sexta-feira, 6 de julho de 2018

COPA 2018 – UM DESAFIO DE ÉTICA, BOLA, EMOÇÃO E NEGÓCIO




O futebol é mais uma das invenções que, ao longo da história traçou caminhos inusitados. Não é à toa que o Brasil é conhecido como o país do futebol. Os brasileiros fazem por merecer esse título. Não porque exporta para o mundo grandes nomes do futebol, nem porque é a única seleção a colecionar cinco títulos mundiais.
Pode-se reconhecer o Brasil do futebol pela paixão que todo cidadão cultiva por esta prática desde a mais tenra infância. É praticamente impossível encontrar uma criança, sobretudo do sexo masculino, que não dê os primeiros passos correndo atrás de uma bola. Os pais, mesmo aqueles que não são fanáticos esportistas, desde muito cedo presenteiam seus filhos com camisas e uniformes dos times da moda.
Não há recanto de cidade ou interior onde não se possa identificar um espaço reservado para a “pelada” do fim da tarde e do final de semana. Começar uma partida com meia dúzia de competidores e terminar com mais de duas dezenas também não é novidade.
Entretanto, é sabido que no começo não foi assim. O futebol teve sua origem na alta burguesia inglesa no século 19, espalhou-se rapidamente para as camadas sociais menos favorecidas e hoje movimenta bilhões de dólares, emoções, negócios e princípios éticos extraordinários.
Santo Agostinho, ainda no século IV, fez uma afirmação que se aplica também para a atualidade: “Mens sana in corpore sano” = “Mente sadia em um corpo sadio”. Neste sentido, afirma-se que a prática de esportes tem uma função ética de destaque na formação do caráter, para a preservação da saúde envolvendo a pessoa por inteiro. Ainda mais importante que esta dimensão de saúde física pode-se aplicar ao futebol questões relativas à saúde espiritual e de estímulo para o associativismo, a cooperação e a parceria.
É fato incontestável que a profissionalização do futebol transformou o mais popular dos esportes numa “máquina de movimentar dinheiro” envolvendo interesses comerciais muito explícitos. É do conhecimento de todos que a FIFA vende a copa e que grupos transnacionais se servem desta oportunidade para promover seu negócio e seus produtos. Nesta trama pouco ética estão envolvidas marcas, jogadores, empresas, governos, que faturam e investem bilhões transformando a paixão em fetiche e compulsão para o consumo.
Para a copa da Rússia 2018 a FIFA vai distribuir 400 milhões de dólares entre as 32 seleções, o Brasil eliminado pela Bélgica receberá 16 milhões de dólares, cerca de 62,6 milhões de reais. Enquanto isso o Dólar alcança sua mais alta cotação desde janeiro de 2016, a inflação avança, o gás de cozinha tem novo aumento pesando cada vez mais no bolso do brasileiro, os casos de hepatite aumentem em mais de 70%. E poderíamos desfilar uma série de outras situações que cada vez mais fazem os brasileiros perder o entusiasmo para acompanhar a profissionalização do esporte mais popular do mundo.
Entretanto, a “paixão nacional” continua pertencendo aos amadores e torcedores que fazem por amor e com certo sentido de honra. Sendo um esporte de prevalência masculina o fascínio pela bola transforma os sisudos brasileiros, pouco afeitos a demonstrações públicas de afeto, em homens de sensibilidade capazes de trocar afetos publicamente, chorar e sorrir pelas mesmas causas diante das câmeras de televisão para o mundo inteiro.
Parodiando o hino da copa de 70, se pode escrever: “duzentos milhões em ação... De repente é aquela corrente pra frente Brasil...” Queira Deus que a derrota da Seleção Canarinho não faça esmorecer o patriotismo e o desejo de construir um novo Brasil e que de agora em diante continue sendo desfralda a Bandeira que fará escolher um time que mais do que levantar taças seja capaz de reerguer esse País.  
O Olé que se gritaria na copa poderá ecoar no sonho por um Brasil mais justo, sem miséria, menos corrupto e mais democrático, tudo isso sem se deixar manipular pela mídia e pelas paixões da violência e a cultura do “vamos quebrar tudo”.


quinta-feira, 5 de julho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 08 DE JULHO DE 2018 - 14º DOMINGO COMUM


NAS DIFICULDADES RECONHECER 
A FORÇA QUE ESTÁ EM DEUS

À medida que a Copa do Mundo vai caminhando para a reta final, os comentaristas esportivos vão apontando como aumenta o grau de dificuldade para cada uma das equipes classificadas para a fase seguinte. Nesta semana também ocupou espaço no noticiário internacional o resgate dos jovens tailandeses presos na caverna e também para este caso não faltaram opiniões sobre as perspectivas e os desafios de resgate e da garantia de vida de todos os envolvidos no episódio. Neste sábado, dia 07, o Papa Francisco teve um encontro com diversos líderes religioso, na cidade Bari no sul da Itália cujo centro das conversas é a preocupação com a paz no Oriente Médio e o doloroso martírio de muitos cristãos naquela região.
Todas estas situações podem ser entendidas como um “caminhar com Jesus” com todas as vantagens e desafios que esta jornada apresenta. Compreendendo todas as dificuldades da vida é possível repetir como São Paulo: “É na fraqueza que a força de Deus se manifesta, pois, quando sou fraco então é que sou forte”.  Deus que se manifestou ao longo da história não mostrou seu poder e sua força no enfrentamento e no desafio, mas na humilhação cujo ponto culminante se deu na crucificação do próprio Filho.
O profeta Ezequiel não teve medo e ousou falar a dura verdade que precisava ser dita ao povo de Israel: “Filhos de cabeça dura e coração de pedra”. E São Paulo faz uma afirmação extraordinária: “Basta-te a minha graça. Pois é na fraqueza que a força se manifesta'. Por isso, de bom grado, eu me gloriarei das minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim”. E qual é a força de Cristo se não a sabedoria que recebeu do Pai e que confundia os sábios do seu tempo.
Ontem como hoje, declarar-se seguidor de Jesus Cristo implica compreender que ser cristão é aceitar e estar sujeito a todas as fraquezas e dificuldades do mundo contemporâneo sem fraquejar ou perder a vibração e o entusiasmo. Caminhar com Jesus implica ir removendo as pedras de cada “caverna”, por meio do diálogo honesto construir jogadas confiantes que “tudo é possível naquele que é a única força” para onde se dirige o olhar confiante e se reza como no salmo de hoje: “Eu levanto os meus olhos para vós, que habitais nos altos céus. Como os olhos dos escravos estão fitos nas mãos do seu senhor”.


sábado, 30 de junho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 01 DE JULHO 2018 - SÃO PEDRO E SÃO PAULO - DIA DO PAPA


DISCÍPULOS E MISSIONÁRIOS NA IGREJA
 E NA SOCIEDADE

Em tempo de Copa do Mundo por todos os lados se respira solidariedade, participação, e uma constante partilha de sonhos e desejos. Esses sentimentos é o que se pode chamar de responsabilidade e missão. Os sonhos de ver sua equipe crescer e se projetar com um futebol que seja respeitado pelo mundo brota do fundo dos corações. Muitas pessoas choram, vibram, se emocionam, fazem qualquer ato para provar seu amor pela causa do seu time.
Pois foram estes sentimentos que tomaram conta dos primeiros cristãos. Aqueles que conheceram e conviveram com Jesus sabiam que o encontro com o Mestre tinha mudado a vida deles e de muitas outras pessoas. Sua convicção fazia que proclamassem com a vida e não tivessem medo de enfrentar qualquer dificuldade para que o nome e a doutrina de Jesus se tornasse conhecida.
Muitos que foram conhecendo o Evangelho por meio dos primeiros cristãos também deram sua vida pela mesma causa. Hoje a Igreja recorda São Pedro e São Paulo, cujo testemunho foi dado com a própria vida. Pedro fez tudo o que podia para confirmar a Igreja que nascia como uma instituição que tinha seu fundamento em tudo o que Jesus fez e ensinou. Paulo percorreu o mundo inteiro como missionário incansável a serviço desta causa. Por isso os dois se chamam “colunas da Igreja”.
As palavras de Jesus dirigidas a Pedro no Evangelho se confirmam ainda hoje: “Feliz és tu Simão filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou que Eu sou o Messias”. De Paulo  o mundo tem a confirmação das suas últimas palavras: “Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças; ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações”.
Recordando os Apóstolos que se chamam também primeiros frutos da Igreja, em todos os lugares eleva-se uma prece pelo Papa. Certamente hoje ninguém melhor que Francisco representa Pedro e Paulo. Adotando o nome e o compromisso do Pobrezinho de Assis, Bergoglio tem a mesma missão daquele: “Francisco Reconstrói a minha Igreja” e a cada cristão Ele continua desafiando: “Quero uma Igreja em saída”.
Que a coragem e a convocação de Francisco faça de cada pessoa um apaixonado pelo Evangelho e pela Igreja como torcedores que vibram com a vitória da sua seleção e das boas jogadas de cada um dos que entram em campo.


sexta-feira, 22 de junho de 2018

HOMILIA PARA A FESTA DE SÃO JOÃO BATISTA - 24/06/2018 - 12º DO TEMPO COMUM


MISERICÓRDIA É O SEU NOME

Ninguém duvida que a Copa do Mundo é uma oportunidade de lazer, esporte, turismo, entretenimento e uma série de outras oportunidades para desenvolver relações humanas saudáveis e prazerosas. Mas é também uma oportunidade para perceber como muitas situações que não deveriam acontecer entre pessoas educadas e que se respeitam tivessem lugar. Entre elas vale lembrar o episódio do grupo de brasileiros que usou das redes sociais para divulgar uma situação de absoluto desrespeito humano quando constrangeram publicamente uma pessoa de outra nacionalidade e que não conhecia o nosso idioma. Sem sombra de dúvida isso é o que se pode chamar numa linguagem litúrgica de “falta de misericórdia”.
Pois é de misericórdia que trata a Palavra de Deus neste dia em que se recorda também o nascimento do maior profeta que a religião cristã reconhece. João Batista tem um significado tão especial para a Igreja Ele é o único santo no calendário que se celebra o dia do nascimento e o dia da sua morte. O nome João significa: “Deus é misericórdia”. Filho de um casal de velhos cujas esperanças de paternidade já haviam se extinguido por força da sua idade e de outras condições humanas. O pai que era sacerdote do Templo de Jerusalém se comportava como um fiel cumpridor da lei em decorrência disso muitas vezes serviu de instrumento de opressão e de ações que não usavam da misericórdia para com as pessoas.
Neste contexto Deus mostra sua presença e seu amor, enche de alegria a casa de Zacarias e de Isabel ao mesmo tempo que faz a vizinhança exultar de admiração: “Todos se perguntavam: O que vai ser deste menino? ”. Quando Zacarias duvidou da ação de Deus ficou sem poder falar até o nascimento da criança neste tempo ouviu Maria proclamar a bondade de Deus quando cantou: “O poderoso fez obras grandiosas e santo é o seu nome, sua misericórdia se estende por todas as gerações daqueles que o amam”.
Em João Batista se confirma o que o profeta tinha anunciado 700 anos antes: “Nações marinhas, ouvi-me, povos distantes, prestai atenção: o Senhor chamou-me antes de eu nascer, desde o ventre de minha mãe ele tinha na mente o meu nome; fez de minha palavra uma espada afiada, protegeu-me à sombra de sua mão e fez de mim uma flecha aguçada, escondida em sua aljava, e disse-me: Tu és o meu Servo, Israel, em quem serei glorificado”.
Na esteira da fé herdada dos antepassados também a Igreja hoje se alegra porque sabe que Deus reconhece a fundo o coração de todos, sabe que as pessoas de hoje são tecidas pelo cuidado de Deus desde o ventre materno. Recordar João Batista não é simplesmente fazer a repetição de uma história, pelo contrário é pedir a graça de não se deixar macular pela falta de caridade, mas de agir com misericórdia para com todos.
Como Igreja em assembleia de oração todos são convidados a renovar o compromisso de respeito para com todas as pessoas em todos os lugares, ao mesmo tempo que se faz uma experiência da misericórdia de Deus pedir a força e a graça de ser para todos “Sal da terra e luz do mundo” como sinais de Deus em todas as relações humanas.


quinta-feira, 7 de junho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 10 DE JUNHO DE 2018 - 10º DO TEMPO COMUM


ALEGRAI-VOS E EXULTAI

No dia de São José neste ano o Papa Francisco publicou uma carta com o título: “Alegrai-vos e exultai”. O conteúdo da carta é um chamado à santidade no mundo atual. No primeiro capítulo o Papa escreveu: “Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e nas mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhada dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade ao ‘pé da porta’ daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou por outras palavras “esta é a classe média da santidade” (GE 7).
E ser santo não é outra coisa senão ouvir a Palavra de Deus e colocar em prática o Evangelho deste domingo. Marcos mostra Jesus cercado por duas categorias de pessoas: um grupo que o chama de louco e outro que consideram as suas ações como se fossem obras do diabo e afirmam que ele está possuído por Belzebu. Por sua vez Jesus é muito claro na suas declarações e sem meias palavras diz que estes dois grupos estão divididos entre si e que seus dias estão contados: “Assim, se Satanás se levanta contra si mesmo e
se divide, não poderá sobreviver, mas será destruído
”. E conclui com duas frases espetaculares: “
Ninguém pode entrar na casa de um homem forte para roubar seus bens, sem antes o amarrar. Só depois poderá saquear sua casa. E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: 'Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
O fim do reinado de satanás que Jesus afirma estar acontecendo é a concretização da responsabilidade que Deus havia dado para Eva, a mulher do primeiro pecado: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. Jesus, o Filho de Maria, com sua determinação e coragem é quem definitivamente “esmagará a cabeça da serpente” e todos os que como ele ouvirem a Palavra de Deus e colocarem em prática continuarão a fazer a mesma coisa.
E isto São Paulo fala aos coríntios: Sustentados pelo mesmo espírito de fé, conforme o que está escrito: 'Eu creio e, por isso, falei', nós também cremos e, por isso, falamos, certos de que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará também com Jesus e nos colocará ao seu lado, juntamente convosco. E tudo isso é por causa da abundância da graça para a glória de Deus. Por isso, não desanimamos”.
Nestes tempos difíceis, na hora em que o Papa convida a ser uma “Igreja em Saída” e a ser santos dando o “próprio testemunho nas ocupações da cada dia, onde cada um se encontra”(GE14) é natural que as dificuldades se potencializem  e que até muitas pessoas que se dizem religiosas e que até rezam muito sejam resistentes e insistam numa igreja que fique na sacristia, nos bancos das igrejas, nas orações destituídas de compromisso social, peçamos que a oração deste dia e a comunhão que recebemos nos liberte dos maus pensamentos e coloque a nossa vida na prática do bem, como o padre vai rezar na oração final da missa: “Ó Deus, agindo em nós pela Eucaristia, faça curar nossos males, libertando-nos das más inclinações e orientando nossa vida para a prática do bem”.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 03 DE JUNHO DE JUNHO 2018


ESTENDER A MÃO COMO DEUS FAZ

Todos os anos por ocasião da quaresma a Igreja convida a os cristãos a fazer penitência e realizar um gesto de solidariedade por meio de uma oferta concreta no Domingo de Ramos. O Resultado desta coleta é aplicado em obras de assistência social. Nesta semana, por exemplo, a Diocese de Criciúma no Sul de Santa Catarina inaugurou uma casa para acolhida e ressocialização de ex-presidiários. A obra teve investimentos com recursos da coleta da solidariedade no domingo de ramos. Por ocasião da mobilização dos caminhoneiros foram observadas diversas ações de solidariedade com a categoria, entre elas a de um grupo de ciclistas que se mobilizou para levar alimentos aos motoristas. Ambas são atitudes de quem é capaz de estender a mão.
As leituras deste domingo falam da solidariedade de Deus e da preocupação com aqueles que precisavam de uma mão estendida. O livro do deuteronômio pede para guardar o dia de sábado, como sendo o dia de Deus em que Ele estendeu a mão ao seu povo e recomendou o transformou em Senhor da sua existência. Nas duras lutas da vida o povo do Antigo Testamento sempre entendeu que a mão e Deus veio em seu socorro: Lembra-te de que foste escravo no Egito e que de lá o Senhor teu Deus te fez sair com mão forte e braço estendido. É por isso que o Senhor teu Deus te mandou guardar o sábado”.
No evangelho é Jesus, enviado pelo Pai, que percebe a fome dos discípulos e os leva a colher espigas para saciar a fome. No templo uma pessoa necessitada de ajuda estende a mão e Jesus cura seu ferimento: “E perguntou-lhes: 'É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?' Mas eles nada disseram. Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao homem: 'Estende a mão'. Ele a estendeu e a mão ficou curada”.
Só não entende de solidariedade e do sofrimento das pessoas aqueles que transformam a lei em ocasião para levar vantagem e em nome da lei patrocinam a morte: “Ao saírem, os fariseus com os partidários de Herodes, imediatamente tramaram, contra Jesus, a maneira como haveriam de matá-lo”.
Naquele tempo como nos dias atuais não falta quem se recusa estender a mão para ajudar e a reconhecer as mãos estendidas que pedem socorro e qualidade de vida. Para todos são preciosas as palavras de São Paulo na segunda leitura: “Somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angústia; postos entre os maiores apuros, mas sem perder a esperança; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados; por toda parte e sempre levamos em nós mesmos os sofrimentos mortais de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifestada em nossos corpos”.
Que a oração deste domingo ensine cada pessoa a compreender o que significa estender a mão e reconhecer a mão estendida para socorrer e fazer que todos em qualquer lugar experimentem a alegria de se tornar Senhores das leis a serviço da vida.


quinta-feira, 24 de maio de 2018

HOMILIA PARA A SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE - 27 DE MAIO 2018


O SENHOR É DEUS EM TODO LUGAR

O maior espaço dos noticiários desta semana foi ocupado pelas paralizações, desabastecimento, corrupção, impostos, preço dos combustíveis. Tudo isso revela muito mais que um descontentamento ocasional de uma ou diversas categorias profissionais com um ou outro sistema de governo. O que a sociedade brasileira vivenciou nesta semana é o que pode ser chamado alegrias, tristezas e esperanças que as sociedades e as pessoas vivem ao longo do tempo. É neste contexto que cada cristão e a Igreja inteira é chamada a ser Sal da terra e luz do mundo.
É no meio deste mundo marcado por contradições e dificuldades que Cristo continua a enviar seus seguidores: “Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”.
Deus que está com a gente não é outro senão o mesmo Cristo que subiu aos céus e que enviou o Espírito Santo. O mesmo que declarou estar presente em todas as ações humanas é aquele que a primeira leitura declara: “Existe, porventura, algum povo que tenha ouvido a voz de Deus falando-lhe do meio do fogo, como tu ouviste, e tenha permanecido vivo? Ou terá jamais algum Deus vindo escolher para si um povo entre as nações, por meio de provações, de sinais e prodígios, por meio de combates, com mão forte e braço estendido, e por meio de grandes terrores, como tudo o que por ti o Senhor vosso Deus fez no Egito, diante de teus próprios olhos”.
Deus, em quem aqueles que acreditam são batizados é o mesmo que se reza no salmo: “No Senhor nós esperamos confiantes, porque ele é nosso auxílio e proteção! Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamose que São Paulo afirma: “O próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos de Deus. E, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo”.
Acreditar na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo, implica valorizar tudo o que dele se recebeu no sentido de construir uma sociedade mais justa, mais fraterna, responsável pelo bem que esteja a serviço de todos, muito acima dos interesses de grupos e organizações muitas vezes criminosa. Acreditar e seguir as palavras de Jesus consiste aceitar a grande missão de ser sinal do projeto de Deus no meio do mundo.

sábado, 19 de maio de 2018

HOMILIA PARA O DOMINGO DE PENTECOSTES 2018


O ESPÍRITO INTERCEDE EM NOSSO FAVOR
Que a pessoa humana, muito facilmente, desenvolve mania de grandeza e constrói sonhos e castelos na areia, não é uma novidade. Estas coisas costumam ser tão frágeis, que no dizer de um grande pensador contemporâneo “tudo o que é sólido se desmancha no ar”. No cotidiano das relações interpessoais é possível se deparar com relativa frequência a projetos extraordinários que acabam por terra antes mesmo de começar a ser construídos. Nestes casos fica mais do que claro que alguma coisa estava errada no projeto ou no sonho. Poderia se dizer que alguém ou alguma estrutura muito importante deixou de ser considerada como base para o empreendimento.
Pois bem, é de projetos, de sonhos, de fundamentos, de empreendimentos sustentáveis que fala a Palavra de Deus neste domingo de Pentecostes.  O texto do livro do Gênesis é de uma clareza extraordinária mostrando como o ser humano sonha além de suas forças e esquece de quem é seu fundamento e sustentação: “Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja o céu. Assim, ficaremos famosos,” O resultado não poderia ser outro a realização do empreendimento resultou numa confusão de línguas e nunca foi concluído.
Por conta disto o salmista faz um apelo, reconhecendo aquele que pode levar a bom termo os desejos humanos: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor! Ó meu Deus e meu Senhor, como sois grande! Quão numerosas, ó Senhor, são vossas obras, e que sabedoria em todas elas! Encheu-se a terra com as vossas criaturas. Se tirais o seu respiro, eles perecem e voltam para o pó de onde vieram; enviais o vosso espírito e renascem e da terra toda a face renovais.
Esta certeza é recordada por São Paulo na carta aos romanos: “fomos salvos, mas na esperança. Ora, o objeto da esperança não é aquilo que a gente está vendo; como pode alguém esperar o que já vê? Mas se esperamos o que não vemos, é porque o estamos aguardando mediante a perseverança. Também, o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza.”
E Jesus garante no Evangelho: “Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Aquele que crê em mim, conforme diz a Escritura, rios de água viva jorrarão do seu interior.
Tudo isso se realiza pela ação do Espírito Santo de Deus que foi enviado para fazer novas todas as coisas. É o Espírito de Deus que abre as portas e as mentes para a construção de um mundo novo onde a pessoa não pense ter a última resposta e a solução para todos os seus problemas. Que o Espírito sobre também nas comunidades e na Igreja contemporânea.


domingo, 13 de maio de 2018

REFLEXÕES PARA A SEMANA DA ENFERMAGEM 2018


A CENTRALIDADE DA ENFERMAGEM 
NAS DIMENSÕES DO CUIDAR

A gramática da língua portuguesa chama de oração   o conjunto linguístico que se estrutura em torno de um verbo. Pois bem, a frase:  “A centralidade da enfermagem nas dimensões do cuidar,” tema escolhido para a semana da enfermagem, é uma oração.
Mas este tema pode ser entendido também como uma Oração, no sentido de ser uma prece que se eleva a Deus por meio daqueles que gastam suas vidas no serviço aos enfermos. As duas leituras escolhidas para a celebração da missa ajudam a compreender como esta oração, no sentido gramatical, é também uma Oração no sentido religioso.
A propósito disto sugerimos a leitura de dois textos bíblicos. O primeiro da carta de Tiago: “Se alguém de vocês está sofrendo ore. Se alguém está contente cante hinos de agradecimento. Se algum de vocês estiver doente, que chame os presbíteros da Igreja, para que façam oração e ponham azeite na cabeça dessa pessoa em nome do Senhor. Essa oração, feita com fé, salvará a pessoa doente. O Senhor lhe dará a saúde e perdoará os pecados que tiver cometido”. (5, 13 – 15). O segundo texto é conhecido como a Parábola do Bom Samaritano e se encontra em Lucas 10,30-35.
O texto da carta de Tiago é a motivação para todo o serviço do Capelão no Hospital e que encontra seu principal parceiro no pessoal que faz o serviço assistencial. São os colaboradores da área da enfermagem os primeiros a perceberem que o doente precisa de animação, de uma presença viva que o faça experimentar o amor gratuito de Deus.
Já o texto do Evangelho, com a parábola do Bom Samaritano é o que pode ser entendida como modelo de centralidade no que se refere ao cuidado. Não sem razão costuma-se dizer que uma pessoa foi Bom Samaritano, toda vez que teve compaixão e ajudou a outro em situação de necessidade.
O texto do Evangelho tem sete verbos e todos eles apontam para a “centralidade do cuidado”. A primeira atitude daquele que descia pelo caminho foi “enxergar” a realidade da pessoa caída à beira do caminho. Na sequência demostrou compaixão, aproximação e cuidado – chegou perto limpou seus ferimentos e enfaixou. Ainda não satisfeito “colocou o caído no seu próprio animal”, isso significa que não teve medo de colocar todas as capacidades a serviço do sofrimento alheio e que clamava por tratamento respeitoso, por compaixão e solidariedade, situações muito particulares daqueles que estão doentes.
Percebendo que sua condição permitia fazer mais ainda, mudou a sua rotina e levou o doente até a hospedaria adaptando-se para atender o necessitado. Mobilizou outras pessoas, outras estruturas, outras forças para cuidar do sofrimento alheio. Isso é muito importante, nem sempre na sua função o pessoal do assistencial pode dar conta de todas as demandas e desafios, mas sempre pode mobilizar outras pessoas criando parcerias para que o cuidado aconteça.
Chegando na hospedaria, o último verbo é “Cuidar”. A dimensão do cuidado completa o conjunto da intervenção do samaritano. E não foi apenas uma pessoa cuidando daquele que estava ferido o Bom Samaritano soube envolver os demais nesta tarefa dura que é a realidade experimentada pelo doa humana muito presente na pessoa daqueles que estão doentes.
Em resumo - A centralidade da enfermagem nas dimensões do cuidar - precisa ser impulsionada pelo espírito do Bom Samaritano que é capaz de aproximar-se dos doentes, dos fracos, dos feridos e de todos os que estão jogados no caminho a fim de acolhê-los e cuidar deles dando-lhes uma “injeção de esperança”.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

HOMILIA PARA O DIA 13 DE MAIO DE 2018 - ASCENSÃO DO SENHOR


CONSTRUIR RELAÇÕES HUMANIZANTES


Qualquer pessoa que se preocupe em deixar algum legado, ou ensinamento que se perpetue e que por meio dele possa permanecer na memória das pessoas, se preocupa em formar seguidores e discípulos que se apaixonem por sua ideia e seu modo de ver o mundo e as relações por ele construídas. Pois é desta preocupação que trata a Palavra de Deus deste domingo.
Jesus tinha convicção que foi enviado pelo Pai e que devia estabelecer um processo de conversão continuada e ampliação da sua doutrina e da sua visão de mundo a partir da misericórdia de Deus. Por conta disso, durante três anos fez um grande número de discípulos, de admiradores e preparou os apóstolos para que dessem continuidade a tudo o que ele havia iniciado.
Nos quarenta dias que se sucederam à páscoa Jesus apareceu diversas vezes ao seu grupo e lhes deu as últimas orientações sobre a continuidade da missão e os desafios que isto implicava. Hoje, subindo ao céu diante deles deixa o mandamento mais importante: “'Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura” dando-lhes essa tarefa ele faz menção às dificuldades que terão pela frente: lidar com serpentes, beber veneno, falar línguas estranhas, impor a mão em doentes e até reconhecer demônios. “Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus”.
Conforme o tempo passou aqueles que conheceram e que viveram com Jesus foram morrendo e sua doutrina corria o risco de cair no esquecimento. Para evitar isso foi preciso registrar os feitos a fim de que a lembrança pudesse ajudar na continuação da tarefa. Então Lucas escreve o livro dos Atos dos Apóstolos que começa com as palavras da primeira leitura de hoje: “No meu primeiro livro, ó Teófilo, já tratei de tudo o que Jesus fez e ensinou, desde o começo, até ao dia em que foi levado para o céu”. Fazendo a narrativa da ascensão de Jesus o autor faz uma advertência: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.
Quase que o mesmo pedido Paulo faz aos cristãos de Éfeso: “Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos, e que imenso poder ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente”.
Ora que ensinamento essa Palavra pode dar às pessoas do mundo contemporâneo? A missão dada por Jesus continua sendo desafiadora para todos os que creem e querem construir um mundo mais humanizado, cabe agora a tarefa de ser Sal da Terra e Luz do Mundo. Nada de ficar de braços cruzados e esperar que tudo seja fácil e romântico. Compreender a presença de Jesus que incita a transformar as estruturas desumanas destes tempos em local de fraternidade e vida humanizada exige coragem e abertura de coração para a luz de Deus que continuamente recrie a esperança.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

HOMILIA PARA O DIA 06 DE MAIO DE 2018


AMAR NÃO COM PALAVRAS, MAS EM AÇÕES E EM VERDADE

As notícias sobre a queda de um edifício ocupado irregularmente em São Paulo, trouxe à baila uma enorme e antiga discussão sobre o direito à moradia e a dignidade das pessoas. Esta semana todos os meios de comunicação dedicaram horas de reportagens tratando sobre uma infinidade de questões relacionadas ao fato. Quase não se viu uma opinião que tocasse no cerne do problema. As palavras do Cardeal de São Paulo não encontraram eco na grande imprensa. Dom Odilo colocou as igrejas a disposição para acolhimento dos vitimados pela tragédia, fez mediação com as autoridades, mas tudo isso não passa de medidas paliativas em relação ao grande problema que o mesmo arcebispo apontou: Não temos um déficit habitacional… o que nós temos é uma distribuição inadequada das habitações… falta uma política habitacional adequada para as necessidades da população”. Em outras palavras enquanto não se resolver isso vão continuar se repetindo tragédias deixando as pessoas e a sociedade sempre mais vulnerável.
Tratar destas questões com seriedade é uma forma de viver o Evangelho que recomenda não apenas discursos bonitos, mas ações e verdade: “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça”.
Amar as pessoas como Jesus pede no Evangelho, exige ter a coragem e o discernimento de não fazer pré-julgamentos das pessoas tratando-as como merecedoras disso ou daquilo. Pedro, inspirado pelo Espírito Santo declarou: Podemos, por acaso, negar a água do batismo a estas pessoas que receberam, como nós, o Espírito Santo? E mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo”.
Amar as pessoas significa compreender que “Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que tenhamos vida por meio dele” e não para julgar o mundo e os outros segundo nossos critérios.
Peçamos que a Eucaristia nos fortaleça e nos coloque no caminho dos pobres e desvalidos, daqueles que muitas vezes são excluídos das políticas de igualdade e inclusão e que invariavelmente são vítimas do descaso e do desrespeito daqueles que se dizem responsáveis e que governam e apenas se lembram de ver os desvalidos quando a desgraça já lhes bateu a porta.
Que os cristãos sejam fortalecidos pelo profetismo de Jesus e tenham a coragem de encarar as realidades que contradizem o Reino de Deus.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

HOMILIA PARA O DIA 29 DE ABRIL DE 2018


ESCOLHIDOS PARA DAR MUITOS FRUTOS

Os recursos das novas tecnologias digitais de informação e comunicação facilitaram muito a vida das comunidades e de todos os que delas se utilizam para divulgar, convidar, anunciar e até se tornar conhecido. Quase todas as comunidades cristãs e grupos de pastoral ou movimentos na Igreja utilizam as redes sociais para tornar conhecidas suas programações e atividades. Sem sombra de dúvida esta é uma alternativa interessante e que produz muitos efeitos. Mas a Palavra de Deus, sugerida para este domingo apresenta um desafio muito maior e que foi colocado em prática pelas comunidades cristãs quase dois mil anos do advento das tecnologias.
Os Atos dos Apóstolos mostram como Paulo foi reconhecido pelos discípulos e pela comunidade não pela propaganda, mas pela firmeza da sua pregação e pela verdade do seu testemunho e isto com a graça do Espírito Santo fez a Igreja crescer: Barnabé tomou Saulo consigo, levou-o aos apóstolos e contou-lhes como Saulo tinha visto o Senhor no caminho, como o Senhor lhe havia falado e como Saulo havia pregado, em nome de Jesus, publicamente, na cidade de Damasco. Daí em diante, Saulo permaneceu com eles em Jerusalém e pregava com firmeza em nome do Senhor”.
Na segunda leitura João lança um desafio para cada pessoa convidando a fazer um exame de consciência sobre si mesmo levando em conta o único critério verdadeiramente necessário: “Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu. Quem guarda os seus mandamentos permanece com Deus e Deus permanece com ele”.
No Evangelho Jesus aponta uma condição “sine qua non  para que alguém seja reconhecido nos seus frutos. Isso significa, permanecer unido a videira e aceitar ser podado. A recusa a esta condição tem uma única condição: “Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados”. Ao contrário, porém: “Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedí o que quiserdes e vós será dado”.
O que significa precisamente “permanecer unido a Videira” no mundo contemporâneo senão compreender e agir como “sal da terra e luz do mundo”. Ou seja, buscar a santidade não necessariamente afastando-se das realidades deste mundo, mas santificando-se e fazendo outros se santificar nas ações cotidianas seja na Igreja seja no trabalho e em todos os lugares onde a pessoa realiza suas atividades diárias.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

BOM PASTOR E PEDRA PRINCIPAL


SUGESTÃO DE HOMILIA PARA O DIA 
22 DE ABRIL DE 2018

A vida nas famílias, na Igreja, na sociedade é uma constante descoberta. A convivência com os outros vai costurando como uma “colcha de retalhos” informações e oportunidades de novos conhecimentos e relacionamentos. Quanto maior o conhecimento mais os mistérios vão sendo desvendados e cresce a responsabilidade e o comprometimento entre as partes.
Isto foi o que aconteceu na relação entre Jesus e seus discípulos, entre os discípulos e as primeiras comunidades que aceitaram a doutrina de Jesus e obviamente pode acontecer entre os cristãos contemporâneos e o anuncio do Evangelho que vai se concretizando no cotidiano das comunidades.
 Na primeira leitura Pedro apresenta como Jesus age no meio deles. Apresentando um paralítico que foi curado. Contra fatos não há argumentos. Vendo as boas obras que os discípulos fazem porque acreditam no nome e na doutrina de Jesus só resta aceitar a o anúncio e a denúncia apresentada por Pedro: “Aquele que vocês recusaram, tornou-se a pedra principal”.
Ser chamado de Filho é um privilégio e uma necessidade de todo ser humano. Mas João afirma ainda mais do que isso. Todos recebemos como um presente de Deus a condição de ‘Filhinhos amados do Pai”.
No Evangelho Jesus se denomina com o mesmo nome de Deus: “Eu sou”. E nesta ocasião completa com um adjetivo “Eu sou o bom pastor”. E descreve uma série de características daquele que é bom: “Zeloso, corajoso, não foge, não se acovarda, conhece as ovelhas”.
As leituras são muito claras para ajudar entender que quanto mais conhecemos os mistérios de Deus mais se é desafiado a aceitar Jesus como Pedra Principal, como Bom Pastor, e obviamente a agir do mesmo jeito que ele, ou seja cultivar a santidade que o Papa Francisco chama de ousadia e impulso evangelizador.
Aceitar que Jesus é a Pedra principal exige caminhar rumo a santidade Leva-nos aonde se encontra a humanidade mais ferida e aonde os seres humanos continuam à procura de resposta para a questão do sentido da vida. Deus não tem medo! Ultrapassa sempre os nossos esquemas e não Lhe metem medo as periferias.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

HOMILIA PARA O DIA 15 DE ABRIL DE 2018


RECONCILIADOS E EM PAZ COM TODOS

Enxergar o pecado, os erros, os sofrimentos, as dificuldades e tudo o que se constitui problema para as pessoas e para a sociedade é uma das coisas mais fáceis e mais habituais nas comunidades, nas famílias, nas instituições e na própria Igreja. Entre os cristãos é muito frequente enxergar o cisco no olho do outro, e pior que isso, como diz o Papa Francisco: “Me dói muito comprovar como nas comunidades cristãs se cria oportunidade para o ódio, divisão calúnia, difamação, fofoca, ciúme e até perseguições”
A Palavra de Deus neste domingo é um convite a fazer sério exame de consciência sobre as atitudes pessoais e comunitárias naquilo que se refere a dar testemunho de Jesus e da fé que se acredita. O texto dos Atos do Apóstolos responsabiliza a comunidade inteira, mesmo aqueles que nem conheceram Jesus, mas deixa claro que o pecado de alguns acaba sendo “pecado de todos” na medida em que traz consequências para muitos ao longo do tempo. Mas o mesmo texto é contundente ao dizer: “E agora, meus irmãos, eu sei que vós agistes por ignorância, assim como vossos chefes. Deus, porém, cumpriu desse modo o que havia anunciado pela boca de todos os profetas: que o seu Cristo haveria de sofrer. Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que vossos pecados sejam perdoados”. Isso significa que Deus está disposto a recuperar a dignidade perdida e as consequências do pecado desde que os erros passados tenham servido de lição para aqueles que não participaram do pecado de outrora e que estejam dispostos a construir uma nova forma de viver e fazer as coisas.
E João afirma na segunda leitura: “Meus filhinhos, escrevo isto para que não pequeis. No entanto, se alguém pecar, temos junto do Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. Naquele, porém, que guarda a sua palavra, o amor de Deus é plenamente realizado”.
O Evangelho narra o reencontro dos discípulos de Emaús com o grupo dos onze. Não se trata de uma crise de fanatismo e loucura, mas de um estilo de vida que a ressurreição de Jesus inspira em todos eles. Acreditar na ressurreição de Jesus implica em compreender que apesar da experiência do pecado e da tristeza que se está sujeito diariamente, o perdão e a graça de Deus são forças poderosas que não deixam sucumbir aqueles que acreditam.
Em resumo, acreditar na graça de Deus e na ressurreição de Jesus implica ser responsável e ser construtor de esperança para que o mundo e as relações entre as pessoas sejam pautadas pela alegre surpresa do bem em lugar de ver erros e pecados alheios, colaborar para que eles sejam evitados e que as pessoas experimentem a reconciliação que se dá pela cooperação e pela solidariedade entre todos.

quinta-feira, 5 de abril de 2018


SOLIDARIEDADE E RESPEITO COM AQUELES QUE ESTÃO EM DIFICULDADE

Nestes dias Itajaí é a sede da maior competição esportiva no mar. Velejadores de diversas partes do mundo fazem sua escala e período de reabastecimento para depois continuar sua viagem. Nesta etapa alguns são vitoriosos, noutra etapa podem ser outros. Todos chegam contando suas façanhas positivas e seus desafios, para nenhum deles o outro competidor deixa de ser importante e a quem se possa dispensar solidariedade e ajuda e estímulo.
Pois é uma lição semelhante que se pode tirar da Palavra de Deus neste domingo. Na certeza da ressurreição de Jesus as primeiras comunidades não se iludiram com o sucesso da vitória. Pelo contrário trouxeram sempre presente os desafios que enfrentaram para garantir o resultado que provaram com a ressurreição e a nova vida que Jesus garantiu a todos. Isso não significa que não tivessem a percepção que o futuro continuaria a ser desafiador para as comunidades que se formavam inspiradas nos acontecimentos daquele primeiro dia da semana.
Na leitura dos Apóstolos eles estão bem conscientes da sua missão e da exigência do seu testemunho para que muitos acreditem naquilo que querem anunciar. As pessoas passaram a estimar as comunidades que se formavam não por causa de suas doutrinas, mas por causa da fraternidade e da seriedade na administração daquilo que pertencia a todos.
Na segunda leitura João convida todos a se desafiar na realização do bem e na superação de todas as violências e perigos que o mundo oferece. Acreditar em Jesus e na sua vitória implica na capacidade de envidar todos os esforços para ser também vencedor de tudo aquilo que estraga e diminui a fraternidade e a cooperação humanas.
Os relatos das aparições de Jesus não se limitam a narrativas de fatos ocorridos num passado distante, mas fazem a comunidade reviver a memória do seu Senhor. Jesus ressuscitado não é o vitorioso e livre das dores da morte e da cruz. Mostrando as mãos e o lado fica evidente que sua vitória não está separada do seu sacrifício. O Evangelho ensina que não se pode separar a euforia pascal do calvário da sexta feira da paixão.
Como os discípulos que reconheceram Jesus, também os cristãos da atualidade são desafiados a dar de forma gratuita e generosa o testemunho de quem viu Jesus. Os Tomes da atualidade são os excluídos de nossas comunidades e que não reconhecem naqueles que estão dentro das igrejas e dos grupos de oração um testemunho que seja fidedigno. Chagados, sofredores, violentados, excluídos os Tomés contemporâneos esperam dos cristãos a atitude de quem é Sal da Terra e Luz do Mundo.


quinta-feira, 22 de março de 2018

HOMILIA PARA O DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR


DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR
BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR

Que a violência existe na sociedade e é muito mais presente do que se imagina é um fato inegável. Que muitas vezes os meios de comunicação são os principais responsáveis pelo aumento ou manutenção de situações de violência também é fácil de perceber. A maneira como a imprensa e as redes sociais fazem chegar ao conhecimento das pessoas as notícias, os fatos e os boatos é uma violência escancarada. Muitos relatos ganham contornos dramáticos que não são entendidos apenas como uma narrativa, mas como um evento que se repete por meio da informação.
Os dois evangelhos deste domingo “são relatos inegavelmente fundamentado em acontecimentos concretos, não é uma simples reportagem jornalística da condenação à morte de um inocente; mas é, sobretudo, uma catequese destinada a apresentar Jesus como o Filho de Deus que aceita cumprir o projeto do Pai, mesmo quando esse projeto passa por um destino de cruz”.
A fala de Isaias, foi desde muito cedo entendida pelos cristãos como se o profeta estivesse falando sobre Jesus, o mesmo que a carta aos filipenses descreve como uma pessoa que soube muito bem colocar-se no seu lugar.
O ensinamento da Palavra de Deus para este domingo de Ramos e da Paixão do Senhor pode ser resumido em poucas palavras: colocar a vida a serviço das pessoas pode parecer um caminho para fracassados. Entretanto, está mais do que claro que para que acreditar em Deus e na sua Palavra é uma condição que “garante a todos que o caminho do dom da vida não é um caminho de “perdedores” e fracassados: o caminho do dom da vida conduz ao sepulcro vazio da manhã de Páscoa, conduz à ressurreição. É um caminho que garante a vitória e a vida plena”. Os cristãos são desafiados a serem Palavra Viva de Deus capaz de chegar ao coração de todos.

quinta-feira, 1 de março de 2018

HOMILIA PARA O DIA 04 DE MARÇO DE 2018


O VERDADEIRO LUGAR PARA CULTUAR AO PAI

Uma das preocupações na liturgia da Igreja reside no cuidado com o espaço sagrado. São muitas as normas e rubricas litúrgicas sobre o cuidado com o templo e os demais espaços e objetos reservados para o culto. Ao mesmo tempo a Igreja nunca descuidou do primeiro e mais extraordinário espaço da morada e do encontro entre Deus Pai e o mundo. Trata-se do templo que é a própria pessoa humana. O cuidado que a criatura humana merece está descrito desde o início da criação quando Deus pede que seja reservado um dia para o descanso, como ele mesmo fez. Já no tempo de Jesus encontramos mais explicitamente no evangelho da Samaritana, quando ela pergunta sobre o local onde se deve adorar a Deus. A resposta de Jesus é precisa: “os verdadeiros adoradores fazem em espírito e verdade”. No texto de hoje ele se irrita com as autoridades do Jerusalém que transformaram o Templo num lugar de exploração da pessoa e da dignidade das pessoas.
No livro do Êxodo não precisa maior clareza: Eu sou o Senhor teu Deus que te salvou de muitas armadilhas e enrascadas, portanto faça você a mesma coisa com o seu semelhante, pois  “Vocês são todos irmãos”.
São Paulo é categórico com a afirmação: “nós, porém, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, esse Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus”. Esse é o verdadeiro Templo por quem damos glórias a Deus.
Claro está que o mais santo e melhor templo onde mora e no qual pode-se encontrar  Deus é a pessoa humana, como se vê a explicação do evangelho: “Jesus estava falando do Templo do seu corpo. Quando Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra dele”.
Nesta quaresma vamos pedir que o Senhor livre a todos do perigo de se transformar em mercadores do templo, em pessoas que utilizam os outros para levar vantagem, promover o lucro e diminuir a qualidade de vida das pessoas.
Que as comunidades sejam espaço onde todos se sintam irmãos acolhidos e que as lideranças saibam escutar todos os sofrimentos, afinal de contas ser leigo na Igreja é ser Sal da terra e luz do mundo.