sábado, 9 de abril de 2022

HOMILIA PARA O DIA 10 DE ABRIL DE 2022 - DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR - ANO C

 

BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR

Se tem uma atitude apreciada por todos é a simplicidade no falar e no agir. Quando alguém se coloca com ar de superioridade sobre outra pessoa ou grupo em geral gera desconfiança e medo. Aquele que se apresenta como sendo mais perfeito ou merecedor de gestos de reverência é normalmente servido por medo e não por admiração. Na história bíblica não foram poucos os personagens que agiram dessa maneira. Mas também na história bíblica não foram poucos os personagens que misturaram a sua vida com a vida do povo e esses são lembrados com admiração e respeito.

Jesus, é uma das pessoas que se deu a conhecer não como Chefe e Senhor, mas como cumpridor das profecias antigas como se lê na primeira leitura: “O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e cusparadas”. Ninguém antes dele foi reconhecido como Rei aparecendo montado num jumentinho. O que Jesus faz é uma denúncia a toda forma de discriminação, de dominação e de violência. Com seu gesto deixa claro que nele se cumpre a profecia e que sua missão é proclamar a construção de um Reino de paz, de fraternidade e de justiça, acolhimento e inclusão.

São Paulo escreve aos filipenses mostrando quem é o Cristo e como Ele se comportou para deixar claro aos que se declaram cristãos como estes também devem pautar a sua vida: “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens”. Tal como o Cristo os seus seguidores serão um dia glorificados depois de todas as provações desta vida tanto quanto forem capazes de se fazer igual a todos em tudo.

A morte de Jesus não é outra coisa senão a culminância do seu estilo de vida. Para ser fiel à missão que havia recebido do seu Pai Ele não recuou quando se tratava de enfrentar os privilégios de alguns para se aproximar dos pobres, daqueles cujos corações estavam feridos, daquela pessoa cuja liberdade tinha sido cerceada. Seu amor nunca permitiu a exclusão de quem quer fosse, nem mesmo os pecadores. No plano de Deus os mais sofridos são também os preferidos. Sem excluir ninguém desafiou a todos ter um coração aberto e acolhedor, avisou aqueles que se instalavam no orgulho, na prepotência e no egoísmo que tais comportamentos os levariam a própria condenação.

Na cruz, finalmente Ele é reconhecido como o Homem Novo. Na hora derradeira proclama sua absoluta fidelidade àquele lhe enviou: 'Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.' Dizendo isso, expirou”. Diante dos fatos todos tem uma atitude de aceitação e por isso foi reconhecido até por seus algozes: O oficial do exército romano viu o que acontecera e glorificou a Deus dizendo: 'De fato! Este homem era justo!' E as multidões, que tinham acorrido para assistir, viram o que havia acontecido, e voltaram para casa, batendo no peito. Todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres que o acompanhavam desde a Galileia, ficaram à distância, olhando essas coisas”.

Em síntese a cruz de Jesus revela o dinamismo do mundo novo que o Filho de Deus veio inaugurar e que todos somos convidados a acompanhar e reconhecer como as multidões que assistiram a trágico desfecho daquela injusta condenação proclamando com a vida: Na verdade esse homem era o Filho de Deus!


terça-feira, 29 de março de 2022

HOMILIA PARA O DIA 03 DE ABRIL DE 2022 - 5º DOMINGO DA QUARESMA - ANO C

 MUDAI A NOSSA SORTE, Ó SENHOR!

A expressão: “fulano está sempre com quatro pedras na mão” é usada para qualificar alguém que sempre tem um julgamento pronto e uma condenação a fazer de tudo e de todos aqueles com quem tem alguma discordância ou desafeto.

A liturgia de hoje faz um convite para cada pessoa em particular e também a todos indistintamente a perceber que ninguém está livre dos pecados e fragilidades e que todos temos necessidade de conversão e de perdão. A palavra de Deus realça o seu amor que nos desafia a ultrapassar toda forma de escravidão com foco na vida nova e num outro estilo de viver.

O profeta faz um apelo à comunidade de Israel, no sentido de esquecer o passado, não porque não seja importante, mas para que não fiquemos presos a um saudosismo que oprime, faz sofrer e produz a morte: Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis? Pois abrirei uma estrada no deserto e farei correr rios na terra seca”. Olhar para frente e reconhecer que a mão de Deus que agiu no passado continua acompanhando com carinho e cuidado toda a caminhada do povo em todos os tempos.

Na segunda leitura São Paulo reforça a mesma perspectiva:
Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema
que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele eu perdi tudo. Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele, não com minha justiça provindo da Lei, mas com a justiça por meio da fé em Cristo, a justiça que vem de Deus, na base da fé
”. As palavras do apóstolo são um convite a reconhecer na pessoa de Jesus a extraordinária presença de Deus na vida de todos em todos os tempos. Quem encontra e reconhece o Cristo está apto para entrar na vida nova: “Não que já tenha recebido tudo isso, ou que já seja perfeito. Mas corro para alcançá-lo, visto que já fui alcançado por Cristo Jesus”.

O Evangelho é mais uma das provas de fogo que os fariseus fazem questão de colocar para Jesus. Em outras palavras eles colocam Jesus entre a lei e a misericórdia. Com a serenidade e sabedoria que lhe eram particulares Jesus não faz nem defesa, nem acusação. Antes, na perspectiva de Deus, mostra que para a dignidade do pecador nem a intolerância, nem o castigo se apresentam como solução, pelo contrário só o amor e a misericórdia são fontes de vida que permitem o surgimento de uma pessoa nova e transformada: “Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: 'Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.' E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. Em seguida “Jesus se levantou e disse: 'Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?' Ela respondeu: 'Ninguém, Senhor.' Então Jesus lhe disse: 'Eu também não te condeno.
Podes ir, e de agora em diante não peques mais”.

A lógica de Deus não é a lógica da morte, Jesus faz perceber que todos necessitam do perdão de Deus e que todos precisam de conversão. A vida cristã é uma caminhada rumo à páscoa, como os fariseus de outros tempos também nós somos convidados a deixar para trás as coisas e hábitos antigos abrindo-se à novidade do Evangelho.

A quaresma sempre nos desinstala convidando-nos a olhar para o futuro na perspectiva da construção de pessoas novas e de novas relações onde estar com quatro pedras na mão não é a atitude adequada, mas é preciso fundamentar nossa vida em Cristo e na sua Palavra certos de que:

Chorando de tristeza sairão,
espalhando suas sementes;
cantando de alegria voltarão,
carregando os seus feixes!

Porque:

Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!

 

 

 

quarta-feira, 16 de março de 2022

HOMILIA PARA O DIA 27 DE MARÇO DE 2022 - 4º DOMINGO DA QUARESMA - ANO C

 

TODAS AS VEZES QUE O BUSQUEI, ELE ME OUVIU!

A expressão fazer justiça com as próprias mãos é abundantemente utilizada para justificar nossas atitudes e daqueles que estão próximos de nós. Todos temos a convicção que essa prática raramente se justifica, temos a consciência que é sempre melhor resolver as questões do cotidiano servindo-se dos meios legais ou com o recurso da conciliação.

Neste quarto domingo da quaresma a liturgia nos faz compreender como Deus utiliza de todos os recursos para colocar a criatura humana no caminho da reconciliação e da comunhão.

A ideia central da primeira leitura é a celebração festiva da páscoa do povo livre e no começo da sua nova vida na terra prometida: “ O Senhor disse a Josué: 'Hoje tirei de cima de vós o opróbrio do Egito'. 10Os israelitas ficaram acampados em Guilgal e celebraram a Páscoa no dia catorze do mês” Esta celebração mostra como a comunidade de Israel, que havia se rebelado contra Deus reconhece que foi sua mão que os garantiu a terra onde corre leite e mel.

Também a nós a quaresma é um convite para circuncidar o coração, reconciliar-se com as pessoas e com Deus. É importante que nos perguntemos: O que eu preciso cortar na minha vida para dar início a uma nova etapa? Quais são as circunstâncias que impedem a mim e a minha comunidade de selar um sério compromisso com Deus?

Paulo convida a comunidade de Corinto acolher a oferta de amor que Deus faz através de Jesus Cristo, esta é a única forma de recuperar a condição de criaturas renovadas, naturalmente isso exige reconciliação com as pessoas: Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo. Somos, pois, embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo quem exorta através de nós deixai-vos reconciliar”.

No Evangelho não poderia ficar mais clara a máxima de “fazer justiça com as próprias mãos”. Os fariseus e doutores da lei estavam com o julgamento e a condenação pronta para todos os publicanos e pecadores e por extensão a Jesus que os acolhia, e fazia refeição com eles.

Jesus que compreendia as práticas farisaicas não se perde em dar respostas que eles não iriam aceitar. Contando a parábola do Pai Misericordioso Jesus desmonta toda a estrutura judaica de exclusão das pessoas. Na figura do pai e dos dois filhos Jesus coloca todas as categorias de pessoas sob os cuidados da misericórdia de Deus.

Um pai que perdoa, acolhe e reintegra festejando a recuperação do que estava perdido. Um filho arrependido e nele uma parcela da comunidade que foi irresponsável e perdeu muitas e boas oportunidades para ser melhor. Um filho perfeito e autossuficiente que se julga melhor do que tudo e mais justo do que o próprio pai.

Também para nós o Evangelho serve de lição nas inúmeras vezes que assumimos a personagem de ambos os filhos. Nesta quaresma somos convidados a reconhecer o amor de Deus e evitar toda forma de julgamento e de justiça com as próprias mãos, antes, porém procurar a conciliação a misericórdia e o perdão. Afinal é isso que rezamos no salmo:

Contemplai a sua face e alegrai-vos,
e vosso rosto não se cubra de vergonha!
Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido,
e o Senhor o libertou de toda angústia.


HOMILIA PARA O DIA 20 DE MARÇO DE 2022 - 3º DA QUARESMA - ANO C

 

O SENHOR NOS CERCA DE CARINHO E COMPAIXÃO

Uma antiga historieta que pode ser chamada como recurso pedagógico de mãe, tem por título “O João depois”. Diz a historieta que o menino de nome João cada vez que era chamado pela mãe para realizar qualquer tarefa respondia sempre “depois eu vou” e o tempo do “depois” nunca chegava. Certo dia a mãe do João depois resolveu lhe dar uma lição de sabedoria. Enquanto o menino brincava distraído a mãe fazia seus afazeres domésticos e chamava pelo garoto que lhe respondia “depois eu vou”. Chegada a hora do almoço João depois se aproximou da mãe procurando comida, ao que a mãe respondeu: “depois eu faço” e assim a mãe respondeu por diversas vezes com a mesma frase. Daquele dia em diante nunca mais João depois respondeu: “Depois eu vou”.

A história do João depois é uma lição de conversão e serve como pano de fundo para entender a Palavra de Deus deste domingo. No contexto da quaresma é mais intenso o convite para mudança de direção, de mentalidade, de ação e de vida. Não precisamos muito esforço para no convencer que todos e sempre temos necessidade de melhorar nosso estilo de vida e que não podemos esperar para depois.

Na primeira leitura o autor do livro do Êxodo apresenta a imagem de um Deus que não se conforma com a injustiça e a arbitrariedade de uns sobre outros e para que isso aconteça se serve da colaboração das pessoas: “E Deus disse: 'Não te aproximes! Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é uma terra santa'. E acrescentou: 'Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó'. E o Senhor lhe disse: 'Eu vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi o seu clamor por causa da dureza de seus opressores. Sim, conheço os seus sofrimentos. Desci para libertá-los das mãos dos egípcios, e fazê-los sair daquele país para uma terra boa e espaçosa, uma terra onde corre leite e mel”.

Aos coríntios São Paulo reforça a importância de colocar em prática tudo o que diz respeito à coerência entre fé e vida. Não são os rituais externos e vazios, nem a prática de normas e regras, nem mesmo a recepção dos sacramentos como se tudo fosse um ato mágico que vão garantir a salvação o que é essencial é uma vida transformada por gestos de amor e Irmãos, não quero que ignoreis o seguinte: Os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem e todos passaram pelo mar; todos foram batizados em Moisés, partilha com as outras pessoas. No entanto, a maior parte deles desagradou a Deus, pois morreram e ficaram no deserto. Esses fatos aconteceram para serem exemplos para nós, a fim de que não desejemos coisas más, como fizeram aqueles no deserto”. Não se trata de parecer sem bom e justo, mas estar sempre em processo de conversão. Não serve a máxima do “depois eu faço”.

No Evangelho Jesus faz referência a dois fatos da sociedade judaica do seu tempo e desautoriza a ideia de encontrar culpados para os problemas do cotidiano. Ao mesmo tempo Jesus nos previne da ideia de pensar que determinados problemas não acontecem conosco porque somos justos e melhores que os outros.

A parábola da figueira que parece ter um tom ameaçador reforça o convite para a conversão. Ao longo da história da salvação o povo de Israel foi comparado diversas vezes a uma figueira estéril e infiel sendo objeto da ira divina. Para o nosso tempo a parábola é um convite para mudar nossa referência. Deus tem paciência, mas a figueira precisa produzir frutos antes que seja tarde.

Como a figueira que recebe tratamento diferenciado também para nós está em jogo a nossa felicidade. Mão podemos adiar a oportunidade produzir frutos. Não tenhamos medo, mas não fiquemos na inércia de uma vida infrutífera.

Afinal é isso que rezamos no Salmo:

Pois ele te perdoa toda culpa,

e cura toda a tua enfermidade;
da sepultura ele salva a tua vida
e te cerca de carinho e compaixão.

quinta-feira, 10 de março de 2022

HOMILIA PARA O DIA 13 DE MARÇO DE 2022 - 2º DA QUARESMA - ANO C

 

O SENHOR É MINHA LUZ E SALVAÇÃO

Uma antiga lenda conta a história de um rei poderoso que reuniu todos os sábios da corte e lhes propôs a seguinte questão: “Existe um mantra ou uma sugestão que possa funcionar em qualquer situação, em qualquer circunstância, em todo lugar e a qualquer momento? Algo que possa me ajudar quando nenhum de vocês estiverem ao meu lado para me darem conselhos? Digam-me, existe um mantra assim?”

Depois de muito pensar os sábios levaram ao Rei a seguinte resposta: “Em todas as circunstâncias ó Rei Lembre-se sempre que – Tudo isso passará”!

Pois é exatamente essa a lição que a Palavra de Deus quer nos dar nesse domingo. Todos somos diariamente chamados a fazer nossa transfiguração e para isso temos modelos em toda a história da salvação.

Abraão foi convidado a manifestar sua confiança total e radical na Palavra de Deus mesmo sendo já velho, sem filhos, sem a terra sonhada. Sua vida parecia ser destinada ao fracasso quando Deus lhe disse: “Olha para o céu e conta as estrelas, se fores capaz! E acrescentou: 'Assim será a tua descendência'. Abrão teve fé no Senhor, que considerou isso como justiça”. Aceitar o convite e a proposta de Deus apontando para novos tempos significou para Abraão compreender que “tudo isso passará”.

São Paulo convida os filipenses: “Sede meus imitadores, irmãos e observai os que vivem de acordo com o exemplo que nós damos. Nós somos cidadãos do céu. Aguardamos o nosso Salvador, o Senhor, Jesus Cristo. Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso, com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas. Assim, meus irmãos, a quem quero bem e dos quais sinto saudade, minha alegria, minha coroa, meus amigos, continuai firmes no Senhor”. Diante de todas as provações e dificuldades que a vida oferece é como se Paulo dissesse “Tudo isso passará”!

No Evangelho Jesus mostra toda a transformação pela qual passará a sua vida, ao mesmo tempo em que anuncia sua vitória mostra como ela se fundamenta na história do povo de Israel e passa por todos os sofrimentos e incompreensões que a missão lhe exigia: “Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha para rezar. Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante. Eis que dois homens estavam conversando com Jesus: eram Moisés e Elias. Eles apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a morte, que Jesus iria sofrer em Jerusalém”.

Entretanto os discípulos dormiam! Em outras palavras os discípulos não conseguiam acompanhar Jesus, mas apesar disso queriam fazer algo, mas não tinham ainda entendido a voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz”!

Ontem como hoje é a palavra de Jesus que deve ser ouvida trata-se de aprender com Ele que oração e vida andam juntos e são duas faces da mesma moeda. Precisamos aprender que a oração não tem por objetivo nos afastar das coisas do mundo, mas que em meio aos problemas da vida a oração nos permite escutar a voz de Deus, não nos deixando dormir na montanha da nossa indiferença com os problemas do mundo. A oração verdadeira é aquela que nos ajuda a perceber que as alegrias e as tristezas da vida “também passarão”!

E que não podemos sempre cantar:

O Senhor é minha luz e salvação;*
de quem eu terei medo?
O Senhor é a proteção da minha vida;*
perante quem eu tremerei?

 

 

 

sexta-feira, 4 de março de 2022

HOMILIA PARA O DIA 06 DE MARÇO DE 2022 - 1º DOMINGO DA QUARESMA - ANO C

 O SENHOR É REÚGIO E PROTEÇÃO

 

Nesta semana entramos no tempo litúrgico da quaresma. São quarenta dias de provisoriedade, de preparação para algo extraordinário e muito melhor. A penitência, o jejum, a oração e a esmola como práticas sugeridas para esse tempo não devem ser vistas como sacrifícios separados da vitória de Cristo. Esses quarenta dias que nos separam da festa da páscoa são uma oportunidade para experimentar a compaixão com Cristo e com as pessoas. Trata-se de um tempo para repensar nosso estilo de vida e reconhecer as tentações que nos distanciam da vida digna que Deus quer nos doar.

 

O texto da primeira leitura deixa muito claro que se trata de reconhecer o único e verdadeiro Deus: “Dirás, então, na presença do Senhor teu Deus: 'Meu pai era um arameu errante, que desceu ao Egito com um punhado de gente e ali viveu como estrangeiro. Ali se tornou um povo grande, forte e numeroso”. E depois de uma série de provações e dificuldades, enfim reconhece: “o Senhor nos tirou do Egito com mão poderosa e braço estendido, no meio de grande pavor, com sinais e prodígios”. Nada nem ninguém tem mais força e poder do que o único e verdadeiro Deus a quem se deve todas as conquistas e realizações humanas. Por isso nós rezamos no salmo: “Sois meu refúgio e proteção, sois o meu Deus, no qual confio inteiramente”.

Lucas narrando as tentações de Jesus tem como único objetivo mostrar como Jesus sempre se deixou conduzir pelo Espírito do Pai. Nenhuma das extraordinárias e espetaculares possibilidades de sucesso convencem Jesus de abandonar sua proximidade com o Pai e o Espírito Santo! Sua relação íntima com a proposta de Deus Pai não lhe faz um lutador solitário.

Em outros tempos o povo de Israel se deixou vencer pelas tentações do deserto exatamente porque se afastou do Espírito de Deus, agora Jesus mostra como é importante se deixar guiar por Ele como condição para vencer os tempos difíceis que atravessamos. O Evangelho e a quaresma nos apontam para atitudes de acolhida e compaixão com todos os caídos e aqueles que sofrem

A mensagem do Evangelho já foi sugerida por Paulo na carta aos Romanos: Se, pois, com tua boca confessares Jesus como Senhor e, no teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. Portanto, não importa a diferença entre judeu e grego; todos têm o mesmo Senhor, que é generoso para com todos os que o invocam”. Paulo deixa claro que todas as conquistas humanas não são méritos da própria pessoa, mas um dom gratuito de Deus que está ao alcance de todos.

A quaresma é a oportunidade para moldar nossa vida e percorrer nossa estrada por diferentes caminhos que não sejam pautados por nossas vontades, antes guiados por Deus como rezamos no salmo:

Quem habita ao abrigo do Altíssimo
e vive à sombra do Senhor onipotente,
diz ao Senhor: 'Sois meu refúgio e proteção,
sois o meu Deus, no qual confio inteiramente'.

 

Porque a mim se confiou, hei de livrá-lo
e protegê-lo, pois, meu nome ele conhece.
Ao invocar-me hei de ouvi-lo e atendê-lo,
e a seu lado eu estarei em suas dores.


terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 27 DE FEVEREIRO DE 2022 - 8º DOMINGO COMUM - ANO C

 

NÃO JULGUEM PARA NÃO SEREM JULGADOS

Frequentemente ouvimos a expressão “quem tem telhado de vidro não atira pedra em telhado alheio”. Bastante vezes usamos esse provérbio para dar a entender as nossas próprias fragilidades. A Palavra de Deus para esse domingo nos ajuda exatamente a perceber isso.

A primeira leitura recorda três situações nas quais se pode reconhecer as próprias limitações. Falando da peneira, do forno e do fruto conclui: Não elogies a ninguém, antes de ouvi-lo falar: pois é no falar que o homem se revela”. A intenção do autor é orientar as pessoas e suas atitudes para lhes poupar de aborrecimentos e insucessos.

Na segunda leitura São Paulo continua instruindo a comunidade sobre a ressurreição. Numa leitura superficial parece não ter muita sintonia esse texto com a primeira leitura e o Evangelho, entretanto, Paulo quer deixar claro que a plenitude da vida tem a ver com a coerência com a qual a pessoa anunciou e vivenciou todas as propostas de Jesus ao longo de sua vida. Não sem razão os documentos da Igreja recordam que as tarefas do nosso cotidiano não são em nada menores do que a esperança na vida eterna. Ou seja, não se pode desligar a esperança na vida eterna das nossas atividades cotidianas

No evangelho Jesus faz outras três comparações: Com o cego, o cisco, e a árvore. Nos três casos deixa claro que quem regula a sua vida pelos critérios de Deus dá bons frutos criando oportunidades e levando a todos os que o circundam alegria, fraternidade, união, reconciliação. Quando, porém, uma pessoa tem em seu olho uma trave e por ela julga os demais se compara a alguém cujo coração está cheio de orgulho, autossuficiência e todos os outros vícios que dividem em lugar de fazer crescer. Ou seja, fazem muralhas em lugar de construir pontes.

O evangelho ensina a distinguir o que é belo, bom e justo daquilo que é nocivo. Quando agimos como pessoas iluminadas que nunca erramos e que temos respostas para tudo e para todas as situações, que somos demais exigentes com os demais nos comparamos a pessoas cujo telhado é de vidro e estamos sempre dispostos a atirar pedras em telhado alheio.

O convite do Evangelho desse domingo é para que a pessoa seja seu próprio juiz, daí sim tem sentido o que cantamos no salmo:

O justo crescerá como a palmeira, *
florirá igual ao cedro que há no Líbano;
14na casa do Senhor estão plantados, *
nos átrios de meu Deus florescerão.


15Mesmo no tempo da velhice darão frutos, *
cheios de seiva e de folhas verdejantes;
16e dirão: 'É justo mesmo o Senhor Deus: *
meu Rochedo, não existe nele o mal!'

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 20 DE FEVEREIRO DE 2022 - 7º COMUM - ANO C

 

O SENHOR É BONDOSO E COMPASSIVO

Uma das grandes preocupações dos pais diz respeito à maneira como os filhos se relacionam entre si e com seus companheiros de escola, de academia, e de outros ambientes que frequentam. As redes sociais costumam ser também objetos de preocupação por ser um “terreno minado” frequentemente pouco controlado e facilmente fonte de intolerância e desrespeito entre as pessoas.

A Palavra de Deus deste domingo vem na sequência do último domingo e nos convida a substituir a lógica do mundo pela proposta do Reino, isso significa: “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. A razão última para os gestos e atitudes de misericórdia nós encontramos a partir da convicção de que Deus é misericordioso e todos somos chamados a ser “misericordiosos como o Pai de Vocês é misericordioso”.  A partir de Deus não é justo que nós façamos outra medida para o perdão, senão a medida da gratuidade.

Na primeira leitura Samuel não tem interesse de contar uma história de vencedores e vencidos, mas ensina duas maneiras de lidar com a vida. Uma delas é considerar que a vida de alguma pessoa é mais importante e mais necessária que a do outro e que a eliminação daquele que a pessoa julga lhe ser um estorvo para os seus projetos é a única e principal preocupação. Nesse caso justifica o uso da força e da violência.

Ao contrário dessa atitude Davi mostra sua compaixão e seu coração que age do jeito de Deus, não simplesmente poupando a vida de Saul, seu perseguidor, mas fazendo perceber como as pessoas podem agir de acordo com o coração de Deus: O Senhor retribuirá a cada um conforme a sua justiça e a sua fidelidade. Pois ele te havia entregue hoje em meu poder, mas eu não quis estender a minha mão contra o ungido do Senhor”.

Na segunda leitura, Paulo continua orientando a comunidade sobre a ressurreição e garante a todos que a possibilidade de uma vida nova que nos foi garantida pela ressurreição de Jesus precisa ter a marca do amor vivido por Jesus. A partir de Jesus todos podemos estar seguros de uma vida plena que não é a simples continuidade entre o corpo terrestre e o corpo ressuscitado, mas se trata da continuação de um estilo de vida que tem como fundamento o jeito de ser do Homem Jesus, isto é, ser para o mundo o rosto misericordioso do Pai.

No Evangelho Jesus deixa mais do que claro que a condição para uma vida plena passa por gestos e atitudes sempre dispostas a perdoar, acolher e dar a mão indistintamente: “Ao contrário, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Então, a vossa recompensa será grande, e sereis filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e os maus. Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso”.

E não precisamos muito esforço para perceber que agir de modo diferente dessa proposta de Jesus implica caminhar juntos para a ruína. Nos últimos cem anos o mundo viveu a tragédia das duas grandes guerras. Vivemos sob o medo constante de um holocausto nuclear, as ameaças e a falta de diálogo internacional e dentro das nossas comunidades continuam sendo um indicativo que o amor precisa estar antes de todas as demais atitudes.

A mensagem central do Evangelho desse domingo pode ser vista na frase: “O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles”.

Todos somos desafiados a inverter a lógica do mundo que Jesus já apresentou nas bem-aventuranças do último domingo.

Que a Oração, a Palavra e a Eucaristia nos leve a mergulhar nos horizontes de Deus conforme contamos no salmo.

 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 13 DE FEVEREIRO DE 2022 - 6º COMUM - ANO C

 

FELICIDADE UM PROJETO A SER CONSTRUÍDO TODO DIA

Dentre os desejos mais facilmente expressados e de muitas maneiras, um deles diz respeito a busca pela felicidade. As pessoas costumam investir todas as forças em qualquer proposta que lhes prometa a tal da felicidade. Mas, se tiver que responder em que consiste mesmo e como alcançar essa façanha nem sempre se é capazes de responder com serenidade e simplicidade. As três leituras desse domingo apontam um caminho para todos os que sonham com a plenitude de todas as realizações humanas.

E a primeira coisa que precisa ficar claro para todos é que em se tratando de realização plena a humanidade não pode prescindir de aceitar o protagonismo de Deus nesse projeto.

O profeta Isaias faz uma advertência a todos os que se acham autossuficientes, dispensando a ação de Deus. Em contrapartida valoriza aqueles que a Ele confiam seu caminho: “Maldito o homem que confia no homem e faz consistir sua força na carne humana, enquanto o seu coração se afasta do Senhor; Bendito o homem que confia no Senhor, cuja esperança é o Senhor; é como a árvore plantada junto às águas”. Não se trata de desprezar a comunhão com as pessoas que nos são próximas, mas de reconhecer que: “Feliz é todo aquele que não anda conforme os conselhos dos perversos; mas encontra seu prazer na lei de Deus e a medita, dia e noite, sem cessar”.

A palavra do profeta nos faz perguntar: Em quem e em quais condições nós depositamos nossa segurança e esperança?

São Paulo volta a insistir na única certeza: “E se Cristo não ressuscitou, a vossa fé não tem nenhum valor. Se é para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, nós somos - de todos os homens - os mais dignos de compaixão”

Paulo tem a convicção que a humanidade não é um bando de iludidos, que a existência terrena não é um vale de lágrimas sem sentido, mas que – pelo contrário, em Cristo todos caminhamos em direção da plena felicidade.

Lucas narra as bem-aventuranças e as maldições com base em duas realidades humanas. Os pobres são os desprotegidos, os explorados, os sem voz e nem vez, as vítimas da injustiça os privados dos seus direitos. Ele não pede que se conformem com essa situação, antes que coloquem a esperança naquele que pode lhes tirar dessa infâmia: “vosso é o Reino de Deus”.

A felicidade completa consiste em construir a sua vida à luz das propostas de Deus, Jesus sugere a vida na simplicidade, na honestidade, mesmo que isso pareça desgraça aos olhos desse mundo. E conclui o Evangelho com as quatro maldições: “Mas, ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação”. Ou seja, quem se julga dono de si e de todas as circunstâncias dessa vida, que tem um coração cheio de orgulho não consegue perceber a proposta que Deus lhe apresenta.

A nós cristãos do terceiro milênio a liturgia desse domingo faz alguns questionamentos: Em que medida a proposta de Jesus tem lugar na minha vida? O fato de acreditar na palavra de Jesus me leva a perceber como a minha vida tem outra direção além das passageiras benesses desse mundo? Temos coragem de testemunhar o Evangelho no meio desse mundo “dividido em continua discórdia”?



quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 06 DE FEVEREIRO DE 2022 - 5º COMUM - ANO B

 

NA BARCA COM JESUS!

Sobre barcos, pesca, redes e outras tantas situações relativas ao mar e aos seus perigos e facilidades qualquer cidadão de Itajaí é capaz de falar horas, contando inúmeras situações do seu cotidiano. No Evangelho deste domingo Lucas conta um dos episódios da vida de Jesus e dos seus discípulos que aconteceu dentro do mar. O objetivo, entretanto, não é propriamente contar um fato nem tampouco um milagre extraordinário, mas antes deixar claro que todos somos convidados e desafiados e entrar no barco com Jesus.

Isaias conta como se deu o chamado para ser profeta de uma maneira simples e com sinais do cotidiano. A missão de Isaias enfatiza três pontos: Todos são chamados por obra de Deus que é três vezes Santo; como o profeta de outrora todos precisamos ter consciência dos nossos limites e fragilidades; e finalmente compreender que se Deus nos chama ele também nos dá condições para o exercício da missão.

Em mais uma pesca milagrosa o que está em jogo não é a quantidade de peixes nem tão pouco a forma como acontece o fato extraordinário. Antes que tudo isso se realize está no barco um grupo de seguidores de Jesus que aceitam a Sua Palavra e que o reconhecem como Senhor! O sucesso da empreitada não é resultado das próprias forças, nem muito menos da astúcia dos discípulos, mas tem seu cerne no ato de escutar a Palavra e colocá-la em prática.

O que caracteriza a missão é a Palavra amorosa de Jesus e a resposta também amorosa dos discípulos: “De agora em diante vocês serão pescadores de homens... eles deixaram as redes e o barco e seguiram a Jesus”.

Como para os discípulos de outrora, também aos discípulos de agora a missão será exitosa à medida que for sustentada no Evangelho e no testemunho daqueles que já fizeram a experiência de acordo com a narração de Paulo na segunda leitura.

Paulo não conta uma notícia sobre a ressurreição, antes faz uma afirmação: Todos ressuscitaremos porque Cristo ressuscitou. E confirma a sua convicção apresentando diversas situações nas quais as pessoas puderam ver o ressuscitado. Ele cita seis manifestações dessa verdade: Cristo aparece a Pedro, aos Doze, a mais de quinhentos irmãos, a Tiago, aos outros apóstolos e, finalmente, ao próprio Paulo.

O que aconteceu a estes medrosos e frágeis discípulos é o mesmo que aconteceu com Isaias. O Senhor tocou nos seus lábios e todos se tornaram valentes anunciadores daquilo que tinham visto e experimentado.

Ser cristão é estar no mesmo barco com Jesus e ali escutar sua Palavra  e cumprir suas indicações. Isso implica reconhecer que Jesus é o Senhor e que continua nos propor a mesma tarefa dos discípulos: entrar mar adentro e tirar as pessoas das águas perigosas e profundas que os mares da vida continuam impondo ao longo da vida. E tudo isso precisa ser feito com a medida da generosidade e da doação total!

 

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 30 DE JANEIRO DE 2022 - 4º COMUM - ANO C

                                        PROFETAS NO AMOR E NA DOR!

Dentre as qualidades que chamam a atenção em uma pessoa é sua coerência e coragem diante dos problemas e dificuldades que a vida lhe apresenta. Uma pessoa decidida costuma angariar bons amigos e ao mesmo tempo bons adversários. É sobre coerência, cooperação e incompreensão que tratam as leituras da Palavra de Deus deste domingo!

Os verdadeiros profetas de todos os tempos são pessoas de coerência e de coragem e por causa dessa firmeza, também na atualidade encontram e encontraram resistências e incompreensões. Sua mensagem quase sempre incomoda aqueles que se consideram melhores e mais merecedores do cuidado e das vantagens que a vida pode lhes oferecer.

Como os profetas de outrora, também os batizados de hoje foram ungidos e enviados a praticar a coerência e com determinação colaborar na construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária.

O profeta Jeremias, viveu em uma época muito conturbada do ponto de vista social, econômico, político e religioso. Ele se reconhece chamado e enviado ao mesmo tempo se sente amparado por Deus quando encontra inúmeras e dificuldades e resistências: “Vamos, põe a roupa e o cinto, levanta-te e comunica-lhes tudo que eu te mandar dizer: não tenhas medo, eles farão guerra contra ti, mas não prevalecerão, porque eu estou contigo para defender-te”

Numa leitura simplista pode parecer que a carta de Paulo nada tem a ver com profecia e missão. Parece um misto de palavras adocicadas no chamado Hino ao Amor. Não se pode ler o texto pensando em si mesmo e nas vantagens e no egoísmo de uma forma de amar que pensa e procura o bem próprio. O profeta, pelo contrário, é convidado a praticar o amor gratuito que não pensa em si mesmo, mas se preocupa e cuida daqueles que sofrem e estão desamparados.

O amor sugerido por Paulo é o que dá origem a Igreja e que ao mesmo tempo questiona a nossa prática eclesial muitas vezes palco de lutas, interesses, ciúmes, rivalidades e competições.

No Evangelho, mais uma vez Jesus foge da condição de milagreiro e realizador de espetáculo. Desprezado pelos seus conterrâneos anuncia a boa notícia a todos os que se colocam abertos e disponíveis. Compara-se aos profetas Elias e Elizeu: “De fato, eu vos digo: no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e seis meses e houve grande fome em toda a região, havia muitas viúvas em Israel. No entanto, a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a uma viúva que vivia em Sarepta, na Sidônia. E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel. Contudo, nenhum deles foi curado, mas sim Naamã, o sírio”.

Mostrando o caminho de Jesus, Lucas delineia o caminho da Igreja. Para dar testemunho e continuidade da missão de Jesus a Igreja e os cristãos devem ter a mesma compreensão e compromisso, isto é, não se conformar com o evangelho dentro das quatro paredes do templo e que seja ouvido por aqueles que já o conhecem. Como os profetas de outrora o convite é ir aos que estão excluídos e marginalizados a exemplo dos profetas do Antigo Testamento. Não ter medo de fazer como Jesus: “Quando ouviram estas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos. Levantaram-se e o expulsaram da cidade. Levaram-no até ao alto do monte sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de lançá-lo no precipício. Jesus, porém, passando pelo meio deles,
continuou o seu caminho” .

Este episódio de Jesus é uma antecipação das Palavras de Francisco: “… Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa nos deve inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’ (Mc 6, 37)” (EG 49).