segunda-feira, 22 de agosto de 2022

 ALEGRIA NA PRESENÇA DO SENHOR

Expressões do tipo: Vencer na vida, crescer na vida, ser alguém na vida, e outras com essa conotação são frequentemente usadas em todas as esferas das relações humanas. Poucas vezes nos perguntamos qual é mesmo o significado dessa expressão, em que sentido se aplica cada um desses verbos. Talvez fosse melhor substituir os três verbos por “desenvolver”, este sim no sentido de empregar as energias e o melhor da vida na construção da paz, do afeto, do crescimento do corpo e da alma, do contrário pode até crescer, vencer e ser alguém na vida, mas ser dono de uma vida vazia e sem sentido, que é a crítica feita pela Palavra de Deus deste domingo.

O sábio da primeira leitura apresenta a virtude da humildade como caminho para o êxito e a felicidade: “Filho, realiza teus trabalhos com mansidão e serás amado mais do que um homem generoso. 20Na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor. Muitos são altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que ele revela seus mistérios. 21Pois grande é o poder do Senhor, mas ele é glorificado pelos humildes”.

Para este sábio a humildade é a qualidade fundamental que uma pessoa precisa perseguir ao longo de toda vida, nesta virtude reside o segredo para “vencer, crescer e ser alguém”. Em outras palavras implica colocar tudo o que se tem e sabe a serviço de todos. Humildade não é sinônimo de alguém que não tem qualidades e competências, mas daquele que reconhece a importância da sua contribuição para o êxito e a felicidade de todos.

A carta aos Hebreus convida os destinatários a redescobrir a novidade do cristianismo: “Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste; da reunião festiva de milhões de anjos; da assembleia dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus; de Deus, o Juiz de todos; dos espíritos dos justos, que chegaram à perfeição; de Jesus, mediador da nova aliança”.

Para encontrar o Deus verdadeiro é indispensável cultivar a humildade e a simplicidade, o anor que se faz dom. Para quem sabe o que procurar não há o que temer. Pelo batismo todos fomos associados a Deus cuja bondade nos fez coo-herdeiros do Reino do qual Jesus Cristo nos concedeu participar.

Sentado à mesa para a refeição na casa do fariseu Jesus aponta, por meio de uma comparação, como é possível “ser alguém na vida” mediante a prática da humildade. Em lugar de colocar-se antes e acima de todos, de ostentar os saberes e competências que julga uma pessoa julga possuir Jesus reforça o seu ensinamento que consiste em viver na humildade. Nessa virtude reside toda a grandeza que ninguém poderá tirar ou menosprezar: “Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos”. Todas as vezes que alguém coloca em primeiro plano as suas próprias qualidades acaba por ofuscar aquilo que verdadeiramente importa. No banquete do Reino não há lugar para esnobar e se considerar melhor ou mais importante, antes é na gratuidade e no amor desinteressado que reside a vitória na vida.

Somos sempre desafiados e fazer valer aqui os valores da fraternidade, da comunhão, da partilha, do serviço. Que aliás Jesus mandou que fizéssemos em sua memória. No banquete do Reino não há espaço para atitudes de orgulho e superioridade, honrarias, privilégios.

Como se reza no salmo: “Os justos se alegram na presença do Senhor, / rejubilam satisfeitos e exultam de alegria! Dos órfãos ele é pai, e das viúvas protetor:/ é assim o nosso Deus em sua santa habitação./ É o Senhor quem dá abrigo, dá um lar aos deserdados,/ quem liberta os prisioneiros e os sacia com fartura.

— Derramastes lá do alto uma chuva generosa,/ e vossa terra, vossa herança, já cansada, renovastes;/ e ali vosso rebanho encontrou sua morada;/ com carinho preparastes essa terra para o pobre.



 

terça-feira, 16 de agosto de 2022

HOMILIA PARA O DIA 21 DE AGOSTO DE 2022 - ASSUNÇÃO DE MARIA - ANO C

 

ESCUTAR, VER E OLHAR

A liturgia da Igreja celebra hoje a solenidade da Assunção de Maria ao céu.  A primeira observação que precisa ser feito em relação a Maria, é o fato de ela ter sido escolhida para ser a Mãe de Jesus! Em Maria tudo se refere a Cristo! Dentre as inúmeras representações da figura de Maria disponíveis para veneração uma delas é o quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

Notemos nesse quadro que Maria tem seu olhar voltado para nós, como quem fala pelo olhar, e sua mão direita segurando as mãos de Jesus tendo os dedos apontados para o menino. Com esse gesto Maria nos pede que olhemos para Jesus, Ele é o nosso Perpétuo Socorro!

Essas recomendações de Maria nos fazem celebrar com mais entusiasmo e confiança o título que damos a Maria: Nossa Senhora Assunta ao céu! Cuja verdade podemos ver nas três leituras desse domingo.

O apocalipse descreve com estas palavras: Abriu-se o Templo de Deus que está no céu e apareceu no Templo a Arca da Aliança. Então apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas”.

Desde muito cedo a Igreja entendeu que essa linguagem se referia a Maria Mãe de Jesus que muito mais tarde foi declarada como elevada aos céus e reconhecida Rainha do Universo.

Com a mesma ceteza São Paulo escreve aos coríntios: “Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada: Em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda”.

Naturalmente que se tem alguém que pertence a Cristo é sua mãe, aquela que disse: “Faça-se em mim segundo a sua palavra”; e depois “Façam tudo o que ele lhes disser”!

Maria que nunca receou estar perto das necessidades de todos, começou logo cedo com a visita a Isabel de quem recebeu o título: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. E como em todas as demais ocasiões na história Maria continua repetindo o que cantou no magnificat: “O seu nome é santo, e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”.

Peçamos a graça também nós de imitar Maria e dizer sim a Deus! Não tenhamos medo de cantar com o salmista:

À vossa direita se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de Ofir.

— À vossa direita se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de Ofir.

— As filhas de reis vêm ao vosso encontro,/ e à vossa direita se encontra a rainha/ com veste esplendente de ouro de Ofir.

— Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto:/ “Esquecei vosso povo e a casa paterna!/ Que o Rei se encante com vossa beleza!/ Prestai-lhe homenagem: é vosso Senhor!

— Entre cantos de festa e com grande alegria,/ ingressam, então, no palácio real”.

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

HOMILIA PARA O DIA 14 DE AGOSTO DE 2022 - 20º DO TEMPO COMUM - ANO C

 

SOCORREI-NOS Ó SENHOR, VINDE LOGO EM NOSSO AUXÍLIO

Não poucas vezes nos deparamos com situações que identificamos com a expressão: “entre a cruz e a espada” para significar que se trata de decisões difíceis e que precisam discernimento e coragem. Também o evangelista Lucas apresenta a missão de Jesus como um caminho difícil e exigente, mas que Ele percorre com determinação mesmo sabendo do sofrimento e da cruz que lhe esperam em Jerusalém, porém confiante na vitória da ressurreição. É nesse contexto que Jesus usas os ditados populares do Evangelho desse domingo.

Na mesma direção de Jesus as duas leituras proclamadas também têm por objetivo nos ajudar a perceber as exigências da missão que Deus confia a cada um de nós. A construção de um “novo céu e uma nova terra” é para nós uma tarefa profética, radical e exigente.

Jeremias é um profeta corajoso e não espera ter popularidade e ser aplaudido, pelo contrário para dar conta da missão que lhe foi confiada se mantem firme na verdade e na coerência ao chamado que havia recebido: “arrancar e destruir, arruinar e demolir”, obviamente que se trata de agir dessa maneira com todas as situações contrárias aos projetos de vida plena e que estavam instalados na sociedade do seu tempo.

Sem pensar no seu próprio bem-estar, nem muito menos no seu êxito profissional serve de exemplo e foi imitado por muitas pessoas ao longo da história. Vale lembrar as lutas de Martin Luther King, Gandhi, Dom Oscar Romero, Madre Paulina, Santa Dulce dos Pobres e tantos anônimos do nosso convívio a quem muitas vezes chamamos de santo.

A carta aos Hebreus é dirigida a cristãos que estavam vivendo situação muito difícil, expostos ao desânimo e ao desalento em diversos aspectos da vida. Neste contexto o autor da carta lhes apresenta uma mensagem encorajadora: “Irmãos: Rodeados como estamos por tamanha multidão de testemunhas, deixemos de lado o que nos pesa e o pecado que nos envolve. Empenhemo-nos com perseverança no combate que nos é proposto, com os olhos fixos em Jesus, que em nós começa e completa a obra da fé. Em vista da alegria que lhe foi proposta, suportou a cruz, não se importando com a infâmia, e assentou-se à direita do trono de Deus”.

O texto deixa absolutamente claro que a vida cristã é um caminho duro e exigente, nesta tarefa não valem meias palavras, o cristão que compreende a radicalidade da sua missão vive no seu dia a dia as máximas que Jesus pronunciou no evangelho.

Lucas começa o Evangelho definindo a tarefa de Jesus: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso”. Naturalmente que se trata de uma metáfora sobre o poder do fogo, que neste caso significa queimar e fazer cessar o egoísmo, a escravidão, o pecado, e toda forma de desvalorização da vida e a partir desse “fogo” renasça um mundo marcado pela proposta do Reino. Essa tarefa de Jesus causará divisão, incompreensão e oposição de muitos e que Jesus afirma que pode acontecer até entre os membros da própria família.

Fica certo nesse texto que a ação e a vida de Jesus têm como objetivo a construção de um mundo novo, ele não está preocupado com uma imagem de paz que se constrói com relações de servidão e de medo. Para Jesus não serve um faz de conta, é preciso ter a coragem dos profetas de outrora.

Muitas vezes nos conformamos com uma ‘paz de cemitério’ onde ninguém fala, ninguém ouve e ninguém vê. A proposta de Jesus não cabe num contexto de indiferença para com os sofrimentos de tantas pessoas. A Igreja e os cristãos contemporâneos não podem viver um evangelho do faz de conta. Certamente é bom que nos perguntemos quais são os desafios que precisamos vencer, ou seja qual a intensidade do fogo que precisamos para ser coerente com a fé que professamos.

Rezemos confiantes como fizemos no salmo:Socorrei-me, ó Senhor, vinde logo em meu auxílio” e não nos deixemos abater pelas adversidades do cotidiano.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

HOMILIA PARA O DIA 07 DE AGOSTO DE 2022 - 19º COMUM - ANO C

 

NO SENHOR NÓS ESPERAMOS CONFIANTES

Dentre as conversas cotidianas entre os pais uma delas diz respeito às preocupações com os filhos. E invariavelmente vem a bala a questão do cuidado e da vigilância, seja a que os pais tem em relação a eles, seja no que se refere às recomendações que os genitores fazem aos filhos sobre todos os detalhes da vida.

Pois a questão da vigilância é o que está no centro da liturgia da Palavra desse domingo. Quem quer andar seguro pelas estradas da vida está sempre alerta, procura ler, enxergar e escutar os sinais dos tempos que também são reconhecidos como sinais de Deus!

O livro da sabedoria deixa claro duas coisas simples e objetivas: estar atento para o que é realmente importante e o que é sombra de uma falsa segurança: “A noite da libertação fora predita a nossos pais, para que, sabendo a que juramento tinham dado crédito, se conservassem intrépidos. Ela foi esperada por teu povo, como salvação para os justos e como perdição para os inimigos”.

A vigilância que o autor do livro da sabedoria sugere implica ter clareza sobre as próprias convicções, sobre o sentido da própria vida e para onde se pretende caminhar.

Abraão e Sara são tomados na Carta aos Hebreus como pessoas empenhadas em responder aos desafios que a vida lhes apresenta e por isso são colocados como modelos para os cristãos em todos os tempos: Irmãos: A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem”.

Imitar o exemplo dos patriarcas é uma maneira de estar vigilantes e confiantes na realização de todas as promessas: “Foi a fé que valeu aos antepassados um bom testemunho. Foi pela fé que Abraão obedeceu à ordem de partir para uma terra que devia receber como herança, e partiu, sem saber para onde ia”.

Nossa vida, embora marcada pela finitude não nos dá o direito de desanimar e desistir, pelo contrário, como pessoas de fé somos movidos pela esperança!

Nas duas parábolas e na comparação que Jesus faz entre o trabalhador e o trabalho fica mais do que claro que em todas as épocas e todas as pessoas são chamadas a reconhecer nos sinais dos tempos o Senhor que nos encontra e nos insere na dinâmica da comunhão e da missão: Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas”. 

Assumir a condução da vida com todas as responsabilidades daí decorrentes implica desempenhar com firmeza e serenidade a missão recebida colocando-se sempre como gente obediente e humilde, ao mesmo tempo atencioso com as necessidades de todos particularmente os pobres de todas as maneiras que normalmente não encontram guarida, acolhida e apoio para suas demandas e necessidades!

Afinal de contas deve ficar claro para todos, especialmente para os nós cristãos: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido”. Por isso rezamos com firmeza: “No Senhor nós esperamos confiantes, / porque ele é nosso auxílio e proteção! / Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, / da mesma forma que em vós nós esperamos”.

terça-feira, 26 de julho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 31 DE JULHO DE 2022 - 18º COMUM - ANO C

 

DAI AO NOSSO CORAÇÃO, SABEDORIA!

Algumas realidades cotidianas são muito simples e nos dão a ilusão de extraordinárias. Um dos exemplos é a diferença entre a janela e o espelho. A primeira por sua transparência permite que se veja o mundo exterior com a clareza que ele tem. Se uma fina camada de prata for aplicada no lado externo do vidro a gente só consegue enxergar a si mesmo e corre o risco de realizar consigo o mito de Narciso que morreu de sede admirando a própria beleza espelhada no fundo da água.

Em nosso cotidiano não são poucas as vezes que nos iludimos admirando e supervalorizando as próprias conquistas, realizações, feitos extraordinários e até riquezas acumuladas e que muitas vezes anoitecem e não amanhecem. São comparados a riscos na camada de prata do espelho, impedem de enxergar as próprias realizações e não permitem de ver para além do próprio reflexo.

No Evangelho desse domingo temos duas lições para ser aprendidas e que mostram como as riquezas acumuladas se comparam ao espelho. No primeiro caso é um fato real que trata da divisão de bens entre irmãos herdeiros. No segundo caso é uma parábola sobre a insensatez de quem gasta todas as forças para acumular tesouros que desaparecem tão rápido como chegam: “E disse Jesus: Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens... louco! Ainda esta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste? ’ Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus”. Nos dois casos o que estava em jogo era o apego excessivo aos bens materiais que em nenhuma situação respondem as mais profundas necessidades humanas! Quando temos nossa preocupação centrada nessas coisas que podem desaparecer rapidamente construímos deuses que desumanizam, ou seja passamos uma fina camada de prata na janela de nossa vida, transformando-a num falso espelho de felicidade. Sempre que agimos assim não temos escrúpulo de explorar, escravizar, cometer injustiças contra quem quer que seja tudo em nome de “ampliar a própria riqueza”.

O livro do Eclesiastes, de onde é tirada a primeira leitura desse domingo é todo ele uma crítica à maneira tola de viver a vida cuja existência termina num piscar de olhos: “Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade”. Por exemplo: um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso, vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou. Também isso é vaidade e grande desgraça”. As constatações do autor desse livro se assemelham às afirmações dos filósofos existencialistas modernos quando afirmam que a vida humana não tem nenhum sentido na medida em que a pessoa vive pensando só na efêmera realidade terrestre.

Para onde vai a nossa vida, se não tiver o horizonte em Deus? Ele é a única razão a qual se pode ver mediante a janela da nossa existência terrena. Daí sim tem razão o salmo que rezamos: “Ensinai-nos a contar os nossos dias, / e dai ao nosso coração sabedoria! / Senhor, voltai-vos! Até quando tardareis? / Tende piedade e compaixão de vossos servos”

Na segunda leitura São Paulo faz um convite para que todos nos identifiquemos com Cristo e deixemos os ‘deuses’ que construímos através do espelho das nossas falsas seguranças: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus”.

Peçamos a graça de nunca cruzar os braços e nos iludir fazendo de conta que não precisamos enxergar além das nossas próprias seguranças. É certo que elas são efêmeras e apenas espelham a própria fragilidade. Façamos de nossa vida o que cantamos no salmo de hoje:

Vós fostes, ó Senhor, um refúgio para nós.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 24 DE JULHO DE 2022 - 17º COMUM - ANO C

 

VENHA A NÓS O SEU REINO

Dentre as historietas que minha mãe contava sobre o poder da oração, uma delas era aquela do “menino que viu na parede de casa uma imagem do crucificado e impressionado com o estado deplorável da figura perguntou ao seu pai: “Porque ele está tão triste? Ele está com fome? E o pai respondeu sim, ele está com fome. E o que ele come, perguntou o garoto! Disse-lhe o pai ele se alimenta de reza ele é santo. Então o garoto se lembrou das várias orações que tinha aprendido na catequese e se propôs a alimentar aquela pobre criatura com as suas rezas.

Ora a Palavra de Deus desse domingo é uma catequese sobre o poder e o conteúdo da oração. Abraão e Jesus no são apresentado como modelos de atitude que devemos ter em nossa relação com Deus.

Abraão mantém um diálogo frente a frente com Deus. Ousado, confiante, irreverente apresenta as suas inquietações, suas dúvidas e se mostra aberto para entender e aceitar a vontade de Deus. O núcleo central da oração de Abraão quer nos fazer entender o peso do justo e o peso do pecador diante de Deus: “Abraão disse: “Que o meu Senhor não se irrite, se eu falar só mais uma vez: e se houvesse apenas dez? ” Ele respondeu: “Por causa dos dez, não a destruiria”.

A contagem decrescente do número de justos coloca em destaque a misericórdia e a justiça de Deus e leva a concluir que a vontade de salvar é muito maior que a vontade de perder. Em resumo Deus perdoa sempre, e não por causa do número e do merecimento de uns e de outros.

A oração de Abraão nos ensina que no diálogo com Deus o que conta não é uma repetição de palavras ocas, repetidas como se fosse um papagaio. Nem se trata de uma porção de rezas para alimentar um Deus que se alimenta das nossas orações. Antes, trata-se de um diálogo sincero que coloca nas mãos e no coração de Deus as mais profundas necessidades humanas.

Lucas é o evangelista da oração e coloca Jesus em oração com o Pai todas as vezes que Ele está diante de alguma grande decisão na sua vida. O Evangelho de hoje nos coloca na escola de oração de Jesus, a qual se assemelha à de Abraão. Não se trata de repetir palavras, em Jesus somos convidados a descobrir que Deus é Pai. Quando se trata da oração confiante ao Pai, nos vem aquela afirmação de uma corrente da psicologia familiar que afirma: “Um bom pai não é aquele que dá tudo o que filho pede, mas tudo o que filho precisa”.

Também nós, muitas vezes queremos muitas coisas, mas Deus sabe nos dar tudo aquilo que necessitamos. O alimento da nossa oração mostra um diálogo que vale a pena e que nos leva a apresentar ao Pai uma prece por todos os crucificados do nosso tempo. Iríamos longe na lista dos crucificados pela fome, violência, desemprego, humilhação, e assim por diante.

Nos dirigindo a Deus que é Pai, não apenas se parece ou se compara com um Pai, a oração que Jesus nos ensina leva a considerar duas coisas na conversa com Deus: A forma e o assunto! Mas o aspecto que merece mais atenção é o fato de Jesus ter aconselhado os seus discípulos a reconhecer que Deus é Pai!

São Paulo aos colossenses volta a afirmar que Cristo deve ser colocado como referência fundamental para a nossa vida e que só ele é absolutamente necessário para a nossa salvação. Obviamente que também no que se refere as nossas práticas de piedade e a nosso jeito de rezar, seja na frequência seja na forma.

Reconhecer que Deus é Pai e estabelecer com Ele um diálogo franco, aberto, respeitoso e ousado, que é muito mais do que alimentar a Deus com as orações que aprendemos na catequese.

Nossos antepassados, colonos que desbravaram essas terras e nos deram instrumentos para construir a próspera Itajaí e nos fez passar de ‘Patinho Feio a príncipes encantados’ também nos ensinaram muitas orações que mais do que repetição de palavras consistiam em diálogo franco, sincero e ousado do Deus Pai, por meio de Jesus e de sua mãe Maria.

  Tal como o Pai nosso, é a oração do salmista que fazemos como sendo a nossa oração nesse domingo.

 

segunda-feira, 11 de julho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 17 DE JULHO DE 2022 - 16º COMUM - ANO C

 A ARTE DE SABER ACOLHER

O tempo de isolamento social que nos foi imposto pela pandemia nos pegou de surpresa no meio da correria cotidiana e parecia que iria servir para a frear a agitação e a farsa necessidade de correr atrás do tempo. Terminados os dois anos retomamos a vida com a mesma velocidade estonteante. Continuam as imprudências no trânsito, o final do dia nos deixa derrubados pelo cansaço, não temos tempo para a família, fazemos as refeições às pressas com os nervos à flor da pele quando a internet não alcança a velocidade contratada. Não somos capazes de digerir a paciência com que algumas pessoas encaram a vida. Nesse contexto podemos nos perguntar qual seria nossa disponibilidade para sentar aos pés de Jesus!

Uma leitura desatenta do Evangelho desse domingo nos levaria a colocar em oposição a vida ativa e a vida de oração. No entanto parece claro que a narrativa das duas irmãs sugere outra coisa que significa dar tempo para escutar a Palavra de Jesus como ponto de partida para o serviço, para a ação e para o trabalho de acolhida e comprometimento com as pessoas e suas necessidades.

A resposta de Jesus: Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” significa reconhecer a preciosidade da sua presença, a necessidade de frear nossa corrida contra o tempo e permitir que a Palavra d’Ele seja luz em nosso caminho e força em nossas ações. Estar com Jesus não é mesma coisa que conhecer doutrinas e teorias, mas alimentar-se da essência da vida e então colocar-se na estrada da doação e do serviço às pessoas e ao mundo.

“Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas”. A advertência que Jesus faz para a irmã atarefada não tem o objetivo de dizer que as ações cotidianas não são importantes e necessárias, mas ao mesmo tempo não podem sufocar e impedir a escuta da Palavra! O que Maria tem para nos ensinar significa estar atentos à Palavra e que a partir dela nosso cotidiano ganha novas razões para viver.

Deixemo-nos transformar pelo Mestre, ouvindo e praticando sua Palavra, pondo-nos no mesmo caminho que o dele. Aos seus pés e ouvindo sua Palavra, encontraremos todo o necessário para que nossa vida ganhe sentido aqui e se torne plena no seio de Deus.

O autor do livro do Gênesis, serve-se de uma antiga lenda para mostrar Abrão como um homem íntegro, justo, misericordioso e acolhedor. Abraão deixando suas ocupações corriqueiras dá ouvidos aos estranhos visitantes a quem depois de lhes acolher e ouvir coloca-se a servi-los e recebe como recompensa a realização da promessa que Deus lhe havia feito: “Voltarei, sem falta, no ano que vem, por este tempo, e Sara, tua mulher, já terá um filho”.

A carta aos Colossenses apresenta Paulo igualmente como um homem que colocou como referência fundamental para sua vida Jesus Cristo e sua Palavra: Alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar em minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo, em solidariedade com o seu corpo, isto é, a Igreja. A ela eu sirvo, exercendo o cargo que Deus me confiou de vos transmitir a palavra de Deus em sua plenitude: o mistério escondido por séculos e gerações, mas agora revelado aos seus santos. A estes Deus quis manifestar como é rico e glorioso entre as nações este mistério: a presença de Cristo em vós, a esperança da glória”.

O convite que Paulo faz para a comunidade de Colosso é extensivo a cada um de nós e se assemelha ao convite que Jesus fez a Marta: “Maria escolheu a melhor parte e essa não lhe será tirada”.

Certamente podemos nos perguntar como cristãos e como Igreja como são acolhidas as pessoas em nossas comunidades e famílias, nas repartições públicas, nos hospitais e escolas.

Rezemos e peçamos a graça de compreender e nos colocar abertos à Palavra e aos ensinamentos para então servir melhor!

 



 

segunda-feira, 4 de julho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 10 DE JULHO DE 2022 - 15º COMUM - ANO C

 

FAZER-SE PRÓXIMO PARA GANHAR O REINO

Está à disposição na rede mundial de computadores um pequeno livro que se chama “O Segredo Judaico de resolução de problemas”, o livro descreve que “Ao longo da história, o povo judeu experimentou inúmeras situações de ameaça à sobrevivência, tanto do ponto de vista individual como coletivo. A soma das experiências acumuladas em séculos de ensinamentos resultou em uma visão única do mundo, batizada de "cabeça de judeu". Em poucas palavras o autor afirma que um Judeu nunca responde às suas indagações, mas sempre lhe devolve uma nova pergunta.

Isso é o que se lê no Evangelho desse domingo, quando o doutor da lei faz perguntas para colocar Jesus a prova. Jesus não lhe responde, mas lhe devolve perguntas forçando o interlocutor a tomar uma atitude em relação à própria indagação.

Jesus deixa claro que não se trata de perguntar quem merece ou deixa de merecer esta ou aquela atitude, antes deixa clara a conclusão para dizer que é importante não ficar preocupado sobre quem é o meu próximo, mas aproximar-se da pessoa que necessita.

Na parábola estão 4 personagens, dois deles fiéis cumpridores da lei de Moisés e das normas e leis da religião. De modo muito claro Jesus faz uma crítica aqueles que conhecem a lei, mas não percebem as pessoas necessitadas que estão próximas e à margem da lei e das normas. Religião que honra Deus com palavras, mas não tem um coração compassivo não é uma religião que agrada a Deus.

Também na atualidade, as vítimas da violência e da marginalização, da exclusão e do desprezo estão por todos os lados. Ainda que a solução não seja tão simples e que nem sempre está ao nosso alcance não é correto nos fazer de indiferentes, não é uma atitude cristã fechar os olhos diante do sofrimento e abandono em que vivem tantas pessoas. A verdadeira religião deve nos fazer sentir a dor do outro!

O que Jesus propõe no Evangelho não é outra coisa senão a atualização do texto do Deuteronômio que está na primeira leitura. Lá o autor fala de amar a Deus com todo o coração e cumprindo os seus mandamentos: “Moisés falou ao povo, dizendo: Ouve a voz do Senhor, teu Deus, e observa todos os seus mandamentos e preceitos, que estão escritos nesta lei. Converte-te para o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma”.

São Paulo descreve a figura de Cristo: “Cristo é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois, por causa dele, foram criadas todas as coisas, no céu e na terra, as visíveis e as invisíveis, tronos e dominações, soberanias e poderes. Tudo foi criado por meio dele e para ele! ”

Se acreditamos que Ele é o centro de nossa vida e a partir de quem tudo se realiza, não resta dúvida que nossa única atitude será a de quem escuta e coloca em prática os seus Conselhos: ”Vá você e faça a mesma coisa”!

Quem se dispõe a isso pode cantar com o salmista:

“Os preceitos do Senhor são precisos, alegria ao coração”.

 


sexta-feira, 1 de julho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 03 DE JULHO DE 2022 - SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO - ANO C

 

PERDOAR E ACOLHER

O Evangelho deste domingo é uma conversa amigável entre Jesus e seus discípulos que se conclui com uma pergunta fundamental: “Para Vocês quem sou eu? ” Notemos que a conversa acontece numa região estranha tanto para Jesus quanto dos habitantes em relação a pessoa d’Ele. Fazendo a pergunta crucial Jesus deixa claro que espera dos discípulos uma resposta que brote das suas convicções e não apenas de uma pesquisa de opinião. E toda a conversa se conclui com uma tarefa confiada a Pedro e naturalmente a todos os discípulos: “Eu lhe darei as chaves do Reino dos céus: Tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”. Receber as chaves implica ter a responsabilidade de comunicar o perdão e a reconciliação abrindo as portas para que as pessoas tenham acesso ao Reino de Deus.  

Nesse contexto a Igreja recorda São Pedro e São Paulo, sobre quem os escritos do Novo Testamento permitem reconstruir sua trajetória de vida. Trata-se de duas pessoas apaixonadas por Jesus e por seu projeto. Por força da sua paixão não tiveram medo de enfrentar todas as provações que sua convicção lhes impunha. A liturgia afirma que regaram com seu sangue o terreno onde foi plantada a Igreja.

A pergunta feita por Jesus aos discípulos ecoa em nossos ouvidos e espera de nós uma resposta que implica na atitude de quem está disposto a segui-lo. Ter as chaves significa continuar a missão de Jesus. Ora, no dia do nosso batismo cada um recebeu também as chaves quando o ministro disse: “Você foi batizado para ser Sinal de Jesus Cristo Sacerdote, profeta e pastor”       

Imitar o exemplo dos apóstolos Pedro e Paulo e tantos outros homens e mulheres ao longo da história é muito mais do que emitir uma opinião sobre Jesus, trata-se de um modo de vida. Tal como Pedro a quem Jesus chamou de feliz por ter dado o seu testemunho, também cada um de nós poderá experimentar a mesma felicidade se tivermos a coragem de nos comprometer com Jesus e o seu projeto que nos desafia a caminhar juntos, acolher, perdoar, abrir as portas. Aprendamos com o Papa Francisco quando afirma: “A Igreja não é uma alfândega pastoral” conforme escreveu nessa semana: “Sonho com uma Igreja missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes da Igreja, os modos de fazer as coisas, os tempos e horários, a linguagem e as estruturas sejam evangelizadoras do mundo de hoje. Que a Igreja seja um lugar onde todos possam estar sentados na Ceia do Cordeiro e viver a comunhão com Ele. Abandonemos as polêmicas para ouvirmos o que o Espírito diz a Igreja, mantenhamos a comunhão”.

Nesse contexto rezemos hoje pelo Papa, sucessor de Pedro no cuidado com a Igreja e sejamos solícitos aos seus ensinamentos. Aprendamos com a história da Igreja e com tantas pessoas que respeitaram e amaram os papas e seus ensinamentos. Tal como afirmar o padre Dheon: “Para mim, O Papa é como o Cristo na terra. Devo honrá-lo, amá-lo, obedecer-lhe... os amigos do Coração de Jesus são amigos de Pedro”.

 


sexta-feira, 24 de junho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 26 DE JUNHO DE 2022 - 13º COMUM - ANO C

 

DISPONIBILIDADE PARA CAMINHAR COM JESUS

Se tem uma coisa importante na vida de uma pessoa é se sentir valorizada e útil dentro das suas habilidades e competências. A Palavra de Deus nesse domingo apresenta mais uma vez o convite feito ao longo da história para as pessoas participarem do projeto de construção do Reino e de inclusão das pessoas.

Na primeira leitura o convite é dirigido a um trabalhador do campo de nome Eliseu, ele entendeu o chamado e teve coragem de romper com um estilo de vida e abraçar de modo radical a tarefa para a qual estava sendo convidado.

Na pessoa de Eliseu podemos perceber como o profeta não é alguém que caiu do céu e invade o cotidiano das pessoas, nem tampouco que o profeta seja um sujeito que não tenha habilidade para outras funções e responsabilidades, mas que Deus sempre chamou colaboradores falando-lhes a partir do cotidiano do seu trabalho. Sem fazer imposição, nem dar espetáculo Deus age no mundo por meio das ações das pessoas que aceitam o convite.

Ontem como hoje, Deus continua chamando a cada um de nós, respeitando o nosso cotidiano, mas nos desafiando a responder com determinação e ousadia.

O Evangelho é um mosaico de convites para mostrar que todos podem participar da missão de Jesus, para isso basta determinação para aceitar o convite.

O primeiro convite Jesus dirige a uma pessoa deixando claro que a missão não lhe garante estabilidade, pelo contrário quem aceita a missão precisa compreender a disposição de viver como Ele.

O segundo convidado estabelece um tempo que ele determina como a morte do pai, não significa que o pai estivesse morto, mas que ele queria acompanhar os pais até o fim da vida, Jesus não desvaloriza nem despreza a dignidade das famílias e a realidade da morte, mas deixa claro que o Reino é prioridade!

A terceira pessoa convidada pede um prazo para tomar a decisão, Jesus, porém reafirma que seu projeto pede coragem, determinação e firmeza de olhar para frente, não ficar preso ao passado, ou seja o Reino de Deus exige dedicação!

Diante destas três condições podemos nos perguntar quais são os argumentos que usamos para justificar nossa insegurança quando se trata de responder ao convite que Deus nos faz para usar nossas competências e habilidades para projetos maiores do que o pequeno horizonte que nossos olhos alcançam.

Paulo recorda aos Gálatas e também a cada um de nós o que significa ser livre e deixa claro que liberdade não é sinônimo de viver estritamente preocupado com as nossas próprias vontades, mas que a verdadeira liberdade consiste num caminho de resposta ao chamado cotidiano que Deus continua nos dirigindo diante das exigências contemporâneas, trata-se de identificar a nossa vida com a vida de Jesus.

Ao contrário de viver nos pequenos limites da nossa autossuficiência, somos desafiados a superar tudo o que nos escraviza abrindo-nos para o serviço generoso em favor das pessoas e do mundo.

Somos desafiados e perceber que na atualidade, facilmente temos uma perspectiva egoísta do significado da palavra liberdade e vivemos como se tudo fosse voltado para nosso próprio interesse e necessidade, no entanto a verdadeira liberdade está sempre na perspectiva do outro e do bem coletivo no cuidado com tudo e todas as cosias.

Peçamos a graça de tornar realidade em nossa vida o que rezamos no salmo: “ Eu bendigo o Senhor, que me aconselha,/ e até de noite me adverte o coração./ Tenho sempre o Senhor ante meus olhos,/ pois se o tenho a meu lado não vacilo”.

sexta-feira, 10 de junho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 19 DE JUNHO DE 2022 - 12º DOMINGO COMUM - ANO C

 

O CRISTO DE DEUS

 

O Papa Francisco na noite que foi escolhido Bispo de Roma, inclinou-se diante da multidão reunida na praça São Pedro e pediu que rezassem por Ele. Frequentemente termina seus discursos repetindo sempre: “Rezem por mim! ”.

Também nós, muitas vezes até de modo mecânico dizemos: “Reze por mim! ”, ou “vou rezar por você”, “Conte com minha prece” e assim por diante.

Essa prática, não resta dúvida que se fundamenta na vida e na pessoa do próprio Jesus. No Evangelho de Hoje, mais uma vez, Lucas coloca Jesus em oração antes de clarear para os seus discípulos a sua verdadeira identidade e as implicações dessa sua condição.

Pedro respondeu em nome de todos e assumiu para toda a comunidade dos discípulos as implicações da resposta que significou segui-lo até a entrega da própria vida. Obviamente que também para nós reconhecer Jesus como nosso Salvador impacta de modo determinante a nossa vida, que pode ser expresso nas palavras: “Carregar a cruz de cada dia”.

Jesus faz, entre os doze, uma espécie de pesquisa de opinião com o objetivo de ajudar os discípulos entenderem, de maneira madura, a sua identidade e missão que consistia em restabelecer a esperança alimentada por gerações entre o povo de Israel. Essa tarefa Jesus não vai realizar ao modo dos poderosos do seu tempo, pelo contrário, sua arma e trono é a cruz e sua estratégia é a renúncia de si mesmo e de todas as honrarias e prestígios.

Em nossas comunidades proclamamos com convicção que aceitamos Jesus como nosso salvador, mas muitas vezes perdemos tempos e gastamos energias em disputas por prestigio, honras, postos elevados, títulos, coordenações. Facilmente deixamos de lado a dimensão do serviço proposta por Jesus e usamos as tarefas e funções para autopromoção criando conflitos, rivalidades e mal-estar. A primeira leitura fala de um profeta anônimo: “Ao que eles feriram de morte, hão de chorá-lo, como se chora a perda de um filho único, e hão de sentir por ele a dor que se sente pela morte de um primogênito. Naquele dia, haverá um grande pranto em Jerusalém” com o qual os primeiros cristãos identificaram como sendo a pessoa de Jesus cuja fidelidade à missão recebida do Pai o levou até o sacrifício da própria vida.

São Paulo escreve aos Gálatas afirmando a nova condição de batizados: “O que vale não é mais ser judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só, em Jesus Cristo”.

Nós nos declaramos fiéis e comprometidos com Jesus e sua causa, aceitamos o batismo e os demais sacramentos da Igreja, frequentamos as celebrações e praticamos diversas formas de piedade popular, fazemos romarias, jejuns e longas orações, mas nem sempre temos a coragem de “carregar a cruz de cada dia”.

Na condição de novas criaturas somos livres e identificados com Cristo e temos as mesmas responsabilidades que se expressam nas palavras “sinal de Jesus Cristo, Sacerdote, Profeta e Pastor”. Em outras palavras ser no meio do mundo o “bom perfume de Jesus”.

Peçamos a graça de compreender que a Palavra de Deus deste domingo nos convida a fazer uma correção no modo como entendemos os serviços e ministérios na Igreja e nas comunidades. Que verdadeiramente a palavra “servir” que usamos para nossas atividades sejam no sentido de “tomar a cruz de cada dia e caminhar atrás de Jesus”.

quarta-feira, 8 de junho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 12 DE JUNHO DE 2022 - SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE - ANO C

 

DEUS VERDADEIRO DE DEUS VERDADEIRO

Ninguém duvida do Mistério da Santíssima Trindade, mas celebrar a Solenidade de hoje não tem o objetivo de pensar sobre um mistério insondável, mas de contemplar o extraordinário amor de Deus pela humanidade. A melhor definição para o mistério que celebramos foi dada pelo evangelista João: “Deus é amor”.

Por conta dessa verdade a humanidade inteira é convidada a viver e aperfeiçoar sempre o que chamamos simploriamente de “amor exigente”. E não basta transformar essa palavra num slogan a ser repetido, mas encarnar nas ações e na vida toda, a não se conformar nem tampouco concordar com uma sociedade que diz que ama, enquanto mantém e alimenta sistemas sociais, econômicos, políticos e religiosos que excluem, marginalizam e empobrecem centenas de milhares de pessoas.

A solenidade de hoje é um convite para contemplar Deus que é amor, que é família, que é comunidade, que é criador e comunhão. Esta compreensão já aparece na primeira leitura em cuja bondade está inserida toda a obra criada.

Os primeiros estudiosos do Novo Testamento afirmam que a sabedoria relatada na primeira leitura é o próprio Jesus a quem Paulo chama de Sabedoria de Deus cuja origem está antes de todas as demais criaturas. Já nos primeiros três séculos os padres da Igreja afirmaram que também o Espírito Santo existia antes de todas as outras coisas e enviando-o ao mundo fez revelar toda a Sabedoria do Pai e do Filho que ainda não tinha sido compreendido, nem mesmo pelos discípulos que haviam convivido com o Filho.

Esta leitura nos faz pensar num Deus que é Pai providente e cuidadoso a quem as pessoas podem contemplar à medida que descobrirem sua presença na beleza e na harmonia de toda a obra criada.

São Paulo aos romanos, na segunda leitura, afirma que o amor de Deus é que perdoa e nos justifica para a vida plena, por meio de três atitudes, as quais todos somos convidados a continuar construindo no cotidiano da história.

Em primeiro lugar somos convidados a uma relação positiva com Deus que se constrói pela promoção da paz; em segundo lugar ter presente a esperança que nos permite superar toda a dureza da caminhada. Essa esperança não é a mesma coisa que um otimismo fácil e irresponsável, mas de uma esperança de que está a caminho e que dá sempre novo sentido para a vida: em terceiro, e não menos importante, o amor às pessoas. Ser cristão implica na capacidade de amar como Deus amou, isto é, capaz de dar a vida para dignificar a vida.

Na mesma dimensão estão as palavras de Jesus no Evangelho como um convite para a meta final que implica na participação plena e na comunhão perfeita com o Deus/amor; Deus/família; Deus/comunidade! Quem nos conduzirá para a comunhão plena é o Espírito da sabedoria. E o Espírito Santo fará a comunidade sentir a presença consoladora do Senhor. O Espírito da Sabedoria que existia antes de todos os tempos preencherá de coragem todos os corações e não permitirá que se sintam decepcionados aqueles que se deixam guiar pela comunhão da Trindade.