quarta-feira, 31 de maio de 2017

HOMILIA PARA A CELEBRAÇÃO ECUMÊNICA NA SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS – 02/06/2017 - FLORIANÓPOLIS – SC

É O AMOR DE CRISTO QUE NOS MOVE

Dentre as diversas publicações da jornalista e poetisa Martha Medeiros, uma delas se intitula: Recall da Alma. No terceiro parágrafo se lê:

Seu retrovisor interno é muito grande! Como é que eu deixei você ir para rua assim? Você vive olhando para trás, tem mania de perseguição, não se livra do passado. Vou diminuir esta sua tentação de ficar vivendo de lembranças para que você ganhe uma área maior de visão frontal”.

Porque começo a minha fala nesta noite ecumênica citando Martha Medeiros e a paráfrase do retrovisor? Simples assim: do ponto de vista da perspectiva ecumênica é muito cômodo fixar nosso olhar nos erros daqueles que nos antecederam atribuindo-lhes a culpa e responsabilidade pelas divisões no “Corpo de Cristo”.
A Semana de oração pela Unidade Cristã em 2017 tem sua inspiração na segunda carta aos Coríntios, no capítulo 5. A Bíblia na Linguagem de Hoje, traduz os versículos 14, 19 e 20 com as seguintes palavras:

“Porque somos dominados pelo amor que Cristo tem por nós... A nossa mensagem é esta: Deus não leva em conta os pecados dos seres humanos e, por meio de Cristo, ele está fazendo com que eles sejam seus amigos... Portanto estamos aqui falando em nome de Cristo, como se o próprio Deus estivesse pedindo por meio de nós. Em nome de Cristo nós pedimos a vocês que deixem que Deus os transforme de inimigos em amigos dele”.

Inspirados nessa Palavra somos chamados a deixar-nos reconciliar e nesse processo é necessário reduzir o retrovisor interno, de modo que os pecados e erros passados, sirvam apenas como balizas e que não fiquemos vivendo de lembranças, mas que alarguemos nossa visão frontal compreendendo cada vez melhor que Reconciliação é muito mais do que uma escolha institucional, mas uma atitude inerente à condição de cristãos. Esta atitude deve animar as Igrejas Cristãs a compreenderem que reconciliação é missão essencial da comunidade eclesial.
Nesse contexto permitam-me citar a DECLARAÇÃO COMUM DE SUA SANTIDADE FRANCISCO E DE SUA SANTIDADE TAWADROS II Patriarca de São Marcos no Egito, assinada em abril de 2017. No documento os dois líderes cristãos afirmam:
Conscientes de que ainda há tanto caminho a fazer nesta peregrinação, recordamos o muito que já foi alcançado. O nosso desejo ardente de unidade encontra inspiração na oração de Cristo «para que todos sejam um só» (Jo 17, 21). Para isso aprofundemos as raízes que compartilhamos na única fé apostólica.  O testemunho cristão que compartilhamos é um sinal providencial de reconciliação e esperança para a sociedade egípcia e suas instituições, uma semente semeada para frutificar na justiça e na paz. Intensifiquemos a nossa oração incessante por todos os cristãos no Egito e em todo o mundo, especialmente no Médio Oriente. Alguns acontecimentos trágicos e o sangue derramado pelos nossos fiéis, perseguidos e mortos unicamente pelo motivo de ser cristãos, recordam-nos ainda mais que o ecumenismo dos mártires nos une e encoraja no caminho da paz e da reconciliação. Pois, como escreve São Paulo, «se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros» (1 Cor 12, 26).  O mistério de Jesus, que morreu e ressuscitou por amor, situa-se no coração do nosso caminho para a plena unidade. Mais uma vez, os mártires são os nossos guias. Na Igreja primitiva, o sangue dos mártires foi semente de novos cristãos; assim também, em nossos dias, o sangue de tantos mártires seja semente de unidade entre todos os discípulos de Cristo, sinal e instrumento de comunhão e de paz para o mundo. Obedientes à ação do Espírito Santo, que santifica a Igreja, a sustenta ao longo dos séculos e conduz àquela unidade plena pela qual Cristo rezou.

Para concluir esta reflexão, permitam-me citar alguns fragmentos da Palavra de Deus proclamada hoje e que podem nos servir de balizas para a construção da comunhão:

 “A aliança que estou fazendo para sempre com você e com seus descendentes é a seguinte: Eu serei para sempre o Deus de Vocês... alegremo-nos então pelas obras que Deus faz por meio do seu Cristo, elevemos com os anjos Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra para as pessoas a quem Ele quer bem”.

Com esta motivação proclamemos cantando “Porque Ele fez e Ele faz maravilhas, cantai ao Senhor, cantai ao Senhor!”









sexta-feira, 26 de maio de 2017

HOMILIA PARA O DIA 28 DE MAIO DE 2017

A ASCENSÃO DO SENHOR, JÁ É NOSSA VITÓRIA

Atos dos Apóstolos 1,1-11; Salmo - 46,2-3.6-7.8-9 (R.6); Efésios 1,17-23; Mateus 28,16-20


Em 2016 as pesquisas mostraram que 92 milhões de brasileiros utilizavam as redes sociais. O Brasil é o país com maior índice de pessoas conectadas. Raramente uma pessoa que tenha acesso à internet também não tenha baixado um ou mais aplicativos para se comunicar instantaneamente. Grupos surgem a todo momento para fazer contato sobre quase todas as situações. É claro que esta facilidade de comunicação é muito positiva sempre que o recurso for bem utilizado. Mas é verdade também que toda novidade nem sempre é bem aproveitada e seu uso muitas vezes limita o seu potencial transmissor de vida e de boas notícias. Isso vale também para o rádio, para a televisão, paras os jornais e todas as demais formas de comunicação utilizadas nos diversos tempos e povos.
Neste domingo que o mundo recorda o dia mundial das comunicações sociais a Igreja também celebra a Ascensão de Jesus ao céu. A fé que sustentou os discípulos foi a certeza de que Jesus não tinha se ausentado da vida deles. Desde muito cedo a comunidade dos que acreditaram na palavra dos discípulos tinha a certeza que Jesus estava com eles.
Em meio a todas as simpatias e antipatias que a pregação da boa noticia de Jesus gerava entre os que acreditavam e os que não creram neles permanecia a esperança e a confiança que o Senhor elevado aos céus era a força e a garantia de sucesso para todos os seus empreendimentos.
A promessa de que o “poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e na Samaria, e até os confins da terra” encorajou os seguidores de Jesus a anunciar e preparar novos tempos.
Cantar que Deus é o grande rei de toda a terra e que Jesus Cristo, o filho amado estava sentado no seu trono glorioso fez os discípulos continuarem firmes construindo um caminho de serviço e de amor solidário e comprometido com a causa de todos.
Percebendo como muitas pessoas estavam aceitando o batismo e a palavra a Igreja dos primeiros tempos não tinha dificuldade de compreender as palavras de Jesus ditas no evangelho de hoje: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”.
Também às pessoas neste terceiro milênio e obviamente aos cristãos que as palavras de Jesus continuam tendo uma atualidade extraordinária como afirma o Papa Francisco “Ide partilhar a experiência da fé, testemunhar o Evangelho com a força do amor, dando-se por inteiro como fez também Jesus. Não há fronteiras, não há limites, a boa notícia é para todos. Ser uma Igreja em saída capaz de ouvir o clamor de tantos que pedem o fim da corrupção, do desemprego, da mentira, da politicagem, do salve-se quem puder.

Que também os cristãos conectados com as redes sociais saibam e sejam conscientes e façam uso adequado de todos os recursos que a inteligência humana disponibiliza para que as maravilhas de Deus sejam anunciadas e vividas por todos. 

sexta-feira, 19 de maio de 2017

HOMILIA PARA O DIA 21 DE MAIO DE 2017

PARA VIVER NO AMOR RECÍPROCO
6º DOMINGO DA PÁSCOA
ANO A

Atos, 8, 5-8.14-17; Salmo 65; 1Pedro 3,15-18; João 14,15-21
O Papa Francisco em sua recente viagem ao Egito, teve um encontro com o Patriarca da Igreja Católica do Egito, também chamado de Papa de Alexandria. Do encontro resultou uma Declaração Comum entre as duas Igrejas. Dentre as diversas afirmações sobre a unidade se lê no documento: “Deixemo-nos guiar pelos ensinamentos e o exemplo do apóstolo Paulo, que escreve: «[Esforçai-vos] por manter a unidade do Espírito, mediante o vínculo da paz. Intensifiquemos a nossa oração incessante por todos os cristãos no Egito e em todo o mundo, especialmente no Médio Oriente. Alguns acontecimentos trágicos e o sangue derramado pelos nossos fiéis, perseguidos e mortos unicamente pelo motivo de ser cristãos, recordam-nos ainda mais que o ecumenismo dos mártires nos une e encoraja no caminho da paz e da reconciliação. Pois, como escreve São Paulo, «se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros”
A realidade de sofrimento, provações, corrupção e martírio que se espalha pelo mundo hoje, também fez parte da vida dos cristãos em todos os tempos. Apesar disso os discípulos nunca esmoreceram na missão de anunciar Cristo e a sua boa noticia ao mundo. Na primeira leitura vemos Felipe que foi a uma cidade da Samaria, anunciou o Evangelho que trouxe grande alegria a todos.
A carta de São Pedro, que é a segunda leitura deste domingo, está inserida no contexto das perseguições que os cristãos sofriam no final do primeiro século. Apesar disso ele insiste: Santificai em vossos corações o Senhor Jesus Cristo, e estai sempre Prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pedir. Fazei-o, porém, com mansidão e respeito e com boa consciência”.
O pedido de Pedro, não é outra coisa senão a confirmação das palavras de Jesus no Evangelho: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos, e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade, Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós”.
Esta certeza que animou os primeiros cristãos fez com que cantassem o salmo: “Bendito seja o Senhor Deus que me escutou, não rejeitou minha oração e meu clamor, nem afastou longe de mim o seu amor”.

Que as pessoas e sociedades de hoje, marcadas por “Acontecimentos trágicos e o sangue derramado pelos nossos fiéis” pelo grave momento nacional, como dizem nossos bispos: “O que está acontecendo com o Brasil? Um País perplexo diante de agentes públicos e privados que ignoram a ética e abrem mão dos princípios morais, base indispensável de uma nação que se queira justa e fraterna”(Nota Oficial da CNBB na 55ª AG), não percam a confiança que o Espírito Santo de Deus ajudará o “povo brasileiro ter coragem, fé e esperança. Está em suas mãos defender a dignidade e a liberdade, promover uma cultura de paz para todos, lutar pela justiça e pela causa dos oprimidos e fazer do Brasil uma nação respeitada”. Amemo-nos uns aos outros, porque o Amor vem de Deus!

sexta-feira, 12 de maio de 2017

HOMILIA PARA O DIA 14 DE MAIO DE 2017

TENHAM FÉ EM DEUS...
5º DOMINGO DA PÁSCOA
ANO A

Atos, 6,1-7; Salmo 32; 1 Pedro, 2, 4 -9; João 14, 1-12

Dentre as situações que fazem uma pessoa perder a paciência e os nervos aflorar à pele é estar no trânsito e se sentir perdido. O GPS não funciona, a informação que lhe foi dada não corresponde, o endereço onde quer chegar não existe e assim por diante. São todas situações que aumentam o stress e que resultam em uma série de outras dificuldades de relacionamento e nem sempre a solução para a situação termina com tranquilidade.
O texto do Evangelho de hoje foi relido pelos discípulos depois da morte e ressurreição de Jesus é uma típica narração de pessoas que sabiam o que queriam, mas não tinha certeza de como alcançar o objetivo e qual seria a alternativa mais acertada.
Jesus começa fazendo uma afirmação e pedindo uma resposta: “Não fiquem preocupados, antes tenham fé em Deus e em mim”.  O diálogo de Jesus com Tomé e Filipe tenta esclarecer duas situações. Por onde ir e qual será o ponto de Chegada: “Como podemos conhecer o caminho? E Senhor mostra-nos o Pai?” A Resposta de Jesus reafirma que só a aceitação da sua pessoa e da sua doutrina poderá levar por estradas certas e chegar ao destino com segurança: “Quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas”. Isso começava a ficar claro para os discípulos vendo como a obra de Jesus e a sua missão estava ganhando corpo e tendo aceitação.
Na primeira leitura está mais do que evidente que a fé em Jesus estava dando resultados: Naqueles dias: o número dos discípulos tinha aumentado. Então os Doze Apóstolos reuniram a multidão dos discípulos e disseram: Irmãos, é melhor que escolhais entre vós sete homens de boa fama. Eles foram apresentados aos apóstolos,
que oraram e impuseram as mãos sobre eles. Entretanto, a Palavra do Senhor se espalhava. O número dos discípulos crescia muito em Jerusalém, e grande multidão de sacerdotes judeus aceitava a fé”
.
E na segunda leitura Pedro afirma que aqueles que não acreditaram no caminho tropeçaram e tiveram dificuldade para ir adiante, pelo contrário, falando aos crentes ele diz: Mas vós sois a raça escolhida, o sacerdócio do Reino, a nação santa, o povo que ele conquistou para proclamar as obras admiráveis daquele que vos chamou das trevas
para a sua luz maravilhosa”.
 
Com esta certeza os cristãos recuperam a oração do povo de Israel e proclamam como se faz no salmo deste domingo: “Alegrai-vos no Senhor! Aos retos fica bem glorificá-lo. O Senhor pousa o olhar sobre os que o temem, e que confiam esperando em seu amor”.
Também a vida de cada pessoa em todos os tempos é feita de acertos, fracassos, medos e preocupações, é um longo caminho que vai sendo construindo todos os dias. As informações e ajuda que se busca precisam ser claras e bem entendidas para que se possa chegar a bom termo. Como cristãos é importante se perguntar sobre a coerência entre aquilo que se deseja e a maneira como se leva a vida e se executa cada uma das atribuições e responsabilidades.

Que a oração de todos ajude a tranquilizar o coração de cada um a fim de que a construção de um tempo de justiça e paz aconteça e que se reconheça o verdadeiro e único caminho que conduz à plenitude da vida. 

sexta-feira, 5 de maio de 2017

HOMILIA PARA O DIA 07 DE MAIO DE 2017

ELE É GUIA E CAMINHO SEGURO

Diversas circunstâncias fazem com que a sociedade contemporânea viva com sensação de medo e insegurança. A violência e a intolerância que se faz presente em todas as instâncias da sociedade faz as pessoas buscarem proteção de todas as formas. Cresce de modo extraordinário o mercado de vigilância eletrônica. Serviços de escolta armada são cada vez mais frequente, e muitos ainda acreditam que andar armado e ter uma arma em casa são maneiras de se sentir seguros e protegidos. Simultâneo a isso também se vê, ainda que de modo muito tímido, as experiências do “vizinho solidário” e outras formas de corresponsabilidade e ajuda mútua nas inseguranças e fraquezas das pessoas. Todas elas nunca são suficientes e capazes de resolver todos os medos e fraquezas. A Palavra de Deus deste domingo, apresenta a única maneira confiável diante do medo e da fragilidade humana.
No Salmo deste domingo a Igreja reza: Ele me guia no caminho mais seguro, pela honra do seu nome. Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei; estais comigo com bastão e com cajado; eles me dão a segurança!
E São Pedro na primeira leitura afirma que Deus constituiu Senhor e Cristo, aquele que tinha sido crucificado” e aponta a adesão ao projeto de Jesus como absoluta segurança diante de todas as dificuldades da vida.
Na Segunda leitura, o mesmo reafirma, depois de recordar tudo o que aconteceu com Jesus: “Andáveis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao pastor e guarda de vossas vidas”.
Essas afirmações não são gratuitas invenções de fanáticos com fracos propósitos. Pelo contrário, são frutos da confiança na Palavra e na ação do mesmo Jesus que disse: “Em verdade, em verdade vos digo, eu sou a porta das ovelhas. Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem. O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.
Celebrando a memória do Cristo ressuscitado e bom pastor a oportunidade é para todos aqueles que também reconhecem Jesus como seu pastor e guia e partir do seu cotidiano dar continuidade à ação de Jesus. Ele que está vivo, caminha lado a lado com quem se propõe enfrentar os perigos e os sofrimentos em vista de fazer acontecer o que se reza no salmo: “Felicidade e todo bem hão de seguir-me por toda a minha vida; e, na casa do Senhor, habitarei pelos tempos infinitos”.
Cada pessoa e os cristão em particular, mas sobretudo aqueles que exercem algum serviço ou ministério da Igreja e na sociedade são desafiados pelo Papa Francisco que diz: “Peço-lhes que vocês sejam pastores com cheiro de ovelha, (...) pastores no meio do seu rebanho”. Isso significa dizer assumir a missão de ajudar e proteger a todos e a cada um fortalecidos por aquele que é a única e absoluta segurança diante das provações e medos hodiernos.




sexta-feira, 28 de abril de 2017

HOMILIA PARA O DIA 30 DE ABRIL DE 2017

ELE DOMINOU A MORTE

Um dos sentimentos mais difíceis de se administrar é o sentimento de perda. Quando se perde a saúde, um amigo, um ente querido, um negócio importante, até quando se perde o ônibus. São todas situações que deprimem e deixam as pessoas sem ação e sem disposição para buscar soluções e alternativas de superação.
Sentimento de perda foi o que experimentou o grupo e cada um dos amigos e amigas de Jesus depois de sua trágica morte. As leituras deste domingo apresentam como aos poucos a comunidade dos seguidores de Jesus foi se fortalecendo e fazendo crescer a certeza que a morte tinha sido dominada e que em seu lugar reinava o poder de Deus que quer a vida em plenitude para todos.
O episódio dos discípulos de Emaús é uma das situações extraordinárias que devolve aos incrédulos e desiludidos discípulos a certeza que tinham perdido: Quando Jesus repetiu o gesto de partir o pão que lhes era familiar “Seus olhos se abriram e eles reconheceram o Senhor, então disseram um para o outro: Não estava o nosso coração ardente quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as escrituras? No mesmo instante voltaram a Jerusalém e contaram aos outros como tinham reconhecido Jesus ao partir do pão”.
A segunda leitura apresenta motivo mais que suficiente para ninguém se desanimar diante das dificuldades e sofrimentos que a vida lhes impõe: Sabeis que fostes resgatados da vida fútil herdada de vossos pais, não por meio de coisas perecíveis,
como a prata ou o ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo. Por ele é que alcançastes a fé em Deus. Deus o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória, e assim, a vossa fé e esperança estão em Deus”.
E o texto dos Atos dos Apóstolos certifica que Cristo não foi abandonado à região da morte, Deus o ressuscitou e nós somos testemunhas.
Ora, Deus que fez todas essas coisas merece o salmo que diz: Eu bendigo o Senhor, que me aconselha, e até de noite me adverte o coração. Tenho sempre o Senhor ante meus olhos, pois se o tenho a meu lado não vacilo”.
Ora, também para os cristãos do terceiro milênio, também o povo brasileiro vilipendiado por políticos e mandatários corruptos e insensíveis aos sofrimentos e direitos dos cidadãos o mesmo Senhor que ressuscitou Jesus dentre os mortos e o próprio Ressuscitado aparece no caminho das perdas e dos sofrimentos e reafirma: “como vocês são lentos para compreender as escrituras, não sabem que o messias deve sofrer tudo isso, para então ressuscitar no terceiro dia”?
O Cristo que dominou a morte caminha com cada pessoa que luta e crê num mundo novo.



sábado, 22 de abril de 2017

HOMILIA PARA O DIA 23 DE ABRIL DE 2017

ELE NOS FEZ NASCER DE NOVO...

Vamos começar a reflexão da Palavra de Deus para este domingo a partir de uma fábula de Esopo, conhecida como o feixe de varas. Conta a fábula que certo pai, já no leito de morte pediu que cada um dos filhos viessem ao seu encontro trazendo uma varinha colhida no quintal de casa. Os filhos atenderam ao chamado do pai e trouxeram a varinha. O pai pegou cada uma delas e quebrou diante deles sem nenhum esforço. Reiterou o pedido para que novamente os filhos trouxessem mais uma varinha, e o exercício foi repetido. O pai então pegou todas as varinhas e formando um feixe tentou quebra-las. Obviamente o esforço foi em vão. Passou o feixe para cada um dos filhos que também não conseguiram. Como moral da história disse o pai: Assim acontece com cada um de vocês. Se estiverem sozinhos, facilmente serão vencidos, se permanecerem unidos ninguém conseguirá quebra-los.
É esta a mensagem que se pode tirar da liturgia deste domingo. Os Atos dos Apóstolos narram o testemunho da primeira comunidade cristã onde se lê: “Os que haviam se convertido eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna na fração do pão e nas orações, todos os que abraçavam a fé viviam unidos e colocavam tudo em comum e, cada dia, o Senhor acrescentava ao seu número mais pessoas que seriam salvas”. A experiência comunitária que os seguidores de Jesus realizaram garantiu o sucesso da proposta e o crescimento do grupo.
Pedro, na segunda leitura, reconhece a ação de Deus e afirma que tudo o que está acontecendo permite crescer na esperança e na alegria: Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Em sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,
ele nos fez nascer de novo...”
e tudo é motivo de alegria embora seja necessário compreender que a vida não acontece sem que as pessoas experimentem dificuldades e provações.
O Evangelho narra mais um dos momentos extraordinários em que Jesus ressuscitado se dá a conhecer aos apóstolos. Esta realidade é portadora de algumas condições incríveis que são ao mesmo tempo missão. Os que estavam reunidos reconhecem Jesus que anuncia: “A paz esteja com vocês! Como o Pai me enviou eu também envio vocês; a quem perdoarem os pecados, estes serão perdoados; Bem-aventurados os que creram sem ter visto!” Todas realidades vividas em comunidade e com a comunidade.
Dentre as missões importantes e necessárias que a vida nos pede nos próximos dias, uma delas é ser solidário com o Brasil. O pedido dos nossos bispos em relação à reforma da previdência é muito claro: “É necessário que a sociedade brasileira esteja atenta às ameaças de retrocesso. A ampla mobilização contra a retirada de direitos, arduamente conquistados. A CNBB, a OAB e o Conselho Federal de Economia convidam seus membros e as organizações da sociedade civil ao amplo debate sobre a Reforma da Previdência e sobre quaisquer outras que visem alterar direitos conquistados, como a Reforma Trabalhista. Uma sociedade justa e fraterna se fortalece, a partir do cumprimento do dever cívico de cada cidadão, em busca do aperfeiçoamento das instituições democráticas”
A Arquidiocese de Maringá, no Paraná, suspendeu a Romaria que faria no dia primeiro de maio e o Arcebispo fez um convite para todos os diocesanos que participem das mobilizações do dia 28 de abril. Certamente este convite pode ser aplicado aos cristãos do Brasil inteiro.
A participação maciça na luta por um Brasil justo e honesto e com oportunidades para todos fara com que cantemos todos com o salmo deste domingo: “Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos”.  


sexta-feira, 14 de abril de 2017

HOMILIA PARA A PROCISSÃO DO ENCONTRO

ELE FOI FERIDO POR CAUSA DE NOSSOS PECADOS

Dentre as historietas, comparações e analogias que circulam pelas redes sociais nestes dias, uma delas é a conhecida parábola do homem que estava carregando uma cruz e enquanto caminhava sentiu cansaço e aos poucos foi cortando pedaços da cruz de modo que se tornasse mais leve e seu caminho mais suave. Para sua surpresa há pouca distância do destino ele precisou atravessar um abismo quando lançou sua cruz para fazer a travessia percebeu que faltavam os pedaços para garantir a travessia.
Esta historieta muitas vezes pode ser aplicada ao dia a dia das pessoas que procuram a maneira mais fácil, porém nem sempre eficaz para solucionar seus problemas.
Na Sexta Feira Santa, os cristãos acompanham com piedade os passos do Servo Sofredor descrito pelo profeta Isaias “Meu servo o justo carregou sobre si as culpas de todos”. Dentre as práticas de piedade no dia da Paixão do Senhor, uma delas se dá pela participação na procissão do Senhor morto também realizada com a imagem de N. Sra. das Dores. A cena do encontro sofrido da mãe e do filho dispensa comentários, trata-se de uma cena que fala por si mesma.
Celebrar este momento de compaixão diante da imagem do Cristo morto pede que se recorde o momento da condenação, ocasião em que Pilatos proclama “Não encontro nele nenhuma culpa, façam como manda a lei de vocês”.
Ao mesmo tempo não é possível contemplar a Imagem de Maria sem recordar a profecia de Simeão quando disse: “Uma espada transpassará a sua alma” e o evangelho conclui afirmando: “Maria guardava todas essas coisas no seu coração”.
Jesus e Maria com seu silencio se unem às vítimas da violência que já não podem gritar. Carregando a cruz Jesus se une as famílias que se encontram em dificuldade e choram a trágica perda dos filhos. Com a cruz Jesus se une a todas as pessoas que sofrem. Com a cruz Jesus está junto de tantas mães que veem seus filhos vítimas do paraíso das drogas. Com a cruz Jesus se une a quem é perseguido por causa da sua religião, das suas ideias ou simplesmente pela cor de sua pele. Na cruz de Cristo está o sofrimento e  o pecado, Ele acolhe tudo com os braços abertos e continua a dizer coragem, Você não leva sozinho eu caminho com Você.
Por sua vez, Maria continua a convidar para caminhar com Jesus sem medo de ir com ele até a cruz e sem medo de busca-lo na madrugada da ressureição.

As celebrações da sexta feira da paixão devem ajudar cada vez mais as pessoas serem semelhantes a Cristo e que passando pela experiência de dor e sofrimento cada vez mais tenham a coragem de se comprometer de verdade com a construção do Reino de Deus.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

HOMILIA PARA A VIGILIA DA PÁSCOA 2017

ELE NÃO MORRE MAIS

A celebração da Vigília da Páscoa coloca os cristãos diante da mais extraordinária surpresa de Deus. Todos os envolvidos no processo da morte da Jesus foram surpreendidos com a novidade da manhã da ressurreição. Fazer memória deste extraordinário acontecimento significa caminhar com as mulheres que foram ao túmulo na madrugada do primeiro dia.
Desiludidas e preocupadas com o modo como a vida deveria continuar depois da morte do Senhor elas caminham até a sepultura “Vão cumprir um gesto de piedade, de afeto, de amor, um gesto tradicionalmente feito a um ente querido falecido, como fazemos nós também. Elas tinham seguido Jesus, ouviram-No, sentiram-se compreendidas na sua dignidade e acompanharam-No até ao fim no Calvário e ao momento da descida do seu corpo da cruz” (Papa Francisco Homilia da Vigília da Páscoa 2013).
Transtornadas com tudo o que tinham visto e vivido tiveram dificuldade para  compreender os fatos que estavam acontecendo naquela extraordinária manhã, entretanto elas não duvidam do mandato de Jesus: “digam aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia lá Vocês me verão”.
Como as mulheres daquele tempo também a humanidade hoje se vê às voltas com as surpresas de Deus. Nesta páscoa eis o convite: “Não nos fechemos à novidade que Deus quer trazer à nossa vida! Muitas vezes sucede que nos sentimos cansados, desiludidos, tristes, sentimos o peso dos nossos pecados, pensamos que não conseguimos? Não nos fechemos em nós mesmos, não percamos a confiança, não nos demos jamais por vencidos: não há situações que Deus não possa mudar; não há pecado que não possa perdoar, se nos abrirmos a Ele” (Papa Francisco Homilia da Vigília da Páscoa 2013).
A longa liturgia da Palavra proclamada na celebração desta noite faz a recordação de todas as surpresas que Deus realizou ao longo do tempo. A humanidade é convidada a não buscar entre os mortos aquele que está vivo.
“Os problemas, as preocupações de todos os dias tendem a fechar-nos em nós mesmos, na tristeza, na amargura… e aí está a morte. Não procuremos aí o Vivente! Aceita então que Jesus Ressuscitado entre na tua vida, acolhe-O como amigo, com confiança: Ele é a vida! Se até agora estiveste longe d’Ele, basta que faças um pequeno passo e Ele te acolherá de braços abertos. Se és indiferente, aceita arriscar: não ficarás desiludido. Se te parece difícil segui-Lo, não tenhas medo, entrega-te a Ele, podes estar seguro de que Ele está perto de ti, está contigo e dar-te-á a paz que procuras e a força para viver como Ele quer” (Papa Francisco Homilia da Vigília da Páscoa 2013).

Que a páscoa ensine a todos e a cada um a “cuidar e guardar a criação”. 

HOMILIA PARA A SEXTA FEIRA DA PAIXÃO 2017

DO LADO ABERTO DE CRISTO JORROU 

SANGUE E ÁGUA

A celebração da Paixão do Senhor é uma súplica insistente que os cristãos fazem ecoar pedindo para serem saciados com o amor daquele que deu a vida para perdoar os pecados e resgatar os pecadores.
Ao mesmo tempo, celebrar a paixão é um desafio para permanecer com ele como fazem os amigos quando acompanham o sofrimento dos amados.
Contemplar os sofrimentos de Jesus, permanecer com Ele no calvário implica abrir o coração para Jesus, assim como o Senhor entregou-se pela humanidade.
Fazer a memória deste extraordinário acontecimento que modificou para sempre a vida de todos implica também dar uma resposta que signifique disposição para retribuir o amor manifestado por todos.
Celebrar a paixão implica cultivar a coragem de não separar-se de Cristo e nem tampouco de esquecê-lo. De um modo muito claro significa aceitar o desafio de ir construindo sempre mais relações fraternas, justas e humanas.

Ir ao encontro do Cristo na cruz implica ter confiança que por mais extremas que sejam as dores da humanidade o seu coração ferido, compassivo e misericordioso consola, fortalece e alivia os sofrimentos.

HOMILIA PARA A QUINTA FEIRA DA CEIA DO SENHOR - 2017

O SENHOR DEUS VEM EM NOSSO AUXÍLIO

A onda de violência que toma conta das cidades, a infinita lista de corruptos e corruptores, o desrespeito pela vida em todas as suas formas são sinais claros que em nome da liberdade Jesus continua sendo traído e entregue para ser crucificado.  Judas que participava do grupo de amigos de Jesus exerceu sua liberdade sem responsabilidade e o resultado não poderia ser outro. Pelo contrário Jesus que foi verdadeiramente livre diante de tudo e de todos exerceu também sua responsabilidade.
No Evangelho se lê: “Jesus sabia que tinha chegado a sua hora. A hora de passar deste mundo para o Pai. Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Esta confiança faz Jesus se abandonar nos braços do Pai e sem abrir mão da sua liberdade ensinou uma lição de serviço e de valorização da vida.
“Se eu, o mestre e Senhor, lavei os seus pés façam também vocês a mesma coisa...” praticar o mandato de Jesus é a maneira mais clara de mostrar Deus que vem em socorro das necessidades e sofrimentos humanos.
A narrativa da Instituição da Eucaristia, conforme conta São Paulo na segunda leitura de hoje, fortalece a responsabilidade solidária da partilha e do serviço que já estava descrita na comemoração da páscoa dos judeus.
Partilhar o Cordeiro como lembrança da libertação do Egito era uma atitude de serviço e de entrega que se completa com a ceia de Jesus confirmada pelo gesto de lavar os pés.

Os cristãos que se reúnem na semana santa não fazem uma simples lembrança, pelo contrário, atualizam os gestos e palavras de Jesus e pedem a graça, a coragem e a determinação de usar a sua liberdade na promoção e defesa da vida e da dignidade de todos. 

sábado, 8 de abril de 2017

HOMILIA PARA O DOMINGO DE RAMOS 2017

DEUS O FEZ SENHOR E O COLOCOU 
ACIMA DE TUDO

As celebrações da Semana Santa que se iniciam com o Domingo de Ramos não são simples lembrança de fatos que aconteceram num determinado tempo da história. O que se faz nestes dias é a atualização de tudo o que se chama Mistério da Fé. A procissão com a bênção dos ramos representa a Igreja com todos os batizados construindo o Reino de Deus, embora vivam as fragilidades da condição humana.
Nesta celebração são proclamados dois textos do Evangelho. O primeiro que narra a entrada de Jesus em Jerusalém, fato que, na verdade, é um único que culmina com a paixão e morte de Jesus. O mesmo povo que proclama “Bendito o que vem em nome do Senhor” é o que grita “ele não, solte-nos Barrabás” e que logo depois afirma amedrontado “verdadeiramente esse homem era Filho de Deus”. Essas três situações continuam a se repetir no dia a dia dos cristãos.
Para cada pessoa na atualidade continua atual a palavra de São Paulo na carta aos Filipenses: “Jesus Cristo esvaziou-se a si mesmo, para que em todos os lugares e em todos os tempos, todos os joelhos se dobrem e toda língua proclame: Jesus é o Senhor!”.
A força divina que o Profeta Jeremias descreve na primeira leitura: “Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo”, foi o sustento de Jesus diante de todas as dificuldades até mesmo quando ele pede: “Pai se é possível afasta de mim este cálice” e ainda: “Meu Deus, Meu Deus porque me abandonaste”.
A oração que se faz no salmo: “Todos os que amam o Senhor Deus, lhe cantem louvores, lhe glorifiquem os descendentes de Jacó e o respeitem toda a raça de Israel”.
Como última palavra para guardar no coração: Celebrar a semana santa um encontro vivo com Jesus vivo, que obviamente também acontece no encontro vivo com cada pessoa com quem se tem relação no dia a dia.
Neste sentido ganha ainda mais sentido a oração da missa que diz: “Concedei-nos aprender o ensinamento de sua paixão e ressuscitar com ele na glória”.


domingo, 2 de abril de 2017

HOMILIA PARA O DIA 02 DE ABRIL DE 2017 - QUINTO DA QUARESMA

LÁZARO, VEM PARA FORA...
O nome Lázaro, na língua hebraica significa “Aquele que Deus ajuda”. Assim como a palavra Bethânia, significa a casa dos pobres. Se fosse possível dar um significado para estes dois nomes na atualidade se diria que a sociedade está cheia de Lázaros, no sentido de que são muitos os que precisam da ajuda de Deus e em todas as cidades existem muitas Bethânia.  Devolver a alegria de viver para os Lázaros que moram nas Bethânias da sociedade contemporânea é uma forma de viver de modo coerente o cristianismo seguindo o exemplo de Jesus, que também se apresentou ao mundo para dar continuidade ao trabalho do seu Pai.
Na primeira leitura deste domingo, o profeta anuncia: “Assim fala o Senhor Deus:
Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel; e quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair delas, sabereis que eu sou o Senhor
”. Desde sempre a ação de Deus foi direcionada para as pessoas que viviam nas “sombras da morte” e que por si mesmas não tinham condições de modificar sua situação. Deus age em favor deles, dando-lhes força e coragem. A isto o profeta chama “abrir as sepulturas e conduzir-lhes para a terra de Israel”.
No Evangelho Jesus é chamado para ir até Bethania – casa dos pobres – lá vivem três irmãos que precisam da “ajuda de Deus”. Diante do convite para visitar um doente Jesus afirma: “Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”. Ao chegar Jesus encontra o quadro desolador da morte, do choro, do consolo e de toda sorte de sofrimento. No diálogo com Marta Jesus provoca a confirmação da fé e arranca da boca de Marta: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo”.
As palavras de Marta sintetizam o sentimento de todos os que aí estavam, mas que não compreendiam nem tinha coragem de manifestar. Tendo ouvido isso Jesus proclama a razão da sua visita: “'Pai, eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre me escutas. Mas digo isto por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste”, e ordena: “Lázaro, vem para fora”.
Os fatos narrados na primeira leitura e no Evangelho são interpretados por São Paulo na carta aos romanos: “Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus. Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o Espírito de Deus mora em vós”.
Para todas as pessoas, mas especialmente para os cristãos marcados pela graça do Batismo se reunir em assembleia para rezar, ouvir a Palavra e participar da Eucaristia é oportunidade para aprender a agir como Jesus: Ir sem medo para as Bethânias da Vida, encontrar todos os Lázaros e desamarrar as mãos e os pés daqueles que não podem andar e faze-los enxergar a luz da vida. Isso também significa viver a quaresma com o convite da Campanha da Fraternidade: “Cuidar e guardar a criação”, porque é preciso que “Da Amazônia até os Pampas, do Cerrado aos Manguezais, chegue a ti o nosso canto pela vida e pela paz”.




HOMILIA PARA O DIA 26 DE MARÇO DE 2017

ELE NOS GUIA POR CAMINHOS SEGUROS

"Os rios não bebem sua própria água; as árvores não comem seus próprios frutos; o sol não brilha para si mesmo; as flores não espalham sua fragrância para si; viver para os outros é uma regra da natureza.... A vida é boa quando você está feliz, mas é muito melhor quando os outros são felizes por sua causa".
Esta já é a quarta semana da quaresma, portanto muito perto da alegria que a Páscoa faz experimentar. Neste contexto o pensamento de citado acima é atribuído ao Papa Francisco ajuda a compreender as leituras proclamadas na liturgia.
Na carta aos Efésios, Paulo recomenda: "Vivam como filhos da luz, pois o fruto dá luz se chama: bondade, justiça e verdade. Não faça obras das trevas". Foi exatamente para fazer acontecer a luz de Deus para o mundo que Davi foi escolhido como rei de Israel. Jesus reconhecido pelo cego do Evangelho despertou nele uma extraordinária confissão de fé: "Eu creio Senhor e prostrou-se diante dele".
Ora também os cristãos na atualidade, mas, de algum modo, todas as pessoas em toda parte sabem e experimentam a alegria de ser feliz e de fazer os outros felizes. Esta experiência que para os cristãos começa com o batismo vai se tornando mais intensa à medida que a graça recebida naquele dia leva as pessoas a se colocar a serviço da vida de todos e de cuidar de todas as formas de vida. Fazer as pessoas felizes significa produzir frutos e viver para os outros como filhos da luz cujos frutos são a bondade, justiça e a verdade.
Que pela oração, a Palavra e a Eucaristia o Senhor faça de todos e de cada um uma fonte de água viva que facilite enxergar e conduzir para a vida e para a luz que Jesus nos garante na Páscoa.
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domingo, 19 de março de 2017

HOMILIA PARA O DIA 19 DE MARÇO DE 2017 - 3º DA QUARESMA

SENHOR, NÃO NOS DEIXE 

FALTAR ÁGUA VIVA


A fome e a sede são necessidades fisiológicas de primeira grandeza. Qualquer criatura viva que experimente a sensação de fome e sede por longos períodos tem comprometida a qualidade de vida e a própria existência. Água e comida de qualidade sempre foram uma preocupação de todos os povos e de todos os organismos reguladores das relações sociais. Não sem razão as mais impactantes matérias jornalísticas em todo o mundo se referem à privação e à qualidade daquilo que os povos comem e bebem. No Brasil atualmente, o “escândalo da carne fraca” é apenas mais um elemento para expor a crise moral que vive nossa sociedade do ponto vista econômico, social e político. Esta situação permite um link com a situação do povo de Israel no deserto e a mulher samaritana do evangelho.
O povo de Israel que havia iniciado a caminhada para construção da sua cidadania e para uma nova forma de organização social espera que Deus resolva todos os seus problemas e aponta o interesse de voltar à escravidão do Egito: Por que nos fizeste sair do Egito? Foi para nos fazer morrer de sede, a nós, nossos filhos e nosso gado?”. Diante desta reclamação Deus apresenta alternativa para garantir a vida e ordena a Moisés: “Passa adiante do povo e leva contigo alguns anciãos de Israel”. Em outras palavras, não fique parado na simples reclamação, aprenda com a sabedoria de quem já solucionou questões complicadas ao longo da vida. Reconhecer a própria fragilidade e a presença de Deus na solução dos problemas cotidianos é a alternativa para a continuação da caminhada e para preservação da qualidade da vida em todas os biomas.
No encontro de Jesus com a mulher samaritana é possível ler mais uma vez o que se pode chamar de “escândalo da carne fraca”. A mulher anônima havia perdido todos os referencias de dignidade e respeito. Não buscava água no poço de Jacó, necessitava saciar sua sede de vida nova, queria ter certeza de onde poderia encontrar Deus: “Senhor, vejo que és um profeta! Os nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que em Jerusalém é que se deve adorar”. A angústia da mulher fica evidente ao perguntar onde encontro Deus vivo que saciará minha sede de vida nova.
Uma vez reconhecendo que Jesus é o messias ela recobra as forças e sai anunciando: “Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz...  E por causa da palavra da mulher muitos samaritanos acreditaram em Jesus”.
Eis que para cada pessoa, nestes tempos de “fome e sede de verdade e justiça” a ação e a palavra de Jesus são a certeza de que: “a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado”.
Como Igreja reunida também a comunidade de fé é convidada a repetir o salmo: “Vinde adoremos e prostremo-nos por terra, e ajoelhemos ante o Deus que nos criou! Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor, e nós somos o seu povo e seu rebanho, as ovelhas que conduz com sua mão”.
Nesta quaresma, cada pessoa é convidada a fazer jejum e penitência modificando hábitos e costumes que maltratam a vida substituindo-os por práticas de respeito e de preservação da obra criada e confiada ao ser humano para “cuidar e guardar”.