quinta-feira, 28 de maio de 2020

HOMILIA PARA O DIA 31 DE MAIO DE 2020 - PENTECOSTES - ANO A


A PAZ ESTEJA COM VOCÊS

Que a humanidade está vivendo uma situação de medo dispensa comentários. Cada pessoa, cada comunidade, cada Estado procura um alternativa para diminuir a sensação de insegurança que a COVID 19 se encarregou de instalar por todo o mundo. Não se trata apenas do medo de morrer, mas também das consequências que este tempo vai deixar.
Simultâneo à situação de medo e pavor em todos as partes são apresentadas e criadas alternativas criativas para um recomeço seguro e que garanta a inclusão de todos os povos em todos os lugares.
Se quiséssemos fazer uma comparação podemos afirmar que a sociedade atual, guardadas as proporções, vive o medo que reinava na comunidade dos discípulos e espera a realização da mesma promessa. Ou seja, que o Espírito Santo de Deus desça sobre todos e os encharque de coragem anunciando um tempo de paz e vida nova.
Como os povos da primeira leitura, reunidos de todas as partes, mantiveram sua cultura, seus costumes, sua língua, mas participaram da nova sociedade construída com os dons do Espírito, assim também o mundo inteiro depois desta provação possa proclamar: Todos compreendemos as maravilhas de Deus!
Unidos na graça do Espírito, não busquemos e pensemos em favores pessoais, mas trabalhemos pela inclusão de todos e possamos reconhecer a voz do Senhor que anuncia: A paz esteja com vocês!
Que o perdão dos pecados prometido por Jesus signifique a tarefa de todos empenhados na organização de uma sociedade fraterna, responsável, justa e cuidadora de todos e da Casa Comum.

sábado, 23 de maio de 2020

HOMILIA PARA O DIA 24 DE MAIO DE 2020 - ASCENÇÃO DO SENHOR - DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES - ANO A


A VIDA SE FAZ HISTÓRIA

A história do mundo será contada entre um antes e um depois deste fatídico ano de 2020. E será contada com a potencialização das tecnologias de comunicação e informação, as quais ao mesmo tempo em que colocam a notícia ao alcance de todos instantaneamente, também facilitam a proliferação de meias verdades, de inverdades e pior que isso as famosas Fake News.
Neste domingo da Ascenção do Senhor o mundo também celebra o Dia Mundial das Comunicações Sociais, esta data quer nos ajudar compreender que a vida humana depende da comunicação, porém que seja uma comunicação verdadeira, honesta, responsável. Não basta fazer uso das Tecnologias de Comunicação e Informação, é preciso servir-se delas a serviço da verdade, da vida, da superação de conflitos e dificuldades.
Foi esse o desafio que as primeiras comunidades cristãs experimentaram: os discípulos se deixaram guiar pelo Espírito Santo e transformaram sua existência em missão. Comunicar a verdade que lhes tinha sido anunciada foi a tarefa principal da comunidade. A mesma proposta que Jesus fez aos discípulos é dada hoje a nós: Não lhes cabe saber os tempos e os momentos que o Pai determinou com a sua própria autoridade. Mas receberão o poder do Espírito Santo que descerá sobre vocês, para serem minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e na Samaria, e até os confins da terra.”
São Paulo convida a comunidade de Éfeso a compreender que “O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, lhes dê um espírito de sabedoria que lhes revele e faça verdadeiramente conhecer... qual a esperança que o seu chamamento os dá, qual a riqueza da glória que está na herança com os santos”.  Também para nós convém ter claro que o caminho da vida exige enfrentar a história e começar sempre e de novo apesar das dificuldades cotidianas.
Não há dúvida que viver em comunhão e solidariedade com todas as pessoas que experimentam as mesmas dificuldades exige compreender o desafio dado aos discípulos: Gente de todo o mundo, não fiquem de braços cruzados antes tenham confiança que Jesus está conosco todos os dias até o fim dos tempos.
“Portanto, vão e façam discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que lhes ordenei! Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até ao fim do mundo”.
Ir e fazer discípulos como mandou Jesus no Evangelho não é uma tarefa de proselitismo barato, mas a certeza que a presença de Jesus durante as dificuldades da caminhada pede sempre a capacidade de estabelecer encontros de compromisso, solidariedade e inclusão. Agora e depois da pandemia, que ninguém fique para trás ou excluído da história. Que este tempo nos ensine a comunicar e a construir pontes em lugar de muros.


sexta-feira, 15 de maio de 2020

HOMILIA PARA O DIA 17 DE MAIO DE 2020 - 6º DA PÁSCOA - ANO A


GUARDAR OS MANDAMENTOS E PERMANECER UNIDOS EM JESUS

A situação de pandemia que assolou o mundo inteiro serviu para confirmar a impotência humana diante de uma série de circunstâncias que produzem dor e sofrimento. Como no tempo de Jesus, a situação de medo que tomou conta de todos nestes dias permite compreender que a paixão de Jesus se repete diariamente. Segundo o Papa Francisco é preciso não esquecer que além da COVID 19, o mundo vive ainda pandemias de fome, de guerra, de falta de instrução, de exclusão social, de desrespeito para com a natureza e assim por diante.
A ação dos discípulos descrita na primeira leitura deste domingo serve de estímulo para os cristãos na atualidade: “As multidões seguiam com atenção as coisas que Felipe dizia. E todos unânimes o escutavam, pois viam os milagres que ele fazia”. Como outrora, todos somos chamados a dar testemunho da boa nova de Jesus e da sua ação libertadora que poderá melhor ser compreendida à medida que as pessoas se abrirem para a ação do Espírito Santo e tiverem a liberdade de construir famílias e comunidades verdadeiramente fraternas.
Na segunda leitura Pedro conforta os corações abatidos e sofredores dos destinatários da sua carta: “Santificai em vossos corações o Senhor Jesus Cristo, e estai sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pedir. Fazei-o, porém, com mansidão e respeito e com boa consciência”. Recomendando que mostrem seu amor e seu testemunho sereno de fé de tal maneira que assim como Cristo, também seus seguidores façam de suas vidas dom e serviço para o bem de tudo e de todos.
O texto do Evangelho faz parte do discurso de despedida que Jesus realiza na última ceia. A Palavra que Ele tem a dizer é de conforto e certeza que apesar de tudo o que vir acontecer os discípulos não ficarão abandonados: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos, e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis, porque ele permanece junto de vós e estará dentro de vós”. O que Jesus deixa claro é que a mesma força que Ele recebeu do Pai ao longo da sua vida virá sobre todos aqueles que permanecerem nos seus ensinamentos.
Ora, também para nossas comunidades, diante das dificuldades que se potencializam a cada dia precisa ficar muito claro que o Espírito anima cada pessoa assumir com otimismo e coragem sendo fieis seguidores do Mestre e deixando o Espírito abrir os olhos contra toda mentira e enganação que insiste continuar fazendo parte dos desafios cotidianos. É o Espírito do Senhor que não nos deixa indiferentes diante de todas as pandemias que se alastram pelo mundo.
Amar a Jesus significa abraçar o seu projeto de vida e de defesa da vida com determinação e coragem. Rezemos pedindo a graça de compreender este dom do Espírito Santo derramado em nossos corações.

domingo, 10 de maio de 2020

HOMILIA PARA O DIA 10 DE MAIO DE 2020 - 5º DA PÁSCOA - ANO A


RAÇA ESCOLHIDA, NAÇÃO SANTA A CAMINHO DO REINO

“Na casa do meu Pai existem muitas moradas...” Em todas as culturas e em todos os tempos é impossível pensar moradas e pensar paternidade sem associar maternidade, cuidado, colo, responsabilidade, afago, proteção e uma série de outros adjetivos. Para celebrar este quinto domingo da páscoa no qual o  Filho se apresenta como caminho que leva ao Pai elevemos nossa prece à Mãe do Filho de Deus que nos foi dada por Mãe e no colo desta Mãe coloquemos todas as Mães que repetem diariamente os gestos de Maria.
Percorrer caminhos e nele encontrar pedras, retirar pedras e ir construindo caminhos faz parte do cotidiano relacional das pessoas. O ano de 2020 ficará marcado na história pela montanha de pedras que desafiou o mundo inteiro responder com criatividade à pandemia que assolou todas as nações. Ora, é usando a simbologia de pedra e caminho que a Palavra de Deus deste domingo nos ajuda a redefinir nossa vida e a condição de seguidores de Jesus e membros da Igreja.
Aproximem-se do Senhor, pedra viva, escolhida e honrosa aos olhos de Deus. Também vocês, como pedras vivas, formem um edifício espiritual, um sacerdócio santo, proclamem as obras admiráveis daquele que os chamou das trevas para a sua luz maravilhosa”.
Não é difícil compreender que se aproximar daquele que nos chamou implica percorrer um caminho. Tomar uma direção, fazer uma estrada consiste em aceitar os obstáculos que o destino apresenta. Estes obstáculos Jesus ajuda seus discípulos compreenderem no diálogo do Evangelho de hoje.
O texto proclamado na liturgia deste domingo é uma espécie de testamento que Jesus deixa aos discípulos na noite da ultima ceia. Ele bem sabia que o tempo de estar fisicamente com seu grupo tinha chegado ao fim. Ao mesmo tempo em que se despede estimula seus discípulos a não desanimar: Não se perturbe o seu coração.
Tenham fé em Deus, tenham fé em mim também. Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Acreditem: eu estou no Pai e o Pai está em mim”.
As palavras de Jesus são um conforto para quem encontra pedras no caminho cotidiano, em lugar de ver nelas um empecilho e uma montanha de problemas perceber que a pedra do caminho pode servir como instrumento de redenção e de vida: “Sejam vocês também pedras vivas, sacerdócio santo, raça escolhida.”
Não tenhamos medo, o Senhor continua caminhando conosco e mostrando o caminho. Nós somos sua morada com gestos criativos de solidariedade e de comunhão podemos facilitar que o nosso próprio coração se transforme e por essa condição seja transformada a situação de dor e de medo criadas pelas pedras que dificultam os passos destes dias para o mundo inteiro.



sexta-feira, 1 de maio de 2020

HOMILIA PARA O DIA 03 DE MAIO DE 2020 - DOMINGO DO BOM PASTOR - ANO A


HABITAREI NA CASA DO SENHOR

A nossa geração nunca teve oportunidade de refletir com profundidade e exigência a importância e papel das portas na vida das pessoas. Abrir e fechar portas, permanecer do lado de dentro ou do lado de fora de uma porta nunca foi tão importante como nestes dias isolamento social. É neste contexto que chegamos ao quarto domingo da páscoa cuja liturgia da Palavra nos apresenta Jesus como o bom pastor. No Evangelho proclamado neste domingo Jesus constrói uma relação muito estreita entre o pastor, sua missão e a porta e sua função.
Jesus se declara conhecedor do seu rebanho e se apresenta como alguém que sabe abrir e fechar a porta garantindo a todos duas condições fundamentais para a vida das pessoas e que se resumem em segurança e liberdade.
Vivendo a experiência do isolamento social e do cuidado com a transmissão do vírus quem compreende a função da porta saberá muito bem a hora de abrir e de fechar de viver em segurança e ao mesmo tempo em liberdade. A proposta de Jesus quer garantir vida plena aos seus amados é uma escolha que implica respeitar a liberdade e viver com responsabilidade: “Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. A esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora. E, depois de fazer sair todas as que são suas, caminha à sua frente, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz”. Peçamos a graça de compreender e viver a experiência do necessário discernimento entre a voz do verdadeiro pastor, a função de porteiro que muitas vezes nos é atribuída e a condição de rebanho que ao mesmo tempo precisa de liberdade e de segurança.
Discernimento é a mesma coisa que Pedro pede tanto no texto dos Atos dos Apóstolos quanto o autor da carta que se proclama na segunda leitura: “Quando ouviram isso, eles ficaram com o coração aflito, e perguntaram a Pedro e aos outros apóstolos: “Irmãos, o que devemos fazer?” Pedro respondeu: “Convertei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para o perdão dos vossos pecados. E vós recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós e vossos filhos, e para todos aqueles que estão longe, todos aqueles que o Senhor nosso Deus chamar para si”.
E na segunda leitura: “Caríssimos: Também Cristo sofreu por vós deixando-vos um exemplo, a fim de que sigais os seus passos. Sobre a cruz, carregou nossos pecados em seu próprio corpo, a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça. Por suas feridas fostes curados. Andáveis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao pastor e guarda de vossas vidas”.
Discernir a função e o papel que cada pessoa tem ora como pastor, ora como parte do rebanho, ora como encarregado, ora na função de porta permite melhor compreender a oração que se faz no salmo deste domingo e que rezamos com muita frequência em nosso dia a dia: O Senhor é o pastor que me conduz;/ para as águas repousantes me encaminha. — O Senhor é o pastor que me conduz;/ não me falta coisa alguma./ Pelos prados e campinas verdejantes ele me leva a descansar./ Para as águas repousantes me encaminha,/ e restaura as minhas forças. — Ele me guia no caminho mais seguro,/ pela honra do seu nome./ Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso,/ nenhum mal eu temerei;/ estais comigo com bastão e com cajado;/ eles me dão a segurança!







sexta-feira, 24 de abril de 2020

HOMILIA PARA O DIA 26 DE ABRIL DE 2020 - 3º DA PÁSCOA - ANO A


RESGATADOS PELO SANGUE DO CORDEIRO

Fazer a experiência de frustrações e desilusões ao longo da vida em situações e na relação com pessoas nas quais se depositava absoluta confiança não é novidade para ninguém. A carta de Pedro que se proclama na liturgia deste domingo é um dos textos do Novo Testamento escritos para diversas comunidades que experimentavam a desilusão, a perseguição e toda forma de sofrimento e isolamento. Pedro procura reergue-los na esperança recordando o cordeiro sacrificado para comemorar a páscoa com libertação da escravidão do Egito: “Sabeis que fostes resgatados da vida fútil herdada de vossos pais, não por meio de coisas perecíveis, como a prata ou o ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha nem defeito”.
A mesma situação se percebe no teor da conversa entre os dois desiludidos discípulos que se afastavam de Jerusalém. Decididos a recomeçar a vida longe de Jerusalém depois de mais uma experiência frustrada: “O que aconteceu com Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e diante de todo o povo. Nossos sumos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Nós esperávamos que ele fosse libertar Israel, mas, apesar de tudo isso, já faz três dias que todas essas coisas aconteceram! É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos deram um susto. Elas foram de madrugada ao túmulo e não encontraram o corpo dele. Então voltaram, dizendo que tinham visto anjos e que estes afirmaram que Jesus está vivo”.
A única resposta possível está na realização de gestos de partilha e de solidariedade. Jesus só é reconhecido quando entra em casa com eles, senta-se à mesa e reparte o pão. Ontem como hoje para todas as frustrações e provações a que somos submetidos só resta uma alternativa: sentar-se uns com os outros, repartir aquilo que cada um traz de seu. Incluindo nisso suas desilusões, suas tristezas e sua pobreza. Cristo continua nos falando e querendo nos fazer renascer na esperança deixemos que ele nos abasteça com seu entusiasmo por meio da palavra ouvida e partilhada, do pão partido e repartido e da responsabilidade solidária com todos os sofridos e desiludidos que também caminham conosco. Rezemos uns pelos outros afirmando: “Senhor fica conosco sempre que o dia declina e a noite vai chegando”.




sexta-feira, 17 de abril de 2020

HOMILIA PARA O DIA 19 DE ABRIL DE 2020 - 2º DA PÁSCOA - ANO A


RENASCIDOS NA MORTE DE JESUS

         Diversas realidades humanas não são plenamente entendidas e para muitas delas não se tem uma resposta satisfatória vinda de nenhuma ciência. Uma das situações que a humanidade sempre experimentou é a condição do sofrimento para o qual todas as respostas são sempre insatisfatórias. A pandemia que assola o mundo nesses dias mostra como se somam forças, saberes, experiências e iniciativas buscando explicações e soluções que não se encontram plenamente em nenhuma parte.  A Humanidade inteira vive a experiência dos amigos de Jesus nos dias da sua morte. Todos se perguntando: porque isso nos acontece? A Palavra de Deus deste domingo facilita e convida a todos tomar consciência que esta pode ser mais uma oportunidade para a construção de uma sociedade nova e para relações mais fraternas.
Este é o convite da primeira leitura: “Os que haviam se convertido eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna na fração do pão e nas orações. E todos estavam cheios de temor”.
A mesma realidade pode ser percebida na carta de São Pedro cuja comunidade vivia numa situação de fragilidade social e econômica. Para estes o autor da carta afirma: embora seja necessário que agora fiqueis por algum tempo aflitos, por causa de várias provações. Deste modo, a vossa fé será provada como sendo verdadeira - mais preciosa que o ouro perecível, que é provado no fogo - e alcançará louvor, honra e glória. Sem ter visto o Senhor, vós o amais. Sem o ver ainda, nele acreditais. Isso será para vós fonte de alegria indizível e gloriosa, pois obtereis aquilo em que acreditais”.
E o evangelho confirma que reconhecer a ressurreição de Jesus estando em comunhão com a comunidade é a maneira mais extraordinária de superar toda desilusão, todo medo e todo fracasso: Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto. Como o Pai me enviou, também eu vos envio. Recebei o Espírito Santo”.
Em resumo, acreditar na pessoa e na ressurreição de Jesus é o fundamento e a certeza que será possível ter resposta para todas as angústias e perguntas da humanidade. Formar comunidade de pessoas que se ajudam e se solidarizam na hora da dor e do sofrimento é a melhor maneira de perceber a ação de Deus que transforma as duras realidades cotidianas.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

HOMILIA PARA O DIA 12 DE ABRIL DE 2020 - DOMINGO DE PÁSCOA


ESTE É O DIA QUE O SENHOR FEZ PARA NÓS

Quando a gente confia em alguém deposita nesta relação todas as esperanças e alimenta a convicção que jamais se ficará sem uma resposta. Os discípulos e amigos de Jesus não tinham entendido todos os anúncios que, ao longo da vida, Ele havia feito sobre o desfecho de sua vida e da sua missão.
Entre a sexta feira o primeiro dia da semana não poderia ser outra a reação deles senão de desânimo e frustração, entretanto guardavam no seu íntimo a convicção que Ele não lhes deixaria sem resposta. No amanhecer do terceiro dia encerrava a derradeira e inútil espera que tudo tivesse sido uma miragem.
Quando as mulheres encontram o sepulcro vazio não poderiam ter outra reação que não fosse dar ciência aos companheiros da fatalidade que acabavam de encontrar. Como se não bastasse que o tivessem feito morrer ainda roubaram o seu corpo.
A notícia provocou uma corrida, que pode ser entendida como a corrida da fé. Aquele que acredita verdadeiramente, ama sem restrição e acredita incondicionalmente mesmo não vendo sinais aparentes daquilo que guardava no seu coração.
A atitude do discípulo que Jesus amava serve de estímulo e coragem para todos os que creem no mundo novo como se canta neste tempo pascal: “Eu creio no mundo novo, pois Cristo Ressuscitou, eu vejo sua luz no povo, por isso alegre estou”.
Tempos novos e relações mais humanas poderão se solidificar depois desta experiência amarga que o mundo inteiro experimenta: sofrimentos de toda sorte, mortes prematuras, pessoas que doam a vida para salvar outras, soluções criativas de solidariedade e comunhão vão se multiplicando desde já indicando que a pedra da morte foi removida e que não se deve procurar entre os mortos aquele que da morte saiu vitorioso.
A páscoa nos convida a cantar: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos”.






HOMILIA PARA O DIA 11 DE ABRIL 2020 - SÁBADO SANTO


E TUDO O QUE FOI CRIADO POR DEUS É BOM
É consenso que a história das pessoas e do mundo é cíclica e que depois de tempos difíceis sempre se abrem novas janelas e oportunidades. É com este pensamento que os cristãos chegam ao sábado santo e celebram a vitória da vida sobre todas as forças da morte, contrariando as previsões mais pessimistas.
A comunhão de fé e de esperança que une os crentes na ressurreição de Jesus faz as comunidades inteiras exultar de alegria e recordar as maravilhas de Deus ao longo da história. Tal recordação fortalece as comunidades provadas por todas as formas de sofrimento e dor.
Num canto de exultação todos são convidados a rezar o salmo: A mão direita do Senhor fez maravilhas, a mão direita do Senhor me levantou, / a mão direita do Senhor fez maravilhas! / Não morrerei, mas, ao contrário, viverei / para cantar as grandes obras do Senhor”.
Este cântico certamente saiu dos lábios das Marias que foram de madrugada ao túmulo de Jesus e o encontraram vazio. As três mulheres se tornaram as primeiras missionárias da vida nova que foi garantida por Jesus.
Que as celebrações pascais realizadas em nossas igrejas por “sacerdotes exilados do seu povo” estimulem todos os cristãos a dar o melhor de si neste tempo de provação para chegar com plena alegria ao novo tempo que deverá ser construído depois desta dura provação. A páscoa é o anuncio da nova criação e nela começa o dia sem fim do Senhor.




HOMILIA PARA 0 DIA 10 DE ABRIL - SEXTA FEIRA SANTA 2020 -


FERIDO POR NOSSOS PECADOS
Algumas expressões do nosso vocabulário são ao mesmo tempo singelas e profundas.  Poucas palavras dizem mais do que belos discursos. Entre as frases corriqueiras se pode citar: “Fulano não tem boca pra nada...”; “Beltrano é um próximo...” “Cicrano não é capaz de fazer mal a uma formiga...” Todas elas refletem o espírito de passividade com que algumas pessoas reagem diante do sofrimento e das provocações que a vida lhes oferece.
Em outras palavras é assim que o profeta Isaias descreve um anônimo capaz de suportar todas as provações e sofrimentos: “Ei-lo, o meu Servo será bem sucedido; sua ascensão será ao mais alto grau. Assim como muitos ficaram pasmados ao vê-lo - tão desfigurado ele estava que não parecia ser um homem ou ter aspecto humano”. O profeta ainda usa outras palavras para reafirmar a mansidão deste servo: Maltratado, Atormentado, eliminado, golpeado. E depois de todas essas provações Isaias conclui: “Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas”.
Esta profecia se cumpre muito tempo depois na pessoa de Jesus quando diante de todas as acusações injustas ele se cala e deixa que seus algozes completem o que haviam planejado.
O que foi feito com Jesus é reconhecido muito mais tarde como ação de Deus para tornar melhor e mais pura a vida de todos como se lê na carta aos Hebreus: “Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu. Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem”.
Nesta sexta feira da paixão o mundo cristão faz memória deste extraordinário acontecimento e o faz sem esquecer ou deixar de lado a dor, a paixão e a morte de tantas pessoas que continuam sendo crucificadas por todas as formas de violência praticadas voluntariamente por seus semelhantes.
Neste tempo de reclusão social peçamos que o Senhor Jesus, por sua cruz, que a humanidade aprenda o que significa solidariedade e comunhão.



HOMILIA PARA O DIA 09 DE ABRIL DE 2020 - QUINTA FEIRA SANTA - ANO A


ESTE DIA SERÁ DE FESTA MEMORÁVEL
Celebrar acontecimentos que marcam a vida pessoal, familiar e comunitária tem se tornado cada vez mais um hábito muito difundido em todas as sociedades e culturas. Ao mesmo tempo em que estas ocasiões ganham a tonalidade de festa são oportunidades para cultivar valores, cultura, histórias e rever ensinamentos passados de geração em geração. Não são raras as ocasiões em que as festividades estão carregadas de nostalgia, haja vista as chamadas festas de família que se popularizaram nos últimos tempos. Nestas festas se encontram parentes próximos, distante e até não parentes, mas o importante é se encontrar e confraternizar.
Estes eventos trazem muito do que foi e significou para o povo judeu as festas da páscoa. Recuperadas ano após ano com toda a solenidade e com os detalhes previstos na lei a páscoa judaica se constitua numa recordação da ação de Deus em favor dos seus antepassados e como essa presença continuou na história deles.
O texto do livro do Êxodo proclamado na liturgia da quinta feira que antecede a páscoa cristã tem por objetivo recordar os detalhes da festa com um pedido que é foi levado a sério por toda a comunidade judaica: Este dia será para vós uma festa memorável em honra do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações, como instituição perpétua”.
Como reconhecimento da ação de Deus, os israelitas de outrora rezaram o salmo: Que poderei retribuir ao Senhor Deus por tudo aquilo que ele fez em meu favor? Por isso oferto um sacrifício de louvor, invocando o nome santo do Senhor. Vou cumprir minhas promessas ao Senhor na presença de seu povo reunido”.
Por sua vez, Jesus para dar cumprimento da lei também realiza a ceia da páscoa com seus discípulos. Se nos situamos nas formas de acolhida nas famílias contemporâneas será muito mais fácil entender o gesto de Jesus na última ceia.
Em todas as regiões catarinenses, mesmo nas situações em que a visita é agendada, aquele que acolhe prepara a casa e a mesa com iguarias a fim de agradar a visita tornando o encontro ainda mais significativo.
No caso dos judeus de outrora a maneira mais original de mostrar que a visita era bem vinda e que a família e a casa estavam à disposição o gesto característico era representado pelo lava-pés.
Jesus se apresenta como dono da festa e da casa e cumpre o ritual associando intimamente a páscoa judaica dos pães e do cordeiro ao serviço de acolhida.
Tal gesto continua sendo um convite desafiador para os seguidores do mestre até os nossos dias. Em resumo, celebrar a páscoa e a instituição da Eucaristia, implica em lavar os pés uns dos outros.
Esse gesto nesta quinta feira santa reforça o compromisso da campanha da fraternidade: “VIU, SENTIU COMPAIXÃO E CUIDOU DELE”. Não basta ser piedoso e adorar Jesus presente na Eucaristia. Fazer memória deste fato consiste em repetir o gesto que Ele mesmo fez: “Se eu o mestre e Senhor lavei os pés de vocês, a mesma coisa devem fazer”.
















ESTE DIA SERÁ DE FESTA MEMORÁVEL
Celebrar acontecimentos que marcam a vida pessoal, familiar e comunitária tem se tornado cada vez mais um hábito muito difundido em todas as sociedades e culturas. Ao mesmo tempo em que estas ocasiões ganham a tonalidade de festa são oportunidades para cultivar valores, cultura, histórias e rever ensinamentos passados de geração em geração. Não são raras as ocasiões em que as festividades estão carregadas de nostalgia, haja vista as chamadas festas de família que se popularizaram nos últimos tempos. Nestas festas se encontram parentes próximos, distante e até não parentes, mas o importante é se encontrar e confraternizar.
Jesus para dar cumprimento da lei também realiza a ceia da páscoa com seus discípulos. Se nos situamos nas formas de acolhida nas famílias contemporâneas será muito mais fácil entender o gesto de Jesus na última ceia.
Em todas as regiões catarinenses, mesmo nas situações em que a visita é agendada, aquele que acolhe prepara a casa e a mesa com iguarias a fim de agradar a visita tornando o encontro ainda mais significativo.
No caso dos judeus de outrora a maneira mais original de mostrar que a visita era bem vinda e que a família e a casa estavam à disposição o gesto característico era representado pelo lava-pés.
Jesus se apresenta como dono da festa e da casa e cumpre o ritual associando intimamente a páscoa judaica dos pães e do cordeiro ao serviço de acolhida.
Tal gesto continua sendo um convite desafiador para os seguidores do mestre até os nossos dias. Em resumo, celebrar a páscoa e a instituição da Eucaristia, implica em lavar os pés uns dos outros.
Esse gesto nesta quinta feira santa reforça o compromisso da campanha da fraternidade: “VIU, SENTIU COMPAIXÃO E CUIDOU DELE”. Não basta ser piedoso e adorar Jesus presente na Eucaristia. Fazer memória deste fato consiste em repetir o gesto que Ele mesmo fez: “Se eu o mestre e Senhor lavei os pés de vocês, a mesma coisa devem fazer”.


sexta-feira, 3 de abril de 2020

HOMILIA PARA O DIA 05 DE ABRIL DE 2020 - DOMINGO DE RAMOS - ANO A


O SENHOR É MEU AUXÍLIO

Estamos já acostumados percorrer os quarenta dias da quaresma como uma caminhada que tem por meta chegar à Pascoa. Todo processo tem sempre suas dificuldades e particularidades e neste ano as provações foram potencializadas com as medidas de isolamento social e as perspectivas de conviver com as ameaças da pandemia e as consequências da reclusão.
Para quem tem objetivos claros essa caminhada é desafiadora ao mesmo tempo em que estimulante no sentido de não se deixar abater pelas contrariedades próprias da situação. É neste contexto que se pode ler e rezar a Palavra de Deus proclamada na liturgia da Igreja.
Por conta das medidas que impedem a aglomeração de pessoas diversas iniciativas foram tomadas para celebrar o domingo de ramos. Cumprindo o que prevê a liturgia não serão realizadas procissões com a bênção dos ramos, mas no Brasil inteiro está sendo sugerido que as pessoas coloquem um ramo na porta de suas casas o qual será abençoado na intenção dos pastores de cada comunidade local.
Os ramos, uma vez abençoados são a lembrança da vitória de Jesus Cristo sobre todas as forças da morte e prova de que com Ele também nós sairemos vitoriosos depois de todas as provações.
Na primeira leitura, depois de descrever todas os sofrimentos a que está sujeito um servo anônimo, Isaias conclui com uma palavra de esperança: “Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado”. Em resumo o que o profeta deixa claro é que a confiança em Deus é capaz de superar todos as contrariedades e fazer vencedores aqueles que a Ele se confiam.
São Paulo não esconde sua admiração pela comunidade de Filipos, mas deixa claro que eles precisam adequar suas atitudes às de Jesus: “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome. Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua proclame: 'Jesus Cristo é o Senhor'”.
A longa narrativa da paixão, com detalhes que só Mateus descreve, tem por objetivo deixar claro que Jesus foi inocentemente condenado.  Proclamar este texto na mesma ocasião em que se celebra a entrada solene em Jerusalém é um convite para contemplar sua vida inteira feita serviço, doação e libertação para todos. A atitude de Jesus mostra como é possível superar todas as formas de egoísmo e de escravidão transformando a existência em amor que nada guarda para si, mas se faz dom total para os outros. Ainda que isso seja reconhecido somente depois de longo sofrimento: “Desde o meio-dia até às três horas da tarde, houve escuridão sobre toda a terra. E eis que a cortina do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes, a terra tremeu e as pedras se partiram. Os túmulos se abriram e muitos corpos dos santos falecidos ressuscitaram! Saindo dos túmulos, depois da ressurreição de Jesus, apareceram na Cidade Santa e foram vistos por muitas pessoas. O oficial e os soldados que estavam com ele guardando Jesus, ao notarem o terremoto e tudo que havia acontecido, ficaram com muito medo e disseram: 'Ele era mesmo Filho de Deus!”
As leituras da paixão que se leem durante a semana santa fazem reviver a escolha de Jesus ao assumir a condição humana, menos o pecado. E nesta situação repartir com a humanidade os sofrimentos até o final dos tempos dando sequência a uma história de amor que só terá fim na vitória final.
Que as orações, o Jejum, a esmola e a penitência da semana santa nos ajudem a fazer da nossa vida uma doação séria e comprometida com a vida e a saúde de todas as pessoas. Viu, sentiu compaixão e cuidou!


sábado, 28 de março de 2020

HOMILIA PARA O DIA 29 DE MARÇO DE 2020 - 5º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A


EU CREIO SENHOR QUE TU ÉS O DEUS VIVO

Este 5º domingo da quaresma, como de resto os outros dias desta semana se revestem de uma exclusividade jamais celebrada na história da humanidade. As imagens do Papa Francisco, solitária e solidária na Praça de São Pedro na última sexta feira fala por si mesmo e apontam para um novo tempo. A dissonância que toma conta da sociedade nas vozes das autoridades que agem nem sempre guiadas, colocando em primeiro lugar a dignidade da vida leva-nos crer que algo novo haverá de surgir. Ainda que seja uma decisão jurídica do Supremo Tribunal Federal é possível acreditar que a pedra que separa a vida da morte será removida.
A palavra de Deus prevista para a liturgia deste domingo parece ter sido escrita e escolhida pensando exatamente para o momento que estamos vivendo. O Profeta Ezequiel oferece ao povo uma palavra de conforto. O resto de Israel que vivia exilado, desesperado e sem futuro é convidado a se inserir na dinâmica da obediência a Deus e no amor às pessoas. A condição em que se encontram é comparada a de alguém que está no túmulo, mas Deus não os esquece e vai transformar essa sua condição de tristeza em esperança: Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel; e quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair delas, sabereis que eu sou o Senhor”.
São Paulo escrevendo aos romanos faz um convite para rodos os cristãos que não se deixem agir por exclusivos interesses materiais: “Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus. Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito”. Essa condição é um convite a coerência com as nossas escolhas. Diante dos desafios que o momento apresenta não se trata de escolher apenas atitudes que levem em conta um ou outro critério, mas a condição primeira e absoluta: embora vosso corpo esteja ferido de morte, o vosso espírito está cheio de vida, graças à justiça”. Fazer a escolha pela vida nunca será um caminho de destruição, pelo contrário, sempre indicará que as trevas que rodeiam o tempo presente serão dissipadas obviamente com a força e participação de todos.
O longo diálogo entre Jesus, seus discípulos, os parentes do morto e os amigos consoladores mostra que sua ação veio modificar todas as realidades humanas. Antes afirma que a doença não é para a morte e concluí sua participação exigindo que as pedras que separam a vida da morte sejam removidas não importando quanto tempo naquele lugar imperam as forças da morte. Quando lhe disseram que já havia quatro dias que Lázaro estava sepultado a resposta é inquestionável: “Tirai a pedra'! Marta, a irmã do morto, interveio: 'Senhor, já cheira mal. Está morto há quatro dias.' Jesus lhe respondeu: 'Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?' Tiraram então a pedra. E Jesus exclamou em voz forte: Lázaro vem para fora”. Aqueles que tinham ido visitar as irmãs reconheceram que só na sua Palavra estava a vida.
Também para nós, que estamos vendo ser colocadas pedras para dificultar a defesa da vida somos convidados a viver sem medo os sofrimentos do tempo presente confiantes nas palavras que rezamos no salmo:
 No Senhor ponho a minha esperança,
espero em sua palavra.
A minh'alma espera no Senhor
mais que o vigia pela aurora




quarta-feira, 11 de março de 2020

HOMILIA PARA O DIA 15 DE MARÇO DE 2020 - 3º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A


ENCONTROS QUE MARCAM
Não é novidade que nossa vida é feita de encontros e desencontros. É verdade também que muitos encontros, mesmo aqueles inusitados, sempre deixam marcas que algumas vezes são recordadas por toda a vida e modificam  a existência das pessoas envolvidas.
A Palavra de Deus do terceiro domingo da quaresma chama a nossa atenção para encontros que marcam. Na primeira leitura Deus promete e faz acontecer um encontro com Moisés no monte Horeb: “O Senhor disse a Moisés: 'Passa adiante do povo e leva contigo alguns anciãos de Israel. Toma a tua vara com que feriste o rio Nilo e vai. Eu estarei lá, diante de ti, sobre o rochedo, no monte”. O Resultado deste encontro foi a solução para a crise de água e de fé que os hebreus experimentavam na longa travessia do deserto como uma resposta dada por Deus naquela circunstância.
São Paulo garante aos Romanos que Deus é uma presença de esperança, mesmo quando as pessoas não correspondem: E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores”. A ação de Deus é sempre generosa e gratuita independente da condição em que se encontra a criatura.
No Evangelho Jesus se apresenta como o enviado de Deus cuja missão é garantir a felicidade e a condição de ser uma nova pessoa depois de aceitar a mediação dele. Quem acolhe o messias faz a experiência da vida plena e definitiva. O encontro de Jesus com a Samaritana foi transformador na medida em que levou a mulher a rever sua própria vida e testemunhar que havia reconhecido o messias aguardado por todos.
O texto deixa claro que foi transformador o encontro de Jesus com a samaritana junto ao poço de Jacó. O encontro pessoal com Jesus, o diálogo profundo com ele sobre a sede de Deus e de vida, simbolizado pela água, permitiu à samaritana rever a própria vida e testemunhar a novidade de uma Água que sacia a sede para sempre.
As benesses contemporâneas criaram grandes expectativas que, na realidade, estão ao alcance de poucos. O Evangelho é um convite para compreender que só o encontro vivo com Jesus vivo pode ser a resposta para todas as sedes do mundo que se concretizam em todas as necessidades humanas. Em resumo a única condição para saciar toda a sede e todas as necessidades é aceitar Jesus Cristo como o Messias de Deus Pai.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 26 DE FEVEREIRO DE 2020 - QUARTA FEIRA DE CINZAS - ANO A


O SENHOR PURIFICA OS CORAÇÕES ARREPENDIDOS

Ano após ano a Igreja repropõe o tempo da quaresma como oportunidade para fortalecer a conversão por meio da penitência.  Duas atitudes são recomendadas como auxílio para o tempo da quaresma: Jejum e abstinência. Claro que estas duas ações por si mesmas não significam muito para a mudança de vida que este tempo sugere. Neste sentido ganha importância a Campanha da Fraternidade que neste ano tem como lema: “viu, sentiu compaixão e cuidou...” A penitência sugerida ganha importância quando leva as pessoas a ter atitudes que mostrem sua conversão. Como se ouve na primeira leitura da quarta feira de cinzas: “Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração,
com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus”.
E não se trata de fazer qualquer atitude regada de publicidade para provar que se está fazendo mostrando sua capacidade e generosidade. Esta forma de fazer penitência também não é agradável a Deus e para nada serve: Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa”.
Jesus não faz uma advertência gratuita, Ele bem sabe que é próprio da natureza humana gostar de elogios e de glórias mundanas. A condição humana tem entre seus limites correr atrás da fama, da glória, dos elogios e assim por diante. Mas Jesus deixa bem claro que a conversão para Deus exige antes conversão para as pessoas. Esse é também o convite da Campanha da Fraternidade quando afirma que não basta ver o sofrimento que está perto de nós e que atinge a todos, ver e sentir compaixão exige a atitude do samaritano do Evangelho: Aproximar-se daqueles que sofrem e cuidar deles.
Em resumo o Jejum e a esmola são a repetição das palavras de São Paulo: Somos embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus”.
Se assim fizermos poderemos rezar com mais firmeza o salmo previsto para a quaresma:
Criai em mim um coração que seja puro,
dai-me de novo um espírito decidido.
Ó Senhor, não me afasteis de vossa face,
nem retireis de mim o vosso Santo Espírito!

Dai-me de novo a alegria de ser salvo
e confirmai-me com espírito generoso!
Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar,
e minha boca anunciará vosso louvor! 




sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 16 DE FEVEREIRO DE 2020 - 6º COMUM - ANO A


INTERPRETAR A LEI DO JEITO DE JESUS

Se tem uma situação que deixa qualquer pessoa séria indignada é o famoso “jeitinho brasileiro”. Por conta desta prática presenciamos as maiores aberrações em todas as esferas de poder, inclusive na própria Igreja. Quando se refere ao cumprimento da lei outra situação intolerável é o descaso com a coisa pública ou a outra face da moeda que se chama rigorismo da lei.
Pois é sobre a importância e necessidade da lei e da sua correta aplicação que Jesus fala no Evangelho deste domingo fazendo uma rede com as outras duas leituras.
Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento”. Jesus deixa muito claro que sua intenção é fazer uma releitura da lei em outro contexto de quando ela foi dada a Moisés. Em lugar do legalismo doentio ele propõe um compromisso com a vida e para isso será necessário respeito para com a dignidade de todos. A nova lei não prescreve que não se pode matar. Muito antes que isso será preciso romper com a escalada da violência, da discriminação, das ofensas, pois o que agrada a Deus e torna uma vida útil é o perdão a reconciliação.
Em lugar da prescrição legal: “Não cometerás adultério”. Jesus declara que todas as vezes que alguém olhar com cobiça para aquilo que não lhe é de direito já está cometendo pecado. Não se trata apenas do adultério que é o topo dos grandes pecados da carne, trata-se de não permitir que a vida de quem queira que seja se torne objeto de injustiças e de maldades. Em resumo a palavra que sai da boca de uma pessoa que se declara seguidor de Jesus Cristo deve ser digna de crédito. Os juramentos de nenhum tipo combinam com as relações de confiança. Em resumo, todos os problemas merecem ser contornados no diálogo fraterno e no perdão incondicional.
Esta condição de escolha já havia dito o autor do livro do eclesiástico: “Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal; Os olhos do Senhor estão voltados para os que o respeitam. Ele conhece todas as obras do homem. Não mandou a ninguém agir como ímpio e a ninguém deu licença de pecar”.
E São Paulo reafirma aos coríntios: “Como está escrito, 'o que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram nem os ouvidos ouviram nem coração algum jamais pressentiu”. Portanto que agir desse modo haverá de experimentar a verdadeira vida como se reza no salmo: “Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo! Feliz o homem que observa seus preceitos, e de todo o coração procura a Deus”.
A questão central abordada pela Palavra de Deus deste domingo está na liberdade humana que tem à sua frente diversos caminhos que lhe interpelam e desafiam. Agir com responsabilidade é um imperativo para a pessoa que não quer passar a vida inteira encolhendo os ombros e fazendo de conta que o problema não é seu. Cumprir um conjunto de regras e normas, de modo algum pode ser garantia de salvação, pelo contrário, muito mais do que uma vida legalista, ou uma vida do tipo “jeitinho brasileiro”, se espera de cada pessoa uma verdadeira adesão ao projeto de Deus revelado em Jesus.  Os mandamentos são regras que cumprimos por medo de castigos ou são indicações que fazem crescer nossa proximidade com Deus e com as outras pessoas. Que o Senhor ajude a todos a realizar em suas vidas o que rezamos no salmo:
Sede bom com vosso servo, e viverei,
e guardarei vossa palavra, ó Senhor.
Abri meus olhos, e então contemplarei
as maravilhas que encerra a vossa lei.