segunda-feira, 24 de outubro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 13 DE NOVEMBRO DE 2022 - 33º COMUM - DIA MUNDIAL DOS POBRES - ANO C

 

O SENHOR VIRÁ JULGAR A TERRA INTEIRA

Na segunda leitura desse domingo continuamos ouvindo trechos da carta de São Paulo aos Tessalonicenses. Nos versículos proclamados hoje, Paulo faz um apelo para que não nos instalemos no comodismo, na preguiça e indiferença em relação aos grandes problemas do mundo. Paulo sugere que demos a nossa contribuição na construção do Reino.

Nesse contexto o Papa Francisco nos propõe para esse domingo o Dia Mundial dos Pobres, e começa sua mensagem com uma constatação conhecida por todos: “Há alguns meses o mundo saiu da tempestade da pandemia, mostrando sinais de recuperação econômica que parecia trazer alívio para os milhões de empobrecidos que tinham também perdido o emprego. Abria-se no céu um sinal de esperança, mas eis que uma nova catástrofe surge no horizonte impondo ao mundo um cenário diferente. A guerra na Ucrânia veio somar com as guerras regionais que produziram morte e destruição. No caso da Ucrânia o quadro é muito mais complexo por ser o resultado da intervenção de uma superpotência que pretende impor sua vontade contra o princípio da autodeterminação dos povos. Vemos se repetir cenas trágicas e ameaças recíprocas que abafam a voz daqueles que imploram a paz. Nesse contexto, afirma Francisco, está o Dia Mundial dos Pobres e nos convida a manter fixo o olhar em Jesus que se fez pobre por todos e que na sua pobreza não se fechou a ninguém, antes foi ao encontro de todos, sobretudo dos marginalizados e desprovidos do necessário”. Isso significa que para os cristãos contemporâneos manter os olhos fixos em Jesus implica compreender que a nossa missão é ser sinal de um mundo novo e trabalhar para que esse mundo se torne realidade.

O Evangelho aponta para todos um caminho a ser percorrido até a segunda vinda de Jesus. Nada de ficar de braços cruzados esperando que as coisas aconteçam como se estivessem caindo do céu. Todos somos chamados a nos comprometer na transformação do mundo fazendo desaparecer a velha realidade. O que precisa ficar claro no texto do Evangelho não é a obsessão sobre o fim do mundo, mas o percurso que podemos percorrer até chegar a plenitude da história. Não tenhamos medo Deus caminha ao nosso lado não sejamos medrosos e indiferentes.

Ontem como hoje a Palavra de Deus continua a ser o anúncio que Deus nunca abandonou o seu povo. Esta é também a mensagem do profeta que ouvimos na primeira leitura: “Eis que virá o dia, abrasador como fornalha, em que todos os soberbos e ímpios serão como palha; e esse dia vindouro haverá de queimá-los, diz o Senhor dos exércitos, tal que não lhes deixará raiz nem ramo. Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas”.

Sem excluir ninguém, sem deixar marginalizados os muitos empobrecidos da sociedade contemporânea não tenhamos medo, caminhemos juntos. Deus nos conduz para um novo céu e uma nova terra. Olhar o horizonte com confiança significa deixar brotar a esperança que dá coragem para enfrentar as adversidades da vida.

Rezemos confiantes com o salmista:

Exultem na presença do Senhor, pois ele vem, vem julgar a terra inteira. Julgará o universo com justiça e as nações com equidade.

 

 

.

HOMILIA PARA O DIA 06 DE NOVEMBRO DE 2022 - 32º DOMINGO COMUM - ANO C

 

PROTEGEI-NOS Ó SENHOR À SOMBRA DAS VOSSAS ASAS

Se tem um assunto que está na pauta das preocupações cotidianas é o que diz respeito ao futuro da vida e da existência humana e sem delongas o tema entra nas rodas de conversa com bastante frequência. Como se isso não bastasse tem-se disponível uma farta literatura sobre o tema. Uma simples visita ao cemitério vai nos colocar em sintonia com inúmeras expressões gravadas na lápide das sepulturas as quais indicam a crença da pessoa que repousa naquele espaço sagrado. Pois a Palavra Deus sugerida para esse domingo traz, mais uma vez a questão do horizonte da nossa vida.

O texto dos Macabeus, escrito num tempo de grande perseguição e de ameaça às tradições de Israel, não tem a compreensão da ressurreição que nos é dada a partir de Jesus Cristo e da sua ressurreição. Mas os sete irmãos e a mãe deixam muito claro que suas vidas estão nas mãos de Deus e que nenhum tormento, nem tampouco qualquer vontade humana pode colocar fim na vida daqueles que acreditam e no Deus dos seus antepassados depositam sua confiança: “Vale a pena morrermos nas mãos dos homens, quando temos a esperança em Deus de que Ele nos ressuscitará; mas tu, ó rei, não ressuscitarás para a vida”.

O diálogo que se desenvolve entre Jesus e um grupo de judeus que não acreditavam na ressurreição confirma a esperança que outros povos e culturas já cultivavam mesmo sem ter clareza de como essa realidade poderia ser compreendida.

Os próprios saduceus, que não acreditavam na ressurreição, manifestam na pergunta que fazem a Jesus sua preocupação com a continuação da nossa breve existência terrena. Preocupados com a continuação dessa vida limitada estão preocupados com a manutenção das regras, normas e costumes das relações humanas na terra. Apresentando o suposto caso de uma mulher que se casou com sete irmãos cumprindo rigorosamente a lei cujo objetivo era garantir a descendência ao marido, eles perguntam: “De qual destes ela será esposa na ressurreição, uma vez que os sete a tiveram por mulher? ”.

Jesus esclarece e confirma a verdade da continuação da vida depois da morte, mas deixa absolutamente claro que não se trata de uma mera continuação desta vida com todas as fragilidades bem como a finitude da existência terrena: “Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento. Mas aqueles que forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos, nem se casam nem se dão em casamento. Na verdade, já nem podem morrer, pois são como os Anjos, e, porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus”.

Para os saduceus de outrora, como para cada um de nós a realidade sobre a ressurreição e a vitória da vida em Deus não tem comparação e não pode ser sequer imaginada à luz das categorias da existência terrena. Enquanto aqui estamos sujeitos a todas as fragilidades do mundo, na outra vida no horizonte de Deus nossa existência será absoluta.

Nessa mesma perspectiva São Paulo nos convida a estreitar o diálogo e a comunhão com Deus na firme esperança da segunda vinda de Cristo e da vida nova que Deus nos preparou: “o Senhor é fiel: Ele vos dará firmeza e vos guardará do Maligno. Quanto a vós, confiamos inteiramente no Senhor que cumpris e cumprireis o que vos mandamos. O Senhor dirija os vossos corações, para que amem a Deus e aguardem a Cristo com perseverança”.

Em outras palavras a certeza da ressurreição é uma realidade que ultrapassa em tudo a frágil existência terrena, ter nossos pés no chão e nosso olhar no horizonte de Deus é que nos encoraja a enfrentar todas as forças da morte que permeiam o cotidiano e diminuem a qualidade da vida terrena.

O novo céu e a nova terra começam com atitudes aqui e agora conforme cantamos na liturgia: “Os olhos jamais contemplaram, ninguém pode explicar o que Deus tem preparado para aquele que em vida o amar”.  É assim que rezamos no salmo desse domingo: “ Senhor, ficarei saciado, quando surgir a vossa glória. Firmai os meus passos nas vossas veredas, para que não vacilem os meus pés. Protegei-me à sombra das vossas asas, Senhor, mereça eu contemplar a vossa face e ao despertar saciar-me com a vossa imagem”.

HOMILIA PARA O DIA 30 DE OUTUBRO DE 2022 - 31º COMUM - ANO C

 

O SENHOR É AMIGO DA VIDA

Não é raro que as pessoas tenham atitudes de soberba e prepotência em relação a si mesmas e até com às demais pessoas com quem se relaciona. Muitas vezes nós mesmos nos damos conta que nossas atitudes não correspondem ao bem que gostaríamos de realizar. E quando isso acontece, independentemente de qualquer doutrina ou religião é a própria consciência quem acusa e provoca transformações e novas atitudes que facilitem uma melhor compreensão da vida. São situações como estas que estão contempladas na Palavra de Deus sugerida para a leitura desse domingo.

O Livro da Sabedoria convida os judeus de outrora a retomarem os ensinamentos e doutrinas que aprenderam dos seus antepassados e sobretudo a perceber que Deus é a única e verdadeira fonte de onde vem toda a sabedoria e felicidade: “Senhor, o mundo inteiro, diante de ti, é como um grão de areia na balança, uma gota de orvalho da manhã que cai sobre a terra. Entretanto, de todos tens compaixão, porque tudo podes. Fechas os olhos aos pecados dos homens, para que se arrependam

Não é difícil para entender três coisas que nos levam reconhecer o jeito de ser de Deus. Ele ama indistintamente, se preocupa, corrige, perdoa e convida para voltar ao bom caminho. A lógica de Deus é fundamentada no perdão e tem origem na sua grandeza.

No Evangelho, mais uma vez Jesus se confronta com os justos, ou que se acham melhores que os outros e com o pecado e o pecador. Zaqueu, que acaba sendo o personagem central do encontro desse domingo tem todos os adjetivos e qualidades de uma pessoa que não merecia a confiança dos judeus perfeitos de outrora: “Jesus tinha entrado em Jericó e estava atravessando a cidade. Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos e muito rico”. Além disso tinha baixa estatura e facilmente se aproveitava da sua condição para explorar os outros se beneficiando da sua profissão para acumular ainda mais riqueza. Apesar disso tudo Zaqueu não se conformava com a sua condição e ouvindo falar de Jesus sentiu-se provocado pelas informações que recebia: “Zaqueu procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era muito baixo. Então ele correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia passar por ali”.

No contexto da caminhada, os seguidores esperavam que Jesus aproveitasse da ocasião para desqualificar ainda mais esse corrupto e aproveitador. Mas Jesus surpreende a todos, e agindo com a lógica de Deus declara: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”Aqueles que se julgavam puros começaram a questionar, mais uma vez a atitude de Jesus: “Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: “Ele foi hospedar-se na casa de um pecador!”

O desfecho desse encontro não poderia terminar de outra maneira: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. A atitude de Zaqueu não só desmascara a falsa pureza de alguns como supera em muito tudo o que previa a lei judaica.

Da parte de Jesus se confirma a prática de Deus: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.

Dá para entender, ou precisa desenhar, como costumamos dizer! A lógica de Deus é da acolhida, do perdão, da misericórdia e da conversão. Esta é a boa nova de Deus que também nós somos convidados a vivenciar e ser testemunha que Deus ama e acolhe a todos, isso não significa mascarar o pecado nem tampouco pactuar com o que aquilo que está errado.

Isso também Paulo ensina na sua carta aos tessalonicenses. Paulo desautoriza os fanáticos e fundamentalistas e deixa claro que Deus é protagonista quando se refere a salvação e a qualidade de vida das pessoas e que todos podemos dar o melhor de nós para que “O nome de nosso Senhor Jesus Cristo será glorificado em vós, e vós nele, em virtude da graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo”.

Afinal é isso que rezamos no salmo: “ Misericórdia e piedade é o Senhor,/ ele é amor, é paciência, é compaixão./ O Senhor é muito bom para com todos,/ sua ternura abraça toda criatura”.

 

 

 


sexta-feira, 21 de outubro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 23 DE OUTUBRO DE 2022 - 30º COMUM - ANO C

 

O SENHOR LIBERTA A VIDA DOS SEUS SERVOS!

Não são poucas as ocasiões na vida nas quais nos sentimos um verme, são momentos em que tudo parece dar errado, que ninguém percebe o nosso sofrimento e desconforto. Muitas vezes duvidamos até de Deus, parece que ele está surdo ou dormindo. São aquelas ocasiões que denominamos: “Um dia daqueles”.

Essa parece ser a situação dos três personagens apresentados nas leituras da Palavra de Deus neste domingo. O livro do Eclesiástico foi escrito cerca de 200 anos antes do nascimento de Jesus e o autor estava preocupado com o descaso que seus conterrâneos apresentavam em relação às raízes e costumes dos seus antepassados. Nesse contexto alguns se consideravam e de fato aparentemente viviam numa situação muito confortável deixando perder tudo o que era ensinamento e verdade aprendida, enquanto outros eram sofridos, oprimidos e explorados. Para todos, mas especialmente para os que estavam colocados à margem da sabedoria do mundo o autor esclarece: “Quem serve a Deus como ele o quer, será bem acolhido e suas súplicas subirão até as nuvens. A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso; e não descansará até que o Altíssimo intervenha, faça justiça aos justos e execute o julgamento”. Em resumo, o autor deixa claro Deus não está surdo nem dormindo, pelo contrário está atento aos gritos daqueles que são vítimas da exclusão e da incompreensão dos que se consideram melhores e mais perfeitos.

No Evangelho Jesus faz mais um trocadilho apresentando duas categorias de pessoas. Nesse domingo também ele não está defendendo o pecado ou promovendo as atitudes que não estão de acordo com a proposta de Deus Pai para todos. Como na parábola do administrador infiel que ouvimos há poucos dias, Jesus não elogia a desonestidade daquele. Hoje de novo Jesus não elogia o publicano por causa das suas ações, nem tampouco aprecia o fariseu porque não tem pecado.

Pelo contrário o que conta é a atitude de reconhecer que a vida é sempre um processo de crescimento e oportunidade para ser melhor. Quem se julga como o fariseu do Evangelho acha que não precisa de nada nem de ninguém e que até Deus lhe deve alguns favores por causa da retidão da sua vida. Ao contrário do publicano que compreende sua fragilidade e sabe que por suas próprias forças não será capaz de sair da situação em que se encontra.

Enquanto o primeiro rezava assim: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos”. O pecador pelo contrário: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador”. E a conclusão não poderia ser outra: “Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.

Todos somos chamados a ser missionários, testemunhas de Deus e cooperadores na missão agindo com todas as forças para incluir e acolher a todos colocando-nos também na condição de frágeis pecadores que precisam da ajuda dos irmãos e da misericórdia de Deus. Homens e mulheres ao longo da história já mostraram que isso é possível. Dentre eles a Igreja recorda a Beata Paulina Jaricot e os padroeiros das missões, São Francisco Xavier e Santa Teresinha, que servem de inspiração para sermos testemunhas missionárias até os confins do mundo.

Na carta a Timóteo temos o exemplo de Paulo que se sente “Num dia daqueles”: “Na minha primeira defesa, ninguém me assistiu; todos me abandonaram. Oxalá que não lhes seja levado em conta. Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças”. Ele tem certeza que apesar de todas as frustrações que a vida lhe oferece Deus não o abandonou, ele tem consciência da generosidade que marcou toda a sua vida e convida também a nós para descobrir e viver do jeito de Jesus e não ter medo: “Quanto a mim, eu já estou para ser oferecido em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa”.

Cristãos nesse mundo conturbado e violento não tenhamos medo de gastar a nossa vida apresentando a Boa Notícia de Jesus como testemunhas de Jesus Cristo.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 16 DE OUTUBRO DE 2022 - 29º COMUM - ANO C

 

DEUS TE GUARDA NA PARTIDA E NA CHEGADA!

No início da primavera é possível perceber a exuberância da vegetação que começa a fazer brotos e folhas com um vigor extraordinário. Por outro lado, as intensas chuvas acompanhadas de rajadas de vento que assolaram várias regiões do sul do Brasil à medida que atingiu os brotos recém-formados causou estragos quebrando brotos e galhos sobre tudo quando estes estão isolados e desprotegidos das próprias espécies. É sobre proteção, cuidado e entre ajuda que trata a Palavra de Deus nesse domingo. Não poucas vezes nos encontramos em situações como a vegetação que começa a soltar brotos e folhas, ao mesmo tempo nos sentimos sozinhos e desprotegidos contra todas as intempéries e dificuldade que a vida nos apresenta.

O texto do livro do Êxodo trata das dificuldades enfrentadas pelo povo de Israel durante sua travessia pelo deserto com as respectivas batalhas contra os povos nômades que habitavam aquelas regiões. O povo guiado por Moisés precisou de coragem, esperteza e unidade para vencer cada uma das dificuldades próprias daquela travessia. E no caso da narrativa de hoje fica claro que para vencer as duras batalhas do cotidiano duas coisas são fundamentais: A confiança em Deus e a ajuda dos irmãos: “E, enquanto Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia; quando abaixava a mão, vencia Amalec. Ora, as mãos de Moisés tornaram-se pesadas. Pegando então uma pedra, colocaram-na debaixo dele para que se sentasse, e Aarão e Ur, um de cada lado, sustentavam as mãos de Moisés. Assim, suas mãos não se fatigaram até ao pôr do sol”

O Evangelho nos apresenta uma situação extraordinária na qual uma frágil viúva enfrenta um poderoso juiz. Neste caso o juiz pode ser comparado à força dos ventos e das chuvas que assolaram a nossa região nos últimos dias, e o resultado da persistência da viúva se resume no provérbio: “A justiça de Deus tarda, mas não falha”.

A história do Evangelho nos ensina que persistência, coragem, fé e unidade são combustível quando se trata de enfrentar as dificuldades da vida. A viúva do Evangelho pode ser comparada com a fragilidade das folhas e brotos recém-nascidos na primavera, mas que na confiança e perseverança são capazes de vencer a fúria de tudo o que se arma para destruir, matar e diminuir a dignidade das pessoas.

É importante que nos perguntemos sobre a nossa prática de oração. Frequentemente rezamos para alimentar um Deus faminto e punitivo e nos esquecemos de rezar uns com os outros confiantes na misericordiosa ação de Deus em nosso favor. Mesmo nas situações mais difíceis da vida é importante não desanimar, mas buscar na solidariedade e na comunhão a força para sustentar nossa esperança. Não tenhamos medo, moderemos nossa impaciência, o que parece ser silêncio de Deus é o tempo necessário para que nos juntemos uns com os outros como ramos de uma parreira à medida em que se juntam tornam-se resistentes e inquebráveis.

Na mesma direção vem o convite de São Paulo na carta a Timóteo: “Caríssimo: Permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como verdade; tu sabes de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras: elas têm o poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus.

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para argumentar, para corrigir e para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e qualificado para toda boa obra”.

Não tenhamos medo, se temos a Palavra de Deus como direção para a nossa vida os vendavais e as provações do cotidiano não nos poderão vencer, antes nos fortalecerão como cantamos no salmo:

Do Senhor é que me vem o meu socorro,/ do Senhor, que fez o céu e fez a terra. O Senhor é o teu guarda, o teu vigia,/ é uma sombra protetora à tua direita./ Não vai ferir-te o sol durante o dia,/ nem a lua através de toda a noite.

— O Senhor te guardará de todo o mal,/ ele mesmo vai cuidar da tua vida!/ Deus te guarda na partida e na chegada./ Ele te guarda desde agora e para sempre”.

 

sábado, 8 de outubro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 09 DE OUTUBRO DE 2023 - 28º COMUM - ANO C

 

O SENHOR É AMOR E FIDELIDADE PARA SEMPRE

As expressões: “Fulano não é flor que se cheira” e “Beltrano não é trigo limpo” aquele outro “está fora da casinha”, são frequentemente usadas para fazer referência a uma pessoa que não inspira confiança com quem a gente sempre fica com um pé atrás. Pois a liturgia da Palavra desse domingo trata exatamente de duas pessoas colocadas nessa situação nos seus respectivos tempos. A primeira leitura narra um episódio ocorrido cerca de 800 anos antes do nascimento de Cristo e no Evangelho é o próprio Jesus quem se relaciona com leprosos e excluidos sendo que um deles é também samaritano. Nos dois casos as pessoas em referência são do tipo “Flor que não se cheira”.

Na contrapartida dessa situação os textos mostram como o projeto de salvação de Deus não é exclusivista, pelo contrário sua misericórdia se estende a todas as pessoas sem exceção, a todos é dada a condição para experimentar a salvação e a misericórdia que consiste simplesmente em reconhecer que só em Deus encontramos a salvação e a vida verdadeira.

O fato relatado na primeira leitura acontece num tempo em que o povo de Israel tinha se deixado contaminar por práticas e cultos a diversos deuses. Nesse contexto uma grande autoridade ouve falar do profeta Eliseu e cumpre a ordem do profeta: “Naqueles dias, Naamã, o sírio, desceu e mergulhou sete vezes no Jordão, conforme o homem de Deus tinha mandado, e sua carne tornou-se semelhante à de uma criancinha, e ele ficou purificado”. A mensagem central desse texto consiste em reconhecer que só em Deus temos a vida plena e muito mais num tempo em que facilmente colocamos nossas esperanças em ídolos humanos e materiais somos convidados a rever nossas certezas e a centralidade de nossa fé.

O Evangelho começa com a seguinte constatação: “Aconteceu que, caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam à distância, e gritaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!” A lepra que estava consumindo a vida e a dignidade dos sujeitos do Evangelho se assemelha às desgraças que se espalham por toda a humanidade sendo causa de exclusão, marginalidade, opressão e injustiça. A sociedade contemporânea está machucada pelo sofrimento e a miséria que causam também o afastamento de Deus. A narrativa do Evangelho mostra como através de Jesus, Deus Pai revela um projeto de salvação e inclusão no qual todos têm lugar e podem encontrar vida em plenitude. Naturalmente que um tão grande dom pede uma contrapartida de gratidão: “Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”. Notemos que também no nosso tempo, e com bastante frequência aqueles que a sociedade considera “flor que não se cheira”, ou “fora da casinha” são os primeiros a manifestar seu reconhecimento e gratidão. Ao contrário e não raro os que se consideram melhores e mais perfeitos costumam condenar e excluir os “impuros” considerando-se como privilegiados de Deus esquecem de reconhecer a bondade e a misericórdia que alcança a todos. Quase sempre os perfeitos não agradecem porque se consideram merecedores, como se Deus lhes devesse favores por sua condição de “pessoas do bem” e nessa condição permanecem cheios de orgulho e enclausurados na sua autossuficiência.

A segunda leitura mostra como a pessoa que acolhe o dom de Deus é capaz de viver o amor e entregar-se ao serviço de todos: “Lembra-te de Jesus Cristo, da descendência de Davi, ressuscitado dentre os mortos, segundo o meu evangelho”.

O convite que Paulo faz a Timóteo é extensivo a todos os cristãos: “Merece fé esta palavra: se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele ficamos firmes, com ele reinaremos. Se nós o negamos, também ele nos negará. Se lhe somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo”.

Tal como Paulo todos somos convidados a nos identificar com Cristo independente de todas as provações e sacrifícios. Peçamos a graça de reconhecer em Jesus a presença de Deus Pai no meio do mundo, que a oração, a escuta da Palavra e a Eucaristia nos conservem na comunhão com as pessoas e com Deus.

 

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 02 DE OUTUBRO DE 2022 - 27º COMUM - ANO C

 

FÉ AMOR E CORAGEM

É bastante frequente nas rodas de conversas tratar assuntos sobre as relações interpessoais, e nessas ocasiões vem imediatamente à mente o comportamento de algumas pessoas que procuram levar vantagem em tudo. Sobre esse tipo de atitude costuma-se dizer: “Aquela pessoa dá nó até em pingo d’água”, ou “fulano não dá ponto sem nó” e ainda “A esperteza quando é demais engole o dono”.

Estes e outros provérbios tem a ver com dinamismo, coragem, ousadia, porém valores usados de modo inadequado e sempre em benefício próprio. O Evangelho desse domingo nos convida a usar a esperteza e a coragem para fazer o bem, amar e testemunhar a nossa fé.

É certo que toda a astúcia desse mundo não teria valor algum se não fosse aplicada no cotidiano da vida e com a finalidade de nos fazer experimentar o céu já aqui na terra. É no sentido de usar a sabedoria do mundo que o Papa Francisco insiste na vivência do Evangelho e nas doutrinas para que tenham a força de tocar as mãos, o coração e a cabeça das pessoas.

Para essas situações se aplica a frase do Evangelho desse domingo: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria”

Essa dimensão de fé foi o que motivou os discípulos de Jesus à medida que fizeram a experiência do encontro com Ele experimentarem a vida como ela é, mas também vivenciarem a dimensão do mistério que ultrapassa todas as outras realidades.

O Evangelho nos convida partir das realidades cotidianas e nos comprometer com o Reino, sem cálculos, sem exigências, antes com gratidão aderir com coragem e radicalidade na convicção que somos todos instrumentos de Deus no meio do mundo para facilitar o conhecimento dos mistérios.

Para isso é importante não agir com a esperteza própria desse mundo, mas “como servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’”.

Que o Senhor nos abençoe e nos coloque sempre nos caminhos da sua Palavra e da sua sabedoria que em tudo superam a astucia desse mundo.

 

 

 

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 25 DE SETEMBRO DE 2022 - 26º COMUM - ANO C

 

O QUE FAZER COM OS POBRES?

Nestes dias que antecedem as eleições o problema dos pobres e da pobreza salta aos olhos com muito mais intensidade, sobretudo porque a solução parece estar ao alcance da mão de todos e a pouco mais de uma semana para ser implementada. Entretanto é de longa data conhecida a desigualdade social no Brasil cujos dados confirmam que as seis pessoas mais ricas acumulam mais riquezas do que os cem milhões mais pobres.

A Palavra de Deus proclamada nesse domingo trata não precisamente de ter ou não ter riquezas, mas do uso que dela se faz e do abismo que se estabelece entre aqueles que tem e aqueles que não tem. As três leituras nos sugerem ver os bens deste mundo a partir do uso que fazemos deles, ou seja, por mais que tenhamos adquirido bens com honestidade e trabalho justo eles devem ser vistos sempre como dons de Deus colocados em nossas mãos para que façamos uso com gratuidade e partilha. Convenhamos que os Lázaros de hoje incomodam tanto quanto os de outrora.

A distância entre pobres e ricos que é o tema claro do Evangelho já tinha sido condenada pelo profeta Amós que viveu em Israel cerca de 700 anos antes de Jesus. O profeta faz uma crítica severa àqueles que vivem no luxo à custa da exploração dos pobres e que não se importam com o sofrimento dos últimos: “Assim diz o Senhor todo-poderoso: Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião, os que se sentem seguros nas alturas de Samaria! Os que dormem em camas de marfim, deitam-se em almofadas, comendo cordeiros do rebanho e novilhos do seu gado as palavras do profeta deixam claro que Deus não concorda com essa situação.

Nossa primeira tentação é culpar os políticos e meia dúzia de pessoas que julgamos ser os responsáveis por essa situação. Sem tirar a culpa da parte que lhes cabe é importante que nos perguntemos se também nós não cultivamos os mesmos vícios denunciados pelo Profeta? Não gastamos de forma descontrolada para sustentar nossos vicíos e pequenos prazeres supérfluos?

No evangelho Jesus conta uma parábola aos fariseus amigos do dinheiro. O cerne da história reside na diferença entre a maneira como vive aquele que tem e outro que não tem: “Jesus disse aos fariseus: Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico. Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas”.

O que está em jogo não é a posse dos bens propriamente, mas o amor exgerado ao dinheiro que cega e desfigura as pessoas. Toda a riqueza tem uma função social e todos somos chamados a colaborar para derrubar os muros que separam ricos e pobres e no seu lugar construir pontes. Este é também o convite do Papa Francisco ao convocar os jovens para o evento chamado a “Economia de Francisco”.

A conclusão dessa história pode até não ter um desfecho visível ao nosso curto tempo da existência terrena, mas é certo que um dia seremos responsabilizados pela maneira como fizemos uso dos bens deste mundo: Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado. Então gritou: Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas”.

O abismo que existia entre a boa vida de um e a desgraça do outro apenas se aprofundou: Filho, lembra-te que tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado.E, além disso, há um grande abismo entre nós; por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós”. De modo que está muito claro o que determina a diferença dos destinos é o modo como usamos os bens deste mundo. Em síntese essa é a doutrina da Igreja: “De resto, todos têm o direito de ter uma parte de bens suficientes para si e suas famílias” (Gaudium et Spes, 69).

O evangelho nos interpela a responder sobre o uso que fazemos dos bens que administramos e em que medida a riqueza ou a pobreza nos fazer ter um coração egoísta e prepotente incapaz de partilhar e se solidarizar com os necessitados da nossa porta.

Na carta de São Paulo que é a segunda leitura está descrito o perfil da pessoa que agrada ao coração de Deus: “Tu, que és um homem de Deus, foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado e pela qual fizeste tua nobre profissão de fé diante de muitas testemunhas”.
Em resumo todo o nosso futuro depende do nosso presente e o resultado implica em viver o amor para com os irmãos!

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 18 DE SETEMBRO DE 2022 - 25º COMUM - ANO C

  

 

HUMANIZAR E CUIDAR

Não há quem não tenha se divertido com a letra de um pagode do nosso tempo: “Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão... Você me chamou para esse pagode, e me avisou: "Aqui não tem pobre!" Até me pediu pra pisar de mansinho, porque sou da cor, eu sou escurinho... Aqui realmente está toda a nata: doutores, senhores, até magnata Com a bebedeira e a discussão, tirei a minha conclusão: Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão”

Na contramão dessa realidade que não precisamos fazer muito esforço para perceber está o Papa Francisco convidando o mundo para um evento que se chama “A economia de Francisco”.

Francisco, o Papa, se inspira em Francisco, o Santo e justifica a sua preocupação com a seguinte afirmação: “Francisco vai, repara a minha casa que, como vês, está em ruínas”. Estas foram as palavras que moveram o jovem Francisco, tornando-se um apelo especial a cada um de nós”.

 O movimento se chama Economia de Francisco e Clara pois, como ambos os santos, o objetivo é ser ponte entre os que têm muito e os que têm pouco; caminhar lado a lado, masculino e feminino, em igualdade e, com isso, transformar os conceitos existentes. Francisco está chamando os jovens para repensar a economia existente propondo humanizar as relações econômicas de modo a tornar a economia mais justa, sustentável e viável para todos a começar pelos excluídos.

Esta preocupação do Papa pode ser melhor entendida quando lemos a primeira leitura desse domingo: “Ouçam, vocês que pisam em pobres e arruínam os necessitados da terra, dizendo: "Quando acabará a lua nova para que vendamos o cereal? E, quando terminará o sábado, para que comercializemos o trigo, diminuindo a medida, aumentando o preço, enganando com balanças desonestas. Jamais esquecerei coisa alguma do que eles fizeram"

A denúncia que o profeta faz não é uma simples recordação dos fatos ocorridos num passado distante, antes, trata-se de uma realidade que também os pobres do nosso tempo conhecem bem.

O Evangelho sugere-nos, hoje, uma reflexão sobre o lugar que o dinheiro e os outros bens materiais devem assumir na nossa vida. De acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, os discípulos de Jesus devem evitar que a ganância ou o desejo imoderado do lucro manipulem as suas vidas e condicionem as suas opções; em contrapartida, são convidados a procurar os valores do “Reino”.

E eu vos digo: usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas. Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes. Por isso, se vós não sois fiéis no uso do dinheiro injusto, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não sois fiéis no que é dos outros, quem vos dará aquilo que é vosso? Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”.

Tenhamos bem claro o elogio de Jesus, não se trata de valorizar a desonestidade do administrador, mas a esperteza em usar o que o dinheiro sujo para praticar o bem. Aprendamos nós também a colocar as pessoas e suas necessidades acima do capital e da economia.

Paulo convida na segunda leitura que os cristãos tenham a sensibilidade e a capacidade de colocar nas suas orações as preocupações e as angústias de todos. Nossa oração deve ser carregada de esperança de maneira que as alegrias e tristezas, das pessoas do nosso tempo, sejam as mesmas dos discípulos de Cristo. A leitura começa pedindo para rezar por todas as pessoas e termina com a mesma preocupação: “Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens; Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem discussões”. 

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 11 DE SETEMBRO DE 2022 - 24º DOMINGO COMUM - ANO C

 

CRIAI EM TODOS UM CORAÇÃO QUE SEJA PURO!

Ao ler a narrativa da criação encontramos a expressão “E Deus viu que tudo era bom”, quando lemos a criação da pessoa, encontramos as palavras: “E Deus viu que era muito bom”! Essa afirmação deixa muito clara a compreensão que Deus tem da criatura humana, o que não significa que a pessoa tenha a plenitude da perfeição e esteja livre dos erros e dos pecados que a condição humana está sujeita. Entretanto, apesar de toda fragilidade, Deus sempre trata a pessoa com bondade e sua medida é a misericórdia!

A Palavra de Deus que ouvimos nesse domingo confirma o que se passa no coração de Deus, Ele ama a pessoa de modo incondicional e nem o pecado impede a dimensão do amor.

O texto do Êxodo, na primeira leitura, mostra como o povo de Israel não percebe a mão de Deus que o acompanha na sua fragilidade. Apesar da infidelidade do povo, Deus ouve o pedido de Moisés e coloca em prática a sua compaixão que vai se repetir diversas outras vezes ao longo da história: “Lembra-te de teus servos Abraão, Isaac e Israel, com os quais te comprometeste, por juramento, dizendo: ‘Tornarei os vossos descendentes tão numerosos como as estrelas do céu; e toda esta terra de que vos falei, eu a darei aos vossos descendentes como herança para sempreE o Senhor desistiu do mal que havia ameaçado fazer ao seu povo”. O perdão não é resultado dos méritos do povo, mas o amor e a lealdade de Deus para com as suas criaturas.

Na carta a Timóteo, Paulo deixa claro seu espanto e admiração pela dimensão do amor de Deus manifestado em Jesus Cristo. Ele mesmo é um exemplo da lógica de Deus: “Caríssimo: Agradeço àquele que me deu força, Cristo Jesus, nosso Senhor, pela confiança que teve em mim, ao designar-me para o seu serviço, a mim, que antes blasfemava, perseguia e insultava. Mas encontrei misericórdia, porque agia com a ignorância de quem não tem fé”. No exemplo de Paulo todos somos convidados a tomar consciência do amor que Deus oferece a todos, independente das suas fraquezas: “Transbordou a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus. Segura e digna de ser acolhida por todos é esta palavra: Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores. E eu sou o primeiro deles”.

Que todos somos pecadores é uma constatação nada difícil de fazer, diante dessa certeza as três parábolas no evangelho desse domingo questionam todas as atitudes de hipocrisia e arrogância de quem se considera melhor que os outros. Deus não compactua com o pecado, com o erro e com fraqueza humana, por isso mesmo está sempre à procura daqueles que se afastam do caminho do bem e da justiça.

A certeza de que a criatura humana é “muito boa” mostra que Deus não está contando os erros e infidelidades, pelo contrário está sempre à procura daqueles que Ele ama.

Nas três parábolas a alegria do reencontro é infinitamente superior aos pecados, tal como Deus também os cristãos são chamados a contagiar e irradiar a alegria do perdão que damos e que recebemos sempre que a compaixão e a acolhida forem as marcas das nossas relações.

No coração de Deus triunfa sempre o amor, aconteça o que acontecer, Deus não compactua e nem pede que concordemos com o pecado, pelo contrário abomina o erro e o pecado e toda a condição de humilhação e exclusão. Ele perdoa e acolhe não para deixar as pessoas no erro, mas para mostrar seu fascinante amor para com todos os que estão conscientes da sua fraqueza e do seu pecado.

Nós como testemunhas da misericórdia e do amor de Deus somos desafiados a combater tudo o que é mau e que gera ódio, injustiça, vingança, mentira, sofrimento e agir como Deus amando o pecador e o acolhendo como um irmão e filho muito querido: Então o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado”’.

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 04 DE SETEMBRO DE 2022 - 23º COMUM - ANO C

 

ENSINAI-NOS A CONTAR OS NOSSOS DIAS...

Expressões do tipo: “Tudo fogo de palha”; “Maria vai com as outras”, “Firme como palanque no brejo”, “Sempre em cima do muro”. São muitas vezes usadas para conceituar uma pessoa indecisa, e de fato essas atitudes não encontram respaldo na Palavra de Deus que ouvimos nesse domingo.

O autor da primeira leitura parte da certeza que nossos dias na face da terra são contados e que por nós mesmos somos incapazes de compreender o verdadeiro sentido da vida, e que a única maneira de alcançar os objetivos da vida é colocar nossa confiança em Deus: “Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Mal podemos conhecer o que há na terra, e com muito custo compreendemos o que está ao alcance de nossas mãos; quem, portanto, investigará o que há nos céus? Acaso alguém teria conhecido o teu desígnio, sem que lhe desses Sabedoria e do alto lhe enviasses teu santo espírito? Só assim se tornaram retos os caminhos dos que estão na terra, e os homens aprenderam o que te agrada, e pela Sabedoria foram salvos”.

Por isso nós rezamos no Salmo: “Ensinai-nos a contar os nossos dias,/ e dai ao nosso coração sabedoria, pois mil anos para vós são como ontem,/ qual vigília de uma noite que passou. Eles passam como o sono da manhã,/ são iguais à erva verde pelos campos:/ De manhã ela floresce vicejante,/ mas à tarde é cortada e logo seca”.

E Jesus no Evangelho esclarece que não vale o “fogo de palha do momento”, nem tão pouco “ser uma espécie de Maria vai com as outras”, trata-se de decidir com maturidade.

Para facilitar as decisões humanas, Jesus aponta três condições:

1)                 Total liberdade de escolha, mesmo que isso implique renunciar aos afetos mais queridos: “Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo”

2)                 Disponibilidade para caminhar com Ele e aprender com Ele:  Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo”

3)                 Renuncia a tudo o que uma pessoa julga ser importante, e que de fato é, mas que na perspectiva da partilha, fraternidade e comunhão precisa ser colocado em segundo plano: Qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo!

As condições que Jesus apresenta não são propostas fáceis, tipo “fogo de palha” com o objetivo de convencer multidões, mas um convite exigente para pessoas capazes de fazer escolhas conscientes que “não ficam em cima do muro”. Trata-se de quem compreende que precisa sempre da ajuda de Deus: Que a bondade do Senhor e nosso Deus/ repouse sobre nós e nos conduza! / Tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho”.

Esta escolha e o cumprimento destas condições se tornam muito mais fáceis quando colocamos as pessoas, independente da sua perfeição, como o centro das nossas preocupações e atenção. Tal ensinamento nos vem da carta de São Paulo a Filemon: “Eu, Paulo, velho como estou e agora também prisioneiro de Cristo Jesus, faço-te um pedido em favor do meu filho, que fiz nascer para Cristo na prisão, Onésimo. Eu o estou mandando de volta para ti. Ele é como se fosse o meu próprio coração”

Como gente que quer ser discípulo de Jesus é importante que nos perguntemos: Quais são as condições que nós e nossa Igreja impõe para acolher as pessoas? Como tratamos os diferentes e aqueles que julgamos terem cometido alguma falta? Peçamos a graça de levar a sério a nossa condição de seguidores de Jesus e não ter medo de aceitar o pedido de Paulo: “acolhe cada pessoa recebendo-a e tratatando-a como se fosse outro discípulo e um irmão muito querido”.