segunda-feira, 12 de outubro de 2009

ÉTICA E ADMINISTRAÇÃO

A CONSCIÊNCIA CRÍTICA NAS PESSOAS E NAS EMPRESAS

INTRODUÇÃO

O ser humano é um ser social. Ele produz a empresa e nela se situa de forma crítica. Estabelece em relação à empresa um processo de legitimação e de controle que é ao mesmo tempo uma terapia.

1 – Necessidade de consciência crítica
Consciência é a presença que a pessoa tem de si mesma e das realidades que a rodeiam. Em outras palavras conhece seu texto e seu contexto. Em se tratando de ética consciência pode ser definida como capacidade de discernir entre o bem e o mal. No decorrer dos seus dias a pessoa vai formando critérios que fundamentam suas decisões éticas.

Consciência psicológica e consciência ética se completam, quanto mais a pessoa tem noção de si e das suas realidades, mais adequados serão seus juízo crítico e sua realização pessoal.
Tratar da consciência crítica significa estabelecer um dinamismo constante que pode ser interpretado como peneira, purificação, limpeza. A consciência crítica não é uma estrutura abstrata, nem uma entidade teórica, mas consiste numa prática.
Cada pessoa está imersa em mecanismos que sustentam, na sua base social o modo de pensar, valorizar e agir de grupos humanos. Por conta disto a pessoa pode ser levada a agir como ‘massa’. Esta é mais uma razão para estar atenta reflexivamente ao meio em que vive.
Vivemos num círculo ideológico que racionaliza e operacionaliza objetivos parciais, reduzindo, setorizando, discriminando e distorcendo a realidade; criam-se palavras-chaves, em nome das quais tudo encontra justificativa.
A consciência crítica visa quebrar estas imbricações (disposição dos termos como que sobrepostos), a fim de cada pessoa se perceba como construtora de sua sociedade, inclusive da empresa e não simples tarefeira.

2 – Condições para a consciência crítica se desenvolver

a) Abertura intelectual - que é também a capacidade de questionar se a prática não está defasada em relação à teoria. A abertura intelectual é favorecida pela experiência com o diferente, a mesma prática muitas vezes da sensação de segurança e de ordem. É muito importante que uma empresa tenha contato com outras empresas de modo a conhecerem formas diversas de viver a mesma realidade. Esta atitude levará necessariamente a adquirir uma nova compreensão do próprio ser humano.
A abertura propicia reconhecer que as verdades sofrem contínuas releituras e reinterpretações. É mais do que compreensível que como a realidade exige o sentido cumulativo em que as verdades são superadas sempre surgindo algo de novo junto com aquilo que permanece de velho.
b) Segurança afetiva – Cada indivíduo via construindo sua auto-segurança, assimilando dentro de si mesmo novidades e diferenças.
É obvio que isto não é 100% pois todos os processos de individuação sofrem tramatismos, retardamentos, regressões, fixações em etapas anteriores, necessidades de apoios extrínsecos identificados com a própria auto-segurança.
A afetividade, de certo modo impede a abertura da inteligência para a crítica da realidade; é o caso de pessoas que afirmam ‘já faz trinta anos que trabalhamos assim na empresa, para que mudar?”ou “em time que está ganhando não se mexe”. Aqui a lógica do convencimento se esbarra contra a lógica do sentimento: por isso que pessoas que propõem mudanças devem ser percebidas como alguém que quer o bem dos outros e que suas propostas são um enriquecimento de segurança e não uma ameaça à mesma; isto, por exemplo pode se verificar quando é necessário transferir alguém de setor ou de função – flexibilidade.
c) Saber lidar com o imprevisto - A consciência crítica, pode nos colocar em situações que exijam ações bem diferentes para o bem do ser humano, o chamado ‘próximo’. Caso típico é a parábola do bom Samaritano. – emergência.
Ora, quantas vezes numa empresa não acontecem imprevistos de muito menor monta, que porém não são levados em conta, colocando em perigo saúde, relacionamento e outros valores humanos? Por exemplo uma ‘mal estar súbito’ problema dela, não posso deixar o que estou fazendo. Alguém chegou atrasado – nem me interessa, ele que perca o dia. A vivência ética deve colocar o ser humano com sua real necessidade acima de tudo.

3 – Consciência crítica e estrutura de plausibilidade de uma empresa

Todo grupo social precisa de estruturas razoáveis para reforçar sua existência e coesão interna para defender-se das ameaças de sua dissolução. Tudo isso exige consciência crítica.
A primeira necessidade de uma empresa é sua legitimidade na macrossociedade. Por exemplo uma usina alcooleira no mercado e uma casa de bingo estão tranqüilas enquanto ninguém de fora contestar sua identidade. Decorrente disto pode surgir uma teoria da legitimação. Por exemplo: ‘o álcool reduz o preço do combustível’; ‘os bingos criam empregos’.
Mas isto não é tudo pode surgir questionamentos sobre a atuação de ambos na sociedade, tais como: o preço da gasolina vir a despencar, ou o gás da Bolívia passa a responder a demanda, ou... já em relação aos bingos as normas começam enrigecer colocando-os na clandestinidade. Cada um deles terá que mostrar as suas vantagens para se manter no mercado.
Uma outra prova será a de garantir que sua existência no mercado é benéfica para a totalidade do mercado e até mostrando vantagens científicas, econômicas, sociológicas, etc... Isto lhes dará poder de fogo para negociar no mercado e argumentar a favor da sua permanência.
Existe ainda a necessidade/possibilidade de criar terapia capaz de aliviar as tensões. Esta processo pode se dar com a realização de passeios, confraternizações, ócio criativo e porque não momentos de oração. Tudo isso tem por finalidade aliviar e neutralizar as dificuldades.
O controle que a sociedade estabelece sobre o indivíduo é ao mesmo tempo um mecanismo de defesa e de ameaça. Pelo fato de pertencer a esta ou aquela empresa a sua imagem está associada à sua conduta.
Finalmente há o chamado ‘aparelho de conversa’. Nós nos alimentamos com aquilo que falamos e ouvimos; precisamos de interlocutores para refrescar nossa memória e reforçar nossos valores, conhecimentos e crenças. Neste sentido é importante numa empresa as pessoas se reunirem em grupos e subgrupos para trocarem suas idéias sobre a mesma esclarecendo-se cobre seu organograma, as funções de cada um, o sentido dos diferentes setores, o processo do produto, eventuais dificuldades a história da empresa. Etc...
Tendo clareza destas estruturas o trabalho na empresa poderá ser também um fator de realização pessoal, pois o indivíduo se percebe na profundidade como ele mesmo e não como um objeto que é manipulado.
De uma coisa é certa a empresa depende, sobretudo, da consciência das pessoas que militam nela.

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