quinta-feira, 2 de setembro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 05 DE SETEMBRO DE 2021 - 23º COMUM - ANO B

 

OUVIR, FALAR E SE COMPROMETER COM A VIDA

As inovações tecnologias e o progresso da ciência tem facilitado inúmeras conquistas, grandes realizações e descobertas com um mundo de possibilidades. Ao mesmo tempo temos a real preocupação com a destruição da camada de ozônio, do superaquecimento do planeta, da subida do nível do mar, e outras inúmeras situações que geram insegurança e medo. Por conta dessa situação não são poucas as pessoas que caem em crises de desespero, depressão, tentam e cometem suicídio. Temos até um mês dedicado à prevenção do suicídio. Estas situações é o que se pode comparar com a condição do povo de Israel a quem o profeta Isaias dirige suas palavras na primeira leitura de hoje: Dizei às pessoas deprimidas: 'Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar”

Nas imagens dos cegos, surdos, mudos e coxos que recuperam a sua dignidade e se reintegram à sociedade o profeta afirma que Deus está ao lado desses sofredores para realizar um novo êxodo no qual todos poderão reconhecer as maravilhas que Ele realiza em favor do seu povo que se dá a conhecer em sinais extraordinários muito além das próprias manifestações pessoais: “A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta, em fontes d'água”. O profeta está convencido que Deus é uma presença salvadora e amorosa que caminha com todos enfrentando as contrariedades da história. Em lugar de afundar no desespero o profeta convida a olhar o mundo com os olhos de Deus.

O evangelho começa dizendo que Jesus se afastou da região onde estava e foi para o meio dos pagãos. Ele quis se distanciar dos frequentes conflitos com os fariseus e doutores da lei. Para ele não importava o lugar, mas interessava que sua ação fosse em defesa e valorização da vida em qualquer lugar onde houvesse ameaças e sofrimentos.

A pessoa que lhe foi apresentada não parecia ser alguém que fosse por si mesmo buscar a cura e a vida nova: atravessando a região da Decápole. Trouxeram então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão”. O surdo mudo foi conduzido por outras pessoas dando a entender que se equipara aos muitos do nosso tempo que estão desiludidos, deprimidos, sem coragem para enfrentar as contrariedades da vida e nem tampouco se comprometer com uma nova situação de vida.

Jesus Olhando para o céu, suspirou e disse: 'Efatá!', que quer dizer: 'Abre-te”, devolveu ao homem a condição de inserido na comunidade e na comunhão com as pessoas e com Deus. Recuperando a visão, a audição, a fala e a mobilidade ele já não precisa mais ser conduzido por ninguém, antes, por si mesmo pode fortalecer os laços ao mesmo tempo comprometendo-se com um novo estilo de vida.

O jeito novo de viver São Tiago descreve na segunda leitura: “Meus irmãos, a fé que tendes em nosso Senhor Jesus Cristo glorificado não deve admitir distinção de pessoas”. Isso significa que quem se aproximou de Jesus tem o compromisso de segui-lo praticando a acolhida, a misericórdia, a doação e ainda mais intensamente estar próximo e solidário dos pequenos e dos pobres. Para São Tiago a fé se torna verdadeira quando vai muito além das palavras e pode ser percebida em gestos e atitudes em favor das pessoas.

A carta de São Tiago é um convite para abandonar o orgulho, e a autossuficiência e os preconceitos para acolher com humildade os dons de Deus. Em resumo, ver, ouvir, falar e andar com perfeição implica compromisso pessoal e comunitário com mundo mais igualitário no qual os medos e ameaças sejam superados pela esperança, pela solidariedade e comunhão.

Assim como Deus se apresenta comprometido com a vida e a felicidade das suas criaturas, a liturgia desse domingo nos desafia a um apostolado que renove, transforme e recrie as pessoas e as relações entre todos.

Peçamos que a oração, a Palavra e a Eucaristia nos faça testemunhas da esperança!

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

HOMILIA PARA O DIA 29 DE AGOSTO DE 2021 - 22º DOMINGO COMUM - ANO B -

 

SENHOR, QEM MORARA EM VOSSA CASA?

Nos últimos dias pelo menos três situações chamaram a atenção do mundo todo. A tomada de poder pelos grupos fundamentalistas no Afeganistão, ameaçando a vida e os direitos das pessoas em nome do respeito a lei e do cumprimento da vontade divina.

O último terremoto no Haiti que se soma a pobreza e a corrupção deixando milhares de pessoas desprotegidas e relegadas à própria sorte.

O medo que ainda ronda o mundo vitimado pela pandemia, não obstante o sucesso das campanhas de vacinação e o aparente controle da COVID 19.

Em ambas as situações o problema não está na letra da lei, nem precisamente no cumprimento ou descumprimento de regras e normas, mas no cuidado com a vida como um dom a ser preservado e valorizado em qualquer circunstância.

É sobre cuidado e valorização da vida que tratam as leituras da Palavra de Deus nesse domingo. A lei de Deus que está no livro do deuteronômio tem um objetivo muito claro: “Moisés falou ao povo, dizendo: 'Agora, Israel, ouve as leis e os decretos que eu vos ensino a cumprir, para que, fazendo-o, vivais e entreis na posse da terra prometida pelo Senhor Deus de vossos pais”.

A lei é o indicativo de um caminho para a vida plena, não se esgota no cumprimento da regra pela regra ou de ritos e práticas vazias. Cumprir os mandamentos é um processo de conversão e de compromisso de quem ama a Deus e aos irmãos: “Vós os guardareis e os poreis em prática, porque neles está vossa sabedoria e inteligência perante os povos. Pois, qual é a grande nação cujos deuses lhe são tão próximos como o Senhor nosso Deus, sempre que o invocamos? E que nação haverá tão grande que tenha leis e decretos tão justos”. Em resumo, praticar a lei é condição para a felicidade e vida plena!

No Evangelho, mais uma vez Jesus se defronta com o legalismo dos fariseus: “Os fariseus e alguns mestres vieram de Jerusalém e se reuniram em torno de Jesus e lhe perguntaram 'Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos”. Na resposta Jesus retoma as profecias bem conhecidas dos doutores da lei: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois, as doutrinas que ensinam são preceitos humanos'. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”. Para dar uma resposta à altura do questionamento Jesus apela ao justo valor que se deve dar às leis e normas na medida em que elas servem como meio para o respeito às pessoas e a Deus: “Escutai todos e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo”. Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem”.

O ensinamento que Jesus dá aos fariseus de outrora pode ser aplicado a nós e as nossas comunidades. O mais importante não é a prática de todas as leis e regras, mesmo aquelas propostas pela igreja. O mais importante não é o cumprimento escrupuloso dos ritos, regras e normas, mas é verdadeiramente cristão acolher as pessoas como um gesto de gratidão a Deus. É importante celebrar e participar da vida comunitária na medida em que essa prática se torne amor partilhado. A verdadeira preocupação de quem acredita deve ser moldar o seu coração na prática do amor e da caridade como se reza no salmo: “Senhor, quem morará em vossa casa É aquele que caminha sem pecado e pratica a justiça fielmente; que pensa a verdade no seu íntimo e não solta em calúnias sua língua. Que em nada prejudica o seu irmão, nem cobre de insultos seu vizinho; nem se deixa subornar contra o inocente”.

E Tiago na sua carta que é a segunda leitura dá uma lição objetiva. Escutar e contemplar a Palavra sem colocá-la em prática é ritualismo estéril e que não serve para nada: “Recebei com humildade a Palavra que em vós foi implantada, e que é capaz de salvar as vossas almas. Todavia, sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes. Com efeito, a religião pura e sem mancha diante de Deus Pai, é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações

Como indicativo para a nossa vida é importante que nos perguntemos: nossas práticas litúrgicas, nossas práticas de piedade nos comprometem com a promoção, cuidado e valorização da vida na construção de relações humanas respeitosas e inclusivas, ou se resumem a práticas legalistas.

Peçamos a graça de nos deixar transformar pela Palavra, pela oração e pela Eucaristia a fim de evitar toda forma de desprezo, discriminação, ou condenação das pessoas. Que a Eucaristia nos ensine a não somar regras, mas sim multiplicar a caridade.

 

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

HOMILIA PARA O DIA 22 DE AGOSTO DE 2021 - 21º DOMINGO COMUM - ANO B

 

A QUEM IREMOS?

A facilidade de acesso às Novas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (NTDIC) é uma das extraordinárias conquistas da atualidade. Ninguém pode duvidar que a expressão: “O mundo é uma aldeia global” cunhada pelo filósofo canadense McLuhan em 1962 se potencializou com a popularização da internet nessa segunda década do século XXI.  Com o domínio das tecnologias surgiu a figura dos “influenciadores digitais” os quais se utilizando das facilidades da comunicação abrem mão de todos os recursos para se fazer notar e angariar seguidores e compartilhamentos das suas ideias e opções não se importando com a veracidade e as implicações que suas opiniões oferecem às pessoas em todos os cantos do planeta.

Por sua vez a Palavra de Deus desse domingo nos sugere não ter medo de utilizar todos os esforços para que a boa notícia alcance todos os rincões do mundo e seja sustentada por decisões firmes e inspiradas em fatos e pessoas que mereçam credibilidade.

Na primeira leitura Josué faz memória da ação de Deus em favor do seu povo: “Porque o Senhor, nosso Deus, ele mesmo, é quem nos tirou, a nós e a nossos pais, da terra do Egito, da casa da escravidão. Foi ele quem realizou esses grandes prodígios diante de nossos olhos, e nos guardou por todos os caminhos por onde peregrinamos, e no meio de todos os povos pelos quais passamos”. E propõe que a comunidade de Israel faça uma escolha e diante dos fatos. A resposta não poderia ser outra: “Longe de nós abandonarmos o Senhor, para servir a deuses estranhos. Portanto, nós também serviremos ao Senhor, porque ele é o nosso Deus”. Essa adesão não significa facilidade e livramento de provações e desafios, pelo contrário implica em perceber como Deus caminha com eles em todas as provações e dificuldades.

No Evangelho temos duas situações muito claras e que mostram dois grupos de discípulos com mentalidades muito distintas em relação às propostas de Jesus. O primeiro grupo prisioneiro da lógica do mundo marcada pela ambição, pela glória, pela fama, o outro aberto para a novidade do seguimento e que não tem medo de manifestar suas decisões e escolhas: “Sabendo que seus discípulos estavam murmurando, Jesus perguntou: 'Isto vos escandaliza? Então, Jesus disse aos doze: 'Vós também vos quereis ir embora”.  Ao contrário dos influenciadores digitais do nosso tempo que procuram seguidores e pessoas dispostas a compartilhar suas ideias a qualquer custo, Jesus pede daqueles que o escutem, a firmeza para viver e anunciar a boa notícia. Este último grupo serve também de modelo para cada pessoa e para as comunidades contemporâneas: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”.

Obviamente que essa decisão precisa vir acompanhada de algumas atitudes e compromissos que se renovem diariamente. Tais atitudes são descritas por São Paulo na carta aos efésios: “Vós que temeis a Cristo, sede solícitos uns para com os outros”. E no contexto cultural em que vivia Paulo descreve atitudes bem particulares para todas as pessoas dentro do núcleo familiar. Naturalmente se a carta fosse escrita nos dias de hoje as palavras seriam diferentes, porém sem perder a intenção e finalidade: “Ninguém jamais odiou a sua própria carne. Ao contrário, alimenta-a e cerca-a de cuidados, como o Cristo faz com a sua Igreja; e nós somos membros do seu corpo! Este mistério é grande, e eu o interpreto em relação a Cristo e à Igreja”.

Não restam dúvidas que aceitar Jesus Cristo é uma escolha que começa no espaço da família e ali vão se construindo os valores do Reino. As palavras que Paulo utiliza nessa carta são próprias da cultura a quem ela se destina. Noutra carta e em outra situação Paulo escreve: "não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem e mulher, porque todos são um só em Cristo Jesus" (Gal 3,28).

Na celebração deste domingo peçamos a graça de compreender o que rezamos no salmo:

Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo,
seu louvor estará sempre em minha boca.
Minha alma se gloria no Senhor;
que ouçam os humildes e se alegrem!


sexta-feira, 13 de agosto de 2021

HOMILA PARA O DIA 15 DE AGOSTO DE 2021 - ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA - ANO B

 

EIS AQUI A SERVA DO SENHOR!

Se tem imagens que comovem qualquer pessoa é ver uma mãe cuidando dos seus filhos, quando ela estende a mão para que a criança dê os primeiros passos, quando abre os braços para acolher a criança que chora, quando acalenta ao colo garantindo-lhe segurança. E de outra parte quando um filho adulto toma a mãe pela mão, acolhe em sua casa, acompanha nas lidas difíceis que o peso dos anos normalmente impõe, dedica suas vitórias e realizações à presença da mãe na sua vida. Essas imagens são edificantes e comoventes por si mesmas, dispensam comentários e explicações.

Não sem razão a Igreja nos coloca a figura de Maria como mãe que acolhe no ventre a Palavra que se fez  filho, que caminha com ele pelas difíceis estradas da Palestina antiga, que foge com ele para o Egito, que o procura perdido no templo, vai com Ele para o casamento em Caná da Galiléia, o acompanha durante a missão terrena e o segue até o  Calvário. No derradeiro momento da cruz aceita ser mãe do discípulo amado e fica com os discípulos no cenáculo aguardando o Espírito Santo prometido. No outro extremo da vida é o Filho Glorificado pelo Pai que acolhe Maria pelas estradas do céu e que a Igreja chama de Assunção de Maria dando-lhe também o título de Rainha do Universo.

A Virgem elevada aos céus junto do Filho a Igreja reconhece na figura da mulher relatada na primeira leitura deste domingo do livro do apocalipse:  Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas”.  E depois de narrar todas as durezas que a vida lhe impõe simbolizados no dragão cor de fogo e com outras amedrontadoras características o autor conclui: “Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus, e o poder do seu Cristo".

O evangelho não poderia ser mais claro para entender a missão terrena de Maria de levar o Deus Homem pelas estradas da vida: “Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judéia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel”. A velha e piedosa prima reconhece nos sinais da carne a extraordinária presença do Homem Deus: “Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar”. E Maria confirma a convicção que lhe brota do coração e que todos temos a mesma certeza: Deus nunca se esqueceu da humanidade: “A minha alma engrandece o Senhor, e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador, pois, ele viu a pequenez de sua serva, eis que agora as gerações hão de chamar-me de bendita”. A sequencia do cântico de Maria é a confirmação de tudo o que Deus havia realizado em favor do seu povo ao longo da história de Israel.

Dois mil anos depois as diversas aparições de Maria confirmam que a Mãe de Jesus continua a tarefa que iniciou na visita que fez a Isabel, ou seja, que consiste em levar o Deus homem ao mundo! E não sem razão nós continuamos repetindo com outras palavras a mesma exclamação de Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!" Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu”.

E a promessa do Senhor se concretiza na pessoa de Jesus sobre quem São Paulo fala na segunda leitura: “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Assim também em Cristo todos reviverão”.

Usando outras palavras e uma infinidade de títulos temos a absoluta certeza que Maria é “advogada nossa nesse vale de lágrimas aquela que desata os nós do nosso cotidiano”. A reconhecemos com hinos e cânticos na certeza que tudo o que nela se realizou foi por mérito do seu Filho Jesus, inclusive quando a chamamos de Rainha, fazemos porque Jesus Cristo é o Rei dos céus!

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

HOMILIA PARA O DIA 08 DE AGOSTO DE 2021 - 19º COMUM - ANO B

 

PÃO EM TODAS AS MESAS

A letra de um canto litúrgico bastante apreciado por nossas comunidades tem as seguintes palavras: “Mesa pronta toalha limpa, flores luzes e canções, nos olhares um sorriso, muita paz nos corações. É a ceia partilhada nessa casa de irmãos páscoa sempre renovada recriando a comunhão”.

Esse canto nos remete à Palavra de Deus desse domingo de modo claro e profundo. Em pleno século 21, é inconcebível que milhões de pessoas ainda passem fome no mundo. Isso significa que não se pode prescindir de pão em todas as mesas para que as lutas diárias sejam enfrentadas com coragem e determinação. Simultâneo à saciedade do corpo as pessoas precisam matar outras fomes, entre elas do sorriso, da partilha, da comunhão e da coragem. Muitas vezes, como o profeta Elias também nós caímos sob o peso da incompreensão, do desespero, do desânimo e da falta de fé.

Quando isso nos acontece as palavras da primeira leitura nos ajudam perceber como Deus é sensível a todas as fomes da humanidade. Oferecendo ao profeta Elias o pão para alimentar o corpo sacia também a fome de coragem e devolve a determinação para continuar a missão de profeta: “Mas o anjo do Senhor veio pela segunda vez, tocou-o e disse: 'Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer'. Elias levantou-se, comeu e bebeu, e, com a força desse alimento, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus”.

Nos embates que Jesus tem com os Judeus e as diversas categorias do seu tempo fica muito clara a dureza do coração dos judeus e sua incapacidade de “ver” em Jesus o pão de Deus que dá vida. Enxergando apenas as suas convicções e acomodados num sistema ritualista, instalados no seu orgulho e autossuficiência estão seguros que sua única fome é de pão material, e que, portanto, não precisam do “pão” de Deus.

A expressão “carne” de Jesus não se resume ao seu aspecto corporal, mas a sua pessoa, doutrina e mensagem. Os discípulos o reconhecem nos gestos de amor, bondade, solicitude, misericórdia. Na condição de “pão do céu” Jesus revela a direção certa para vida verdadeira e mostra como Deus ama as suas criaturas ao mesmo tempo que faz um convite para fazer da sua vida um serviço fraterno e acolhedor a exemplo do seu “pão”.

O Evangelho nos desafia a não colocar nossa esperança apenas no pão que sacia a fome do corpo. Reconhecer o Pão de Deus implica ser capaz de discernir entre o que é passageiro e muitas vezes ilusório daquilo que permanece e se eterniza.

Peçamos a graça de não nos deixar iludir por promessas fáceis e felicidade passageira, que não nos deixemos manipular aceitando como “pão” as propostas que a opinião pública dominante quase sempre nos oferece e facilita.

É importante que nos perguntemos sobre nossa missão e vocação profética que muitas vezes é carregada de incompreensões, calúnias, perseguições e sofrimento. Não tenhamos medo de nos levantar e continuar o caminho que é longo e para o qual Deus nos renova e fortalece todos os dias.

O Evangelho sugere que nos perguntemos sobre o lugar que Jesus ocupa em nossa vida, em que medida construímos nossa existência ao redor do seu projeto como “pão da vida”. Acreditar que Jesus é “o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo” significa empreender uma luta continua e coerente contra o egoísmo, a exploração, a injustiça e tudo aquilo que denigre e causa sofrimento às pessoas e ao mundo. Na condição de batizados estamos respondendo com coerência à fé que professamos?

Para que isso seja uma realidade em nossa vida, será necessário retomar os conselhos de Paulo na segunda leitura desse domingo: “Toda a amargura, irritação, cólera, gritaria, injúrias, tudo isso deve desaparecer do meio de vós, como toda espécie de maldade. Sede bons uns para com os outros, sede compassivos; perdoai-vos mutuamente, como Deus vos perdoou por meio de Cristo. Sede imitadores de Deus, como filhos que ele ama. Vivei no amor, como Cristo nos amou”.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

HOMILIA PARA O DIA 01 DE AGOSTO DE 2021 - 18º COMUM - ANO B

 

MUITO ALÉM DE ALIMENTAR O CORPO

Faz parte das expectativas humanas e sociais contemporâneas o desejo de ver grandes espetáculos e sinais extraordinários como alternativa para satisfazer a curiosidade e muitas vezes para dar credibilidade a determinados fatos. Mas é também verdade que nem sempre os sinais espetaculares provam coisas grandiosas de acordo com o que os olhos veem.

E esse foi exatamente o questionamento feito por Jesus quando as pessoas correram de novo ao seu encontro e lhe pediram sinais fazendo referência ao maná que alimentou a nação de Israel quando atravessava o deserto.

A multidão que o seguia não havia entendido a importância da partilha, da solidariedade, do cuidado, do compromisso com a saciedade. Todos esses sinais que acompanharam a multiplicação dos pães levaram Jesus a fazer um esclarecimento sobre a necessidade do alimento. Sem diminuir a importância do que é perecível Jesus faz ver que é preciso ir muito além despertando-nos para aquilo que verdadeiramente interessa e que humaniza comprometendo-nos com os demais: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna”. Apresentando-se como verdadeira comida pede que aceitem os valores nutritivos desse novo e duradouro alimento que implica em saciar as distintas e muitas fomes que a humanidade, em todos os tempos, necessita e que podem ser descritas com as palavras: esperança, solidariedade, comunhão, fraternidade, acolhimento, justiça, paz, respeito, compaixão, cuidado e uma lista infinita de valores que dignificam a pessoa e as relações.

O valor nutritivo desse novo alimento leva as pessoas a viverem os conselhos dados por São Paulo na segunda leitura: “Eis, pois o que eu digo e atesto no Senhor: não continueis a viver como vivem os pagãos,
cuja inteligência os leva para o nada.
Renunciando à vossa existência passada, despojai-vos do homem velho, que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras, e renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade. Revesti o homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade”
. Ir ao encontro de Jesus implica uma transformação radical na forma de encarar a vida e as relações consigo mesmo, com Deus e com as outras criaturas.

Naturalmente nossa frágil existência nos empurra com facilidade para o velho estilo de vida onde prevalece o orgulho, o pecado, o egoísmo. A graça do batismo que recebemos permite que renovemos cotidianamente nossas escolhas como um trabalho contínuo que exige renovação constante.  

Em todos os tempos, aqueles que encontram Cristo, que escutam seu convite e aceitam sua proposta vão reconstruindo sua vida sob os valores que dele aprenderam e vão deixando diariamente para trás a velha pessoa com os seus costumes e mentalidade. O batismo não pode se resumir num evento folclórico ou simplesmente ritual, mas deve ser compreendido como uma porta que se abre e um compromisso que se firma para percorrer os caminhos de Deus com coerência pela vida a fora até chegarmos a estatura da maturidade de Cristo.

Nossa breve existência terrena é sempre um caminho marcado pela procura de realização, de felicidade verdadeira, temos fome de amor, de transcendência e procuramos mil maneiras para saciar essas fomes e não poucas vezes tropeçamos em nossas próprias buscas e na finitude de nossas respostas. A única forma de saciar nossa fome e dar pleno significado à nossa vida é colocar em prática o que rezamos no salmo:

Tudo aquilo que ouvimos e aprendemos,
e transmitiram para nós os nossos pais,
não haveremos de ocultar a nossos filhos,
mas à nova geração nós contaremos:
As grandezas do Senhor e seu poder.


sábado, 24 de julho de 2021

HOMILIA PARA O DIA 25 DE JULHO DE 2021 - 17º COMUM - ANO B

 

REPARTIR A SACIAR AS NECESSIDADES DE TODOS

A primeira leitura desse domingo tem como pano de fundo a situação em que vivia o povo no tempo do profeta Eliseu cerca de 850 anos antes do nascimento de Jesus. Em nome de relações comerciais, econômicas, políticas e militares os reis de Israel colocaram a sua população exposta a vulnerabilidade multiplicando as injustiças contra os mais fracos e pobres, levando também a multiplicação das infidelidades contra Deus e a aliança. Essa situação se repetiu com muita frequência entre o povo de Israel, sendo uma constante no tempo de Jesus. Convenhamos que também na atualidade em nome da economia, das relações comerciais, da manutenção de algum regime político grandes multidões se tornam vítimas da exploração em que alguns poucos e privilegiados levam vantagem em detrimento do sofrimento de outros e da exclusão de muitos.

Em ambos os casos e em todos os tempos aqueles que são fiéis a Deus e reconhecem sua ação no mundo são chamados a “levantar os olhos para enxergar a multidão que pede para ser saciada das muitas fomes”.

O profeta Eliseu recebeu os pães da oferenda e ordenou sua distribuição: “E Eliseu disse: 'Dá ao povo para que coma'. Mas o seu servo respondeu-lhe: 'Como vou distribuir tão pouco para cem pessoas?' Eliseu disse outra vez: 'Dá ao povo para que coma; pois assim diz o Senhor: 'Comerão e ainda sobrará. O homem distribuiu e ainda sobrou, conforme a palavra do Senhor”. A distribuição ordenada pelo profeta é uma maneira de mostrar a vontade de Deus que sugere erguer os olhos e ir ao encontro das pessoas com gestos de partilha, de comunhão e de generosidade.

A mesma atitude é repetida por Jesus: Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. Levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão estava vindo ao seu encontro. Jesus disse a Filipe: 'Onde vamos comprar pão para que eles possam comer? Disse isso para pô-lo à prova, pois ele mesmo sabia muito bem o que ia fazer”.

A lógica de Jesus é a mesma do profeta: enxergar o sofrimento, ir ao encontro, modificar os conceitos de propriedade e responsabilidade. Fazendo todos se sentar, Jesus sugere a ação de graças por aquilo que possuem e convida todos a partilha. Quando se substitui a ideia de acumular e guardar tudo pensando apenas em si mesmo, e se reconhece as necessidades  de todos o resultado é surpreendente: “Quando todos ficaram satisfeitos, Recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães, deixadas pelos que haviam comido. Vendo o sinal que Jesus tinha realizado, aqueles homens exclamavam: 'Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo”.

A provocação que Jesus faz aos discípulos é repetida hoje a nós: todos somos convidados a libertar as pessoas das misérias e necessidades contemporâneas, a nos despirmos do egoísmo e assumir a lógica do serviço que facilite às pessoas passar da escravidão para a liberdade e faça nascer novas relações humanas e sociais.

Jesus nos propõe enxergar oportunidades em meio às crises, nos cinco pães e dois peixes na mão de um menino somos chamados a reconhecer a totalidade das oportunidades quando as pequenas forças de cada um são colocadas a disposição de todos.

E isso só vai acontecer quando formos capazes de seguir o conselho de São Paulo: “Com toda a humildade e mansidão, suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor. Aplicai-vos a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança à qual fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos,
age por meio de todos e permanece em todos”.

Peçamos a graça de aprender e pautar a nossa vida conforme rezamos no salmo: “Todos os olhos, ó Senhor, em vós esperam e vós lhes dais no tempo certo o alimento; vós abris a vossa mão prodigamente e saciais todo ser vivo com fartura”.

quarta-feira, 14 de julho de 2021

HOMILIA PARA O DIA 18 DE JULHO DE 2021 - 16º COMUM - ANO B

 

ANDAR NA PRESENÇA DO SENHOR

Não bastasse os riscos e perigos que as circunstâncias nos oferecem, são também incontáveis as situações nas quais nos vemos totalmente desamparados e traídos em nossa confiança. São amigos e familiares que causam desilusão e desnorteiam nossas relações; são colegas de trabalho e superiores nas nossas relações profissionais que agem praticando a política de levar vantagem; com muita frequência líderes religiosos a quem damos crédito como se fossem mensageiros do Deus vivo e de repente nos vemos enganados por eles; isso para não falar nas maracutaias de muitos políticos de todos os tempos e em quase todas as instâncias de poder. Todos de alguma forma deixam a desejar quando se trata da “pedagogia do cuidado”.

Pois ora, qualquer semelhança com o povo no tempo do profeta Jeremias não é mera coincidência. Os pastores de outrora perderam, dispersaram, maltrataram as ovelhas que não lhes pertencia. Em vez de agir como pastores não passaram de aventureiros que levaram em conta mais os interesses próprios dando margens a jogadas políticas. O profeta começa dando uma sentença: Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha  pastagem, diz o Senhor! Vós dispersastes o meu rebanho, e o afugentastes e não cuidastes dele”.

No evangelho que é a continuação do último domingo Jesus reúne os discípulos depois de uma primeira atividade missionária para a qual eles tinham sido enviados a anunciar para expulsar demônios e curar doentes. Para a reunião de balanço o Evangelho Jesus lhes disse: 'Vinde sozinhos para um lugar deserto, e descansai um pouco”. Não parece se tratar de um lugar geográfico, mas de estar na proximidade do mestre, ou seja, a missão precisa ser desenvolvida tendo sempre como referência a pessoa e a doutrina de Jesus. Próximos de Jesus eles recebem, mais uma vez o testemunho do  seu coração compassivo em relação ao seu rebanho: “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas”.

A missão dos discípulos e, portanto, também a nossa, não pode ser diferente daquela de Jesus. Reunir-se frequentemente em torno d’Ele, dialogar com Ele escutar os seus ensinamentos e confrontar a sua doutrina com a nossa ação de cotidiana. Longe de Jesus facilmente estaremos sujeitos a apresentar soluções parciais e que geram dependência e escravidão. Muitas vezes até somos funcionários eficientes, mas que continuamos a oferecer soluções pontuais. Longe de Jesus não são poucos os que se cansam e abandonam a atividade e o dinamismo da missão. Não nos esqueçamos, se perdermos a referência ao mestre perdemos também o sentido da missão.

E isto é o que garante São Paulo para os cristãos de Éfeso e por extensão também a nós: “Agora, em Jesus Cristo, vós que outrora estáveis longe, vos tornastes próximos, pelo sangue de Cristo. Ele, de fato, é a nossa paz: do que era dividido, ele fez uma unidade. Ele veio anunciar a paz a vós que estáveis longe, e a paz aos que estavam próximos. É graças a ele que uns e outros, em um só Espírito, temos acesso junto ao Pai”.

Nós sabemos que somos uma grande família, um corpo com uma grande diversidade de membros. A globalização aproxima as pessoas e permite partilhar muitas coisas nesta grande casa comum, entretanto ainda persistem muros construídos e em construção que impedem a fraternidade e a comunhão. Nós como discípulos de Jesus temos o dever de dar testemunho da paz e da unidade e lutar contra todas as barreiras que nos dividem. Que seja nossa regra de vida a oração da missa deste domingo: “para que repletos de fé esperança e caridade guardemos fielmente os vossos mandamentos”.

E conforme cantamos na Campanha da Fraternidade desse ano:


Venham todos, vocês, venham todos
Reunidos num só coração, (cf. At 4, 32)
De mãos dadas formando a aliança
Confirmados na mesma missão. (bis)

Em nome de Cristo, que é a nossa paz!
Em nome de Cristo, que a vida nos traz
Do que estava dividido
Unidade ele faz!
Do que estava dividido
Unidade ele faz! (cf. Ef 2, 14a)

Venham todos, vocês, testemunhas
Construamos a plena unidade
No diálogo comprometido
Com a paz e a fraternidade. (bis)


.

 

quinta-feira, 8 de julho de 2021

HOMILIA PARA O DIA 11 DE JULHO DE 2021 - 15º COMUM - ANO B

 

A VERDADE E O AMOR SE ENCONTRARÃO

A oração que nos introduz na liturgia da Palavra desse domingo é uma espécie de síntese dos três textos que foram proclamados: “Ó Deus, que mostrais a luz da verdade aos que erram para retomarem o bom caminho, dai a todos os que professam a fé rejeitar o que não convém ao cristão, e abraçar tudo o que é digno desse nome”.

Ora o que significa ver a luz da verdade senão compreender a Palavra de Deus com suas promessas e indicações para a vida. O profeta Amós, por volta de 700 anos antes de Cristo já provou a incompreensão daqueles que preferiam andar e manter as pessoas nas trevas do erro, Ele, no entanto, declarou com segurança para que veio e por que veio: “não sou profeta nem sou filho de profeta; sou pastor de gado e cultivo sicômoros. O Senhor chamou-me, quando eu tangia o rebanho, e o Senhor me disse: 'Vai profetizar para Israel, meu povo”. Convicto do chamado que havia recebido e da missão que lhe fora pedida agiu com a liberdade e a firmeza de profeta não se deixando amordaçar nem pelos interesses e vantagens pessoais que poderia usufruir se tivesse negado a responsabilidade.

São Paulo, descreve aos efésios a ação de Deus em favor das pessoas: “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda a bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos… Pelo seu sangue, nós somos libertados. Nele também vós ouvistes a palavra da verdade, o evangelho que vos salva”. Aceitar e colocar Cristo como centro de nossas vidas implica manter a liberdade inclusive dos nossos interesses mesquinhos e da política de “levar vantagem”.

No evangelho Jesus é muito objetivo no mandato que dá aos discípulos quando se trata de rejeitar tudo o que não convém ao cristão: “Jesus chamou os doze, e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas”. Estes objetos que aparentemente são insignificantes, na verdade são mecanismos de escravidão que nos impedem de abraçar tudo o que é digno da condição de seguidores d’Ele. O seguidor de Jesus oferece sua vida testemunhando sobriedade, pobreza, servindo na alegria e na caridade. O verdadeiro discípulo não faz imposições antes faz proposições chamando a todos para a responsabilidade.

A missão não é reservada a um grupo de especialistas e iluminados os doze significam a totalidade daqueles que creem e são chamados a viver na luz da verdade e no caminho da liberdade, para dar conta dessa tarefa nós rezamos cantando: Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei”.

 

quinta-feira, 1 de julho de 2021

HOMILIA PARA O DIA 04 DE JULHO DE 2021 - COMBATI O BOM COMBATE DA FÉ. SÃO PEDRO E SÃO PAULO. ANO B

 

ACREDITAR COM OS FATOS

Isaac Newton foi um físico, matemático, astrônomo, teólogo que viveu no século XVIII, é dele a frase: “Se cheguei até aqui foi porque me apoiei nos ombros de gigantes”. Esta citação é regularmente repetida por pessoas que querem justificar o sucesso dos seus empreendimentos atribuindo os méritos a terceiros que participaram como anônimos das conquistas que estão sendo celebradas.

Hoje celebramos São Pedro e São Paulo a quem denominamos colunas da Igreja. O Papa Francisco na homilia para essa solenidade falou: Queridos irmãos e irmãs, a Igreja olha para estes dois gigantes da fé e vê dois Apóstolos que transmitiram a força do Evangelho ao mundo, porque antes foram libertados pelo encontro com Cristo”. Na celebração do dia de São Pedro e São Paulo, Francisco recordou diversos momentos nos quais Pedro experimentou o sabor da derrota. O mesmo aconteceu com Paulo que experimentou a própria libertação depois de ter caído do cavalo e de vivenciar com frequência um espinho na carne.

Nos dois casos Jesus os amou desinteressadamente, apostou neles, os encorajou a não desistir e dar a vida pelos irmãos. E de fato ambos fizeram isso Pedro não fez discurso sobre ser missionário; ele agiu como missionário, Paulo não foi um brilhante escritor, antes enviou cartas que permitiam vivenciar e testemunhar aquilo que acreditava.

Nós também, ao longo da vida somos libertados de muitas amarras e sempre temos a necessidade de nos sentir libertos de todo medo que paralisa e nos torna inseguros e fechados em nós mesmos. Sempre e de novo precisamos ser libertos para não ficar paralisados quando nossas atividades e empreendimentos forem mal sucedidos.

Precisamos nos libertar das nossas falsas seguranças, da hipocrisia da nossa exterioridade, da tentação de impor sempre as nossas ideias. Precisamos nos libertar de uma observância religiosa que nos torna rígidos e inflexíveis. Também a nós Jesus da uma missão como a de Pedro: Chaves para abrir portas e construir pontes que nos levem a ligar e desatar os nós e as correntes de nossas vidas.

Ao longo da história, nós e a Igreja vivenciamos de sobra experiências nas quais temos vontade  de desistir de tudo, porém somos convidados a perceber que se chegamos até aqui é porque nos apoiamos em ombros de gigantes, que nesse caso são as colunas da Igreja.

Não sem razão a Igreja reza no início da missa: “Concedei à vossa Igreja seguir em tudo os ensinamentos dos apóstolos que nos deram as primícias da fé".