segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 24 DE JANEIRO DE 2021 - 3º DO TEMPO COMUM - ANO B

 MOSTRAI-ME Ó SENHOR O SEU CAMINHO

Dentre as situações que as pessoas têm dificuldade no dia a dia uma delas é tomar decisões. Sobretudo, porque as decisões podem ser de caráter imediato e apontarem para soluções e alternativas imediatas, porém com consequências para o futuro de todos os envolvidos numa determinada escolha. Esse processo que marca toda a vida costuma ser doloroso e quase sempre se recorre a algum conselho, palpite, opinião e assim por diante.

A leitura do livro de Jonas é a continuação da decisão dele mesmo tomando outro caminho em vez daquele para o qual tinha sido enviado e que o levou a ser jogado no mar e engolido por uma baleia.  No texto de hoje ele aceita a missão e leva ao povo de Nínive a notícia e o convite para uma mudança de vida: “Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída'. Os ninivitas acreditaram em Deus; aceitaram fazer jejum, e vestiram sacos, desde o superior ao inferior. Vendo Deus as suas obras de conversão e que os ninivitas se afastavam do mau caminho, compadeceu-se e suspendeu o mal que tinha ameaçado fazer-lhes, e não o fez”.  A decisão dos ninivitas lhes fez provar a bondade e a misericórdia de Deus que significou o perdão e o começo de uma nova história.

A comunidade de Corinto, para quem Paulo escreve a segunda leitura deste domingo, é composta por gente valorosa e entusiasmada, mas que ao mesmo tempo vive as fragilidades de uma cidade com muitos costumes e com culturas muito distintas. E Paulo valoriza tudo o que eles já fazem, ao mesmo tempo lhes deixa claro que todas essas coisas são transitórias e o que os verdadeiros valores estão muito além das realidades terrenas. Vivendo num lugar e num tempo determinado é importante considerar e observar todas as realidades cotidianas sem perder de vista os valores do Reino. Vivam as realidades deste mundo na certeza de que todas elas são passageiras, ou seja, não tornem valores transitórios em escolhas absolutas: “pois a figura desse mundo passa”.

Marcos narra o início da atividade messiânica de Jesus que é a confirmação das outras duas leituras: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”.  Estas palavras são a confirmação do convite feito por Jonas e ouvido pelos cidadãos de Nínive e de Paulo aos coríntios.

Na sequência Jesus forma sua primeira leva de seguidores convidando-os a mudança radical no seu estilo de vida: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens'. Eles imediatamente seguiram a Jesus”.

Também nós somos diariamente convidados a modificar nossa mentalidade, nossos costumes, nossas verdades e aceitar uma proposta nova, rever nossos valores e atitudes. Para caminhar com Ele e construir uma nova história será necessário uma grande dose de generosidade, de compaixão de coragem para frequentes mudanças de mentalidade. O seguimento de Jesus pode ser pleno em qualquer estado de vida e em todas as profissões desde que tenham como referência a compaixão, a partilha, a construção de um mundo mais justo, fraterno, humano, um mundo que se pode definir como um lugar no qual vivamos como irmãos.

Rezando o salmo deste domingo procuremos tornar realidade aquilo que rezamos:

Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,
vossa verdade me oriente e me conduza!


Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,
e fazei-me conhecer a vossa estrada!
Vossa verdade me oriente e me conduza,
porque sois o Deus da minha salvação.


Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura
e a vossa compaixão que são eternas!
De mim lembrai-vos, porque sois misericórdia
e sois bondade sem limites, ó Senhor!

O Senhor é piedade e retidão,
e reconduz ao bom caminho os pecadores.
Ele dirige os humildes na justiça,
e aos pobres ele ensina o seu caminho.

 

HOMILIA PARA O DIA 17 DE JANEIRO DE 2021 - 2º DO TEMPO COMUM - ANO B

 O MESTRE MORA NO MEIO DO POVO!

Uma das características da criatura humana é a insatisfação e a busca por novidades e oportunidades para realização pessoal. Nesse processo a pessoa está geralmente disposta a empreender novas aventuras e empreendimentos. Para isso quase sempre busca parcerias e alguém com quem compartilhar seus projetos e sonhos. As leituras da Palavra de Deus nesse domingo apresentam diferentes situações nas quais as pessoas compartilham suas preocupações e esperanças.

O autor da primeira leitura descreve o diálogo e aceitação da proposta surgida de maneira quase misteriosa. Deixando claro que a inciativa é de Deus conclui com a compreensão do chamado e a resposta de Samuel: “Fala Senhor que teu servo escuta'.  Samuel crescia, e o Senhor estava com ele. E não deixava cair por terra nenhuma de suas palavras”.

Ontem como hoje, não são poucas as vozes que “vendem” propostas de felicidade, cada um de nós é desafiado a identificar neste emaranhado a voz de Deus. Obviamente que para isso a ajuda e a confiança em alguém que partilha conosco a mesma fé e percorre o mesmo caminho é uma participação significativa.

Falando para a comunidade de Corinto, Paulo sugere a coragem e a determinação para levar a vida guiada pela luz de Deus. Insistindo na pureza e no respeito para com a vida toda e o cuidado com o corpo o apóstolo conclui: “De fato, fostes comprados, e por preço muito alto. Então, glorificai a Deus com o vosso corpo”.  Isso significa levar a sério e com coerência os compromissos assumidos respeitando a si mesmo e aos outros.

A expectativa em relação à vinda do Messias ocupava o centro das preocupações no tempo de Jesus. O evangelho descreve o encontro com João Batista a formação da primeira comunidade de seguidores do Mestre. Reconhecendo o Cristo que passa os primeiros discípulos são convidados a ir com ele. Não são bonitas palavras que irão definir onde ele mora, antes a abertura para outro estilo de vida: “Mestre, onde moras?' Jesus respondeu: 'Vinde ver”. E na sequência dessa descoberta a coragem para sair, anunciar e convidar outros a fazerem a mesma experiência: “André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram Jesus. Ele foi encontrar primeiro seu irmão Simão e lhe disse: 'Encontramos o Messias (que quer dizer: Cristo)'. Então André conduziu Simão a Jesus”.

A morada do mestre logo foi reconhecida por ser um lugar onde se quer se poderia  ter a tranquilidade de uma pedra para reclinar a cabeça, pelo contrário, era possível encontrá-lo em meio aos famintos, doentes, pecadores, pobres, desprezados com eles se identificava procurando promover e libertá-los das amarras, sofrimentos e exclusões.

Também nós que estamos ávidos por novas aventuras, sonhos, descobertas, empreendimentos temos a possibilidade de encontrar e reconhecer Jesus: São milhões de desempregados, vitimados pela violência e pelo feminicidio, nas crianças abandonadas e sem comida, sem escola, sem dignidade, nos jovens vítimas da droga e de outras formas de exploração inclusive sexual.

Fazer do evangelho um empreendimento que valha a pena é muito mais do que pertencer a uma Igreja, receber os sacramentos, participar de algum movimento observar certas práticas e regras doutrinais.

Encontrar Jesus hoje, e ser seu parceiro significa construir comunhão com Ele no encontro com as pessoas que bem perto de nós são vítimas de toda forma de abandono, sofrimento e dor.

Se perguntarmos hoje de novo: Mestre onde mora, ele nos dirá “No meio do povo, vem e verás”.

Peçamos a graça de responder com o salmista: Eis que venho, Senhor,
com prazer faço a vossa vontade! 
Sacrifício e oblação não quisestes, mas abristes, Senhor, meus ouvidos; não pedistes ofertas nem vítimas, holocaustos por nossos pecados”. 

HOMILIA PARA O DIA 03 DE JANEIRO DE 2021 - FESTA DA MANIFESTAÇÃO DO SENHOR - ANO B

 LUZ PARA ILUMINAR AS NAÇÕES

O filósofo brasileiro Mário Sergio Cortella fala do cotidiano das pessoas afirmando que cada um derrama proposital ou acidentalmente aquilo que traz dentro de sua caneca. Isso significa que somos desafiados a nos perguntar frequentemente o que carrego na minha caneca. Ao mesmo tempo ter a certeza que quando a vida nos surpreende vamos derramar exatamente aquilo que carregamos: Alegria, agradecimento, paz, bondade, humildade! Ou pelo contrário raiva, amargura, tristeza, maledicências e assim por diante.

Ora as leituras deste domingo da manifestação do Senhor nos apresentam a ação de Deus no cotidiano da história e como Deus derrama sobre o mundo aquilo que lhe é próprio e como convida as pessoas a terem as mesmas atitudes.

Deste modo o profeta Isaias fala ao povo de Israel, que retornava da dura experiência do exílio sonhando com uma cidade muito diferente daquela que estavam encontrando. Renova-lhes a esperança garantindo que Deus vai dar a esta terra um novo rosto e que para isso seja pleno todas as pessoas que ali se encontram precisam agir como Deus. Atrair os olhares do mundo inteiro implica que todos façam a sua parte na manutenção da luz que Deus derrama sobre abundantemente: “Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor. Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti. Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora”.

A mesma tônica é dada por São Paulo na carta aos efésios: “Se ao menos soubésseis da graça que Deus me concedeu para realizar o seu plano a vosso respeito, Este mistério, Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas mas acaba de o revelar agora” Em outras palavras a salvação de Deus é uma realidade que alcança a todos e não exclui ninguém, em torno da pessoa e do mistério que foi revelado em Jesus todos são convidados a se encontrar numa fraternidade capaz de partilhar e construir solidariedade com todas as pessoas e com a nossa casa comum.

No Evangelho Mateus narra o surpreendente encontro entre os magos estrangeiros e o Rei Herodes. Enquanto os primeiros estavam repletos e guiados pela luz de Deus representada pela estrela, Herodes tinha em sua caneca ódio, vingança, morte e sofrimento. Os magos seguiram a estrela, encontraram o menino e seguiram suas vidas por um caminho diferente do Rei: “Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram e retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho...” enquanto “Herodes ficou perturbado” e quis impedir a manifestação de Deus ao mundo.

Os magos são a representação de todas as pessoas que empenham todos os esforços para construir diariamente a casa dos filhos de Deus, encontram Jesus e o levam ao mundo. Peçamos a graça também nós de lhe seguir sua luz e de levá-la ao mundo acolhendo e incluindo as pessoas nesse grande projeto de vida e de esperança. Como cristãos procuremos encher nossa caneca com tudo o que há de melhor para derramar ao mundo. E que em nossa caneca as pessoas possam reconhecer Jesus e seu projeto para de vida plena para a humanidade inteira.

HOMILIA PARA O DIA 10 DE JANEIRO DE 2021 - BATISMO DO SENHOR - ANO B

 O SENHOR ABENÇOARÁ O SEU POVO COM A PAZ!

Dentre as preocupações que os pais tem em relação aos filhos uma delas diz respeito a escolha da profissão e da maneira como como eles irão desenvolver as ações e responsabilidades que lhe forem confiadas. A liturgia deste domingo apresenta a preocupação de Deus com a salvação da humanidade e esclarece a missão do seu Filho no mundo.

Jesus, apresentando-se para cumprir a lei de Moisés e aceitando o batismo ministrado por João revela-se como o Filho amado de Deus e mostra ao mundo sua missão salvadora. Na condição humana Jesus partilhou de todas as realidades desta natureza e experimentou todas as fragilidades inerentes ao dia a dia no mundo. Porém na sua condição divina ele nos libertou do egoísmo e do pecado e nos garantiu uma vida em plenitude.

A pessoa do servo apresentada pelo profeta: “Eis o meu servo - eu o recebo; eis o meu eleito - nele se compraz minh'alma; pus meu espírito sobre ele,
ele promoverá o julgamento das nações. Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas. Não quebra uma cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega; mas promoverá o julgamento para obter a verdade”, 
este servo é a antecipação da imagem do Filho amado que se revela no evangelho.  Na condição de servo é enviado para realizar todas as promessas de justiça e de paz que nunca terão fim. Longe das fraquezas humanas e das ilusões de poder e de prepotência o servo realiza a sua missão com humildade e simplicidade.

No evangelho João Batista se apresenta como profeta para anunciar o enviado de Deus. Declarando sua pequenez mostra a verdadeira identidade daquele que precisa ser conhecido pelo mundo: “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me  abaixar para desamarrar suas sandálias. Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo”.

Por sua vez Jesus declara seu propósito de cumprir tudo o que diz respeito a sua condição humana. Caminha lado a lado com as pessoas, experimenta as fragilidades cotidianas e à medida que interage com elas faz conhecer sua condição divina promovendo-os a filhos e herdeiros da mesma promessa reconciliando a humanidade com Deus.

A sua fidelidade ao projeto de Deus lhe rende a declaração extraordinária da sua missão: “E do céu veio uma voz: 'Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer”.

No texto dos Atos dos Apóstolos se confirma tudo o que havia sido dito no Evangelho: “Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judéia, a começar pela Galiléia, depois do batismo pregado por João: como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele”.

Ontem como hoje, os batizados, como discípulos e missionários somos chamados a testemunhar a salvação que Deus oferece a todos os povos. Para mostrar Jesus não é necessário fazer malabarismos e grandes milagres, simplesmente estar disposto a agir como ele que “passou pelo mundo fazendo o bem”.

Dentre as forma de fazer o bem, uma delas será reconhecer a igualdade e dignidade de todas as pessoas eliminando das nossas relações toda espécie de discriminação e exclusão cuidando de tudo e de todos como bons administradores daquilo que nos foi confiado.

HOMILIA PARA O DIA 01 DE JANEIRO DE 2020 - SANTA MÃE DE DEUS - ANO B

 TUA BÊNÇÃO, SENHOR, NOS ILUMINE!

A evolução da sociedade e das relações humanas exige cada vez mais planejamento, organização, parcerias, contratos e colaboração.  O Papa Francisco tem insistido que vamos sair desse tempo de “noites escuras” provocadas pela pandemia melhores e mais fortes de quando fomos por ela surpreendidos, mas precisamos sair juntos.

A liturgia deste primeiro dia do ano nos sugere uma ação de graças por tudo o que foi possível enfrentar no ano de 2020, ao mesmo tempo aponta para novas possibilidades e atitudes frente ao novo que se descortina à nossa frente. As leituras podem ser resumidas em três palavras: Bênção, Liberdade, Alegria!

O texto do livro dos números apresenta a mais antiga e extraordinária forma da presença de Deus na vida das pessoas: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz”.  É claro que a presença de alguém na nossa vida supõe que seja aceito por nós e isso implica em reciprocidade entre o que podemos receber e o que temos a oferecer. Assim também se dá com a bênção de Deus cuja presença poderá nos garantir vida plena e segura em meio às adversidades que o tempo e as situações nos apresentam.

São Paulo escreve aos gálatas, como se falasse para cada um de nós: Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abá - ó Pai! Assim já não és mais escravo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro: tudo isso, por graça de Deus”. Se tivermos a convicção que Deus nos fez seus filhos e nos cumulou com a herança de Jesus Cristo podemos também ter a certeza que caminhar em sintonia e comunhão com as outras pessoas será uma forma de perceber a presença e ação de Deus em nossa vida que nos liberta dos medos, das tristezas, dos sofrimentos e das provocações de todos os tempos.

No Evangelho temos quatro personagens que podem nos ensinar como caminhar pela luz que Deus faz brilhar em nós e pelas boas notícias que dele recebemos em meio às dificuldades de cada dia. José um homem justo, Maria que guarda e medita tudo em seu coração, o menino cujo nome significa “Deus nos visita” e os pastores que recebem a noticia e correm para confirmar o que lhes tinha sido revelado.

Todos fazem a mesma experiência de sofrimento, dificuldades e agruras que as circunstâncias exigem, mas nenhum perde a alegria e a certeza de que Deus caminha com eles!

Encontrando tudo como o anjo lhes tinha anunciado os pastores convidam a todos para a mesma atitude: “Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido”.

No primeiro dia do ano a Igreja nos convida a colocar Maria como modelo a ser imitada quando se trata de reconhecer em Jesus a visita de Deus e nele acolher tudo o que Ele nos dá como bênção sobre bênção.

Vamos pedir nesse primeiro dia do ano a serenidade de Maria para meditar e guardar tudo o que nos chega diariamente e nestes fatos descobrir os caminhos de Deus que muitas vezes se revela nas curvas do cotidiano e nos altos e baixos da vida. Que Maria nos ensine a valorizar, respeitar e promover as pessoas, sobretudo, as mais fragilizadas a assumir o caminho e o compromisso da paz que começa em nossa própria casa.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 24 DE DEZEMBRO DE 2020 - MISSA DA AURORA - ANO B

 

ESTÁ CHEGANDO O SALVADOR

O contraste dia e noite, luz e trevas, claridade e escuridão são situações cotidianas que dispensam grandes comentários. Todos temos preferência pela segurança do dia, pela claridade da luz e assim por diante. Mas é fato também que a noite, as trevas, a escuridão fazem parte do nosso dia a dia. Frequentemente usamos a expressão “noites escuras” no sentido que também São João da Cruz escreveu para fazer referência aos sofrimentos e provações que a vida nos submete e que nem sempre temos forças para enfrentar ou “dar a volta por cima”.

Para o povo de Israel a espera de um messias que fosse “luz nas longas noites da sua existência” se estendeu por muitas gerações e os profetas tentaram lhes animar e devolver a esperança quando tudo parecia perdido. As leituras da Palavra de Deus nesta noite são também para nós um conforto e alento para os difíceis dias que estamos vivendo.

Eis que o Senhor fez-se ouvir até às extremidades da terra. Eis que está chegando o teu salvador, com a recompensa já em suas mãos e o prêmio à sua disposição”. A este anuncio do profeta, como os pastores daquele tempo nós também respondemos: “Brilha hoje uma luz sobre nós, pois nasceu para nós o Senhor”.

E que muito mais tarde São Paulo faz questão de proclamar: Manifestou-se a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor pelos homens: Ele salvou-nos não por causa dos atos de justiça que tivéssemos praticado, mas por sua misericórdia”.

Porém para reconhecer o Messias e a enxergar a sua luz que brilha nas noites escuras da vida é preciso que tenhamos a disposição e a coragem dos pastores: “Vamos a Belém, ver este acontecimento que o Senhor nos revelou.' Os pastores foram às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido, deitado na manjedoura. Tendo-o visto, contaram o que lhes fora dito sobre o menino. E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam”

Acolher Jesus, celebrar o nascimento implica empenhar todos os esforços para que a paz, a justiça, a fraternidade, a comunhão e todas as alegrias e esperanças que o seu nascimento trouxeram torne-se realidade no meio de nós.

Que o natal nos ensine a não ser indiferentes com o sofrimento e a dor alheia, mas antes nos faça inquietos construtores e responsáveis para que a sociedade contemporânea em todas as suas ações e atitudes sintam-se participantes e integradas no Reinado de Deus.

A presença de Jesus no mundo deve ser experimentada por todos e fazer encher os olhos, o coração e a vida de felicidade. Nosso jeito de organizar a sociedade e as relações devem manifestar nossa aceitação da proposta de Deus como rezamos no salmo:

Uma luz já se levanta para os justos,*
e a alegria, para os retos corações.
Homens justos, alegrai-vos no Senhor,*
celebrai e bendizei seu santo nome! 

 

 

 

HOMILIA PARA O DIA 20 DE DEZEMBRO DE 2020 - 4º DOMINGO DO ADVENTO - ANO B

 

NÃO TENHAS MEDO

A modernidade e os desafios da complexa organização da sociedade exigem sempre mais capacidade de planejamento e organização para responder aos desafios e dar conta das responsabilidades que a vida vai impondo ao longo do tempo. Por outro lado, a humanidade, desde o princípio precisou de um mínimo de organização e planejamento para garantir a boa convivência entre todos.

Neste quarto domingo do advento a liturgia da Palavra nos mostra como Deus se encarrega de sempre marcar presença e ajudar as pessoas ao longo dos desafios que a existência impõe. As promessas que Deus fez a Davi e ao seu povo, de alguma maneira continuam sendo concretizadas até os nossos dias.  E mesmo na finitude dos nossos dias a palavra de Deus continua garantindo a continuidade dos nossos projetos conforme fala o profeta Isaias na primeira leitura: “Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então, suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realeza.  Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre”. O anuncio de um descendente para o reinado de Davi é a confirmação de que Ele nunca abandona o seu povo nem tampouco desiste de apontar para todos o caminho da felicidade e da plena realização.

Essa certeza nós rezamos no Salmo deste domingo:

Ao Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor,
de geração em geração eu cantarei vossa verdade!
Porque dissestes: 'O amor é garantido para sempre!'
E a vossa lealdade é tão firme como os céus”. 

A promessa que Deus fez a Davi se concretizou na pessoa de Jesus e por sua vida se manifesta a todos os povos e a humanidade inteira até o dia que todos estejam integrados à grade família de Deus. Assim afirma São Paulo na carta aos romanos: Agora este mistério foi manifestado e, mediante as Escrituras proféticas, conforme determinação do Deus eterno,  foi levado ao conhecimento de todas as nações, para trazê-las à obediência da fé. A ele, o único Deus, o sábio, por meio de Jesus Cristo, a glória, pelos séculos dos séculos. Amém”!

Para isso, ontem como hoje Deus continua sendo presença nos projetos pessoais, algumas vezes modificando radicalmente as escolhas, outras vezes confirmando e pedindo colaboração.  A narrativa do Evangelho é uma maneira de Deus manifestar sua presença no mundo. Chamando a pessoa de Maria e transformando a sua condição de esposa e mãe da humanidade em esposa e mãe do Filho de Deus é uma forma de compreender como na simplicidade do nosso cotidiano somos também nós convidados a colaborar para que as realizações do cotidiano ganhem além da determinação humana a feição divina.

O convite e aceitação que Maria faz das palavras do Anjo são hoje dirigidos a cada um de nós. Deus continua participando dos nossos projetos e das nossas preocupações. Ele pede morada em nosso coração, em nossas famílias, em nossas igrejas. É importante que tenhamos a disposição de Maria: “Faça-se em mim segundo a sua palavra”.  Vamos abrir nossas portas para que Ele entre e faça parte da nossa vida. Deixemo-nos transformar pelo seu amor e pela alegria transmitida pelo  mensageiro de Deus.

Que a chegada do Natal nos faça a todos testemunhas da boa notícia e dos mistérios de Deus para a humanidade.

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 29 DE NOVEMBRO DE 2020 - 1º DO ADVENTO - ANO A

 

CONVERTEI-NOS PARA QUE SEJAMOS SALVOS

A segunda leitura deste domingo é o início da primeira carta de São aos coríntios. Como de resto, essa carta também Paulo começa com um elogio e uma ação de graças: “Irmãos: Para vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Dou graças a Deus sempre a vosso respeito, por causa da graça que Deus vos concedeu em Cristo Jesus: Nele fostes enriquecidos em tudo, em toda palavra e em todo conhecimento, à medida que o testemunho sobre Cristo se confirmou entre vós”.

Corinto é uma cidade próspera, servida por dois portos, nela vivem pessoas de muitas raças e muitas religiões, contrastava a riqueza de alguns com a miséria de outros. Qualquer semelhança com a nossa bela Itajaí não é mera coincidência.

A pregação de Paulo fez nascer em Corinto uma comunidade muito viva e fervorosa ao mesmo tempo exposta aos perigos próprios de uma cidade com estas características. Uma comunidade com boas possibilidades para fazer frutificar a boa notícia ensinada por Paulo, mas ao mesmo tempo marcada pelas fragilidades própria das suas características. Paulo deixa claro também que Deus foi generoso com os coríntios: “Assim, não tendes falta de nenhum dom”.

Lá como aqui, guardadas as proporções e os tempos, é importante ter claro que Deus continua vindo ao nosso encontro e não nos deixa faltar nada, nenhum dom! Entretanto, diante de tantas semelhanças, merece que nos perguntemos: “Nossa comunidade e cada um de nós acolhe os dons de Deus como sinais vivos do seu amor?”.

A resposta dessa pergunta está mais uma vez em duas palavras: Vigilância e responsabilidade como Jesus reforça no Evangelho: “Cuidado! Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento. Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem. Para que não suceda que, vindo de repente, ele vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: Vigiai!”.

De uma coisa podemos ter certeza, não estamos caminhando sem rumo, como quem vai ao encontro do nada, mas caminhamos ao encontro do Senhor que vem. Não estamos sustentados por uma esperança distante e sem sentido, mas caminhamos na alegria de que vai ao encontro do seu Senhor.

Iniciamos o novo ano litúrgico e advento é a preparação próxima para experimentar a felicidade sem fim, de qualquer modo as palavras mágicas são vigilância e responsabilidade. 

Responsabilidade significa indignar-se com as indignidades que ferem a vida dos filhos e filhas de Deus, fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para superar as misérias humanas e construir com toda a força e com todo o empenho  relações fraternas, justas e sinceras.  Que saibamos aproveitar as potencialidades que a Corinto dos nossos tempos oferece para superar as fragilidades que aqui como lá excluem, destroem e ignoram os mais fracos e desprotegidos. Que sejamos capazes de viver o que rezamos no Salmo:

 

R.Iluminai a vossa face sobre nós,
convertei-nos, para que sejamos salvos!

2aAo Pastor de Israel, prestai ouvidos.
2cVós que sobre os querubins vos assentais,*
aparecei cheio de glória e esplendor!
3bDespertai vosso poder, ó nosso Deus*
e vinde logo nos trazer a salvação! 
R.


15Voltai-vos para nós, Deus do universo!
Olhai dos altos céus e observai.*
Visitai a vossa vinha e protegei-a!
16Foi a vossa mão direita que a plantou;*
protegei-a, e ao rebento que firmastes! 
R.


18Pousai a mão por sobre o vosso Protegido,*
o filho do homem que escolhestes para vós!
19E nunca mais vos deixaremos, Senhor Deus!*
Dai-nos vida, e louvaremos vosso nome! 

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 22 DE NOVEMBRO DE 2020 - DOMINGO DE CRISTO REI - ANO A

 

NA CASA DO SENHOR HABITAREMOS

Nas nossas casas a figura da mãe tem uma importância extraordinária e mesmo quando os filhos já são crescidos e independentes, cultivam com a figura materna uma relação de dependência e proximidade extraordinária. Não são poucas as mães que consideram os filhos como se fossem sempre crianças e os tratam como quem precisa de cuidado e atenção a vida inteira. Essa figura materna muitas vezes os profetas usaram para definir a relação de Deus com a humanidade. Neste último domingo do ano litúrgico, no qual enaltecemos Jesus Cristo como o Rei do Universo, mais uma vez a Palavra de Deus o apresenta como alguém preocupado com as criaturas e com o bem estar de cada uma delas. Nós rezamos o salmo da liturgia deste domingo que frequentemente repetimos sem perceber a profundidade das palavras:

O Senhor é o pastor que me conduz;
não me falta coisa alguma.


2Pelos prados e campinas verdejantes *
ele me leva a descansar.
Para as águas repousantes me encaminha, *
3e restaura as minhas forças.

5Preparais à minha frente uma mesa, *
bem à vista do inimigo,
e com óleo vós ungis minha cabeça; *
o meu cálice transborda.

6Felicidade e todo bem hóo de seguir-me *
por toda a minha vida;
e, na casa do Senhor, habitarei *
pelos tempos infinitos.

O Que significa isso se não a concretização das palavras do profeta Ezequiel na primeira leitura: “Assim diz o Senhor Deus: Vede! Eu mesmo vou procurar minhas ovelhas e tomar conta deles. Como o pastor toma conta do rebanho, de dia. Vou procurar a ovelha perdida, reconduzir a extraviada, enfaixar a da perna quebrada, fortalecer a doente, e vigiar a ovelha gorda e forte. Vou apascentá-las conforme o direito”.  O que é isso se não uma preocupação materna!

O anúncio do profeta vai se concretizar plenamente na pessoa de Jesus, aquele a quem São Paulo afirma para a comunidade de Corinto: “por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Pois é preciso que ele reine até que todos os seus inimigos estejam debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte”. O Cuidado  materno de Deus com a humanidade é de tal modo pleno que nem mesmo a morte terá poder sobre a fragilidade humana.

Obviamente que  este cuidado e  preocupação que Deus nutre em relação a humanidade precisa ser partilhado e compartilhado com todos. O Evangelho é a continuação das recomendações de Jesus que ouvimos nos últimos domingos. Para aqueles que querem encontrar Deus e participar do seu reino pede-se uma única atitude: estar vigilante! E no caso de hoje estar vigilante em relação às necessidades e situações das pessoas com quem convive. A cena do Juízo final narrada de forma quase apoteótica poderá ser entendida não porque as pessoas interpretarão os grandiosos sinais no céu, mas antes porque estarão atentos aos sinais terrenos: Vinde benditos de meu Pai, Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar. Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes”.

Vamos rezar como irmãos a fim de que aconteça aquilo que rezamos na oração final da missa: “Nós vos pedimos ó Deus, que, obedecendo na terra os mandamentos de Cristo, possamos viver com Ele no céu”.

Que experimentemos o cuidado materno de Deus para conosco e vigilantes também sejamos maternos cuidadores das pessoas em todas as suas necessidades.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 15 DE NOVEMBRO DE 2020 - 33º COMUM - ANO A

 

BÊNÇÃOS ABUNDANTES TODOS OS DIAS DA VIDA

Quem para no semáforo da Rua Felipe Schmidt pode ler no alto do Colégio Salesiano a frase de São João Bosco: Nossa vida é um presente de Deus e o que fazemos dela é o nosso presente a Ele Essa frase serve como ideia chave para meditar as leituras da Palavra de Deus neste domingo.

As três leituras são um convite para a responsabilidade com a vida e os dons que Deus concede a todos em toda a história humana. O livro dos Provérbios descreve alguns valores capazes de garantir a felicidade para todos. Colocando a figura de uma mulher como modelo a ser imitado o autor sugere que a existência humana encontrará sua realização na generosidade, no trabalho, no amor a Deus e aos irmãos: “Uma mulher forte, quem a encontrará? Ela vale muito mais do que as joias. Tal pessoa garante alegrias em lugar de desgosto; é capaz de trabalhar com habilidade ao mesmo tempo em que estende a mão ao necessitado, a pessoa que assim se comporta mostra seu amor a Deus e merece ser louvada nas praças”.

Por sua vez, na carta aos Tessalonicenses, São Paulo deixa claro que o mais importante quando se refere a reconhecer Deus em nossa vida é estar vigilante, viver de acordo com os ensinamentos de Jesus, testemunhar seus projetos e trabalhar na construção do Reino: “Todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite, nem das trevas. Portanto, não durmamos, como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios”.

E Jesus no evangelho apresenta a maneira adequada de aguardar a vinda do Senhor. Fica claro no texto que instalar-se na comodidade e na indiferença para com os valores do Reino leva a condenação e não garante nenhuma produção com os dons que se recebe. Independente de quais e quantos sejam os dons disponíveis para cada pessoa, importa fazê-los produzir e não desperdiçar privando as pessoas da nossa contribuição por um mundo mais justo e humano. A lógica de Deus é não deixar ninguém de fora, a todos o Senhor confia valores e qualidades que podem ser traduzidos em bondade, misericórdia, compaixão, lealdade, em resumo, Deus nos presenteia com a vida toda e toda a vida. Reconhecer que Deus nos cumulou com generosidade é a maneira mais autêntica de multiplicar os talentos. Precisamos fugir da lógica fundamentalista que entende os dons apenas como bens materiais e dinheiro, não é esta a mensagem da parábola. Não podemos esquecer que o único que ofereceu dinheiro como garantia de felicidade foi o diabo no episódio das tentações de Jesus.

As palavras do Evangelho são muito claras: “A um deu cinco talentos,
a outro deu dois e ao terceiro, um; a cada qual de acordo com a sua capacidade
”. Não se trata de dinheiro para comprar e consumir, gastar e possuir, mas qualidades para fazer a vida valer a pena.

É neste sentido que nós rezamos o salmo de hoje:

Será assim abençoado todo homem
que teme o Senhor.
O Senhor te abençoe de Sião,
cada dia de tua vida;
para que vejas prosperar Jerusalém.

E que atualizando se pode melhor entender com a frase de São João Bosco: “Nossa vida é um presente de Deus e o que fazemos dela é o nosso presente a Ele”.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 08 DE NOVEMBRO DE 2020 - 32º COMUM - ANO A

 

VIGILÂNCIA E PRUDÊNCIA NA ESPERA DO SENHOR QUE VEM

Dentre os quadros mais apreciados e páginas mais acessadas na internet e nos aplicativos móveis um deles é o que diz respeito a previsão do tempo, a expectativa em relação a chuva, temperatura e o clima em geral. Preocupar-se com as condições de balneabilidade das praias, ressacas e marés é uma constante nestes dias que antecedem a temporada de verão. A mesma vigilância as autoridades sanitárias continuam reforçando sobre os cuidados para evitar uma segunda onda de contágio da COVID 19. Se fosse possível resumir as preocupações destes dias talvez se possa fazê-lo em duas palavras: Vigilância e prudência!

É sobre essas duas palavras que tratam as leituras deste domingo. O que é fundamental para que as pessoas reconheçam a presença de Deus e tudo o que ele oferece é a vigilância e a prudência. Deus abre generosamente as ‘comportas do céu.’ Para receber e reconhecer todos os dons basta que as pessoas tenham seus corações abertos e sejam generosos na medida que Deus dispensa a sua generosidade.

O livro da Sabedoria revela numa linguagem emocionante a verdadeira expectativa que deve guiar as pessoas: “Meditar sobre a sabedoria é a perfeição da prudência; e quem ficar acordado por causa dela em breve há de viver despreocupado. Pois ela mesma sai à procura dos que a merecem, cheia de bondade, aparece-lhes nas estradas e vai ao seu encontro em todos os seus projetos”.  

E São Paulo convida aos tessalonicenses a se preocupar com uma única coisa: “Irmãos, não queremos deixar-vos na incerteza a respeito dos mortos, para que não fiqueis tristes como os outros, que não têm esperança. Se Jesus morreu e ressuscitou - e esta é nossa fé - de modo semelhante Deus trará de volta, com Cristo, os que através dele entraram no sono da morte. Exortai-vos, pois, uns aos outros, com estas palavras”. São Paulo reacende a esperança da comunidade de tessalônica garantindo-lhes que apesar de todas as provações, todos os sofrimentos, toda a dor que a criatura humana está sujeita a vida é uma caminhada tranquila e confiante e cuja culminância será um desabrochar pleno onde todas as criaturas experimentaram uma nova realidade.

A história das virgens do Evangelho, não é outra coisa senão um convite para evitar as tensões e preocupações da última hora. Na mesma proporção que as primeiras comunidades cristãs também na atualidade experimentamos altos e baixos, momentos de entusiasmo, de compromisso, de alegria, de esperança, com momentos de pouco empenho, de certa preguiça, de falta de entusiasmo que facilmente nos levam a se preocupar com coisas pouco importantes, deixando de lado outras mais urgentes e exigentes. A vigilância que as virgens imprudentes não cultivaram é o que se pede de cada pessoa nos dias de hoje a festa que poderá acontecer no encontro definitivo com o Senhor dependerá da nossa vigilância e da nossa prudência que nos farão construtores do Reino de Deus a cada dia desta existência terrena. Deixar que as lamparinas se apaguem por falta do azeite da esperança e do cuidado é um risco que todos correm quando todas as coisas parecem já estar no patamar de segurança.

Deus continua vindo ao encontro do mundo, como o noivo ao encontro da esposa, que ele não nos encontre despreparados e alheios às preocupações do cotidiano, como quem nada tem a ver com o mundo presente. Dentre as preocupações da atualidade o Papa Francisco tem apresentado sua angústia em relação a uma economia diferente, que faça viver e não matar, incluir e não excluir, humanizar e não desumanizar, cuidar da Criação e não a depredá-la. É neste sentido que o Papa Francisco propôs a realização de um encontro mundial para repensar a economia. Um evento que nos ajude a estar juntos e nos conhecer, e que nos leve a fazer um ‘pacto’ para mudar a atual economia e dar uma alma à economia do amanhã.

O momento exige estar com as lâmpadas acesas e não se acomodar com aquilo que já se sabe sobre o assunto, ou com as informações que a imprensa apresenta quase sempre tendenciosas e de acordo com interesses de uns ou de outros.

Rezar numa única voz no dia do Senhor é um clamor que se eleva ao Pai pela comunhão entre todos como se reza no salmo: “Sois vós, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora ansioso vos busco! A Minh ‘alma tem sede de vós, minha carne também vos deseja, como terra sedenta e sem água! ”