sexta-feira, 30 de abril de 2021

HOMILIA PARA O DIA 02 DE MAIO DE 2021 - 5º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B

 

SER E PERMANECER NO DISCIPULADO

A urbanização e os modos de vida contemporânea afastaram muitas pessoas das lidas do campo e hoje são poucos aqueles que entendem de plantio, cuidados com o campo, podas e colheitas. Mas, entendemos bem de dificuldades, adversidades, contratempos, contrariedades e em tudo isso manter a perseverança nos bons objetivos e propósitos que sempre vamos renovando constantemente.

As três leituras deste domingo servem de estímulo para não perder a esperança e a perseverança quando se trata de superar adversidades e contratempos do cotidiano. Numa linguagem coloquial se diz que em determinadas situações se faz necessário desacelerar, recuar um pouco para depois avançar com mais segurança como disse Cecília Meireles: “Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e voltar sempre inteira”.

O texto dos Atos dos apóstolos nos ajuda cultivar o diálogo e a partilha garantindo assim o crescimento e o amadurecimento da nossa fé. Paulo serve de modelo por sua coragem e entusiasmo na convivência com as dificuldades e oposições que a pregação do Evangelho faziam surgir nas comunidades.

Como se não bastasse a resistência dos judeus que viviam em Damasco, Paulo enfrentou o fechamento e o preconceito entre os cristãos de Jerusalém. A maneira como Paulo anunciava Cristo e a sua boa notícia causava estranhamento entre aqueles que preferiam um grupo de perfeitos e exclusivos seguidores do Mestre.

O que aconteceu com Paulo não se diferencia muito das realidades de nossas comunidades. Frequentemente nos comportamos como uma Igreja fechada, com medo de arriscar e acolher o diferente nos instalamos no comodismo e na mediocridade e não percebemos os desafios proféticos e o significado da expressão “Igreja em saída”. Preferimos uma comunidade intacta, onde só tem lugar para os bons e justos nossos amigos. Temos medo de uma Igreja ferida e enlameada, como diz o Papa Francisco, mas que seja aberta fraterna, solidária e acolhedora.

Barnabé serve de exemplo para todo cristão que queira acolher e se abrir ao diferente convidando todos fazerem a experiência da comunhão: “Então Barnabé tomou Saulo consigo, levou-o aos apóstolos e contou-lhes como Saulo tinha visto o Senhor no caminho, como o Senhor lhe havia falado e como Saulo havia pregado, em nome de Jesus, publicamente, na cidade de Damasco. Daí em diante, Saulo permaneceu com eles em Jerusalém e pregava com firmeza em nome do Senhor”.

A comparação que Jesus faz no evangelho é uma maneira pedagógica para deixar claro a todos que a produção de bons frutos tem duas condições indispensáveis: permanecer em comunhão com Ele e estar disposto a encarar as dificuldades dessa condição como se fossem podas, correções e mudanças de direção em nosso caminho.

Estar com Ele é a condição para uma comunidade produzir frutos. Isso é ao mesmo tempo um privilégio e uma responsabilidade.  Na condição de seguidores de Jesus não temos o direito de nos fechar num grupo de perfeitos e melhores, antes, somos desafiados a construir uma Igreja viva e dinâmica e que por nossos gestos e atitudes derrama sobre todos os bons frutos que produzimos internamente. Jesus que é o tronco de onde tiramos a seiva para produzir frutos será reconhecido à medida que nossas ações forem alcançando as pessoas em todos os lugares. Declarar-se ramo da mesma e única videira implica um compromisso efetivo com todas as propostas de Jesus.

As propostas d’Ele ficam claras no texto da segunda leitura. Em outras palavras, não se trata de conversa fiada, antes, são ações concretas, não basta fazer bonitos discursos e longas orações. Trata-se de colocar em prática tudo aquilo que, em palavras, declaramos acreditar: “Filhinhos, não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade! Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu. Quem guarda os seus mandamentos permanece com Deus e Deus permanece com ele. Que ele permanece conosco, sabemo-lo pelo Espírito que ele nos deu”.

 

 

quarta-feira, 21 de abril de 2021

HOMILIA PARA O DIA 25 DE ABRIL DE 2021 - 4º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B - DOMINGO DO BOM PASTOR

 

O BOM PASTOR CONHECE E COMPREENDE SUAS OVELHAS

Em toda a história do povo de Israel fica bastante claro que os fariseus e doutores da lei lhes impunham regras e normas as quais o povo simples era incapaz de conhecer e seguir, por essa razão era considerado impuro pecador, e excluído do Templo e relegado aos seus próprios cuidados. Nesse sentido os responsáveis pelo povo eram reconhecidos como maus pastores a quem os profetas fizeram constantes recomendações anunciando-lhes que Deus não continuaria a tolerar por muito tempo esta situação de descaso com os seus filhos e filhas. De outra sorte a comunidade esperou confiante a realização das promessas às quais viram acontecer na pessoa de Jesus.

Nossa realidade não se diferencia muito daquela vivida pelos conterrâneos de Jesus. Entre nós não são poucas as lideranças políticas que não tem compromisso com o sofrimento dos governados, lideranças religiosas prometendo prosperidade econômica em troca de ofertas, outros se aproveitando da generosidade para levar vantagem usam seu poder de convencimento e se comportam como mercenários e maus pastores.

Ao contrário disso Jesus apresenta no Evangelho um modelo de pastor, que Ele mesmo serve de exemplo. Ele conhece as ovelhas, chama pelo nome, reconhece a sua voz, está preocupado com o bem estar do rebanho, não procura o próprio interesse, mas trabalha para garantir a segurança daqueles que estão sob sua responsabilidade. Para garantir a segurança das ovelhas, de todas as ovelhas e não somente daquelas que já estão sob os seus cuidados o bom pastor põe em risco a própria vida: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas, Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor”.

Esse é o modelo de pastor que leva Pedro a fazer sua declaração de fé: Pedro, cheio do Espírito Santo, disse: 'Chefes do povo e anciãos: hoje estamos sendo interrogados por termos feito o bem a um enfermo e pelo modo como foi curado. Ficai, pois, sabendo todos vós e todo o povo de Israel: é pelo nome de Jesus Cristo, de Nazaré. Jesus é a pedra, que vós, os construtores, desprezastes, em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual possamos ser salvos”.

Em Jesus Cristo, o Pai revelou seu amor incondicional por meio do qual quer nos levar a superar nossas fragilidades integrando-nos à sua família: “Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é”.

A voz de Jesus, bom pastor, não é dirigida a um grupo seleto de pessoas, ou para um número restrito de convidados, antes se destina a todos sem exceção e a condição para fazer parte do seu grupo é ouvir e reconhecer a voz do único e verdadeiro pastor, o que implica em percorrer os caminhos com Ele não ter medo de entregar a vida para ajudar os demais.

Distanciamo-nos dois milênios das palavras de Jesus isso, no entanto, não deveria ser motivo para permitir que nossa história fosse construída apenas com um verniz cristão. Entre nós, não são poucos, pastores e ovelhas, que se declaram cristãos, mas defendem atos bárbaros de terrorismo, uso e porte indiscriminado de armas, capitalismo selvagem colocando os valores econômicos acima da defesa e cuidado da vida. Muitos se dizem religiosos ao mesmo tempo em que dificultam o acesso aos bens e serviços religiosos, excluem aqueles que pensam e se comportam de maneira diferente. Nem sempre na construção das nossas relações humanas, sociais e religiosas a figura do Bom Pastor é a referência fundamental nem tampouco Jesus e o seu evangelho são colocados como a Pedra Fundamental da construção.

Apesar disso o exemplo dos primeiros discípulos deve nos sugerir que apesar dos ventos contrários Jesus não nos deixa sozinhos entregues às nossas próprias forças, o Bom Pastor continua nos ajudando, animando e protegendo sempre que o desânimo e a frustração parecem superar nossa esperança.

Não tenhamos medo assim diz a oração da missa de hoje: “Deus eterno e todo poderoso, conduzi-nos à comunhão das alegrias celestes, para que o rebanho possa atingir apesar da sua fraqueza a fortaleza do pastor”.

quarta-feira, 14 de abril de 2021

HOMILIA PARA O DIA 18 DE AGOSTO DE 2021 - 3º DOMINGO DA PASCOA - ANO B

 

FAZEI BRILHAR O ESPLENDOR DE VOSSA FACE

A palavra de Deus proclamada nas celebrações do tempo pascal narram com riqueza de detalhes as aparições de Jesus que se manifesta ressuscitado. Mostrar as feridas, comer com os discípulos, caminhar junto, entrar no lugar onde estavam reunidos, tudo isso é importante para ajudar compreender a ideia central destas narrativas.

Seja para os discípulos de outrora, seja para cada um de nós o que é realmente importante não são os detalhes dos acontecimentos, mas a experiência feita pelos discípulos: Todas as narrativas tem como fato fundamental o “encontro vivo com Jesus Vivo”.

Todo o ensinamento que os discípulos ainda não haviam compreendido começa a ficar cada dia mais claro e a comunidade que vai se construindo tem em Jesus o centro de toda a sua fé e por causa disso está aberta ao diálogo, a partilha, a escuta da Palavra.

Reconhecendo Jesus que ressuscitou dos mortos aqueles que lhe seguem tem o dever de ser testemunha do tudo o que viu e ouviu: “Então Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras, e lhes disse: 'Assim está escrito: O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia e no seu nome, serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sereis testemunhas de tudo isso”.

Quando se trata de coragem para dar testemunho da ressurreição de Jesus a atitude de Pedro na primeira leitura é suficientemente inspiradora: “Pedro se dirigiu ao povo, dizendo: O Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó, o Deus de nossos antepassados glorificou o seu servo Jesus”. Depois de fazer essa declaração corajosa Pedro confirma o seu testemunho e convida aqueles que ainda não o conhecem a aceitarem a proposta que Ele está lhe fazendo: Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos!

E ser testemunha de Jesus consiste em compreender o que João fala na segunda leitura: Se alguém diz: Eu conheço a Deus', mas não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele. Naquele, porém, que guarda a sua palavra, o amor de Deus é plenamente realizado.

Dar testemunho de Jesus implica caminhar nas fragilidades cotidiana acreditando naquilo que o padre diz na oração inicial: “Que o vosso povo sempre exulte pela sua renovação espiritual, para que, tendo recuperado agora com alegria a condição de filhos de Deus espere com confiança o dia da sua ressurreição”.

 

 

 

 

 

sexta-feira, 9 de abril de 2021

HOMILIA PARA O DIA 11 DE ABRIL DE 2021 - 2º DA PÁSCOA - ANO B

 

DAR E RECEBER PERDÃO E MISERICÓRDIA

São João Paulo II, institui a festa da Divina Misericórdia determinando a sua celebração no segundo domingo da páscoa. A Palavra de Deus que se proclama neste domingo “traça o caminho da misericórdia que, enquanto reconstrói a relação de cada um com Deus, suscita também entre as pessoas novas relações de fraterna solidariedade”.

No evangelho, Jesus Ressuscitado, aparece aos discípulos apontando canais de misericórdia: “A paz esteja convosco Como o Pai me enviou, também eu vos envio'. E depois de ter dito isto, soprou sobre eles e disse: 'Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”.

Jesus se apresenta como o centro de toda a comunidade de seguidores e para onde deve convergir toda a vida daqueles que acreditam. Tomé representa todos os que tem dificuldade de reconhecer na comunidade a pessoa de Jesus ressuscitado. Obviamente que ele está fechado em si mesmo, não está em comunhão com os demais, mas ao mesmo o grupo dos discípulos não foi capaz de dar um testemunho convincente do encontro que tiveram com Jesus.

Muitas vezes nossas comunidades fazem esforços significativos para afirmar a fé em Jesus ressuscitado, mas isso ainda é insignificante e incapaz de fazer alguém acreditar nessa absoluta verdade. Dentre os testemunhos que nos faltam um deles  é a prática da misericórdia como nos pede o Papa Francisco: “Vamos nos dirigir confiantes ao Cristo misericordioso e pedir a graça do perdão e do amor que alcance os nossos pecados, mas ao mesmo tempo seja misericordioso com o próximo”.

A primeira leitura é de uma clareza extraordinária quando se trata de colocar em prática a misericórdia: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava como próprias as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum... Entre eles ninguém passava necessidade”. A misericórdia se faz conhecer em gestos concretos de partilha e de comunhão esta talvez seja a forma mais extraordinária de testemunhar a ressurreição de Jesus.

Ou como deixa clara a segunda leitura: “Podemos saber que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. Pois isto é amar a Deus: observar os seus mandamentos”. E todo aquele que se considera filho de Deus tem por missão amar os irmãos e para isso será necessário colocar em prática as mesmas ações de Jesus: “Sejam misericordiosos como o Pai de vocês e misericordioso... aprendam de mim que sou manso e humilde de coração”.

Certamente a Palavra de Deus neste domingo da misericórdia nos sugere responder: Acreditamos mesmo em Jesus vivo em nosso meio? Demonstramos isso com a nossa vida e o nosso testemunho? Somos verdadeiros construtores da paz e do diálogo fraterno em nossas casas e comunidades?

 

Jesus manso e humilde de coração: Fazei o nosso coração semelhante ao vosso!

sexta-feira, 19 de março de 2021

HOMILIA PARA O DIA 21 DE MARÇO DE 2021 - 5º DOMINGO DA QUARESMA - ANO B

 

SEGUIR E SERVIR, DUAS FACES DA MESMA MOEDA

Acordo de cavalheiro, contrato de parceria, cooperação mútua , ações conjuntas, medidas articuladas, são expressões que ganharam força nos últimos meses em todos os segmentos da sociedade.  As instituições, as igrejas, os empresários, os sindicatos, o poder público, sabem muito bem que quando se somam as forças e se foca em um objetivo comum as ações costumam ser mais eficazes e duradouras.

Essa prática não é uma invenção da nossa época e nem uma solução mágica desenvolvida em algum laboratório de alta tecnologia contemporânea.  É desta situação que se pode compreender a Palavra de Deus neste 5º domingo da quaresma.

O profeta Jeremias, que exerceu sua missão em torno dos anos 600 antes de Cristo, fala exatamente de cooperação mútua, contrato de parceria: “Eis que virão dias, diz o Senhor, em que concluirei com a casa de Israel e a casa de Judá uma nova aliança; hei de inscrevê-la em seu coração; serei seu Deus e eles serão meu povo, perdoarei sua maldade, e não mais lembrarei o seu pecado”.  Naturalmente que quem recebe uma proposta de cooperação desta envergadura precisa dar uma contrapartida, que no caso significa pensar e agir de acordo com essas propostas trata-se de se deixar transformar a partir do coração. Não são regras, normas, leis, prescrições que vão garantir a parceria, mas a determinação e a coragem para um novo estilo de vida, que vai se realizar plenamente na pessoa de Jesus.

A carta aos Hebreus faz conhecer a humanidade de Jesus que se solidariza com os sofredores do seu tempo e se concretiza no diálogo e na comunhão com as diferenças e os diferentes: “Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, aprendeu o que significa a obediência a Deus, tornou-se causa de salvação eterna”.  O jeito de ser e agir de Jesus são um caminho possível para todos também para os nossos desafiadores dias e exigentes necessidades contemporâneas.

Ver Jesus, sem sombra de dúvida é uma coisa extraordinária, quando os discípulos apresentam o pedido dos estrangeiros: “gostaríamos de ver Jesus” a resposta é pronta e imediata. Jesus não se furta da possibilidade de se dar a conhecer, entretanto deixa claro que “ver” implica muito mais do que um encontro casual, antes se completa com duas ações expressas nos dois verbos: Seguir e servir!

Todo aquele que deseja ver Jesus é desafiado a fazer a mesma experiência que ele fez: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre,
ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto. Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me”.

A proposta de Jesus implica estabelecer um acordo de cooperação, uma parceria de ajuda mútua doar a vida e servindo as pessoas num diálogo fraterno e num compromisso de unidade na diversidade. Não trancar-se somente em si e nas suas verdades, antes abrir os olhos e o coração para que todos possam reconhecer em nós e em nossas ações que também podem ver e encontrar Jesus que liberta e salva toda a humanidade.

(Concluir com o hino da Campanha da Fraternidade)

 

sexta-feira, 12 de março de 2021

HOMILIA PARA O DIA 14 DE MARÇO DE 2021 - 4º DOMINGO DA QUARESMA - ANO B

 

ENCONTRAR-SE COM JESUS CRISTO VIVO

Uma das coisas mais sofridas neste tempo de isolamento social tem sido a impossibilidade de encontrar pessoas. Por mais que as tecnologias de informação e comunicação nos colocaram em contato intenso, falta o dinamismo do encontro pessoal e caloroso das relações familiares e sociais. O Papa Bento XVI, durante a conferência de Aparecida declarou:  A fé não nasce de uma grande ideia, mas de um encontro vivo com Jesus vivo”.  E de fato isso é o que percebemos no trecho do evangelho  desse domingo que narra a sequência do encontro de Jesus com Nicodemos. Nicodemos, embora fazendo parte do grupo dos fariseus fosse às escondidas ver Jesus e desse encontro nasce toda a catequese  e a liturgia sobre a intenção de Deus: “Deus enviou o seu Filho ao mundo para que o mundo seja salvo por ele”.  Como Nicodemos, também nós somos convidados a encontrar Jesus e aprender com Ele o caminho da entrega e do dom da vida.

A catequese que Jesus transmite a Nicodemos comparando-se com  a serpente levantada no deserto por Moisés aponta para a busca mais extraordinária de todo o ser humano: “A salvação e a vida eterna”.  Esta conquista a pessoa não realiza simplesmente por declarações racionais de fé, mas aprendendo com Jesus a encarar as cruzes e os sofrimentos que a vida lhe apresenta. Não ter medo de ir ao encontro de Jesus e de mudar as próprias referências que muitas vezes ainda hoje estão em busca de soluções fáceis e imediatas. Encontrar Jesus e nele crer implica em um novo nascimento.

Novo nascimento que já tinha sido proposto ao povo do Antigo Testamento.  Quando se escolhe os próprios caminhos o horizonte que se descortina é a própria morte, porém quando se decide voltar para Deus abre-se aí a possibilidade de recomeçar e refazer a vida por um caminho de esperança como se vê no final da primeira leitura: “O Senhor, Deus do céu, encarregou-me de lhe construir um templo em Jerusalém, que está no país de Judá. Quem dentre vós todos, pertence ao seu povo? Que o Senhor, seu Deus, esteja com ele, e que se ponha a caminho”. O Deus de Israel não compactou com o pecado do seu povo, mas foi compassivo com a sua gente e deste encontro surge uma nova cidade e um novo templo.

Paulo garante a comunidade de Éfeso que o amor de Deus por suas criaturas é incondicional e desmedido e por meio desse amor garante a todos um mundo novo de felicidade sem fim e que se descortina ao final de nossa breve existência terrena: Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo. É por graça que vós sois salvos! Deus nos ressuscitou com Cristo e nos fez sentar nos céus em virtude de nossa união com Jesus Cristo. Assim, pela bondade, que nos demonstrou em Jesus Cristo Deus quis mostrar, através dos séculos futuros, a incomparável riqueza da sua graça”.

Por tudo isso é que rezamos no Salmo: “Que se prenda a minha língua ao céu da boca, se de ti Jerusalém, eu me esquecer”!

 

 

quinta-feira, 4 de março de 2021

HOMILIA PARA O DIA 07 DE MARÇO DE 2021 - 3º DOMINGO DA QUARESMA - ANO B

 

O NOSSO DEUS É UM DEUS CUIDADOR

Poucas vezes na vida nos confiamos tanto aos cuidados de Deus como nessa longa noite escura que estamos vivendo.  A expressão Deus cuide de Você, ou sob os cuidados de Deus, e ainda estamos nas mãos de Deus são repetidas com uma frequência nunca vista. Na verdade Deus sempre cuidou das pessoas e isso podemos perceber com clareza nas leituras desse domingo.

O texto do livro do êxodo apresenta uma relação de atitudes que servem de baliza para qualquer pessoa que precisa de cuidado e que, igualmente, se propõe a cuidar. E a dimensão do cuidado tem três eixos muito claros: a relação das pessoas entre si, a relação da pessoa consigo mesma e a relação com Deus.

O texto traz uma originalidade que nenhuma outra religião ou divindade se reserva: “Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, Não te prostrarás diante destes deuses, Não pronunciarás o nome do Senhor teu Deus em vão, Lembra-te de santificar o dia de sábado”. Essas quatro regras deixam muito claro que Deus é a única referência na vida do povo.

As outras seis prescrições podem ser descritas como a constituição de um povo. Todas elas fazem referência ao respeito da pessoa pelo outro e consequentemente respeito para si mesmo.

Note-se que essas regras foram dadas logo depois que o povo se libertou da escravidão do Egito. Elas não são novas regras para coloca-los de novo num regime de servidão, pelo contrário, são balizas necessárias para garantir que a liberdade conquistada, a duras penas, não seja perdida.

Ontem como hoje não faltam oportunidades para nos deixar escravizar por deuses estranhos: dinheiro, poder, afetos, profissão, status, interesses egoístas, ideologias, moda e uma infinidade de outros em relação aos quais condicionamos nossos comportamentos. Em resumo colocar em prática os ensinamentos não é se sujeitar a uma série de regras e normas, mas ir construindo, passo a passo a própria liberdade.

São Paulo fala aos coríntios: “Nós, porém, pregamos Cristo crucificado, pois o que é dito insensatez de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é dito fraqueza de Deus é mais forte do que os homens”. Esta afirmação implica compreender que nenhuma realização e nenhuma felicidade duradoura está no poder, na autoridade, na riqueza, mas na lógica da doação da vida até as últimas consequências, ou seja, no serviço e no diálogo fraterno com todos.

No Evangelho Jesus entra num ambiente cuja finalidade deveria ser a promoção do encontro com Deus e com as pessoas, mas o Templo de Jerusalém já não cumpre mais a missão para a qual foi construído: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio! 'O zelo por tua casa me consumirá”. A continuação das palavras de Jesus não deixa dúvidas que as autoridades dos judeus não tinham apenas profanado o Templo de pedra, mas também o templo humano. Fazendo uma alusão que só foi ser compreendida mais tarde, Jesus afirma: “Destruí, este Templo, e em três dias o levantarei”.

Se tem uma coisa que precisa ficar clara para todos é que Deus não se conforma enquanto as pessoas forem profanadas e escravizadas por quem quer que seja ou por qualquer razão que seja.

Uma vez batizados, todos fazemos parte do mesmo corpo de Jesus. Num mundo em que as pessoas são feridas, cicatrizadas, humilhadas pela fome, pela miséria, pelas doenças, pela intolerância todos somos chamados a transformar os verdadeiros templos em lugar onde mora Deus, e para isso será necessário garantir o cuidado, o respeito e a honra de todos em todos os lugares.

Que esta quaresma e o dialogo fraterno que nos ensina a Campanha da Fraternidade nos faça construtores e amantes dos Templos de Deus com quem convivemos diariamente.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 28 DE FEVEREIRO DE 2021 - 2º DOMINGO DA QUARESMA - ANO B

 

VIDA EM PLENITUDE É A VONTADE DE DEUS

Acostumar-se com as coisas boas da vida é fácil, difícil é cair na real! Esta frase certamente já foi usada muitas vezes em nossas lidas diárias. E ela sempre quer significar que o nosso cotidiano é sempre muito exigente e que não podemos cruzar os braços e esperar que as soluções caíssem com o a chuva das nuvens.

Pois foi esse o sentimento dos três amigos de Jesus quando se deram conta que no alto da montanha Deus se deu a conhecer nos sinais extraordinários que se realizaram com Jesus na conversa com Moisés e Elias, com a transfiguração e a revelação misteriosa vinda das nuvens: “Então desceu uma nuvem e os encobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: 'Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz”.

Os sinais extraordinários que envolveram Jesus os discípulos na montanha tem por objetivo mostrar como Deus vai realizar maravilhas com a humanidade, mas eles são apenas simbólicos, porque na realidade a salvação passa pela doação da vida, pela cruz e pelo sofrimento. Não é aconselhável acampar na montanha imaginando que a vida será sempre triunfante. Aos discípulos assustados Jesus deixa claro que compreender e entrar nos mistérios de Deus consiste em ouvir a Palavra do seu Filho e não ter medo de descer da montanha e encarar os desafios e surpresas que a vida nos prepara a cada dia.

Desafios e surpresas que Abraão soube com maestria ouvir, e mesmo sem entender estar disposto a realizar. A história de Abraão e do seu filho é a interpretação de uma antiga lenda na qual a divindade havia salvado a vida de uma criança que tinha sido destinada ao sacrifício.  A lenda foi aplicada à pessoa de Abraão que por sua fidelidade a Deus pode experimentar a sua misericórdia e fidelidade recíproca. Seguir a Deus com todas as forças e com todo o coração garantiu ao Patriarca a vida do próprio filho como pode garantir a vida de todos os que agem como Abraão.

Paulo Lembra aos romanos que Deus ama a humanidade com um amor tão extraordinário que tal como Abraão não se recusou a entregar o próprio Filho para mostrar o caminho da vida verdadeira: “Se Deus é por nós, quem será contra nós”? Quem acusará os escolhidos de Deus? Jesus Cristo, que morreu, mais ainda, que ressuscitou, e está, à direita de Deus, intercedendo por nós”.

Não tenhamos medo a luz de Deus ilumina nosso caminho na descida das montanhas da vida, nos leva a dignificar a vida sofrida que a realidade cotidiana nos impõe. Não precisamos ter medo e  tentar fugir da realidade  amando tendas no passado ou nas falsas seguranças do mundo. Ouvir o Filho amado implica retomar sempre o dia a dia da vida com todas as suas exigências. Trata-se de se comprometer com as pessoas e com todas as lutas diárias por meio da fraternidade e do dialogo que são um compromisso de amor.

Descer da montanha é o  que  rezamos no Salmo deste domingo:

Andarei na presença de Deus,
junto a ele na terra dos vivos.
Guardei a minha fé, mesmo dizendo:
'É demais o sofrimento em minha vida!'

Vou cumprir minhas promessas ao Senhor*
na presença de seu povo reunido;
nos átrios da casa do Senhor,
em teu meio, ó cidade de Sião!

 

 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 21 DE FEVEREIRO DE 2021 - 1º DOMINGO DA QUARESMA - ANO B

 

COM JESUS NOS DESERTOS DA VIDA

No Evangelho deste domingo nós lemos: “Jesus foi para o deserto durante quarenta dias, e ali foi tentado por Satanás. Vivia entre os animais selvagens, e os anjos o serviam”. Convenhamos que muitas vezes nós nos encontramos em “desertos da vida” e exatamente nestas situações experimentamos o máximo de nossa fraqueza, ou seja, todas as tentações possíveis e imagináveis, mas são também nestas horas que provamos todas as nossas forças e auxílios inimagináveis. Em outras palavras somos servidos pelos anjos.

A primeira leitura conta a relação de Deus com a humanidade depois do restabelecimento da aliança e da destruição do pecado que corrompia o mundo e todas as pessoas. Deus mostra sua face misericordiosa conversa fraternalmente com as criaturas e confirma sua disposição de acompanhar todos os passos da humanidade renascida pelas águas do dilúvio: “Estabeleço convosco a minha aliança. 'Este é o sinal da aliança que coloco entre mim e vós, e todos os seres vivos que estão convosco, por todas as gerações futuras. Ponho meu arco nas nuvens como sinal de aliança entre mim e a terra. Quando eu reunir as nuvens sobre a terra, aparecerá meu arco nas nuvens. Então eu me lembrarei de minha aliança convosco e com todas as espécies de seres vivos. E não tornará mais a haver dilúvio que faça perecer nas suas águas toda criatura”. O texto é uma palavra de esperança para a humanidade e mostra a bondade e a disposição de Deus que por meio do seu arco abraça e abençoa a humanidade.

Vencendo todas as tentações do deserto Jesus deixa claro que a nova humanidade não nasce das fraquezas e do pecado, pelo contrário, nasce da solidariedade e da comunhão com todos simbolizados nos “anjos que o serviam”. Dirigindo-se aos discípulos fala também a nós: 'O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”.  Passada a provação do deserto Jesus não teve uma vida fácil e livre de outras tentações e provações. Ao longo de todo o seu ministério ele se viu provocado por muitas outras situações que se assemelham ao deserto no início da missão.  

Com ele podemos aprender que a proximidade do Reino de Deus não é um acontecimento mágico, que se concretiza caindo do céu, nem tampouco marcado pela violência e pela construção de muros, antes pelo acolhimento do evangelho, pelo diálogo fraterno entre aqueles que convivem nos mesmos espaços e que pensam diferente de nós.

A concretização do Reino de Deus pede de cada pessoa um processo diário de conversão, de renuncia aos próprios interesses e a autossuficiência. Modificar nossa mentalidade, nossos valores e atitudes. Em resumo deixar-se ajudar pelos anjos que quase sempre estão próximos de nós nas pessoas com quem convivemos.

A carta de Pedro faz uma releitura do diluvio afirmando: “A arca corresponde o batismo, que hoje é a vossa salvação. Pois o batismo não serve para limpar o corpo da imundície, mas é um pedido a Deus para obter uma boa consciência, em virtude da ressurreição de Jesus Cristo. Ele subiu ao céu e está à direita de Deus, submetendo-se a ele anjos, dominações e potestades”.

Esta leitura recorda que o Batismo é para os cristãos a aceitação da salvação que Cristo veio trazer. Uma vez batizados somos inseridos no dinamismo de uma vida nova que é o germe da humanidade renovada.

Se tem uma conclusão que pode ser útil para todos nesta quaresma consiste em perceber que a salvação trazida por Jesus não exclui ninguém, nem mesmo os pecadores obviamente que também os cristãos são convidados a praticar as mesmas ações de Jesus. Colocar nossa confiança nele e testemunhar com a vida os valores do evangelho.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 17 DE FEVEREIRO DE 2021 - 4ª FEIRA E CINZAS - ANO B

 

DEIXEMO-NOS RECONCILIAR

Guiados, pela oração, pelo Jejum, pela abstinência e caridade iniciemos nossa caminhada para a páscoa que neste ano nos convida a construir pontes e abrir-se para o diálogo com o diferente.

Não temos necessidade de tocar trombeta por nossos grandes feitos, o conselho do Evangelho para esse início de quaresma é a sutileza dos pequenos gestos. Buscar aplausos e reconhecimento pode ser sinal de quem está interiormente vazio. Que durante a quaresma sejamos libertos da tentação de exibir nossas obras para ganhar elogios.

Nesta quaresma aproximemo-nos com a consciência de nossa fraqueza, porém com a confiança da misericórdia de Deus deste modo não tenhamos medo de percorrer um caminho de esperança que se faz pelo diálogo.

Não tenhamos medo das diferenças, daquilo que era dividido Cristo fez unidade, e essa é a proposta da quaresma e da Campanha da Fraternidade.

Permitindo que se realize em nossas igrejas e na sociedade um novo pentecostes capaz de superar as polarizações e violências por meio de um diálogo construído na diversidade.

Dentre as formas para viver a espiritualidade da quaresma uma delas é a prática do Jejum. O Profeta Isaias descreve o Jejum que agrada a Deus:

Desatar os laços da maldade, desamarrar as correias que oprimem as pessoas; Partilhar o teu pão com o faminto; Acolher os pobres sem abrigo vestir aquele que está nu; Então a tua luz despontará como a aurora; Tua justiça caminhará diante de ti e a glória do Senhor será a tua retaguarda (Isaias 56, 6 -8).

E o Papa Francisco sugere:

. Jejum de palavras negativas e dizer palavras bondosas.
• Jejum de descontentamento e encher-se de gratidão.
• Jejum de raiva e encher-se com mansidão e paciência.
• Jejum de pessimismo e encher-se de esperança e otimismo.
•Jejum de preocupações e encher-se de confiança em Deus.
• Jejum de queixas e encher-se com as coisas simples da vida.
• Jejum de tensões e encher-se com orações.
• Jejum de amargura e tristeza e encher o coração de alegria.
• Jejum de egoísmo e encher-se com compaixão pelos outros.
• Jejum de falta de perdão e encher-se de reconciliação.

• Jejum de palavras e encher-se de silêncio para ouvir os outros.

HOMILIA PARA O DIA 14 DEFEVEREIRO DE 2021 - 6º COMUM - ANO B

 

AMAR COMO JESUS AMOU...

Uma das coisas mais bonitas das nossas comunidades é a variedade de canções, orações, e manifestações de piedade que repetem insistentemente nossa aceitação dos ensinamentos de Jesus: “Amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, sorrir como Jesus sorria, viver como Jesus vivia... e ao chegar ao fim do dia eu sei que eu dormiria muito mais feliz”. Será que algumas vezes já paramos para pensar a intensidade das palavras que cantamos? Que implicação tem para a nossa vida fazer uma declaração pública com essas palavras?

Pois o Evangelho desse domingo traz mais uma vez a resposta apontando caminhos para quem quer ser discípulo de Jesus e chegar ao fim do dia podendo colocar a cabeça no travesseiro e dormir com a consciência tranquila. Vejamos: “Um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: 'Se queres tens o poder de curar-me'. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: 'Eu quero: fica curado”.

Não precisamos de muitas justificativas para perceber que o leproso era uma pessoa deixada à margem da sociedade e a resposta de Jesus não se pauta na prática habitual e legal de outrora: “Cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele”.

O dia a dia dos conterrâneos de Jesus tinha como bússola para suas ações a lei de Moisés conforme se lê no livro do Levítico: Quando alguém tiver na pele do seu corpo alguma inflamação, erupção ou mancha branca, com aparência do mal da lepra, será levado ao sacerdote Aarão, ou a um dos seus filhos sacerdotes... Durante todo o tempo em que estiver leproso será impuro; e, sendo impuro, deve ficar isolado e morar fora do acampamento”. Os israelitas tinham construído uma imagem de Deus muito diferente daquela que agora Jesus revelava. Em nome de um Deus vingativo e excludente criaram para as pessoas e a sociedade muitas maneiras de discriminação e de rejeição.

Na sociedade atual, em nossa prática eclesial, e certamente no íntimo de nosso coração podemos facilmente selecionar uma lista infinita de preceitos legais que nos autorizam excluir a discriminar as pessoas.

O fantasma da “lepra” contemporânea salta aos nossos olhos disfarçado pelo desemprego, pela droga, miséria, fome, racismo, fobias, normas religiosas excludentes. A infinita lista da “lepra” contemporânea pede de nós a coragem do leproso do Evangelho e a capacidade de nos ajoelhar diante de Jesus e repetir: “Se queres tens o poder de purificar-me”.  Ao mesmo tempo somos chamados a agir com a compaixão do Mestre aproximar-se dos necessitados e excluídos, tocar neles e romper todas as barreiras discriminatórias.

Isso significa colocar em prática os conselhos de São Paulo:Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus. Não escandalizeis ninguém, nem judeus, nem gregos, nem a igreja de Deus. Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo”.  Imitar Cristo implica em fazer de sua vida um dom de amor e de serviço em favor da vida e da dignidade das pessoas.

É verdade que não faltam em nossa Igreja e comunidades iniciativas extraordinárias de promoção e de acolhimento, entre os agentes pastorais, e os movimentos de Igreja. Neste tempo de pandemia, não poucos profissionais arriscam a própria vida para salvar e facilitar a recuperação de doentes.

Nunca é demais recordar a figura de Dom Helder Câmara, que foi bispo de Olinda e Recife e residia na Sacristia da Igreja onde acolhia moradores de rua para o café da manhã. Ele tinha consciência de não resolver a questão da pobreza e da mendicância. Entretanto, sem deixar de alimentar os famintos dizia: “Quando dou de comer aos pobres me chamam de Santo, quando pergunto pelas causas da pobreza, me chamam de comunista”.

Amar como Jesus amou...

AMAR COMO JESUS AMOU...

Uma das coisas mais bonitas das nossas comunidades é a variedade de canções, orações, e manifestações de piedade que repetem insistentemente nossa aceitação dos ensinamentos de Jesus: “Amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, sorrir como Jesus sorria, viver como Jesus vivia... e ao chegar ao fim do dia eu sei que eu dormiria muito mais feliz”. Será que algumas vezes já paramos para pensar a intensidade das palavras que cantamos? Que implicação tem para a nossa vida fazer uma declaração pública com essas palavras?

Pois o Evangelho desse domingo traz mais uma vez a resposta apontando caminhos para quem quer ser discípulo de Jesus e chegar ao fim do dia podendo colocar a cabeça no travesseiro e dormir com a consciência tranquila. Vejamos: “Um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: 'Se queres tens o poder de curar-me'. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: 'Eu quero: fica curado”.

O fantasma da “lepra” contemporânea salta aos nossos olhos disfarçado pelo desemprego, pela droga, miséria, fome, racismo, fobias, normas religiosas excludentes. A infinita lista da “lepra” contemporânea pede de nós a coragem do leproso do Evangelho e a capacidade de nos ajoelhar diante de Jesus e repetir: “Se queres tens o poder de purificar-me”.  Ao mesmo tempo somos chamados a agir com a compaixão do Mestre aproximar-se dos necessitados e excluídos, tocar neles e romper todas as barreiras discriminatórias.

Nunca é demais recordar a figura de Dom Helder Câmara, que foi bispo de Olinda e Recife e residia na Sacristia da Igreja onde acolhia moradores de rua para o café da manhã. Ele tinha consciência de não resolver a questão da pobreza e da mendicância. Entretanto, sem deixar de alimentar os famintos dizia: “Quando dou de comer aos pobres me chamam de Santo, quando pergunto pelas causas da pobreza, me chamam de comunista”.

 

 

 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 07 DE FEVEREIRO DE 2021 - 5º DOMINGO COMUM - ANO B

 ELE CONFORTA OS CORAÇÕES

Não é necessário muito esforço para selecionar entre os fatos que tomamos conhecimento ao longo de um dia para se chegar à conclusão que a vida é muito difícil e que estamos mergulhados em um mar de sofrimento, de dor e algumas vezes de desilusão. É sobre essa realidade em que viviam as pessoas ao longo do tempo que tratam as leituras da Palavra de Deus desse domingo.

Notemos as primeiras expressões do livro de Jó: “Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra? Seus dias não são como dias de um mercenário? Como um escravo suspira pela sombra, como um assalariado aguarda sua paga, assim tive por ganho meses de decepção, e couberam-me noites de sofrimento”.

E o Evangelho começa com uma situação difícil: “Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, para a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama, com febre... depois do pôr-do-sol, levaram a Jesus todos os doentes e os possuídos pelo demônio. A cidade inteira se reuniu em frente da casa”.

Entretanto, em ambos os casos e ao longo de toda a história humana Deus é apresentado conforme rezamos no salmo: “Louvai a Deus, porque ele é bom e conforta os corações. Ele conforta os corações despedaçados, ele enfaixa suas feridas e as cura; O Senhor Deus é o amparo dos humildes”.

Na primeira leitura Jó descreve seu sofrimento, amargura e desilusão não como quem faz um relato jornalístico, antes apresenta tudo àquele que é a única esperança certo de que fora d’Ele não existe possibilidade de vencer qualquer tipo de provação e de dor: “Lembra-te de que minha vida é apenas um sopro e meus olhos não voltarão a ver a felicidade”.

No evangelho Jesus se apresenta como a realização do salmista: “É grande e onipotente o nosso Deus seu saber não tem medida nem limites”.  Ele vai à casa da sogra de Pedro que representa todas as pessoas caídas, e sofridas que são descritas na primeira leitura.  Essas pessoas precisam estar de pé e saudáveis.  Deus não é daqueles que olha os problemas e sofrimentos de longe, na pessoa de Jesus, Ele se aproxima mostra seu interesse chega perto, olha nos olhos, toma pela mão e ergue.  Como no domingo passado, vemos mais uma vez que Jesus age com autoridade, ele estimula as pessoas a não ficarem presas aos sofrimentos e dores. Sua ação e suas palavras modificam a realidade sofrida: Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios. E não deixava que os demônios falassem” A ação de Jesus sugere que os discípulos sejam continuadores dessa missão que revela a presença de Deus agindo nas pessoas para continuar a tarefa libertadora começada por Jesus.

Na carta aos coríntios São Paulo fala com sutileza dos sofrimentos a que todos estão sujeitos e afirma que ele mesmo se igualou a todos os sofredores e excluídos: Com os fracos, eu me fiz fraco, para ganhar os fracos. Com todos, eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns. Por causa do evangelho eu faço tudo, para ter parte nele”.

Tal como Paulo e os outros discípulos e o testemunho de homens e mulheres ao longo do tempo, também nós somos chamados a testemunhar a proposta libertadora que Jesus para o mundo.  Não podemos nos deixar guiar interesses pessoais, mas pelo amo a Deus ao Evangelho e às pessoas.  Tal como a sogra de Pedro, ou como São Paulo somos chamados a nos colocar a serviço das multidões de sofredores que estão ao redor de nossas casas e por toda a região.