NO SENHOR NÓS ESPERAMOS CONFIANTES
Mateus escreve o episódio que
ouvimos hoje em Marcos, com uma riqueza de detalhes que se assemelham muito ao
nosso cotidiano. No capítulo 20 de Mateus está escrito: “A mãe dos filhos de
Zebedeu se aproximou de Jesus...” Em nossas relações é frequente as pessoas
pedirem ajuda e procurar intermediações para solucionar problemas, facilitar
algum negócio ou situação embaraçosa e muitas vezes até sem nenhum escrúpulo
são propostas situações cujo objetivo primeiro é “levar vantagem” cuja
expressão muitas vezes se traduz pelo provérbio popular: “Fulano é capaz de
vender até a mãe para conseguir o que ele quer”.
A Palavra de Deus deste domingo
aponta exatamente em outra direção fazendo um convite a deixar de lado nossas
pretensões de poder, de grandeza, de dar ‘um jeitinho’ e em lugar disso gastar
nossas forças no serviço, na entrega, na humildade, e perceber como nessa forma
de viver se alcança com dignidade a verdadeira qualidade de vida para si e para
todos.
Aos olhos de Deus, a simplicidade,
a entrega, o empenho por causas mais nobres que os interesses pessoais se torna
fecundidade, realização e libertação plena como lemos na primeira leitura: “Por
esta vida de sofrimento, alcançará luz e
uma ciência perfeita. Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens”. Na linguagem do profeta o
sofrimento não é um castigo inútil, mas oportunidade para gerar nova vida
construída na justiça e no bem para si e para “inúmeras pessoas”.
Os cristãos, desde o início
associaram a figura de Jesus ao servo sofredor narrado pelo profeta. A
comunidade a quem se destinava a carta que nós lemos estava passando por
momentos muito difíceis de onde o autor lhes faz recordar que: “Temos
um sumo sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus,
o Filho de Deus. Por isso, permaneçamos firmes na fé que professamos. Com
efeito, temos um sumo sacerdote capaz de se
compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós”.
Jesus Cristo não se
esconde no seu poder, na sua onipotência, antes vem ao encontro das pessoas,
vive como sacerdote sendo fiel ao Pai e misericordioso é capaz de modificar as
pessoas por inteiro. A leitura é um convite também a nós fazermos de nossa vida
um serviço com gestos concretos de amor e de acolhida. Tarefa que bem precisa
ser revista pela Igreja inteira, como nos convida o Papa Francisco com essa
proposta de ir ao encontro, escutar as pessoas e discernir seus anseios.
Neste contexto não é difícil
entender como a atitude de João e Tiago, e também dos outros discípulos que
estavam enciumados por causa da pretensão dos irmãos, seja reprovada por Jesus
que também reprova os nossos anseios de poder e autoridade. Dizendo aos
discípulos “Vocês não sabem o que estão pedindo” o Evangelho se concluí com uma
exortação que serve para todos: “Vós sabeis que os
chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas,
entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Porque o
Filho do Homem não veio para ser servido, mas para
servir e dar a sua vida como resgate para muitos'.
Essa conclusão é um
convite a repensar nossa forma de nos situar na família, na escola, no
trabalho, na sociedade e em todas as nossas relações. A instrução que Jesus dá
aos discípulos é uma denúncia as jogadas de poder, de domínio, ao nosso sonho
de grandeza em relação a quem está ao nosso lado. O Evangelho é ao mesmo tempo
uma proposta a deixar de lado todas as manobras políticas cujo objetivo é
conquistar honras, privilégios e posições de prestigio. Ao contrário colocando
em nossa prática cotidiana todos os nossos melhores esforços em serviço
gratuito e em gestos generosos a serviço da vida com dignidade para todos.
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