terça-feira, 26 de julho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 31 DE JULHO DE 2022 - 18º COMUM - ANO C

 

DAI AO NOSSO CORAÇÃO, SABEDORIA!

Algumas realidades cotidianas são muito simples e nos dão a ilusão de extraordinárias. Um dos exemplos é a diferença entre a janela e o espelho. A primeira por sua transparência permite que se veja o mundo exterior com a clareza que ele tem. Se uma fina camada de prata for aplicada no lado externo do vidro a gente só consegue enxergar a si mesmo e corre o risco de realizar consigo o mito de Narciso que morreu de sede admirando a própria beleza espelhada no fundo da água.

Em nosso cotidiano não são poucas as vezes que nos iludimos admirando e supervalorizando as próprias conquistas, realizações, feitos extraordinários e até riquezas acumuladas e que muitas vezes anoitecem e não amanhecem. São comparados a riscos na camada de prata do espelho, impedem de enxergar as próprias realizações e não permitem de ver para além do próprio reflexo.

No Evangelho desse domingo temos duas lições para ser aprendidas e que mostram como as riquezas acumuladas se comparam ao espelho. No primeiro caso é um fato real que trata da divisão de bens entre irmãos herdeiros. No segundo caso é uma parábola sobre a insensatez de quem gasta todas as forças para acumular tesouros que desaparecem tão rápido como chegam: “E disse Jesus: Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens... louco! Ainda esta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste? ’ Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus”. Nos dois casos o que estava em jogo era o apego excessivo aos bens materiais que em nenhuma situação respondem as mais profundas necessidades humanas! Quando temos nossa preocupação centrada nessas coisas que podem desaparecer rapidamente construímos deuses que desumanizam, ou seja passamos uma fina camada de prata na janela de nossa vida, transformando-a num falso espelho de felicidade. Sempre que agimos assim não temos escrúpulo de explorar, escravizar, cometer injustiças contra quem quer que seja tudo em nome de “ampliar a própria riqueza”.

O livro do Eclesiastes, de onde é tirada a primeira leitura desse domingo é todo ele uma crítica à maneira tola de viver a vida cuja existência termina num piscar de olhos: “Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade”. Por exemplo: um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso, vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou. Também isso é vaidade e grande desgraça”. As constatações do autor desse livro se assemelham às afirmações dos filósofos existencialistas modernos quando afirmam que a vida humana não tem nenhum sentido na medida em que a pessoa vive pensando só na efêmera realidade terrestre.

Para onde vai a nossa vida, se não tiver o horizonte em Deus? Ele é a única razão a qual se pode ver mediante a janela da nossa existência terrena. Daí sim tem razão o salmo que rezamos: “Ensinai-nos a contar os nossos dias, / e dai ao nosso coração sabedoria! / Senhor, voltai-vos! Até quando tardareis? / Tende piedade e compaixão de vossos servos”

Na segunda leitura São Paulo faz um convite para que todos nos identifiquemos com Cristo e deixemos os ‘deuses’ que construímos através do espelho das nossas falsas seguranças: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus”.

Peçamos a graça de nunca cruzar os braços e nos iludir fazendo de conta que não precisamos enxergar além das nossas próprias seguranças. É certo que elas são efêmeras e apenas espelham a própria fragilidade. Façamos de nossa vida o que cantamos no salmo de hoje:

Vós fostes, ó Senhor, um refúgio para nós.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 24 DE JULHO DE 2022 - 17º COMUM - ANO C

 

VENHA A NÓS O SEU REINO

Dentre as historietas que minha mãe contava sobre o poder da oração, uma delas era aquela do “menino que viu na parede de casa uma imagem do crucificado e impressionado com o estado deplorável da figura perguntou ao seu pai: “Porque ele está tão triste? Ele está com fome? E o pai respondeu sim, ele está com fome. E o que ele come, perguntou o garoto! Disse-lhe o pai ele se alimenta de reza ele é santo. Então o garoto se lembrou das várias orações que tinha aprendido na catequese e se propôs a alimentar aquela pobre criatura com as suas rezas.

Ora a Palavra de Deus desse domingo é uma catequese sobre o poder e o conteúdo da oração. Abraão e Jesus no são apresentado como modelos de atitude que devemos ter em nossa relação com Deus.

Abraão mantém um diálogo frente a frente com Deus. Ousado, confiante, irreverente apresenta as suas inquietações, suas dúvidas e se mostra aberto para entender e aceitar a vontade de Deus. O núcleo central da oração de Abraão quer nos fazer entender o peso do justo e o peso do pecador diante de Deus: “Abraão disse: “Que o meu Senhor não se irrite, se eu falar só mais uma vez: e se houvesse apenas dez? ” Ele respondeu: “Por causa dos dez, não a destruiria”.

A contagem decrescente do número de justos coloca em destaque a misericórdia e a justiça de Deus e leva a concluir que a vontade de salvar é muito maior que a vontade de perder. Em resumo Deus perdoa sempre, e não por causa do número e do merecimento de uns e de outros.

A oração de Abraão nos ensina que no diálogo com Deus o que conta não é uma repetição de palavras ocas, repetidas como se fosse um papagaio. Nem se trata de uma porção de rezas para alimentar um Deus que se alimenta das nossas orações. Antes, trata-se de um diálogo sincero que coloca nas mãos e no coração de Deus as mais profundas necessidades humanas.

Lucas é o evangelista da oração e coloca Jesus em oração com o Pai todas as vezes que Ele está diante de alguma grande decisão na sua vida. O Evangelho de hoje nos coloca na escola de oração de Jesus, a qual se assemelha à de Abraão. Não se trata de repetir palavras, em Jesus somos convidados a descobrir que Deus é Pai. Quando se trata da oração confiante ao Pai, nos vem aquela afirmação de uma corrente da psicologia familiar que afirma: “Um bom pai não é aquele que dá tudo o que filho pede, mas tudo o que filho precisa”.

Também nós, muitas vezes queremos muitas coisas, mas Deus sabe nos dar tudo aquilo que necessitamos. O alimento da nossa oração mostra um diálogo que vale a pena e que nos leva a apresentar ao Pai uma prece por todos os crucificados do nosso tempo. Iríamos longe na lista dos crucificados pela fome, violência, desemprego, humilhação, e assim por diante.

Nos dirigindo a Deus que é Pai, não apenas se parece ou se compara com um Pai, a oração que Jesus nos ensina leva a considerar duas coisas na conversa com Deus: A forma e o assunto! Mas o aspecto que merece mais atenção é o fato de Jesus ter aconselhado os seus discípulos a reconhecer que Deus é Pai!

São Paulo aos colossenses volta a afirmar que Cristo deve ser colocado como referência fundamental para a nossa vida e que só ele é absolutamente necessário para a nossa salvação. Obviamente que também no que se refere as nossas práticas de piedade e a nosso jeito de rezar, seja na frequência seja na forma.

Reconhecer que Deus é Pai e estabelecer com Ele um diálogo franco, aberto, respeitoso e ousado, que é muito mais do que alimentar a Deus com as orações que aprendemos na catequese.

Nossos antepassados, colonos que desbravaram essas terras e nos deram instrumentos para construir a próspera Itajaí e nos fez passar de ‘Patinho Feio a príncipes encantados’ também nos ensinaram muitas orações que mais do que repetição de palavras consistiam em diálogo franco, sincero e ousado do Deus Pai, por meio de Jesus e de sua mãe Maria.

  Tal como o Pai nosso, é a oração do salmista que fazemos como sendo a nossa oração nesse domingo.

 

segunda-feira, 11 de julho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 17 DE JULHO DE 2022 - 16º COMUM - ANO C

 A ARTE DE SABER ACOLHER

O tempo de isolamento social que nos foi imposto pela pandemia nos pegou de surpresa no meio da correria cotidiana e parecia que iria servir para a frear a agitação e a farsa necessidade de correr atrás do tempo. Terminados os dois anos retomamos a vida com a mesma velocidade estonteante. Continuam as imprudências no trânsito, o final do dia nos deixa derrubados pelo cansaço, não temos tempo para a família, fazemos as refeições às pressas com os nervos à flor da pele quando a internet não alcança a velocidade contratada. Não somos capazes de digerir a paciência com que algumas pessoas encaram a vida. Nesse contexto podemos nos perguntar qual seria nossa disponibilidade para sentar aos pés de Jesus!

Uma leitura desatenta do Evangelho desse domingo nos levaria a colocar em oposição a vida ativa e a vida de oração. No entanto parece claro que a narrativa das duas irmãs sugere outra coisa que significa dar tempo para escutar a Palavra de Jesus como ponto de partida para o serviço, para a ação e para o trabalho de acolhida e comprometimento com as pessoas e suas necessidades.

A resposta de Jesus: Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” significa reconhecer a preciosidade da sua presença, a necessidade de frear nossa corrida contra o tempo e permitir que a Palavra d’Ele seja luz em nosso caminho e força em nossas ações. Estar com Jesus não é mesma coisa que conhecer doutrinas e teorias, mas alimentar-se da essência da vida e então colocar-se na estrada da doação e do serviço às pessoas e ao mundo.

“Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas”. A advertência que Jesus faz para a irmã atarefada não tem o objetivo de dizer que as ações cotidianas não são importantes e necessárias, mas ao mesmo tempo não podem sufocar e impedir a escuta da Palavra! O que Maria tem para nos ensinar significa estar atentos à Palavra e que a partir dela nosso cotidiano ganha novas razões para viver.

Deixemo-nos transformar pelo Mestre, ouvindo e praticando sua Palavra, pondo-nos no mesmo caminho que o dele. Aos seus pés e ouvindo sua Palavra, encontraremos todo o necessário para que nossa vida ganhe sentido aqui e se torne plena no seio de Deus.

O autor do livro do Gênesis, serve-se de uma antiga lenda para mostrar Abrão como um homem íntegro, justo, misericordioso e acolhedor. Abraão deixando suas ocupações corriqueiras dá ouvidos aos estranhos visitantes a quem depois de lhes acolher e ouvir coloca-se a servi-los e recebe como recompensa a realização da promessa que Deus lhe havia feito: “Voltarei, sem falta, no ano que vem, por este tempo, e Sara, tua mulher, já terá um filho”.

A carta aos Colossenses apresenta Paulo igualmente como um homem que colocou como referência fundamental para sua vida Jesus Cristo e sua Palavra: Alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar em minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo, em solidariedade com o seu corpo, isto é, a Igreja. A ela eu sirvo, exercendo o cargo que Deus me confiou de vos transmitir a palavra de Deus em sua plenitude: o mistério escondido por séculos e gerações, mas agora revelado aos seus santos. A estes Deus quis manifestar como é rico e glorioso entre as nações este mistério: a presença de Cristo em vós, a esperança da glória”.

O convite que Paulo faz para a comunidade de Colosso é extensivo a cada um de nós e se assemelha ao convite que Jesus fez a Marta: “Maria escolheu a melhor parte e essa não lhe será tirada”.

Certamente podemos nos perguntar como cristãos e como Igreja como são acolhidas as pessoas em nossas comunidades e famílias, nas repartições públicas, nos hospitais e escolas.

Rezemos e peçamos a graça de compreender e nos colocar abertos à Palavra e aos ensinamentos para então servir melhor!

 



 

segunda-feira, 4 de julho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 10 DE JULHO DE 2022 - 15º COMUM - ANO C

 

FAZER-SE PRÓXIMO PARA GANHAR O REINO

Está à disposição na rede mundial de computadores um pequeno livro que se chama “O Segredo Judaico de resolução de problemas”, o livro descreve que “Ao longo da história, o povo judeu experimentou inúmeras situações de ameaça à sobrevivência, tanto do ponto de vista individual como coletivo. A soma das experiências acumuladas em séculos de ensinamentos resultou em uma visão única do mundo, batizada de "cabeça de judeu". Em poucas palavras o autor afirma que um Judeu nunca responde às suas indagações, mas sempre lhe devolve uma nova pergunta.

Isso é o que se lê no Evangelho desse domingo, quando o doutor da lei faz perguntas para colocar Jesus a prova. Jesus não lhe responde, mas lhe devolve perguntas forçando o interlocutor a tomar uma atitude em relação à própria indagação.

Jesus deixa claro que não se trata de perguntar quem merece ou deixa de merecer esta ou aquela atitude, antes deixa clara a conclusão para dizer que é importante não ficar preocupado sobre quem é o meu próximo, mas aproximar-se da pessoa que necessita.

Na parábola estão 4 personagens, dois deles fiéis cumpridores da lei de Moisés e das normas e leis da religião. De modo muito claro Jesus faz uma crítica aqueles que conhecem a lei, mas não percebem as pessoas necessitadas que estão próximas e à margem da lei e das normas. Religião que honra Deus com palavras, mas não tem um coração compassivo não é uma religião que agrada a Deus.

Também na atualidade, as vítimas da violência e da marginalização, da exclusão e do desprezo estão por todos os lados. Ainda que a solução não seja tão simples e que nem sempre está ao nosso alcance não é correto nos fazer de indiferentes, não é uma atitude cristã fechar os olhos diante do sofrimento e abandono em que vivem tantas pessoas. A verdadeira religião deve nos fazer sentir a dor do outro!

O que Jesus propõe no Evangelho não é outra coisa senão a atualização do texto do Deuteronômio que está na primeira leitura. Lá o autor fala de amar a Deus com todo o coração e cumprindo os seus mandamentos: “Moisés falou ao povo, dizendo: Ouve a voz do Senhor, teu Deus, e observa todos os seus mandamentos e preceitos, que estão escritos nesta lei. Converte-te para o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma”.

São Paulo descreve a figura de Cristo: “Cristo é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois, por causa dele, foram criadas todas as coisas, no céu e na terra, as visíveis e as invisíveis, tronos e dominações, soberanias e poderes. Tudo foi criado por meio dele e para ele! ”

Se acreditamos que Ele é o centro de nossa vida e a partir de quem tudo se realiza, não resta dúvida que nossa única atitude será a de quem escuta e coloca em prática os seus Conselhos: ”Vá você e faça a mesma coisa”!

Quem se dispõe a isso pode cantar com o salmista:

“Os preceitos do Senhor são precisos, alegria ao coração”.

 


sexta-feira, 1 de julho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 03 DE JULHO DE 2022 - SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO - ANO C

 

PERDOAR E ACOLHER

O Evangelho deste domingo é uma conversa amigável entre Jesus e seus discípulos que se conclui com uma pergunta fundamental: “Para Vocês quem sou eu? ” Notemos que a conversa acontece numa região estranha tanto para Jesus quanto dos habitantes em relação a pessoa d’Ele. Fazendo a pergunta crucial Jesus deixa claro que espera dos discípulos uma resposta que brote das suas convicções e não apenas de uma pesquisa de opinião. E toda a conversa se conclui com uma tarefa confiada a Pedro e naturalmente a todos os discípulos: “Eu lhe darei as chaves do Reino dos céus: Tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”. Receber as chaves implica ter a responsabilidade de comunicar o perdão e a reconciliação abrindo as portas para que as pessoas tenham acesso ao Reino de Deus.  

Nesse contexto a Igreja recorda São Pedro e São Paulo, sobre quem os escritos do Novo Testamento permitem reconstruir sua trajetória de vida. Trata-se de duas pessoas apaixonadas por Jesus e por seu projeto. Por força da sua paixão não tiveram medo de enfrentar todas as provações que sua convicção lhes impunha. A liturgia afirma que regaram com seu sangue o terreno onde foi plantada a Igreja.

A pergunta feita por Jesus aos discípulos ecoa em nossos ouvidos e espera de nós uma resposta que implica na atitude de quem está disposto a segui-lo. Ter as chaves significa continuar a missão de Jesus. Ora, no dia do nosso batismo cada um recebeu também as chaves quando o ministro disse: “Você foi batizado para ser Sinal de Jesus Cristo Sacerdote, profeta e pastor”       

Imitar o exemplo dos apóstolos Pedro e Paulo e tantos outros homens e mulheres ao longo da história é muito mais do que emitir uma opinião sobre Jesus, trata-se de um modo de vida. Tal como Pedro a quem Jesus chamou de feliz por ter dado o seu testemunho, também cada um de nós poderá experimentar a mesma felicidade se tivermos a coragem de nos comprometer com Jesus e o seu projeto que nos desafia a caminhar juntos, acolher, perdoar, abrir as portas. Aprendamos com o Papa Francisco quando afirma: “A Igreja não é uma alfândega pastoral” conforme escreveu nessa semana: “Sonho com uma Igreja missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes da Igreja, os modos de fazer as coisas, os tempos e horários, a linguagem e as estruturas sejam evangelizadoras do mundo de hoje. Que a Igreja seja um lugar onde todos possam estar sentados na Ceia do Cordeiro e viver a comunhão com Ele. Abandonemos as polêmicas para ouvirmos o que o Espírito diz a Igreja, mantenhamos a comunhão”.

Nesse contexto rezemos hoje pelo Papa, sucessor de Pedro no cuidado com a Igreja e sejamos solícitos aos seus ensinamentos. Aprendamos com a história da Igreja e com tantas pessoas que respeitaram e amaram os papas e seus ensinamentos. Tal como afirmar o padre Dheon: “Para mim, O Papa é como o Cristo na terra. Devo honrá-lo, amá-lo, obedecer-lhe... os amigos do Coração de Jesus são amigos de Pedro”.

 


sexta-feira, 24 de junho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 26 DE JUNHO DE 2022 - 13º COMUM - ANO C

 

DISPONIBILIDADE PARA CAMINHAR COM JESUS

Se tem uma coisa importante na vida de uma pessoa é se sentir valorizada e útil dentro das suas habilidades e competências. A Palavra de Deus nesse domingo apresenta mais uma vez o convite feito ao longo da história para as pessoas participarem do projeto de construção do Reino e de inclusão das pessoas.

Na primeira leitura o convite é dirigido a um trabalhador do campo de nome Eliseu, ele entendeu o chamado e teve coragem de romper com um estilo de vida e abraçar de modo radical a tarefa para a qual estava sendo convidado.

Na pessoa de Eliseu podemos perceber como o profeta não é alguém que caiu do céu e invade o cotidiano das pessoas, nem tampouco que o profeta seja um sujeito que não tenha habilidade para outras funções e responsabilidades, mas que Deus sempre chamou colaboradores falando-lhes a partir do cotidiano do seu trabalho. Sem fazer imposição, nem dar espetáculo Deus age no mundo por meio das ações das pessoas que aceitam o convite.

Ontem como hoje, Deus continua chamando a cada um de nós, respeitando o nosso cotidiano, mas nos desafiando a responder com determinação e ousadia.

O Evangelho é um mosaico de convites para mostrar que todos podem participar da missão de Jesus, para isso basta determinação para aceitar o convite.

O primeiro convite Jesus dirige a uma pessoa deixando claro que a missão não lhe garante estabilidade, pelo contrário quem aceita a missão precisa compreender a disposição de viver como Ele.

O segundo convidado estabelece um tempo que ele determina como a morte do pai, não significa que o pai estivesse morto, mas que ele queria acompanhar os pais até o fim da vida, Jesus não desvaloriza nem despreza a dignidade das famílias e a realidade da morte, mas deixa claro que o Reino é prioridade!

A terceira pessoa convidada pede um prazo para tomar a decisão, Jesus, porém reafirma que seu projeto pede coragem, determinação e firmeza de olhar para frente, não ficar preso ao passado, ou seja o Reino de Deus exige dedicação!

Diante destas três condições podemos nos perguntar quais são os argumentos que usamos para justificar nossa insegurança quando se trata de responder ao convite que Deus nos faz para usar nossas competências e habilidades para projetos maiores do que o pequeno horizonte que nossos olhos alcançam.

Paulo recorda aos Gálatas e também a cada um de nós o que significa ser livre e deixa claro que liberdade não é sinônimo de viver estritamente preocupado com as nossas próprias vontades, mas que a verdadeira liberdade consiste num caminho de resposta ao chamado cotidiano que Deus continua nos dirigindo diante das exigências contemporâneas, trata-se de identificar a nossa vida com a vida de Jesus.

Ao contrário de viver nos pequenos limites da nossa autossuficiência, somos desafiados a superar tudo o que nos escraviza abrindo-nos para o serviço generoso em favor das pessoas e do mundo.

Somos desafiados e perceber que na atualidade, facilmente temos uma perspectiva egoísta do significado da palavra liberdade e vivemos como se tudo fosse voltado para nosso próprio interesse e necessidade, no entanto a verdadeira liberdade está sempre na perspectiva do outro e do bem coletivo no cuidado com tudo e todas as cosias.

Peçamos a graça de tornar realidade em nossa vida o que rezamos no salmo: “ Eu bendigo o Senhor, que me aconselha,/ e até de noite me adverte o coração./ Tenho sempre o Senhor ante meus olhos,/ pois se o tenho a meu lado não vacilo”.

sexta-feira, 10 de junho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 19 DE JUNHO DE 2022 - 12º DOMINGO COMUM - ANO C

 

O CRISTO DE DEUS

 

O Papa Francisco na noite que foi escolhido Bispo de Roma, inclinou-se diante da multidão reunida na praça São Pedro e pediu que rezassem por Ele. Frequentemente termina seus discursos repetindo sempre: “Rezem por mim! ”.

Também nós, muitas vezes até de modo mecânico dizemos: “Reze por mim! ”, ou “vou rezar por você”, “Conte com minha prece” e assim por diante.

Essa prática, não resta dúvida que se fundamenta na vida e na pessoa do próprio Jesus. No Evangelho de Hoje, mais uma vez, Lucas coloca Jesus em oração antes de clarear para os seus discípulos a sua verdadeira identidade e as implicações dessa sua condição.

Pedro respondeu em nome de todos e assumiu para toda a comunidade dos discípulos as implicações da resposta que significou segui-lo até a entrega da própria vida. Obviamente que também para nós reconhecer Jesus como nosso Salvador impacta de modo determinante a nossa vida, que pode ser expresso nas palavras: “Carregar a cruz de cada dia”.

Jesus faz, entre os doze, uma espécie de pesquisa de opinião com o objetivo de ajudar os discípulos entenderem, de maneira madura, a sua identidade e missão que consistia em restabelecer a esperança alimentada por gerações entre o povo de Israel. Essa tarefa Jesus não vai realizar ao modo dos poderosos do seu tempo, pelo contrário, sua arma e trono é a cruz e sua estratégia é a renúncia de si mesmo e de todas as honrarias e prestígios.

Em nossas comunidades proclamamos com convicção que aceitamos Jesus como nosso salvador, mas muitas vezes perdemos tempos e gastamos energias em disputas por prestigio, honras, postos elevados, títulos, coordenações. Facilmente deixamos de lado a dimensão do serviço proposta por Jesus e usamos as tarefas e funções para autopromoção criando conflitos, rivalidades e mal-estar. A primeira leitura fala de um profeta anônimo: “Ao que eles feriram de morte, hão de chorá-lo, como se chora a perda de um filho único, e hão de sentir por ele a dor que se sente pela morte de um primogênito. Naquele dia, haverá um grande pranto em Jerusalém” com o qual os primeiros cristãos identificaram como sendo a pessoa de Jesus cuja fidelidade à missão recebida do Pai o levou até o sacrifício da própria vida.

São Paulo escreve aos Gálatas afirmando a nova condição de batizados: “O que vale não é mais ser judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só, em Jesus Cristo”.

Nós nos declaramos fiéis e comprometidos com Jesus e sua causa, aceitamos o batismo e os demais sacramentos da Igreja, frequentamos as celebrações e praticamos diversas formas de piedade popular, fazemos romarias, jejuns e longas orações, mas nem sempre temos a coragem de “carregar a cruz de cada dia”.

Na condição de novas criaturas somos livres e identificados com Cristo e temos as mesmas responsabilidades que se expressam nas palavras “sinal de Jesus Cristo, Sacerdote, Profeta e Pastor”. Em outras palavras ser no meio do mundo o “bom perfume de Jesus”.

Peçamos a graça de compreender que a Palavra de Deus deste domingo nos convida a fazer uma correção no modo como entendemos os serviços e ministérios na Igreja e nas comunidades. Que verdadeiramente a palavra “servir” que usamos para nossas atividades sejam no sentido de “tomar a cruz de cada dia e caminhar atrás de Jesus”.

quarta-feira, 8 de junho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 12 DE JUNHO DE 2022 - SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE - ANO C

 

DEUS VERDADEIRO DE DEUS VERDADEIRO

Ninguém duvida do Mistério da Santíssima Trindade, mas celebrar a Solenidade de hoje não tem o objetivo de pensar sobre um mistério insondável, mas de contemplar o extraordinário amor de Deus pela humanidade. A melhor definição para o mistério que celebramos foi dada pelo evangelista João: “Deus é amor”.

Por conta dessa verdade a humanidade inteira é convidada a viver e aperfeiçoar sempre o que chamamos simploriamente de “amor exigente”. E não basta transformar essa palavra num slogan a ser repetido, mas encarnar nas ações e na vida toda, a não se conformar nem tampouco concordar com uma sociedade que diz que ama, enquanto mantém e alimenta sistemas sociais, econômicos, políticos e religiosos que excluem, marginalizam e empobrecem centenas de milhares de pessoas.

A solenidade de hoje é um convite para contemplar Deus que é amor, que é família, que é comunidade, que é criador e comunhão. Esta compreensão já aparece na primeira leitura em cuja bondade está inserida toda a obra criada.

Os primeiros estudiosos do Novo Testamento afirmam que a sabedoria relatada na primeira leitura é o próprio Jesus a quem Paulo chama de Sabedoria de Deus cuja origem está antes de todas as demais criaturas. Já nos primeiros três séculos os padres da Igreja afirmaram que também o Espírito Santo existia antes de todas as outras coisas e enviando-o ao mundo fez revelar toda a Sabedoria do Pai e do Filho que ainda não tinha sido compreendido, nem mesmo pelos discípulos que haviam convivido com o Filho.

Esta leitura nos faz pensar num Deus que é Pai providente e cuidadoso a quem as pessoas podem contemplar à medida que descobrirem sua presença na beleza e na harmonia de toda a obra criada.

São Paulo aos romanos, na segunda leitura, afirma que o amor de Deus é que perdoa e nos justifica para a vida plena, por meio de três atitudes, as quais todos somos convidados a continuar construindo no cotidiano da história.

Em primeiro lugar somos convidados a uma relação positiva com Deus que se constrói pela promoção da paz; em segundo lugar ter presente a esperança que nos permite superar toda a dureza da caminhada. Essa esperança não é a mesma coisa que um otimismo fácil e irresponsável, mas de uma esperança de que está a caminho e que dá sempre novo sentido para a vida: em terceiro, e não menos importante, o amor às pessoas. Ser cristão implica na capacidade de amar como Deus amou, isto é, capaz de dar a vida para dignificar a vida.

Na mesma dimensão estão as palavras de Jesus no Evangelho como um convite para a meta final que implica na participação plena e na comunhão perfeita com o Deus/amor; Deus/família; Deus/comunidade! Quem nos conduzirá para a comunhão plena é o Espírito da sabedoria. E o Espírito Santo fará a comunidade sentir a presença consoladora do Senhor. O Espírito da Sabedoria que existia antes de todos os tempos preencherá de coragem todos os corações e não permitirá que se sintam decepcionados aqueles que se deixam guiar pela comunhão da Trindade. 


quinta-feira, 2 de junho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 06 DE JUNHO DE 2022 - DOMINGO DE PENTECOSTES - ANO C

                                                VINDE PAI DOS POBRES

O Espírito é luz que ilumina,

Convoca e envia a Igreja em missão,

Renova a esperança e anuncia

O dia da festa da libertação.

Creio no Espírito Santo que renova o homem com a liturgia,

Creio no Espírito Santo que mata a fome na Eucaristia.

Que a comunidade dos discípulos de Jesus era entusiasta no que se referia a aceitar as propostas e seguir Jesus e sua doutrina ninguém dúvida. Mas ao mesmo tempo era medrosa e insegura quando se sentia longe dele e sem compreender o que estava acontecendo sobre tudo depois da sua morte e ressurreição.

Neste domingo de Pentecostes a Palavra de Deus mostra mais uma vez como os discípulos se renovam e se reanimam com as palavras e com a missão que o mestre lhes confia: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio". E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: "Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos".

Como outrora também os cristãos contemporâneos vivemos num ambiente conturbado, violento, arrogante e todos temos a missão de proclamar e construir a paz. Precisamos de gente capaz de promover a alegria, o dinamismo, a paz, o perdão, que sejam semeadores de esperança diante dos desafios do mundo atual.

Os cantos e preces que elevamos ao Espírito Santo nos mostram como Ele é força criadora e renovadora de tudo e de todas as coisas. O Espírito é o próprio Deus em comunicação com a humanidade. Sem ele a Igreja não teria razão de existir: Sem o Espírito Santo: Deus está longe, Cristo permanece no passado, o Evangelho é letra morta, a Igreja é uma simples organização, a autoridade é uma dominação, a missão é propaganda, o culto é uma velharia e o agir cristão uma obra de escravos. Mas, no Espírito Santo: o cosmos é enobrecido o Cristo ressuscitado torna-se presente, o Evangelho se faz vida, a Igreja realiza a comunhão a autoridade se transforma em serviço, a missão é um Pentecostes, a liturgia é memorial, o agir humano é divinizado”.

O que aconteceu com os discípulos se repetiu nas primeiras comunidades cristãs, conforme narra a primeira leitura. Ali, povos de todas as raças e nações falam e ouvem as maravilhas de Deus: “Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava. Nós que somos partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia, próxima de Cirene, também romanos que aqui residem; judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus na nossa própria língua!"

Falar outras línguas é a possibilidade de superar o fechamento, o egoísmo, a divisão, o racismo, a marginalização, em resumo é o jeito de incluir e de caminhar juntos. O Espírito modifica todas as relações humanas.

A comunidade de corinto, para quem Paulo escreve a carta que lemos hoje, era uma comunidade viva e fervorosa, mas ao mesmo tempo não servia de exemplo quando se tratava de viver a fraternidade e o perdão. Por pouco ou nada armavam contenda e rivalidades que perturbavam a comunhão sendo assim um contratestemunho. Por isso Paulo compara a comunidade a um corpo: “Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum. Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo”.

A liturgia de hoje nos faz um apelo para aguçar nossa consciência: Como os discípulos de Jesus, a comunidade dos apóstolos e as primeiras comunidades cristãos todos temos a tarefa de contribuir para eliminar do nosso convívio os conceitos e ideias de que existem cristãos e funções mais ou menos importantes, mais ou menos necessárias, antes que todos fazemos parte do único e mesmo corpo de Cristo guiado pelo Espírito Santo.

terça-feira, 24 de maio de 2022

HOMILIA PARA O DIA 29 DE MAIO DE 2022 - ASCENSÃO DO SENHOR - ANO C

 

ESCUTAR COM O CORAÇÃO

Um dos hábitos mais bonitos na relação familiar é o contato de mãe e filho, o qual frequentemente se qualifica por falar e ouvir com o coração. Obviamente que o coração não tem nenhuma dessas funções, mas a expressão é mais do que clara para manifestar a disposição dos pares no que se refere a realização dos desejos, sentimentos e determinações.

Na carta Alegria do Amor, o Papa Francisco escreveu: “quem ouvimos, àquilo que ouvimos e ao modo como ouvimos é que podemos crescer na arte de comunicar, cujo cerne não é uma teoria nem uma técnica, mas a capacidade do coração que torna possível a proximidade”

Celebrar a Ascenção de Jesus implica escutar com o coração a totalidade dos seus ensinamentos e compreender como o percurso da sua vida feito em sintonia com o Pai lhe garante a plenitude da comunhão com aquele que lhe enviou. Na mesma proporção esta celebração é um convite a cada cristão em particular a ter ao longo dos seus dias as mesmas atitudes de Jesus.

A Palavra de Deus deste domingo é uma interpelação dirigida aos discípulos e às primeiras comunidades cristãs sobre a maneira e a intensidade como ouviram as palavras e orientações de Jesus e dos apóstolos seus seguidores, como descreve as últimas palavras do texto: Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.

Na carta aos Efésios, que Paulo escreveu quando estava na prisão, ele dá uma palavra de esperança para os destinatários: “o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer.
Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória”.

E conclui com uma exortação pedindo que todos tenham clareza sobre a missão que lhes foi confiada e que consiste em viver como irmãos e membros de um mesmo e único corpo: Sim, ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal”.

O Evangelho deixa evidente que os discípulos são, a partir de agora, convidados a escutar com o coração. Tudo o que Jesus tinha lhes transmitido quando ainda estava com eles, se traduz agora em alegria, testemunho e compromisso. Então Jesus lhes disse: “Vós sereis testemunhas de tudo isso. Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu” E na sequência: “Levou-os para fora, até perto de Betânia Ali ergueu as mãos e abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu. Eles o adoraram. Em seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria”.

A convocação que Jesus faz aos discípulos sugere a nossa responsabilidade de continuadores da missão para tornar realidade a nova terra onde se concretize todos os projetos iniciados por Jesus.

Nesse sentido valem para nós as palavras de Santo Agostinho: “Não tenham o coração nos ouvidos, mas ouvidos no coração” e peçamos a capacidade que ensinava Francisco de Assis: “inclinar o ouvido do coração”.

A Igreja existe para evangelizar, e essa tarefa implica comunicar, tarefa que também exige escutar. Escutar é o que o Papa Francisco está sugerindo com o processo de preparação para o Sínodo sobre Sinodalidade.

Todos somos convidados a compreender a mensagem do Evangelho pela partilha, comunhão, e pela escuta uns dos outros e todos juntos escutando o Espírito Santo de tal modo que possamos tornar fecundo todo o trabalho de evangelização no mundo contemporâneo.

Que se concretize em cada pessoa e cada comunidade o que lemos na segunda leitura: “O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer a plenitude daquele que possui a plenitude universal”.

quarta-feira, 18 de maio de 2022

HOMILIA PARA O DIA 22 DE MAIO DE 2022 - 6º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C

 

DAI-NOS, SENHOR A PAZ!

Todos temos alguma experiência de despedida, ou de palavras que marcaram as nossas relações de amizade. Diferente das conversas nas redes sociais que erroneamente se chamam amizade, as relações humanas com significado são marcadas por momentos de compromisso e oportunidade de continuidade.

O Evangelho de hoje é a continuação do último domingo, estamos no contexto da ceia de despedida e Jesus apresenta o estatuto da nova comunidade cujo fundamento é o Amor. Nessa condição Jesus confirma sua presença na caminhada futura dos discípulos, Ele garante que se manterá em comunhão e reafirma sua presença por meio do advogado que é o Espírito Santo!

O Advogado que o Pai vai mandar será uma presença dinâmica, que continua a fazer memória e a ler as propostas para os novos desafios que irão se apresentar ao longo do caminho. O texto se conclui com uma promessa que não se caracteriza por uma despedida de pouca importância, pelo contrário trata-se de uma palavra que pretende lhes garantir serenidade e segurança: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. Ouvistes que eu vos disse: Vou, mas voltarei a vós”.

A comunhão com o Pai e com Jesus não acontece por um conjunto de ritos, de fórmulas, de normas, de regras e leis, mas por um caminho de entrega e doação, para comungar com Jesus e com o Pai a pessoa precisa deixar o seu egoísmo e fazer da sua vida um dom aos demais.

 A saudação de Jesus nos pede um olhar sereno e uma ação em favor da paz, um olhar que não se deixa amedrontar, mas que se abra para que Deus habite em todos os lugares. O Advogado será nosso auxílio quando se trata de viver como Ele viveu!

A primeira leitura é um retrato do que são as nossas comunidades e da vida da Igreja em todos os tempos. Em todas as circunstâncias e todos os tempos os desafios das comunidades e das pessoas são incontáveis, mas animados e guiados pelo Espírito desde muito cedo os cristãos aprenderam a discernir o que é importante e necessário, daquilo que é acessório e secundário.

Depois de longas considerações em modo sinodal os discípulos concluem: “Porque decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo, além destas coisas indispensáveis”

A decisão da comunidade dos apóstolos precisa iluminar a Igreja contemporânea no que se refere a ritos, práticas e costumes que se tornaram obsoletos a fim de facilitar que Cristo continue sendo conhecido no mundo sem que fiquemos presos a esquemas e modos de pensar que não fazem sintonia com a realidade do mundo que nos rodeia. O que é essencial é Cristo e sua proposta, deixemos o Espírito falar em nós e na Igreja.

 A segunda leitura apresenta a meta final da Igreja e dos cristãos, citando sempre o número doze e seus múltiplos o autor quer deixar claro que todos, sustentados no testemunho de todos os apóstolos e por toda a primeira comunidade será de comunhão plena e felicidade total. Nesta nova cidade que vamos construindo guiados pelo advogado do Pai todos terão lugar. Na nova cidade as mediações humanas não são importantes, porque: “A cidade não precisa de sol, nem de lua que a iluminem, pois, a glória de Deus é a sua luz e a sua lâmpada é o Cordeiro”.

É nesta convicção que nós cantamos com o salmista:

Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor, que todas as nações vos glorifiquem!

 

terça-feira, 10 de maio de 2022

HOMILIA PARA O DIA 15 DE MAIO DE 2022 - 5º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C

 

AMAR COMO JESUS AMOU…

As palavras amar e amor são abundantemente cantadas e decantadas para infinitas ocasiões. Um dos provérbios utilizados diz assim: “Amor é como imposto de renda, tem que declarar”. O Evangelho desse domingo pode ser entendido como o testamento de amor que Jesus declara para a sua comunidade.

Prevendo o final de sua convivência terrena com os discípulos Jesus pede uma contrapartida aos seus discípulos: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”.

Com esta declaração Jesus resume toda a sua vida e todo o seu ensinamento, que não é justificado por palavras, regras e normas. Jesus revela seu amor sustentado em atos e fatos. O evangelho se inicia com a confirmação da traição que Ele seria vítima, tanto por parte de Judas, como pela negação de Pedro. Jesus está num momento decisivo da sua vida e não há tempo para “conversa fiada” é hora de agir com determinação e ousadia.

Na sequência Jesus confirma tudo o que ele fez a partir do que se pode chamar de “amor exigente”.  Essa forma de amar passa por gestos concretos que culminaram no ato de lavar os pés dos seus amigos, e na entrega de si mesmo como alimento que garante a vida definitiva.

Os discípulos de Jesus não são divulgadores de doutrinas, ideologias e regras, nem tampouco cumpridores de ritos, mas são pessoas decididas a partilhar e praticar a solidariedade e a comunhão, por essa ação: “Todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.'

Também nós podemos nos perguntar sobre a centralidade da nossa vivência cristã. A nossa religião, a nossa Igreja, a nossa comunidade manifesta o amor por gestos e atitudes ou queremos nos impor pela força das leis, dos ritos, das normas, das regras e da autoridade.

Hoje, mais do que em outros tempos necessitamos da coragem e determinação de Jesus, diante de tanto discurso de ódio peçamos que Deus nos fortaleça e nos encoraje a não desanimar quando se trata de agir para que este mundo seja mais de acordo com a vontade de Deus.

 

terça-feira, 3 de maio de 2022

HOMILIA PARA O DIA 08 DE MAIO DE 2022 - 4º DOMINGO DA PÁSCOA - O BOM PASTOR - ANO C

 

SOMOS O SEU POVO E SEU REBANHO

Dentre os inúmeros ditados para falar sobre a relação entre mãe e filho, um deles diz assim: “Por um filho, a mãe chora, ri e move o mundo”. Nesta relação de amor incondicional estão três verbos: Escutar, conhecer e seguir!

Pois essa relação entre mãe e filho, é a lição que se pode tirar da Palavra de Deus nesse domingo. Jesus, enviado por Deus Pai, no cotidiano da sua existência terrena cultivou em relação às pessoas do seu tempo todos os sentimentos que uma mãe tem com seus filhos.

Jesus, também estabeleceu uma relação de cuidado com todas as pessoas como uma mãe com seus filhos. A intensidade dessa relação também pode ser definida nas três atitudes: Escutar, conhecer e seguir!

A comparação que Jesus faz com as ovelhas pode ser também entendida como a figura de um líder. O bom pastor, o verdadeiro líder, a boa mãe, o bom pai, não impõe, não manipula, mas se faz amar e respeitar pelo reconhecimento das suas ações: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna. Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai”.

A ideia central do Evangelho sugere a compreensão de equipe, grupo, comunidade, somatório, partilha. Um rebanho não é feito de ovelhas isoladas, perdidas, desgarradas, excluídas. Na relação de liderança e paternidade não há lugar para distinção de pessoas, preferências e de privilégios. A todos é dirigido o mesmo convite e lhes são dadas as mesmas oportunidades. A única exigência se resume nas três palavras: Escutar, conhecer e seguir!

Na condição de seguidores de Jesus todos temos os mesmos desafios e responsabilidades que consistem em suprimir do nosso convívio a intolerância, a arrogância, o ódio, a discriminação, a exclusão e no seu lugar construir pontes que garantam a comunhão e a acolhida de todos.

A primeira leitura relata as primeiras atividades dos apóstolos para tornar conhecida a proposta de Jesus, conforme ouvimos no Evangelho. Entretanto, entre as pessoas, cuja comparação pode ser feita com o rebanho, existia “ovelhas”, “líderes”, “coordenadores” autossuficientes, instalados nas suas certezas, não abertos a novidade ao acolhimento. No outro lado da moeda estão aqueles que, embora, sendo frágeis e imperfeitos estão dispostos a escutar, conhecer e seguir!

Quando os apóstolos se apresentaram a esses últimos: “Os pagãos ficaram muito contentes, quando ouviram isso, e glorificavam a palavra do Senhor. Todos os que eram destinados à vida eterna, abraçaram a fé”.

De um lado estão aqueles que se acham melhores, mais merecedores e que imaginavam Deus como uma propriedade privada. Instalados no seu orgulho, nas suas leis bem definidas e que receberam dos apóstolos a repreensão: “Ao verem aquela multidão, os judeus ficaram cheios de inveja e, com blasfêmias, opunham-se ao que Paulo dizia. Então, com muita coragem, Paulo e Barnabé declararam: 'Era preciso anunciar a palavra de Deus primeiro a vós. Mas, como a rejeitais e vos considerais indignos da vida eterna, sabei que vamos dirigir-nos aos pagãos”.

Os judeus representam aqueles cristãos que se acomodam ao uma religião feita de hábitos, devoções, ritos, fórmulas, normas, e que muitas vezes não está aberta a acolher com simplicidade, alegria e entusiasmo. Nos esquecemos que o Evangelho é uma palavra de acolhida e de alegria destinado a todos como descreve a segunda leitura: “Eu, João, vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão. Então um dos anciãos me disse: 'Esses são os que vieram da grande tribulação’. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro”.

Também nós fazemos experiência de alegria, de esperança, de comunhão, de entreajuda, mas também de incompreensão, medo, sofrimento, desespero pessimismo. O texto do apocalipse nos traz uma mensagem de esperança cujo autor é Deus que tem por suas criaturas o mesmo cuidado que as mães têm com seus filhos. O nosso Deus age como se fosse uma mãe: “Por um filho, chora, ri e move o mundo”

Por isso nós rezamos com firmeza:

O Senhor, só ele é Deus,
somos o seu povo e seu rebanho.

Sim, é bom o Senhor e nosso Deus,
sua bondade perdura para sempre,
seu amor é fiel eternamente!