ENSINAI-NOS A CONTAR OS NOSSOS DIAS...
Expressões do tipo: “Tudo fogo de palha”; “Maria vai com as outras”, “Firme como
palanque no brejo”, “Sempre em cima do muro”. São muitas vezes usadas para
conceituar uma pessoa indecisa, e de fato essas atitudes não encontram respaldo
na Palavra de Deus que ouvimos nesse domingo.
O autor da primeira leitura parte da certeza que nossos
dias na face da terra são contados e que por nós mesmos somos incapazes de
compreender o verdadeiro sentido da vida, e que a única maneira de alcançar os
objetivos da vida é colocar nossa confiança em Deus: “Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Mal podemos conhecer o que
há na terra, e com muito custo compreendemos o que está ao alcance de nossas
mãos; quem, portanto, investigará o que há nos céus? Acaso alguém teria conhecido o teu desígnio, sem que
lhe desses Sabedoria e do alto lhe enviasses teu santo espírito? Só assim se tornaram retos os caminhos dos que estão na
terra, e os homens aprenderam o que te agrada, e pela Sabedoria foram salvos”.
Por isso nós rezamos no
Salmo: “Ensinai-nos a contar os nossos
dias,/ e dai ao nosso coração sabedoria, pois mil anos para vós são como ontem,/ qual vigília de uma
noite que passou. Eles passam como o sono da manhã,/ são iguais à erva verde pelos campos:/ De manhã ela floresce
vicejante,/ mas à tarde é cortada e logo seca”.
E Jesus no Evangelho
esclarece que não vale o “fogo de palha
do momento”, nem tão pouco “ser uma
espécie de Maria vai com as outras”, trata-se de decidir com maturidade.
Para facilitar as decisões
humanas, Jesus aponta três condições:
1)
Total liberdade de escolha, mesmo que isso implique renunciar
aos afetos mais queridos: “Se alguém vem a mim, mas não
se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas
irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo”
2)
Disponibilidade para caminhar com Ele e aprender com Ele: “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu
discípulo”
3)
Renuncia a tudo o que uma pessoa julga ser importante, e que de fato é,
mas que na perspectiva da partilha, fraternidade e comunhão precisa ser
colocado em segundo plano: “Qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não
pode ser meu discípulo! ”
As condições que Jesus apresenta não são propostas
fáceis, tipo “fogo de palha” com o
objetivo de convencer multidões, mas um convite exigente para pessoas capazes
de fazer escolhas conscientes que “não
ficam em cima do muro”. Trata-se de quem compreende que precisa sempre da
ajuda de Deus: “Que a bondade do Senhor e
nosso Deus/ repouse sobre nós e nos conduza! / Tornai fecundo,
ó Senhor, nosso trabalho”.
Esta escolha e o cumprimento
destas condições se tornam muito mais fáceis quando colocamos as pessoas,
independente da sua perfeição, como o centro das nossas preocupações e atenção.
Tal ensinamento nos vem da carta de São Paulo a Filemon: “Eu, Paulo, velho como estou e agora também prisioneiro de Cristo Jesus, faço-te um pedido em favor do meu filho, que fiz nascer para Cristo na prisão, Onésimo. Eu o estou mandando de volta
para ti. Ele é como se fosse o meu próprio coração”
Como gente que quer ser
discípulo de Jesus é importante que nos perguntemos: Quais são as condições que
nós e nossa Igreja impõe para acolher as pessoas? Como tratamos os diferentes e
aqueles que julgamos terem cometido alguma falta? Peçamos a graça de levar a
sério a nossa condição de seguidores de Jesus e não ter medo de aceitar o
pedido de Paulo: “acolhe cada pessoa
recebendo-a e tratatando-a como se fosse outro discípulo e um irmão muito
querido”.