sexta-feira, 1 de novembro de 2013

HOMILIA PARA O DIA 03 DE NOVEMBRO DE 2013

SEJAM SANTOS COM O PAI DE VOCÊS É SANTO
A vida humana é marcada por inúmeras buscas e desafios. Cada vez que se toma conhecimento de alguma condição melhor para se viver a pessoa empreende todos os esforços a fim de ir para uma determinada região, galgar um novo emprego, mudar de cidade e assim por diante.
Na solenidade de todos os santos a Igreja dá graças a Deus com estas palavras: “Festejamos hoje a cidade do céu, a Jerusalém do alto, nossa mãe, onde nossos irmãos, os santos, vos cercam,  e cantam eternamente o vosso louvor. Para essa cidade caminhamos pressurosos, peregrinando na penumbra da fé, alegres por saber que estão na vossa luz tantos membros da Igreja que nos dais ao mesmo tempo como exemplo e ajuda inestimável”.
É cada vez mais aceita a compreensão de que ser santo significa viver em plenitude as virtudes do evangelho e por isso costuma-se qualificar as pessoas com o título de santo(a) não necessariamente por ter feito muitos milagres, mas porque sua vida serve de exemplo e modelo para quem ainda está a caminho.
Quando se quer ir para algum lugar que não se conhece bem, uma atitude sábia é consultar alguém que já esteve por lá. Quase sempre aquele que é procurado dá uma série de indicações sobre como proceder, seja no caminho, seja na estadia naquele lugar estranho.
É sobre esta ótica que se celebra o dia de todos os santos. Recordam-se os irmãos e irmãs que viveram num tempo determinado, num lugar e condição específica e que acertaram os passos na vida. As leituras proclamadas enaltecem esta situação e fortalecem a confiança.
No texto do Apocalipse o autor se confia à multidão dos que lavaram suas vestes no sangue do cordeiro e agora proclamam: “"A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro. Amém. O louvor, a glória e a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força pertencem ao nosso Deus para sempre. Amém".
Já a carta de João faz valorizar a filiação e por meio dela ter convicção que todos são herdeiros e poderão transitar livremente na cidade do céu, cuja ação de graças se proclama na missa.
Naturalmente que aqueles que assim procederam se enquadram entre os bem aventurados de quem Jesus fala no Evangelho e a quem ele  convida: “Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.
Em resumo, todos poderão participar  da multidão dos que são filhos de Deus e para isso basta tomar algumas atitudes muito simples, embora exigentes e que transformem o cotidiano das relações na família, na sociedade e na Igreja. 


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

SUGESTÃO DE HOMILIA PARA O DIA DE FINADOS

NINGUÉM VAI AO PAI SE NÃO POR MIM...

Acreditar nas palavras de Jesus tem sido, ao longo do tempo, praticamente a única certeza e muitas vezes o único conforto que dos cristãos. Mais cedo ou mais tarde todos podem provar que as palavras do Mestre de Nazaré encontram ressonância na sua vida e nos acontecimentos do cotidiano.
Uma das situações particularmente delicada que o ser humano precisa lidar se constitui pela experiência da morte. Diante desta realidade é comum ficar sem palavras e querer buscar respostas e explicações para um fato que não cabe em nenhuma resposta e muito menos em qualquer justificativa.
O ser humano nasce e está pronto para morrer. A atitude sábia e bonita que a fé ensina aparece no carinho que as famílias têm para com aqueles que morreram. Cuidar do jazigo onde repousam os restos dos entes queridos, visitar o cemitério, cultivar atitudes de respeito mostra a grandeza da vida e solenidade da morte.
Porém, há uma verdade não compreendida, mas diversas vezes manifestada para os cristãos. “Se a certeza da morte entristece a confiança na imortalidade conforta”. De fato todos os textos bíblicos que fazem referência à morte são também provocadores de fé e fazem reacender a esperança.
No dia, reservado para lembrar os mortos, merece reforçar a força que se recebe pela Fé. Acreditar que a morte não é o fim e que pelos merecimentos de Jesus que  salvou a todos, um dia será possível viver o reencontro com os que já partiram, enxuga as lágrimas e garante  que a vida com suas fragilidades está nas mãos de Deus.

Neste sentido a doutrina católica da comunhão dos santos ganha particular importância. Cada vez que se proclama a fé e se diz: “Creio na ressurreição dos mortos, na comunhão dos santos e na vida eterna” se está afirmando a importância de rezar juntos com os vivos e os falecidos para confortar o coração de todos. 

HOMILIA PARA O DIA 27 DE OUTUBRO 2013

NÃO AO CORAÇÃO ORGULHOSO...


O Papa Francisco que surpreendeu o mundo  mais com suas atitudes do que com suas palavras, também fez afirmações categóricas e que ajudam a compreender quem é o Deus a quem os cristãos adoram.  Dentre as declarações do Papa, a expressão: “Sou um pecador para quem o Senhor olhou. Sou alguém que é olhado pelo Senhor”. Se encaixa perfeitamente no contexto da Palavra de Deus deste domingo.
A última oração que o padre reza na missa deste domingo diz assim: “Que os vossos sacramentos produzam em nós o que significam”. Participando da missa cada pessoa tem consciência que está buscando modificar-se, adequar sua vida às propostas do evangelho, em resumo, pede a graça de ser melhor, mais santo, semelhante a Deus Pai que é Santo.
Efetivamente, as leituras  bíblicas deste domingo tem total consonância com a afirmação do Papa Francisco e com aquilo que os cristãos rezam na assembleia reunida. No texto do livro Eclesiástico o autor afirma que a ação de Deus não despreza aquele que pede com o coração: “Quem serve a Deus como ele o quer, será bem acolhido e suas súplicas subirão até as nuvens. A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso; e não descansará até que o Altíssimo intervenha, e faça justiça aos justos e execute o julgamento”.
Por sua vez, São Paulo fala para o amigo Timóteo, convencido que toda a sua vida foi uma preparação para o encontro definitivo com aquele que lhe chamou. Sua comparação com as práticas desportivas lhe dá a certeza que não foi perfeito, mas que fez aquilo que a vida lhe pedia para fazer: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. E o Senhor esteve a meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão”.
Na parábola dos dois que vão ao templo rezar, num primeiro momento nada há de errado que cada um reconheça as suas virtudes e fracassos. O Fariseu, não está errado apresentando a sua reta conduta e aquilo que de fato ele fez cumprindo a lei e os mandamentos. O publicano nem tampouco pode ser desprezado por sua fragilidade. O erro do primeiro, e o endereço da parábola contada por  Jesus não é para uma  pessoa em particular ou para uma classe de pessoas. O que Jesus condena não é o sujeito, nem tampouco o fato de que o fariseu seja um cumpridor da lei. A advertência de Jesus está na condição em que a pessoa se coloca acima e melhor que os demais.
É neste sentido que a palavra do Papa Francisco ganha importância e coerência com a Palavra de Deus. Ele é o líder da Igreja Católica, toma atitudes de um chefe de estado, comporta-se como autoridade, mas não se orgulha desta condição, reconhece sua pequenez diante de Deus e diante do mundo.

O Exemplo do Papa tem sintonia com o convite de Jesus: Independente da perfeição do coração de cada um é importante não esquecer que se tem o coração ferido e rezar com se faz no salmo: “O Senhor liberta a vida dos seus servos, e castigado não será quem nele espera”.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

HOMILIA PARA O DIA 20 DE OUTUBRO DE 2013 - 29º DOMINGO DO TEMPO COMUM

DO SENHOR É QUE VEM O MEU SOCORRO...

Não é raro entre os cristãos a prática de promessas, de novenas, de corrente de oração, de invocação aos santos,  e um sem número de alternativas pedindo que Deus mostre os caminhos, aponte soluções e ajude a resolver problemas.
A motivação principal com estas preces e intercessões é abrir-se à graça de Deus para que ela possa agir dando forças físicas e emocionais para enfrentar cada uma e todas as urgências e necessidades.
Estas atitudes aparecem nos textos da Palavra de Deus que se proclama neste domingo.  De um lado está o exército de Israel combatendo com armas, isso é, fazendo a parte que lhe compete, de outro lado está Moisés confiando a força e a garra do seu povo ao coração misericordioso de Deus. Obviamente que a união destas duas forças se confirma na oração do salmo: “Eu levanto os meus olhos para os montes: de onde pode vir o meu socorro? Do Senhor é que me vem o meu socorro,  do Senhor que fez o céu e fez a terra!”.
Na mesma direção está a recomendação de Paulo a Timóteo. O texto situado num tempo de perseguição intensa contra os cristãos  os ajuda e estimula a não fraquejar diante das dificuldades, mas, pelo contrário a permanecer firme e confiante na verdade que foi ensinada: “Permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como verdade; tu sabes de quem o aprendeste”.
E de modo mais que simples e objetivo o Evangelho começa com a frase: “Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir”. As duas pessoas envolvidas na história mostram os extremos da força e da fragilidade daquele tempo. Uma viúva sem nenhuma proteção e cuidado da parte de ninguém e um juiz detentor de toda autoridade.
A indefesa viúva só tem a força da sua persistência e esta condição que lhe garante ser atendida mesmo por um homem que nada tinha de compaixão. De longe Jesus deixa transparecer que o coração de Deus seja insensível ao clamor humano, antes de tudo, afirma categoricamente: “Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa”.
Em resumo, o que está explicito na Palavra de Deus deste domingo é certeza que à medida que a criatura humana for capaz de buscar com insistência tudo aquilo que tem direito e que o faz na convicção de estar agindo com justiça não ficará sem resposta.

Na reunião de oração a comunidade inteira é convidada a fazer exatamente a mesma coisa: Ouvir e não se descuidar da fé, a fim de que a força do evangelho ajude a todos serem verdadeiras testemunhas da ação de Deus no mundo.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

HOMILIA PARA O DIA 13 DE OUTUBRO DE 2013

O SENHOR FEZ POR NÓS MARAVILHAS...

Quanto mais o ser humano vai adquirindo conhecimentos e informações, cada vez são maiores as suas angústias e preocupações. O homem contemporâneo encontra explicações para quase todas as limitações, mas ainda não resolve a preocupação fundamental sobre a origem da vida e a constituição última deste mistério. A neste ponto, independente de qualquer religião ou mesmo de ausência de fé ele se obriga a admitir o mistério que em última instância se encontra no sobrenatural.
Este é também o ensinamento da liturgia da Palavra deste domingo. Na primeira leitura tem-se o diálogo de um estrangeiro inimigo com o profeta. Ao final da conversa as certezas do incrédulo estrangeiro caem por terra e ele admite que o profeta tem um Deus protetor: “Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda a terra, senão o que há em Israel!”. Não sem razão o salmo canta as maravilhas deste Deus único e a assembleia reza na mesma intensidade: “Cantai ao Senhor Deus um canto novo, porque ele fez prodígios! Sua mão e o seu braço forte e santo alcançaram-lhe a vitória”.
São Paulo, na continuação da carta que pode ser entendida como o seu testamento faz perceber que o único porto seguro é Jesus Cristo e o seu ensinamento: “Merece fé esta palavra:  se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele ficamos firmes, com ele reinaremos. Se nós o negamos, também ele nos negará. Se lhe somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo”.
E na continuação da sua caminhada para Jerusalém, o Senhor se depara com os leprosos excluídos do convívio social e sem possibilidade de participar da normalidade da vida. Mediante o  pedido: “Mestre, tem compaixão de nós!”. Jesus não se limita a fazer um milagre ou mostrar-lhes um sinal, pelo contrário, os chama à responsabilidade e a participação: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”.  Uma vez que aceitaram esta proposta, imediatamente estão curados e possibilitados para participar da sociedade que os havia excluído.
Mas o que mais conta em tudo isso, não é nem o fato de ser curado, e a condição de haver despertado a fé naquele estrangeiro que voltou para agradecer: “tua fé te salvou”.

É assim que a igreja se coloca diante da Palavra do Senhor e os fiéis reunidos em oração são chamados a enfrentar as dificuldades da vida, sem esquecer de dar graças e reconhecer que é Deus mesmo quem ajuda e alivia os sofrimentos nos momentos mais difíceis ou nas horas de abandono que a vida parece patrocinar cada vez com mais frequência.

NOSSA SENHORA APARECIDA

MÃE DO CÉU MORENA...


As relações contemporâneas estão cada vez mais exigindo a interpretação de sinais e símbolos. Estes por sua vez, como o próprio nome, podem ser interpretados sob diversos pontos de vista e de acordo com a ótica interpretativa ganham outros sentidos e compreensão.
A Solenidade de N. Sra. Aparecida, no contexto das festas da Igreja  tem uma significação particular para o Brasil e o seu povo. A imagem encontrada  no rio Paraíba é muito mais do que um sinal para a sociedade de outrora que entendia como normal que seres humanos fossem tratados como escravos feito mercadoria.
As leituras bíblicas sugeridas para a celebração da Igreja nesta ocasião são também repletas de sinais e símbolos que ensinam por si mesmos e permitem tirar lições para todos os tempos. A rainha Ester, cujo relato se ouve na primeira leitura, serve-se da sua beleza física, mas sobretudo da sua  Fé no Deus de Israel. Se aproxima do trono real e usando dos seus direitos faz um único pedido que nada tem de vantagem pessoal: “"Se ganhei as tuas boas graças, ó rei, e se for de teu agrado, concede-me a vida - eis o meu pedido! - e a vida do meu povo - eis o meu desejo!”.
O texto do apocalipse apresenta uma frágil mulher, sendo colocada à prova diante da força do dragão. Com todas as prerrogativas de um poder opressor o dragão ameaça a vida dela mesma e daquele a quem ela vai dar à luz. Eis que de novo se pode tirar a lição sob o alcance da mão de Deus. A mulher é a figura do povo fragilizado e perseguido, nos nossos tempos pode ser entendida também como a imagem da Igreja manchada e perseguida por ameaças gigantes que estão dentro dela mesma. Mas eis que a seu tempo Deus envia seus anjos e a mulher é socorrida enquanto o dragão é expulso.
Formosa e  também frágil é a vida do povo. Chega um momento no qual já não se pode mais aceitar alguns sinais de reposição do velho vinho, é necessário um vinho novo e este é Jesus – filho de Maria – é Ela mesma quem reconhece, dentre as muitas interpretações que se pode fazer do “milagre em Caná da Galileia” – que agora o que importa é deixar falar o “vinho novo” isto é seu Filho Jesus: “Façam tudo o que ele disser


HOMILIA PARA O DIA 06 DE OUTUBRO DE 2013

HOJE, NÃO FECHEIS O VOSSO CORAÇÃO...

O Salmo de resposta que se reza neste domingo na liturgia faz um convite insistente a crescer na Fé, cuja preocupação era também a dos discípulos e que foi manifestada no texto do Evangelho. Entretanto a Fé não é uma condição abstrata e sem conexão com a vida.
Na entrevista que concedeu esta semana o papa Francisco fez um apelo ao mundo para manifestar a Fé com gestos bem concretos em favor das pessoas. Durante a entrevista o papa pediu que o mundo tenha diante de si as preocupações com a juventude e com os idosos e afirmou que estas duas fases são as mais ameaçadas na vida e por isso mesmo as mais vulneráveis. Tal pedido tem total sintonia com as leituras escolhidas para este domingo.
O profeta Habacuc faz um lamento diante de Deus por causa do sofrimento das pessoas que estão como que pisoteadas pela impiedade: “Senhor, até quando clamarei, sem me atenderes? Até quando devo gritar a ti: 'Violência!', sem me socorreres? Por que me fazes ver iniquidades, quando tu mesmo vês a maldade?. Porém o clamor do profeta não cai no vazio, Deus mesmo lhe responde: “Quem não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé” Dito de outra maneira se pode compreender o texto como um convite para cultivar uma fé operante, que valoriza e promove a vida, que garanta dignidade e alegria.
Já São Paulo, na carta a Timóteo, faz um testamento de despedida que ao contrário de alimentar o medo, a dor e a tristeza, encoraja para o testemunho:Exorto-te a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. Guarda o precioso depósito, com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós”.
E quando os discípulos pedem que Jesus lhes aumente a fé, mais uma vez ele não trata a partir da quantidade, mas da qualidade: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: `Arranca-te daqui e planta-te no mar', e ela vos obedeceria”. E para quem está convencido daquilo que bom e justo basta agir com a consciência do dever cumprido. Nem mais, nem menos: “Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei:  Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”.
Neste sentido a Palavra de Deus é um convite para viver plenamente a serviço da vida sob a ótica da fé. Reconhecer que se é convidado a ir muito além da mediocridade cotidiana cooperar com a obra de Deus no mundo, precisamente nos locais onde ela está mais fragilizada e ameaçada. É aqui que entra preocupação do papa Francisco: Cuidar dos jovens e dos velhos isso parece ser o problema mais urgente que a Igreja tem pela frente.
Por isso mesmo os cristãos se reúnem para rezar uns com os outros confiantes que o Senhor pode dar “mais do que merecemos e pedimos”.


sábado, 28 de setembro de 2013

HOMILIA PARA O DIA 29 DE SETEMBRO DE 2013

O SENHOR AMA AQUELE QUE É JUSTO

Nesta semana dois fatos chamaram a atenção do mundo. A Conferência das Nações Unidas e mais uma vez os discursos do Papa do Francisco. Na abertura da Conferência da ONU a presidente do Brasil mostrou sua indignação com a atitude dos países mais poderosos que tratam os demais com desrespeito querendo impor à força as suas vontades, usando para isso de todos os meios legais e ilegais.
O Papa Francisco no discurso que fez à multidão na quarta feira pela manhã em Roma afirmou que o cristão precisa antes de falar mal de alguém “morder a  própria língua”, neste sábado falando para o pessoal que trabalha dentro do Vaticano fez as mesmas observações pedindo que todos se ocupem exatamente com a sua função e não se deixem levar pelas fofocas, maledicências e intrigas que facilmente são cultivadas entre as pessoas.
Nos dois casos a lição que se pode tirar está na direção da responsabilidade consigo e com os demais. Antes de ficar se preocupando com o modo como ser melhor, maior, mais importante, é necessário garantir que as coisas no mundo estejam a serviço do ser humano para que este possa viver bem como criatura de Deus.
A Igreja se reúne em assembleia de oração e neste domingo, mais uma vez, reza unida a fim de aprender como cuidar dos outros e da vida para que ela seja boa e feliz para todos.
A Palavra de Deus proclamada nas leituras deste domingo faz lembrar exatamente isso. O profeta Amós faz uma ameaça a todos aqueles que se preocupam com seu bem viver, esquecendo-se do sofrimento alheio: Ai dos que vivem despreocupadamente, e se perfumam com os mais finos unguentos e não se preocupam com a ruína de José”. São Paulo escreve a Timóteo e lhe recomenda: “Tu que és um homem de Deus, foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão.
Combate o bom combate da fé”.
Por sua vez, na longa história do rico avarento e do pobre Lázaro Jesus  faz perceber que nenhuma riqueza é importante se as pessoas que estão próximas são tratadas com desprezo. Nenhum outro consolo irá substituir a capacidade de viver bem com aqueles que convivem no seu dia a dia. O rico dava banquetes finos, nunca viu o sofrimento do outro que mendigava à sua porta. Mais tarde é ele mesmo quem pede clemência e Abraão responde: Eles têm Moisés e os Profetas, que os escutem!”. Tal afirmação pode ser interpretada para os dias de hoje a partir da compreensão que o mundo está repleto de sinais e convites para respeitar as pessoas e a vida. Quem não reconhece estes sinais vai aos poucos construindo a sua própria condenação.
Que a oração da Igreja reunida faça acontecer o que se reza na missa: “abra para nós a fonte de toda a benção... e renove a vida do cristão a fim de que ele seja herdeiro das promessas de Deus”.



domingo, 15 de setembro de 2013

ANOTAÇÕES À MARGEM DO 9º EDUCASUL...


ENSINO MÉDIO UMA QUESTÃO DE IDENTIDADE...

Na Filosofia, tem-se como necessário o estudo sobre a razão de ser e a própria razão como SER. Neste último aspecto surge o chamado princípio racional, o qual é sistematizado em:
a)                  Identidade – Aquilo que é não pode não ser. Por exemplo: A carteira de identidade identifica o seu portador; as digitais de uma pessoa; a arcada dentária de um animal ou ser humano;  isso é o que se chama de “obvio”.
b)                 Não contradição – Uma coisa ou pessoa não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Isso só acontece no teatro, no filme, na novela. Na vida real as pessoas são e pronto. Uma coisa “É” e pronto. Uma mesa é uma mesa, até que ela deixe de ser.
A 9ª edição do EDUCASUL, realizada nos dias 08 a 10 de agosto em Florianópolis permitiu que muitos educadores  pudessem confirmar o que já está se questionando há bastante tempo: Qual a identidade do Ensino Médio? Segundo a LDB, trata-se da última etapa da educação básica e tem como objetivo formar cidadãos, assim também se expressa o Conselho Nacional de Educação:
Tendo em vista que a função precípua da educação, de um modo geral, e do Ensino Médio – última etapa da Educação Básica – em particular, vai além da formação profissional, e atinge a construção da cidadania, é preciso oferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam expandir seus horizontes e dotá-los de autonomia intelectual, assegurando-lhes o acesso ao conhecimento historicamente acumulado e à produção coletiva de novos conhecimentos, sem perder de vista que a educação também é, em grande medida, uma chave para o exercício dos demais direitos sociais (Parecer CNE/CEB nº 5/2011).
Considerando esta afirmação, o evento em referência, que teve a  participação de autoridades e renomados educadores serviu também para mostrar que as ofertas que se faz do ensino médio, sobretudo na rede pública, com os outros auxílios, tal como, o PRONATEC na sua grande maioria  destinado a subsidiar a iniciativa privada, deixa a desejar no que se refere aos princípios racionais.
Uma vez que “aquilo que é não pode não ser”, como afirmar que a função do ensino médio é preparar pessoas para a Universidade? Ou pior que isso, preparar mão de obra para o mercado altamente competitivo que se instala no Brasil contemporâneo do “pleno emprego?”.
Dentre as considerações levantadas durante o evento surgiu a preocupação com a permanência, conclusão e evasão do ensino médio. Não parece difícil compreender que estas três condições estão relacionadas na sua integridade com o princípio da “Não contradição”.
As diversas iniciativas oferecidas, sobretudo, no ensino público, não respondem ao princípio fundamental: “construção da cidadania” e  “exercício dos demais direitos sociais”. Afirmações como a do Professor Gaudêncio Frigotto são facilmente compreendidas neste contexto. Declarando que “As escolas que tem Santo atrás” não mostram com a mesma intensidade a preocupação levantada em todas as outras, o professor se fez entender sob a ótica de: “as escolas que tem uma filosofia cidadã”  não sofrem da mesma “anorexia” que todas as demais.
As diversas iniciativas apresentadas incluindo: “Ensino médio integral, ensino médio integrado, técnico pós-médio” nenhuma apontou para o núcleo da questão: FORMAR GENTE! Todas estão estruturadas para uma meta cujo fim está na adequação idade/serie de conclusão do ensino médio com a respectiva entrada no mercado de trabalho ou continuidade.
Resta ainda uma pergunta que não pode deixar de ser feita: Até quando o governo continuará oferecendo incentivos para a formação de mão de obra e não tem nenhuma iniciativa voltada para garantir a permanência do jovem em escolas integrais, que não deveriam ter como meta a formação nem para a Universidade, nem para o mercado, mas para a cidadania?

Esta última observação pede uma revisão estrutural na oferta do ensino médio integral que inclua currículo, gestão, conteúdos e na própria essência da educação que pode ser bem compreendida como “oferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam expandir seus horizontes e dotá-los de autonomia intelectual”.

sábado, 14 de setembro de 2013

HOMILIA PARA O DIA 15 DE SETEMBRO DE 2013

E O SENHOR DESISTIU DO MAL QUE HAVIA AMEAÇADO FAZER...

Na Semana passada, diante das ameaças de Guerra e de invasão à Síria, o Papa Francisco convidou o mundo para um dia de jejum e oração. O mundo rezou com a Igreja no sábado dia 07 de setembro. E como sempre Deus ouve o clamor do seu povo. Hoje circula entre as principais noticias que  líderes das maiores potências do mundo, depois de três dias de reuniões, anunciaram acordo e apresentam propostas para que a paz aconteça. Este episódio mostra mais uma vez até onde vai a misericórdia de Deus  que foi invocada pela oração de todos e que é o centro de toda a liturgia da Palavra deste domingo.
No texto do livro do Êxodo se lê o episódio do povo que se esqueceu de tudo o que Deus lhes havia feito e começa a prestar culto a outros deuses. Adorar a imagens no modo como se lê no texto, nada tem a ver com a veneração que os católicos têm por seus santos. Pelo contrário, quando invocam os santos pedem que por sua intercessão o único Deus verdadeiro seja reconhecido e adorado. No caso do povo de Israel a imagem que havia sido fabricada tinha exatamente a intenção de trocar a adoração àquele que lhes tinha livrado da escravidão. Mas Deus, pela palavra de Moisés, mesmo assim se mostrou misericordioso com o seu povo e desistiu do mal com o qual lhes havia ameaçado.
São Paulo escreve a Timóteo e o convida agradecer Jesus Cristo, de quem recebeu forças e em quem encontrou misericórdia, por isso mesmo, somente Ele merece glória pelos séculos dos séculos.
No Evangelho, mais uma vez, Jesus provoca os doutores da lei, os sábios e poderosos do seu tempo. Enquanto estes queriam que Jesus eliminasse os pecadores, declarasse guerra a quem vivia e pensava diferente dos fariseus, Jesus mostra como é a prática de Deus. Contanto as três histórias, conhecidas como “parábolas de misericórdia” Jesus ensina que Deus tem cuidado sim com aqueles que são bons, reconhece a bondade deles, mas não permite que outros se percam. No caso das ovelhas, deixa em segurança as obedientes e que seguem o rebanho, mas vai ao mesmo tempo buscar a que estava perdida.
No caso do filho pródigo, afirma ao irmão mais velho: “Tudo o que é meu é teu, mas é preciso recuperar a alegria por este teu irmão que voltou”. Este é o jeito de agir de Deus! Este é o convite que se faz a todos e particularmente a quem se reúne para fazer ação de Graças.

Nenhum cristão tem o direito de condenar os irmãos, deixar de lado os que julga imperfeitos e pecadores. A misericórdia do Pai precisa ser vivida também no dia das relações humanas.  Que a oração dos cristãos ajude a todos e ajude o mundo a construir a paz e cultivar a misericórdia. 

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

HOMILIA PARA O DIA 08 DE SETEMBRO 2013

QUE A BONDADE DO SENHOR REPOUSE SOBRE NÓS

Nesta semana fez parte das rodas de conversas assuntos relativos a violação dos direitos humanos. Noticias divulgada sobre espionagem da vida pública e privada, ameaça de guerra e acusações nem sempre provadas tomaram conta dos noticiários e suscitaram perguntas e opiniões muito distintas. A Igreja, pela palavra do Papa Francisco convidou o mundo para oração e jejum. Tal pedido encontra fundamento numa verdade amplamente conhecida: “violência gera violência, não se pode querer resolver tudo através da força”.
É neste sentido que a oração deste domingo ganha ainda maior importância, reunidos em assembleia os cristãos rezam com o salmo: “Que a bondade do Senhor e nosso Deus repouse sobre nós e nos conduza! Tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho”. Este forte apelo vem do coração das multidões que também acreditam que o Senhor é o refúgio para todos.
No evangelho proclamado na liturgia deste domingo, mais uma vez Jesus se encontra no caminho para Jerusalém e está ensinando os discípulos. Fala por meio de exemplos aos seus seguidores: Quem que me seguir precisa desapegar-se das suas certezas: “Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim” e conclui fazendo as comparações com aquele que se põe a construir e o que se propõe guerrear. Em ambos os casos “sentar e examinar” as condições que terá de enfrentar em ambos os empreendimentos. Isso é mesmo que dizer, considere tudo o que já tem e pense três vezes antes de iniciar uma nova ação. O evangelho é um convite para todos e a cada um: Deixe Deus falar em Você!
São Paulo envia seu escravo, de quem tem necessidade e a quem muito ama, mas dele se desapega e pede que a mesma atitude seja tomada por quem o recebe: “Gostaria de tê-lo comigo, a fim de que fosse teu representante para cuidar de mim nesta prisão, que eu devo ao evangelho, mas eu te peço – recebe-o como se fosse a mim mesmo”.
Para compreender o mundo com tudo o que nele acontece, se faz necessário deixar-se guiar pela sabedoria de Deus, como se proclama na primeira leitura. A sociedade contemporânea experimenta uma transformação sem precedentes e para que esta nova realidade possa ser entendida e vivida de modo digno é necessário compreender a grandeza das palavras de Jesus: Esvaziar-se de si mesmo e das suas certezas.

Que a oração de todos e a reunião dos irmãos neste domingo ajude e ilumine a fim de que sejam efetivamente reforçados os laços de amizade que garantem dignidade a todos os seres humanos. 

sábado, 31 de agosto de 2013

DERRUBOU DO TRONO OS PODEROSOS...


Os estudiosos dizem que é muito difícil aprender bem a ler e escrever o nosso idioma. E isso, em partes, é verdadeiro. Na língua portuguesa uma mesma palavra pode ter diversos sentidos e até no modo que se usa uma determinada expressão ela ganha outro significado. Humildade é uma das palavras que pode ser entendida de modos diversos e aparece como chave das leituras deste domingo e na Bíblia ela se repete 18 vezes e mais outras 30 vezes se encontra a palavra humilhar. E todas as vezes ela se presta para diferentes interpretações.
Os textos proclamados neste domingo permitem fazer uma reflexão sobre o sentido da palavra do mesmo modo como usou Maria quando cantou o seu canto de louvar a Deus. Lá ela diz: “derrubou os orgulhosos de seus tronos e elevou os humildes”.  Neste sentido está claro que humildade não é sinônimo de quem anda de cabeça baixa, fala pouco, reza muito, nunca contraria ninguém.
Contando a parábola da festa de casamento, Jesus aplica o conceito de humildade  para as pessoas que reconhecem seu lugar na sociedade, na igreja e assim por diante. Ou seja, ser humilde é não querer ocupar o lugar que não lhe pertence ou fazer grandes feitos só para ser visto e elogiado.  Parece ser esta a mensagem central do evangelho: Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado.” E que de algum modo é a mesma das demais leituras. Como se vê no livro do Eclesiastes: “Na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor”. E São Paulo escreve aos Hebreus que o nome escrito no céu é direito de quem viveu com justiça: “Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus  vivo, a Jerusalém celeste; da reunião festiva de milhões de anjos; da assembleia dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus; de Deus, o Juiz de todos; dos espíritos dos justos, que  chegaram à perfeição; de Jesus, mediador da nova aliança”.
Os cristãos se reúnem em oração e rezam pedindo a graça de alcançar a verdadeira humildade e todos proclamam como se reza no salmo: “Os justos se alegram na presença do Senhor rejubilam satisfeitos e exultam de alegria! É o Senhor quem dá abrigo, dá um lar aos deserdados”.
O mundo está cheio de exemplos de pessoas humildes no sentido descrito pela Palavra de Deus que foi ouvida. O Papa Francisco, em sua visita ao Brasil mostrou ser uma pessoa humilde e foi ele também quem declarou: “Humilde não é aquele que caminha de cabeça baixa pelas ruas, mas o que segue o caminho da humildade indicado por Deus” e concluiu seu discurso fazendo um convite que pode ser útil a todos: “Humildade é a qualidade de quem não está com medo das coisas grandes, mas é capaz de fazer também as pequenas”.

Que a oração da igreja ajude a todos e a cada um se deixar guiar pelo Espírito Santo a fim de experimentar a verdadeira humildade.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

HOMILIA PARA O DIA 25 DE AGOSTO DE 2013

Ó PAI, DAI-NOS VIVER UNIDOS NUM SÓ DESEJO!

A comunidade cristã que se reúne neste domingo reza pedindo que o Pai faça uma só a intenção de todos os corações. De fato no mundo fragilizado e fragmentado no qual as relações humanas nem sempre são fraternas e acolhedoras, esta oração ganha muito mais importância.

As leituras que estão sendo proclamadas ao longo deste ano litúrgico colocam também cada pessoa na caminhada com Jesus e com o seu povo. O texto proclamado do Profeta Isaías logo depois da volta do exílio permite compreender que a missão que está reservada àqueles que querem caminhar segundo o projeto de Deus: Escolherei dentre eles alguns para serem sacerdotes e levitas, diz o Senhor; Esses enviados anunciarão às nações minha glória, e reconduzirão, de toda parte, todos os povos e línguas; eles virão e verão minha glória”. Neste contexto é fácil compreender que a provação do exílio foi para aquele povo o que São Paulo fala para os Cristãos: “Meu filho, não desprezes a educação do Senhor, não te desanimes quando ele te repreende; pois o Senhor corrige a quem ele ama”.

Do mesmo modo Jesus chama a atenção no Evangelho daqueles seus seguidores que mediante a pergunta sobre as condições da salvação julgam-se melhores que os demais e mais preparados para entrar no Reino. A estes Jesus diz: “Esforcem-se para entrar pela porta estreita” e conclui a parábola com uma condição que tem muito a ver com a prática de cada dia: Não basta comer e beber diante de Jesus, não basta se dizer amigo dele é preciso abrir-se para o mundo mediante a prática da Justiça e abrir as portas para todos a fim de poder também por elas passar.

Jesus garante que a salvação pertence a todos e que exige tomada de posição, não apegar-se a algumas verdades, mas fazer de toda a vida um serviço ao bem e a justiça. Por isso mesmo é importante rezar a fim de que o sacramento que se celebra cumpra o seu papel transformando cada pessoa e cada comunidade, nos ensinamentos de Santo Agostinho “Sejam o que vocês comungam, comunguem o que vocês são”.  


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

TEXTO APRESENTADO PELO PROFESSOR ELCIO NO EDUCASUL

ENSINO MÉDIO INTEGRAL: UM NOVO OLHAR PARA A EDUCAÇÃO
Elcio Alberton
EEB Adelina Régis[1]

RESUMO: O artigo tem por objetivo descrever um marco teórico do Ensino Médio Integral considerando a mudança de época que se está vivendo e os desafios que ela apresenta para a educação, particularmente em Santa Catarina que ousa ver a educação com outro olhar. Indica o desafio de descobrir a experiência do prazer no processo ensino aprendizagem. E depois de ouvir educadores envolvidos na implantação do Ensino Médio Integral no Estado, sugere alternativas para que este formato de organização da educação alcance os objetivos a que se propõe, desenvolvendo também na comunidade educacional o sonho de uma escola reinventada, recriada e pautada pela colaboração, que pode gerar sujeitos inventivos, participativos e preparados para intervir e problematizar.

PALAVRAS CHAVES: Educação; Reencantar; Processo Cooperativo.

EIXO TEMÁTICO: EDUCAÇÃO INTEGRAL

INTRODUÇÃO

O propósito da temática em referência é refletir sobre o processo de solidificação do ensino médio integral no Estado de Santa Catarina, como uma das metas do governo em cumprimento ao que propôe o Plano Nacional de Educação para o decênio 2010 – 2020. A iniciativa implantada em todas as regiões do Estado pode ser reconhecida como o sonho de “Ensinar tudo a todos” tendo como preocupação central o sujeito envolvido no processo: o aluno. Este é a razão de ser da escola, da docência e de todo o sistema de ensinagem (ensino x aprendizagem), para o que se pode aplicar a máxima freiriana de que a educação se realiza mediatizada pelo mundo e pelas pessoas. Em outras palavras, o Ensino Médio Integral se constitui num caminho de universalização da educação, como já descreviam educadores desde o século XVI:
A preocupação da escola, portanto, deve ser com a totalidade do homem, pois: assim como no útero materno se formam os mesmos membros para todo o ser que há de tornar-se homem e para cada um se formam todos: as mãos os pés, e língua, etc., embora nem todos venham a serem artesãos, corredores, escrivães e oradores, assim também a escola deve ensinar a todos todas aquelas coisas que dizem respeito ao homem, embora, mais tarde, umas venham a ser mais úteis a uns e outras a outros (GASPARIN 1994, p.119).

A implantação dessa modalidade de educação vem ocorrendo simultaneamente ao que se denomina “mudança de época” e naturalmente se apresenta como um desafio comparável a invenção da escrita pelos fenícios na história antiga. Esta realidade pode ser descrita como um processo de metamorfose civilizatória de alcance antropológico que implica numa transição paradigmática:
No começo deste novo século, estamos rodeados de sistemas altamente complexos que cada vez mais tomam conta de quase todos os aspectos da nossa vida. Trata-se de complexidade que seríamos incapazes de imaginar a meros cinquenta anos – sistemas globais de comércio e troca de informações, uma comunicação global instantânea através de redes eletrônicas cada vez mais sofisticadas, empresas multinacionais gigantescas, fábricas automatizadas, etc. (CAPRA 2005, p. 110).
.
Vivemos em um mundo globalizado no qual todos são afetados por tudo o que acontece em qualquer lugar. O acesso à rede mundial de computadores vem provocando uma revolução no modo de aprender, de pensar, de agir e de estabelecer relações. As novas tecnologias de informação e comunicação estão abolindo fronteiras e eliminando distâncias de modo que apontam para a transnacionalidade. Há pouco mais de três anos o mundo assistiu atônito ao surgimento da denominada “Primavera Árabe” que teve seu gene desenvolvido a partir das redes sociais. O Brasil reencontrou a força das ruas nas recentes manifestações que se desenrolaram no denominado movimento “Passe Livre”, o qual também teve origem e articulação na World Wide Web.
Neste contexto de complexidade é possível apresentar para a educação pelo menos duas alternativas. A primeira que consiste em olhar o mundo com encantamento como astronautas perplexos com o sentimento do primeiro homem a pisar na lua:
À noite, a terra parece mais mágica ainda do que durante o dia. Sempre há uma tempestade desabando em algum lugar. Os clarões dos relâmpagos, às vezes, cobrem até um quarto do continente. No começo, vemos isso como uma perturbação natural, a erupção de salpicos é um espetáculo majestoso (SULLIVAN 2004, p. 391).

Pode também ser entendida como uma crise semelhante ao que o povo de Israel descreve na caminhada rumo à terra prometida:
Ouça Israel: Hoje você está atravessando o rio Jordão para conquistar nações maiores e mais poderosas que você, cidades grandes e fortificadas até o céu. Os enacim são um povo forte e de grande estatura. Você os conhece, porque ouviu dizer: Quem poderia resistir aos filhos de Enac? Por isso ficará sabendo que Javé seu Deus vai atravessar na sua frente como fogo devorador (DEUTERONÔMIO 9, 1- 3).

Não se pode esconder que se trata de uma transformação paradigmática que aponta para o novo, que “nasce com dores de parto”, todavia, há que se compreender que estas são dores que apontam para a vida e não para a morte. Trata-se de um período de crise que precisa ser entendido como crisaldáliga e não como crise para a qual não se veja luz no fim do túnel:
Continuamos a fazer as mesmas perguntas fantasmas que, como se sabe ninguém responderá... Em que sonhos estamos metidos, entretidos com crises, ao fim das quais sairíamos do pesadelo? Quando tomaremos consciência que não há crise nem crises, mas mutação? Não mutação de uma sociedade, mas mutação brutal de uma civilização? Participamos de uma nova era, sem conseguir observá-la. Sem admitir e sem sequer perceber que a era anterior desapareceu (FORRESTER 1997, p. 7 -8).
No que se refere à educação, não se pode negar que mudanças significativas acontecem cotidianamente e transformam as relações institucionais e educativas bem como toda a comunidade nelas envolvida. Neste sentido a metamorfose que está ocorrendo em Santa Catarina com a implantação do Ensino Médio Integral se constitui na convicção de que outro mundo é possível e que se está vivendo os espasmos de uma véspera de parto.

REENCANTAR A EDUCAÇÃO
A expressão que intitula uma publicação de Hugo Assmann e que desafia os sistemas educacionais a transformar a escola num lugar gostoso implica a construção de um processo de inclusão social no qual as diferenças sejam valorizadas e compreendidas em condição de igualdade. Neste sentido é preciso compreender que:
Uma sociedade onde caibam todos só será possível num mundo no qual caibam muitos mundos. A educação se confronta com essa apaixonante tarefa: formar seres humanos para os quais a criatividade e a ternura sejam necessidades vivenciais e elementos definidores de sonhos de felicidade individual e social. Precisamos reintroduzir na escola o princípio de que toda a morfogênese do conhecimento tem algo a ver com a experiência do prazer (ASSMANN 2002, p. 29).

Para que esta situação aconteça há que se superar a compreensão da escola jesuítica na qual educar implicava enquadrar e repassar verdades e certezas. Mais do que nunca neste processo metamorfósico pelo qual passa a sociedade é preciso compreender que muito além do que palavras são os fatos que dão credibilidade às palavras. O sistema escolar excludente praticado por anos na educação brasileira estigmatizou a educação como uma coisa difícil, negativa, que é definida por Assmann como apartheid neuronal e que para sua superação há de se fazer reiniciar a construção da pedagogia da esperança que no dizer de Paulo Freire permitirá a construção de uma sociedade onde seja menos difícil de amar.
Esta transformação da educação pode ser entendida na perspectiva pedagógica descrita na seguinte oração: “Precisamos de algo mais inovador do que os debates confinados em esquemas ideológico-políticos que já se revelaram incapazes de gerar entusiasmo pela vocação de educar” (ASSMANN 2002, p. 109).
Reencantar a educação implica compreender o SER das pessoas envolvidas no complexo sistema de troca de saberes, mais do que esquemas didático-pedagógicos de ser professor ou de ser aluno. Para que isso se torne realidade implica conhecer as trajetórias humanas e os tempos dos educandos e dos educadores num mundo em que o papel exercido pelos pais e pela escola são agora representados com maior intensidade pelos meios de comunicação de massa.
Professores, pais, alunos, gestores e porque não a comunidade como um todo precisa conhecer melhor a trajetória de educandos e educadores. Claro está que esta condição implica ter maior clareza sobre a imagem humana da pessoa com quem vai sendo estabelecido o processo de ensino aprendizagem antes que a sua situação didático pedagógica.  Ir para a escola não é um processo de levar para o espaço educacional a fome de saber e de ensinar, mas de conviver e amar.
A escola precisa ir se construindo como um espaço no qual se encontra repostas para o imaginário relativo ao aprendizado colaborativo. A tarefa primordial da educação é construir seres humanos e para tal a convivência se constitui na melhor forma de aprendizado. Tal situação pode ser compreendida na máxima de Santo Agostinho: “Não aprendemos com palavras, mas com aquilo de ressoa interiormente”.
O processo de reencantamento da educação consiste muito mais do que ser especialista em conhecimento ser educador na totalidade da existência das pessoas que nela se relacionam. Há que se processar a educação desde a ótica da espiritualidade e da paixão que levem em conta questões relevantes do existir humano que não se enquadram em nenhuma grade curricular.
No mundo que se metamorfoseia, alunos e professores veem suas imagens quebradas, porque não dizer dilaceradas diante das grandes interrogações do existir humano. Experimenta-se uma vulnerabilidade na arte de aprender e ensinar que exige um acompanhamento em todo o tenso percurso formativo de alunos e professores.
A escola precisa dar respostas profissionais mediante um processo de aproximação entre educandos e educadores. Esta escolha implica reaprender a arte de educar que significa elaborar novas estratégias coletivas de estudo e de planejamento no qual a inovação escolar se dará muito mais pelas mudanças que devem ocorrer com os próprios docentes.
Nos últimos tempos tem se investido de modo significativo no que diz respeito aos aspectos profissionais da educação em detrimento do tempo para o ser humano. O reencantamento da escola implica superar o conceito e a prática de que a escola ensina e a família e outras instituições educam. O modo como se processa os investimentos na preparação didático-pedagógica e nos recursos físicos para a educação mantém a dualidade entre aprender e educar. Em síntese transformar a escola num lugar onde se vive a experiência do prazer implica pensar antes nos tempos humanos que tempos para os humanos.
Esta ótica aparece implícita no Parecer 05/2011 do Conselho Nacional de Educação homologado em dezembro de 2012. Este documento descreve com uma das necessidades para o pleno desenvolvimento do Brasil a expansão do Ensino Médio com qualidade e que tenha presente a formação da cidadania. Para que isto seja uma meta alcançável afirma que é necessário oferecer aos jovens novas perspectivas culturais capazes de expandir horizontes e dotá-los de autonomia intelectual.
Para isso fica também claro que a escola precisa ser repensada levando em consideração as condições dos recursos humanos articulando a formação inicial e continuada com uma visão sistêmica que compreenda os aspectos humanos, científicos, culturais e profissionais. Esta exigência decorre da compreensão que os jovens tem hoje demandas significativas as quais precisam estar contempladas no currículo e no projeto político pedagógico a fim de que seja garantido o acesso, permanência e sucesso no processo de aprendizagem e constituição da cidadania.
O parecer propõe vinte metas para o decênio e reconhece e afirma que:
“A educação é um processo de produção e socialização da cultura da vida, no qual se constroem, se mantém e se transformam conhecimentos e valores. ... A escola precisa, face às exigências da Educação Básica ser reinventada, ou seja, priorizar processos capazes de gerar sujeitos inventivos, participativos, cooperativos, preparados para diversificadas inserções sociais, políticas, culturais, laborais e, ao mesmo tempo capazes de intervir e problematizar as formas de produção e de vida. A escola tem diante de si o desafio de sua própria recriação, pois tudo o que a ela se refere constitui-se como invenção: os rituais escolares são invenções de um determinado contexto sociocultural em movimento”. (PARECER CNE/CEB Nº:5/2011, p. 9).

De alguma maneira esta situação está contemplada na proposta de implantação do Ensino Médio Integral em Santa Catarina, todavia, ainda persistem lacunas entre a proposta e a efetivação do sistema, como se verá a seguir.

A IMPLANTAÇÃO DO ENSINO MÉDIO INTEGRAL EM SANTA CATARINA
No ano de 2012 a Secretária de Estado da Educação abraçou uma meta ousada com a implantação, em 40 escolas do estado atingindo cerca de 15.000 alunos, da modalidade de ensino médio integral. O lançamento da proposta que incluiu encontro com professores e gestores de todas as regiões do estado prometia uma revolução no ensino médio que fosse capaz de favorecer aos jovens uma educação cidadã, responsável, crítica e participativa. Obviamente que esta modalidade exigiria igualmente pensar uma educação no sentido pleno da palavra e que fosse capaz de refletir e problematizar práticas já consagradas incorporando a estas outras múltiplas dimensões de realização humana. Tal modalidade de ensino teria em conta aspectos que foram historicamente tratados como periféricos, entre eles a dimensão emocional afetiva e a físico-corpórea.
Na apresentação do projeto para o governo de Santa Catarina e para a sociedade como um todo foram dadas as seguintes justificativas:
Nestas escolas haverá uma revitalização, adaptação e instalação de novos equipamentos para que todas tenham laboratórios de informática, biblioteca, laboratórios de ciências, sala para empreendedorismo, espaços esportivos, espaços de convivência, auditório e refeitório. A Diretora de Ensino Básico e Profissional, Gilda Mara Marcondes Penha, destaca que os professores que vão atuar nestas escolas terão dedicação exclusiva, haverá professores orientadores de laboratórios de biologia, física, química e de tecnologias, professor orientador de leitura nas bibliotecas, professor mediador para cuidar do relacionamento interpessoal no pátio das escolas, vigilantes, serventes e merendeiras. A intenção do projeto a ser implementado é que seja feito um amplo investimento em tecnologia. Para o ensino de informática cada escola deverá ter 12 salas com kit multimídia, notebook para professores e Assistentes Técnico-pedagógicos, lousas digitais, rede lógica, cobertura de wireless em toda área da escola (http://www.sed.sc.gov.br/secretaria/noticias/3126-ensino-medio-integral-deve-comecar-com-15-mil-alunos acesso em 02/07/2013).

Parte significativa destas questões didático-pedagógicas foi viabilizada nas escolas selecionadas como pioneiras nesta modalidade de educação. Pode-se afirmar que do ponto de vista de infraestrutura física as unidades escolares estariam aptas para oferecer para a comunidade escolar o acesso e permanência com qualidade no ambiente escolar em tempo integral desde o início de 2012. Apesar disso, pouco mais de um ano depois de implantado em terras Barriga Verde, pode-se aplicar à realidade do Ensino Médio Integral em Santa Catarina a parábola do sapato perdido:
Naquela manhã, decidi sair com Mateo, meu pequeno filho, para fazer algumas compras. As necessidades familiares eram, como quase sempre, ecléticas: fraldas, disquetes, o último livro de Ana Miranda e algumas garrafas de vinho argentino, difíceis de encontrar no Rio de Janeiro por um bom preço. Depois de algumas quadras, Teo dormiu tranquilamente em seu carrinho. Enquanto ele sonhava com alguma coisa provavelmente mágica, percebi que um de seus sapatos estava desamarrado e quase caindo. Decidi tirá-lo para evitar que, por um descuido, se perdesse. Poucos segundos depois uma elegante senhora me alertou: Cuidado! Seu filho perdeu um sapatinho”. “Obrigado – respondi – mas fui eu mesmo que tirei”. Alguns metros a frente, o porteiro de um edifício, de sorriso tímido e poucas palavras, moveu sua cabeça em direção ao pé de Mateo, dizendo em um tom grave: “o sapato”. Levantei o polegar em sinal de agradecimento, e continue meu caminho. Antes de chegar ao supermercado, dobrando a esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com a Rainha Elizabeth, um surfista igualmente preocupado com o destino do sapato de Teo disse “Ô mané, teu filho perdeu a sandália”. Ergui o dedo novamente e sorri agradecido, mas já sem tanto entusiasmo. No supermercado, as pessoas continuaram chamando minha atenção. A suposta perda do sapato de Mateo não deixava de gerar diferentes mostras de solidariedade e alerta... O Rio de janeiro é, como qualquer grande metrópole latino-americana, um território de profundos contrastes, onde o luxo e a miséria convivem de forma nem sempre harmoniosa. Meu incômodo era, talvez, injustificado: o que faz do pé descalço de um menino de classe média motivo de atenção e circunstancial preocupação em uma cidade com centenas de pés descalços, brutalmente descalços? (Gentili 2003, p.27 - 28).

A ousada iniciativa catarinense vem “perdendo sapatos” ao longo do processo. Voluntária ou involuntariamente aspectos como qualidade, permanência e construção da cidadania estão aquém do que se previa inicialmente. As adaptações aplicadas ao projeto ainda não estão sendo capazes de atender às características e necessidades de estudantes e professores em seus distintos contextos sociais e culturais com suas diferentes capacidades e interesses. Naturalmente, como na parábola do sapato, tais situações somente são observáveis porque se trata do “sapato de uma criança de classe média”. Dito em outras palavras, os limites observáveis na modalidade somente o são em virtude da magnitude do projeto e do alcance social que sua viabilização contempla.
Antes de sugerir algumas alternativas para a continuação e quiçá viabilizar o sonho de reinventar a educação em Santa Catarina é importante ter presente alguns dados de escolas onde o projeto está se desenvolvendo neste período. A pesquisa de campo atingiu 5 escolas nas gerências regionais de Caçador, Videira e Joaçaba respectivamente.

RELEVÂNCIA DO TEMA
Os desafios do ensino médio estão pedindo respostas urgentes, corajosas e audaciosas:
É preciso reconhecer que a escola se constitui no principal espaço de acesso ao conhecimento sistematizado, tal como ele foi produzido pela humanidade ao longo dos anos. Assegurar essa possibilidade, garantindo a oferta de educação de qualidade para toda a população, é crucial para que a possibilidade de transformação social seja concretizada. Neste sentido, a educação escolar, embora não tenha autonomia para, por si mesma, mudar a sociedade, é importante estratégia de transformação, uma vez que a inclusão na sociedade contemporânea não se dá sem o domínio de determinados conhecimentos que devem ser assegurados a todos (PARECER CNE/CEB Nº 5/2011).

Santa Catarina ousou romper estruturas, conceitos e a própria concepção do último ciclo da educação básica com a implantação do sistema de Ensino Médio Integral. De um modo jocoso se pode dizer que esta modalidade pode ser definida como “filho de classe média” no sentido que para ele se voltam os olhares atônitos, curiosos e preocupados de todos os que o espreitam faltando um dos sapatos.
A pesquisa de campo realizada em cinco escolas das GEREDs de Caçador, Videira e Joaçaba contemplou a participação da direção, do professor mediador de convivência e mais dois docentes. As respostas vieram confirmar que uma iniciativa desta magnitude envolve muito mais paixão e emoção do que propriamente recursos.[i]

ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

As cinco escolas pesquisadas, no que se refere a números da clientela nos anos 2012/2013, tiveram um número maior de alunos e turmas iniciando o Ensino Médio Integral em 2013 na relação com o ano anterior. Em 2013 houve um crescimento de 8,57% no número de alunos matriculados na primeira série, enquanto que para o segundo ano houve um decréscimo de 51% no número de matrículas em 2013. Por este dado nota-se que a modalidade tem credibilidade inicial e perde fôlego ao longo do primeiro ano da sua implantação.
Conforme planejado o Estado fez investimentos relativos no que se refere aos espaços físicos das escolas contempladas com modalidade. Em todas as escolas houve melhorias em parte do espaço físico colocado a disposição dos alunos, na mesma proporção ocorreram melhorias na rede de tecnologias, sendo que 80% das escolas pesquisadas realizaram com recursos próprios a implantação de rede WIFI em todo o ambiente escolar. Os sapatos começam efetivamente a se perder quando se trata do investimento nos recursos humanos e, sobretudo na pessoa daqueles que estão envolvidos. Reforça-se a preocupação de que é muito mais necessário investir no “SER do educador” antes que no “Ser educador”.
Contrariando as expectativas iniciais nenhuma das escolas pesquisadas tem professores com dedicação exclusiva, sendo que alguns poucos casos podem contar com profissionais nesta condição. Todas as escolas tem um professor mediador de convivência, que na sua totalidade são pós-graduados, sendo que 45% deles são formados na Área de ciências humanas e suas tecnologias; 45% na área de linguagens e códigos; e 10% na área de ciências da natureza. Em todas as escolas atua somente um profissional na área sendo que algumas delas tem três ou quatro vezes mais alunos que nas escolas menores. Trata-se de um  professor que trabalha 40 horas semanais[ii] e para isso não recebe nenhuma gratificação de função.
Sob o ponto de vista de planejamento, todas as escolas dedicam tempo para esta atividade, o que não poderia ser diferente já que os professores tem na sua carga horária tempo específico para esta atividade. Embora não esteja clara a maneira como se realiza o planejamento nos casos em que a pesquisa foi respondida por mais de uma pessoa na escola há diferentes afirmações sobre planejamento por disciplina, por área temática ou no coletivo.
Tratando da formação continuada sobre planejamento coletivo inter e transdisciplinar as escolas afirmaram que mesmo com diferente carga horária houve algum momento de formação.  Já no que se refere á formação didático-pedagógica 75% das escolas disseram que não ocorreu, sendo ainda mais preocupante no tocante à formação psicológica e emocional para a qual em 80% das escolas não houve nenhum tipo de preparação. Em todos os itens quando o questionário foi respondido por diferentes pessoas e separadamente os números não foram convergentes e sempre apontaram índices menores que dos que foram considerados nesta análise.
Perguntadas sobre a adequação do PPP[iii] da escola para a modalidade de Ensino Médio integral, três escolas disseram ter realizado alteração em uma das dimensões[iv] Uma disse não ter feito nenhum estudo do PPP e uma afirmou ter readequado todo ele para esta nova realidade. Entretanto, quando solicitadas que apresentassem a nova redação da dimensão que foi readequada, nenhuma escola o fez. A mesma inconsistência aparece no grupo de pessoas envolvidas no processo de adequação do documento.
As consequências desta situação facilmente são percebidas nas demais respostas dadas para a entrevista, sobretudo no que se refere a metas ações e responsáveis. Todas as escolas pesquisadas tem diferentes atitudes em relação aos alunos faltosos, com problemas de disciplina ou baixo rendimento escolar. A emissão do APOIA[v] e o envio para o conselho tutelar varia entre três e sete dias consecutivos e só uma escola tem uma pessoa responsável para comunicar a direção sobre alunos faltosos.
Em relação aos alunos com problemas de disciplina ou baixo rendimento nenhuma escola tem clareza sobre qual a primeira atitude a ser tomada, todas assinalaram que chamam os pais e os alunos para conversar e nenhuma delas identificou a pessoa responsável para tratar do assunto com os envolvidos. Em duas escolas o orientador de convivência participa nos casos de indisciplina.
Não obstante a realidade apresentada pelas escolas 60% dos entrevistados diz que a implantação do Ensino Médio Integral em Santa Catarina alcança 70% dos objetivos a que se propõe e 40% julga que alcança 50% dos seus objetivos.
No quesito o que precisa ser repensado para a modalidade, 80% dos entrevistados julga ser necessário mais investimento nos espaços físicos e nos recursos pedagógicos e 100% aponta como deficitária ainda as questões relativas à formação continuada de professores, gestores e equipe técnica da escola.
Diante desta constatação fica evidente as duas maiores urgências que foram também apontadas pelos entrevistados: Reforma de espaços físicos e formação continuada. A entrevista também contemplou sugestões dos pesquisados os quais apresentaram: Organizar salas ambientes; Realizar avaliação interdisciplinar; Desenvolver estratégias criativas com a família; Incentivo para pesquisa e desenvolvimento juvenil; Integração com o sistema “S” para o manter o aluno em tempo integral; Preparar pessoas para a convivência pacífica; Maior tempo para convivência entre professores e alunos, incluindo aí o horário do almoço; Bolsa para os alunos a partir do segundo ano do ensino médio.

PISTAS PARA REENCONTRAR O “SAPATO”

Com base no marco teórico do que significa a etapa do ensino médio para o desenvolvimento integral do ser humano, tendo presente as questões de realização pessoal do aluno e do professor, considerando os dados levantados nas entrevistas e reafirmando a magnitude do projeto de Ensino Médio Integral em terras Barriga Verde, pode-se reafirmar que esta modalidade se compara ao “primo rico” ou “filho de classe média” cuja perda do sapato é percebida com maior facilidade em detrimento do ensino médio regular para quem se aplica a indignação do autor da parábola do sapato perdido:
Meu incômodo era talvez injustificado: o que faz do pé descalço de um menino da classe média motivo de atenção e circunstancial preocupação em uma cidade com centenas de meninos descalços, brutalmente descalços? Por que, em uma cidade com dezenas de famílias morando nas ruas, o pé superficialmente descalço do Mateo chamava mais a atenção do que outros pés cuja ausência de sapatos é a marca inocultável da barbárie que nega os mais elementares direitos humanos a milhares de indivíduos (GENTILI 2003, p. 28).

As limitações percebidas no Ensino Médio Integral em nada se diferem do denominado ensino médio “regular”, com a particularidade que este ganha mais visibilidade por sua dimensão inovadora. Para confirmar a preocupação com o aluno e com a formação integral do adolescente/jovem, público alvo das escolas de ensino médio e efetivamente compreender que:
Os estudantes ocupam o lugar central da ação educativa da escola e são a sua própria razão de ser. A escola só se justifica pela presença deles. Caso não existissem, tampouco haveria necessidade de professores, de pessoal técnico-administrativo, de dirigentes e da própria escola. Refletir sobre o lugar do estudante no coração da comunidade escolar (grifo nosso) é a necessidade por excelência do fortalecimento da missão, dos ideais, objetivos e princípios educativos da escola (JULIATTO 2010, p; 22).

É com este objetivo que se apresentam as pistas para reencontrar os “sapatos perdidos” ou evitar que se percam ao longo do caminho. Os indicativos estão organizados de acordo com as urgências apresentadas pelas escolas entrevistadas com a concordância do pesquisador tendo por referência o marco pedagógico em questão.
1)            No que se refere a recursos humanos
a)            Formação continuada dos professores, preferencialmente, nos seus aspectos humanos, psicológico, motivacional e espiritual de modo a estimular neles a paixão pela educação e por esta modalidade de escola;
b)            Contratação, ao menos em tempo parcial (20 horas) de psicólogo escolar ou orientador educacional com formação na área de ciências humanas, que:
b.1) Possa desenvolver com alunos e pais temas relativos à convivência, relações humanas, formação integral e  espiritualidade;
b.2) Realizar nas escolas acompanhamento personalizado com alunos e pais oriundos das famílias mosaico[vi];
b.3) Fazer acontecer com as famílias formação sobre a importância da permanência na escola e do saudável adiamento do ingresso no mercado de trabalho de adolescentes e jovens;
b.4) Realizar com professores, gestão e equipe técnica encontros de formação com temas relativos às questões humano-afetivas, psicológica e motivacional, ou seja, com o SER do professor.
2) No que se refere a valorização do profissional da educação
a) Garantir que os professores habilitados em cada área temática possam ser aproveitados com dedicação exclusiva e mesmo enquanto a grade curricular não se organiza nos quatro eixos já consagrados[vii] ministrem a totalidade das aulas das disciplinas daquela área;
b) Extinguir a divisão entre Aula atividade a Aula de planejamento e implantar o que prevê a lei do piso com 33% de horas atividades. Tal medida virá corrigir a distorção aplicada com a aula de planejamento, por meio da qual o professor com duas horas de regência em cada turma tem o mesmo número de aula planejamento daquele com cinco de regência;
c) Garantir que o profissional responsável pela convivência seja um professor da área de ciências humanas e para este seja dado gratificação por função equiparada aos demais cargos com função gratificada;
3) No que se refere às adequações físicas das unidades escolares
a) Estabelecer prazos para que todas as escolas com Ensino Médio Integral disponham de condições físicas adequadas ao número de alunos que atende;
b) Capacitar os gestores dotando-os de criatividade para encontrar soluções emergenciais no que se refere a otimização dos espaços e dos recursos tecnológicos já disponíveis na escola.
Acredita-se que estas sugestões tenham viabilidade imediata e possam reverter a tendência de redução dos alunos constatada já no segundo ano do ensino médio bem como colaborar para que toda a comunidade escolar tenham  melhor êxito na missão de formar sujeitos integrados e integradores dentro de uma visão cooperativa do processo de educar.

NOTAS


[1] Mestre em Educação, professor na rede estadual de Santa Catarina, lotado na Escola de Educação Básica Adelina Régis – Videira – SC. Email: padreelcioalberton@hotmail.com



[ii] Leia-se hora relógio de 60 minutos.
[iii] Projeto Político Pedagógico
[iv] Papel da Escola, Administrativa, Física, Metas ações e responsáveis,
[v] Aviso por infrequência de aluno.
[vi] Famílias que constituídas por pessoas vindas de diferentes experiências relacionais. Pais e filhos de distintas relações de convivência. (Os meus filhos, os teus filhos, os nossos filhos, e etc...).
[vii] Linguagens e códigos e suas tecnologias, Ciências Humanas e suas tecnologias, Ciências da natureza e suas tecnologias e Matemática.

REFERÊNCIAS
ALBERTON, Elcio. Formação Mistagógica do Docente no Contexto da Metamorfose Civilizatória. Dissertação (Mestrado), PUCPR, 2012.
ARROYO, Miguel G. Imagens Quebradas – Trajetórias e tempos de alunos e mestres. Petrópolis, Vozes, 2009.
ASSMAN, Hugo. Reencantar a Educação – Rumo à sociedade aprendente. Petrópolis, Vozes, 1998.
CNBB. Texto base da Campanha da Fraternidade. 2013, Brasília, 2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2005.
GASPARIN, João Luiz. Comênio ou da Arte de Ensinar Tudo a Todos. Campinas, Papirus, 1994.
GENTILI, Pablo & ALENCAR Chico. Educar na Esperança em Tempos de Desencanto. Petrópolis, Vozes, 2003.
JULIATTO, Clemente Ivo. O Horizonte da Educação. Curitiba, Champagnat, 2009.
_____. Parceiros Educadores – Estudantes, professores, colaboradores e dirigentes. Curitiba, Champagnat, 2010.
LUCK, Heloísa & et al. A Escola Participativa – O Trabalho do Gestor Escolar. Petrópolis, Vozes, 2011.
SABINO, Simone, O Afeto na Prática Pedagógica – e na formação docente – Uma presença silenciosa.  São Paulo, Paulinas, 2012.
SANTO AGOSTINHO. De Magistro. Petrópolis, Vozes, 2009.

ENSINO MÉDIO INTEGRAL: UM NOVO OLHAR PARA A EDUCAÇÃO
Com este título o professor Elcio Alberton, lotado na Escola de Educação Básica Adelina Régis  em Videira, foi selecionado para apresentar o tema na forma de Comunicação Oral durante o 9º EDUCASUL.  Para a redação do texto o professor solicita à V. Sria., gentilmente responder às seguintes questões. Note bem, a identidade da escola e dos professores pesquisados será mantido em sigilo, sendo apenas mencionados na apresentação final do trabalho como sendo escolas das gerências de Caçador, Videira e Joaçaba e os profissionais identificados como professor A, B, C,D,E
1)      Quantas turmas de  primeiro ano de  Ensino Médio Integral foram abertas no ano de 2012 na sua escola? Seria sugestivo também indicar o número de alunos.
A)     Uma turma  com (    ) alunos
B)      Duas turmas com  (     ) alunos
C)      Três turmas com (    ) alunos
D)     Quatro ou mais turmas com (    ) alunos
2)      Quantas turmas foram rematriculadas no segundo ano do Ensino Médio Integral no ano de 2013? Pede-se indicar também o número de alunos.
A)     Uma turma  com (    ) alunos
B)      Duas turmas com  (     ) alunos
C)      Três turmas com (    ) alunos
D)     Quatro ou mais turmas com (    ) alunos
3)      Quantas turmas de primeiro ano de  Ensino Médio Integral foram abertas no ano de 2013 na sua escola? Seria sugestivo também indicar o número de alunos.
A)     Uma turma  com (    ) alunos
B)      Duas turmas com  (     ) alunos
C)      Três turmas com (    ) alunos
D)                 Quatro ou mais turmas com (    ) alunos
4)      Quais foram as adequações físicas realizadas na sua escola no ano de 2012 para receber a modalidade de Educação Integral?
A)     Auditório
B)      Refeitório
C)      Espaços esportivos
D)     Espaços de convivência
5)      Quais melhorias  no campo das tecnologias adotadas na escola no ano de 2012:
A)     Implantação de sala Informatizada
B)      Readequação da sala informatizada
C)      Implantação da sala de leitura
D)     Implantação de rede WIFI em todo o espaço escolar
6)      Do total de professores envolvidos no Ensino Médio Integral, quantos tem dedicação exclusiva?
A)     Menos que 10
B)      Mais que 10
C)      Entre 15 e 20
D)     Todo o quadro tem dedicação exclusiva
7)      Na sua escola tem um professor “Mediador de Convivência”.
A)     Sim
B)      Não
8)      Qual a formação do professor “Mediador de  Convivência”
A)     Licenciatura na área de linguagens e códigos e suas tecnologias
B)      Licenciatura na área ciências humanas e suas tecnologias
C)      Licenciatura na área de ciências da natureza e suas tecnologias
D)     Outra formação: qual? _____________________________________________
9)      Os professores que trabalham no ensino médio integral realizam planejamento coletivo semanal :
A)     Reunindo-se por disciplina;
B)      Reunindo-se por área temática;
C)      Reunindo todos os professores envolvidos;
D)     Não acontece planejamento coletivo.
10)   Os professores do ensino médio integral tiveram formação específica sobre planejamento coletivo e interdisciplinaridade para o trabalho com o ensino médio integral?
A)     Com até 10 horas no ano
B)      Com até 20 horas no ano
C)      Com até 30 horas no ano
D)     Não houve formação específica para os professores do ensino médio integral.
11)   Os professores tiveram formação didático pedagógica específica no último para atuar no ensino médio integral?
A) 15 horas no ano;
B)  20 horas no ano;
C) 30 ou mais horas no ano:
D) Não houve formação específica para os professores do ensino médio integral.
10)  A escola, ou a gerência ofereceram aos professores do ensino médio integral, formação humana, psicológica e motivacional  para trabalhar com o ensino médio integral?
A) 10 horas no ano;
B)  20 horas no ano;
C) 30 ou mais horas no ano:
D) Não houve formação específica para os professores do ensino médio integral.
11)  A escola foi preparada e realizou atividades com os familiares dos alunos do Ensino médio integral diferente daquela que normalmente se realizava na escola regular?
A) 1 vez no ano;
B) Duas Vezes no ano;
C) Três vezes no ano;
D) Não realizou atividades diferenciadas com os pais dos alunos do ensino médio integral.
12) A comunidade escolar participou da adequação do PPP para a implantação do Ensino Médio Integral em 2012?
A) No Papel da Escola;
B) Na Dimensão Administrativa;
C) Na Dimensão Física;
D) Nas Metas ações e responsáveis;
Para as alternativas que assinalar descreva:
Como era a redação anterior do PPP:

Como ficou a nova redação do PPP para a Escola Integral:

13) Participaram da nova redação do PPP em 2012
A) Todo o corpo docente da escola;
B) Parte do Corpo docente;
C) Corpo docente, pais e gestores:
D) Nenhuma das alternativas.
14) Considerando que a oferta do Ensino Médio é obrigatório como também a frequência até a idade de 17 anos. A partir de quantas dias de falta o aluno é procurado pela escola ou feita a comunicação ao Conselho Tutelar?
A) Três dias consecutivos;
B) Cinco dias consecutivos;
C) Sete dias intercalados em intervalo de até duas semanas;
D) A escola não faz contato com o aluno/familiar ou conselho tutelar;
15) Quem comunica o professor ATP/ Direção sobre faltas de aluno é:
A) O professor Regente;
B) O professor que tem maior número de aulas na semana com a turma;
C) Qualquer um dos professores que perceber a ausência do aluno;
D) Não existe um professor responsável para fazer a comunicação;
15) Nos casos de indisciplina ou relacionamento entre alunos x alunos x professores ou pouco rendimento  a escola toma qual destas medidas?
A) Chama os pais/responsáveis e procura conhecer a família e as relações do aluno;
B) Chama o aluno e faz advertência oral/escrita;
C) Aplica a suspensão, nos casos mais graves e os demais aguarda o conselho de classe;
D) Não toma nenhuma das providências acima.
16) Nos casos em que a família é chamada na escola para tratar assuntos relativos a aprendizagem ou disciplina quem atende a família é:
A) A direção da escola;
B) O professor ATP;
C) O professor orientador de convivência;
D) O/os professores com os quais o aluno tem dificuldade de relacionamento ou baixo rendimento;
17) Descreva duas das maiores urgências para a melhor adequação do Ensino Médio Integral na sua escola:
18) Outras eventuais e oportunas observações que julga necessário e que não foram contempladas neste questionário: