quinta-feira, 30 de agosto de 2018

HOMILIA PARA O DIA 02 DE SETEMBRO DE 2018 - 22º COMUM - ANO B


QUANDO A VIDA E A BÍBLIA SE ENCONTRAM...

Quantas pessoas a gente encontra cujo testemunho de vida é um exemplo de coerência e não poucas vezes se diz: “fulano de tal é um santo”. Por outro lado, é também frequente que a gente fale a respeito de pessoas e destes se diz: “Beltrano só parece santo”. A diferença nestas duas circunstâncias está no fato de colocar em prática aquilo que acredita e reza, ou simplesmente multiplicar palavras e se parecer com os fariseus que Jesus crítica no evangelho: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois, as doutrinas que ensinam são preceitos humanos”.
Na verdade, a ideia principal de toda a Sagrada Escritura consiste em: “Ouvir a Palavra e colocar em prática”. Esta recomendação aparece com clareza absoluta na carta de Tiago proclamada hoje: “Todavia, sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos”.
O texto do Deuteronômio, foca em alguns pontos fundamentais para o bem-estar entre as pessoas: “Nada acrescenteis, nada tireis, à palavra que vos digo, mas guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus que vos prescrevo. Vós os guardareis, pois, e os poreis em prática, porque neles está vossa sabedoria e inteligência perante os povos”.
E Jesus chamando a multidão para perto de si, desautoriza o legalismo dos fariseus quando afirma: “Escutai todos e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo”.
O que decide a proximidade com Deus não é o culto e as práticas legalistas, mas a capacidade de colocar em prática e ter para com todas as pessoas respeito e relações de fraternidade, cooperação e comunhão. A crítica mais séria que Jesus faz aos seus conterrâneos é a de aparentar aquilo que não são.
Peçamos a graça de ter coerência entre nossas palavras e nossas ações, não fazer uma coisa no mundo da religião e da igreja e outra no mundo dos negócios e da vida.



























sábado, 25 de agosto de 2018

HOMILIA PARA O DIA 26 DE AGOSTO DE 2018 - 21º ANO B


SERVIR AO ÚNICO DEUS

As pessoas que costumam jogar cartas, dominó, montar quebra cabeças, resolver palavras cruzadas, sabem muito bem que o jogo só continua se constantemente as cartas e pedras forem embaralhadas, se o quebra cabeça for desmontado e se as palavras cruzadas tiverem sempre um grau de complexidade mais exigente. Esta comparação é muito significativa com o dia a dia da vida que não teria a mesma importância e desfecho se não fossem os embaraços e a complexidade crescente de todos os empreendimentos realizados. Sem sombra de dúvida esta situação pode ser comparada também com a v ida de fé. Não poucas vezes as certezas sobre aquilo que se acredita são colocadas em xeque e a crença em Deus, na sua Palavra e no seu mistério sofrem abalos significativos. Ainda mais quando estes abalos ocorrem no âmbito da Igreja, das suas instituições, pastorais, movimentos, dos seus padres e bispos. Isto é o que se chama de crise.
Na história do povo de Deus e entre os amigos de Jesus não foi diferente. “As cartas do jogo” foram muitas vezes embaralhadas e acreditar que Deus estava com eles e que Jesus era o enviado do Pai não foi uma coisa tranquila para os israelitas.
Josué, no texto de hoje, coloca os chefes do povo diante de uma situação que exige maturidade e discernimento. As cartas estão embaralhadas... “Se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir: se aos deuses a quem vossos pais serviram na Mesopotâmia, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor”.
A condição de povo livre dependeria desta escolha, situação que não foi diferente para os discípulos de Jesus e seus conterrâneos. Enquanto Jesus fazia milagres e os alimentava tudo estava tranquilo e as multidões o seguiam. No momento em que ele pede uma tomada de posição muitos tomam outro rumo e preferem continuar na mediocridade da vida que estavam acostumados. Jesus “Sabendo que seus discípulos estavam murmurando” lança um desafio aos que permaneceram com ele: “Vós também vos quereis ir embora? ”.
Pedro, como de outras vezes responde em nome de todos: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”.
Ter a coragem de “continuar o jogo” com as cartas embaralhadas a cada dia é um desafio que São Paulo ajuda responder escrevendo aos Efésios: “Vós que temeis a Cristo, sede solícitos uns para com os outros”. Paulo dá uma série de conselhos sobre as relações entre os esposos recomendando que ambos percebam no jogo da vida “Este mistério é grande, e eu o interpreto em relação a Cristo e à Igreja”.
Peçamos também nós a graça, o discernimento e a coragem de seguir ao único e verdadeiro Pão da Vida que alimenta e sustenta nas inseguranças do cotidiano. Tenhamos a certeza do salmista quando reza: “O Senhor pousa seus olhos sobre os justos, e seu ouvido está atento ao seu chamado; Clamam os justos, e o Senhor bondoso escuta; Muitos males se abatem sobre os justos, Mas o Senhor liberta a vida dos seus servos, e castigado não será quem nele espera”.


sábado, 18 de agosto de 2018

HOMILIA PARA A MISSA NA SEMANA DA FAMÍLIA


EU CONFIO NO SENHOR E NADA TEMO

“O Senhor é minha força, meu louvor a salvação, ele fez prodígios e favores, publicai as maravilhas do Senhor”. O profeta Ezequiel faz uma parábola para contar sobre a infidelidade do povo na relação com Deus e conta como Deus “revestiu o seu povo com roupas bordadas, ungiu com perfume, calçou sandálias, enfeitou com joias e corou a cabeça dos seus escolhidos como se fosse salvar uma criança das forças da morte”. O Evangelho toca no cerne das relações familiares e mexe exatamente com a fidelidade matrimonial. A palavra de Jesus é muito clara quando diz que só é permitido o divórcio em caso de união ilegítima. Tal afirmação pode ser melhor entendida nas palavras de São João Paulo II: incompreensões recíprocas, ou quando Francisco diz: “matrimônios que nunca deveriam ter existido”. Em resumo se faltar o amor entre os esposos, termina o respeito e só uma legislação muito rigorosa seria capaz de garantir que a unidade permanecesse embora essa nem sempre fosse sinal de comunhão. Jesus é categórico quando responde aos judeus sobre a lei de Moisés: Ela só deve ser aplicada quando falta o amor, a solidariedade a responsabilidade e o perdão.
Quando falta ingredientes básicos para uma comunhão do casal acontece o que disse São João Paulo II: “Motivos diversos, quais incompreensões recíprocas, incapacidade de abertura a relações interpessoais, etc. podem conduzir dolorosamente o matrimónio válido a uma fratura muitas vezes irreparável. Obviamente que a separação deve ser considerada remédio extremo, depois que se tenham demonstrado vãs todas as tentativas razoáveis. A Igreja não pode abandonar aqueles que por algum motivo procuraram uma segunda união depois de ter feitos todos os esforços para manter o primeiro casamento, reze por eles a Igreja, encoraje-os, mostre-se mãe misericordiosa e sustente-os na fé e na esperança”.
Por sua vez o Papa Francisco afirma: “Quanto às pessoas divorciadas que vivem em segunda união é importante fazer-lhes sentir que fazem parte da Igreja, que “não estão excomungadas” Estas situações exigem acompanhamento e respeito de modo que ninguém se sinta discriminada de nada participando da comunidade. Fazendo isso a Igreja acolhe aqueles que precisaram iniciar uma nova família com o mesmo carinho como Deus fez com o povo de Israel: “banhei-te com água limpa, revesti-lhe com roupas bordadas, calcei uma sandália e te coroei” isso não é um enfraquecimento da fé e das normas da Igreja, mas uma forma de agir com misericórdia diante do sofrimento alheio. De modo que os movimentos, as pastorais e a Igreja inteira tem o dever de acolher, ouvir e compreender aqueles que tanto sofrem quando sua vida matrimonial passa por mares bravios e tempestades que não se acalmam.

HOMILIA PARA O DIA 19 DE AGOSTO DE 2018 - ASSUNÇÃO DE MARIA


DEUS ESTÁ CONTENTE COM VOCÊ

João Cabral de Melo Neto, considerado o maior poeta de língua portuguesa contemporânea, na poesia Morte e Vida Severina se expressa assim: “Somos muitos Severinos, iguais em tudo na vida, morremos de morte igual mesma morte Severina”. De fato, a morte é certa e para todos disto ninguém dúvida. Mas para os cristãos a morte não tem a última palavra e a partir da fé todos podem ter certeza disso: Como se lê na Carta aos Coríntios que é a segunda leitura de hoje: “Na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão”.
Costuma-se dizer que aqueles que morrem dormem à sombra da cruz, até que Cristo os ressuscite para a vida definitiva. Esta foi também a crença dos primeiros discípulos em relação a Maria, Mãe de Jesus. As primeiras comunidades cristãs celebravam a “dormição de Maria”. Tinham a absoluta certeza que assim como ela deu seu sim para que Cristo viesse ao mundo, Ele também teria dado o seu sim para que Maria participasse desde sempre na sua gloria.
A primeira leitura deste domingo mostra de um modo figurativo e muito extraordinário a vitória da vida sobre todas as forças da morte. Diante de um dragão com sete cabeças e dez chifres a mulher grávida dá à luz a um filho, sai vitoriosa para um lugar preparado por Deus enquanto seu filho é levado para Junto de Deus e do seu trono.  A rainha vestida de ouro que entra no palácio real entre cantos de festa e com grande alegria, desde muito cedo os cristãos entenderam que se tratava de Maria Mãe de Jesus.
Ela é a bendita entre as Mulheres, conforme proclamou Isabel. Bendita porque fez a vontade de Deus e não se recusou colocar-se a serviço dos irmãos e das irmãs. Ela mesma cantou as maravilhas que Deus realizou em seu favor.
Com a colaboração de Maria todas as pessoas receberam na pessoa de Jesus Cristo o perdão dos pecados e a certeza da vida definitiva, como diz São Paulo: “Como em Adão todos morreram, assim também em Cristo todos reviverão”.
Por estas razões a Igreja celebra hoje a festa da Assunção de Maria e proclama que ela a Bem-Aventurada, a Cheia de Graça, a Mãe de todos os povos que junto do seu Filho intercede por nós.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

HOMILIA PARA O DIA 12 DE AGOSTO DE 2018 - 19º COMUM ANO B


SEJAM IMITADORES DE DEUS

No documento, “Alegria do Evangelho”, o primeiro do Papa Francisco, ele apresenta para o mundo o que eram as suas convicções e a sua prática na Igreja em Buenos Aires, onde servia como Bispo. No número 49 Ele escreve: “Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Repito aqui, para toda a Igreja, aquilo que, muitas vezes, disse aos sacerdotes e aos leigos de Buenos Aires: prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada, por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos”.
É claro que esta afirmação trouxe alegria para muitos, perplexidade para outros, medo para outros e resistência daqueles que estavam acostumados a um estilo e modelo de Igreja presa em “obsessões e procedimentos”, normas, leis, regras e assim por diante. É importante perceber como essa preocupação do Papa não se diferencia da preocupação de Jesus narrada no evangelho deste domingo.
Quando Jesus diz: “Eu sou o pão que desceu do céu, quem dele comer, nunca morrerá. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo”. Sua Palavra traz alegria para muitos, esperança para outros, mas ao mesmo tempo medo e perplexidade aos judeus habituados ao ritmo dos ensinamentos de Moisés que eles haviam transformado num emaranhado de normas e regras, um fardo muito pesado para ser carregado.
Os judeus bem que preferiam manter o ritmo das coisas como estavam acostumados, embora não se davam conta da exclusão que vinham praticando e da falta de misericórdia com que julgavam as pessoas não permitindo que participassem do cotidiano da assembleia.
O tratamento que os conterrâneos dão a Jesus em nada se difere do que os antepassados fizeram em relação aos profetas. Elias, como narra a primeira leitura, também foi incompreendido e perseguido, fugiu para o deserto e desejou a morte. Mas Deus lhe devolve a alegria e o entusiasmo. Alimentando-o não resolve o problema do sofrimento e da perseguição, mas o anima a continuar a missão: “Levanta-se ainda tens um longo caminho a percorrer”.
Sem sombra de dúvida para os cristãos e para a Igreja contemporânea não faltam preocupações, desanimo e perseguição. Para todos vale a palavra de São Paulo: “Seja eliminado do meio de vós tudo o que é azedume, irritação, cólera, insulto, maledicência e toda a espécie de maldade. Sede bondosos e compassivos uns para com os outros e perdoai-vos mutuamente, como Deus também vos perdoou em Cristo. Sede imitadores de Deus, como filhos muito amados. Caminhai na caridade, a exemplo de Cristo”
Buscar e aceitar o batismo não é senão receber um sinal que se pertence a Deus, que se torna morada do Espírito Santo e, por isso mesmo, todo batizado é desafiado a deixar para trás os vícios da pessoa velha: “azedume, irritação, cólera, maledicência, insultos e toda espécie de maldade”. Em resumo Sede imitadores de Deus, como filhos que ele ama. Vivei no amor, como Cristo nos amou”.
Aceitar o evangelho implica ter a coragem de sair do comodismo e das práticas habitais de ser cristão para ir ao encontro daqueles que que mais necessitam da ajuda e do testemunho.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

HOMILIA PARA O DIA 05 DE AGOSTO DE 2018 - 18º COMUM - ANO B


RENOVAR-SE CONSTANTEMENTE

É inerente da condição humana buscar soluções rápidas e muitas vezes simplórias para problemas e exigências que, na maioria das vezes, exige planejamento, perseverança e organização coletiva. Entre nós é famoso o “jeitinho brasileiro” de resolver as coisas pelo caminho mais curto, mais fácil e mais rápido ainda que nem sempre mais correto nem tampouco mais honesto.
Prestando bem atenção na história do povo de Deus é possível perceber como o “jeitinho” não é uma coisa exclusivamente brasileira, pelo contrário aparece presente em diversas culturas e arraigado na história. Tanto a primeira leitura como o Evangelho deste domingo tratam desta situação.
A longa e exigente caminhada para a terra prometida a que o povo de Israel foi submetido não foi uma ação assimilada com facilidade por todos e durante todo o tempo. Por diversas vezes perderam o entusiasmo e pensavam em soluções simples, rápidas e que tudo se desse por um caminho mais curto, como num passe de mágica.
A primeira leitura trata do problema da fome, diante da qual o povo não exita de encontrar culpados e preferir outras soluções: “Quem dera que tivéssemos morrido escravos no Egito, quando nos sentávamos junto às panelas de carne e comíamos pão com fartura”. Apesar disso Moisés não perde a esperança e lhes apresenta uma alternativa que implica em solução definitiva e não apenas um paliativo para a fome momentânea. Recolher o maná na quantidade suficiente para continuar a caminhada, não acumular e ser capaz de repartir.
O mesmo fato acontece com Jesus e a multidão que o seguia. Aproximaram-se dele com uma pergunta interesseira: “Mestre quando chegaste aqui”. Jesus não se detém nesta resposta mas aponta o limite da busca e do interesse pelo qual as multidões o seguiam: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará”.
E o esforço para buscar o alimento que não se acaba está na palavra de São Paulo, na segunda leitura: “Eis pois o que eu digo e atesto no Senhor: não continueis a viver como vivem os pagãos, cuja inteligência os leva para o nada. Renunciando à vossa existência passada, despojai-vos do homem velho, que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras, e renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade. Revesti o homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade”.
Revestir-se como uma pessoa nova não é algo que se faz uma vez na vida, pelo contrário ele começa no dia do batismo e vai se repetindo por todo o sempre. Ledo engano procurar o batismo porque é tradição de nossos pais, ou costume das comunidades. A nossa adesão a Jesus deve partir de uma profunda convicção de que só Ele é o “pão” que nos dá vida. Deus vem, todos os dias, ao encontro das pessoas e os convida escutar a Palavra de Jesus ensinando-lhes os caminhos do amor, da partilha, do serviço. Convém que nos familiarizemos com os métodos e os caminhos de Deus.

terça-feira, 31 de julho de 2018

PELA VIDA E PELA DEMOCRACIA - A HORA É AGORA

PELA VIDA E PELA DEMOCRACIA

Em 1976, o álbum do ano de Roberto Carlos trouxe entre seus sucessos a música Progresso, e nela o Rei canta:
Eu não posso aceitar certas coisas que eu não entendo
O comércio das armas de guerra, da morte vivendo
Eu queira falar de alegria ao invés de tristeza mas não sou capaz
Eu queria ser civilizado como os animais. 

Não sou contra o progresso
Mas apelo pro bom-senso
Um erro não conserta o outro
Isso é o que eu penso.

O filósofo contemporâneo e ateu Leandro Karnal afirma: “Não existem fórmulas para ser ético, são conceitos básicos como respeitar o espaço do outro, não se fixar somente na sua felicidade pessoal, mas sim coletiva”.
O que estamos assistindo no Brasil nos últimos tempos não é outra coisa senão a “falta de bom senso” e de respeito pelos interesses coletivos em detrimento de vantagens pessoais. A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, não é outra coisa senão tentar “consertar um erro legalizando uma barbaridade ainda maior”, baseada num conceito de liberdade e felicidade pessoal, e com o pretexto de garantir saúde e segurança das mulheres certamente é “[...] um grave equívoco pretender resolver problemas, como o das precárias condições sanitárias, através da descriminalização do aborto. Urge combater as causas do aborto, através da implementação e do aprimoramento de políticas públicas que atendam eficazmente as mulheres, nos campos da saúde, segurança, educação sexual, entre outros, especialmente nas localidades mais pobres do Brasil. Espera-se do Estado maior investimento e atuação eficaz no cuidado das gestantes e das crianças. É preciso assegurar às mulheres pobres o direito de ter seus filhos. Ao invés de aborto seguro, o Sistema Público de Saúde deve garantir o direito ao parto seguro e à saúde das mães e de seus filhos” (Nota da CNBB pela Vida, contra o aborto, de 11 de abril de 2007).
O pedido que nasceu em algumas instâncias da sociedade que se organizam na forma de lobby levam o STF, a se dobrar perante interesses mesquinhos e corporativos numa clara ameaça à democracia e gastar seu precioso tempo em audiências públicas com a restrita finalidade de “modificar a constituição”. E não agir como   órgão máximo do Poder Judiciário e cuja função é proteger a Constituição da República Federativa do Brasil, que é a norma mais importante do país.
Desta Maneira a democracia se vê mais uma vez ameaçada pela clara interferência de um poder sobre o outro esquecendo-se que “As democracias modernas foram concebidas como formas de oposição aos absolutismos de qualquer gênero: pertence à sua natureza que nenhum poder seja absoluto e irregulável. Por isso, é imensamente desejável que, diante destas ameaças hodiernas, encontremos modos de conter qualquer tipo de exacerbação do poder” (http://www.cnbb.org.br/comissao-para-vida-e-a-familia-da-cnbb-mobiliza-cristao-na-luta-contra-a-legalizacao-do-aborto/).
O momento é agora para cada cidadão e para a sociedade como um todo dizer não a onipotência de qualquer um dos poderes da república, na certeza que todos eles são frutos da democracia cujo poder emana do povo e só é legítimo se exercido em seu nome e sob sua outorga.



quinta-feira, 26 de julho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 29 DE JULHO DE 2018 - 17º COMUM - ANO B


AJUDEM AS PESSOAS PENSAR...

O Evangelho deste domingo apresenta mais uma das provocações de Jesus quando vê a multidão que vinha ao seu encontro. Neste caso ele se dirige aos seus discípulos dizendo: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?' Disse isso para pô-los à prova, pois ele mesmo sabia muito bem o que ia fazer”. Interpretando a provocação de Jesus pode-se modificar a frase “'Fazei as pessoas sentar”, por “ajudem as pessoas pensar”.
Não se trata de forçar o evangelho, mas de perceber que a intenção de Jesus estava mais do que clara. Ele não estava apenas preocupado em saciar a fome da multidão que vinha ao seu encontro, sua preocupação se estendia também para a construção de novas relações que implicam responsabilidade, partilha, solidariedade, cuidado com o próximo e uma porção de outras exigências para a construção de uma sociedade justa e fraterna.
É perfeitamente possível sair do plano da simples fome de pão que assola milhares de pessoas pelo Brasil afora e pensar na “fome de justiça” que se houve em todos os cantos desta nação. Uma das notícias mais comentadas nesta semana foi a morte da estudante brasileira na Nicarágua. Em que pese o abuso de poder e a forma violenta como o governo daquele país vem respondendo às manifestações contrárias às reformas que afligem direitos das populações, é necessário se perguntar também quantos foram os brasileiros mortos nesta semana de forma violenta em muitas circunstâncias não explicadas e se explicadas não justificadas. Neste contexto Jesus diria: “Não se deixe iludir por respostas fáceis, mas vamos pensar juntos em soluções para a ‘fome de justiça”.
As convenções partidárias e a indicação dos pretendentes ao executivo e legislativo nos diversos níveis de governo no país movimentam alguns milhões de reais e muitos interesses nem sempre bem esclarecidos. Para este caso se poderia aplicar a palavra do profeta que se lê na primeira leitura: Veio também um homem de Baal-Salisa, trazendo em seu alforje para Eliseu, o homem de Deus, pães dos primeiros frutos da terra: eram vinte pães de cevada e trigo novo. E Eliseu disse: 'Dá ao povo para que coma”. Ou seja, todos os que se apresentam com propostas mirabolantes capazes de solucionar todos os problemas que a décadas afligem a nação se poderia pedir ao menos uma coisa: “Garanta que todos tenham comida, trabalho, saúde, educação, segurança,” e isto já seria uma grande proposta.
E neste sentido também é oportunidade para repetir o que se reza no salmo: “Saciai os vossos filhos ó Senhor. Vós que sois justo em seus caminhos, e santo em toda obra faz. Que está perto da pessoa que o invoca, de todo aquele que o invoca lealmente”.
Que a Palavra de Deus ajude todos a seguir e aprender com Jesus o que significa colocar em comum o que se tem para que todos vivam melhor.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 22 DE JULHO DE 2018


POLÍTICA E RELIGIÃO DUAS COISAS 
QUE TEM TUDO A VER

Uma das notícias nos grandes meios de comunicação em Santa Catarina nesta semana apresentava o volume de gastos que a Assembleia Legislativa Barriga Verde tem anualmente com cada deputado. Pasmem, cada um deles consome quase dezesseis milhões de reais. O mesmo veículo de comunicação anunciava que faltam em Santa Catarina, pelo menos, 179 leitos de UTI Neonatal. Não precisa ficar garimpando notícias para encontrar outras inúmeras barbaridades de malversação de recursos públicos nas diversas instâncias de governo. Sem pestanejar é possível repetir as palavras de Jesus: “Tenho pena deste povo, se parece ovelhas sem pastor”.
O relato do Evangelho proclamado na liturgia deste domingo apresenta o retorno dos discípulos depois de uma tarefa missionária que o mestre lhes havia confiado. O Texto diz que “Os apóstolos se reuniram com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer”. Apesar desta situação Jesus não se furta de atender o povo e ajuda a encontrar uma resposta para os seus sofrimentos. Diferente das autoridades do seu tempo, que se reúnem para planejar a morte, Jesus acolhe para lhes dar de comer e devolver a esperança.
O jeito de ser e agir de Jesus reproduz a ação de Deus reconhecida pelo povo ao longo da história na figura do bom pastor como se reza no Salmo: Ele me guia no caminho mais seguro, pela honra do seu nome. Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei; estais comigo com bastão e com cajado; eles me dão a segurança”.
Sobre Jesus é que São Paulo escreve aos efésios: Ele aboliu a Lei com seus mandamentos e decretos. Ele quis, assim, a partir do judeu e do pagão, criar em si um só homem novo, estabelecendo a paz. Quis reconciliá-los com Deus, ambos em um só corpo”.
Ora se a ação de Jesus teve este objetivo e de fato conseguiu realizar, também aos cristãos do terceiro milênio se pede a mesma coisa. Diante deste povo sem esperanças, diante das injustiças e mau uso do dinheiro público, diante de políticos corruptos que usurpam o direito dos povos, todos são convidados a não se calar, não concordar, não compactuar, em resumo: Política e religião tem tudo a ver. Um verdadeiro cristão vai dizer não ao estilo de fazer política que as nossas lideranças vem repetindo a décadas confirmando a exploração de alguns sobre a grande maioria.
Que todos tenham a coragem de ser missionários capazes de anunciar a vontade de Deus ao mundo como fez o profeta: “Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem, diz o Senhor! Suscitarei para elas novos pastores que as apascentem; este é o nome com que o chamarão: 'Senhor, nossa Justiça.”.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 15 DE JULHO DE 2018 - 15º DO TEMPO COMUM

MISSIONÁRIOS COM DESPRENDIMENTO E CORAGEM

O Salmo escolhido para a liturgia de hoje expressa um dos maiores desejos da humanidade: A verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão; da terra brotará a fidelidade, e a justiça olhará dos altos céus”. De fato, a sociedade contemporânea clama cada vez com mais força para que as relações humanas em todos os níveis sejam pautadas pelos valores da Verdade, do amor, da justiça, da fidelidade e estas condições todas podem ser a garantia para que a paz aconteça. Sem sombra de dúvida aqueles que tem alguma responsabilidade no governo e na condução das instituições e organizações sociais são os primeiros responsáveis por isso, mas não resta dúvida que todos em qualquer lugar onde estejam precisam estar comprometidos com os valores que promovam a paz e o bem querer entre as pessoas.
Amós foi categórico quando reafirmou sua vocação de profeta e deixou bem claro que sua função na sociedade era garantir que a Palavra e a vontade do Senhor estivessem ao alcance de todos: “Respondeu Amós a Amasias, dizendo: 'Não sou profeta nem sou filho de profeta; sou pastor de gado e cultivo figos. O Senhor chamou-me, quando eu tangia o rebanho, e o Senhor me disse: 'Vai profetizar para Israel, meu povo”.
E São Paulo escreve aos Efésios uma verdade que se aplica a todas as pessoas em todos os tempos: Ele nos fez conhecer o mistério da sua vontade, o desígnio benevolente que de antemão determinou em si mesmo, para levar à plenitude o tempo estabelecido e recapitular em Cristo, o universo inteiro: tudo o que está nos céus e tudo o que está sobre a terra”. Esta escolha e oportunidade de conhecer os mistérios de Deus não é outra coisa senão o envio para a missão que é dada como um dom do Espírito Santo.
Anunciar que a Justiça e a paz podem se encontrar e construir relações novas para uma sociedade que também precisa se renovar não é uma tarefa fácil. Jesus mesmo experimentou a incompreensão dos seus conterrâneos, não se deixou desiludir, pelo contrário, formou uma equipe e os enviou dando-lhes responsabilidade e autonomia. A missão daqueles que se declaram seguidores de Jesus é a mesma em todos os tempos. Portanto também para os cristãos do terceiro milênio pede-se a mesma coragem: “libertar as pessoas de tudo aquilo que as torna escravos e desconsolados”.
Neste sentido, ninguém que se declare cristão está excluído da atividade profética de SER MISSIONÁRIO COM DESPRENDIMENTO E CORAGEM exercendo a profecia no meio das pessoas e no seu ambiente de trabalho como “sal da terra e luz do mundo”.



sexta-feira, 6 de julho de 2018

COPA 2018 – UM DESAFIO DE ÉTICA, BOLA, EMOÇÃO E NEGÓCIO




O futebol é mais uma das invenções que, ao longo da história traçou caminhos inusitados. Não é à toa que o Brasil é conhecido como o país do futebol. Os brasileiros fazem por merecer esse título. Não porque exporta para o mundo grandes nomes do futebol, nem porque é a única seleção a colecionar cinco títulos mundiais.
Pode-se reconhecer o Brasil do futebol pela paixão que todo cidadão cultiva por esta prática desde a mais tenra infância. É praticamente impossível encontrar uma criança, sobretudo do sexo masculino, que não dê os primeiros passos correndo atrás de uma bola. Os pais, mesmo aqueles que não são fanáticos esportistas, desde muito cedo presenteiam seus filhos com camisas e uniformes dos times da moda.
Não há recanto de cidade ou interior onde não se possa identificar um espaço reservado para a “pelada” do fim da tarde e do final de semana. Começar uma partida com meia dúzia de competidores e terminar com mais de duas dezenas também não é novidade.
Entretanto, é sabido que no começo não foi assim. O futebol teve sua origem na alta burguesia inglesa no século 19, espalhou-se rapidamente para as camadas sociais menos favorecidas e hoje movimenta bilhões de dólares, emoções, negócios e princípios éticos extraordinários.
Santo Agostinho, ainda no século IV, fez uma afirmação que se aplica também para a atualidade: “Mens sana in corpore sano” = “Mente sadia em um corpo sadio”. Neste sentido, afirma-se que a prática de esportes tem uma função ética de destaque na formação do caráter, para a preservação da saúde envolvendo a pessoa por inteiro. Ainda mais importante que esta dimensão de saúde física pode-se aplicar ao futebol questões relativas à saúde espiritual e de estímulo para o associativismo, a cooperação e a parceria.
É fato incontestável que a profissionalização do futebol transformou o mais popular dos esportes numa “máquina de movimentar dinheiro” envolvendo interesses comerciais muito explícitos. É do conhecimento de todos que a FIFA vende a copa e que grupos transnacionais se servem desta oportunidade para promover seu negócio e seus produtos. Nesta trama pouco ética estão envolvidas marcas, jogadores, empresas, governos, que faturam e investem bilhões transformando a paixão em fetiche e compulsão para o consumo.
Para a copa da Rússia 2018 a FIFA vai distribuir 400 milhões de dólares entre as 32 seleções, o Brasil eliminado pela Bélgica receberá 16 milhões de dólares, cerca de 62,6 milhões de reais. Enquanto isso o Dólar alcança sua mais alta cotação desde janeiro de 2016, a inflação avança, o gás de cozinha tem novo aumento pesando cada vez mais no bolso do brasileiro, os casos de hepatite aumentem em mais de 70%. E poderíamos desfilar uma série de outras situações que cada vez mais fazem os brasileiros perder o entusiasmo para acompanhar a profissionalização do esporte mais popular do mundo.
Entretanto, a “paixão nacional” continua pertencendo aos amadores e torcedores que fazem por amor e com certo sentido de honra. Sendo um esporte de prevalência masculina o fascínio pela bola transforma os sisudos brasileiros, pouco afeitos a demonstrações públicas de afeto, em homens de sensibilidade capazes de trocar afetos publicamente, chorar e sorrir pelas mesmas causas diante das câmeras de televisão para o mundo inteiro.
Parodiando o hino da copa de 70, se pode escrever: “duzentos milhões em ação... De repente é aquela corrente pra frente Brasil...” Queira Deus que a derrota da Seleção Canarinho não faça esmorecer o patriotismo e o desejo de construir um novo Brasil e que de agora em diante continue sendo desfralda a Bandeira que fará escolher um time que mais do que levantar taças seja capaz de reerguer esse País.  
O Olé que se gritaria na copa poderá ecoar no sonho por um Brasil mais justo, sem miséria, menos corrupto e mais democrático, tudo isso sem se deixar manipular pela mídia e pelas paixões da violência e a cultura do “vamos quebrar tudo”.


quinta-feira, 5 de julho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 08 DE JULHO DE 2018 - 14º DOMINGO COMUM


NAS DIFICULDADES RECONHECER 
A FORÇA QUE ESTÁ EM DEUS

À medida que a Copa do Mundo vai caminhando para a reta final, os comentaristas esportivos vão apontando como aumenta o grau de dificuldade para cada uma das equipes classificadas para a fase seguinte. Nesta semana também ocupou espaço no noticiário internacional o resgate dos jovens tailandeses presos na caverna e também para este caso não faltaram opiniões sobre as perspectivas e os desafios de resgate e da garantia de vida de todos os envolvidos no episódio. Neste sábado, dia 07, o Papa Francisco teve um encontro com diversos líderes religioso, na cidade Bari no sul da Itália cujo centro das conversas é a preocupação com a paz no Oriente Médio e o doloroso martírio de muitos cristãos naquela região.
Todas estas situações podem ser entendidas como um “caminhar com Jesus” com todas as vantagens e desafios que esta jornada apresenta. Compreendendo todas as dificuldades da vida é possível repetir como São Paulo: “É na fraqueza que a força de Deus se manifesta, pois, quando sou fraco então é que sou forte”.  Deus que se manifestou ao longo da história não mostrou seu poder e sua força no enfrentamento e no desafio, mas na humilhação cujo ponto culminante se deu na crucificação do próprio Filho.
O profeta Ezequiel não teve medo e ousou falar a dura verdade que precisava ser dita ao povo de Israel: “Filhos de cabeça dura e coração de pedra”. E São Paulo faz uma afirmação extraordinária: “Basta-te a minha graça. Pois é na fraqueza que a força se manifesta'. Por isso, de bom grado, eu me gloriarei das minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim”. E qual é a força de Cristo se não a sabedoria que recebeu do Pai e que confundia os sábios do seu tempo.
Ontem como hoje, declarar-se seguidor de Jesus Cristo implica compreender que ser cristão é aceitar e estar sujeito a todas as fraquezas e dificuldades do mundo contemporâneo sem fraquejar ou perder a vibração e o entusiasmo. Caminhar com Jesus implica ir removendo as pedras de cada “caverna”, por meio do diálogo honesto construir jogadas confiantes que “tudo é possível naquele que é a única força” para onde se dirige o olhar confiante e se reza como no salmo de hoje: “Eu levanto os meus olhos para vós, que habitais nos altos céus. Como os olhos dos escravos estão fitos nas mãos do seu senhor”.


sábado, 30 de junho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 01 DE JULHO 2018 - SÃO PEDRO E SÃO PAULO - DIA DO PAPA


DISCÍPULOS E MISSIONÁRIOS NA IGREJA
 E NA SOCIEDADE

Em tempo de Copa do Mundo por todos os lados se respira solidariedade, participação, e uma constante partilha de sonhos e desejos. Esses sentimentos é o que se pode chamar de responsabilidade e missão. Os sonhos de ver sua equipe crescer e se projetar com um futebol que seja respeitado pelo mundo brota do fundo dos corações. Muitas pessoas choram, vibram, se emocionam, fazem qualquer ato para provar seu amor pela causa do seu time.
Pois foram estes sentimentos que tomaram conta dos primeiros cristãos. Aqueles que conheceram e conviveram com Jesus sabiam que o encontro com o Mestre tinha mudado a vida deles e de muitas outras pessoas. Sua convicção fazia que proclamassem com a vida e não tivessem medo de enfrentar qualquer dificuldade para que o nome e a doutrina de Jesus se tornasse conhecida.
Muitos que foram conhecendo o Evangelho por meio dos primeiros cristãos também deram sua vida pela mesma causa. Hoje a Igreja recorda São Pedro e São Paulo, cujo testemunho foi dado com a própria vida. Pedro fez tudo o que podia para confirmar a Igreja que nascia como uma instituição que tinha seu fundamento em tudo o que Jesus fez e ensinou. Paulo percorreu o mundo inteiro como missionário incansável a serviço desta causa. Por isso os dois se chamam “colunas da Igreja”.
As palavras de Jesus dirigidas a Pedro no Evangelho se confirmam ainda hoje: “Feliz és tu Simão filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou que Eu sou o Messias”. De Paulo  o mundo tem a confirmação das suas últimas palavras: “Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças; ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações”.
Recordando os Apóstolos que se chamam também primeiros frutos da Igreja, em todos os lugares eleva-se uma prece pelo Papa. Certamente hoje ninguém melhor que Francisco representa Pedro e Paulo. Adotando o nome e o compromisso do Pobrezinho de Assis, Bergoglio tem a mesma missão daquele: “Francisco Reconstrói a minha Igreja” e a cada cristão Ele continua desafiando: “Quero uma Igreja em saída”.
Que a coragem e a convocação de Francisco faça de cada pessoa um apaixonado pelo Evangelho e pela Igreja como torcedores que vibram com a vitória da sua seleção e das boas jogadas de cada um dos que entram em campo.


sexta-feira, 22 de junho de 2018

HOMILIA PARA A FESTA DE SÃO JOÃO BATISTA - 24/06/2018 - 12º DO TEMPO COMUM


MISERICÓRDIA É O SEU NOME

Ninguém duvida que a Copa do Mundo é uma oportunidade de lazer, esporte, turismo, entretenimento e uma série de outras oportunidades para desenvolver relações humanas saudáveis e prazerosas. Mas é também uma oportunidade para perceber como muitas situações que não deveriam acontecer entre pessoas educadas e que se respeitam tivessem lugar. Entre elas vale lembrar o episódio do grupo de brasileiros que usou das redes sociais para divulgar uma situação de absoluto desrespeito humano quando constrangeram publicamente uma pessoa de outra nacionalidade e que não conhecia o nosso idioma. Sem sombra de dúvida isso é o que se pode chamar numa linguagem litúrgica de “falta de misericórdia”.
Pois é de misericórdia que trata a Palavra de Deus neste dia em que se recorda também o nascimento do maior profeta que a religião cristã reconhece. João Batista tem um significado tão especial para a Igreja Ele é o único santo no calendário que se celebra o dia do nascimento e o dia da sua morte. O nome João significa: “Deus é misericórdia”. Filho de um casal de velhos cujas esperanças de paternidade já haviam se extinguido por força da sua idade e de outras condições humanas. O pai que era sacerdote do Templo de Jerusalém se comportava como um fiel cumpridor da lei em decorrência disso muitas vezes serviu de instrumento de opressão e de ações que não usavam da misericórdia para com as pessoas.
Neste contexto Deus mostra sua presença e seu amor, enche de alegria a casa de Zacarias e de Isabel ao mesmo tempo que faz a vizinhança exultar de admiração: “Todos se perguntavam: O que vai ser deste menino? ”. Quando Zacarias duvidou da ação de Deus ficou sem poder falar até o nascimento da criança neste tempo ouviu Maria proclamar a bondade de Deus quando cantou: “O poderoso fez obras grandiosas e santo é o seu nome, sua misericórdia se estende por todas as gerações daqueles que o amam”.
Em João Batista se confirma o que o profeta tinha anunciado 700 anos antes: “Nações marinhas, ouvi-me, povos distantes, prestai atenção: o Senhor chamou-me antes de eu nascer, desde o ventre de minha mãe ele tinha na mente o meu nome; fez de minha palavra uma espada afiada, protegeu-me à sombra de sua mão e fez de mim uma flecha aguçada, escondida em sua aljava, e disse-me: Tu és o meu Servo, Israel, em quem serei glorificado”.
Na esteira da fé herdada dos antepassados também a Igreja hoje se alegra porque sabe que Deus reconhece a fundo o coração de todos, sabe que as pessoas de hoje são tecidas pelo cuidado de Deus desde o ventre materno. Recordar João Batista não é simplesmente fazer a repetição de uma história, pelo contrário é pedir a graça de não se deixar macular pela falta de caridade, mas de agir com misericórdia para com todos.
Como Igreja em assembleia de oração todos são convidados a renovar o compromisso de respeito para com todas as pessoas em todos os lugares, ao mesmo tempo que se faz uma experiência da misericórdia de Deus pedir a força e a graça de ser para todos “Sal da terra e luz do mundo” como sinais de Deus em todas as relações humanas.


quinta-feira, 7 de junho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 10 DE JUNHO DE 2018 - 10º DO TEMPO COMUM


ALEGRAI-VOS E EXULTAI

No dia de São José neste ano o Papa Francisco publicou uma carta com o título: “Alegrai-vos e exultai”. O conteúdo da carta é um chamado à santidade no mundo atual. No primeiro capítulo o Papa escreveu: “Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e nas mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhada dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade ao ‘pé da porta’ daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou por outras palavras “esta é a classe média da santidade” (GE 7).
E ser santo não é outra coisa senão ouvir a Palavra de Deus e colocar em prática o Evangelho deste domingo. Marcos mostra Jesus cercado por duas categorias de pessoas: um grupo que o chama de louco e outro que consideram as suas ações como se fossem obras do diabo e afirmam que ele está possuído por Belzebu. Por sua vez Jesus é muito claro na suas declarações e sem meias palavras diz que estes dois grupos estão divididos entre si e que seus dias estão contados: “Assim, se Satanás se levanta contra si mesmo e
se divide, não poderá sobreviver, mas será destruído
”. E conclui com duas frases espetaculares: “
Ninguém pode entrar na casa de um homem forte para roubar seus bens, sem antes o amarrar. Só depois poderá saquear sua casa. E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: 'Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
O fim do reinado de satanás que Jesus afirma estar acontecendo é a concretização da responsabilidade que Deus havia dado para Eva, a mulher do primeiro pecado: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. Jesus, o Filho de Maria, com sua determinação e coragem é quem definitivamente “esmagará a cabeça da serpente” e todos os que como ele ouvirem a Palavra de Deus e colocarem em prática continuarão a fazer a mesma coisa.
E isto São Paulo fala aos coríntios: Sustentados pelo mesmo espírito de fé, conforme o que está escrito: 'Eu creio e, por isso, falei', nós também cremos e, por isso, falamos, certos de que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará também com Jesus e nos colocará ao seu lado, juntamente convosco. E tudo isso é por causa da abundância da graça para a glória de Deus. Por isso, não desanimamos”.
Nestes tempos difíceis, na hora em que o Papa convida a ser uma “Igreja em Saída” e a ser santos dando o “próprio testemunho nas ocupações da cada dia, onde cada um se encontra”(GE14) é natural que as dificuldades se potencializem  e que até muitas pessoas que se dizem religiosas e que até rezam muito sejam resistentes e insistam numa igreja que fique na sacristia, nos bancos das igrejas, nas orações destituídas de compromisso social, peçamos que a oração deste dia e a comunhão que recebemos nos liberte dos maus pensamentos e coloque a nossa vida na prática do bem, como o padre vai rezar na oração final da missa: “Ó Deus, agindo em nós pela Eucaristia, faça curar nossos males, libertando-nos das más inclinações e orientando nossa vida para a prática do bem”.