quinta-feira, 12 de novembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 15 DE NOVEMBRO DE 2020 - 33º COMUM - ANO A

 

BÊNÇÃOS ABUNDANTES TODOS OS DIAS DA VIDA

Quem para no semáforo da Rua Felipe Schmidt pode ler no alto do Colégio Salesiano a frase de São João Bosco: Nossa vida é um presente de Deus e o que fazemos dela é o nosso presente a Ele Essa frase serve como ideia chave para meditar as leituras da Palavra de Deus neste domingo.

As três leituras são um convite para a responsabilidade com a vida e os dons que Deus concede a todos em toda a história humana. O livro dos Provérbios descreve alguns valores capazes de garantir a felicidade para todos. Colocando a figura de uma mulher como modelo a ser imitado o autor sugere que a existência humana encontrará sua realização na generosidade, no trabalho, no amor a Deus e aos irmãos: “Uma mulher forte, quem a encontrará? Ela vale muito mais do que as joias. Tal pessoa garante alegrias em lugar de desgosto; é capaz de trabalhar com habilidade ao mesmo tempo em que estende a mão ao necessitado, a pessoa que assim se comporta mostra seu amor a Deus e merece ser louvada nas praças”.

Por sua vez, na carta aos Tessalonicenses, São Paulo deixa claro que o mais importante quando se refere a reconhecer Deus em nossa vida é estar vigilante, viver de acordo com os ensinamentos de Jesus, testemunhar seus projetos e trabalhar na construção do Reino: “Todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite, nem das trevas. Portanto, não durmamos, como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios”.

E Jesus no evangelho apresenta a maneira adequada de aguardar a vinda do Senhor. Fica claro no texto que instalar-se na comodidade e na indiferença para com os valores do Reino leva a condenação e não garante nenhuma produção com os dons que se recebe. Independente de quais e quantos sejam os dons disponíveis para cada pessoa, importa fazê-los produzir e não desperdiçar privando as pessoas da nossa contribuição por um mundo mais justo e humano. A lógica de Deus é não deixar ninguém de fora, a todos o Senhor confia valores e qualidades que podem ser traduzidos em bondade, misericórdia, compaixão, lealdade, em resumo, Deus nos presenteia com a vida toda e toda a vida. Reconhecer que Deus nos cumulou com generosidade é a maneira mais autêntica de multiplicar os talentos. Precisamos fugir da lógica fundamentalista que entende os dons apenas como bens materiais e dinheiro, não é esta a mensagem da parábola. Não podemos esquecer que o único que ofereceu dinheiro como garantia de felicidade foi o diabo no episódio das tentações de Jesus.

As palavras do Evangelho são muito claras: “A um deu cinco talentos,
a outro deu dois e ao terceiro, um; a cada qual de acordo com a sua capacidade
”. Não se trata de dinheiro para comprar e consumir, gastar e possuir, mas qualidades para fazer a vida valer a pena.

É neste sentido que nós rezamos o salmo de hoje:

Será assim abençoado todo homem
que teme o Senhor.
O Senhor te abençoe de Sião,
cada dia de tua vida;
para que vejas prosperar Jerusalém.

E que atualizando se pode melhor entender com a frase de São João Bosco: “Nossa vida é um presente de Deus e o que fazemos dela é o nosso presente a Ele”.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 08 DE NOVEMBRO DE 2020 - 32º COMUM - ANO A

 

VIGILÂNCIA E PRUDÊNCIA NA ESPERA DO SENHOR QUE VEM

Dentre os quadros mais apreciados e páginas mais acessadas na internet e nos aplicativos móveis um deles é o que diz respeito a previsão do tempo, a expectativa em relação a chuva, temperatura e o clima em geral. Preocupar-se com as condições de balneabilidade das praias, ressacas e marés é uma constante nestes dias que antecedem a temporada de verão. A mesma vigilância as autoridades sanitárias continuam reforçando sobre os cuidados para evitar uma segunda onda de contágio da COVID 19. Se fosse possível resumir as preocupações destes dias talvez se possa fazê-lo em duas palavras: Vigilância e prudência!

É sobre essas duas palavras que tratam as leituras deste domingo. O que é fundamental para que as pessoas reconheçam a presença de Deus e tudo o que ele oferece é a vigilância e a prudência. Deus abre generosamente as ‘comportas do céu.’ Para receber e reconhecer todos os dons basta que as pessoas tenham seus corações abertos e sejam generosos na medida que Deus dispensa a sua generosidade.

O livro da Sabedoria revela numa linguagem emocionante a verdadeira expectativa que deve guiar as pessoas: “Meditar sobre a sabedoria é a perfeição da prudência; e quem ficar acordado por causa dela em breve há de viver despreocupado. Pois ela mesma sai à procura dos que a merecem, cheia de bondade, aparece-lhes nas estradas e vai ao seu encontro em todos os seus projetos”.  

E São Paulo convida aos tessalonicenses a se preocupar com uma única coisa: “Irmãos, não queremos deixar-vos na incerteza a respeito dos mortos, para que não fiqueis tristes como os outros, que não têm esperança. Se Jesus morreu e ressuscitou - e esta é nossa fé - de modo semelhante Deus trará de volta, com Cristo, os que através dele entraram no sono da morte. Exortai-vos, pois, uns aos outros, com estas palavras”. São Paulo reacende a esperança da comunidade de tessalônica garantindo-lhes que apesar de todas as provações, todos os sofrimentos, toda a dor que a criatura humana está sujeita a vida é uma caminhada tranquila e confiante e cuja culminância será um desabrochar pleno onde todas as criaturas experimentaram uma nova realidade.

A história das virgens do Evangelho, não é outra coisa senão um convite para evitar as tensões e preocupações da última hora. Na mesma proporção que as primeiras comunidades cristãs também na atualidade experimentamos altos e baixos, momentos de entusiasmo, de compromisso, de alegria, de esperança, com momentos de pouco empenho, de certa preguiça, de falta de entusiasmo que facilmente nos levam a se preocupar com coisas pouco importantes, deixando de lado outras mais urgentes e exigentes. A vigilância que as virgens imprudentes não cultivaram é o que se pede de cada pessoa nos dias de hoje a festa que poderá acontecer no encontro definitivo com o Senhor dependerá da nossa vigilância e da nossa prudência que nos farão construtores do Reino de Deus a cada dia desta existência terrena. Deixar que as lamparinas se apaguem por falta do azeite da esperança e do cuidado é um risco que todos correm quando todas as coisas parecem já estar no patamar de segurança.

Deus continua vindo ao encontro do mundo, como o noivo ao encontro da esposa, que ele não nos encontre despreparados e alheios às preocupações do cotidiano, como quem nada tem a ver com o mundo presente. Dentre as preocupações da atualidade o Papa Francisco tem apresentado sua angústia em relação a uma economia diferente, que faça viver e não matar, incluir e não excluir, humanizar e não desumanizar, cuidar da Criação e não a depredá-la. É neste sentido que o Papa Francisco propôs a realização de um encontro mundial para repensar a economia. Um evento que nos ajude a estar juntos e nos conhecer, e que nos leve a fazer um ‘pacto’ para mudar a atual economia e dar uma alma à economia do amanhã.

O momento exige estar com as lâmpadas acesas e não se acomodar com aquilo que já se sabe sobre o assunto, ou com as informações que a imprensa apresenta quase sempre tendenciosas e de acordo com interesses de uns ou de outros.

Rezar numa única voz no dia do Senhor é um clamor que se eleva ao Pai pela comunhão entre todos como se reza no salmo: “Sois vós, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora ansioso vos busco! A Minh ‘alma tem sede de vós, minha carne também vos deseja, como terra sedenta e sem água! ”

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 01 DE NOVEMBRO DE 2020 - TODOS OS SANTOS - ANO A

 

ALEGRAI-VOS E EXULTAI

O trecho do livro do Apocalipse de onde se lê a primeira leitura na missa deste domingo começa narrando alguns sinais extraordinários e uma conversa nada comum entre anjos. E essa conversa termina com a frase: “Depois disso, vi uma multidão imensa
de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar”. A festa de todos os santos nos convida a reconhecer  que estamos rodeados de uma nuvem de testemunhas, entre elas pode estar a nossa própria mãe, a avó ou outra pessoa que nos foi querida. Alguns daqueles que consideramos santos, podem não terem sido sempre perfeitos, mas no meio das imperfeições e quedas continuaram a caminhar e agradaram ao Senhor. De uma coisa é certa na caminhada para a santidade, não precisamos querer carregar sozinhos o fardo que essa condição exige, os numerosos santos de Deus nos protegem, amparam e guiam.

E para ser santo, a iniciativa nem precisa ser nossa. É Deus mesmo quem nos dá esse privilégio, como está escrito na carta de João que acabamos de ouvir: “Caríssimos, vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos! desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos”.

E qual será a nossa parte nesse processo? Simples assim: viver as bem aventuranças!

Felizes os pobres em espírito, isso significa: não pensar que temos o suficiente para comprar tudo e consumir tudo o que nosso insatisfeito ego sempre sugere mais.

Felizes os mansos – Aqueles que não colocam a própria vaidade e a pretensão de ser melhor que os demais;

Felizes os que choram – Não ter medo de chorar as próprias dores e tristezas e chorar com os outros, não tentar diminuir ou esconder o sofrimento;

Feliz quem tem fome e sede de justiça – aprender a fazer o bem e o que é justo e correto;

Felizes os misericordiosos – Aquele que é capaz de doar-se generosamente sem esperar recompensa;

Felizes os puros de coração – Capacidade de amar as pessoas com o coração;

Felizes os pacificadores – não ser causa e causador de conflitos e incompreensões;

Felizes os que são perseguidos por causa da justiça – Não querer que tudo a nossa volta sempre nos seja favorável.

Em resumo, ser santo e buscar a santidade é não ter medo de  valorizar e cuidar da vida em todas as formas e em todos os lugares.

Santos seremos sempre que nos deixamos moldar pelas bem aventuranças!

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 25 DE OUTUBRO DE 2020 - 30º COMUM - ANO A

 

AMOR: UMA MOEDA DE CARA E COROA

A comunidade dos Tessalonicenses, para quem Paulo escreve a segunda leitura deste domingo, tem muita semelhança com as nossas comunidades.  Paulo vai à cidade e anuncia a boa notícia de Jesus Cristo sem lhes perguntar se conheciam e estavam dispostos a seguir as leis  judaicas. Mais tarde tomando conhecimento de como havia progredido na vivência do Evangelho, escreve e valoriza o que eles tem de extraordinário e bonito: “Vós vos tornastes imitadores nossos, e do Senhor, acolhendo a Palavra com a alegria do Espírito Santo... Com efeito, a partir de vós, a Palavra do Senhor não se divulgou apenas na Macedônia e na Acaia, mas a vossa fé em Deus propagou-se por toda parte”. E isto acontece frequentemente nas nossas comunidades cristãs, porém, semelhante à comunidade de Tessalônica, também entre nós pipocam dificuldades e sofrimentos: “Apesar de tantas tribulações”. As tribulações a que Paulo se refere naquela comunidade vinham exatamente da parte dos judeus que se consideravam melhores e mais merecedores do que os convertidos. Ora, também neste ponto, as nossas comunidades se parecem com a de outrora. É muito comum que nós, os cristãos de missa dominical, de comunhão frequente e em dia com todas as leis da Igreja nos achamos melhores e mais merecedores do Evangelho e frequentemente excluímos, perseguimos, denegrimos a imagem daqueles que são diferentes de nós.

Aprender que não somos uma ilha de perfeitos, de santos e privilegiados é o convite da segunda leitura deste domingo, aprender a construir pontes em vez de muros, abrir portas em lugar de colocar cancelas, acolher em lugar de excluir.

O que Paulo faz nessa carta se fundamenta na compreensão que ele tem de tudo aquilo que Jesus fez e ensinou. Por sua vez a ação de Jesus na Palestina de outrora e em Jerusalém apenas confirmava o cerne da lei de Moisés: “Não oprimas nem maltrates o estrangeiro, pois vós fostes estrangeiros na terra do Egito. Não façais mal algum à viúva nem ao órfão. Se os maltratardes, gritarão por mim e eu ouvirei o seu clamor... Se clamar por mim, eu o ouvirei, porque sou misericordioso”.

A lei de Moisés é objetiva e clara, só não a compreende quem não quer. Praticar injustiças e desmandos contra os desprotegidos e fragilizados nas relações sociais é um crime contra Deus e dele nos  distância. É claro que neste particular entra a questão de participar das prescrições e orações no templo, mas o julgamento não vem por causa dessas práticas, pelo contrário o que no coloca na dinâmica da aliança não é a quantidade das nossas orações, mas como a oração é colocada em prática no nosso dia a dia.

Os fariseus, que entendiam tudo sobre a lei de Moisés, já tinham decidido que deveriam matar Jesus. Porém ainda não dispunham de um motivo que lhes desse amparo legal para a sua decisão. Nos últimos domingos estamos ouvindo trechos do Evangelho nos quais eles procuram uma razão para justificar sua decisão. Hoje ouvimos de novo: “Então eles se reuniram em grupo, e um deles perguntou a Jesus, para experimentá-lo...” O objetivo da pergunta não era esclarecer uma dúvida, mas pegar Jesus em alguma contradição.

E de novo Jesus mostra a clareza e a compreensão que ele tem de todos os preceitos legais. Em outras palavras: É impossível amar a Deus sem amar aos irmãos. Não se pode dizer que amamos a Deus se não nos comprometemos com a promoção dos irmãos e das irmãs. Jesus não faz distinção sobre quem são os que merecem nossa solidariedade e partilha. É neste contexto que se aplica a Encíclica do Papa Francisco: Fratelli Tutti! E recomenda que tenhamos a coragem de ser uma Igreja Samaritana, isto é, que se preocupe menos com a lei, com as normas, com as regras, mas que tenha a coragem de se aproximar dos feridos, excluídos, afastados  de nossas Igrejas e comunidades. Igrejas e comunidades são convidadas a criar uma cultura do encontro e fazer acontecer a fraternidade. É por isso que nós rezamos: Aumentai em nós a fé, a esperança e a Caridade. E que os sacramentos que recebemos produzam em nós aquilo que significam. Em resumo, o maior de todos os mandamentos é uma moeda de duas faces: Acolher as pessoas e nelas acolher a Deus!

 

 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 18 DE OUTUBRO DE 2020 - 29º COMUM - ANO A

 

TODAS AS PESSOAS PERTENCEM A DEUS!

As redes sociais, o corre-corre do mundo contemporâneo tornou insignificante algumas realidades que marcaram profundamente a história da humanidade. Vamos nos colocar na condição de alguém que está recebendo uma carta, com longas declarações de afeto e noticias de uma pessoa que amamos. Ao abrir o envelope, nos deparamos com uma saudação mais ou menos assim: “Agradeço a Deus por ter lhe encontrado e fazer parte da minha vida. Lembro de você e rezo todos os dias recordando como você leva a sério tudo aquilo que acredita, sei do esforço que faz e da esperança que brota no seu coração, não tenho dúvidas que Deus mora na sua casa”.

Com palavras muito semelhantes é uma saudação com esse significado que Paulo faz na segunda leitura desse domingo: Damos graças a Deus por todos vós, lembrando-vos sempre em nossas orações. Diante de Deus, nosso Pai, recordamos sem cessar a atuação da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo. Sabemos, irmãos amados por Deus, que sois do número dos escolhidos”.

Neste trecho é possível perceber que os tessalonicenses são uma comunidade  que tem Deus no centro das suas preocupações e atividades. As dificuldades a as provações que experimentam não os impedem de se comprometer de maneira corajosa com os valores de Deus e do seu Reino. Trata-se de uma comunidade que coloca em prática aquilo que acredita.

Na primeira leitura temos uma comunidade escravizada e marginalizada em consequência dos erros cometidos no que se refere ao respeito e valorização das pessoas. O resultado da sua má conduta a levou, mais uma vez ao exílio. Neste caso Ciro, o rei da Pérsia aparece com instrumento de Deus e valorizando as pessoas que são propriedade divina liberta a comunidade de Israel de mais uma das suas fragilidades e inconsequências: “Isto diz o Senhor sobre Ciro, seu Ungido: 'Tomei-o pela mão, por causa de meu servo Jacó, e de meu eleito Israel, chamei-te pelo nome; para que todos saibam, do oriente ao ocidente, que fora de mim outro não existe. Eu sou o Senhor, não há outro”.

No Evangelho Jesus tem mais um confronto com os detentores do poder em Jerusalém. Estes para colocá-lo à prova lhe fazem uma pergunta sobre uma disciplina fiscal da sua época. Jesus não entra na jogada deles, pelo contrário, mostra com clareza até onde vai a insensatez dos chefes do povo e qual é a verdadeira condição que deve ser levada em consideração em relação a dignidade das pessoas: Os fariseus fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra. Dize-nos, pois, o que pensas: É lícito ou não pagar imposto a César?'  Jesus percebeu a maldade deles e disse: 'Hipócritas! Por que me preparais uma armadilha? Mostrai-me a moeda do imposto!' De quem é a figura e a inscrição desta moeda?' Eles responderam: 'De César.' Jesus então lhes disse: 'Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.

A Resposta de Jesus é objetiva, como se diz: ‘Curta e grossa’. Em outras palavras pode-se compreender a resposta de Jesus: “Não fujam das responsabilidades do mundo, mas não façam das pessoas objetos de modo que sejam transformadas em propriedade ilícita de quem não tem poder sobre elas”. A questão fundamental é esta: A pessoa pertence a Deus e sua referência fundamental é esta verdade.

Muitas vezes nós estamos também inquietos e inseguros com os acontecimentos do dia a dia, não percebemos o significado de muitas situações e por isso nem percebemos como Deus caminha ao nosso lado. Facilmente nos deixamos impressionar pelas dificuldades e coisas ruins que acontecem ao nosso redor e nos esquecemos do exemplo de tantas pessoas e comunidades que dão testemunho de fé, de amor e de esperança mostrando a presença de Deus no mundo.

Não nos esqueçamos, todos somos irmãos e temos responsabilidade no sentido de não permitir que ninguém seja maltratado, humilhado, explorado, instrumentalizado, diminuído em sua dignidade. Todos os dias somos chamados a “Dar a Deus o que é de Deus”!

Adorai-o no esplendor da santidade,
terra inteira, estremecei diante dele!
Publicai entre as nações: 'Reina o Senhor!'
pois os povos ele julga com justiça.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 11 DE OUTUBRO DE 2020 - 28º COMUM - ANO A

 

BANQUETE E TRAJE DE FESTA

Estamos nos encaminhando para voltar a normalidade depois deste longo período de isolamento social. A esta altura as reflexões sobre o cuidado ganham contornos menos dramáticos e mais abrangentes. Quase todas as propostas para retomar o ritmo de vida levam em conta a necessidade de considerar que a sociedade precisa continuar colocando em prática alguns cuidados elementares para não provocar uma segunda onda de contágio, ao mesmo tempo não são poucos os convites para estar sempre alerta porque outras ameaças podem surgir a qualquer momento. Então, consideremo-nos todos convidados para a retomada, mas não esqueçamos os “trajes de festa”. Ora, porque o padre está falando isso de novo que está abundantemente  divulgado por todos os meios de comunicação?  Permitam-me fazer uma relação desta situação com a liturgia da Palavra deste domingo.

Na primeira leitura o profeta afirma: O Senhor dos exércitos dará neste monte, para todos os povos, um banquete de ricas iguarias, regado com vinho puro, servido de pratos deliciosos e dos mais finos vinhos... Naquele dia, se dirá: 'Este é o nosso Deus, esperamos nele, este é o Senhor, nele temos confiado”. Mas este não é um banquete que se pode chegar com as mãos abanando, isso é sem se comprometer com ele. Participar deste banquete consiste em fazer comunhão com os outros convidados e por consequência  com Deus. Ir ao lugar onde Deus preparou o banquete implica renunciar a muitas práticas que tínhamos quando ainda estávamos longe. Consiste em dar prioridade ao amor, aos valores do Reino: Acolhida, fraternidade, partilha, inclusão.

Na sequência deste convite lemos no Evangelho a parábola do banquete a qual nos  sugere agarrar o convite de Deus e não permitir que o cotidiano a que estávamos habituados volte a ocupar as nossas preocupações, ao mesmo tempo é preciso ir ao banquete “com uma roupa de festa”, ou seja, não continuar com as mesmas práticas de outrora. Para isso vale a exortação do Papa Francisco em relação a retomada depois da pandemia. Diz Ele: não podemos retomar mecanicamente, é preciso recomeçar fraternalmente! No caso do Evangelho os que não aceitaram o convite são aqueles que deliberadamente preferem continuar tudo do mesmo jeito, como se estava construindo até agora. Quem aceita o convite para o banquete são todos os que compreendem seus limites, seu pecado, sua fragilidade, mas apesar disso tem um coração disponível para Deus e para os desafios que Ele faz isso significa “vestir-se com roupas de festa”. Ir para a festa de Deus não é um convite que se recebeu uma vez na vida e que se responde uma única vez. Pelo contrário é um convite que vai se repetindo diariamente e para o qual é sempre necessário uma nova roupa de festa que significa uma coerência contínua e diária.

E coerência diária e contínua é que ensina São Paulo na segunda leitura: Sei viver na miséria e sei viver na abundância. Eu aprendi o segredo de viver em toda e qualquer situação, estando farto ou passando fome, tendo de sobra ou sofrendo necessidade. Tudo posso naquele que me dá força. No entanto, fizestes bem em compartilhar as minhas dificuldades. O meu Deus proverá esplendidamente com sua riqueza a todas as vossas necessidades, em Cristo Jesus. Ao nosso Deus e Pai, a glória pelos séculos dos séculos. Amém”.

Numa sociedade que convida e facilita o egoísmo, a autossuficiência, a preocupação somente com os próprios interesses somos desafiados a aceitar o convite vestindo diariamente o traje de festa que significa uma partilha de alegrias e solidariedade que não deixe ninguém excluído. Neste contexto sim, podemos rezar o salmo:


O Senhor é o pastor que me conduz;*
não me falta coisa alguma.
Pelos prados e campinas verdejantes*
ele me leva a descansar.
Para as águas repousantes me encaminha,*
e restaura as minhas forças.

Ele me guia no caminho mais seguro,*
pela honra do seu nome.
Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso,*
nenhum mal eu temerei;
estais comigo com bastão e com cajado;*
eles me dão a segurança!

Preparais à minha frente uma mesa,*
bem à vista do inimigo,
e com óleo vós ungis minha cabeça;*
o meu cálice transborda.


 

 

 

 

 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 04 DE OUTUBRO DE 2020 - 27º COMUM - ANO A

 

VISITAI A VOSSA VINHA E PROTEJEI-A

Certamente todos já investimos esforços, recursos, parcerias com projetos e empreendimentos com os quais nos decepcionamos ou que não deram o resultado esperado. Muitas vezes também acreditamos em pessoas, instituições, grupo políticos e até numa amizade ou num amor que éramos capazes de “colocar a nossa mão no fogo” sobre a retidão e a seriedade da outra parte. De repente, “quebramos a cara”, todos os nossos esforços e a nossa confiança caem por terra e nos damos conta que fomos iludidos. Pois é exatamente essa a mensagem central da Palavra de Deus nesse domingo.

Usando figuras de linguagem, tanto o profeta, quanto Jesus Cristo falam de uma desilusão, uma decepção extraordinária de alguém que não corresponde a tudo o que foi investido, ou a confiança que havia merecido.

Isaias usa a figura de uma vinha e do cuidado que o empreendimento exige fazendo uma comparação com o povo de Israel e tudo o que Deus realizou em seu favor, cujo resultado foi desastroso. Depois de descrever tudo o que proprietário fez e o resultado obtido, o profeta conclui: Pois bem, a vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel,
e o povo de Judá, sua dileta plantação; eu esperava deles frutos de justiça - e eis injustiça; esperava obras de bondade - e eis iniquidade”.

No Evangelho, de novo hoje, Jesus fala aos sumos sacerdotes e aos chefes do povo, contando uma parábola os deixa encabulados e forçados a responder exatamente o contrário do que era a sua prática: Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: 'Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo.' Então Jesus lhes disse: 'Vós nunca lestes nas Escrituras: a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos? Por isso eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos”.

A questão fundamental que Jesus sugere nesta parábola tem a ver com a coerência, com a seriedade do compromisso assumido. Ninguém é obrigado a aceitar a proposta do Reino, mas uma vez dito o sim não dá para fazer corpo mole, desculpas esfarrapadas, falta de coerência, comodismo.

Ontem, como hoje, com o povo de Israel ou conosco, Deus estabelece constantemente uma relação de amor e de fidelidade, nos protege ao longo da jornada, oferece condições para produzir fraternidade, bem querer, cuidado, respeito, honestidade, seriedade e por ai vai... A história do amor de Deus para com a “sua vinha” continua a se repetir hoje. A 1ª leitura é um convite, um desafio e uma pergunta dirigida a cada um de nós: Eu tenho consciência desse amor de Deus? Tenho um coração aberto aos seus dons?  Tenho produzidos frutos de coerência, bondade, justiça, misericórdia? Tenho me comportado como alguém responsável e cuidadoso para com toda a obra que Deus me disponibiliza?  Esperamos que apenas os outros produzam frutos ou sou também uma pessoa ativa na transformação do mundo e na prática de tudo aquilo que acredito?

Peçamos a graça e coragem de sermos justos, honestos, cuidadosos, coerentes. Que nossa oração seja o resultado de nossa ação, e que a Eucaristia que recebemos, a Palavra que ouvimos e a participação na assembleia dominical nos ajudem a nunca sermos causa de decepção para as pessoas e nem tampouco ao projeto que Deus tão cuidadosamente colocou em nossas mãos.

Para isso servem as palavras de São Paulo na carta aos filipenses que ouvimos na segunda leitura: “Praticai o que aprendestes e recebestes de mim, ou que de mim vistes e ouvistes. Assim o Deus da paz estará convosco”.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 27 DE SETEMBRO DE 2020 - 26º COMUM - ANO A

 

MOSTRAI-NOS Ó SENHOR VOSSOS CAMINHOS

Estamos entrando num período eleitoral e neste tempo, pipocam nas redes sociais propagandas de todos os tipos e de distintos candidatos. A nossa reação normal é fazer julgamentos ou mais comumente logo encaminhar para os nossos contatos.  Em ambos os casos é normal a reação com as seguintes palavras: Em tempo de política todos se lembram da gente; ou este ou aquele candidato não é uma pessoa de palavra, não se pode confiar no que ele promete!  Ora, é sobre “ser uma pessoa de coerência” que trata a liturgia da Palavra deste domingo.

O povo de Israel passava por uma dura provação vivendo no exílio. O profeta Ezequiel insiste com eles para que não tenham medo de se comprometer, sem meias palavras, sem desculpas, sem promessas vazias, mas aceitando com determinação e coerência aquilo que expressam com a boca. Expulsos da sua terra e das suas cidades, com sua religião colocada a prova, a comunidade estava tentada a encontrar culpados e a responsabilizar alguém por sua desgraça, mas Ezequiel é muito claro: Não se trata de encontrar culpados, antes cada pessoa é responsável por uma parte daquilo que acontece com todos. À medida que cada um assume a sua parte e se empenha em modificar o seu estilo de vida a comunidade inteira pode tomar outro rumo.

A mesma coisa se percebe no evangelho no diálogo do pai com os dois filhos. Na prática aquele que parecia irresponsável é o que cumpre a vontade do pai. Isso reforça o pedido do profeta, é necessário ser uma pessoa coerente, ou seja, que cumpre aquilo que diz! É extraordinária a conversa de Jesus com seus interlocutores: “Qual dos dois fez a vontade do pai?' Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: 'O primeiro.' Então Jesus lhes disse: 'Em verdade vos digo, que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele”. O elogio de Jesus não é para a condição de pecado destes últimos, mas pela aceitação da conversão. A repreensão que Jesus dá aos sacerdotes e sábios do seu tempo pode ser aplicada também a nós. Muitas vezes merecemos o título que o Papa Francisco muito bem aplicou: “Cristãos papagaios” que falam muito, rezam bastante, se dirigem insistentemente clamando “Senhor, Senhor”, mas não vivem aquilo que supostamente acreditam. A pergunta que precisa ser respondida por cada cristão contemporâneo poderia ser mais ou menos assim: O jeito como pratico a religião me aproxima do jeito de ser de Jesus, ou até mais simples um pouco: As minhas orações me fazem agir semelhante a qual dos dois filhos da parábola? Certamente nos assemelhamos muitas vezes ora ao primeiro, ora ao segundo filho do Evangelho, alternamos, em nosso dia a dia, momentos de fraqueza e fragilidade com momentos de coerência e de responsabilidade.

Talvez seja pedir muito, entretanto, a exortação de São Paulo aos filipenses parece ter sido escrita para cada um de nós: “Nada façais por competição ou vanglória, mas, com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante, e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro. Tende entre vós o mesmo sentimento
que existe em Cristo Jesus. Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo”.

Cultivar os mesmos sentimentos de Jesus implica em não se considerar melhor que os outros, mais perfeitos, menos pecadores, nem precisa se fazer notar pelas muitas orações, por nossas roupas ou adereços que ostentem o título de cristão que frequentemente fazemos questão de apresentar em praça pública. O pedido de São Paulo para nos colocar na estrada da humildade não é outro senão aquele que rezamos no salmo:

Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,*
e fazei-me conhecer a vossa estrada!
Vossa verdade me oriente e me conduza,
porque sois o Deus da minha salvação;*
em vós espero, ó Senhor, todos os dias!

 

 

 

 

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 20 DE SETEMBRO DE 2020 - 25º DOMINGO COMUM - ANO A

 

A LÓGICA DE DEUS

Se tem uma coisa que estamos acostumados são disputas familiares entre os irmãos com argumentos do tipo: “Ele é um rapa de tacho... A mãe gosta dele e não gosta de mim... O pai tem seu filho preferido...” Quer ver quando é filho único a especialidade dele é jogar o pai contra a mãe  e vice-versa, sempre com argumentos de preferência em relação a todas as suas vontades. Na verdade, salvo raras exceções, os pais sempre tratam os filhos com justiça e equidade, não necessariamente com igualdade, mas cuidam deles segundo as suas necessidades.

Dito isto é muito fácil compreender a Palavra de Deus deste domingo.  A começar pela primeira leitura: “Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor. Estão meus caminhos tão acima dos vossos caminhos e meus pensamentos acima dos vossos pensamentos, quanto está o céu acima da terra”. O profeta faz um convite a refletir sobre a ideia que nós fazemos de Deus, a qual quase sempre é feita segundo nosso juízo e vontade, ou seja, gostaríamos de um Deus  que fizesse todas as coisas na  hora e do jeito que nós queremos. Um Deus que funcione dentro dos nossos esquemas mentais.  Para que isso aconteça criamos todo tipo de negociação e arranjos pensando com isso diminuir a distância entre nossas vontades e a equidade necessária entre as pessoas, como aquela que estabelecem os pais na relação com os filhos.

A parábola de misericórdia contada no Evangelho deste domingo é igualmente um desafio em relação aos nossos esquemas de meritocracia a que estamos habituados ou gostaríamos que fosse praticado também na relação com Deus: “Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o calor o dia inteiro”. Quer ver quando se trata de ser atendido nas demandas que apresentamos a Deus. “Eu não entendo porque eu rezo tanto e Deus parece que não me ouve... fulano nunca vem pra Igreja e pra ele tudo dá certo”. Na volta da pandemia então é que se poderá perceber ainda mais as queixas em relação ao acolhimento daqueles que supostamente são menos merecedores dos serviços da Igreja. Fulano nem fez o curso de batismo e já pode batizar, beltrano nunca participou da catequese online e vai fazer a primeira comunhão, aquele outro nunca mais veio a missa e agora já aparece pra se casar... e assim por diante. Como gostaríamos que as coisas de Deus fossem medidas segundo nossos interesses e juízos. Tal como em uma família não são as qualidades que tornam um filho mais merecedor que o outro, mas as necessidades fazem com que os pais tratem a todos de acordo com aquilo que precisam. Essa é também a lógica de Deus: “Quando chegou a tarde, o patrão disse ao administrador: `Chama os trabalhadores e paga-lhes uma diária a todos, começando pelos últimos até os primeiros”. Entrar na dinâmica do Reino implica perceber as diferentes necessidades de cada pessoa e deixar Deus agir segundo a sua misericórdia.

Afinal é isso que rezamos no Salmo:

Misericórdia e piedade é o Senhor,
ele é amor, é paciência, é compaixão.
O Senhor é muito bom para com todos,
sua ternura abraça toda criatura.

 

 

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 13 DE SETEMBRO DE 2020 - 24º COMUM - ANO A

 

CERCAR-SE DE CARINHO E COMPAIXÃO

Não é difícil perceber como todas as nossas forças, capacidades, sabedoria, recursos econômicos, e mil outras formas de se considerar capaz para resolver todos os problemas e superar todas as provações e provocações que a vida nos oferece caem por terra.  Por conta da nossa suposta onipotência vamos criando soluções que nada solucionam ou como se diz popularmente “estamos enxugando gelo”, e as alternativas que parecem estar ao alcance da mão nunca chegam. É nestes momentos que a palavra de São Paulo, na segunda leitura deste domingo, parece ter sido escrito para o nosso tempo: “Ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor”.

A mensagem que Paulo deixa para todos se resume em poucas palavras: “a única coisa importante e decisiva é Jesus Cristo, sua palavra, seu ensinamento, seu jeito de ver e fazer as coisas, é a Ele que pertencemos”.

Internalizar essa verdade e viver para Cristo é um processo que a gente vai fazendo ao longo da vida, não é uma solução que encontramos num passe de mágica. Viver com menor sofrimento as debilidades que a vida nos apronta ou que nós aprontamos para a vida implica sabedoria que o autor da primeira leitura foi muito feliz ao nos dizer: “O rancor e a raiva são coisas detestáveis... Se alguém guarda raiva... Se não tem compaixão, como poderá pedir perdão dos seus pecados?” Quanto mais dificuldades colocamos para perdoar, maiores serão os sofrimentos aos quais nós mesmos estamos sujeitos. E isso fica obvio no texto do Evangelho.

Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?'... Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”.  E na sequência conta a parábola de alguém que foi perdoado e não soube perdoar.  O texto do evangelho deixa muito claras duas atitudes fundamentais para quem se reconhece e percebe que não é o dono nem de si mesmo: perdoar e reconciliar. Não há outra coisa capaz de nos conduzir para soluções duradouras e felizes.  Agir nas relações humanas com o coração de Deus é uma condição sem a qual não vamos a lugar nenhum. É isso que rezamos no salmo sugerido para esse domingo:

O Senhor é bondoso, compassivo e carinhoso.


1Bendize, ó minha alma, ao Senhor,
e todo o meu ser, seu santo nome!
2Bendize, ó minha alma, ao Senhor,*
não te esqueças de nenhum de seus favores!

3Pois ele te perdoa toda culpa,*
e cura toda a tua enfermidade;
4da sepultura ele salva a tua vida*
e te cerca de carinho e compaixão.

9Não fica sempre repetindo as suas queixas,*
nem guarda eternamente o seu rancor.
10Não nos trata como exigem nossas faltas,*
nem nos pune em proporção às nossas culpas.

11Quanto os céus por sobre a terra se elevam,*
tanto é grande o seu amor aos que o temem;
12quanto dista o nascente do poente,*
tanto afasta para longe nossos crimes.

 

 

 

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 06 DE SETEMBRO DE 2020 - 23 º COMUM - ANO A

 

NÃO FIQUEM DEVENDO NADA A NINGUÉM

A última frase da carta de São Paulo proclamada na liturgia deste domingo diz assim: “O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei”. Ele faz esta afirmação depois de recordar os mandamentos que traduzidos para a atualidade significa preocupar-se com o bem estar de todos.

Uma das exigências contemporâneas consiste em superar a indiferença e cuidar do próximo. Tanto a primeira leitura quanto o evangelho apresentam uma maneira de prestar atenção e de cuidar das pessoas.

Ao sugerir a correção fraterna como um caminho necessário os dois textos permitem entender que se trata de ganhar as pessoas para a vida e não ganhar das pessoas.

Amar e cuidar implica na capacidade de incluir, recuperar, procurar e buscar. O êxito desta tarefa nunca é uma atitude solitária, antes conta sempre com a participação da comunidade que abre espaço e se abre para o perdão e a vida fraterna como se canta no salmo:

 Vinde adoremos e prostremo-nos por terra,
e ajoelhemos ante o Deus que nos criou!
Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor,
e nós somos o seu povo e seu rebanho,
as ovelhas que conduz com sua mão”.

A figura descrita na primeira leitura não se trata de uma pessoa que está vigiando a vida alheia. Pelo contrário, o profeta, faz uma analogia com a responsabilidade das forças de segurança numa cidade cuja finalidade é perceber e vigiar para que nada ali aconteça em dissonância com os projetos de Deus e com o aviltamento da dignidade das pessoas. Ou seja, diante do sofrimento e das ameaças contra a vida aquele que ama não pode ficar indiferente.

Na mesma direção Jesus insiste no Evangelho na missão que todos temos para estabelecer um diálogo fraterno e acolhedor que não condene o pecador, mas que facilite sua reinserção na sociedade por meio do amor misericordioso e compassivo. É nisto que se resumem todos os mandamentos e que São Paulo afirma ser a única dívida realmente importante e que devemos tratar de saldá-la sem demora: Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, - pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei”.

Peçamos a graça de transformar nossas famílias, nossas comunidades, e todas as nossas relações em oportunidades para que se possam ver as marcas do amor. De tal modo que todos proclamem: “Vejam como eles se amam”.

Reunidos fisicamente, ou pelas redes sociais somos alimentados pela Palavra, pela Eucaristia e pela Oração comunitária e solidária. Juntos vamos construindo um lugar onde as pessoas seguem Jesus Cristo superam seus erros e fraquezas ganhando sempre mais irmãos ao longo do caminho e de cada circunstância. Então sim podemos cantar de novo:

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos o Rochedo que nos salva!
Ao seu encontro caminhemos com louvores,
e com cantos de alegria o celebremos”.