sábado, 9 de março de 2019

HOMILIA PARA O DIA 10 DE MARÇO DE 2019 - 1º DOMINGO DA QUARESMA - ANO C


DAI-NOS O PÃO DE CADA DIA E NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO

A quaresma como a própria palavra significa tem a ver com repensar as ações cotidianas dar-se conta das fraquezas e limitações que se está sujeito e retomar a vida respondendo de modo adequado às fraquezas que ameaçam as relações de fraternidade e de comunhão. A palavra de São Paulo aos Romanos é uma exortação que se presta para todos na atualidade: “Acolham-se uns aos outros como Cristo acolheu vocês para a glória de Deus”.
No dia a dia da vida não faltam oportunidades para se deixar levar pelas tentações. O orgulho, a autossuficiência, a prepotência são situações rotineiras que fazem as pessoas se fechar em si mesmas julgando-se melhor que os demais e considerando aqueles como desnecessários para a construção da comunhão e da fraternidade.
A primeira leitura é uma seleção de discursos proferidos por Moisés enquanto os Israelitas se organizavam para entrar na terra prometida. A síntese das palavras de Moisés por de ser entendida como um convite a renovar e fidelidade da aliança da comunidade com seu Deus e, portanto, a eliminar os falsos deuses: “Invocamos o Senhor Deus dos nossos pais e o Senhor ouviu a nossa voz, viu a nossa miséria, o nosso sofrimento e a opressão que nos dominava. O Senhor fez-nos sair do Egito com mão poderosa e braço estendido, espalhando um grande terror e realizando sinais e prodígios. Conduziu-nos a este lugar e deu-nos esta terra, uma terra onde corre leite e mel.
Tais exortações podem ser aplicadas para a sociedade contemporânea sempre convidada a deixar os caminhos da desumanidade, do egoísmo, do orgulho que em lugar da comunhão facilita a morte e a exclusão.
Paulo, na carta aos Romanos deixa mais do que claro que suas palavras são uma atualização dos discursos de Moisés: “A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração. Esta é a palavra da fé que nós pregamos. Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor e se acreditares no teu coração que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo. Pois com o coração se acredita para obter a justiça e com a boca se professa a fé para alcançar a salvação. Na verdade, a Escritura diz: Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido”.
O interesse de Paulo é provocar nos cristãos originários de diversas tradições a compreensão de que a única garantia capaz de promover o crescimento da comunidade é agir do jeito de Jesus: “Acolham-se uns aos outros como Cristo acolheu vocês para a glória de Deus”.
A longa e bonita disputa entre as tentações e a graça na vida de Jesus podem ser igualmente uma regra de vida para a atualidade. Aceitar o caminho de obediência ao Pai e de serviço à vida ou enveredar pelo messianismo e pela busca desenfreada de poder e gloria. Frente a frente estão a lógica de Deus e a lógica humana. Olhar apenas para suas vantagens e interesses pessoais ou empenhar-se na construção de caminhos mais fraternos e solidários.
As tentações de Jesus são o contraponto para a sociedade do consumo e do individualismo que também a Campanha da Fraternidade sugere nesta quaresma. Fraternidade e políticas públicas é um desafio a pensar coletivamente nos problemas que dizem respeito a todos e que merecem ser tratados como questão de justiça e de direito que irá garantir a libertação das tentações que buscam soluções para os problemas pessoais e individuais.
Que a penitência desta quaresma ensine de novo o caminho da fraternidade solidária em favor da vida plena com dignidade para todos.




sábado, 2 de março de 2019

HOMILIA PARA O DIA 03 DE MARÇO DE 2019 - 8º COMUM - ANO C


A BOCA FALA DAQUILO QUE O CORAÇÃO ESTA CHEIO

Não há segmento da sociedade que hoje não e beneficie e dependa das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TDIC). Mas é verdade também que as redes sociais e as tecnologias como um todo são um campo minado de palavras desnecessárias, informações descabidas, inverdades e muitas vezes calunia. Inclusive entre pessoas da Igreja que rezam muito e respeitam as mais legítimas doutrinas, conhecem documentos dos papas e não raro se utilizam dos recursos da tecnologia para difamar, caluniar, levantar falso testemunho. No âmbito da política as famosas delações premiadas envolvem sem escrúpulos e sem provas pessoas que ocupam ou não ocupam funções e responsabilidades. Associam situações e casos que muitas vezes causa náusea de ver e ouvir.
Pois a Palavra de Deus proclamada neste domingo trata do uso da palavra como era utilizada cerca de duzentos anos antes de Cristo. No livro do Eclesiástico o autor usa a imagem da fala para deixar claro como por meio dela uma pessoa manifesta o que tem no seu coração. Em resumo, algumas pessoas tentam fingir com comportamentos, gestos, roupas, disfarces e até enganam bem, mas quando se trata de ouvir suas retas intenções desnudam os seus sentimentos mais profundos. O convite da leitura de hoje é claro e obvio: Não se deixar impressionar por gestos e atitudes teatrais, elas quase nada significam.
Lucas está preocupado com os falsos mestres, aqueles que se apresentam bonito, mas com atitudes interesseiras. As palavras de Jesus relatadas pelo evangelista apontam por onde anda o verdadeiro discípulo de Jesus. Nas comunidades, servindo-se também das TDIC pode-se ver pessoas que se consideram iluminadas, que nunca erram e muito menos se enganam, se fazem exigentes com os erros alheios e nunca percebem que seu telhado é de vidro. São aqueles que Jesus chama de hipócritas, dissimulados, falsos cujos atos não correspondem às suas vãs palavras para estes se aplica a expressão do Antigo Testamento: perverso e ímpio e nas palavras de Jesus “árvore ruim” da qual não se pode esperar outro fruto.
Na segunda leitura São Paulo fala da vida futura e conclui com um pedido extraordinário: “Assim, caríssimos irmãos, permanecei firmes e inabaláveis, cada vez mais diligentes na obra do Senhor, sabendo que o vosso esforço não é inútil no Senhor”. Estas palavras não são outra coisa senão ter certeza que acreditar na ressurreição significa empenhar-se na construção de um mundo mais humano e fraterno, eliminando as forças do egoísmo e do pecado como ensina o Concílio Vaticano II “A importância das tarefas terrenas não é diminuída pela esperança na ressurreição, mas antes reforça a sua execução” (Gaudim et Spes 21).
Em resumo, participar da Eucaristia é um desafio para conciliar as palavras e as ações de modo que tudo em nós revele exatamente aquilo que está em nosso interior. Ou seja, que nosso coração apareça em nossas mãos e palavras.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 24 DE FEVEREIRO DE 2019 - 7º COMUM - ANO C


NÃO JULGUEM E NÃO SERÃO JULGADOS

Não é necessário muito esforço para perceber como as relações sociais são marcadas pela violência e intolerância. Perde-se a paciência com facilidade e por causa de situações cotidianas muito banais. A falha de um motorista no trânsito, uma palavra ouvida de forma equivocada, o cansaço depois de um dia de trabalho, a falta de dinheiro para pagamento de algum compromisso assumido, e por aí afora se estende uma lista interminável de ocasiões e situações nas quais a capacidade de amar e perdoar estão distantes das pessoas.
Como que na contramão destas situações, ou para iluminar e estimular outras atitudes a Palavra de Deus deste domingo sugere a todos a capacidade de amar incondicionalmente sem fazer distinção de pessoas ou de situações. As leituras são um convite a deixar de lado todas as oportunidades de violência e intolerância com a devida substituição pela lógica do amor.
O relato do encontro de Davi com as tropas de Saul é o que se pode chamar de “estar com a faca e o queijo na mão”. Encontrando o inimigo com suas tropas abatidos pelo cansaço, Davi poderia ter feito a vingança e se livrado de vez do infortúnio adversário seguindo o conselho do seu companheiro: “Então Abisaí disse a David: Deus entregou-te hoje nas mãos o teu inimigo. Deixa que de um só golpe eu o crave na terra com a sua lança e não terei de o atingir segunda vez”. Davi, por sua vez, escolheu eliminar os mecanismos capazes de gerar violência: “David levou da cabeceira de Saul a lança e o cantil e os dois foram-se embora”. O texto é um convite a refletir sobre as formas de lidar com a aquilo que atinge e provoca mal-estar. Querer “pagar com a mesma moeda” ou seguindo outra lógica substituir a agressão pelo perdão, dando um basta a espiral que só faz crescer a intolerância.
O Evangelho segue a mesma lógica do perdão e da misericórdia. Jesus supera de longe as práticas legais do Antigo Testamento. Quando se trata de amor ao próximo ele supera todos os limites praticados por seus conterrâneos: “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; abençoai os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos injuriam. A quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica. Dá a todo aquele que te pedir e ao que levar o que é teu, não os reclames. Como quereis que os outros vos façam fazei-lhe vós também. Se amais aqueles que vos amam, que agradecimento mereceis? Também os pecadores amam aqueles que os amam”.
Declarar-se seguidor de Jesus significa empreender todos os esforços para inverter as práticas de violência e orgulho que ferem e magoam muitas vezes causando dor até na alma. O cristão não recorre à nenhuma forma de “fazer justiça com as próprias mãos”, pelo contrário é capaz de pedir ao Pai perdão para os seus algozes.
Isto não é sinônimo de ser conivente com as injustiças e as arbitrariedades, mas acima de tudo estar sempre disposto a dar o primeiro passo para reencontrar e perdoar. Isso não significa necessariamente esquecer as falhas, mas ter um coração aberto para o perdão.
A Palavra de Deus convida a rezar com o salmista: “O Senhor é clemente e cheio de compaixão. O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade; não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos castigou segundo as nossas culpas”.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 17 DE FEVEREIRO DE 2019 - 6º COMUM - ANO C


ACREDITEM NA RECOMPENSA DE DEUS PARA TODOS

A expressão “Um por todos e todos por um” cuja origem é atribuída a mais de uma fonte, foi também utilizada com diversas interpretações em diferentes ocasiões da história em distintos países. Independentemente de sua origem e das diversas aplicações que se deu ao longo do tempo, uma coisa é certa: a solidariedade e a comunhão entre pessoas e grupos costumam ter bons resultados e quase sempre as realizações coletivas trazem maior realização para todos os envolvidos. Por outro lado, também é verdade que quando se confia cegamente nas capacidades humanas e de organização coletiva, não poucas vezes os grupos têm se encaminhado para resultados nem sempre animadores. Isso significa dizer que é preciso ter bom senso em tudo o que se faz garantindo sempre o equilíbrio entre a soma de forças e a confiança necessária para além das capacidades humanas.
É sobre isso que trata a Palavra de Deus deste domingo. As três leituras são um convite a não esquecer que Deus nos amou primeiro e que é dele que vem antes de tudo o socorro e garantia de sucesso em todos os empreendimentos humanos. O profeta Jeremias faz uma advertência àqueles que julgam ter resposta para tudo: “Maldito quem confia no homem e põe na carne toda a sua esperança, afastando o seu coração do Senhor”. E conclui sua advertência com um convite para enxergar a presença de Deus na vida: “Bendito quem confia no Senhor e põe no Senhor a sua esperança. É como a árvore plantada à beira da água, que estende as suas raízes para a corrente: nada tem a temer quando vem o calor e a sua folhagem mantém-se sempre verde; em ano de estiagem não se inquieta e não deixa de produzir os seus frutos”.
A mesma situação se pode perceber na carta de São Paulo aos Coríntios: “Se a fé que temos é só para a vida presente somos os mais miseráveis de todos os homens”. Pelo contrário diz ele: “Mas não. Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram”. Aceitar essa verdade não significa desprezar todas as maravilhas deste mundo que é obra de Deus, não significa acreditar que nada e nenhuma colaboração neste mundo tenha importância e necessidade. É somando as forças, as qualidades e as benesses deste mundo que se pode ver e caminhar com muito mais segurança para a vida definitiva que Cristo nos garantiu com sua ressurreição.
E finalmente Jesus deixa mais do que claro no Evangelho: São felizes os que constroem sua vida e procuram soluções para os desafios cotidianos à luz dos projetos de Deus. Certamente as lutas coletivas por causas comuns será uma coisa extraordinária quando estas tiverem um olhar para além das capacidades e autossuficiência humana.
Bem-aventurados aqueles que põe sua esperança no Senhor e que não confiam somente nos projetos e na força dos poderosos deste mundo. Toda a existência humana já provou diversas vezes que confiar cegamente e somente nas forças humanas os resultados quase sempre ficam aquém daquilo que se espera.
É neste contexto que ganha ainda mais força o canto do Salmo: “Feliz o homem que pôs a sua esperança no Senhor. Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, mas antes se compraz na lei do Senhor, e nela medita dia e noite”.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 10 DE FEVEREIRO DE 2019 - 5º DOMINGO COMUM - ANO C


ENTRAR NO BARCO COM JESUS

Na histórica visita do Papa aos Emirados Árabes, durante a missa com milhares de pessoas Francisco fez um pedido que é ao mesmo tempo um desafio para os cristãos daquele país: “Sejam felizes construtores da paz”. Recordando São Francisco, reiterou o Papa: “O Cristão parte armado apenas com sua fé humilde e seu amor concreto”.  Estas palavras são, de alguma maneira a atualização das leituras proclamadas na liturgia deste domingo.
O profeta Isaias se apresenta de uma forma simples e questionadora, como o modelo de um homem que é sensível aos apelos de Deus e que tem a coragem de aceitar ser enviado. Ele tem consciência que a sua vocação é obra de Deus e que aceitar essa missão é a maneira mais correta de ser disponível ao projeto que o criador tem para a humanidade: “Tocou-me com ele na boca e disse-me: Isto tocou os teus lábios: desapareceu o teu pecado, foi perdoada a tua culpa. Ouvi então a voz do Senhor, que dizia: Quem enviarei? Quem irá por nós? Eu respondi: Eis-me aqui: podeis enviar-me.
São Paulo convida os cristãos de Corinto e discernir o que significa acreditar na ressurreição e quais as implicações para o cristão que aceita esta verdade. Ou seja, compreender como Jesus enfrentou os desafios do seu tempo implica também para o cristão contemporâneo dar testemunho da ressurreição de Jesus com todas as exigências que esta proclamação de fé traz para o dia a dia de todas as pessoas em todos os lugares. Os discípulos foram transformados de uma maneira extraordinária quando vivenciaram a ressurreição de Jesus, este fato pode se dar também com aqueles que na atualidade acreditam nesta verdade: “pela graça de Deus sou aquilo que sou e a graça que Ele me deu não foi inútil”.
O Evangelho apresenta uma espécie de fio condutor para aqueles aceitam seguir Jesus. Lançar as redes mais em águas mais profundas consiste em ter coragem de enfrentar as tempestades do mar que muitas vezes resultam em trabalho infrutífero. Em contrapartida ao mar, que representava para os judeus o lugar dos monstros e do perigo, Jesus chama os primeiros discípulos para ser pescadores de homens. Convite que pode ser compreendido como tarefa para realizar uma obra de libertação das pessoas presas às forças do “mar” que lhes rouba a felicidade, afogando-os na opressão, no egoísmo, no sofrimento e no medo. Aquele que aceita esta tarefa aceita a missão de facilitar que todas as pessoas sejam livres de tudo aquilo que impede a felicidade.
É neste sentido que as Palavras do Papa nos Emirados Árabes pode ser também um convite para cada pessoa em todas as partes: “Sejam felizes, sejam oásis de paz. Andem apenas armados com sua fé humilde e seu amor concreto.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 03 DE FEVEREIRO DE 2019 - 4º COMUM - ANO C


POR VOSSA JUSTIÇA, SALVAI-NOS SENHOR

Se pudéssemos apertar os meios de comunicação nesta semana teríamos um punhado de barro, alguns litros de lágrimas, e muita conversa fiada com respostas e soluções e procura de culpados. Nesta semana a Igreja lembrou a figura de São João Bosco de quem se pode lembrar uma máxima que não foi dita por ele nem sequer em contexto semelhante ao que se está vivendo, mas que se pode perfeitamente aplicar ao fato do noticiário desta semana: “Mais vale prevenir do que remediar”.
Todas as respostas e perguntadas levantadas por conta do desastre ambiental de Brumadinho cabem no Hino ao Amor que se proclama na segunda leitura deste domingo: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como bronze que ressoa ou como címbalo que retine. A caridade não é inconveniente, não procura o próprio interesse; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade”. Proclamar que se ama isso ou aquilo, essa ou aquela pessoa e não ter ações concretas é conversa fiada.
E foi para não fazer conversa fiada que Deus fez surgir profetas no meio do povo como se vê na vocação de Jeremias: “Antes de te formar no ventre materno, Eu te escolhi; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta entre as nações. Não temas diante deles, hoje mesmo faço de ti uma cidade fortificada, uma coluna de ferro e uma muralha de bronze, diante de todo este país, dos reis de Judá e dos seus chefes, diante dos sacerdotes e do povo da terra”. E Jeremias leva a sério sua missão diante de todas as dificuldades não desiste enquanto o projeto de Deus não se torna realidade no meio do seu povo.
A mesma coisa acontece com Jesus. Ao anunciar a razão de sua vinda no texto do evangelho de domingo passado. “Anunciar a boa notícia aos pobres, libertar os oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor”. Jesus se expõe para as autoridades do seu tempo que imediatamente o rejeitam porque preferem um messias milagreiro e não alguém que aponte caminhos alternativos e soluções que não sejam espetáculos aos olhos humanos. De novo os entendidos em leis estão focam de novo na mesma questão: “Procuram uma maneira de eliminar Jesus do meio do povo”. Mas o evangelho termina dizendo: “Mas Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho”.
Para os cristãos e para todos na sociedade contemporânea vale a recomendação de São Paulo, se alguém quer viver o amor tenha atitudes simples e cotidianas: “não se irrita, não guarda ressentimento; alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa”
Um cristão de verdade não se esquece que foi ungido como profeta à imagem de Cristo e que está consciente da vocação a que Deus o chamo e que mais do que a boca de Deus somos os braços dele para praticar a caridade, como dizia Santa Tereza de Calcutá: “São mais santas as mãos que ajudam do que os lábios que rezam”.


sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 27 DE JANEIRO DE 2019 - ANO C - 3º DOMINGO COMUM


A PALAVRA DE DEUS É DE ALEGRIA E DE FESTA

Sobre a Jornada Mundial da Juventude no Panamá, se pode dizer que de lá o mundo respira alegria, festa, comunhão e solidariedade. O Papa Francisco falando aos participantes deste evento critica os construtores de muros e recomenda aos jovens que sejam construtores de pontes. Disse o Papa “Os construtores de muros semeiam o medo e procuram dividir”, quanto aos jovens e a Igreja disse Francisco: “A cultura do encontro é apelo e convite a termos a coragem de manter vivo um sonho comum. Sim, um sonho grande e capaz de envolver a todos. Não tenham medo de se arriscar e caminhar reafirmou o Santo Padre. Queridos jovens, esta Jornada não se revelará fonte de esperança por um documento final, uma mensagem consensual ou um programa a aplicar. Este encontro irradia esperança, graças aos vossos rostos e à oração”. Pois esta exortação do Papa é uma atualização da missão de Jesus que ele mesmo apresenta no Evangelho: Cristo como a Palavra que se faz pessoa no meio dos homens, a fim de levar a libertação e a esperança às vítimas da opressão, do sofrimento e da miséria. Sugere-se, também, que a comunidade de Jesus é a comunidade que anuncia ao mundo essa Palavra libertadora.
Na cidade onde se tinha criado Jesus atribui a si mesmo a missão que o profeta havia falado muito tempo antes: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos e a proclamar o ano da graça do Senhor”.
Vinte séculos depois as palavras de Jesus continuam ecoando e muito particularmente sendo um programa de vida para todos os que se declaram seguidores do messias. É importante que nos perguntemos com seriedade e honestidade: “O nosso mundo continua a multiplicar e a refinar as cadeias opressoras. Porque é que a proposta libertadora de Jesus ainda não chegou a todos? Que situações hoje, à minha volta, me parecem mais dramáticas e exigem uma ação imediata?
A fidelidade ao “caminho” percorrido por Cristo é a exigência fundamental do ser cristão. Ao longo dos séculos, tem sido a defesa da dignidade do homem a preocupação fundamental da Igreja de Jesus? Preocupa-nos a libertação dos nossos irmãos escravizados? Que posso eu fazer, em concreto, para continuar no meio deles a missão libertadora de Cristo?”
Como membros de um único corpo, conforme a comparação utilizada por São Paulo na segunda leitura: “O corpo de Cristo (a Igreja) é, pois, uma comunidade de irmãos, que de Cristo recebem e partilham a vida que os une; sendo uma pluralidade de membros, com diversas funções, respeitam-se, apoiam-se, são solidários uns com os outros e amam-se. Palavras-chave para definir a teia de relações que liga este corpo de Cristo são “solidariedade”, “participação”, “corresponsabilidade”.
Não nos esqueçamos de uma verdade fundamental. A igreja é feita de membros com distintas funções para garantir o equilíbrio a comunhão e o bem comum.
Que o ensinamento do Profeta Neemias na primeira leitura sirva também para cada um de nós: “Ide para vossas casas, comei uma boa refeição, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que não têm nada preparado. Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza”
A atualização da Palavra de Deus pode ser resumida na frase do Papa aos Jovens do Panamá: “não seja apenas um canal que une mares, mas também canal onde o sonho de Deus continua a encontrar pequenos canais para crescer e multiplicar-se”.




sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 20 DE JANEIRO DE 2019 - 2º DOMINGO COMUM - ANO C


ALIANÇA QUE GERA COMUNHÃO

Na próxima terça feira o Papa Francisco chega na República do Panamá, na América Central, onde participará da Jornada Mundial da Juventude. Dom José Domingo, Arcebispo Panamenho está acolhendo os 200 mil jovens de 115 países e o Papa Francisco com a seguinte afirmação: “Aqui está uma Igreja jovem, alegre, autêntica, multiétnica, pluricultural, com uma fé viva, com compromisso de anunciar o Evangelho”. Esta definição da Igreja daquele país tem tudo a ver com as leituras da Palavra de Deus proclamadas na liturgia deste domingo.
Em outras palavras São Paulo afirmou aos coríntios a mesma coisa: Há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum”. São Paulo deixa bem claro que as diferenças de cada pessoa e de cada comunidade ganham importância quando em relação com o mesmo e único Deus. Não existem dons e carismas mais importantes e necessários, mas todos precisam ser reflexos a Trindade e espaços de comunhão.
O profeta Isaias falou ao povo que acabava de retornar do Exílio e afirma que Deus refez com eles sua aliança e que todo o povo será tratado com uma jovem esposa recebendo todo cuidado e atenção de modo que possa manifestar a alegria de pertencer ao único Deus.
A conhecidíssima história das Bodas de Caná pede sempre uma nova interpretação. No contexto da Jornada Mundial da Juventude parece importante destacar três personagens do Evangelho que, de alguma maneira, estão presentes ou deveriam estar presentes na vida da Igreja e das comunidades e que permitem perceber a ação de Deus no meio do seu povo.
Uma autêntica festividade precisa estar regada de um bom vinho. A falta dele mostra como a aliança se tornou estéril e improdutiva. As talhas estão vazias e, portanto, não servem para nada, trata-se de um aparato inútil. Na linguagem de Isaias que declarou o encontro de Deus com seu povo como uma festa de casamento, as talhas vazias significam que a festa prevista por Deus não está completa, se tornou estéril e sem vida.
Neste contexto de esterilidade aparecem os três personagens a ser compreendidos no evangelho. Em primeiro lugar está a Mãe que percebe a situação intolerável e desprovida de alegria da festa de casamento quando falta o vinho da autenticidade, da jovialidade, da alegria e do compromisso.
A segunda figura são os chefes do povo de Israel, representados pelo chefe da mesa. Estes acomodados na sua condição não percebem e nem se preocupam com a esterilidade e o com fim da festa.
Finalmente estão aqueles que servem. Dispostos a colaborar com o Messias e prontos para fazer “tudo o que Ele disser”. São eles que enchem as talhas, que levam ao chefe da mesa, que devolvem a alegria aos convidados.
As bodas de Caná se constituem no programa de Jesus para devolver a alegria, o amor e a festa do encontro entre Deus e a humanidade.
Iluminados pela Palavra de Deus e inspirados pela declaração do bispo do Panamá: Aqui está uma Igreja jovem, alegre, autêntica, multiétnica, pluricultural, com uma fé viva, com compromisso de anunciar o Evangelho” é importante que também cada pessoa se pergunte: A minha participação na Igreja se identifica com quem: Maria Preocupada com a falta de vinho e do verdadeiro encontro entre Deus e a humanidade? Com o chefe da mesa preocupado com as regras, as normas, as leis, as rubricas, de uma religião estéril e vazia ou com os serventes dispostos a “fazer tudo o que ele disser”.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 13 DE JANEIRO DE 2019 - BATISMO DO SENHOR - ANO C


ESCOLHIDO E ENVIADO PELO PAI

Isaias 42,1-4.6-7; Salmo 28 (29); Atos 10, 34-38; Lucas 3,15-16.21-22
BATISMO DO SENHOR

Duas atitudes nos fazem confiar ou desacreditar nas pessoas. Uma delas é quando alguém tem boa conversa, fala bem, promete muitas coisas e raramente cumpre o que promete. Neste caso cai em descrédito. A outra é exatamente o contrário. Trata-se de pessoas que são parceiras, vestem a camisa, caminham com a gente e estão do nosso lado em qualquer dificuldade e circunstância. Pois estas duas atitudes se podem perceber na Palavra de Deus deste domingo.
A primeira leitura retrata o tempo final do povo de Israel no exílio. Já estavam cansados e desiludidos. O profeta Ezequiel havia lhes prometido uma libertação com a volta para sua terra e para o seu Deus, entretanto esta promessa parece que demorava demais acontecer.
Neste contexto o profeta Isaias consola os desanimados e lhe garante que o tempo de Deus é diferente dos tempos humanos e reafirma que como outrora Deus libertou os antepassados deles da escravidão do Egito, ele repetirá a façanha nesta outra circunstância de medo e desolação.
A palavra do profeta é clara: “Eis o meu servo, a quem Eu protejo,
o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu espírito, para que leve a justiça às nações. Não gritará, nem levantará a voz. Não desfalecerá nem desistirá, enquanto não estabelecer a justiça na terra”.
Na mesma direção está o discurso de Pedro nos atos dos Apóstolos. Ele garante que a salvação oferecida por Deus não faz distinção de pessoas e se destina a todos. Para fazer parte dos escolhidos dele só tem uma alternativa: “eu reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável”.
No Evangelho João Batista apresenta Jesus e o faz conhecer como o maior gesto de solidariedade de Deus para com seu povo. Jesus não precisava ser batizado no Jordão já que ele é o autor do próprio batismo e muito maior do que o próprio João. Mas ele se fez solidário com todos os pecadores e sofredores. Recebeu o batismo de João como forma de dizer: participo dos sofrimentos e das provações de todo o povo.
Mediante esta atitude de Jesus o Pai confirma o seu messianismo enviando sobre Ele o Espírito Santo: “Quando todo o povo recebeu o baptismo, Jesus também foi batizado; e, enquanto orava, o céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corporal, como uma pomba. E do céu fez-se ouvir uma voz: Tu és o meu Filho muito amado:
em Ti pus toda a minha complacência”.
A lição que se pode tirar da Palavra de Deus é muito simples e objetiva: Em que medida cada pessoa tem sido leal, sincera, parceira, companheira nas horas da dificuldade e do sofrimento? Na condição de cristãos qual tem sido a nossa atitude em relação às pessoas?
Que o Evangelho e a oração nos faça seguidores do mestre e solidário com os irmãos.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 25 DE DEZEMBRO - DIA DE NATAL - ANO C


E O VERBO SE CARNE!


Chegar ao termo de qualquer atividade humana com o sentimento do dever cumprido e tendo realizado de modo satisfatório é uma das formas mais extraordinárias de extravasar de alegria. Não sem razão professores e alunos comemoram o final do ano letivo; empresas e colaboradores celebram o êxito das atividades realizadas durante o ano. Famílias se congratulam com a chegada do natal. Esse é o sentimento que perpassa também a Palavra de Deus na liturgia deste dia do natal.
O profeta Isaias fala ao povo que está desconsolado diante da situação de abandono a que foi submetido, suas palavras são uma maneira de manter viva a esperança na libertação que parece demorar mais do que suas forças: “Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa nova, que proclama a salvação e diz a Sião: «o teu Deus é Rei». Eis o grito das tuas sentinelas que levantam a voz. Todas juntas soltam brados de alegria, porque veem com os próprios olhos o Senhor que volta para Sião. Rompei todas em brados de alegria, ruínas de Jerusalém, porque o Senhor consola o seu povo, resgata Jerusalém”.
A carta aos Hebreus afirma que na pessoa de Jesus Cristo o plano de Deus se realiza em toda a sua extensão e pede que as pessoas façam um esforço para perceber como isso acontece. Resumindo a história da salvação o texto mostra como Jesus se identifica com o Pai. Celebrar o nascimento de Jesus é perceber como para Deus não existe distâncias e como ele continua a apostar na humanidade propondo diálogo que conduza a felicidade.
O Evangelho narra de modo poético a ação de Deus: “No princípio era o Verbo
e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, Ele estava com Deus.
Tudo se fez por meio d’Ele e sem Ele nada foi feito. N’Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas”.
A missão de Jesus é completar a obra que o Pai começou. Toda a ação de Jesus tem por objetivo eliminar todas as barreiras que provocam a morte e dificultam as pessoas de viver o projeto de Deus. Em Jesus se concretiza o sonho da “Humanidade nova”: “ àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória”.
Celebrar o Natal implica ter a coragem de não apenas contemplar o presépio ou as luzes que decoram os ambientes, mas é importante deixar-se interpelar e acolher a Palavra como se canta no salmo: “Todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus. O Senhor deu a conhecer a salvação, revelou aos olhos das nações a sua justiça. Recordou-Se da sua bondade e fidelidade em favor da casa de Israel.

HOMILIA PARA O DIA 24 DE DEZEMBRO - NOITE DO NATAL


EIS QUE A LUZ JÁ ESTÁ BRILHANDO

 Isaias 9,1-6; Salmo 95 (96); Tito 2,11-14; Lucas 2,10-11
NOITE DO NATAL

Toda a preparação para o Natal chega ao seu ponto culminante com as festividades desta noite santa.  Por todos os lados as pessoas vibram de alegria. Para quem participa das celebrações litúrgicas desta noite a Palavra de Deus completa a alegria e o júbilo desta memória extraordinária.
O profeta Isaias faz um anuncio fantástico: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar. Multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento. Rejubilam na vossa presença, como os que se alegram no tempo da colheita.  Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado. Tem o poder sobre os ombros e será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz”.
A carta de São Paulo a Tito  afirma que em Jesus Cristo Deus manifestou a sua graça. O texto é uma recomendação do apóstolo sobre os comportamentos dos cristãos no dia a dia das comunidades: “Ele nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, para vivermos, no tempo presente, com temperança, justiça e piedade”. Estas atitudes cotidianas são a maneira mais autêntica de acolher a salvação que vem de Deus.
O relato do nascimento de Jesus, segundo Lucas, está claro que se deu num determinado tempo da história e num lugar preciso. Não se trata de uma lenda ou uma fábula para chegar a alguma conclusão bonita. Neste fato Deus vem ao encontro das pessoas com sua ternura e seu amor. A singeleza dos fatos acontecidos e narrados a partir de Belém nos levam a contemplar o amor de Deus preocupado com a felicidade humana. Na simplicidade do presépio se pode ver como a força de Deus não precisa de autoridade, prepotência, armas, gabinetes, conselhos, grandes salões para acertos e conluios. Deus vem ao nosso encontro na simplicidade e na ternura: “Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura”. “Já nasceu nos mostrando outro jeito de plantar novamente a harmonia, de viver e o desfeito, vem chegando da periferia”. Por isso cantai ao Senhor Deus um canto novo...

HOMILIA PARA O DIA 23 DE DEZEMBRO DE 2018 - 4º DOMINGO DO ADVENTO - ANO C


FAZER A VONTADE DO PAI

Miquéias 5,1-4ª; Salmo 79 (80); Hebreus 10,5-10; Lucas 1,39-47
4º DOMINGO DO ADVENTO

As festividades do Natal sugerem encontros, presentes, confraternizações. Em resumo é tempo de alegria e de esperança. Esse sentimento que toma conta das pessoas apesar das dificuldades do cotidiano tem muita semelhança com a história do Povo de Deus retratada na Palavra que ouvimos na celebração deste domingo.
O profeta Miqueias exerceu seu ministério em Judá, por volta do século VII antes de Cristo. Nasceu numa região onde imperava o roubo, a violência, o trabalho forçado. Profetizando no meio de pequenos agricultores ele percebeu como os violentos consideravam que Deus estava do seu lado e justificavam todas as formas de opressão que adotavam. Neste contexto ele anuncia que Deus não se esqueceu do seu povo que enviará um pastor verdadeiro que trará para todos uma proposta de paz “Tu, Belém de Éfrata, pequenina entre os mil povoados de Judá, de ti há de sair aquele que dominará em Israel; sua origem vem de tempos remotos, desde os dias da eternidade.  Ele não recuará, apascentará com a força do Senhor e com a majestade do nome do Senhor seu Deus; os homens viverão em paz, pois ele agora estenderá o poder até aos confins da terra, e ele mesmo será a Paz”.
A carta aos Hebreus sugere que Jesus veio para reaproximar as pessoas de Deus e recomenda que todos acolham com prontidão essa proposta. O autor da carta coloca na boca de Jesus estas palavras: “Eis que eu venho. No livro está escrito a meu respeito: Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade. É graças a esta vontade que somos santificados”. O encontro com Jesus que leva a aproximação com Deus Pai não se dá por meio de rituais externos, mas por meio de gestos concretos de amor entre as pessoas.
A atitude de Maria colocando-se a serviço da prima Isabel, mostra como o projeto de Deus tem um rosto. Também neste texto fica evidente que Jesus veio como o sinal do encontro entre Deus e a humanidade. Aqueles que normalmente são excluídos e não encontram lugar com dignidade merecem ser socorridos, acolhidos e ajudados.
A atitude de Maria é um exemplo a ser seguido por todos os que se declaram cristãos. Como Maria caminhemos “às pressas” ao encontro dos necessitados. Vamos colaborar para que a vida de todos vibre de alegria com o anuncio da nossa presença que deve ser portadora de Jesus e do seu projeto. E que este serviço mereça o reconhecimento que também Maria ouviu: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu”.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 16 DE DEZEMBRO DE 2018 - 3º DO ADVENTO ANO C


ALEGRAI-VOS SEMPRE NO SENHOR...

Toda novidade esperada e preparada gera nas pessoas um misto de alegria e expectativa. Embora, nem sempre as novidades sejam antecedidas por sinais extraordinários e só por coisas boas e de fácil compreensão, quando se aguarda pela realização de algo desejado é mais frequente aguardar com entusiasmo e vibração.
Isso é o que acontece no advento, ocasião que se faz memória de um fato acontecido, se proclama a esperança da segunda vida do Senhor e se celebra diversos encontros com o Senhor nas pessoas e nas comunidades com quem se convive.
Na primeira leitura o profeta fala ao povo que ainda vivia as consequências de um período no qual as autoridades tinham institucionalizado a injustiça, a infidelidade, a despreocupação religiosa e uma série de outras atitudes que diminuíam a dignidade das pessoas. Não obstante essa situação Sofonias faz um convite às pessoas para que se voltem a Deus, que dele não tenham medo e que não se deixem dominar pelo desânimo: Não temas, Sião, não te deixes levar pelo desânimo! O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva; ele exultará de alegria por ti, movido por amor; exultará por ti, entre louvores, como nos dias de festa”.
A mesma mensagem se pode tirar da segunda leitura. Toda a carta aos filipenses é um agradecimento que são Paulo faz pela maneira como aqueles acolheram o seu ensinamento sobre Jesus Cristo. No texto de hoje ele exorta a comunidade para que não perca a esperança e a alegria: Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos. Que a vossa bondade seja conhecida de todos os homens! O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas   necessidades a Deus”.
O Evangelho é a continuação do último domingo e nele Lucas apresenta o pedido de João Batista o qual apresenta gestos concretos de conversão para quem quer percorrer o caminho do encontro com o Senhor que está para chegar. A pergunta feita pelos soldados pode ser repetida por cada pessoa que se prepara para o Natal: “E nós o que devemos fazer?” Esta é uma atitude bonita para quem se deixa guiar pelo evangelho. Trata-se da abertura para colocar em xeque a sua prática cotidiana e ter coragem de tomar as decisões procedendo a transformação necessária.
Preparar o Natal e preparar-se para o Natal implica deixar o comodismo e o egoísmo próprios e testemunhar Jesus Cristo e a sua proposta nas ações do cotidiano.
Que a oração da assembleia seja a força de todos e de cada um.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 09 DE DEZEMBRO 2º DO ADVENTO ANO C


TODOS VERÃO A SALVAÇÃO QUE VEM DE DEUS

No Evangelho deste domingo, Lucas situa o tempo e o local no qual João Batista começa a anunciar a chegada do Messias. João fala numa linguagem e partir de uma situação que todos entendem. O que se pode perceber é que o texto das leituras deste domingo tem uma sintonia com a intenção do Papa para este advento quando sugere: “Que as pessoas comprometidas com o serviço da transmissão da fé encontrem uma linguagem adaptada aos nossos dias no diálogo com as culturas”.
A primeira leitura foi escrita por volta do ano 200 anos Antes de Cristo é um convite ao arrependimento e a se deixar guiar pela sabedoria de Deus. O autor apresenta um caminho de conversão que tem como objetivo a felicidade e a liberdade. Também os cristãos do terceiro milênio são convidados a viver numa serena alegria porque Deus está sempre preparando um caminho alternativo para as angústias não obstante os sofrimentos e as dores que as pessoas experimentam.
A carta aos Filipenses é muito afetuosa, Paulo mostra o amor que tem para com eles, sendo ao mesmo tempo uma ação de graças por tudo o que eles fazem na difusão do evangelho. Trata-se de um convite para as comunidades dos nossos dias que se preocupem em praticar a caridade, evitem as divisões e os conflitos, construam solidariedade e sejam sinais de quem está na expectativa do Senhor que vem.
A vinda do Messias como um grande acontecimento é preparado por João Batista mediante o convite dirigido a todos, antes de mais nada, para uma transformação no seu modo de pensar e agir. Ir ao encontro do Senhor que vem implica liberdade para acolher a Palavra e a Boa Nova do Reino. João prepara o ambiente e o coração das pessoas assim como cada pessoa é chamada hoje a dar testemunho do Senhor ajudando Jesus chegar aos corações das pessoas. Não se pode imaginar que encontrar Jesus significa apenas boas intenções trata-se de atividade interpelativa, questionante e comprometida.
Que o Senhor fortaleça e reanime a espera e preparação para “que toda criatura veja a salvação que vem de Deus”.  Desta maneira será possível cantar com o salmista: Grandes maravilhas fez por nós o Senhor por isso exultamos de alegria. Fazei regressar, Senhor, os nossos cativos, como as torrentes do deserto. Os que semeiam em lágrimas recolhem com alegria”.





sábado, 1 de dezembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 02 DE DEZEMBRO 2018 - 1º DOMINGO DO ADVENTO ANO C


ALEGREM-SE A LIBERTAÇÃO ESTÁ PRÓXIMA

Algumas expressões do nosso idioma não fazem parte do vocabulário cotidiano, mas ao mesmo tempo não são desconhecidas. Uma delas é a palavra Advento cujo significado tem a ver com preparação, vinda, chegada, expectativa. Na liturgia da Igreja este tempo faz memória da primeira vinda de Cristo ao mesmo tempo prepara a comunidade crista para a segunda e definitiva vinda gloriosa. Entre esses dois momentos é importante perceber como existem várias vindas do Senhor que são misteriosas e sacramentais. Cada vez que se ouve a Palavra, que se recebe a Eucaristia se aguarda o Senhor. Mas também é possível reconhecer o Senhor que vem na pessoa dos irmãos e das irmãs, de um modo bem particular nos doentes, necessitados, empobrecidos, excluídos. É acolhendo cada uma destas pessoas que também se prepara o natal.
Na primeira leitura, Jeremias está falando na prisão quando o rei lhe acusou de derrotismo e traição. Tudo indicava o princípio do fim. Neste contexto Deus fala pela boca do profeta afirmando que é fiel à sua promessa e que um novo tempo vai surgir e este será o mundo sonhado de justiça e de paz, de fecundidade e vida em abundância.  Na sociedade contemporânea pode-se perceber como a população está mergulhada no medo na frustração, no negativismo, na insegurança e pessimismo. Será ainda possível acreditar na justiça e no amor de Deus? Acreditar na palavra do Profeta é uma maneira de eliminar o medo e plantar a esperança.
O texto do Evangelho relata os últimos dias da vida de Jesus em Jerusalém. Ele completa sua catequese e anuncia tempos de perseguição e de martírio anunciando a destruição da cidade de Jerusalém. O cotidiano da sociedade não se diferencia em muito da situação de Jesus e de Jerusalém daqueles tempos. O Egoísmo das pessoas, o descaso com o meio ambiente, a corrupção, a violência, o ódio, o martírio, o quadro de miséria que rouba a dignidade das pessoas são todas formas de destruição das cidades. A palavra de Jesus abre a porta da esperança e convida todos: “Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida”. A promessa de Jesus consiste em acreditar que as realidades de morte e dor se converterão em alegria e novos céus e nova terra irão surgir.
Paulo escreve aos cristãos de Tessalônica depois que precisou fugir deixando a comunidade em perigo e não suficientemente instruída. Os que acreditavam na palavra do Apóstolo não tinham preparação suficiente para enfrentar a reação dos que discordavam desta nova doutrina. Paulo envia seu amigo Timóteo para buscar notícias e encorajar a fé. No regresso Timóteo afirma que a comunidade não só permaneceu firme no ensinamento de Paulo como até se aprimorou com as perseguições. Eles podem ser reconhecidos como modelos para os outros cristãos.
A mensagem das três leituras serve de ensinamento para todos que celebram o advento. Certos de que a vida cristã não é um processo acabado, mas em construção permanente. O seguidor de Cristo não é uma pessoa perfeita, mas aquele que cada dia sente que existe um caminho novo. Não se conforma com o que já fez nem se instala na mediocridade das suas conquistas, ou seja, está sempre em expectativa.


quarta-feira, 21 de novembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 25 DE NOVEMBRO DE 2018 - CRISTO REI DO UNIVERSO - 34º COMUM


FAÇA DE NÓS UM REINO PARA DEUS SEU PAI!

No calendário litúrgico, este é o último domingo do ano. Daí a celebração de Cristo Rei do Universo. Ao longo dos domingos fomos caminhando com Jesus e ouvindo os seus ensinamentos e percebendo como se desenvolvia a dimensão humana da vida dele no lugar e no contexto histórico de pouco mais de 2000 anos.
Na Oração Eucarística deste domingo se reza: “Ele submetendo ao seu poder toda criatura, entregará ao seu Pai, um Reino eterno e universal, Reino da Verdade e da vida,  Reino da santidade e da graça, Reino da justiça do amor e da paz”.  Mas para que tudo isso acontecesse, o Filho de Deus precisou cumprir tudo o que havia sido dito a seu respeito em toda a história da salvação.
Assim o profeta Daniel relata uma visão extraordinária antevendo como acontecerá o fim dos tempos quando o Filho do homem vier: “Continuei insistindo na visão noturna, e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho de homem, foram-lhe dados poder, glória e realeza”.
Na mesma perspectiva o livro do Apocalipse fala sobre Jesus: que nos ama, que por seu sangue nos libertou dos nossos pecados e que fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai, a ele a glória e o poder, em eternidade. Amém. Olhai! Ele vem com as nuvens”.
E de modo mais do que claro e objetivo aparece no Evangelho o diálogo de Jesus com Pilatos: Tu és o rei dos judeus?' Jesus respondeu: 'Estás dizendo isto por ti mesmo, ou outros te disseram isto de mim?”.... Para que você não tenha dúvida: “Eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade”. 
Compreender a missão de Jesus, reconhecer que Ele seja Rei também dos tempos contemporâneos implica uma verdadeira conversão capaz de reinventar toda a proposta de Cristo e do seu Evangelho para os tempos modernos. Celebrar na liturgia a realeza de Cristo consiste em ser também na vida cotidiana testemunha do rosto misericordioso de Cristo compassivo e capaz de construir a civilização do amor. Celebrar a realeza de Cristo implica não se conformar com nenhuma forma de desrespeito para com as pessoas e com todas as formas de vida.
Cristo é verdadeiramente rei. Não alimentando uma ideia triunfalista, mas é Rei da vida, da justiça, do amor e da paz.  

sábado, 17 de novembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 18 DE NOVEMBRO DE 2018 - 33º COMUM - ANO B- DIA DO POBRE


GUARDAI-ME, Ó DEUS, PORQUE EM VÓS ME REFUGIO!
A liturgia da missa, tem entre suas aclamações de fé, uma delas que diz assim: “Anunciamos Senhor a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição, Vinde Senhor Jesus”.  Esta manifestação reúne, em poucas palavras, todo o “Mistério da fé” em Jesus Cristo.
Esta manifestação precisa ser sempre mais bem entendida à luz de toda a Sagrada Escritura. O profeta Daniel, na primeira leitura, faz uma afirmação extraordinária que em tudo tem a ver com a aclamação que se faz na missa. “Naquele tempo, se levantará o grande príncipe, defensor dos filhos de teu povo; muitos dos que dormem no pó da terra, despertarão. Os que tiverem sido sábios, brilharão como o firmamento; e os que tiverem ensinado a muitos homens os caminhos da virtude, brilharão como as estrelas, por toda a eternidade”.
O verdadeiro sábio e o que ensina o caminho da vida é aquele que a comunidade cristã proclama a ressurreição e que a carta aos Hebreus afirma ser o “Cristo que depois de ter oferecido um sacrifício único pelos pecados, sentou-se para sempre à direita de Deus”. E que Marcos no Evangelho declara que tudo passará: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão. Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai”.
Tanto a aclamação da fé, que se faz na missa, como as leituras deste domingo se resumem em três verbos: “Clamar, responder e libertar”. É por isso que o Papa Francisco convida todos os cristãos para que tenham a mesma atitude de Deus. Ou seja, diante daqueles que Clamam, responder e libertar. É neste contexto que se situa a celebração do “Dia do Pobre”, estes infelizes que clamam a Deus e que somente nele encontram seu refúgio. Na sua mensagem para este dia o Francisco faz um desafio e afirma: Num Dia como este, somos chamados a fazer um sério exame de consciência para compreender se somos verdadeiramente capazes de escutar os pobres. O Dia Mundial dos Pobres pretende ser uma pequena resposta, dirigida pela Igreja inteira dispersa por todo o mundo, aos pobres de todo o género e de todo o lugar a fim de não pensarem que o seu clamor caíra em saco sem fundo. Provavelmente, é como uma gota de água no deserto da pobreza; e, contudo, pode ser um sinal de solidariedade para quantos passam necessidade a fim de sentirem a presença ativa dum irmão ou duma irmã”.
Convido os irmãos bispos, os sacerdotes e de modo particular os diáconos, a quem foram impostas as mãos para o serviço dos pobres (cf. At 6, 1-7), juntamente com as pessoas consagradas e tantos leigos e leigas que, nas paróquias, associações e movimentos, tornam palpável a resposta da Igreja ao clamor dos pobres, a viver este Dia Mundial como um momento privilegiado de nova evangelização. Os pobres evangelizam-nos, ajudando-nos a descobrir cada dia a beleza do Evangelho. Não deixemos cair em saco sem fundo esta oportunidade de graça. Neste dia, sintamo-nos todos devedores para com eles, a fim de que, estendendo reciprocamente as mãos uns para os outros, se realize o encontro salvífico que sustenta a fé, torna concreta a caridade e habilita a esperança a prosseguir segura no caminho rumo ao Senhor que vem.





quinta-feira, 8 de novembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 11 DE NOVEMBRO DE 2018 - 32º COMUM - ANO B


O SENHOR AMA AQUELE QUE É JUSTO

Dentre as coisas que deixam qualquer pessoa enraivecida é a prática da injustiça. E não são poucas as vezes que a sociedade se depara com situações escandalosas nas quais a justiça foi injusta e parcial e não garantiu o equilíbrio de forças e o bem-estar de todos.
Num nível diferente da justiça humana está a justiça de Deus e podemos perceber com clareza nas leituras deste domingo. No tempo do profeta, como também no tempo de Jesus as viúvas eram uma categoria de povo desprotegida, extorquida e desrespeitada na sua dignidade.
O profeta Elias pede socorro a uma dessas viúvas que já não tinha mais nenhuma esperança, a não ser aguardar a morte. Disse o profeta: “'Por favor, traze-me um pouco de água numa vasilha para eu beber' Por favor, traze-me também um pedaço de pão em tua mão’. Ao mesmo tempo que ela reconheceu na pessoa do profeta um pedido do próprio Deus, a quem ela não conhecia, mas atendeu ao pedido e o resultado foi surpreendente: “A mulher foi e fez como Elias lhe tenha dito. E comeram, ele e ela e sua casa, durante muito tempo. A farinha da vasilha não acabou nem diminuiu o óleo da jarra, conforme o que o Senhor tinha dito por intermédio de Elias”.
No evangelho Jesus, mais uma vez, apresenta como modelo uma figura inusitada e não reconhecida pela sociedade perfeita da sua época: “chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada. Jesus chamou os discípulos e disse: 'Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”.
O gesto generoso da pobre viúva é uma pista para reflexão também aos cristãos contemporâneos. Quantas vezes se espetaculariza gestos, ações, palavras para tornar os fatos mais grandiosos e extraordinários. Jesus mostra no evangelho como essas coisas não são importantes, pelo contrário, como “viúvas pobres” a Igreja e todos os seus membros são convidado a dar da sua pobreza para que o mundo e as pessoas e toda as formas de vida sejam respeitadas e promovidas fazendo crescer em todos a esperança, a fé e a caridade.