O
SENHOR É AMOR E FIDELIDADE PARA SEMPRE
As
expressões: “Fulano não é flor que se
cheira” e “Beltrano não é trigo limpo”
aquele outro “está fora da casinha”, são
frequentemente usadas para fazer referência a uma pessoa que não inspira
confiança com quem a gente sempre fica com um pé atrás. Pois a liturgia da
Palavra desse domingo trata exatamente de duas pessoas colocadas nessa situação
nos seus respectivos tempos. A primeira leitura narra um episódio ocorrido
cerca de 800 anos antes do nascimento de Cristo e no Evangelho é o próprio Jesus
quem se relaciona com leprosos e excluidos sendo que um deles é também
samaritano. Nos dois casos as pessoas em referência são do tipo “Flor que não se cheira”.
Na
contrapartida dessa situação os textos mostram como o projeto de salvação de
Deus não é exclusivista, pelo contrário sua misericórdia se estende a todas as
pessoas sem exceção, a todos é dada a condição para experimentar a salvação e a
misericórdia que consiste simplesmente em reconhecer que só em Deus encontramos
a salvação e a vida verdadeira.
O
fato relatado na primeira leitura acontece num tempo em que o povo de Israel
tinha se deixado contaminar por práticas e cultos a diversos deuses. Nesse
contexto uma grande autoridade ouve falar do profeta Eliseu e cumpre a ordem do
profeta: “Naqueles dias, Naamã, o sírio, desceu e
mergulhou sete vezes no Jordão, conforme o homem de Deus tinha mandado, e sua
carne tornou-se semelhante à de uma criancinha, e ele ficou purificado”. A mensagem central desse texto
consiste em reconhecer que só em Deus temos a vida plena e muito mais num tempo
em que facilmente colocamos nossas esperanças em ídolos humanos e materiais
somos convidados a rever nossas certezas e a centralidade de nossa fé.
O
Evangelho começa com a seguinte constatação: “Aconteceu que, caminhando para
Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. Quando
estava para entrar num povoado, dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam à
distância, e gritaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!” A lepra que estava consumindo a
vida e a dignidade dos sujeitos do Evangelho se assemelha às desgraças que se
espalham por toda a humanidade sendo causa de exclusão, marginalidade, opressão
e injustiça. A sociedade contemporânea está machucada pelo sofrimento e a
miséria que causam também o afastamento de Deus. A narrativa do Evangelho
mostra como através de Jesus, Deus Pai revela um projeto de salvação e inclusão
no qual todos têm lugar e podem encontrar vida em plenitude. Naturalmente que
um tão grande dom pede uma contrapartida de gratidão: “Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? E os outros nove,
onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não
ser este estrangeiro?” E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te
salvou”. Notemos que também no nosso tempo, e com bastante
frequência aqueles que a sociedade considera “flor que não se cheira”, ou “fora
da casinha” são os primeiros a manifestar seu reconhecimento e gratidão. Ao
contrário e não raro os que se consideram melhores e mais perfeitos costumam
condenar e excluir os “impuros” considerando-se como privilegiados de Deus
esquecem de reconhecer a bondade e a misericórdia que alcança a todos. Quase
sempre os perfeitos não agradecem porque se consideram merecedores, como se
Deus lhes devesse favores por sua condição de “pessoas do bem” e nessa condição permanecem cheios de orgulho e
enclausurados na sua autossuficiência.
A
segunda leitura mostra como a pessoa que acolhe o dom de Deus é capaz de viver
o amor e entregar-se ao serviço de todos: “Lembra-te de Jesus Cristo, da
descendência de Davi, ressuscitado dentre os mortos, segundo o meu evangelho”.
O convite que Paulo faz a Timóteo
é extensivo a todos os cristãos: “Merece
fé esta palavra: se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele
ficamos firmes, com ele reinaremos. Se nós o negamos, também ele nos negará. Se
lhe somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo”.
Tal como Paulo todos somos
convidados a nos identificar com Cristo independente de todas as provações e
sacrifícios. Peçamos a graça de reconhecer em Jesus a presença de Deus Pai no
meio do mundo, que a oração, a escuta da Palavra e a Eucaristia nos conservem
na comunhão com as pessoas e com Deus.