terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 26 DE FEVEREIRO DE 2020 - QUARTA FEIRA DE CINZAS - ANO A


O SENHOR PURIFICA OS CORAÇÕES ARREPENDIDOS

Ano após ano a Igreja repropõe o tempo da quaresma como oportunidade para fortalecer a conversão por meio da penitência.  Duas atitudes são recomendadas como auxílio para o tempo da quaresma: Jejum e abstinência. Claro que estas duas ações por si mesmas não significam muito para a mudança de vida que este tempo sugere. Neste sentido ganha importância a Campanha da Fraternidade que neste ano tem como lema: “viu, sentiu compaixão e cuidou...” A penitência sugerida ganha importância quando leva as pessoas a ter atitudes que mostrem sua conversão. Como se ouve na primeira leitura da quarta feira de cinzas: “Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração,
com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus”.
E não se trata de fazer qualquer atitude regada de publicidade para provar que se está fazendo mostrando sua capacidade e generosidade. Esta forma de fazer penitência também não é agradável a Deus e para nada serve: Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa”.
Jesus não faz uma advertência gratuita, Ele bem sabe que é próprio da natureza humana gostar de elogios e de glórias mundanas. A condição humana tem entre seus limites correr atrás da fama, da glória, dos elogios e assim por diante. Mas Jesus deixa bem claro que a conversão para Deus exige antes conversão para as pessoas. Esse é também o convite da Campanha da Fraternidade quando afirma que não basta ver o sofrimento que está perto de nós e que atinge a todos, ver e sentir compaixão exige a atitude do samaritano do Evangelho: Aproximar-se daqueles que sofrem e cuidar deles.
Em resumo o Jejum e a esmola são a repetição das palavras de São Paulo: Somos embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus”.
Se assim fizermos poderemos rezar com mais firmeza o salmo previsto para a quaresma:
Criai em mim um coração que seja puro,
dai-me de novo um espírito decidido.
Ó Senhor, não me afasteis de vossa face,
nem retireis de mim o vosso Santo Espírito!

Dai-me de novo a alegria de ser salvo
e confirmai-me com espírito generoso!
Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar,
e minha boca anunciará vosso louvor! 




sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 16 DE FEVEREIRO DE 2020 - 6º COMUM - ANO A


INTERPRETAR A LEI DO JEITO DE JESUS

Se tem uma situação que deixa qualquer pessoa séria indignada é o famoso “jeitinho brasileiro”. Por conta desta prática presenciamos as maiores aberrações em todas as esferas de poder, inclusive na própria Igreja. Quando se refere ao cumprimento da lei outra situação intolerável é o descaso com a coisa pública ou a outra face da moeda que se chama rigorismo da lei.
Pois é sobre a importância e necessidade da lei e da sua correta aplicação que Jesus fala no Evangelho deste domingo fazendo uma rede com as outras duas leituras.
Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento”. Jesus deixa muito claro que sua intenção é fazer uma releitura da lei em outro contexto de quando ela foi dada a Moisés. Em lugar do legalismo doentio ele propõe um compromisso com a vida e para isso será necessário respeito para com a dignidade de todos. A nova lei não prescreve que não se pode matar. Muito antes que isso será preciso romper com a escalada da violência, da discriminação, das ofensas, pois o que agrada a Deus e torna uma vida útil é o perdão a reconciliação.
Em lugar da prescrição legal: “Não cometerás adultério”. Jesus declara que todas as vezes que alguém olhar com cobiça para aquilo que não lhe é de direito já está cometendo pecado. Não se trata apenas do adultério que é o topo dos grandes pecados da carne, trata-se de não permitir que a vida de quem queira que seja se torne objeto de injustiças e de maldades. Em resumo a palavra que sai da boca de uma pessoa que se declara seguidor de Jesus Cristo deve ser digna de crédito. Os juramentos de nenhum tipo combinam com as relações de confiança. Em resumo, todos os problemas merecem ser contornados no diálogo fraterno e no perdão incondicional.
Esta condição de escolha já havia dito o autor do livro do eclesiástico: “Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal; Os olhos do Senhor estão voltados para os que o respeitam. Ele conhece todas as obras do homem. Não mandou a ninguém agir como ímpio e a ninguém deu licença de pecar”.
E São Paulo reafirma aos coríntios: “Como está escrito, 'o que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram nem os ouvidos ouviram nem coração algum jamais pressentiu”. Portanto que agir desse modo haverá de experimentar a verdadeira vida como se reza no salmo: “Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo! Feliz o homem que observa seus preceitos, e de todo o coração procura a Deus”.
A questão central abordada pela Palavra de Deus deste domingo está na liberdade humana que tem à sua frente diversos caminhos que lhe interpelam e desafiam. Agir com responsabilidade é um imperativo para a pessoa que não quer passar a vida inteira encolhendo os ombros e fazendo de conta que o problema não é seu. Cumprir um conjunto de regras e normas, de modo algum pode ser garantia de salvação, pelo contrário, muito mais do que uma vida legalista, ou uma vida do tipo “jeitinho brasileiro”, se espera de cada pessoa uma verdadeira adesão ao projeto de Deus revelado em Jesus.  Os mandamentos são regras que cumprimos por medo de castigos ou são indicações que fazem crescer nossa proximidade com Deus e com as outras pessoas. Que o Senhor ajude a todos a realizar em suas vidas o que rezamos no salmo:
Sede bom com vosso servo, e viverei,
e guardarei vossa palavra, ó Senhor.
Abri meus olhos, e então contemplarei
as maravilhas que encerra a vossa lei.








HOMILIA PARA O DIA 23 DE FEVEREIRO DE 2020 - 7º COMUM - ANO A


TODOS SÃO DE CRISTO E CRISTO É DE DEUS

A liturgia deste domingo nos propõe para a oração o Salmo 102. As assembleias reunidas rezam o salmo entre a primeira e a segunda leitura, e uma das estrofes previstas para a celebração de hoje reza assim: “O Senhor te perdoa toda culpa, e cura toda a tua enfermidade; da sepultura ele salva a tua vida e te cerca de carinho e compaixão. O Senhor é indulgente, é favorável, é paciente, é bondoso e compassivo”.
Esta oração pode ser entendida como uma maneira de definir quem é Deus e como ele age na relação com as pessoas.  Ora, tanto a primeira leitura, quanto o evangelho propõe um caminho para todos com as seguintes palavras: “Sejam santos, porque eu, o Senhor seu Deus, sou santo... portanto, sejam perfeitos como o Pai celeste é perfeito”.
Pois bem se este convite é dirigido a todos significa que todos são convidados a ter as mesmas atitudes de Deus, ou seja: “perdoar toda e qualquer ofensa, ser tolerante, paciente, bondoso, compassivo”. Em poucas palavras para ser semelhante a Deus é necessário fazer as mesmas coisas que ele faz.
A tolerância, a paciência, a bondade, a compaixão a gente vai exercitando todos os dias e em todas as circunstâncias da vida, como Jesus mesmo aconselha no Evangelho: “Amem os seus inimigos  rezem por aqueles que lhes perseguem! Não enfrentem, nem mesmo quem é malvado...” agindo dessa maneira todos poderão ser chamados de Filhos de Deus que não discrimina ninguém e que faz chover sobre justos e injustos.
Reconhecer-se santuário e morada de Deus, como recorda São Paulo na segunda leitura, implica amar sem impor condições, entre elas acolher o pecador o que não significa aceitar o pecado. Se alguém se considera pertencer aos discípulos de Jesus: “ser de Cristo como Cristo é de Deus Pai” implica estar abertos à justiça do Reino, sendo capaz de uma resistência pacífica que ponha fim ao círculo vicioso das agressões, das incompreensões, e de toda forma de violência.
Para ser santo como Deus não se trata de viver sob uma infinidade de regras e normas, antes ser capaz de atitudes revolucionárias criadoras de comunhão com um amor transbordante para com as pessoas e com o mundo. Se quisermos ser santo como Deus é santo é necessário dar testemunho, não com palavras, mas com ações de um amor  que é cheio e de misericórdia. Ser “perfeito como o Pai é perfeito” consiste em ser acolhedor e alegre, exercitando sempre as mãos fraternas e o coração bondoso. Para concluir, ser santo não é questão de para normalidade ou algo para os extraterrestres, ou alguém que caminha nas nuvens. Antes implica se misturar com os irmãos e irmãs que sofrem mergulhados nas suas fragilidades e nos seus pecados. A santidade é uma condição que está ao alcance de todos, como diz o Papa Francisco: “Gosto de ver a santidade do povo santo de Deus, nos pais e mães que trabalham para dar alimento aos seus filhos. Isso é santidade ao pé da porta, ou classe média da santidade”. Para alcançar esse dom, rezemos todos com fizemos no salmo:
Bendize, ó minha alma, ao Senhor,
e todo o meu ser, seu santo nome!
Bendize, ó minha alma, ao Senhor,
não te esqueças de nenhum de seus favores!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 09 DE FEVEREIRO DE 2020

LUZ QUE ILUMINA E SAL QUE DÁ SABOR
Costuma-se usar um provérbio mais ou menos assim: “Eu era feliz e não sabia”. Esta expressão significa que muitas vezes as pessoas perdem oportunidades e só percebem isso depois que perderam.  A mesma coisa acontece em relação à luz e o sal. É comum entrar e sair de ambientes e nem perceber a intensidade da luz e muitas vezes nem a disposição dela, mas quando, por qualquer razão aquele local fica desprovido da iluminação imediatamente todos se sentem perdidos. Outra realidade percebida imediatamente é a falta de sal na comida, enquanto que o contrário raramente merece um elogio.
Pois as leituras deste domingo falam de luz e sal e sugerem que os cristãos assumam esta função no meio do mundo. Sem precisar ser percebido, precisamente porque ele se dilui nos alimentos, o sal modifica e torna saborosa uma refeição. Este também é o desafio daqueles que aceitam o evangelho: promover a justiça, a misericórdia, a paz.  Transformar as relações de dor e de sofrimento, em resumo fazer a diferença no mundo.
O profeta Isaias começa apresentando em que consiste ser luz no mundo: “Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá. Se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo o socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia”.  De uma maneira muito clara o profeta faz entender que as práticas de piedade tem uma importância extraordinária na vida das pessoas desde que elas se traduzam em gestos concretos, do contrário não passam de ritualismo vazio.
São Paulo confirma o pedido do profeta apresentando o seu jeito de se fazer entender na comunidade de corinto: “Irmãos, quando fui à vossa cidade anunciar-vos o mistério de Deus, não recorri a uma linguagem elevada ou ao prestígio da sabedoria humana. Pois, entre vós, não julguei saber coisa alguma, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado. Aliás, eu estive junto de vós, com fraqueza e receio, e muito tremor”.
E no evangelho Jesus pede a todos que se declaram seus seguidores: “Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte”.
Poucas realidades tem uma vida útil longa como o sal e é com essa comparação que Jesus se refere àqueles que aceitam o discipulado. Todos são convidados a garantir um contrato duradouro, e um compromisso efetivo com as causas que Ele mesmo defendeu durante toda sua ação no mundo. E não se trata de fazer marketing das ações que se realiza, antes de desaparecer no meio das trevas e se diluir no ambiente para que aquilo que não tinha sabor ou não podia ser visto passe a ser percebido. Peçamos a graça de agir deste modo, como se reza no salmo deste domingo:
Uma luz brilha nas trevas para o justo,
permanece para sempre o bem que fez.

4Ele é correto, generoso e compassivo,*
como luz brilha nas trevas para os justos.
5Feliz o homem caridoso e prestativo,*
que resolve seus negócios com justiça.

6Porque jamais vacilará o homem reto,*
sua lembrança permanece eternamente!
7Ele não teme receber notícias más:*
confiando em Deus, seu coração está seguro.

8aSeu coração está tranquilo e nada teme*
9Ele reparte com os pobres os seus bens,
permanece para sempre o bem que fez*
e crescerão a sua glória e seu poder.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 02 DE FEVEREIRO DE 2020 - APRESENTAÇÃO DO SENHOR - ANO A


SOLIDÁRIOS UNS COM OS OUTROS A PARTIR DE JESUS
Embora a sociedade contemporânea viva num ritmo frenético e a mídia aproveitem todas as situações delicadas para colocar medo e isolar as pessoas potencializando as dificuldades e os problemas do cotidiano ainda são bastante frequentes os casos de pessoas que são solidárias e constroem pontes ajudando-se mutuamente. Sempre que isso acontece são construídos laços de amizade e de partilha que costumam serem considerados espaços familiares de bem querer. Frequentemente se vê alguém dizer “fulano de tal é como se fosse meu irmão”, “Beltrano é o irmão que eu não tive”, e assim por diante.
Pois é uma relação familiar, e sobre um irmão que não temos que tratam as leituras desse domingo.  É com essa comparação que a carta aos Hebreus descreve a pessoa de Jesus: “Visto que os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Jesus participou da mesma condição, para assim destruir, com a sua morte,
aquele que tinha o poder da morte e libertar os que, por medo da morte, estavam a vida toda sujeitos à escravidão.
Pois, afinal, não veio ocupar-se com os anjos, mas com a descendência de Abraão. Por isso devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e digno de confiança nas coisas referentes a Deus, a fim de expiar os pecados do povo”.
Compreender que Deus enviou seu Filho divino, sem fazer uso desta prerrogativa, mas antes assumir as fragilidades e limitações humanas ilustra e não deixa margens para dúvidas. A intensidade do amor de Deus pela humanidade. A constatação desta verdade enche o nosso coração de serenidade e alegria e garante que é possível encarar a vida, os medos e os limites da existência humana com esperança, com coragem e confiança. Com uma ajuda desta forma é certo que a vida pode ter um final feliz.
E toda a vida e as ações de Jesus começam desde a sua infância cumprindo tudo aquilo que fazia parte das relações e da legislação vigente no seu tempo para as famílias e a sociedade. Na primeira leitura o nome Malaquias significa “meu mensageiro” e começa descrevendo o dia em que Deus vai descer ao encontro do seu povo para criar uma nova realidade. Nesse dia será eliminado o orgulho, o egoísmo e o pecado. O enviado via inaugurar o tempo novo da comunhão verdadeira entre o criador e a sua criatura: “Eis que envio meu anjo, e ele há de preparar o caminho para mim; Ele é como o fogo da forja e como a barrela dos lavadeiros; e estará a postos, como para fazer derreter e purificar a prata assim ele purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata”.
No evangelho Lucas narra um dos episódios da infância de Jesus para deixar bem claro quem é aquele que desde a infância se propõe a cumprir todos os preceitos da lei de Moisés que José e Maria cumprem com rigorosidade: “Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor. Conforme está escrito na Lei do Senhor: Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”. Foram também oferecer o sacrifício - um par de rolas ou dois pombinhos - como está ordenado na Lei do Senhor”. No templo não faltou quem reconheceu no recém-nascido o mensageiro prometido pelo profeta e que a carta aos Hebreus, muito mais tarde, chamou de Sumo Sacerdote. Seja o sábio Simeão, seja a profetiza Ana, ambos fazem com outras palavras as mesmas declarações: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel. Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma. Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém”.
A festa da apresentação do Senhor revela que desde o início da sua caminhada terrena Jesus escolheu o caminho da fidelidade aos mandamentos e projetos do Pai. Essa escolha o fez exatamente igual a todos e serve como luz para todos. É nesse sentido que trazemos as velas para serem abençoadas como quem diz: guiados pela luz de Jesus todos caminhamos seguros nos mares bravios da vida certos que Ele também caminha conosco. Dele também precisamos aprender a fazer-se um com todos como o anjo anunciado pelo profeta ou misericordioso como o sacerdote Jesus.  


quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 26 DE JANEIRO DE 2020 - 3ª DOMINGO COMUM - ANO A


JESUS, A LUZ NO FIM DO TÚNEL

Para quem vive no litoral de Santa Catarina, ou circula pela BR 101 a passagem pelo túnel do Morro do  Boi tem sempre uma sensação de apreensão e de certeza.  É uma travessia rápida, uns poucos minutos e logo se avista uma luz do fim do túnel. Todos tem certeza que realmente isso acontecerá, entretanto, sempre se trata de uma surpresa.  Pois é sobre a possibilidade de ver o clarão de uma nova luz que se refere a liturgia da Palavra deste 3º domingo comum.
A passagem do profeta Isaias, como todas as passagens sobre o projeto de Deus para a humanidade foi entendida como profecias depois de aplicadas à pessoa de Jesus como aquele que veio para efetivar as promessas e os desejos das pessoas e das comunidades do seu tempo.
No texto de hoje Isaias afirma que  as trevas terão fim significando com isso a libertação das injustiças, dos sofrimentos, do desespero e até da própria morte. E tudo isso acontecerá com uma decisiva ação de Deus em favor do seu povo: recentemente o Senhor cobriu de glória o caminho do mar. O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu. Fizeste crescer a alegria, e aumentaste a felicidade; todos se regozijam em tua presença como alegres ceifeiros na colheita”. Quando isso acontecer os dias serão de paz sem fim. Este tempo é comparado a alegria da colheita celebrada na abundância dos alimentos. Quem está garantindo a realização destas profecias não é outra pessoa senão o próprio Deus, a luz no fim do túnel que irá proporcionar uma alegria sem fim é um dom de Deus.
O evangelho descreve a realização das promessas do profeta. Durante muitos anos a comunidade de Israel foi alimentando a esperança de ver brilhar a luz da profecia e eis que na pessoa de Jesus se concretiza o sonho de todos: “Jesus voltou para a Galileia, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz”. Como no domingo passado o Evangelho confirma que  a ação de Jesus é realizada contando com a parceria dos envolvidos. No caso de hoje a atividade do Mestre conta com a ajuda dos discípulos a quem Ele chama com um verbo no imperativo: “Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens”.
Crendo nas palavras de Jesus aqueles que lhe ouvem percebem que a luz começa a brilhar no fim do túnel sendo a concretização da justiça verdadeira, da misericórdia infinita, da abundância e da paz sem fim. Obviamente que a realização de tudo isso implica num processo de conversão e mudança de mentalidade. Numa reorganização da vida colocando no centro de todas as preocupações a mesma perspectiva de Deus.
Ontem como hoje as comunidades experimentam o entusiasmo daquele anuncio com uma mistura de preocupação e de sofrimento conforme escreve São Paulo na Carta aos Coríntios: “Irmãos, eu vos exorto, pelo nome do Senhor nosso, Jesus Cristo, a que sejais todos concordes uns com os outros e não admitais divisões entre vós. Pelo contrário, sede bem unidos e concordes no pensar e no falar”. O pedido de Paulo continua sendo válido para nossas comunidades e para cada cristão em particular que consiste em redescobrir os fundamentos da fé e os compromissos assumidos no batismo. Paulo é categórico na afirmação: Cristo e somente ele é a fonte de salvação. A nossa fé não pode depender do carisma de uma ou de outra pessoa, desta ou daquela personalidade, deste ou daquele indivíduo. Só Jesus Cristo é a verdadeira luz no fim do túnel.
Neste sentido cabe uma pergunta para todos: que sentido faz os ciúmes, os conflitos, os partidos que existem em nossas comunidades? As rivalidades muitas vezes cultivadas entre grupos, movimentos, pastorais, e serviços em nossas comunidades são um sinal de que Jesus não é o centro de nossas ações, pelo contrário ali estão os interesses próprios de quem age para se autopromover. O cristão de verdade não precisa de incenso, de culto a sua própria personalidade ou ao seu grupo. Quando isso acontece falta para todos voltar o olhar para quem de fato merece: Jesus Cristo.
Peçamos a graça de realizar em nossa vida o que se reza no salmo:
O Senhor é minha luz e salvação;*
de quem eu terei medo?
Senhor é a proteção da minha vida;*
perante quem eu tremerei?
O Senhor é minha luz e salvação.
O Senhor é a proteção da minha vida”.



sábado, 18 de janeiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 19 DE JANEIRO DE 2020 - ANO A - 2º TEMPO COMUM


CONVIDADOS PARA SEREM TESTEMUNHAS

As exigências do mundo contemporâneo são cada vez mais desafiadoras e o sucesso de qualquer projeto depende de ações coletivas e de responsabilidades partilhadas. Assim cada vez mais é exigida capacidade de trabalhar em equipe, de somar forças e de agir no coletivo. Os grandes empreendimentos são marcados pelas ações de parceria e corresponsabilidade.
Pois  é exatamente sobre soma de forças, parcerias, responsabilidades partilhadas que tratam as leituras da Palavra de Deus neste domingo.  Compreendendo que Deus tem um projeto para a humanidade fica mais fácil admitir que todos são convidados a participar como testemunhas deste projeto.
Na sequência do último domingo o profeta Isaias fala de um Servo anônimo a quem Deus escolheu e enviou para levar sua boa notícia a todos os povos. Vivendo no meio do povo exilado o profeta não é apenas um sujeito, mas a comunidade inteira interpelada a se ajudar mutuamente de modo que possam retornar para a sua terra, aos seus costumes e se reconstituir como povo: “O Senhor me disse: 'Tu és o meu Servo, para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os remanescentes de Israel: eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até aos confins da terra”. Deus tem claro o que o povo precisa e sabe como fazer para que isso se realize, mas não abre de fazer com o seu povo uma parceria cuja finalidade é fazer sua ação chegar à terra inteira.
Paulo escreve aos coríntios e lhes faz lembrar que Ele mesmo foi chamado a ser Apóstolo, mas deixa claro que todos estão associados ao seu apostolado: Paulo, chamado a ser apóstolo de Jesus Cristo, por vontade de Deus, escrevo para a Igreja de Deus que está em corinto: aos que foram santificados em Cristo Jesus, chamados a serem santos junto com todos que, em qualquer lugar, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso. Para vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo”. A mensagem de Paulo serve para os cristãos de todos os tempos e de todos os lugares cuja missão continua hoje mais exigente: garantir para todos a paz da parte de Deus nosso Pai.
João apresenta Jesus Cristo como aquele que tira o pecado do mundo. Não se trata das inúmeras pequenas faltas do cotidiano ou acumuladas ao longo dos dias. Trata-se de do único e verdadeiro pecado da escravidão assumida pela condição humana quando Adão e Eva se recusaram a ouvir a voz de Deus.  O pecado é do mundo e está no mundo inteiro enquanto este recusa a luz e a vida que Jesus veio oferecer. Deus se propõe tirar este peso dos ombros de todos garantindo-lhes o acesso a vida plena que é transmitida no dom do Espírito Santo. Depois de afirmar que Jesus é o Cordeiro, João declara eu vi o Espírito Santo descer sobre ele: “João viu Jesus aproximar-se dele e disse: 'Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Dele é que eu disse: Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque existia antes de mim. Eu vi o Espírito descer, como uma pomba do céu, e permanecer sobre ele. Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus”.
A Palavra de Deus deste domingo deixa absolutamente claro que a salvação de Deus está destinada para toda a humanidade, e que por isso mesmo ninguém está destinado ao fracasso, ou a caminhar no escuro rumo a um beco sem saída, pelo contrário, é importante reconhecer Deus e sua mão em cada curva da estrada apontando o caminho para um novo céu e uma nova terra. Ou seja, uma nova realidade que pode ser melhor e mais solidamente construída com a colaboração e participação de todos. Mesmo quando parece que caminhamos à beira do abismo e que os obstáculos parecem intransponíveis é importante erguer os olhos e perceber a presença amorosa de Deus reascendendo a esperança em nossos corações e dando-nos a certeza de que juntos somos mais e caminhamos para um final de feliz.






quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 12 DE JANEIRO DE 2020 - BATISMO DO SENHOR - 1º DO TEMPO COMUM - ANO A


BATIZADO COM A MISSÃO DE SALVAR
Uma das coisas indispensáveis para qualquer empreendimento na atualidade é ter claro sua visão de mundo e sua missão diante da realidade que se descortina e na qual pretende intervir. Se multiplicam instituições e pessoas oferecendo serviços de consultoria e garantindo o sucesso e o retorno para qualquer investimento. Ora, a liturgia da Igreja nos apresenta ao longo do ano como Deus foi construindo o seu projeto de ação no mundo e quais as expectativas de retorno ao longo do tempo. Entre o natal e esse primeiro domingo do tempo comum a liturgia apresenta alguns momentos muito claros os quais podem ser chamados como visão e missão no mundo.
Começando com a Festa da Sagrada família, da Santa Mãe de Deus, da Epifania e do Batismo do Senhor. Pode-se afirmar sem medo que Deus tem uma visão do mundo construído em corresponsabilidade no qual todos se ajudam e interagem, como uma grande família. Na família não pode faltar alguém que ocupe e faça as funções maternas. O mundo é o lugar para se dar a conhecer com todas as fragilidades e potencialidades como se vê no domingo da epifania. E diante de tudo isso não resta outra atitude senão assumir a missão, que se dá por meio do batismo.
A Palavra de Deus deste domingo narra o processo de escolha e o batismo do Escolhido. O pano de fundo do cenário é o projeto salvador que Deus tem para a humanidade e para isso revela seu Filho amado e sua missão que consiste em salvar e libertar todas as pessoas. Assumindo a condição humana, o Filho partilhou todas as fragilidades que essa condição impõe, mas sua vida foi um empenho a toda prova para promover e recuperar a dignidade perdida garantindo que todos pudessem alcançar a plenitude da vida.
O profeta Isaias faz o anuncio da missão de um “Servo” que seria enviado para garantir a paz, o bem, a concórdia e a justiça sem fim. O enviado realizaria sua missão com humildade e simplicidade, sem recorrer ao poder e a força próprias da prepotência humanas: “'Eis o meu servo ele promoverá o julgamento das nações. Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas. Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra; os países distantes esperam seus ensinamentos. Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas”.
A profecia de Isaias se concretiza na pessoa de Jesus como se lê no Evangelho. Jesus se apresenta como o enviando do Pai, n’Ele repousa o Espírito Santo e sua missão consiste em realizar o que todos esperaram por centenas de anos. Caminhando ao lado dos fragilizados, dos sofredores e dos pecadores promoveu a reconciliação e a melhoria na qualidade de vida como se lê no texto de hoje: “Naquele tempo: Jesus veio da Galileia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João e ser batizado por ele. Depois de ser batizado, Jesus saiu logo da água. Então o céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e vindo pousar sobre ele. E do céu veio uma voz que dizia: 'Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado”. Obediente à missão que o Pai lhe confiou Ele refaz a comunhão entre Deus e a humanidade, da sua atividade resulta uma nova humanidade e um jeito novo das pessoas se relacionar.
Essa nova criação se concretiza nas palavras de São Pedro na segunda leitura: “De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença. Deus enviou sua palavra por meio de Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem”.
Ora, na condição de seguidores de Jesus, cada pessoa tem hoje a missão de dar testemunho de tudo aquilo que acredita de modo que a salvação de Deus chegue a todos os povos. A prova do nosso empenho e da nossa fé se realiza à medida que formos capazes de testemunhar com gestos de bondade e de misericórdia, vencendo a cobiça, a exploração, a solidão, o analfabetismo, a violência e todas as formas de sofrimento. Então sim, poderemos rezar como fez o salmista: “Eis a voz do Senhor sobre as águas, sua voz sobre as águas imensas! Eis a voz do Senhor com poder! Eis a voz do Senhor majestosa. Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!”.



sábado, 4 de janeiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 05 DE JANEIRO 2020 - DOMINGO DA EPIFANIA - ANO A


JUNTOS BUSCAMOS A VERDADEIRA LUZ

A queima de fogos de artifício na virada do ano reuniu por toda a parte multidões de pessoas que, independente de professar alguma religião, queriam celebrar a chegada do ano com todas as promessas e expectativas que este novo ciclo de tempo pode trazer para todos. Guardadas as proporções, o sonho de mudar de vida de uma hora para outra encheu as casas lotéricas para realizar as apostas da mega da virada e no dia primeiro de janeiro todos os noticiários se referiram aos acertadores das dezenas sorteadas com o adjetivo de “sortudos”. Esses dois fatos servem para ilustrar e ajudar melhor entender a Palavra de Deus neste domingo da Manifestação do Senhor.
Conhecido como domingo de Reis as celebrações deste dia na liturgia católica tem por objetivo apresentar a pessoa de Jesus ao mundo. A primeira novidade do fato se pode perceber na condição em que Ele nasceu: “Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judéia” isso significa não no centro da cidade de Jerusalém onde estavam concentrados todos os poderes do seu tempo. Belém por sua vez remetia ao Rei Davi que em outros tempos governou o povo de Israel com equidade e com justiça. Esse nascimento concretiza o que o profeta anuncia na primeira leitura: “Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor. Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti. Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora. Levanta os olhos ao redor e vê: todos se reuniram e vieram a ti; teus filhos vêm chegando de longe com tuas filhas, carregadas nos braços” Esta promessa tem a ver com a chegada de um novo tempo que transformará toda a realidade sofrida que o povo de Israel experimentava ao longo do tempo e para lá atrairia a atenção de todos os povos do mundo, neste caso representado pelos “magos do oriente”.
Mateus narra com detalhes no Evangelho a visita dos estrangeiros ao menino que acabava de nascer. Tal visita pode ser comparada às multidões que foram ver a queima dos fogos ou apostar na mega da virada. Os três personagens que vão ao encontro de Jesus estão alimentados pela esperança de encontrarem a salvação de Deus que não é restrita apenas aos poucos escolhidos de um determinado tempo e lugar. Em Jesus se concretiza a salvação de Deus extensiva a todos e que tinha sido rejeitada por alguns ao longo do tempo.
E São Paulo reafirma na carta aos Efésios que o projeto salvador de Deus é uma realidade que alcança toda a humanidade juntando as pessoas de todas as partes como uma única e verdadeira comunidade de irmãos a qual ele denomina “comunidade de Jesus”:Se ao menos soubésseis da graça que Deus me concedeu para realizar o seu plano a vosso respeito, e como, por revelação, tive conhecimento do mistério. Este mistério, Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas mas acaba de o revelar agora, pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas: os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho”.
Quanto aos cristãos que se reúnem hoje para celebrar a manifestação de Jesus cabe se perguntar com seriedade e honestidade: Como estamos recebendo o dom do amor de Deus? Como nos deixamos guiar e ser conduzidos pela luz de Jesus que veio para todos os povos. Em nossas comunidades criamos espaços para todos os que buscam a luz libertadora de Deus? Aqueles que trazem na sua vida a marca do fracasso, da dor e do sofrimento encontram em nossas comunidades acolhida, respeito e amor? As diferenças entre pessoas e raças são vistas como uma riqueza ou os tratamos com rejeição?
Os reis magos aparecem no Evangelho como pessoas dos sinais. Eles sabem reconhecer na estrela a verdadeira luz sinal da chegada da libertação definitiva. Quanto a nós, somos pessoas atentas aos sinais dos tempos e prontos para reconhecer a luz de Deus em nossas vidas?
Reunidos em assembleia de oração, vamos pedir que o Senhor realize em nós aquilo que o padre reza na oração inicial da missa: “Senhor Deus omnipotente, que neste dia revelastes o vosso Filho Unigénito aos magos guiados por uma estrela, concedei a nós que já Vos conhecemos pela fé contemplar face a face a vossa glória”.
Que não sejamos pessoas que apenas correm para ver a queima de fogos da virada ou a montanha de dinheiro na mega da virada, mas antes sejamos pessoas que caminham ao encontro do Cristo e que com ele acolhamos a todos formando a grande comunidade onde todos têm lugar.


terça-feira, 31 de dezembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 01 DE JANEIRO DE 2020 - MARIA MÃE DE DEUS - DIA MUNDIAL DA PAZ - ANO A


A PAZ COMO CAMINHO DE ESPERANÇA
Celebrar a Eucaristia neste primeiro dia do ano novo implica fazer, pelo menos, três considerações: A liturgia nos recorda Santa Maria Mãe de Deus; A pedido do Santo Papa Paulo VI, desde 1968, é celebrado nesta data o dia mundial da Paz e em terceiro lugar é o primeiro dia de um novo ano civil.
A figura de Maria, Mãe de Deus nos lembra a raiz da nossa condição humana e atualiza a nossa vocação: Como Maria todos somos chamados a dar nosso “Sim” ao projeto de Deus. A resposta de Maria garantiu que a humanidade pudesse conhecer a pessoa de Jesus e o seu projeto libertador. O dia Mundial da Paz, a cada ano, vem iluminado por uma mensagem do Papa. Neste ano Francisco recorda que o caminho da paz é sempre um caminho de esperança e que a paz como promessa de Deus se concretizou para o mundo com o nascimento de Jesus. Ora, para aqueles que creem no Cristo a paz não é um sonho distante, uma utopia, pelo contrário, a Paz que Ele nos trouxe é uma força que transforma a vida e a história humana. Ao iniciar um novo ano merece ser considerado por todos o esforço que a Igreja e tantas outras instituições realizam ao longo do tempo com a finalidade de promover uma boa convivência, um bom diálogo, e o verdadeiro bem comum.
Esta missão está clara também na Palavra de Deus. As três leituras são muito claras quando se trata de perceber a presença contínua de Deus na caminhada de todos: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz”
A carta de São Paulo aos Gálatas, escrita por ocasião de uma crise na comunidade facilita entender a razão fundamental para o nascimento de Jesus: “Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abá - ó Pai! Assim já não és mais escravo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro: tudo isso, por graça de Deus”. A atitude dos pastores indo ao encontro da Boa notícia que lhes fora transmitida pelo anjo mostra como a vinda do Senhor Jesus provoca alegria e felicidade plena convidando todos, sem exceção, a louvar a Deus e a testemunhar os sinais libertadores no meio do mundo: “Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido, conforme lhes tinha sido dito. E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam”.
De Maria a Mãe de Deus, que nos proporcionou o reencontro definitivo da criatura com o seu criador, precisamos aprender a sensibilidade de “guardar todas as coisas no coração”. Tal como Maria todos somos chamados, segundo o Papa Francisco a buscar de maneira apaixonada a paz como uma busca por estabelecer a verdade, a justiça e o diálogo colocando a família no centro de todas as atenções. Agindo desta maneira será possível perceber como a Paz será sempre um caminho de Esperança!


sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 29 DE DEZEMBRO DE 2019 - SAGRADA FAMÍLIA - ANO A


RESPEITAR OS PAIS NOS FILHOS E
NELES ACOLHER DEUS E SUA PALAVRA
Poucas realidades humanas são tão significativas e tocam de maneira tão profunda e extraordinária a vida inteira das pessoas quanto a relação daqueles que se unem por laços familiares. E por maiores que sejam as dificuldades e diferenças entre os membros de uma mesma família a unidade e a comunhão entres seus membros se fortalece nas horas das dificuldades e das provações.  As leituras da Palavra de Deus previstas para esse domingo da Sagrada Família ajudam a compreender as responsabilidades de cada pessoa e fortalecer os laços de comunhão precisamente quando nem sempre conseguimos entender a razão para determinados acontecimentos. As três leituras podem ser entendidas como uma série de lições práticas para que as famílias possam ser sempre mais felizes apesar das dificuldades.
O texto do Eclesiástico apresenta uma forma objetiva e sem rodeios para provar que se ama alguém: “Quem respeita a sua mãe é como alguém que ajunta tesouros. Quem honra o seu pai, terá alegria com seus próprios filhos; e, no dia em que orar, será atendido. Quem respeita o seu pai, terá vida longa, e quem obedece ao pai é o consolo da sua mãe. Meu filho, ampara o teu pai na velhice e não lhe causes desgosto enquanto ele vive. Mesmo que ele esteja perdendo a lucidez, procura ser compreensivo para com ele; não o humilhes, em nenhum dos dias de sua vida, a caridade feita a teu pai não será esquecida”.
Já a segunda leitura valoriza o amor que brota daqueles que aceitam e reconhecem Jesus Cristo como seu único Senhor: “Vós sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos. Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai vós também. Mas, sobretudo, amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição. Que a paz de Cristo reine em vossos corações, à qual fostes chamados como membros de um só corpo. Tudo o que fizerdes, em palavras ou obras, seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo. Por meio dele dai graças a Deus, o Pai”.
Mateus contando passagens da infância de Jesus apresenta o comportamento de uma família exemplar. Dentre os traços que merecem destaque estão a solidariedade entre os membros e a confiança nos caminhos da vida que são lidos à luz da proposta de Deus. Diante de todas as dificuldades que a família de Nazaré enfrentou a comunhão e a solidariedade entre de todos garantiu soluções razoáveis para não se deixar abater pelo desânimo. Pelo contrário, mantiveram a união e fortaleceram a responsabilidade com a defesa da vida vendo todas as alternativas como guiadas pela mão de Deus: “Anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse... Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito... Por isso, depois de receber um aviso em sonho”.  Nesta celebração da Sagrada Família peçamos também nós a clareza e a compreensão da mão de Deus estendida em todas as dificuldades que a vida sempre nos apresenta.



HOMILIA PARA O DIA 25 DE DEZEMBRO MISSA DO DIA DE NATAL 2019 - ANO A


UM MENSAGEIRO QUE FALA COM AUTORIDADE

Ano após ano, a liturgia da Igreja nos insere no mistério do Natal do Senhor. Já temos suficiente clareza que não se trata da simples comemoração de “mais um aniversário de Jesus”. Celebrar a solenidade do natal consiste em compreender a salvação de Deus que se repete no HOJE da história de cada pessoa e da cada comunidade. A celebração festiva da memória de Deus que assume a natureza humana é a confirmação do amor incondicional de Deus que tem por objetivo mudar a nossa sorte como se lê na primeira leitura: Alegrai-vos e exultai ao mesmo tempo o Senhor consolou seu povo e resgatou Jerusalém. O Senhor desnudou seu santo braço aos olhos de todas as nações; todos os confins da terra hão de ver a salvação que vem do nosso Deus”. Isso significa que Deus não nos deixa percorrer sozinhos os caminhos do sofrimento, mas que Ele mesmo nos envia um mensageiro que com autoridade põe luz nas trevas da vida.
A Palavra que existia desde o princípio se concretiza no “menino de Belém”, n’Ele é Deus que vem ao encontro de todos com a ternura de quem tudo fez e acompanha desde o princípio: “No princípio estava ela com Deus. Tudo foi feito por ela e sem ela nada se fez de tudo que foi feito. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas. A Palavra estava no mundo, veio para o que era seu e deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus. E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória”.
Uma vez beneficiados pela força desta Palavra resta-nos dar uma resposta corajosa, autentica e comprometida como prova do nosso amor para com Ele que nos amou primeiro convencidos que essa vida é apenas passageira e que, portanto, nossas obras devem provar nossa identificação com o Senhor descrito na carta aos Hebreus: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho, a quem ele constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também ele criou o universo. Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele sustenta o universo com o poder de sua palavra. Tendo feito a purificação dos pecados, ele sentou-se à direita da majestade divina, nas alturas”.
Que o natal nos estimule a tornar realidade o Reino de Deus e a não compactuar com a injustiça, a guerra, a violência, a indiferença, mas antes nos faça sentir responsáveis por relações de fraternidade e de bem querer onde todos tenham lugar. Então sim, poderemos cantar com o salmista: “Os confins do universo contemplaram da salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, alegrai-vos e exultai! Cantai salmos ao Senhor ao som da harpa e da cítara suave! Aclamai, com os clarins e as trombetas, ao Senhor, o nosso Rei”.