quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 26 DE FEVEREIRO DE 2023 - 1º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A

 

SENHOR, NÃO AFASTE DE NÓS A VOSSA FACE!

Caminhar juntos é o grande desafio que o Papa Francisco está nos propondo com a preparação do Sínodo sobre a sinodalidade, ou seja, sobre como aprender caminhar juntos. Caminhar juntos é a proposta penitencial da quaresma e o convite que a Igreja no Brasil nos faz para viver a Campanha da Fraternidade sendo solidários com todos os que dependem da nossa resposta para ter acesso ao pão de cada dia.

Que nesta quaresma, nos deixemos guiar pela Palavra de Deus, caminhando juntos vencendo as tentações da autopromoção e da indiferença em relação aos sofrimentos alheios.

O autor do livro do Gênesis, cuja primeira leitura foi proclamada hoje, não tem por objetivo principal contar como surgiu a pessoa humana, mas deixar claro que a vida em toda a sua plenitude tem origem em Deus. E que Deus criou a espécie humana para a vida plena e para a felicidade, por isso o colocou no jardim indicando-lhe a árvore da vida. Em contrapartida está a árvore do bem e do mal e que a escolha dessa segunda opção implica querer viver sem Deus, fechados em nossas próprias verdades e esquemas cultivando o orgulho e a prepotência. Quando a criatura humana escolhe a árvore da vida caminha com Deus e Deus com ele, quando escolher a árvore do bem e do mal se coloca um solitário na estrada da vida.

O mesmo jogo de palavras e de capacidade de escolhas São Paulo trabalha na segunda leitura. Enquanto que na primeira leitura as criaturas escolheram o pecado e a morte, e caminharam com Adão na estrada da morte, os seguidores de Jesus Cristo caminham juntos para a vida. O modelo centrado em Adão gera sofrimento e dor, o modelo centro em Jesus Cristo gera vida plena e definitiva: “Por um só homem, pela falta de um só homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça. Como a falta de um só acarretou condenação para todos os homens, assim o ato de justiça de um só trouxe, para todos os homens, a justificação que dá a vida”.

Enquanto Adão representa a pessoa que se põe no caminho por conta própria e longe de Deus, Jesus Cristo que ouviu e acatou a proposta do Pai é o modelo para todos os que querem caminhar juntos na estrada da vida!

A narrativa das tentações de Jesus não deixa margem para interpretar sua absoluta fidelidade ao Pai e sua coerência de Vida. Recusando todas as propostas do Diabo Jesus já antecipa o que o Papa o Francisco fala na atualidade: “Com o diabo não se conversa”

Jesus rechaça todas as investidas do tentador citando a Sagrada Escritura não aceita nenhuma vantagem pessoal porque essas não estão de acordo com a vontade do Pai e contradizem a missão que havia assumido. As tentações narradas no Evangelho desse domingo apenas antecipam a coragem de Jesus para não ceder todas as demais provocações que Ele receberá ao longo da vida e que o afastariam da vida em Deus.

Da fidelidade de Jesus vai nascer um povo novo livre do pecado, diferente daquele formado no exemplo de Adão. A questão central da Palavra de Deus nesse domingo consiste em perceber a diferença entre viver à margem das propostas de Deus e viver em comunhão com o Pai.

 Como Jesus, também nós, sobretudo nesse período da quaresma, somos convidados a não nos deixar levar pelos atalhos das falsas promessas e mantendo como escudo a Palavra de Deus, rezar com o salmista:

Criai em mim um coração que seja puro,*
dai-me de novo um espírito decidido.

Ó Senhor, não me afasteis de vossa face,*
nem retireis de mim o vosso Santo Espírito! 

 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 22 DE FEVEREIRO DE 2023 - QUARTA FEIRA DE CINZAS - ANO A

 

RASGAR OS CORAÇÕES E NÃO SOMENTE AS VESTES

Nos últimos tempos multiplicaram-se as “oficinas do corpo” cuja preocupação primeira é transformar as pessoas em padrões de beleza. Essas práticas incluem atividades físicas, dietas, cirurgias e uma série de outros padrões exibidos pelas mídias sociais. Apesar disso existe uma preocupação de saúde pública que é a obesidade e sedentarismo. Todas essas práticas não deixam de ter o seu valor e suas justas preocupações, mas elas perdem sua verdadeira importância à medida que são vistas apenas como satisfação pessoal e valorização dos próprios interesses e necessidades.

Muito anterior que tudo isso está a prescrição judaica do jejum e da abstinência, e que está longe de se assemelhar com os objetivos contemporâneos. Já o profeta Joel, cuja leitura ouvimos nesse domingo, amplia o sentido e a importância das práticas legais sugerindo ir muito além: “rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus. Tocai trombeta em Sião, prescrevei o jejum sagrado, convocai a assembleia; congregai o povo essa prática toca o coração de Deus que se compadece do seu povo”.

A mesma coisa diz São Paulo aos coríntios: “Irmãos, somos embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. Como colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus”.

E Jesus recorda aos seus conterrâneos o equívoco do exibicionismo, que de alguma maneira é o que norteia as práticas de “culto ao corpo” na atualidade: “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles”.

O desafio de Jesus consiste em evitar a autopropaganda de quem contra vantagens em relação às próprias obras. O que conta mesmo é a conversão a Deus e aos irmãos. Na quarta-feira de cinzas a Igreja no Brasil faz a abertura da Campanha da Fraternidade. A cada ano nos propõe uma situação bem particular e concreta para a qual pede a nossa conversão que se dá por meio das práticas do Jejum, da abstinência, da oração e de gestos concretos.

Nesse ano a preocupação com a fome das multidões faz ressoar em nossos ouvidos o desafio que Jesus propôs aos discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Isso significa nenhuma das nossas práticas de culto ao corpo, de abstinência e de jejum religioso tem nenhum sentido se realizados apenas quando olhamos para os nossos próprios interesses e nos fazendo indiferentes com o sofrimento alheio.

Nesta quaresma somos convidados a rezar com o salmista:

Misericórdia, ó Senhor, pois pecamos.

Criai em mim um coração que seja puro, *
dai-me de novo um espírito decidido.

Dai-me de novo a alegria de ser salvo *
e confirmai-me com espírito generoso!

 

Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar, *
e minha boca anunciará vosso louvor! 

 

 

 

 

 

HOMILIA PARA O DIA 19 DE FEVEREIRO DE 2023 - 7º DOMINGO COMUM - ANO A

 ALEGRAI-VOS E EXULTAI

Alguns provérbios populares são frequentemente repetidos e muitas vezes nem nos damos canta do alcance que eles podem ter à medida que colocados em prática. Por exemplo: “Violência gera Violência”, ou o contrário “Gentileza gera gentileza”. As instituições públicas e particulares, associações e grupos organizados repetidamente organizam campanhas pela paz em todos os níveis e ambientes. Nas Escolas públicas de Santa Catarina é obrigatório a organização do Núcleo de Prevenção, atenção e atendimento às violências na Escola.

Estas e outras iniciativas pela harmonização das relações entre as pessoas, nada tem a ver com a prática de alguma religião e na maior parte delas se quer tem alguma referência ou fundamento na Palavra Deus. Mas a liturgia da Palavra desse domingo, além de insistir nas relações de fraternidade entre as pessoas aponta essa prática como condição para a santidade, ou seja, a construção de um mundo novo e muito melhor começa pelas práticas cotidianas de bem querer e de respeito.

As três leituras deixam claro que Deus é misericordioso e não nos trata segundo nossos merecimentos, nem tampouco segundo nossas falhas, mas na proporção da sua infinita misericórdia. Para quem se declara cristão está aí uma resposta necessária que significa ter atitudes concretas em favor da paz e da comunhão com todos.

Usando o convite para a santidade a Palavra de Deus sugere que a perfeição é um caminho nunca acabado, mas que pede sempre e de novo compromisso sério e radicalidade generosa que se concretize numa sociedade onde todos vivam como irmãos.

O Papa Francisco quando fala da santidade afirma que existe um único caminho para a santidade e este implica na vivência das bem-aventuranças. No documento sobre a santidade no mundo contemporâneo o Papa declara textualmente que a santidade está ao alcance de todos os que vivem as suas obrigações com responsabilidade. O caminho da santidade diz Francisco exige ousadia e ardor o que em outras palavras significa dizer que neste caminho não tem espaço para a tristeza e o desânimo.

A primeira leitura começa com um desafio que sai da boca do próprio Deus: “Sejam santos porque eu, seu Deus sou santo”. E ser santo não significa andar de cabeça inclinada o tempo todo olhando para o céu esquecendo-se do amor e do compromisso com as pessoas com quem convivemos. A santidade passa pela construção de relações fraternas nas quais não tenha lugar a agressividade, a vingança, o rancor, pelo contrário, implica determinação na construção da felicidade ao alcance de todos. Em resumo santidade não é um projeto para se construir sozinho e na indiferença com os demais.

Na segunda leitura São Paulo sugere reconhecer que nada nesse mundo é maior do que Deus e o seu amor pela humanidade e se tem alguma atitude que deve nortear a nossa existência significa permitir que Deus faça morada em nós: “Acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós? Tudo é vosso, mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”. São Paulo não está negando os valores e a sabedoria humana, mas deixa claro que antes de tudo o que é humano está Deus e a sua sabedoria.

As leis têm por objetivo evitar que a violência se torne a medida de retribuição das ofensas e injúrias recebidas. Jesus, porém, vai muito além e não se dá por realizado com a estrita prática da lei. Ele propõe acabar com a espiral de violência. A proposta de Jesus implica numa revolução da mentalidade em vigor na sua época: “Vós ouvistes o que foi dito: 'Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!' Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis”?

Para os seguidores de outrora e para cada cristão da atualidade o desafio é o mesmo: Superar o restrito cumprimento da lei e multiplicar as oportunidades de comunhão que segundo o Papa Francisco implica viver: “O amor fraterno que multiplica a nossa capacidade de alegria porque nos torna capazes de rejubilar com o bem dos outros”.

É isso que rezamos no salmo:

O Senhor é indulgente, é favorável,*
é paciente, é bondoso e compassivo.

Não nos trata como exigem nossas faltas,*
nem nos pune em proporção às nossas culpas. 

quanto dista o nascente do poente,*
tanto afasta para longe nossos crimes.

Como um pai se compadece de seus filhos,*
o Senhor tem compaixão dos que o temem. 


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 12 DE FEVEREIRO DE 2023 - 6º DOMINGO COMUM - ANO A

 

AMAR AS PESSOAS E RESPEITÁ-LAS NA SUA INDIVIDUALIDADE

A expressão “telhado de vidro” é frequentemente usada para se referir aos próprios limites, defeitos e pecados. Toda pessoa de bom senso sabe que suas ações nem sempre são absolutamente corretas e que até involuntariamente comete pecados, equívocos e falhas das quais se envergonha.

Na época de Jesus a situação não era diferente, diversos grupos organizados tinham consciência da sua condição humana e das suas limitações e fragilidades. Mas, existia um grupo conhecido como “fariseus” que se consideram “a última bolacha do pacote”, isto é, levavam uma vida de mentira e hipocrisia, para estes Jesus chamou “sepulcros caiados”. Mesmo  sabendo das suas impurezas os fariseus ditavam regras, normas, preceitos sempre exigindo dos outros o que eles mesmo não cumpriam.

Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento”. Jesus deixa muito claro que sua intenção é fazer uma releitura da lei em outro contexto de quando ela foi dada a Moisés. Em lugar do legalismo doentio Ele propõe um compromisso com a vida e para isso será necessário respeito para com a dignidade e individualidade de todos. A nova lei não prescreve somente não matar, muito antes que isso será preciso romper com a escalada da violência, da discriminação, das ofensas, pois o que agrada a Deus e torna uma vida útil é o perdão a reconciliação.

Em lugar da prescrição legal: “Não cometer adultério”. Jesus declara que todas as vezes que alguém olhar com cobiça para aquilo que não lhe é de direito já está cometendo pecado. Não se trata apenas do adultério que é o topo dos grandes pecados da carne, trata-se de não permitir que a vida de quem quer que seja se torne objeto de injustiças e de maldades. Em resumo a palavra que sai da boca de uma pessoa que se declara seguidor de Jesus Cristo deve ser digna de crédito. Os juramentos de nenhum tipo combinam com as relações de confiança. Em resumo, todos os problemas merecem ser contornados no diálogo fraterno e no perdão incondicional.

Esta condição de escolha já havia dito o autor do livro do eclesiástico: “Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal, os olhos do Senhor estão voltados para os que o respeitam. Ele conhece todas as obras das pessoas. Não mandou a ninguém agir como ímpio e a ninguém deu licença de pecar”.

E São Paulo reafirma aos coríntios: “Como está escrito, 'o que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram nem os ouvidos ouviram nem coração algum jamais pressentiu”. Portanto quem agir desse modo haverá de experimentar a verdadeira vida como se reza no salmo: “Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo! Feliz o homem que observa seus preceitos, e de todo o coração procura a Deus”.

A questão central abordada pela Palavra de Deus deste domingo está na liberdade humana que tem à sua frente diversos caminhos que lhe interpelam e desafiam. Agir com responsabilidade é um imperativo para a pessoa que não quer passar a vida inteira encolhendo os ombros e fazendo de conta que o problema não é seu. Cumprir um conjunto de regras e normas, de modo algum pode ser garantia de salvação, pelo contrário, muito mais do que uma vida legalista, ou uma vida do tipo “atirar pedra no telhado alheio”, se espera de cada pessoa uma verdadeira adesão ao projeto de Deus revelado em Jesus.

O evangelho desse domingo é só mais uma oportunidade para Jesus deixar claro que não se trata de viver uma religião de fachada a verdadeira espiritualidade evita o combate a cultura do ódio os discursos ofensivos, os preconceitos. Ontem como hoje os mandamentos são indicações para nos fazer crescer na proximidade com Deus.

Rezemos com o salmista pedindo a graça de sintonizar nossa vida com o evangelho:


Ensinai-me a viver vossos preceitos;*
quero guardá-los fielmente até o fim!

dai-me o saber, e cumprirei a vossa lei,*
e de todo o coração a guardarei.


 

sábado, 4 de fevereiro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 05 DE FEVEREIRO DE 2023 - 5º DOMINGO COMUM - ANO A

 

FELIZ QUEM É CARIDOSO E PRESTATIVO

Há pouco mais de duas dezenas de anos se multiplicaram nas gôndolas dos supermercados a variedade e composição para enriquecer a aparência do sal, mas no final das contas o que conta mesmo é que o sal, por si mesmo, é o elemento mais importante para dar sabor e para conservar os alimentos.

Na mesma proporção se multiplicaram as luminárias e os elementos que compõe as lâmpadas para distintos ambientes. Recentemente nota-se grande investimento nas chamadas energias limpas. Também, como o sal, o que conta é que a lâmpada clareie. A luz só faz sentido quando ilumina!

O Evangelho deste domingo usa as comparações da luz e do sal e está na sequência das Bem-aventuranças, isso significa que a felicidade consiste em não viver somente para si e em função de si. A felicidade consiste em ser Sal e Luz, ou seja, dando sabor e colaborando para que as pessoas caminhem seguros por estradas de fraternidade, de comunhão, de construção da paz,

O desafio de ser sal e luz é uma proposta que Jesus fez aos seguidores de outrora e que continua sendo colocada para cada um de nós. Se somos de fato cristãos não temos o direito de nos acomodar na indiferença e na facilidade do cotidiano, nem tampouco nas práticas de piedade que não se comprometem com o mundo e com as relações de fraternidade.

Ser sal e luz implica compreender o pedido do Papa na Carta Fratelli Tutti: não se fazer de descomprometido diante da dor e das feridas do cotidiano. Afinal somos todos irmãos e, portanto, responsáveis para garantir a conservação e o cuidado da vida em todas as suas formas e em todos os tempos de modo que todos vivam em segurança e bem guiados todos os dias.

E como fazer isso se não com gestos concretos como nos pede o profeta na primeira leitura: “Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá”.

E para fazer essas atitudes não são necessárias a eloquência e a presença dos holofotes São Paulo deu aos coríntios uma lição que serve para todos: “Irmãos, quando fui à vossa cidade anunciar-vos o mistério de Deus, não recorri a uma linguagem elevada ou ao prestígio da sabedoria humana. Pois, entre vós, não julguei saber coisa alguma, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado”.

A verdadeira religião, a que se faz sal e luz não é uma religião de ritos e práticas vazias de compromisso, antes é uma religião que ilumina para uma nova terra mais cheia de paz, de esperança e de solidariedade.

Deixemo-nos conduzir pela oração do salmista:

Uma luz brilha nas trevas para o justo,
 permanece para sempre o bem que fez.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 29 DE JANIEIRO DE 2023 - 4º DOMINGO COMUM - ANO A

 FELIZ QUEM PAUTA SUA VIDA EM DEUS!

Nos recentes lançamentos musicais e que alcançou mais de um milhão e curtidas nas redes sociais está uma canção intitulada: “Felicidade Digital” cuja letra diz mais ou menos assim: “Você tá postando, saindo, bebendo, Você tenta esconder que tá mal com essa felicidade digital, se o seu coração fosse um celular, tava trincado a tela”.

Esta é apenas uma das manifestações contemporâneas que buscam responder o que seja a felicidade. Na contramão das respostas dadas sem lastro de sustentação para se tornar duradoura, a Palavra de Deus desse domingo aponta o caminho e a condição para se conquistar a verdadeira felicidade, de um modo que ela seja duradoura e sustentável.

O profeta Sofonias faz uma denúncia em relação a tudo o que se sustenta na autossuficiência e deixa claro que Deus não faz pacto com o pecado. Vai chegar o dia em que a justiça divina triunfará e se manterão no caminho da felicidade aqueles que estiverem dispostos a um processo contínuo de conversão:  “Buscai o Senhor, humildes da terra, que pondes em prática seus preceitos; praticai a justiça, procurai a humildade; eles não cometerão iniquidades nem falarão mentiras; não se encontrará em sua boca uma língua enganadora; serão apascentados e repousarão”.

Sofonias tem por objetivo provocar nos seus conterrâneos um processo de conversão e obviamente que esse caminho pede despojar-se de toda prepotência, arrogância, riqueza, e toda forma de querer moldar o mundo com essa lógica.

Na mesma direção São Paulo escreve aos coríntios fazendo uma denúncia de quem coloca sua segurança e esperança nas forças humanas. Pelo contrário a felicidade não se encontra na sabedoria e nas capacidades humanas, mas na adesão a Jesus Cristo e a sua Palavra: Considerai vós mesmos, irmãos, como fostes chamados por Deus. Pois entre vós não há muitos sábios de sabedoria humana nem muitos poderosos nem muitos nobres. Na verdade, Deus escolheu o que o mundo considera como estúpido, o que o mundo considera como fraco, para assim confundir os sábios; o que para o mundo é sem importância e desprezado, o que não tem nenhuma serventia, para confundir os sábios, os fortes, os que se consideram importantes. Mas vocês que estão em Cristo, saibam que Ele se tornou sabedoria, justiça, santificação e libertação, quem se gloria, glorie-se no Senhor".

Como os coríntios de outrora também nós somos convidados a não colocar nossas esperanças nas pessoas e nas coisas passageiras deste mundo.

O Papa Francisco chama as Bem-aventuranças de “Caminho da Santidade”, a prática das virtudes descritas no Evangelho significa ver e viver no mundo com a lógica do Reino de Deus que já se iniciou com a vinda de Jesus ao mundo. A maneira para alcançar a felicidade do Reino mesmo pertencendo a este mundo, consiste em viver construindo relações de fraternidade, solidariedade, inclusão e comunhão. Viver as bem-aventuranças significa construir pontes que ligam e que somam.

Aqueles que a lógica do mundo exclui, discrimina e recrimina são acolhidos pela prática dos conselhos que Jesus recorda no Evangelho desse domingo. Diferente da lógica do mundo que mostra a fragilidade de uma “felicidade digital” a vivência do Evangelho nos oferece a alegria duradoura que vem de Deus!

O Evangelho é uma saudação exultante daqueles que se entregam nas mãos de Deus e procuram fazer sempre a sua vontade. Ao contrário dos que colocam suas esperanças nas coisas efêmeras, no poder e na lógica desse mundo os verdadeiramente felizes renunciam ao egoísmo e se abrem a Deus e às pessoas.

Em resumo a felicidade verdadeira consiste em viver a misericórdia e a pureza de coração e se empenhar na construção da paz.

É isso que nós rezamos no salmo:


Felizes os pobres em espírito,
 porque deles é o Reino dos Céus.

O Senhor é fiel para sempre,*
faz justiça aos que são oprimidos;
ele dá alimento aos famintos,*
é o Senhor quem liberta os cativos. 

 

O Senhor abre os olhos aos cegos*
o Senhor faz erguer-se o caído;
o Senhor ama aquele que é justo*

É o Senhor quem protege o estrangeiro.

 

Ele ampara a viúva e o órfão*
mas, confunde os caminhos dos maus.

O Senhor reinará para sempre! 
A Sião, o teu Deus reinará*
para sempre e por todos os séculos! 


quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 22 DE JANEIRO DE 2023 - 3º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A

 O SENHOR É NOSSA LUZ E SALVAÇÃO

Nas orientações que os pais dão para os filhos, em algumas correntes da pedagogia escolar fica bastante claro o jogo de palavras entre o que é certo e errado, o que é importante e supérfluo e assim por diante. Pois nas três leituras deste domingo fica evidente esse jogo do contraditório entre uma situação de outra.

Na primeira leitura o profeta Isaias apresenta uma situação difícil e de sofrimento e que será substituída por outra muito melhor: “No tempo passado o Senhor humilhou a terra de Zabulon e a terra de Neftali; mas recentemente cobriu de glória o caminho do mar. O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu. Pois o jugo que oprimia o povo, - a carga sobre os ombros, o orgulho dos fiscais tu os abateste como na jornada de Madiã”.

Em outras palavras, a luz de Deus que haverá de brilhar para todos os povos vai colocar um fim às trevas e a todos os sinais de sofrimento, de dor e de morte!

Muito mais tarde as pessoas entenderam que a Luz da qual falava Isaias é a própria pessoa de Jesus que traz a mensagem e a proposta de Deus Pai extensiva a todos os povos!

Na carta aos Coríntios, Paulo mostra o seu desconforto com uma comunidade que esqueceu Jesus e a sua proposta. Ele então recomenda que todos redescubram os fundamentos da fé: Irmãos, eu vos exorto, pelo nome do Senhor nosso, Jesus Cristo, a que sejais todos concordes uns com os outros e não admitais divisões entre vós. Pelo contrário, sede bem unidos e concordes no pensar e no falar”.

Na comunidade de Corinto se tinham criado grupos por afinidades a este ou aquele pregador e em vez de simpatizar com os ensinamentos de Cristo a comunidade estava dando mais importância aos pregadores correndo o risco de se assemelhar aos grandes mestres pagãos. Paulo deixa claro que o cristianismo não é uma filosofia de vida ou um grupo de admiradores de um mestre qualquer. O que é importante e sempre necessário será redescobrir Cristo e sua doutrina!

No Evangelho, Mateus faz a mesma coisa que Paulo, isso é, deixa muito claro a importância da pregação em vista do Reino, e para isso apresenta o convite que Jesus faz aos primeiros discípulos.

Jesus é a verdadeira luz que está brilhando na escuridão das noites que se estendiam por longos anos. Fazendo-se a luz de todos Jesus aponta para a única coisa importante: Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo".

A maneira como Jesus apresenta a chegada de Deus como resposta aos sinais de escuridão e de sofrimento podem ser reconhecidos pela prática de Jesus cujo anuncio da justiça, da misericórdia, da preocupação com os pobres, pela fecundidade e abundância. Finalmente e não por último pela paz sem fim!

Os quatro primeiros discípulos servem de modelo para cada cristão contemporâneo. Ouvindo o convite de Jesus eles aceitam imediatamente e não impõe condições para isso: “Eles, imediatamente deixaram as redes e o seguiram”.

Ontem como hoje Deus vem ao nosso encontro para nos ajudar a perceber as dificuldades que a vida carrega, ao mesmo tempo nos convida a compreender como os primeiros discípulos tiveram clareza de quem vinha o convite e em que consistia o chamado! Diante disso não tiveram dificuldade para responder e na sequência seguir a Cristo comprometendo-se com a construção do Reino!

Como os discípulos de outrora não tenhamos medo:

O Senhor é minha luz e salvação.
 O Senhor é a proteção da minha vida”.


terça-feira, 13 de dezembro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 15 DE JANEIRO DE 2023 - 2º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A

 

ESSE É MEU FILHO AMADO!

Não são necessárias muitas explicações para justificar o interesse que os pais manifestam para fazer com que os filhos se pareçam com eles. Recomendações de toda ordem não faltam no sentido de estimular os filhos a se fazer reconhecer como descendentes dos bons costumes e da boa fama que gozam os genitores. Isso vale também para as instituições que fazem questão de imprimir nos seus admiradores e adeptos atitudes que permitam identificar a passagem de uma pessoa por essa ou aquela instituição, empresa e até partido político.

A Palavra de Deus prevista para esse domingo também traz como pano de fundo a confirmação da filiação divina de Jesus e a missão que o Pai lhe confiou. Essa condição aparece interpretada desde as profecias antigas, que na primeira leitura de hoje apresenta a figura de um servo: “E agora diz-me o Senhor - ele que me preparou desde o nascimento para ser seu Servo - que eu recupere Jacó para ele e faça Israel unir-se a ele; aos olhos do Senhor esta é a minha glória”. E ainda completa com uma missão bem específica: “Não basta seres meu Servo, eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até aos confins da terra". As palavras deixam absolutamente claro que este servo se identifica com aquele que lhe enviou sendo um instrumento para fazer acontecer a sua vontade e missão.

Desde muito cedo os cristãos entenderam que o Servo de quem falava Isaias era o próprio Jesus nascido em Belém e descendente de Davi. Assim Paulo na carta que ouvimos deixa claro que Jesus é o enviado do Pai, que nele é possível reconhecer aquele que o enviou com todas as suas qualidades e responsabilidades: “Paulo, chamado a ser apóstolo de Jesus Cristo, por vontade de Deus, aos que foram chamados a ser santos junto com todos que, em qualquer lugar, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso. Para vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai”. Tal como Paulo nós somos chamados a dar o mesmo testemunho de Jesus fazendo reconhecer que Ele é o próprio Deus que se entrega para a salvação de todos.

No Evangelho, João confirma aquilo que todos queriam ouvir: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Dele é que eu disse: Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque existia antes de mim”. O discurso de João continua reafirmando a sua convicção sobre a pessoa de Jesus que se fez obediente e igual ao Pai, e que nesta condição assumiu as responsabilidades que lhe foram confiadas sendo capaz de caminhar lado a lado com as pessoas experimentando suas fragilidades, dificuldades e provações, cumpriu tudo o que lei previa e assim garantiu que todas as criaturas fossem reconciliadas com o criador.

Concluindo a sua fala sobre a pessoa de Jesus, João se serve de um recurso de linguagem muito usado pelos sábios da época: “Também eu não o conhecia, mas aquele que me enviou a batizar com água me disse: 'Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer, este é quem batiza com o Espírito Santo'. Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus".

A missão desse enviado não acontecerá com prepotência e triunfalismo, antes, porém na completa obediência ao Pai, tal como um servo já descrito pelo profeta Ele vai realizar tudo o que precisa ser feito na suavidade e na simplicidade como rezamos no salmo:

Eu disse: Eis que venho, Senhor,
com prazer faço a vossa vontade!

 

HOMILIA PARA O DIA 08 DE JANEIRO DE 2023 - EPIFANIA DO SENHOR - ANO A

 

TODOS OS POVOS CAMINHAM NA LUZ DO SENHOR!

Dentre os investimentos que cresceram nos últimos tempos no período do Natal está a iluminação. Em todas as cidades são significativos os recursos aplicados junto com outros atrativos e entretenimentos. De novo pode-se comparar a festa pagã de outrora que se diviniza com a celebração do nascimento de Jesus. A decoração natalina e os festejos de final de ano se encerram nesse domingo também conhecido como “dia dos Santos Reis Magos”.

Na liturgia da Igreja o primeiro domingo depois do ano novo se chama “Epifania do Senhor” cujo significado é manifestação pública da pessoa de Jesus. Ou seja, o Filho de Deus é a verdadeira luz que deveria vir ao mundo, nas luzes que se acendem por todos os lugares e se apagam depois que termina o período natalino deveríamos reconhecer a Luz que nunca se apaga e que não se restringe a um espaço geográfico, tempo ou determinada cidade.

Na primeira leitura o profeta faz um convite para o povo sonhar com um futuro extraordinário: “Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor”. O sonho do profeta é o sonho de todos serem guiados pela luz verdadeira que irá conduzir o povo na construção da nova cidade que atrairá os olhares de tantos quantos esperam a salvação definitiva.

Por sua vez, São Paulo recorda aos Efésios que em Jesus Cristo a salvação de Deus não se restringe a um pequeno grupo de pessoas nem tampouco a uma determinada região: “Este mistério, Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas mas acaba de o revelar agora, pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas: os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho”.

Aquilo que as gerações passadas aguardavam acontecer, Paulo confirma ter sido realizado na pessoa de Jesus Cristo, salvação definitiva para todos.

Os três reis magos são muito mais do que chefes de três povos, eles representam o desejo e a disposição da humanidade inteira de encontrar o Senhor e se deixar guiar por sua Luz.  Com a mesma esperança alimentada por muitas gerações os magos caminham na confiança e reconhecem no menino de Belém o dom de Deus sendo acolhido por todos os povos.

Notemos que Mateus deixa claro que Jesus nasceu em Belém e isso para garantir sua unidade com Davi o grande rei de Israel. Ora, se descendente de Davi não haveria motivos para ser rejeitado ou não reconhecido: Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: "Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo".

Os magos são a representação das caravanas estrangeiras das quais falava o profeta Isaias. Em resumo o menino que todos podem ver é a verdadeira luz que nunca se apaga.

Também para nós é importante reconhecer na pessoa de Jesus, cujo natal celebramos, a luz verdadeira que veio para iluminar toda a escuridão e todas as trevas sinais do pecado e da morte.

Todos celebramos de diferentes maneiras o natal do Senhor, agora é importante que nos perguntemos sobre nossa disposição de seguir os passos dos reis magos: “os magos sentiram uma alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho”.

Deixemos a Palavra transformar nosso coração, a Eucaristia alimentar nossas ações e a oração de todos fortalecer nossos passos.



segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 01DE JANEIRO DE 2023 - SANTA MARIA MÃE DE DEUS - DIA MUNDIAL DA PAZ - ANO A

 

SANTA MÃE DE DEUS, ROGAI POR NÓS!

São inúmeras as motivações que levam os cristãos a se reunir na noite do último dia do ano e no primeiro dia do novo ano. A liturgia da Igreja nos coloca diante da figura de Maria Mãe de Deus e nos propõe celebrar o Dia mundial da Paz. Com essas duas intenções todos nos colocamos como meta e desafio caminhar juntos na perspectiva de novos tempos, para isso colocamos a nossa vida e tudo o que amamos nas mãos de Deus pedindo a sua bênção e proteção para todos os sonhos e projetos.

Tal como o povo de Israel também nós estamos confiantes que Deus caminhará ao nosso lado como tem feito em todos os tempos. Ao concluir, com uma ação de graças, o ano de 2022 dizemos todos: “Até aqui nos trouxe Deus”! E com o autor da primeira leitura repetimos três vezes o nome de Deus confiados na tríplice bênção que dele recebemos: “O Senhor te abençoe e te guarde! 'O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti!

O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz”! Nenhuma realidade humana fica descoberta ou desprotegida da bênção de Deus! Obviamente que isso supõe também uma resposta da nossa parte para que a Bênção de Deus realize tudo aquilo que ela significa.

Na carta aos Gálatas Paulo volta a recordar a estreita relação que tem a filiação de Jesus com a nossa condição de privilegiados filhos, livres e amados e por isso podemos como Jesus chamar a Deus de Abbá, que significa “paizinho”. Cristo veio para libertar a humanidade de todas as formas de escravidão e de medo: “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho para que todos recebêssemos a filiação adotiva. E porque sois filhos, Assim já não és mais escravo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro: tudo isso, por graça de Deus”.

Esse Jesus que nos devolveu a condição de nação livre se deu a conhecer primeiro aos sofridos e excluídos pastores de Israel, os quais apenas ouviram o anúncio do Anjo foram apressadamente ao encontro daquele cujo anuncio consistia em garantir uma condição totalmente nova.

Os pastores não tiveram dificuldade de reconhecer no menino de Belém o esperado messias e imediatamente voltaram louvando e glorificando a Deus por lhes ter dado a oportunidade de experimentar o encontro com Deus libertador.

Outra atitude extraordinária narrada no Evangelho é o comportamento da Mãe do menino: “Quanto a Maria, guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração”. Sem compreender o significado de tudo o que estava acontecendo Maria permaneceu observando e meditando os sinais que Deus realizada na história.

O comportamento de Maria e dos pastores pode ser chamado de atitude missionária que também cada um de nós é convidado a cultivar todos os dias do novo ano, de maneira discreta, mas atuante e transformadora somos convidados a agir como os pastores: “Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido”. Façamos isso cantando com o Salmista:

Que Deus nos dê a sua graça e sua bênção.

Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor, *
que todas as nações vos glorifiquem!

Que o Senhor e nosso Deus nos abençoe, *
e o respeitem os confins de toda a terra! 

 

 

 

HOMILIA PARA O DIA 25 DE DEZEMBRO DE 2022 - MISSA DO DIA DE NATAL - ANO A

 

O SENHOR FEZ CONHECER A SALVAÇÃO

O pênalti na trave chutado pelo Marquinhos foi só o derradeiro momento de 120 minutos de muita tensão e expectativa e que enterrou mais uma vez o sonho do hexa. O Brasil inteiro estava parado naquela trágica sexta-feira esperando a vitória que nos aproximaria do sonho que vem se repetindo há vinte anos. Ora, guardadas as proporções, o povo de Israel, alimentou durante centenas de anos a expectativa da vinda do Messias, daquele que iria restaurar a grandeza do reinado de Davi. É nessa perspectiva que podemos ler e interpretar a Palavra de Deus proclamada na liturgia que estamos celebrando.

Isaias anuncia a presença de uma figura extraordinária: “Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação, e diz a Sião: "Reina teu Deus!" A mensagem do profeta é um convite para substituir a frustração e a tristeza pela alegria, o desencanto pela esperança.

Em poucas palavras o convite do Profeta é um canto de alegria e de festa, apesar de todas as dificuldades as promessas de Deus vão se tornar realidade em favor do seu povo.

A segunda leitura é uma carta dirigida para uma comunidade em situação muito difícil e que por causa das perseguições, sofrimentos e derrotas facilmente se deixava vencer pelo medo e pela desolação. O autor apresenta a extraordinária dimensão do plano salvador que Deus tem para a humanidade, com isso ele quer estimular os cristãos a não perderem o fervor inicial: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho”.

Jesus é a mais extraordinária manifestação de Deus em favor do seu povo: “Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele sustenta o universo com o poder de sua palavra. Tendo feito a purificação dos pecados, ele sentou-se à direita da majestade divina, nas alturas”.

No Evangelho João reafirma a existência do Filho antes de tudo e de todas as coisas. Usa a expressão “verbo de Deus” para deixar claro que o Filho sempre existiu e que agora assume a condição humana para eliminar do convívio humano tudo o que dificulta e impede que as relações entre as pessoas sejam plenas de vida e de luz. A encarnação da Palavra cumprirá sua missão quando todas as criaturas alcançarem a condição de filhos e filhas amados de Deus, ou como diz São Paulo em outra ocasião: “Até que Cristo se forme em todos”. De forma poética o evangelista descreve a ação de Deus no mundo: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. No princípio estava ela com Deus. Tudo foi feito por ela e sem ela nada se fez de tudo que foi feito. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la”.

Acolher a Palavra que se fez gente é a condição para participar na vida de Deus, ou seja estabelece uma nova relação entre o mundo terreno e o mundo divino. Em Jesus Cristo a humanidade já não vive mais a experiência de uma derrota depois de uma difícil partida e um pênalti perdido.

A palavra que se fez gente permite que todos nos tornemos filhos no Filho e oferece para todos a possibilidade de ser uma criatura nova, acabada e perfeita.

Essa certeza nos faz cantar com o salmista:

Os confins do universo contemplaram
a salvação do nosso Deus.

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 25 DE DEZEMBRO DE 2022 - MISSA DA NOITE - ANO A

                                   UM FILHO NOS FOI DADO 


Não há diferença de idade. Todos em todas as circunstâncias da vida gostamos de nos sentir amparados, cuidados, protegidos. Quando alguém se aproxima, sobretudo, nas nossas fragilidades nos sentimos seguros e mais facilmente caminhamos para a realização de projetos e sonhos. Não é à toa que o Papa Francisco está convocando a Igreja inteira para vivenciar o Sínodo sobre a importância da sinodalidade, ou seja, sobre a necessidade de aprender caminhar juntos. Amparar, cuidar, proteger, ser solidário, corresponsável e assim por diante.

A Palavra de Deus na noite do Natal nos coloca nesta situação. Um filho nos foi dado, Ele veio para caminhar com a humanidade ferida e perdida. Na pessoa de Jesus Deus não nos deixa caminhar sozinhos pelos tortuosos e difíceis caminhos contemporâneos.

Na mesma condição do povo de Israel o profeta vivia desiludido com seus governantes e com a política de outrora. Nesse contexto Isaias sonha com um tempo novo: “O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu. Fizeste crescer a alegria, e aumentaste a felicidade”.

As razões para essa euforia estão expressas nas palavras do profeta: “Porque nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho; ele traz aos ombros a marca da realeza; o nome que lhe foi dado é: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz. Grande será o seu reino e a paz não há de ter fim”.

A carta de Tito que lemos hoje foi escrita num tempo de dificuldade em que os cristãos tinham perdido o entusiasmo inicial surgido com o anúncio da boa nova de Jesus Cristo. Nesse contexto o autor apresenta uma lista de conselhos para ajuda-los vivenciar a fé naquela situação conturbada e desafiadora: “A graça de Deus se manifestou trazendo a salvação para todos os homens. Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade aguardando a feliz esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo”. Para que isso seja experimentado o autor apresenta três razões: O amor de Deus foi oferecido gratuitamente; a esperança ajuda perceber que a vida presente é apenas a antecipação da vida definitiva; a obra redentora tem sem culminância na pessoa de Jesus.

Lucas é o evangelista que mais se preocupa em situar os acontecimentos nos lugares e tempos. O objetivo do autor é deixar claro que a ação de Deus se realiza numa época e num espaço perfeitamente integrado na vida e na história das pessoas.

No texto de hoje o autor quer deixar claro que o nascimento de Jesus é a realização da promessa feita por Isaias: O anjo, porém, disse aos pastores: Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura".

Apresentado primeiramente aos pastores e na fragilidade de uma criança fica claro que a proposta de Deus não se impõe pela força, mas pela ternura. Deus não se impõe pelas armas, pelo poder, pelo dinheiro, pela ajuda de uma grande agência publicitária. Ontem como hoje a lógica de Deus continua sendo a mesma. No menino de Belém somos convidados a contemplar o amor de Deus que se preocupa com a felicidade e a vida de todos.

Para celebrar dignamente o Natal é importante que nos perguntemos em que medida nossa vida é uma resposta coerente e autêntica que corresponda aos valores do Reino que Jesus veio inaugurar. Cristo é a referência da nossa vida? O seu jeito de viver e sua entrega para a salvação da humanidade é assumido por nós em nossas relações cotidianas?

Não tenhamos medo de cantar com o salmista

Hoje nasceu para nós

o Salvador, que é Cristo o Senhor.

O céu se rejubile e exulte a terra, *
aplauda o mar com o que vive em suas águas;

os campos com seus frutos rejubilem *
e exultem as florestas e as matas