ESCUTAR, PARTILHAR E VIVER
Poucas situações
humanas são mais constrangedoras do que tentar dar explicações para uma atitude
inexplicável. No longo relato da primeira leitura ouvimos o fato de um homem
literalmente “pego de calças curtas” ou como se diz de outra forma “com a boca
na botija”. Adão e Eva que tiveram todas
as oportunidades para se dar bem na vida, resolveram andar por outros caminhos recusando
as propostas de vida com dignidade que lhe foram oferecidas por Deus.
A narrativa do Gênesis
que ouvimos na primeira leitura não tem por objetivo contar uma história de
fatos reais, mas ensinar uma lição de alguém que se julgou suficientemente
sábio e autossuficiente, capaz de viver sem dar satisfação de nada a ninguém. Esta
sua autorreferencialidade ou levou a um emaranhado de situações para as quais
precisou inventar uma justificativa sempre injustificável. O resultado não
poderia ser outro: “Viver à margem de Deus leva,
inevitavelmente, a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de
infelicidade”.
Ao contrário, aceitar caminhar guiados por Deus nos faz membros da sua família, como ouvimos na
segunda leitura na qualidade de filhos cujo resultado é ser merecedor de um
amor e cuidado gratuito, incondicional e radical: “Bendito
seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda a bênção
do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu. Em Cristo, ele
nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis
sob o seu olhar, no amor”.
E a pessoa que
melhor soube viver e caminhar na sombra da casa de Deus foi Maria a Mãe de
Jesus Ela acolheu confiante os planos divinos a seu respeito: “Eis
aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!"
Enquanto
Adão e Eva rejeitaram caminhar com Deus, Maria deu o seu sim. Na primeira
situação a humanidade caminhou para o sofrimento e a morte, Em Maria todos
caminhamos para a vida plena. Em resumo: Apesar da fragilidade de Maria e da
insignificância do vilarejo de Nazaré nela Deus se faz presente de forma
definitiva para a salvação de todos. Maria ensina para cada pessoa que a disponibilidade
é uma atitude decisiva quando se trata de escolher o caminho por onde trilhamos
a vida.
Este é o sentido
da celebração da Imaculada Conceição de Maria, todos chamados a nos abandonar
em Deus. É isto que também rezamos na oração desse dia: “Ó Deus pela Imaculada Conceição da Virgem Maria preparastes
para o vosso Filho uma digna habitação e a preservastes de toda mancha de
pecado em previsão da morte salvadora de Cristo; concedei-nos chegar até vós
purificados também de toda culpa por sua materna intercessão”.
Que Maria nos ensine e ajude acolher os planos de Deus para
nós e para o mundo!