra e fica firme até cair a chuva do outono ou da primavera. Também vós, ficai firmes e fortalecei vossos corações, tomai por modelo de sofrimento e firmeza os profetas, que falaram em nome do Senhor”.

Por causa da sua coragem e determinação João Batista foi perseguido e preso. Lá ouve a “rádio peão” e as conversas das pessoas que “aumentam, mas não inventam” relatando sobre os extraordinários feitos de uma pessoa que eles julgam ser o Messias. João se serve dos seus discípulos para esclarecer as dúvidas que pairavam no ar: “João estava na prisão. Quando ouviu falar das obras de Cristo, enviou-lhe alguns discípulos, para lhe perguntarem: És tu, aquele que há de vir? ”

Jesus, como era do seu costume, não faz discurso para responder as indagações. Contra fatos não existem argumentos: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!"

Em resumo a presença de Jesus no meio do povo confirma o que havia sido anunciado pelos profetas e por João Batista e esta realidade identifica a ação de Jesus coma realização do Reino de Deus.

Também os cristãos contemporâneos são convidados a fazer reconhecer a presença de Jesus no meio do mundo. Cada pessoa e a Igreja inteira é convidada a caminhar junto não apenas por meio do culto, das orações e das doutrinas. Todos indistintamente somos convidados a cuidar das feridas que o mundo provoca de tal maneira que todos possam perceber em nossa prática cotidiana a presença de Deus que age conforme rezamos no salmo:

O Senhor é fiel para sempre, *
faz justiça aos que são oprimidos;
ele dá alimento aos famintos, *
é o Senhor quem liberta os cativos.

 

 

 

 

 

 



quarta-feira, 23 de novembro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 04 DE DEZEMBRO DE 2022 - 2º DOMINGO DO ADVENTO - ANO A

 

NOS SEUS DIAS A JUSTIÇA FLORIRÁ.

A proximidade do natal e final de ano nos coloca na dinâmica do desapego e da reorganização da vida. É o período da maratona das limpezas, das formaturas, das festas de confraternização, do décimo terceiro e do pagamento das contas atrasadas e assim por diante.

A Palavra de Deus nos quatro domingos que antecedem o Natal faz um convite a uma revolução muito maior na nossa vida. Trata-se não apenas de reorganizar a vida nos seus aspectos exteriores, mas sobretudo na mentalidade e nos valores fundamentais em vista do Reino de Deus.

O Reino que João Batista anuncia está muito próximo e será reconhecido na forma do novo batismo, que não será apenas ritual, mas transformador da realidade: “Eu vos batizo com água para a conversão, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”.

Esse novo batismo fará com que todos se tornem filhos e filhas de Deus e, portanto, capazes para viver a dinâmica do Reino. Tal como João Batista os cristãos contemporâneos são chamados a anunciar e a questionar o jeito de viver provocando uma conversão e uma mudança de valores, deixando o que é supérfluo e dando atenção ao essencial. Isso tudo não apenas com as palavras, mas com um estilo de vida: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo". João foi anunciado pelo profeta Isaías, que disse: "Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas!" João usava uma roupa feita de pelos de camelo e um cinturão de couro em torno dos rins; comia gafanhotos e mel do campo”.

Jesus Cristo a quem esperamos no Natal veio tornar realidade as profecias antigas: “Naqueles dias, nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e discernimento, espírito de conselho e fortaleza, espírito de ciência e temor de Deus; Ele não julgará pelas aparências que vê nem decidirá somente por ouvir dizer; mas trará justiça para os humildes e uma ordem justa para os homens pacíficos; Cingirá a cintura com a correia da justiça. O lobo e o cordeiro viverão juntos e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o bezerro e o leão comerão juntos e até mesmo uma criança poderá tangê-los”.

Em que medida temos colaborado para que a harmonia e a paz trazidas por Jesus aconteçam entre nós, afinal de contas o natal nos propõe um quadro de vida completamente novo seja em relação a Deus, seja em relação a fraternidade entre todos. Que o natal seja a realização do que rezamos no Salmo:

Nos seus dias a justiça florirá.

Seja bendito o seu nome para sempre!
E que dure como o sol sua memória!

Todos os povos serão nele abençoados,

todas as gentes cantarão o seu louvor!

 

 

HOMILIA PARA O DIA 27 DE NOVEMBOR DE 2022 - 1º DOMINGO DO ADVENTO - ANO A

 

VAMOS AO ENCONTRO DO SENHOR QUE VEM!

Facilmente podemos identificar dois tipos de pessoas. Algumas que identificamos como “fogo de palha”, sempre prontas para respostas imediatas e entusiasmadas, mas que na mesma proporção desistem de tudo e perdem o encanto pelas causas que abraçam. Outro tipo é aquele que não se preocupa com a realidade ao seu redor e vai resolvendo as situações de cada dia sem muita preocupação com o amanhã nem tampouco com soluções extraordinárias. Em resumo duas situações que não estão muito adequadas com o tempo do advento que celebramos na liturgia da Igreja a partir desse domingo do advento.

O Evangelho apresenta três situações muito interessantes, como se fossem três molduras para as ações das pessoas. Primeiro recorda o tempo de Noé e o dilúvio e a reação das pessoas; o segundo duas situações do cotidiano das pessoas que nem sempre são tidas com o cuidado que merecem; e a terceira do homem que não se preocupa nem mesmo com a segurança da própria casa. Nos três casos está presente o segundo tipo de pessoas que espera as coisas com a naturalidade de quem acha que nada e nunca terá um fim aquilo que está acontecendo.

Para as três situações o Evangelho faz o mesmo decisivo apelo: Vigilância e Alerta: Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá".

Isso vale também para os cristãos contemporâneos na preparação do Natal. Trata-se de descobrir quais e como podem ser vividas todas as situações do cotidiano que nos colocam na proximidade com Deus, com as pessoas e com o ambiente da casa comum a que fomos chamados para cuidar!

Deixemos nos conduzir pelo conselho do profeta na primeira leitura: “Vamos subir ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos e nos ensine a cumprir seus preceitos"; porque de Sião provém a lei e de Jerusalém, a palavra do Senhor. Ele há de julgar as nações e arguir numerosos povos; estes transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices: não pegarão em armas uns contra os outros e não mais travarão combate. Vinde, todos da casa de Jacó, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor”.

 

 

 

 

 

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 13 DE NOVEMBRO DE 2022 - 33º COMUM - DIA MUNDIAL DOS POBRES - ANO C

 

O SENHOR VIRÁ JULGAR A TERRA INTEIRA

Na segunda leitura desse domingo continuamos ouvindo trechos da carta de São Paulo aos Tessalonicenses. Nos versículos proclamados hoje, Paulo faz um apelo para que não nos instalemos no comodismo, na preguiça e indiferença em relação aos grandes problemas do mundo. Paulo sugere que demos a nossa contribuição na construção do Reino.

Nesse contexto o Papa Francisco nos propõe para esse domingo o Dia Mundial dos Pobres, e começa sua mensagem com uma constatação conhecida por todos: “Há alguns meses o mundo saiu da tempestade da pandemia, mostrando sinais de recuperação econômica que parecia trazer alívio para os milhões de empobrecidos que tinham também perdido o emprego. Abria-se no céu um sinal de esperança, mas eis que uma nova catástrofe surge no horizonte impondo ao mundo um cenário diferente. A guerra na Ucrânia veio somar com as guerras regionais que produziram morte e destruição. No caso da Ucrânia o quadro é muito mais complexo por ser o resultado da intervenção de uma superpotência que pretende impor sua vontade contra o princípio da autodeterminação dos povos. Vemos se repetir cenas trágicas e ameaças recíprocas que abafam a voz daqueles que imploram a paz. Nesse contexto, afirma Francisco, está o Dia Mundial dos Pobres e nos convida a manter fixo o olhar em Jesus que se fez pobre por todos e que na sua pobreza não se fechou a ninguém, antes foi ao encontro de todos, sobretudo dos marginalizados e desprovidos do necessário”. Isso significa que para os cristãos contemporâneos manter os olhos fixos em Jesus implica compreender que a nossa missão é ser sinal de um mundo novo e trabalhar para que esse mundo se torne realidade.

O Evangelho aponta para todos um caminho a ser percorrido até a segunda vinda de Jesus. Nada de ficar de braços cruzados esperando que as coisas aconteçam como se estivessem caindo do céu. Todos somos chamados a nos comprometer na transformação do mundo fazendo desaparecer a velha realidade. O que precisa ficar claro no texto do Evangelho não é a obsessão sobre o fim do mundo, mas o percurso que podemos percorrer até chegar a plenitude da história. Não tenhamos medo Deus caminha ao nosso lado não sejamos medrosos e indiferentes.

Ontem como hoje a Palavra de Deus continua a ser o anúncio que Deus nunca abandonou o seu povo. Esta é também a mensagem do profeta que ouvimos na primeira leitura: “Eis que virá o dia, abrasador como fornalha, em que todos os soberbos e ímpios serão como palha; e esse dia vindouro haverá de queimá-los, diz o Senhor dos exércitos, tal que não lhes deixará raiz nem ramo. Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas”.

Sem excluir ninguém, sem deixar marginalizados os muitos empobrecidos da sociedade contemporânea não tenhamos medo, caminhemos juntos. Deus nos conduz para um novo céu e uma nova terra. Olhar o horizonte com confiança significa deixar brotar a esperança que dá coragem para enfrentar as adversidades da vida.

Rezemos confiantes com o salmista:

Exultem na presença do Senhor, pois ele vem, vem julgar a terra inteira. Julgará o universo com justiça e as nações com equidade.

 

 

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HOMILIA PARA O DIA 06 DE NOVEMBRO DE 2022 - 32º DOMINGO COMUM - ANO C

 

PROTEGEI-NOS Ó SENHOR À SOMBRA DAS VOSSAS ASAS

Se tem um assunto que está na pauta das preocupações cotidianas é o que diz respeito ao futuro da vida e da existência humana e sem delongas o tema entra nas rodas de conversa com bastante frequência. Como se isso não bastasse tem-se disponível uma farta literatura sobre o tema. Uma simples visita ao cemitério vai nos colocar em sintonia com inúmeras expressões gravadas na lápide das sepulturas as quais indicam a crença da pessoa que repousa naquele espaço sagrado. Pois a Palavra Deus sugerida para esse domingo traz, mais uma vez a questão do horizonte da nossa vida.

O texto dos Macabeus, escrito num tempo de grande perseguição e de ameaça às tradições de Israel, não tem a compreensão da ressurreição que nos é dada a partir de Jesus Cristo e da sua ressurreição. Mas os sete irmãos e a mãe deixam muito claro que suas vidas estão nas mãos de Deus e que nenhum tormento, nem tampouco qualquer vontade humana pode colocar fim na vida daqueles que acreditam e no Deus dos seus antepassados depositam sua confiança: “Vale a pena morrermos nas mãos dos homens, quando temos a esperança em Deus de que Ele nos ressuscitará; mas tu, ó rei, não ressuscitarás para a vida”.

O diálogo que se desenvolve entre Jesus e um grupo de judeus que não acreditavam na ressurreição confirma a esperança que outros povos e culturas já cultivavam mesmo sem ter clareza de como essa realidade poderia ser compreendida.

Os próprios saduceus, que não acreditavam na ressurreição, manifestam na pergunta que fazem a Jesus sua preocupação com a continuação da nossa breve existência terrena. Preocupados com a continuação dessa vida limitada estão preocupados com a manutenção das regras, normas e costumes das relações humanas na terra. Apresentando o suposto caso de uma mulher que se casou com sete irmãos cumprindo rigorosamente a lei cujo objetivo era garantir a descendência ao marido, eles perguntam: “De qual destes ela será esposa na ressurreição, uma vez que os sete a tiveram por mulher? ”.

Jesus esclarece e confirma a verdade da continuação da vida depois da morte, mas deixa absolutamente claro que não se trata de uma mera continuação desta vida com todas as fragilidades bem como a finitude da existência terrena: “Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento. Mas aqueles que forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos, nem se casam nem se dão em casamento. Na verdade, já nem podem morrer, pois são como os Anjos, e, porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus”.

Para os saduceus de outrora, como para cada um de nós a realidade sobre a ressurreição e a vitória da vida em Deus não tem comparação e não pode ser sequer imaginada à luz das categorias da existência terrena. Enquanto aqui estamos sujeitos a todas as fragilidades do mundo, na outra vida no horizonte de Deus nossa existência será absoluta.

Nessa mesma perspectiva São Paulo nos convida a estreitar o diálogo e a comunhão com Deus na firme esperança da segunda vinda de Cristo e da vida nova que Deus nos preparou: “o Senhor é fiel: Ele vos dará firmeza e vos guardará do Maligno. Quanto a vós, confiamos inteiramente no Senhor que cumpris e cumprireis o que vos mandamos. O Senhor dirija os vossos corações, para que amem a Deus e aguardem a Cristo com perseverança”.

Em outras palavras a certeza da ressurreição é uma realidade que ultrapassa em tudo a frágil existência terrena, ter nossos pés no chão e nosso olhar no horizonte de Deus é que nos encoraja a enfrentar todas as forças da morte que permeiam o cotidiano e diminuem a qualidade da vida terrena.

O novo céu e a nova terra começam com atitudes aqui e agora conforme cantamos na liturgia: “Os olhos jamais contemplaram, ninguém pode explicar o que Deus tem preparado para aquele que em vida o amar”.  É assim que rezamos no salmo desse domingo: “ Senhor, ficarei saciado, quando surgir a vossa glória. Firmai os meus passos nas vossas veredas, para que não vacilem os meus pés. Protegei-me à sombra das vossas asas, Senhor, mereça eu contemplar a vossa face e ao despertar saciar-me com a vossa imagem”.

HOMILIA PARA O DIA 30 DE OUTUBRO DE 2022 - 31º COMUM - ANO C

 

O SENHOR É AMIGO DA VIDA

Não é raro que as pessoas tenham atitudes de soberba e prepotência em relação a si mesmas e até com às demais pessoas com quem se relaciona. Muitas vezes nós mesmos nos damos conta que nossas atitudes não correspondem ao bem que gostaríamos de realizar. E quando isso acontece, independentemente de qualquer doutrina ou religião é a própria consciência quem acusa e provoca transformações e novas atitudes que facilitem uma melhor compreensão da vida. São situações como estas que estão contempladas na Palavra de Deus sugerida para a leitura desse domingo.

O Livro da Sabedoria convida os judeus de outrora a retomarem os ensinamentos e doutrinas que aprenderam dos seus antepassados e sobretudo a perceber que Deus é a única e verdadeira fonte de onde vem toda a sabedoria e felicidade: “Senhor, o mundo inteiro, diante de ti, é como um grão de areia na balança, uma gota de orvalho da manhã que cai sobre a terra. Entretanto, de todos tens compaixão, porque tudo podes. Fechas os olhos aos pecados dos homens, para que se arrependam

Não é difícil para entender três coisas que nos levam reconhecer o jeito de ser de Deus. Ele ama indistintamente, se preocupa, corrige, perdoa e convida para voltar ao bom caminho. A lógica de Deus é fundamentada no perdão e tem origem na sua grandeza.

No Evangelho, mais uma vez Jesus se confronta com os justos, ou que se acham melhores que os outros e com o pecado e o pecador. Zaqueu, que acaba sendo o personagem central do encontro desse domingo tem todos os adjetivos e qualidades de uma pessoa que não merecia a confiança dos judeus perfeitos de outrora: “Jesus tinha entrado em Jericó e estava atravessando a cidade. Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos e muito rico”. Além disso tinha baixa estatura e facilmente se aproveitava da sua condição para explorar os outros se beneficiando da sua profissão para acumular ainda mais riqueza. Apesar disso tudo Zaqueu não se conformava com a sua condição e ouvindo falar de Jesus sentiu-se provocado pelas informações que recebia: “Zaqueu procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era muito baixo. Então ele correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia passar por ali”.

No contexto da caminhada, os seguidores esperavam que Jesus aproveitasse da ocasião para desqualificar ainda mais esse corrupto e aproveitador. Mas Jesus surpreende a todos, e agindo com a lógica de Deus declara: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”Aqueles que se julgavam puros começaram a questionar, mais uma vez a atitude de Jesus: “Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: “Ele foi hospedar-se na casa de um pecador!”

O desfecho desse encontro não poderia terminar de outra maneira: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. A atitude de Zaqueu não só desmascara a falsa pureza de alguns como supera em muito tudo o que previa a lei judaica.

Da parte de Jesus se confirma a prática de Deus: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.

Dá para entender, ou precisa desenhar, como costumamos dizer! A lógica de Deus é da acolhida, do perdão, da misericórdia e da conversão. Esta é a boa nova de Deus que também nós somos convidados a vivenciar e ser testemunha que Deus ama e acolhe a todos, isso não significa mascarar o pecado nem tampouco pactuar com o que aquilo que está errado.

Isso também Paulo ensina na sua carta aos tessalonicenses. Paulo desautoriza os fanáticos e fundamentalistas e deixa claro que Deus é protagonista quando se refere a salvação e a qualidade de vida das pessoas e que todos podemos dar o melhor de nós para que “O nome de nosso Senhor Jesus Cristo será glorificado em vós, e vós nele, em virtude da graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo”.

Afinal é isso que rezamos no salmo: “ Misericórdia e piedade é o Senhor,/ ele é amor, é paciência, é compaixão./ O Senhor é muito bom para com todos,/ sua ternura abraça toda criatura”.

 

 

 


sexta-feira, 21 de outubro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 23 DE OUTUBRO DE 2022 - 30º COMUM - ANO C

 

O SENHOR LIBERTA A VIDA DOS SEUS SERVOS!

Não são poucas as ocasiões na vida nas quais nos sentimos um verme, são momentos em que tudo parece dar errado, que ninguém percebe o nosso sofrimento e desconforto. Muitas vezes duvidamos até de Deus, parece que ele está surdo ou dormindo. São aquelas ocasiões que denominamos: “Um dia daqueles”.

Essa parece ser a situação dos três personagens apresentados nas leituras da Palavra de Deus neste domingo. O livro do Eclesiástico foi escrito cerca de 200 anos antes do nascimento de Jesus e o autor estava preocupado com o descaso que seus conterrâneos apresentavam em relação às raízes e costumes dos seus antepassados. Nesse contexto alguns se consideravam e de fato aparentemente viviam numa situação muito confortável deixando perder tudo o que era ensinamento e verdade aprendida, enquanto outros eram sofridos, oprimidos e explorados. Para todos, mas especialmente para os que estavam colocados à margem da sabedoria do mundo o autor esclarece: “Quem serve a Deus como ele o quer, será bem acolhido e suas súplicas subirão até as nuvens. A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso; e não descansará até que o Altíssimo intervenha, faça justiça aos justos e execute o julgamento”. Em resumo, o autor deixa claro Deus não está surdo nem dormindo, pelo contrário está atento aos gritos daqueles que são vítimas da exclusão e da incompreensão dos que se consideram melhores e mais perfeitos.

No Evangelho Jesus faz mais um trocadilho apresentando duas categorias de pessoas. Nesse domingo também ele não está defendendo o pecado ou promovendo as atitudes que não estão de acordo com a proposta de Deus Pai para todos. Como na parábola do administrador infiel que ouvimos há poucos dias, Jesus não elogia a desonestidade daquele. Hoje de novo Jesus não elogia o publicano por causa das suas ações, nem tampouco aprecia o fariseu porque não tem pecado.

Pelo contrário o que conta é a atitude de reconhecer que a vida é sempre um processo de crescimento e oportunidade para ser melhor. Quem se julga como o fariseu do Evangelho acha que não precisa de nada nem de ninguém e que até Deus lhe deve alguns favores por causa da retidão da sua vida. Ao contrário do publicano que compreende sua fragilidade e sabe que por suas próprias forças não será capaz de sair da situação em que se encontra.

Enquanto o primeiro rezava assim: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos”. O pecador pelo contrário: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador”. E a conclusão não poderia ser outra: “Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.

Todos somos chamados a ser missionários, testemunhas de Deus e cooperadores na missão agindo com todas as forças para incluir e acolher a todos colocando-nos também na condição de frágeis pecadores que precisam da ajuda dos irmãos e da misericórdia de Deus. Homens e mulheres ao longo da história já mostraram que isso é possível. Dentre eles a Igreja recorda a Beata Paulina Jaricot e os padroeiros das missões, São Francisco Xavier e Santa Teresinha, que servem de inspiração para sermos testemunhas missionárias até os confins do mundo.

Na carta a Timóteo temos o exemplo de Paulo que se sente “Num dia daqueles”: “Na minha primeira defesa, ninguém me assistiu; todos me abandonaram. Oxalá que não lhes seja levado em conta. Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças”. Ele tem certeza que apesar de todas as frustrações que a vida lhe oferece Deus não o abandonou, ele tem consciência da generosidade que marcou toda a sua vida e convida também a nós para descobrir e viver do jeito de Jesus e não ter medo: “Quanto a mim, eu já estou para ser oferecido em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa”.

Cristãos nesse mundo conturbado e violento não tenhamos medo de gastar a nossa vida apresentando a Boa Notícia de Jesus como testemunhas de Jesus Cristo.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 16 DE OUTUBRO DE 2022 - 29º COMUM - ANO C

 

DEUS TE GUARDA NA PARTIDA E NA CHEGADA!

No início da primavera é possível perceber a exuberância da vegetação que começa a fazer brotos e folhas com um vigor extraordinário. Por outro lado, as intensas chuvas acompanhadas de rajadas de vento que assolaram várias regiões do sul do Brasil à medida que atingiu os brotos recém-formados causou estragos quebrando brotos e galhos sobre tudo quando estes estão isolados e desprotegidos das próprias espécies. É sobre proteção, cuidado e entre ajuda que trata a Palavra de Deus nesse domingo. Não poucas vezes nos encontramos em situações como a vegetação que começa a soltar brotos e folhas, ao mesmo tempo nos sentimos sozinhos e desprotegidos contra todas as intempéries e dificuldade que a vida nos apresenta.

O texto do livro do Êxodo trata das dificuldades enfrentadas pelo povo de Israel durante sua travessia pelo deserto com as respectivas batalhas contra os povos nômades que habitavam aquelas regiões. O povo guiado por Moisés precisou de coragem, esperteza e unidade para vencer cada uma das dificuldades próprias daquela travessia. E no caso da narrativa de hoje fica claro que para vencer as duras batalhas do cotidiano duas coisas são fundamentais: A confiança em Deus e a ajuda dos irmãos: “E, enquanto Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia; quando abaixava a mão, vencia Amalec. Ora, as mãos de Moisés tornaram-se pesadas. Pegando então uma pedra, colocaram-na debaixo dele para que se sentasse, e Aarão e Ur, um de cada lado, sustentavam as mãos de Moisés. Assim, suas mãos não se fatigaram até ao pôr do sol”

O Evangelho nos apresenta uma situação extraordinária na qual uma frágil viúva enfrenta um poderoso juiz. Neste caso o juiz pode ser comparado à força dos ventos e das chuvas que assolaram a nossa região nos últimos dias, e o resultado da persistência da viúva se resume no provérbio: “A justiça de Deus tarda, mas não falha”.

A história do Evangelho nos ensina que persistência, coragem, fé e unidade são combustível quando se trata de enfrentar as dificuldades da vida. A viúva do Evangelho pode ser comparada com a fragilidade das folhas e brotos recém-nascidos na primavera, mas que na confiança e perseverança são capazes de vencer a fúria de tudo o que se arma para destruir, matar e diminuir a dignidade das pessoas.

É importante que nos perguntemos sobre a nossa prática de oração. Frequentemente rezamos para alimentar um Deus faminto e punitivo e nos esquecemos de rezar uns com os outros confiantes na misericordiosa ação de Deus em nosso favor. Mesmo nas situações mais difíceis da vida é importante não desanimar, mas buscar na solidariedade e na comunhão a força para sustentar nossa esperança. Não tenhamos medo, moderemos nossa impaciência, o que parece ser silêncio de Deus é o tempo necessário para que nos juntemos uns com os outros como ramos de uma parreira à medida em que se juntam tornam-se resistentes e inquebráveis.

Na mesma direção vem o convite de São Paulo na carta a Timóteo: “Caríssimo: Permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como verdade; tu sabes de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras: elas têm o poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus.

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para argumentar, para corrigir e para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e qualificado para toda boa obra”.

Não tenhamos medo, se temos a Palavra de Deus como direção para a nossa vida os vendavais e as provações do cotidiano não nos poderão vencer, antes nos fortalecerão como cantamos no salmo:

Do Senhor é que me vem o meu socorro,/ do Senhor, que fez o céu e fez a terra. O Senhor é o teu guarda, o teu vigia,/ é uma sombra protetora à tua direita./ Não vai ferir-te o sol durante o dia,/ nem a lua através de toda a noite.

— O Senhor te guardará de todo o mal,/ ele mesmo vai cuidar da tua vida!/ Deus te guarda na partida e na chegada./ Ele te guarda desde agora e para sempre”.

 

sábado, 8 de outubro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 09 DE OUTUBRO DE 2023 - 28º COMUM - ANO C

 

O SENHOR É AMOR E FIDELIDADE PARA SEMPRE

As expressões: “Fulano não é flor que se cheira” e “Beltrano não é trigo limpo” aquele outro “está fora da casinha”, são frequentemente usadas para fazer referência a uma pessoa que não inspira confiança com quem a gente sempre fica com um pé atrás. Pois a liturgia da Palavra desse domingo trata exatamente de duas pessoas colocadas nessa situação nos seus respectivos tempos. A primeira leitura narra um episódio ocorrido cerca de 800 anos antes do nascimento de Cristo e no Evangelho é o próprio Jesus quem se relaciona com leprosos e excluidos sendo que um deles é também samaritano. Nos dois casos as pessoas em referência são do tipo “Flor que não se cheira”.

Na contrapartida dessa situação os textos mostram como o projeto de salvação de Deus não é exclusivista, pelo contrário sua misericórdia se estende a todas as pessoas sem exceção, a todos é dada a condição para experimentar a salvação e a misericórdia que consiste simplesmente em reconhecer que só em Deus encontramos a salvação e a vida verdadeira.

O fato relatado na primeira leitura acontece num tempo em que o povo de Israel tinha se deixado contaminar por práticas e cultos a diversos deuses. Nesse contexto uma grande autoridade ouve falar do profeta Eliseu e cumpre a ordem do profeta: “Naqueles dias, Naamã, o sírio, desceu e mergulhou sete vezes no Jordão, conforme o homem de Deus tinha mandado, e sua carne tornou-se semelhante à de uma criancinha, e ele ficou purificado”. A mensagem central desse texto consiste em reconhecer que só em Deus temos a vida plena e muito mais num tempo em que facilmente colocamos nossas esperanças em ídolos humanos e materiais somos convidados a rever nossas certezas e a centralidade de nossa fé.

O Evangelho começa com a seguinte constatação: “Aconteceu que, caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam à distância, e gritaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!” A lepra que estava consumindo a vida e a dignidade dos sujeitos do Evangelho se assemelha às desgraças que se espalham por toda a humanidade sendo causa de exclusão, marginalidade, opressão e injustiça. A sociedade contemporânea está machucada pelo sofrimento e a miséria que causam também o afastamento de Deus. A narrativa do Evangelho mostra como através de Jesus, Deus Pai revela um projeto de salvação e inclusão no qual todos têm lugar e podem encontrar vida em plenitude. Naturalmente que um tão grande dom pede uma contrapartida de gratidão: “Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”. Notemos que também no nosso tempo, e com bastante frequência aqueles que a sociedade considera “flor que não se cheira”, ou “fora da casinha” são os primeiros a manifestar seu reconhecimento e gratidão. Ao contrário e não raro os que se consideram melhores e mais perfeitos costumam condenar e excluir os “impuros” considerando-se como privilegiados de Deus esquecem de reconhecer a bondade e a misericórdia que alcança a todos. Quase sempre os perfeitos não agradecem porque se consideram merecedores, como se Deus lhes devesse favores por sua condição de “pessoas do bem” e nessa condição permanecem cheios de orgulho e enclausurados na sua autossuficiência.

A segunda leitura mostra como a pessoa que acolhe o dom de Deus é capaz de viver o amor e entregar-se ao serviço de todos: “Lembra-te de Jesus Cristo, da descendência de Davi, ressuscitado dentre os mortos, segundo o meu evangelho”.

O convite que Paulo faz a Timóteo é extensivo a todos os cristãos: “Merece fé esta palavra: se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele ficamos firmes, com ele reinaremos. Se nós o negamos, também ele nos negará. Se lhe somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo”.

Tal como Paulo todos somos convidados a nos identificar com Cristo independente de todas as provações e sacrifícios. Peçamos a graça de reconhecer em Jesus a presença de Deus Pai no meio do mundo, que a oração, a escuta da Palavra e a Eucaristia nos conservem na comunhão com as pessoas e com Deus.