O MEU JUGO É SUAVE E O MEU FARDO É LEVE
Não
é raro que nós tenhamos sentimento de rejeição e indignação em relação aos
comportamentos pouco gentis e a falta de cordialidade das autoridades e de
servidores públicos por exemplo. Pessoas que procuram vender uma imagem que não
corresponde com a fineza e a cortesia também são recriminados com bastante
facilidade. A arrogância, a prepotência e o orgulho não são sentimentos
aprovados nas relações interpessoais.
Pois
a liturgia desse domingo mostra exatamente o contrário e nos ajuda a reconhecer
Deus que se apresenta vestido de simplicidade, se faz reconhecer na humildade,
na pobreza e na pequenez. Um Deus que se apresenta dessa maneira não precisa de
força para dar fim às guerras e as disputas pelo poder: “Exulta,
cidade de Sião! Rejubila, cidade de Jerusalém. Eis que vem teu
rei ao teu encontro; ele é justo, ele salva; é humilde e vem
montado num jumento, um potro, cria de jumenta”. A atitude desse rei desmonta
a visão de mundo, de realeza, de força e segurança que se apresenta com
agressividade, com armas e instrumentos sofisticados que consomem muitos
recursos que poderiam ser investidos para promover a paz e a concórdia: “Eliminará os carros de Efraim, os
cavalos de Jerusalém; ele quebrará o arco de guerreiro, anunciará
a paz às nações”.
Na
segunda leitura mais uma vez temos São Paulo apresentando duas situações
antagônicas entre si: ‘Viver segundo a carne ou viver segundo o espírito’. Aqueles
que vivem na primeira condição mostram sua verdadeira face instalados na
autorreferencialidade, na prepotência e na arrogância. Aqueles que vivem
segundo o espírito reconhecem que a morte de Jesus não terminou com o projeto
de Deus, pelo contrário, foi o tormento da cruz que transformou Jesus no servo
obediente e fiel a quem o Pai confiou o cuidado de toda a obra criada.
Tal como Jesus também os cristãos que fizerem
de sua vida um serviço aos demais serão agraciados, como Paulo mesmo afirmou no
último domingo, com a coroa da justiça: “Vós não viveis segundo a carne, mas
segundo o espírito, se realmente o Espírito de Deus mora em vós. E, se o
Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então
aquele que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará
também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós”.
No Evangelho Jesus faz um agradecimento a Deus
Pai reconhecendo como Ele acolhe, compreende e ama seus filhos e filhas, mas
tem uma predileção especial pelos mais fragilizados: “Eu
te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas
coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”. Jesus faz essa louvação para
contrastar com os fariseus e doutores da lei que se julgavam melhores e mais perfeitos
que todos os demais. Na condição de sábios e autorizados a interpretar as
escrituras eles se consideravam os únicos destinatários da salvação. Sem dizer
exatamente quem eram os pequeninos parece ficar claro que Jesus está se referindo
aos seus discípulos, mas com eles também estão os pecadores, os doentes, os
publicanos, as pessoas de má fama. Em lugar de considerar a lei como uma
espécie de “linha direta” com Deus Jesus mostra que a misericórdia do Pai não
precisa destes subterfúgios e recursos mundanos. A única condição para acessar
Deus é seguir Jesus e viver os seus preceitos. Em outras palavras fazer a
experiência de estar com Jesus. Ele então conclui o Evangelho com um convite: “Vinde a mim
todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu
vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou
manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é
suave e o meu fardo é leve".
O convite de
Jesus expressa o desejo de socorrer todos os que estão excluídos e despidos da
dignidade humana. O Vinde a mim, de Jesus é o abraço misericordioso do Pai que
acolhe a todos apesar das fraquezas e infidelidades. Ninguém está excluído do
abraço de Deus, mas ao mesmo tempo ninguém tem o direito de excluir quem quer
que seja dos espaços e dos locais de encontro e de comunhão. Que o Espírito
Santo nos ensine e nos faça compreender o que rezamos no salmo.
Misericórdia
e piedade é o Senhor,*
ele é amor, é paciência, é compaixão.
O Senhor é
muito bom para com todos,*
sua ternura abraça toda criatura.