sexta-feira, 6 de setembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 08 DE SETEMBRO DE 2019 - 23º DO TEMPO COMUM - ANO C


SEM MEDO DE ESCOLHER O DISCIPULADO
As Exigências do mundo contemporâneo desafiam todos a desenvolver um espirito de empreendedorismo. As pessoas, as empresas e as instituições são valorizadas e respeitadas à medida que forem capazes de ter “foco”, ou seja clareza da sua missão e da sua visão de mundo, de sociedade, de futuro e assim por diante. Costuma-se dizer que é preciso ser proativo em relação a todas demandas que se apresentam no dia a dia. Em outras palavras se diz que não basta ser bombeiro para apagar incêndio, mas antes precisa prevenir que não aconteçam. Pois bem, é sobre essas questões que se refere a Palavra de Deus proclamada neste domingo.
As leituras são um convite a perceber as exigências e implicações para a vida de uma pessoa, sociedade ou comunidade que queira escolher o caminho do “Reino”. Essa decisão implica em renuncias e dedicação pela causa abraçada. O texto da primeira leitura começa com uma pergunta que deixou perplexas todas as gerações: “Qual o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Acaso alguém teria conhecido o teu desígnio, sem que lhe desses Sabedoria e do alto lhe enviasses teu santo Espírito? Só assim se tornaram retos os caminhos dos que estão na terra, e os homens aprenderam o que te agrada, e pela Sabedoria foram salvos”. Em outras palavras significa compreender que conhecer Deus e seus caminhos exige “foco, força e fé”. Só em Deus e com Ele será possível a felicidade plena e encontrar o verdadeiro sentido para a vida.
Ao seu amigo Filêmon, São Paulo recorda a importância do amor e do perdão como única condição para superar as desigualdades e intransigências em relação às pessoas e suas escolhas: “Caríssimo: faço-te um pedido em favor do meu filho que fiz nascer para Cristo na prisão, Onésimo. Eu o estou mandando de volta para ti. Ele é como se fosse o meu próprio coração”. As palavras do apóstolo deixam mais do que claro que na relação com as pessoas e com a vida em geral só há uma atitude que não se esgota nunca: “o amor deverá ser a suprema e insubstituível norma para dirigir os comportamentos e decisões em todas as circunstâncias da vida. O amor tem consequências práticas que não podem ser deixadas e segundo plano”.
No Evangelho Jesus esclarece como as decisões baseadas no amor não podem ser egoístas e preocupadas apenas no pequeno mundo das escolhas pessoais. O caminho do discipulado tem como “foco” o Reino e esta alternativa deve colocar no lugar certo o amor para com as pessoas em particular e o amor que alcança o interesse de todos. Muito além dos interesses e esquemas pessoais quem se decide amar deverá fazê-lo verdadeiramente ou nem vale a pena começar.
Neste sentido merecem ser recordadas as palavras do Papa Francisco em uma de suas audiências de quarta-feira na Praça de São Pedro: “Vamos pedir a graça de não ser cristãos mornos, cristãos de meia tigela que deixam esfriar o pirão”.
A proposta de Jesus não é demagógica, cheia de promessas fáceis para atrair multidões a qualquer preço. Aceitar a Palavra de Jesus implica adesão séria, exigência radical, nada de colocar panos quentes ou ser bombeiro só para apagar incêndios.
Que sejamos pessoas com a determinação e abertura que se canta no salmo deste domingo:
Ensinai-nos a contar os nossos dias,
para chegarmos à sabedoria do coração.
Voltai, Senhor! Até quando...
Tende piedade dos vossos servos.

Saciai-nos desde a manhã com a vossa bondade,
para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
Desça sobre nós a graça do Senhor nosso Deus.
Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos.


sexta-feira, 23 de agosto de 2019

HOMILIA PARA O DIA 25 DE AGOSTO DE 2019 - 21º DO TEMPO COMUM - DIA DO CATEQUISTA


NA MESA DO REINO TODOS TEM LUGAR
Nesta semana estamos celebrando pelo Brasil afora a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência intelectual e múltipla.   Esta data tem uma relação muito próxima com a Campanha da Fraternidade deste ano que tratava das políticas públicas  como um direito a ser construído por todos e para todos. O tema desta semana coloca a família como a primeira e principal responsável pela inclusão das pessoas portadoras de alguma deficiência: Família e pessoa com deficiência, protagonistas na implementação das políticas públicas.” O que tem de mais importante na comemoração desta semana consiste em fazer a sociedade perceber que na sociedade todos tem direito e merecem respeito e tratamento igualitário. Ora, a Palavra de Deus proclamada na liturgia deste domingo trata exatamente do direito e da possibilidade ampla e para todos de participar do Reino de Deus.  A pessoa com deficiência tem direito de ser tratada de acordo com a sua  necessidade, mas isso não significa que esteja dispensada de cumprir ou respeitar as normas e leis a que todos estão sujeitos na sociedade. Assim também para o Reino de Deus, todos tem direito e na mesa do Pai ninguém ficará excluído, basta renunciar  o orgulho, o egoísmo, a prepotência  e ser capaz de amar e entregar a sua vida como um serviço e como entrega.
Na primeira leitura o profeta começa afirmando: Assim diz o Senhor: Eu que conheço suas obras e seus pensamentos, virei para reunir todos os povos e línguas; eles virão e verão minha glória... Esses enviados anunciarão às nações minha glória, e reconduzirão, de toda parte, até meu santo monte em Jerusalém.”  Esta afirmação deixa claro que a “comunidade de Deus” é universal e nela todos tem espaço, todos são acolhidos sem nenhuma discriminação.
A segunda leitura é uma palavra de estímulo falando das dificuldades próprias de cada tempo e situação: Já esquecestes as palavras de encorajamento que vos foram dirigidas como a filhos... Portanto, firmai as mãos cansadas e os joelhos enfraquecidos; acertai os passos dos vossos pés', para que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado”. A compreensão da carta aos Hebreus é uma forma de estimular os cristãos a enfrentar com coragem os sofrimentos e provações e ao mesmo tempo apresenta como Deus  educa, corrige e mostra o sentido das escolhas que se faz no caminho para o Reino.
O ensinamento sobre a porta estreita é uma maneira pedagógica de Jesus para mostrar que não há “bilhetes reservados” para alguns, pelo contrário que a mesa do Pai é para todos basta fazer a escolha certa e aceitar seguir Jesus e seu ensinamento doando-se no amor total aos irmãos: Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. Alguém lhe perguntou: 'Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?' Jesus respondeu: 'Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita”, Uma vez que a pessoa fizer a escolha e abraçar com determinação e coragem o estilo de vida sugerido pelo Mestre a mesa está posta para todos: Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”.
Entrar pela “porta estreita” segundo a palavra de Jesus implica cultivar os valores da amizade, do serviço, do amor aos outros, da entrega da vida. Ao contrário da proposta do Evangelho, na sociedade contemporânea faz parte das perspectivas de um grande número de pessoas “as portas largas” da felicidade imediata, da fama, da exposição social, do dinheiro no bolso, da manipulação das consciências. Tem-se a impressão que estas coisas definem o êxito de uma pessoa ou sociedade.
Quanto a nós: Qual tem sido em nosso dia a escolha que fazemos? Estamos convencidos que o acesso a Mesa do Reino nunca é uma conquista definitiva, mas algo que Deus nos oferece a cada dia? (Sempre tem mais um lugar na mesa...)





sexta-feira, 9 de agosto de 2019

HOMILIA PARA O DIA 18 DE AGOSTO DE 2019 - ASSUNÇÃO DE MARIA


A MINHA ALMA ENGRANDECE O SENHOR...
Não é raro ouvir relatos de pais e mães que fazem todos os esforços possíveis para provar seu amor aos filhos e sua fé naquele que é autor da vida de todos. Recentemente foi matéria jornalística um pai que fez promessa de caminhar 17 km cada ano carregando uma mochila com o peso da sua filha. O pai justifica sua promessa com as seguintes palavras: “Levar o peso dói, mas quando chego lá, sinto gratidão por ela ter um desenvolvimento muito bom, é muito inteligente. Na creche as professoras falam. É muito emocionante. Vou fazer por ela pelo resto da minha vida. O que eu passo por ela e vou passar não tem explicação. É de pai mesmo. Pretendo passar para ela essa devoção, para que possa passar para os filhos e nunca deixar morrer esse laço de fé”.
Esse fato não é outra coisa senão a atualização do que as leituras da Palavra de Deus nos narram neste domingo que a Igreja celebra a Assunção de Maria ao céu. Nenhum laço é mais forte e extraordinário que os laços de família. Por causa disso as pessoas são capazes de qualquer atitude e gesto de coragem e determinação. Ora, é isso que fundamenta a fé da Igreja na Assunção de Maria. Não pode haver dúvidas que Jesus ressuscitado tenha acolhido em primeira mão na glória do céu a sua mãe. Não pode haver dúvida que ele tenha estendido sua mão para coroar sua mãe com as dozes estrelas que significam a rainha de toda a humanidade.
O texto do apocalipse narra a figura de uma mulher num dos seus momentos mais delicados e sofridos da existência. Cumprido o tempo da gestação está diante da beleza da vida e de todas as ameaças de morte. Destemida “Ela teve um filho varão, que há de reger todas as nações com ceptro de ferro. O filho foi levado para junto de Deus e do seu trono e a mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar. E ouvi uma voz poderosa que clamava no Céu: Agora chegou a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus e o domínio do seu Ungido”. Na figura desta mulher a Igreja, desde muito cedo, interpretou a pessoa de Maria e junto com ela a humanidade inteira com suas dores e angústias sendo salva pela misericórdia do criador.
São Paulo fala da ressurreição de Jesus, não faz nenhuma referência à pessoa de Maria, mas afirmando que: “Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Uma vez que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos; porque, do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida. Cada qual, porém, na sua ordem: primeiro, Cristo, como primícias; a seguir, os que pertencem a Cristo”. Está mais do que claro que a primeira pessoa a pertencer a Cristo e a sua glória terá sido a sua mãe. Por isso proclamamos nossa fé na Assunção de Maria ao lado do seu Filho Jesus.
Ouvindo o Evangelho da visitação com o cântico de Maria entendemos muito melhor o que significa rezar com Maria e como Ela reza por nós: “Ela está ao nosso lado para nos levar na oração, como uma mãe sustenta a palavra balbuciante do seu filho. Na glória de Deus, na qual nós a honramos hoje, ela prossegue a missão que Jesus lhe confiou sobre a Cruz: "Eis o teu Filho!" Rezar com Maria, mais que nos ajoelharmos diante dela, é ajoelhar-se ao seu lado para nos juntarmos à sua oração. Ela acompanha-nos e guia-nos na nossa caminhada junto de Deus”.
Com ela também “Aprendemos junto de Maria os caminhos da oração. Na escola daquela que guardava e meditava no seu coração". Celebramos a Assunção de Maria colocando nossos passos nos passos de Maria para dizer com ela na confiança: “que tudo seja feito segundo a tua Palavra do Senhor”.  

HOMILIA PARA O DIA 11 DE AGOSTO DE 2019


O SENHOR OLHA COM MISERICÓRDIA ÀQUELES QUE O RESPEITAM
O estudante de uma escola de Itajaí, que aos 13 anos conquistou o primeiro lugar num desafio nacional de Programação e Robótica, chama a atenção de todos pela sua inteligência e domínio no uso das tecnologias. Porém, parece muito mais sugestivo compreender a motivação que levou o garoto a desenvolver “bengalas com sensor para cegos.”  O menino teve a inspiração na necessidade de outra criança, sobre quem  declara: “Ela tem 12 anos e não consegue enxergar nada, aí eu fiz esse projeto para tentar ajuda-la como exemplo em ajudar o próximo” e contínua: “Eu gostaria de fazer ela voltar a enxergar, que eu vejo que um deficiente visual só imagina, a mãe, o pai e as outras pessoas, só que eu sei isso não dá”. Ninguém dúvida que o exemplo deste aluno tem tudo a ver com a mensagem das leituras deste final de semana.
A Palavra de Deus que se ouve na liturgia deste domingo é um convite ao serviço: o verdadeiro discípulo não vive de braços cruzados, levando a vida cômoda. Pelo contrário está sempre atento e disponível para acolher o Senhor escutando seus apelos nas necessidades das outras pessoas. O texto da Sabedoria recorda como o povo de Israel percebeu o dia da vitória de Deus dando atenção aquilo que garante a vida e a felicidade, ao contrário de outros povos  foram capazes de discernir entre o que dura apenas algum tempo e os valores perenes. Como se lê na primeira leitura de hoje: “A noite da libertação foi esperada por teu povo, como salvação para os justos, os piedosos filhos dos bons fizeram este pacto divino: que os santos participariam solidariamente enquanto entoavam antecipadamente os cânticos de seus pais”.
A carta aos Hebreus mostra uma relação de pessoas que servem de testemunho para todos por que foram capazes de fazer sintonia entre a fé e a vida: “A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem. Foi a fé que valeu aos antepassados um bom testemunho. Foi pela fé que Abraão obedeceu à ordem de partir. Foi pela fé que ele residiu na terra prometida. Foi pela fé também que Sara, embora estéril e já de idade avançada, se tornou capaz de ter filhos. Foi pela fé que de um só homem nasceu a multidão 'comparável às estrelas do céu e inumerável como a areia das praias do mar”.
O Evangelho relata a atitude de Deus na relação com o seu povo: “Não tenham medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar- lhes o Reino”. Ao mesmo tempo recomenda algumas atitudes que sejam correspondentes ao cuidado recebido do Pai: “Vendam seus bens e deem esmola. Façam bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. Porque onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração”.
O discípulo que respeita o seu Senhor não espera que as coisas aconteçam sem que tenha sua participação decidida e firme na solução dos problemas e dificuldades que aparecem cotidianamente: “Fiquem preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar. Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor vai colocar à frente do pessoal de sua casa para dar comida a todos na hora certa? Feliz o empregado que o patrão, ao chegar, encontrar agindo assim! Em verdade eu lhes digo: o senhor lhe confiará a administração de todos os seus bens”.
Ser cristão não é uma condição para viver de acordo com as conveniências, pelo contrário é um compromisso a tempo pleno que precisa ser manifestado em todas as atitudes e em todos os pensamentos. Desta certeza merece ser recordada a atitude do garoto que usou suas habilidades para diminuir o sofrimento de outra pessoa.
Podemos nos perguntar com seriedade: Nossas ações diárias mostram nossa fisionomia de cristãos comprometidos com a causa que acreditamos? Estamos abertos para acolher os apelos que Deus nos faz nas necessidades dos irmãos. Escutamos os sinais do mundo por meio dos quais Deus nos apresenta suas propostas.
No contexto do mês vocacional entendemos que o Batismo nos faz missionários e enviados também como pais dentro das nossas casas e comunidades. Já nos demos conta da dupla verdade de ser pai. Percebemos que existe um pai fora e um pai dentro de cada um de nós?
Na condição de pais todos recebemos um serviço e uma autoridade. Exercemos essa tarefa com humildade e simplicidade. Estamos atentos às necessidades, sobretudo dos pobres, pequenos e mais vulneráveis, ou nos instalamos no egoísmo e no comodismo e deixamos que as coisas se arrastem, sem entusiasmo, sem vida e sem esperança.
Que a oração de todos, a Palavra e a Eucaristia sirvam de remédio para nossas debilidades e de força para nossas fraquezas.


quinta-feira, 25 de julho de 2019

HOMILIA PARA O DIA 28 DE JULHO DE 2019


ORAÇÃO: ENCONTRO PESSOAL COM DEUS 
POR MEIO DE JESUS

As teorias educacionais costumam valorizar aspectos distintos quando se fala na pedagogia para tratar com os filhos e em todas as relações familiares.  Pois a liturgia deste domingo nos apresenta dois textos muito precisos com referências claríssimas indicando um diálogo responsável que retrata paternidade, autoridade, filiação e responsabilidade. Ao mesmo tempo as leituras servem para tirar lições sobre a persistência na oração e como não transformar nossa oração numa repetição mecânica de fórmulas e palavras que não são mais do que verbalizações pouco comprometedoras e algumas vezes beirando a magia.
Na primeira leitura Abraão está face a face com Deus, entrega-se no absoluto amor do Pai e faz todas as justificativas para testar até onde a bondade do criador se estende. As intervenções de Abraão para pedir misericórdia são valorosas e cheias de comprometimento com a causa daqueles que quer salvar: “Vais realmente exterminar o justo com o ímpio? Se houvesse cinquenta justos na cidade, acaso iríeis exterminá-los? Não pouparias o lugar por causa dos cinquenta justos que ali vivem? Longe de ti agir assim, fazendo morrer o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio. Longe de ti! O juiz de toda a terra não faria justiça” e assim continua até o limite: “Estou sendo atrevido em falar a meu Senhor... Não se irrite o meu Senhor, se ainda falo... 'Já que me atrevi a falar a meu Senhor, e se houver vinte justos?”
O Evangelho narra uma das ocasiões em que Jesus se retira para rezar o que comove os discípulos não são as palavras, mas o testemunho e por causa da atitude do Mestre os seguidores lhe pedem umas aulas de oração e são prontamente atendidos: “Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: 'Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos. Quando rezardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação”.
E Jesus conclui seu ensinamento com duas simples, mas profundas comparações: O amigo que vai pedir um socorro no meio da noite e uma situação familiar na qual pais e filhos são comparados com o Pai de todos.
São Paulo na segunda leitura sugere que toda a nossa vida seja referenciada a Cristo o único e melhor modelo de proximidade com o Pai: “Com Cristo fostes sepultados no batismo; com ele também fostes ressuscitados por meio da fé no poder de Deus, que ressuscitou a Cristo dentre os mortos”.
O Papa Francisco em suas catequeses falou sobre oração dizendo: “A oração não é uma varinha mágica. A oração ajuda a conservar a fé em Deus e a nos entregar a Ele mesmo quando não compreendemos a sua vontade. Nisto, Jesus, que rezava tanto, é um exemplo para nós”
Certamente se tivermos em relação a Deus a compreensão que tiveram Jesus, Abraão, São Paulo e tantos outros ao longo da história melhor entenderemos que Deus continua vindo ao nosso encontro, sentando à nossa mesa e estabelecendo comunhão com as nossas necessidades. Este é um Deus com o qual podemos dialogar com amor e com respeito Ele está sempre aberto a ouvir nossos apelos e necessidades.


HOMILIA PARA O DIA 21 DE JULHO DE 2019


ACOLHEI-VOS UNS AOS OUTROS COMO CRISTO ACOLHEU VOCÊS
Quando a gente quer contar algum acontecimento com certa complexidade para ser compreendido normalmente se recorre a lendas, parábolas, contos, historietas e assim por diante. Este tipo de recurso também foi utilizado pelo autor sagrado em diversas ocasiões. Os capítulos 12 a 36 do livro do Gênesis são uma série de parábolas que faziam parte da cultura dos povos primitivos e foram aplicadas a Abraão. No texto de hoje o autor utiliza uma lenda em que três visitantes divinos são acolhidos por um migrante anônimo e como recompensa este último recebe a dádiva de ter um filho. Ora, Abraão e sua esposa Sara já em idade avançada ainda esperavam o cumprimento da promessa que Deus lhes havia feito em relação a numerosa descendência e neste caso as visitas já não se dão mais a pessoa anônima, mas o personagem Abraão se torna o Herói desta história.
As leituras deste domingo fazem um convite e um alerta pertinente para todos na atualidade no sentido de não descuidar de um valor fundamental para a qualidade das relações humanas e que consiste na prática da hospitalidade e do acolhimento. Naturalmente que a principal forma de acolhimento é a que se dá entre Deus e a humanidade e que Ele pôs em prática primeiro quando veio ao encontro da humanidade enviando seu Filho.
No caso, Abraão é apresentado como um modelo de acolhimento e cuidado com quem precisa de atenção e hospedagem. O gesto do Patriarca recebe como recompensa a efetivação da promessa que é o nascimento do filho e que será a sementeira da descendência numerosa que Deus lhe havia prometido: “Voltarei, sem falta, no ano que vem, por este tempo, e Sara, tua mulher, já terá um filho”.
O Evangelho retrata mais uma cena de acolhimento e hospitalidade, neste caso das irmãs Marta e Maria. O diálogo de Jesus com Marta é um indicativo para os cristãos da atualidade: Receber Deus em casa não é sinônimo de ativismo desenfreado, de muitas atividades e correrias incansáveis, mas implica também na capacidade de sentar e ouvir como Maria. Obvio que o ouvir consiste também em prontidão para sair. Acolher a Palavra é um caminho que não permite a passividade inerte de quem não se comove com as necessidades alheias: Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.
Paulo, falando aos Colossenses deixa bem claro o que significa aceitar a visita que Deus nos faz por meio do seu Cristo. A vida e as palavras de Jesus são uma referência fundamental para a construção de qualquer valor que implique respeito e atenção para com todos: “Irmãos: Alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar na minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo, em solidariedade com o seu corpo, isto é, a Igreja. A ela eu sirvo, exercendo o cargo que Deus me confiou de vos transmitir a palavra de Deus em sua plenitude: o mistério escondido por séculos e gerações, mas agora revelado aos seus santos”.
Convenhamos que nós vivemos numa correria frenética para ganhar alguns minutos, porque ‘tempo é dinheiro’, mudamos de faixa no trânsito, passamos o sinal vermelho, comemos de pé ao lado da mesa, não temos tempo de brincar com os filhos. Sim, tudo isso é exigência da vida moderna, mas o que poderia ser feito para encontrar tempo de sentar aos pés de Jesus e acolhê-lo na pessoa dos irmãos necessitados.
Também em nossas comunidades algumas pessoas assumem muitos serviços se dão completamente nas pastorais e nos movimentos e sobram pouco ou nada de tempo para doar-se até mesmo para os próprios filhos e familiares. O desafio é encontrar um tempo para acolher e escutar Jesus perceber os novos desafios que Deus e o mundo nos apresentam. Por exemplo, como pensamos e agimos diante de tantos migrantes que chegam diariamente às nossas cidades e que precisam de atenção e de partilha de perceber que estamos preocupados com ele e com sua situação. É certo que o problema da migração não é uma responsabilidade de algumas pessoas, mas a solução pode passar pelo empenho de todos. Afinal de contas quem quer morar na casa de Deus tem como máxima o salmo deste domingo: “O que não faz mal ao seu próximo, nem ultraja o seu semelhante, o que tem por desprezível o ímpio, mas estima os que temem o Senhor”.





quarta-feira, 3 de julho de 2019

HOMILIA PARA O DIA 07 DE JULHO DE 2019 - 14º COMUM - ANO C


ALEGREM-SE E EXULTEM NO AMOR

As redes sociais e a facilidade de acesso à informação com o uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação transformaram todas as pessoas em “paparazzi”, ou seja, em repórter insistente a procura da primeira grande notícia para ser imediatamente disparada ao seu grupo de contatos sempre em primeira mão. Obvio que essa ânsia para ser o primeiro a transmitir alguma mensagem ou notícia nem sempre tem a ver com comprometimento e responsabilidade por alguma causa.
Exatamente o contrário é o que sugere a Palavra de Deus deste domingo, as três leituras indicam que todos são convidados e enviados a transmitir boas notícias, mas não se trata simplesmente de disparar mensagens para grupos de contato, o que está em jogo é um comprometimento com a causa a que se refere a notícia ou o fato que se quer divulgar e tornar no conhecido.
Seja o profeta do Antigo Testamento, São Paulo por meio de suas cartas ou os discípulos que receberam a missão diretamente da pessoa de Jesus todos tem por objetivo anunciar um Deus que ama e que não mede as consequências dos seu amor e que Paulo afirma: “Quanto a mim, que eu me glorie somente da cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo.
Por ele, o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo”.
O Profeta do Antigo testamento vai em nome de Deus e sua missão é consolar e libertar as pessoas de todos os medos e anunciar que Deus é Pai e que ama com ternura materna apontando para todos a esperança de um mundo novo: “Alegrai-vos com Jerusalém e exultai com ela todos vós que a amais; tomai parte em seu júbilo, todos vós que choráveis por ela, para poderdes sugar e saciar-vos ao seio de sua consolação, e aleitar-vos e deliciar-vos aos úberes de sua glória. Sereis amamentados, carregados ao colo e acariciados sobre os joelhos. Como uma mãe que acaricia o filho, assim eu vos consolarei; e sereis consolados em Jerusalém”.
Aos Gálatas Paulo declara que o anuncio da boa nova de Jesus e o testemunho que alguém dá da sua doutrina não pode ser movido pelo orgulho ou por qualquer interesse pessoal, antes deve testemunhar com a própria vida o amor radical que faz nascer uma nova pessoa: “Pois nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor; o que conta é a criação nova”.
E Jesus envia os doze com uma missão clara e bem específica: “Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz esteja nesta casa, Curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: O Reino de Deus está próximo de vós”. Em resumo a tarefa dos discípulos não é outra coisa senão continuar a obra libertadora que Jesus começou propondo a todos a Boa nova do Reino. E isso não pode ser uma coisa para se realizar a ‘passos de tartaruga’, pelo contrário, não percam tempo e façam com simplicidade e amor.
Se tem uma resposta que nós cristãos são desafiados a dar a partir da Palavra de Deus deste domingo consiste em compreender que “somos convidados a tomar consciência de que Deus nos envia a testemunhar o seu Reino”.
É bom que nos perguntemos: Na prática como anunciamos Jesus e seu reino? A doutrina e a boa notícia d’Ele já chegaram ao nosso local de trabalho, à nossa escola, à nossa paróquia. Conseguimos dormir tranquilo quando o egoísmo e a injustiça continuam correndo solto nos arraias da vida impedindo que a semente do Reino aconteça?


quarta-feira, 26 de junho de 2019

HOMILIA PARA A MISSA DA VIGÍLIA SOLENIDADE SÃO PEDRO E SÃO PAULO 2019


TU ME AMAS MAIS DO QUE ESTES...


Na relação com as pessoas alguns traços chamam mais atenção do que outros e costuma-se dizer que a “primeira impressão é que fica”. As vezes nos deparamos com alguma pessoa que não tem garra, pouco empreendedora, que coloca dificuldade em tudo, sempre acha que nada vai dar certo. Esse tipo de pessoa costuma ser qualificada como “corpo mole”, “Maria vai com as outras”, “Banana”, “Frouxo” e uma série de outros adjetivos. Já quando nos deparamos com uma pessoa determinada, disposta para muitos desafios se diz que é um sujeito empreendedor, resiliente, capaz de renascer das cinzas.
Ora, se tem uma coisa que não se pode dizer em relação ao Apóstolo Pedro é que ele fosse um desses tipo de pessoa de fazer corpo mole diante das dificuldades. Pelo Contrário, todas as referências que se tem sobre Ele, e que são abundantes na Sagrada Escritura, confirmam que se trata de um sujeito de “pulso”, corajoso e determinado. Não sem razão recebeu de Jesus o título de Pedra.
Nascido na Galileia é o tipo do “peixeiro” dito caipira até no jeito de falar. Quando Jesus bateu o olho no “pescador da Galileia” sua primeira impressão foi marcada pelas palavras: “Você é Pedro e vai se chamar Pedra”. Jesus tinha clareza que estava diante de uma pessoa que não poderia ser chamada de “Maria vai com as outras”. E de fato Pedro prova isso todo o tempo que esteve com o Mestre. E depois da morte de Jesus, foi o primeiro a discursar e anunciar as verdades que acreditava diante de mais de três mil pessoas.
As ações de Pedro depois da morte de Jesus confirmam o que se lê no Evangelho proclamado na liturgia da vigília da solenidade de São Pedro e São Paulo: “Simão filho de Jonas Você me ama mais do que estes? Senhor tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo”. No final deste Evangelho João afirma que Jesus antecipou a forma como Pedro haveria de morrer e a história diz que o Apóstolo pediu para ser crucificado de cabeça para baixo pois não se achava digno de morrer como o mestre.
O texto da primeira leitura mostra como logo no início das atividades Pedro havia conquistado a confiança das pessoas. No caso uma pessoa portadora de necessidades especiais a vida inteira e que vivia de esmolas na porta do Templo acredita nas palavras de Pedro e o resultado é surpreendente: “Ouro e prata não tenho, mas o que tenho lhe dou: Em nome de Jesus Cristo levante-se ande... no mesmo instante a pessoa se colocou de pé e entrou no Templo cantando e louvando a Deus”.
Nesta festa de São Pedro, ocasião em que veneramos todos os padroeiros que a exceção de Maria Mãe de Jesus, imitaram as virtudes do “Apóstolo da primeira hora”, peçamos para nossas vidas a coragem e a determinação e capacidade de responder a pergunta que Jesus continua a nos fazer: “Você me ama?” Que o Apóstolo Pedro nos ajude a responder sem titubear: “Senhor tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo”.


quarta-feira, 19 de junho de 2019

HOMILIA PARA O DIA 23 DE JUNHO DE 2019 - ANO C


DESDE A AURORA ANSIOSO VOS BUSCO

A história está repleta de sábios e de pessoas que procuraram a sabedoria. Dentre os famosos estudiosos da antiguidade Sócrates é citado com abundância em situações muito diversas. Uma das máximas socráticas diz assim: “Só sei que nada sei e quanto mais eu sei, sempre me dou conta que não sei”.
Ora, as leituras deste domingo nos colocam diante da necessidade de se conhecer, de conhecer os outros e de reconhecer em si mesmo e nos outros o próprio autor de toda a vida e princípio de toda criatura.
No Evangelho Jesus desafia seus amigos a lhe fazerem um compromisso de acordo com as suas convicções. Contextualizando a sua permanência entre eles pergunta opiniões a seu respeito e conclui sua provocação com a pergunta: “Para vocês quem sou Eu?” Ele não estava interessado que lhe dessem um biografia nem tampouco que lhe apontassem uma perspectiva de sucesso futuro. Com a pergunta e a resposta de Pedro, Jesus construiu um mosaico que apresentava o significado de reconhecer sua pessoa. Em lugar de lhe pedir uma descrição biográfica ele pede que aceitem sua doutrina, que sejam capazes de segui-lo, que repitam os gestos da sua entrega e dispondo-se a amar sem medida: Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará”.
Ter a coragem de renunciar a si mesmo e repetir os mesmos gestos de Jesus supõe simplicidade, serviço, humildade, generosidade. Estas atitudes nem sempre fazem parte da prática de muitos cristãos que procuram títulos, postos elevados, reconhecimento, autopromoção. Estas coisas todas não criam comunhão, antes fomentam conflitos, rivalidades, ciúmes e mal-estar.
O profeta Zacarias apresenta a figura de uma pessoa desconhecida, mas que foi ferida de morte, entretanto esse aparente fracasso não é uma derrota, mas aponta um caminho que gera vida para todos: “Ao que eles feriram de morte, hão de chorá-lo, como se chora a perda de um filho único, e hão de sentir por ele a dor... Naquele dia, haverá uma fonte acessível à casa de Davi e aos habitantes de Jerusalém, para ablução e purificação”.
E Paulo aos gálatas reforça a mesma mensagem presente na primeira leitura e no Evangelho. Aceitar Jesus, reconhecer que Ele é o enviado do Pai, o servo sofredor significa percorrer o caminho do amor e do dom da vida que garante a todos igualdade e dignidade e faz de todos herdeiros da vida em plenitude.
Declarando-se cristãos somos capazes de assumir o compromisso de viver como Cristo e assumir seus valores fazendo de nossa vida um dom de amor para construir um mundo de justiça e de paz onde todos tenham lugar?
Não nos esqueçamos de rezar com o salmo deste domingo: “Para mim fostes sempre um socorro; de vossas asas à sombra eu exulto! Minha alma se agarra em vós; com poder vossa mão me sustenta. A minh'alma tem sede de vós, como a terra sedenta, ó meu Deus”. 

HOMILIA PARA O DIA 20 DE JUNHO DE 2019 - CORPO DE CRISTO - ANO C


CRESCER E PERPETUAR NA UNIDADE E NA PAZ

Se devêssemos responder o que é preciso para que uma espécie de vida se perpetue, certamente iríamos considerar pelo menos quatro necessidades fundamentais: Adaptação ao ambiente, alimentos, sobrevivência aos predadores e reprodução. Se quisermos aplicar esta condição antropológica a nossa fé poderíamos dizer que a crença em Deus tem exatamente estas quatro necessidades, sem as quais as religiões surgem e desaparecem permanecendo apenas como fatos históricos.
O texto do Gênesis proclamado na primeira leitura de hoje trata da providência divina, simbolizados na benção e na ação de graças e do cuidado humano daqueles que são responsáveis pela perpetuação da vida. O Rei Melquisedec aparece uma única vez na relação entre Abraão e Deus. E sua intervenção tem por objetivo mostrar a preocupação do Criador com as suas criaturas. Preocupação que se revela na benção dada ao patriarca que este por sua vez retribui com ações de graças: Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho e como sacerdote do Deus Altíssimo, abençoou Abrão, dizendo: 'Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, criador do céu e da terra! Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou teus inimigos em tuas mãos!' E Abrão entregou-lhe o dízimo de tudo”.
Na Segunda leitura Paulo reafirma a tradição que recebeu dos apóstolos que consiste em fazer memória do gesto de Jesus na última ceia: “isto é, meu corpo e meu sangue, comei e bebei” ao mesmo tempo convida a permanecer atentos para a segunda vinda. Neste sentido a Eucaristia é uma refeição de esperança: “Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha”.
A narrativa da multiplicação dos pães deixa mais do que claro uma das necessidades fundamentais para a preservação de qualquer espécie. Para viver é preciso comer. E como Deus quer suas criaturas vivas, na pessoa de Jesus, Ele mesmo intervém como um Pai que cuida partilha com todos a responsabilidade para partir e repartir o alimento necessário para todos.
Muitas vezes também nós diante das necessidades e dificuldades do cotidiano temos a tentação dos discípulos: “A tarde vinha chegando. Os doze apóstolos aproximaram-se de Jesus e disseram: 'Despede a multidão, para que possa ir aos povoados e campos vizinhos procurar hospedagem e comida, pois estamos num lugar deserto.' Ontem como hoje Jesus repete o mesmo mandamento: “Mas Jesus disse: 'Dai-lhes vós mesmos de comer”.
Esta ordem de Jesus completa o seu gesto de entrega na forma do pão e do vinho. Ou seja, não seremos verdadeiramente seguidores de Cristo se nossa devoção a Eucaristia não estiver associada ao gesto de “lavar os pés”, de praticar o mandamento do amor e garantir comida e cuidado na hora certa.
São João Crisóstomo, falando sobre a devoção ao Santíssimo Sacramento foi direto e exigente quando disse: “Vocês querem horar o Corpo de Cristo com vestes de seda e vasos de ouro, fazem bem! Mas não esqueçam que o mesmo Jesus que disse isso é meu corpo e isso é meu sangue também disse, Eu estive como fome e você me deu de comer, eu estava nu e você me vestiu”, portanto diz o santo: “vai primeiro dar de comer a quem fome e vestir quem está nu e com aquilo que sobra faça adoração ao Cristo na Eucaristia”.
Daqui a pouco vamos seguir a Cristo presente na forma de pão e para manifestar nossa devoção e respeito enfeitamos o lugar por onde Ele vai passar, peçamos que esta prática de piedade nos ensine e anime garantir a preservação da vida humana e da crença no Deus criador de tudo facilitando a todos a adaptação ao ambiente, repartindo o pão com os necessitados, defendendo-se dos predadores e reproduzindo a nossa fé para todos os descendentes.





sábado, 15 de junho de 2019

HOMILIA PARA O DIA 16 DE JUNHO DE 2019 - FESTA DA SANTÍSSIMA TRINDADE - ANO C


TEU NOME, SENHOR, É TÃO BONITO

Se você quer ver os olhos de um pai ou de uma mãe brilhar e seus lábios não conter o sorriso é fazer um elogio aos seus filhos.  Não há pai ou mãe capaz de esconder  a alegria e vibrar com o sucesso das suas crias. Imaginemos pois, qual será a reação de Deus quando rezamos no salmo deste domingo:  Contemplando estes céus que tu fizestes e formastes com dedos de artista; vendo a lua e estrelas brilhantes, perguntamos: 'Senhor, que é a pessoa humana, para dela assim vos lembrardes e a tratardes com tanto carinho? Ó Senhor nosso Deus, como é grande vosso nome por todo o universo!
Não sem razão o salmo 8 está colocado na liturgia deste domingo como uma resposta à primeira leitura que sugere a contemplação do Deus criador cuja bondade e amor estão inscritos na harmonia das obras criadas cuja manifestação maior é o próprio Filho Jesus que revelou toda a sabedoria de Deus.
O texto dos provérbios proclamado na primeira leitura deste domingo afirma que a Sabedoria é a primeira de todas as obras de Deus e que ela deu origem a todas as demais criaturas. Quase três séculos mais tarde o Evangelho de João vai afirmar que Jesus Cristo é a Palavra sábia de Deus que existia antes de tudo e que tudo foi feito por meio dela.

A mensagem da primeira leitura faz nos compreender a ação de um Pai providente e cuidadoso que tem um projeto bem definido para todos e que as criaturas reconhecem e contemplam esse Pai na beleza e na harmonia das coisas. Nessa direção vale recordar o que disse, já no século XIX, Dostoievski: “A beleza salvará o mundo”.

São Paulo, escreveu aos Romanos o que lemos hoje e que é um convite a contemplar Deus que nos amou primeiro e que enviou seu Filho para derramar sobre a humanidade todos os seus dons que garantem vida em plenitude: “Justificados pela fé, estamos em paz com Deus, pela mediação do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por ele tivemos acesso, pela fé, a esta graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus, porque a esperança não decepciona, e o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”.

No Evangelho a convocação parte do próprio Jesus e faz um apelo para contemplar o amor do Pai manifestado na sua pessoa e no dom de sua vida que acompanha com sabedoria todas as criaturas no dom do Espírito Santo: “Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora. Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade”.

As palavras de Jesus estão dentro do contexto do seu discurso de despedida como se estivesse deixando um testamento e para os destinatários da sua palavra ele afirma que sua proposta continuará na ação do Espírito Santo presente e atuante por meio das comunidades e no coração de cada crente. O ensinamento do Espírito não é novo, pelo contrário, continuará recordando a palavra de Jesus como uma referência na caminhada de todos pelo mundo em todos os tempos.

Para os cristãos do nosso tempo a liturgia deste domingo é um desafio em forma de pergunta: “Somos capazes de nos sentir provocados pela sabedoria e descobrir a bondade de Deus por meio de suas criaturas?”.

A festa da Santíssima Trindade é uma oportunidade para todos contemplar e louvar Deus que é amor manifestado na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo.  


sexta-feira, 7 de junho de 2019

HOMILIA PARA O DIA 09 DE JUNHO DE 2019 - PENTECOSTES - ANO C


CHEIOS DO ESPÍRITO SANTO

“Creio no Espírito Santo que renova o homem com a liturgia, creio no Espírito Santo que mata a fome na Eucaristia”.
De fato, acreditar no Espírito Santo como o enviado do Pai que renova todas as coisas é uma afirmação de fé extraordinária e que se entende como o maior Dom de Deus para a Igreja e para o mundo.
A maneira quase poética com que o autor dos Atos dos Apóstolos conta a descida do Espírito Santo sobre Maria e os apóstolos permite atualizar em nossas comunidades a mesma certeza: “O Espirito Santo cria e recria, ultrapassa as diferenças e comunica o amor de Deus a todos os povos”.  Ouvir e entender as maravilhas de Deus significa compreender a Boa notícia que fará gerar uma comunidade universal a qual, embora, mantendo suas particularidades tem como centro a proposta de Jesus que significa falar a mesma linguagem do amor.
O exemplo mais clássico disso é a comunidade de Corinto. Fervorosa no que dizia respeito às reuniões e orações, mas pouco exemplar no que dizia respeito a vivência do amor e da fraternidade. Aos Coríntios Paulo assegura que no Espírito Santo se encontra a fonte de toda vida, que Ele concede todos os dons e enriquece a comunidade fazendo de todos um único corpo mantendo todas as diferenças e particularidades de cada um, fazendo ao mesmo tempo perceber que os dons não devem ser usados em benefício próprio, mas colocados a serviço de todos.
No Evangelho Jesus novamente aparece aos discípulos num contexto muito sugestivo: estavam reunidos no final do dia com as portas fechadas, por medos dos judeus. Jesus aparece e dissipa suas angústias com a primeira saudação: “A paz esteja com Vocês” e mostra os sinais evidentes “as mãos e o lado”. Diante de tais certezas não resta outra coisa senão compreender a reação de todos: “Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor”. Entre Jesus e a comunidade reunida há uma sintonia de interesses que foi terminar exatamente como previsto: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”. 
As palavras que concluem o Evangelho plenificam a comunidade e a capacita a transformar suas vidas em dom de amor a todos. Impulsionados pelo Espírito a nova comunidade é chamada a testemunhar o amor de Jesus que se concretiza no perdão dos pecados.
Ontem como hoje aceitar a proposta de Jesus significa ser integrado à nova comunidade, estar ligado na terra e igualmente ligado nos céus. Desde aquele tempo até os nossos dias aceitar o cristianismo significa ser mediador da salvação garantida pela doação que Jesus fez da própria vida e que pela força do Espírito Santo levou até às últimas consequências.
Aprendamos também nós, comunidade devota e fervorosa a superar as diferenças e divisões e se colocar a serviço de todos.