terça-feira, 1 de agosto de 2023

HOMILIA PARA O DIA 06 DE AGOSTO DE 2023 - 18º DOMINGO COMUM - ANO A - TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR BOM JESUS!

 

DEUS É REI! EXULTE A TERRA DE ALEGRIA

Se tem uma situação que faz parte das preocupações cotidianas é a que diz respeito ao futuro, às realizações profissionais, a felicidade e até ao que virá depois da morte. A liturgia da Igreja nos convida a fazer memória da Transfiguração do Senhor, também chamada na piedade popular de Festa do Senhor Bom Jesus. Note-se que esta celebração acontece 40 dias antes da Exaltação da Santa Cruz, e tem por objetivo deixar bem claro que a bondade e a vitória do Bom Jesus não estão desligadas da Cruz e do sofrimento. A Palavra de Deus que ouvimos nesse domingo nos apresenta três situações que apontam exatamente nessa direção.

Na primeira leitura o profeta Daniel fala de um reino futuro que não terá fim, mas que antes exige enfrentar provações: “Eu continuava olhando até que foram colocados uns tronos, e um Ancião de muitos dias aí tomou lugar. Seu trono eram chamas de fogo, e as rodas do trono, como fogo em brasa. Derramava-se aí um rio de fogo que nascia diante dele”. Passando por essa provação o que estava sentado no trono: “Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá”.

São Pedro, na segunda leitura, escreve com a autoridade de quem vivenciou todo o processo que levou Jesus à glória e a realeza: “Não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. Efetivamente, ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando do seio da esplêndida glória se fez ouvir aquela voz que dizia: "Este é o meu Filho bem-amado, no qual ponho o meu bem-querer". O texto de hoje se conclui com uma recomendação para o nosso tempo: “Façam brilhar a Palavra que vocês ouviram como um tesouro em seus corações”.

Mateus começa o Evangelho desse domingo apresentando os discípulos testemunhas da mais extraordinária revelação. Pedro, Tiago e João, foram levados para a montanha, lugar onde normalmente Deus se revelou aos antepassados, ali ouviram a voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!" O Fato acontece no sexto dia, o mesmo que Deus criou o primeiro homem que se deixou corromper pelo pecado, agora Deus revela sua nova criatura: O Filho de Deus plenamente renovado, o qual faz novas todas as criaturas.

Não se trata de uma mágica para impressionar os desavisados discípulos. A transfiguração acontece no contexto do cumprimento da lei cujo representante é Moisés e no cumprimento das profecias cujo representante é Elias. A nova criatura que se dá a conhecer no sexto dia é o cumprimento perfeito de tudo o que o povo de Israel acreditava. O homem perfeito veio realizar tudo que tinha sido prometido ao longo do tempo.

Os discípulos ficaram encantados com a cena deslumbrante que presenciavam e estavam dispostos a permanecer nessa condição para sempre. Entretanto a voz que veio do céu não termina com o reconhecimento daquele que foi enviado, mas convida todos em todos os tempos seguir o único e verdadeiro mestre. O Filho de Deus que se fez conhecer no sinal da transfiguração continua convidando-nos a descer da montanha das nossas certezas e seguranças para transfigurar o mundo

Jesus continua a chamar cada pessoa, como fez com os três discípulos: “Levantem-se não tenham medo”! Se acreditamos na oração que fazemos no salmo, podemos caminhar sem medo:

 Deus é Rei, é o Altíssimo,
 muito acima do universo.

As montanhas se derretem como cera *
ante a face do Senhor de toda a terra;

e assim proclama o céu sua justiça, *
todos os povos podem ver a sua glória!

 

quarta-feira, 26 de julho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 30 DE JULHO DE 2023 - 17º DOMINGO COMUM - ANO a

SENHOR, CONCEDE-NOS UM CORAÇÃO SÁBIO E COMPREENSIVO

Para fazer um link com a Palavra de Deus proclamada neste domingo é possível começar com a letra de uma canção sertaneja cuja letra diz assim:

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei.

As três leituras que ouvimos nos sugerem pensar sobre quais os valores que colocamos como fundamentos da nossa existência. Na primeira leitura temos o retrato de um sujeito que embora tendo sido considerado o mais sábio dos Reis de Israel, se apresenta como uma pessoa cuja sabedoria tem uma fonte inesgotável: “Senhor meu Deus, tu fizeste reinar o teu servo em lugar de Davi, meu pai. Mas eu não passo de um adolescente, que não sabe ainda como governar. Dá, pois, ao teu servo, um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal”.

A atitude de Salomão mostra também a serenidade de um homem sábio que não coloca seus objetivos pessoais acima dos interesses da comunidade. A resposta que Deus lhe dá está fundamentada nessa verdade: “Já que não pediste para ti longos anos de vida, nem riquezas, nem a morte de teus inimigos, mas sim sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu pedido; dou-te um coração sábio e inteligente”. O ensinamento que o texto nos traz é um convite para pautar nossa vida ao jeito de ser de Salomão, isto é, colocar como sustento de nossas ações valores que sejam duradouros e que não tenham pressa para que sejam realizados: “Ando devagar porque já tive pressa”!

Na carta que dirige ao Romanos Paulo faz um convite também para nós apontando como o mais alto valor para nossas ações é o caminho e a proposta de Jesus: “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus”. E amar a Deus não consiste em outra coisa senão em viver os valores do evangelho numa vida a serviço das pessoas, como canta Almir Sater: “É preciso amor pra poder pulsar, É preciso paz pra poder sorrir”.

No Evangelho, mais uma vez Jesus fala em parábolas com um objetivo muito claro e simples o maior e mais seguro tesouro que podemos guardar é o Reino de Deus: “O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo... O Reino dos Céus também é como um comprador que procura pérolas preciosas... O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar... Assim, pois, todo o mestre da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas". Quando Mateus escreveu esse evangelho os cristãos viviam uma espécie de cansaço em relação às novidades trazidas por Jesus, estavam desencorajados no enfrentamento das perseguições e hostilidades da vida. O evangelista coloca como pano de fundo para a vida dos seguidores de Jesus a necessidade de renovar as motivações e escolhas, porque quem anda segundo as escolhas do Reino pode dizer: “Hoje me sinto mais forte, Mais feliz, quem sabe... O tesouro do Reino é uma preciosidade a ser abraçada e buscada por todos os que sabem que fizeram uma escolha decisiva para suas vidas. Em resumo a decisão pelo Reino não permite escolhas pela metade, não serve agradar a Deus e ao diabo, não vale jogo duplo, mas aderir radicalmente ao projeto de Deus, porque “Cada um de nós compõe a sua história, Cada ser em si, Carrega o dom de ser capaz E ser feliz”. É isto que rezamos no salmo:

Como eu amo, Senhor, a vossa lei, vossa palavra!

É esta a parte que escolhi por minha herança:*
observar vossas palavras, ó Senhor!

A lei de vossa boca, para mim,*
vale mais do que milhões em ouro e prata.

 



 

 

quarta-feira, 19 de julho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 23 DE JULHO DE 2023 - 16º DOMINGO COMUM - ANOA

 

DEUS É BOM, CLEMENTE E FIEL!

São muitas as ocasiões do cotidiano que as pessoas têm dificuldade de expressar com clareza a sua opinião sobre um determinado assunto, ou relatar os detalhes de alguma situação particular. E sempre que isso acontece é preciso recorrer a figuras de linguagem, a metáforas, comparações e exemplos para se fazer entender.

Pois recurso de linguagem é uma das formas de escrever utilizada pelos autores sagrados em distintas ocasiões com o intuito de fazer compreender como Deus age na história. Neste domingo a Palavra de Deus proclamada nas celebrações litúrgicas tem por objetivo assegurar que a lógica de Deus nem sempre se equipara com as propostas humanas. A acolhida, o cuidado, a misericórdia, a paciência de Deus supera infinitamente o desejo de justiça e o sentido de pertença cultivado no cotidiano das pessoas e da sociedade do seu tempo e porque não dizer nos tempos atuais.

O livro da Sabedoria descreve Deus com palavras extraordinárias: “A tua força é princípio da tua justiça, e o teu domínio sobre todos te faz para com todos indulgente. Mostras a tua força a quem não crê na perfeição do teu poder; e nos que te conhecem, castigas o seu atrevimento. No entanto, dominando tua própria força, julgas com clemência e nos governas com grande consideração: pois quando quiseres, está ao teu alcance fazer uso do teu poder”. Independentemente dessa grandeza Deus age com misericórdia e convida todas as pessoas a terem o mesmo sentimento de compaixão e acolhida para com todos.

Deus não tinha que provar nada a ninguém, mas o autor do livro da Sabedoria conclui o texto de hoje com uma lição que se aplica para os tempos contemporâneos: “No entanto, dominando tua própria força, julgas com clemência e nos governas com grande consideração: pois quando quiseres, está ao teu alcance fazer uso do teu poder. Assim procedendo, ensinaste ao teu povo que o justo deve ser humano; e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores”.

São Paulo, aos Romanos reforça como Deus, por seu Espírito Santo vem em socorro da fraqueza humana, sobretudo quando as pessoas não sabem distinguir entre aquilo que necessitam a quilo que pedem: “O Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor”. Paulo procura clarear aos destinatários da sua carta que todas as criaturas humanas são filhos amados de Deus a quem ele não deixa perdidos e inseguros diante das provações. Deus ama a todos incondicionalmente e oferece gratuitamente a salvação.

A parábola do joio e do trigo, que Jesus conta hoje para destacar o modo de agir de Deus merece ser entendida no contexto de toda a vida de Jesus. Em sua caminhada pela Palestina de outrora Jesus não excluiu ninguém, nem tampouco discriminou qualquer pessoa, pelo contrário no convívio com pecadores e marginalizados mostrou que todas as pessoas têm oportunidade de crescer na prática do bem na verdade, na comunhão e na concórdia. O Reino de Deus que Jesus anunciou não é um clube de perfeitos, uma exclusividade para santos e bons. No Reino de Deus todos tem oportunidade para crescer e amadurecer suas escolhas, todos têm oportunidade de experimentar a graça de Deus e de fazer a melhor escolha ao longo do tempo.

Ao contrário dos fariseus que consideram a sua religião como único caminho para Deus, de modo nenhum os que estavam irregulares perante a lei poderiam fazer parte da assembleia dos escolhidos. Jesus dá uma lição clara e objetiva: Na lógica de Deus não cabem a exclusão e a segregação de alguns em benefício dos outros. Sem fazer distinção, Deus oferece oportunidade para todos, no final dos tempos aqueles que não aceitarem terão o seu julgamento. O cuidado com o trigo não permite arrancar o joio, porque facilmente pode ser confundido um e outro, assim também na convivência cotidiana. Não cabe nos planos de Deus confiar a quem quer que seja a tarefa de separar bons e maus, deve ficar claro que em todas as pessoas e em todos os lugares convivem o bem e o mal. (Parábola chinesas dos dois cães).

Para compreender a lógica de Deus basta rezar com serenidade e firmeza o salmo previsto para esse domingo:

 


Ó Senhor, vós sois bom, sois clemente e fiel!

Ó Senhor, vós sois bom e clemente,*
sois perdão para quem vos invoca.

Escutai, ó Senhor, minha prece,*
o lamento da minha oração! R.

 

As nações que criastes virão*
adorar e louvar vosso nome.

Sois tão grande e fazeis maravilhas:*
vós somente sois Deus e Senhor! R.

 

Vós, porém, sois clemente e fiel,*
sois amor, paciência e perdão.

Tende pena e olhai para mim!*
Confirmai com vigor vosso servo. R


 

quinta-feira, 13 de julho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 16 DE JULHO DE 2023 - 15º DOMINGO COMUM - ANO A

 NADA SE COMPARA AO TEMPO DE DEUS

Uma das primeiras palavras que trocamos ao nos encontrar com alguma pessoa, muitas vezes até virtualmente, dizem respeito a administração do tempo e invariavelmente salta dos lábios a expressão: “na correria”. De fato, corremos atrás do tempo, do relógio, da eficiência, do cumprimento de metas e assim por diante. Não raro achamos que podemos enquadrar Deus nos nossos conceitos de tempo e de realização de atividades, gostaríamos que estivesse sob o nosso controle, especialmente quando as dificuldades e contrariedades da vida nos surpreendem. Pois a Palavra de Deus deste domingo desmonta todos os esquemas humanos com exemplos tirados do nosso cotidiano.

Gostaríamos que Deus agisse no mundo com o ritmo da nossa correria e que nem sempre permite que nossas palavras sejam verdadeiramente transformadas em ação. Desconhecemos ou fazemos de conta que não nos diz respeito a expressão hebraica: DABAR que se usa para a fala de Deus e cujo significado é: “dito e feito”. Em outras palavras “Deus falou água parou”. A liturgia da Palavra nos sugere tomar consciência da centralidade que precisa ter em nossa vida a Palavra de Deus!

Notemos a firmeza da palavra do profeta na primeira leitura: “Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia”. Esta profecia reacende a confiança e robustece o ânimo, não tenhamos medo a Palavra de Deus é sempre eficaz embora não esteja sempre de acordo com os nossos critérios. Em todas as circunstâncias e para além dos nossos medos e modelo Deus fará realizar aquilo que necessitamos.

Na segunda leitura, mais uma vez São Paulo retoma o trocadilho hoje referindo-se ao tempo e ao modo como vivemos em cada ocasião: “Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós”. As circunstâncias e a dinâmica da vida nos fazem ter medo do que possa vir acontecer, mas mais uma vez Paulo reforça o convite para aceitar Cristo e viver segundo o Espírito.  Se nos dispormos a essa forma de vida, aconteça o que acontecer não estaremos caminhando para o nada e para o abismo, embora toda a criação caminha na insegurança, todos aguardamos a vitória final: “aguardando a adoção filial e a libertação para o nosso corpo”.

A simplicidade com que Jesus fala sobre a ação de Deus no mundo dispensa muitas explicações e justificativas. De um modo familiar ele convida a todos abrir-se para a Palavra que sai da sua boca como a boa terra se abre para a semente. Com todas as dificuldades podemos ter garantia que o trabalho e a semente não serão desperdiçados. O mais extraordinário dessa parábola é a quantidade da colheita que resulta da semente que caiu em terra boa. Isso significa dizer, mesmo que alguns dos nossos esforços pareçam insanos e infrutuosos, não é preciso ter medo nem tampouco se acovardar ou ficar indiferentes, a terra boa, embora muitas vezes seja uma pequena parcela dentre os diversos terrenos compensará tudo o resto: “Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por semente. Quem tem ouvidos, ouça!" Não precisamos ter dúvida que Jesus conta essa parábola no contexto de desacreditação que os fariseus e doutores da lei atribuíam às suas declarações. O Reino de Deus vai ser uma realidade independente do gosto e da contribuição daqueles que preferem pautar a vida por suas próprias verdades e costumes.

Quanto a nós, cristãos seguidores não tenhamos medo de lançar a semente, nada de ficar escolhendo os terrenos que julgamos melhores e mais bem preparados. Nada de excluir, silenciar, ou se fazer de indiferente diante dos diferentes terrenos e da recepção que a semente que lançamos possa ter. A Palavra de Deus tem o poder de transformar, brotar, fazer crescer e frutificar.

Ao mesmo tempo que somos convidados a semear sem medo a Palavra pede uma resposta corajosa da nossa parte: Como é o terreno de nossa vida diante do poder transformador da Palavra de Deus! Não tenhamos medo assim rezamos no salmo:

As colinas se enfeitam de alegria,
e os campos, de rebanhos;
nossos vales se revestem de trigais:
tudo canta de alegria!”

quarta-feira, 5 de julho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 09 DE JULHO DE 2023 - DÉCIMO QUARTO DOMINDO COMUM - ANO A

 O MEU JUGO É SUAVE E O MEU FARDO É LEVE

 

Não é raro que nós tenhamos sentimento de rejeição e indignação em relação aos comportamentos pouco gentis e a falta de cordialidade das autoridades e de servidores públicos por exemplo. Pessoas que procuram vender uma imagem que não corresponde com a fineza e a cortesia também são recriminados com bastante facilidade. A arrogância, a prepotência e o orgulho não são sentimentos aprovados nas relações interpessoais.

Pois a liturgia desse domingo mostra exatamente o contrário e nos ajuda a reconhecer Deus que se apresenta vestido de simplicidade, se faz reconhecer na humildade, na pobreza e na pequenez. Um Deus que se apresenta dessa maneira não precisa de força para dar fim às guerras e as disputas pelo poder: Exulta, cidade de Sião! Rejubila, cidade de Jerusalém. Eis que vem teu rei ao teu encontro; ele é justo, ele salva; é humilde e vem montado num jumento, um potro, cria de jumenta”. A atitude desse rei desmonta a visão de mundo, de realeza, de força e segurança que se apresenta com agressividade, com armas e instrumentos sofisticados que consomem muitos recursos que poderiam ser investidos para promover a paz e a concórdia: “Eliminará os carros de Efraim, os cavalos de Jerusalém; ele quebrará o arco de guerreiro, anunciará a paz às nações”.

Na segunda leitura mais uma vez temos São Paulo apresentando duas situações antagônicas entre si: ‘Viver segundo a carne ou viver segundo o espírito’. Aqueles que vivem na primeira condição mostram sua verdadeira face instalados na autorreferencialidade, na prepotência e na arrogância. Aqueles que vivem segundo o espírito reconhecem que a morte de Jesus não terminou com o projeto de Deus, pelo contrário, foi o tormento da cruz que transformou Jesus no servo obediente e fiel a quem o Pai confiou o cuidado de toda a obra criada.

Tal como Jesus também os cristãos que fizerem de sua vida um serviço aos demais serão agraciados, como Paulo mesmo afirmou no último domingo, com a coroa da justiça: “Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o espírito, se realmente o Espírito de Deus mora em vós. E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então aquele que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós”.

No Evangelho Jesus faz um agradecimento a Deus Pai reconhecendo como Ele acolhe, compreende e ama seus filhos e filhas, mas tem uma predileção especial pelos mais fragilizados: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”. Jesus faz essa louvação para contrastar com os fariseus e doutores da lei que se julgavam melhores e mais perfeitos que todos os demais. Na condição de sábios e autorizados a interpretar as escrituras eles se consideravam os únicos destinatários da salvação. Sem dizer exatamente quem eram os pequeninos parece ficar claro que Jesus está se referindo aos seus discípulos, mas com eles também estão os pecadores, os doentes, os publicanos, as pessoas de má fama. Em lugar de considerar a lei como uma espécie de “linha direta” com Deus Jesus mostra que a misericórdia do Pai não precisa destes subterfúgios e recursos mundanos. A única condição para acessar Deus é seguir Jesus e viver os seus preceitos. Em outras palavras fazer a experiência de estar com Jesus. Ele então conclui o Evangelho com um convite: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve".

O convite de Jesus expressa o desejo de socorrer todos os que estão excluídos e despidos da dignidade humana. O Vinde a mim, de Jesus é o abraço misericordioso do Pai que acolhe a todos apesar das fraquezas e infidelidades. Ninguém está excluído do abraço de Deus, mas ao mesmo tempo ninguém tem o direito de excluir quem quer que seja dos espaços e dos locais de encontro e de comunhão. Que o Espírito Santo nos ensine e nos faça compreender o que rezamos no salmo.

Misericórdia e piedade é o Senhor,*
ele é amor, é paciência, é compaixão.

O Senhor é muito bom para com todos,*
sua ternura abraça toda criatura.



 

quinta-feira, 29 de junho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 02 DE JULHO DE 2023 - SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO - ANO A

 

TODO JUNTOS EXALTEMOS O SEU NOME!

A pedagogia e as técnicas de relações interpessoais na atualidade consideram de grande valor chamar uma pessoa pelo nome. Alguns dizem que chamar pelo nome significa mais do que oferecer valiosos presentes. O nome significa “você é único”! É comum entre nós que muito antes do nascimento os pais já decidirem que nome vão dar a criança e ala começa a ser chamada ainda no ventre materno com sua identificação que a acompanhará por toda a vida. Muitas vezes o nome acaba sendo associado com a ocupação ou profissão que vai desenvolver ao longo do tempo e daí também decorre muitas das relações de amizade e corresponsabilidade, parceria e até de negócio entre as pessoas.

Pois a liturgia desse domingo nos apresenta as figuras de Pedro e Paulo suas responsabilidades e tarefas decorrem da estreita relação com Jesus e da sua coragem e determinação em reconhece-lo na sua origem e missão.

O diálogo que Jesus estabeleceu com os discípulos e a resposta dada por Pedro, em nome de todos os demais, continua sendo uma pergunta inquietante e não pode nos deixar alheios aos compromissos de quem reconhece Jesus com o Filho de Deus.

Na mesma medida e com a mesma coragem dos apóstolos Pedro e Paulo todos os cristãos tem, de alguma maneira condições de acessar o Reino e de facilitar o acesso para outras pessoas. Não bastam palavras bonitas e longas orações será sempre necessário provar nossa adesão ao projeto pelo compromisso e coerência de vida.

Não bastam bonitas respostas e opiniões genéricas sobre Jesus e sua missão é preciso a coragem de Pedro que não se resumiu a dizer: “Tu és o messias, o Filho de Deus vivo” e a determinação de Paulo: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé”.

Fica claro também que a resposta de Pedro e a coragem de Paulo não são decorrentes apenas da sua vontade, elas são o resultado de um encontro pessoal com Jesus, o qual todos nós somos convidados a fazer e cujas possibilidades nos são dadas desde o dia do nosso batismo como dom e graça da parte de Deus.

A primeira leitura mostra uma das ocasiões em que Pedro testemunha com sua vida o que significa acreditar na pessoa e na doutrina de Jesus, por sua vez os atos dos apóstolos deixam claro também que não só Pedro, mas também toda a comunidade estava solidária e comprometida com tarefa dada ao apóstolo e preocupada com o êxito da tarefa: “Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele”. Essa atitude da comunidade não fica sem resposta da parte de Deus: Eis que apareceu o anjo do Senhor e uma luz iluminou a cela. Então Pedro caiu em si e disse: "Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava!"

A segunda leitura é uma espécie de “testamento” ele faz um balanço da sua vida e das suas atividades missionárias e mesmo angustiado com a falta de solidariedade e de compreensão por parte de algumas pessoas e grupos: “Quanto a mim, eu já estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa”.

Estas palavras finais de Paulo são também para nós um convite e uma desafio a percorrer nosso caminho com Jesus com determinação, entusiasmo e generosidade. Tal como Paulo e tantos homens e mulheres na história podemos ter a mesma firmeza de Paulo: “O Senhor esteve a meu lado e me deu forças. O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos! Amém”.

Por isso podemos rezar serenamente com o salmista:

De todos os temores me livrou o Senhor Deus”.

 

 

quinta-feira, 15 de junho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 25 DE JUNHO DE 2023 - 12º DOMINGO COMUM - ANO B

 

ATENDEI-NOS SENHOR, POR VOSSO IMENSO AMOR!

Dentre as muitas frases atribuídas a Dom Helder Câmara que foi arcebispo de Olinda e Recife, uma delas diz assim: “É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca”. As leituras deste domingo trazem como destaque a questão do sofrimento e das dificuldades que rondam a vida daqueles que aceitam ser discípulos de Jesus para anunciar o projeto de Deus para o mundo. Mas ao mesmo tempo deixam claro que Deus não abandona aqueles que aceitam caminhar segundo a sua vontade.

Jeremias, cuja primeira leitura ouvimos, é o modelo do profeta sofredor. Ele experimenta todas as formas de perseguição até o abandono, mas em hipótese alguma perde a confiança em Deus e deixa de lado a coerência e a fidelidade: “Eu ouvi as injúrias de tantos homens e os vi espalhando o medo em redor”. Até os amigos mais próximos do profeta fizeram um lobby contra ele, apesar disso, do fundo da sua solidão Jeremias declara: “Mas o Senhor está ao meu lado, como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão vencidos. Por não terem tido êxito, eles se cobrirão de vergonha”. Confiante na verdade e autenticidade da sua missão ele expressa um hino de confiança em Deus: “Cantai ao Senhor, louvai o Senhor, pois ele salvou a vida de um pobre homem das mãos dos maus".

Na segunda leitura Paulo, mais uma vez, deixa claro aos cristãos de Roma que não importa a origem de cada pessoa, todos são destinatários da salvação de Deus e que o mais importante é acolher essa proposta. Paulo costuma falar sempre sobre dois aspectos distintos e hoje usa as figuras de Adão e de Cristo. Enquanto o primeiro escolhe o caminho do egoísmo e da autossuficiência que geram a morte como afastamento de Deus, Jesus Cristo escolhe a obediência. Esse caminho faz nascer uma criatura nova, livre e em plena comunhão com Deus. Em Jesus Cristo todos foram libertados do pecado e da morte, a cruz é apenas a aparência do fracasso, mas ao contrário é dessa provação que surge o dinamismo de uma nova vida: “O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens. A transgressão de um só levou a multidão humana à morte,
mas foi de modo bem superior que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos”.

No Evangelho Jesus continua o discurso sobre a missão e deixa claro aos discípulos: “Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma”. Para os que aceitam com fidelidade a missão não faltará a mão generosa de Deus, a ajuda e a presença do próprio Jesus ao longo da jornada: “O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia; o que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados”.

A promessa de Jesus no trecho de hoje já estava contida nas bem-aventuranças: “Felizes daqueles que forem perseguidos, insultados, incompreendidos por minha causa”. Não será o medo que deve acovardar os discípulos, acomodando-os dentro de quatro paredes. Quem dá a vida pela causa do Reino não precisa ter medo da morte física, pois o cristão sabe que a vida é um dom de Deus que não termina com a finitude dessa vida terrena. E Jesus conclui seu discurso com um convite a confiança absoluta: “Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais. Portanto, todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que está nos céus”. Ora, com um Pai que tem essas características ninguém precisa ter medo, nem tampouco exercer a missão com fraqueza. Esse é também o convite do Papa Francisco: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer”.

 

 

HOMILIA PARA O DIA 18 DE JUNHO DE 2023 - 11º DOMINGO COMUM - ANO A

 CHAMADOS A TESTEMUNHAR

A COMPAIXÃO DO SENHOR

Dentre as coisas bonitas que a vida nos oferece uma delas é poder contar com a ajuda e companhia de pessoas que nos amam e com quem podemos partilhar nossas preocupações, dores, sofrimentos, alegrias, esperança e assim por diante. Construir a solidariedade é uma das formas mais extraordinárias que se pode cultivar nas relações interpessoais.

Pois a Palavra de Deus na liturgia desse domingo mostra exatamente essa realidade, porém é Deus mesmo quem caminha e   dá segurança ao povo ao longo da história. Na construção de relações solidárias Deus se faz sentir através de pessoas que ouvem e interpretam as suas disposições para caminhar dando segurança para todos. Isso fica claro na pessoa de Moisés, de Paulo, e da comunidade dos discípulos enviados por Jesus.

Na primeira leitura fica clara a iniciativa de Deus fazendo de Moisés um seu intermediário com a tarefa de fazer uma nação inteira como sinal da sua presença para todos os povos: “Moisés, então, subiu ao encontro de Deus. O Senhor chamou-o do alto da montanha, e disse: "Assim deverás falar à casa de Jacó e anunciar aos filhos de Israel, como vos levei sobre asas de águia, portanto, se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim a porção escolhida dentre todos os povos”. A proposta de Deus consiste em garantir libertação definitiva ao povo de Israel. Se depender da vontade de Deus, os israelitas nunca mais experimentarão a escravidão e a opressão que haviam sofrido os seus antepassados.

Na carta aos Romanos Paulo deixa claro que a salvação de todos não é mérito de uns ou de outros, nem tampouco se destina a alguma categoria especial de pessoas. Os discípulos são os primeiros enviados para mostrar ao mundo o incondicional amor de Deus pela humanidade. O amor de Deus tem dimensões espantosas: “Quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores. Muito mais agora, que já estamos justificados pelo sangue de Cristo, seremos salvos da ira por ele. Quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com ele pela morte do seu Filho; quanto mais agora, estando já reconciliados”. Só um amor sem reservas é capaz de entregar o seu próprio Filho como prova da sua preocupação e cuidado para com todos.

No Evangelho Mateus apresenta Jesus com olhar compassivo e preocupado com a condição dos seus conterrâneos: “Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor.  Jesus chamou os doze discípulos e deu-lhes poder para expulsarem os espíritos maus e para curarem todo tipo de doença e enfermidade. Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel! Em vosso caminho, anunciai: 'O Reino dos Céus está próximo'. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios”.

As palavras de Jesus aos discípulos têm tudo a ver com as insistentes recomendações que nos faz o Papa Francisco no que se refere a prática pastoral da Igreja e dos ministros na atualidade: “Compaixão e misericórdia. E se a compaixão é a linguagem de Deus, muitas vezes a indiferença é a linguagem humana. Quantas vezes olhamos para o outro lado… E assim fechamos a porta para a compaixão” alerta o Papa.  

A compaixão nos convida ao compromisso, ao anuncio do Reino de Deus, nossa missão como cristãos consiste em continuar a missão de Jesus, doando gratuitamente aquilo que recebemos na mesma condição: “De graça recebestes, de graça deveis dar”. Peçamos a graça de compreender a dimensão da compaixão e da preocupação de Deus com a humanidade sendo capazes de transformar a nossa vida em serviço de cuidado e preocupação com a vida digna para todos, com o acolhimento e com a alegria do Evangelho. A missão dos seguidores de Jesus, em todos os tempos, consiste em lutar contra tudo o que compromete a qualidade da vida e a felicidade das pessoas. Afinal de contas, rezamos no salmo: “Nós somos o povo e o rebanho do Senhor”.

 

 

 

sexta-feira, 2 de junho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 11 DE JUNHO DE 2023 - 10º DOMINGO COMUM - ANO A

 

EU QUERO A MISERICÓRDIA E NÃO O SACRIFÍCIO!

Não bastam boas intenções, é preciso colocar em prática aquilo que se deseja. Essa máxima vale para muitas situações do cotidiano e serve para indicar que pensar e agir são dois lados da mesma moeda. Pois é este o ponto central da liturgia da Palavra nesse domingo.

Isso nós rezamos na oração que o padre faz antes das leituras, chamada de oração da coleta: “Ó Deus por vossa inspiração fazei-nos pensar o que é certo e realizá-lo com vossa ajuda”. As três leituras deixam bastante claro que o mais importante não são as palavras que saem da nossa boca transformadas em oração, ou declarações de boas intenções, mas o que conta é a concretização daquilo que sonhamos e queremos fazer de bem.

O profeta Oseias fala na primeira leitura colocando em duvidas a seriedade dos seus conterrâneos. Eles reconhecem que mais cedo ou mais tarde Deus se manifestará: “Certa como a aurora é a sua vinda, ele virá até nós como as primeiras chuvas, que regam o solo”. Apesar disso o profeta duvida da sinceridade de conversão do seu povo os ritos e orações que realizam são desligados da vida, quase como quem tenta fazer negociata com Deus. O profeta, porém, deixa clara a perspectiva de Deus: “quero amor, e não sacrifícios, conhecimento de Deus, mais do que holocaustos”.

A carta aos Romanos, Paulo escreve num contexto de dificuldade de relacionamento entre aqueles que aceitaram a proposta de Jesus, mas que tinham tradições religiosas diversas antes de conhecerem o cristianismo. Muito próximo das repreensões que fez o profeta na primeira leitura, Paulo fala para os convertidos mostrando o exemplo de Abraão. Ele não foi salvo, e nem se tornou modelo para as gerações por causa do seu conhecimento e das suas muitas palavras. Abraão se tornou exemplo para todos e pai de todas as gerações porque colocou em prática o que ouviu do Senhor. Sua fé e confiança nas promessas tornaram sua vida um modelo para ser seguido: “Abraão, contra toda a humana esperança, firmou-se na esperança e na fé. Assim, tornou-se pai de muitos povos, conforme lhe fora dito: Assim será a tua posteridade. Não fraquejou na fé, à vista de seu físico desvigorado pela idade, diante da promessa divina, não duvidou e isto lhe foi creditado como justiça”. Abraão foi o modelo da pessoa que tudo o que fez não são méritos seus, mas graça de Deus: “Ó Deus por vossa inspiração fazei-nos pensar o que é certo e realizá-lo com vossa ajuda”

O Evangelho nos apresenta uma catequese sobre a resposta que devemos dar a Deus que chama a todos sem distinção. Para Deus o que conta não é em primeiro lugar a perfeição, ele chama e abre oportunidade para todos, basta ter a coragem e predisposição para mudar o curso da vida que por sua vez mudará a própria história. O Caso de Mateus no evangelho de hoje é uma clássica situação de determinação e coragem. Na condição de cobrador de impostos, Mateus estava entre os excluídos do Templo e considerado pecador público a quem as autoridades judaicas e os fariseus não davam nenhum crédito.

Jesus não apenas convida o pecador a deixar para trás seus hábitos e costumes como também faz uma refeição com outros reconhecidamente impuros e não merecedores de confiança. Nesta ocasião Jesus responde aos fariseus: “Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Aprendei, pois, o que significa: 'Quero misericórdia e não sacrifício'. De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores". A atitude de Jesus ensina que antes de julgar, condenar e excluir é necessário acolher e perdoar.

Todos os chamados de Jesus partem de um mesmo princípio: trata-se de trabalhadores do cotidiano, não se tratam de super-heróis, perfeitos e que caminham nas nuvens. Os convidados são pessoas que vivem os mesmos dramas e sofrimentos de todos os seus conterrâneos Diante do convite, Mateus não pede esclarecimentos, define a sua vida a partir do chamado sem fazer objeções. A resposta de Mateus pode ser comparada com a resposta de Abraão e de tantos outros homens e mulheres ao longo da história, a quem também nós somos convidados a imitar deixando de lado as nossas certezas, nosso orgulho e autorreferecialidade, não nos conformando com as pequenas e insignificantes conquistas que fazemos seguindo nossos próprios hábitos e costumes.

Que o exemplo dos apóstolos e a coragem de Maria nos ensine a responder sempre com determinação, alegria e ousadia.

quinta-feira, 1 de junho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 08 DE JUNHO DE 2023 - SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DO SENHOR - ANO A

 

EUCARISTIA LUGAR PARA O CORAÇÃO

TRANSBORDAR DE CONFIANÇA

A quinta feira do Corpus Christi é uma das ocasiões em que a piedade popular extravasa em criatividade e manifesta o que os cristãos tem de mais extraordinário na sua relação com a Eucaristia. Em diversas comunidades os grupos dedicam semanas de trabalhos para preparar os insumos que serão utilizados na procissão deste dia.

Mas o que é a Eucaristia senão o caminhar de Jesus ao nosso lado, como fez com os discípulos de Emaús.  Ele agora é peregrino na história, alimenta a nossa fé e nos renova na esperança e na caridade. Jesus presente na Eucaristia caminhando por nossas ruas e praças realmente presente no pão consagrado é também presença em cada pessoa que caminha conosco e em cada irmão e irmã que precisa da nossa solidariedade e da nossa comunhão.

Jesus presente na Eucaristia, para quem dedicamos horas de serviço preparando os insumos e os tapetes com os quais enfeitamos nossas ruas é o mesmo que continua dizendo: Eu tive fome e vocês me deram de comer, Eu tive sede e me deram de beber, eu era peregrino e me acolheram, eu estava nu e me vestiram, eu estava doente e preso e foram me visitar.

Esse Jesus que caminha conosco nas ruas decoradas de nossas cidades é o mesmo que disse aos discípulos: “Vocês não precisam mandar ninguém embora com fome: deem vocês mesmos de comer.

Jesus presente na Eucaristia é nossa força espiritual para que coloquemos em prática o seu o mandamento do amor que se concretiza à medida que nossas comunidades sejam lugar de perdão, de acolhida, de valorização das pessoas e das diferenças. A Eucaristia que adoramos caminhando por nossas ruas e praças é o mesmo que convida a sermos sensíveis às necessidades dos mais frágeis, pobres, doentes, indefesos e carentes. Assim se confirma que somos capazes de amar como ele nos amou!

O caráter festivo da procissão que realizamos hoje completa a festa da ressurreição do Senhor que como aos discípulos nos precede na Galileia dos nossos tempos e que caminha conosco até o fim do mundo e continua a nos enviando para todas as nações do mundo, fazendo a mesma recomendação que deu aos discípulos: Não mandem ninguém para casa de mãos vazias, deem vocês mesmos de comer!

A esse Jesus que está além das paredes das nossas igrejas, confiamos à sua misericórdia, nossas estradas, nossas casas, nossa vida cotidiana. Que nossas estradas sejam de Jesus, Que nossas casas sejam d’Ele, para Ele e com Ele, que a nossa vida e a de todos sejam guiadas por Ele e por sua Palavra, nas ruas decoradas de nossas cidades colocamos sob o olhar de Jesus os sofrimentos dos doentes, a solidão dos jovens e dos idosos, as tentações e os medos de nossas vidas.

A procissão é uma grande bênção pública para nossa cidade, a Eucaristia que levamos solenemente completa o caminho de Iniciação à vida cristã é deste sacramento que brota todos os demais. Esta procissão é a expressão da autêntica ação de graças ao Pai por seu amor e misericórdia colocados em nossas vidas pela entrega do seu Filho Jesus verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

A Eucaristia não é uma simples lembrança, no pão partido Deus derrama toda a sua misericórdia sobre nós e sobre todos a ponto de renovar o nosso coração, a nossa existência e o nosso próprio modo de nos relacionarmos com Ele e com os irmãos.

Nunca seremos suficientemente agradecidos a Deus pelos dons que nos concede na Eucaristia, cada vez que celebramos a Eucaristia, cada vez que vamos a missa e nela comungamos sentimo-nos acolhidos e regenerados pela misericórdia de Deus.

Que a Virgem Maria, que esteve sempre unida a Jesus, nos ajude a descobrir na Eucaristia a dimensão do serviço, do lava pés, do comprometimento e da comunhão com todas as criaturas.

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO!

 

 

 

 

HOMILIA PARA O DIA 04 DE JUNHO DE 2023 - DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE - ANO A

 DEUS MISERICORDIOSO E CLEMENTE

Poucas situações e experiências humanas são mais significativas do que o perdão e a reconciliação cujo local extraordinário é o seio da família. Sentir-se participante de uma família que se quer bem, se respeita e se ama é tranquilizador e serve de testemunha para muitas outras relações sociais do cotidiano.

Este domingo, chamado da Santíssima Trindade é a oportunidade que Deus tem para manifestar mais claramente sua existência como família, que vive a plena comunhão, a corresponsabilidade e a partilha.

No texto do Êxodo temos uma definição de Deus que sai da boca de Moisés: “Senhor, Senhor! Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel". Por causa dessa convicção Moisés apresenta alguns pedidos: “Senhor, se é verdade que gozo de teu favor, peço-te, caminha conosco; embora este seja um povo de cabeça dura, perdoa nossas culpas e nossos pecados e acolhe-nos como propriedade tua". Moisés tem convicção que a misericórdia de Deus é ilimitada e aconteça o que acontecer Deus não abandonará o seu povo!

Na carta aos coríntios o mais importante é a saudação que Paulo recomenda aos cristãos: “Saudai-vos uns aos outros com o beijo santo. Todos os santos vos saúdam. A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós”. Ao mesmo tempo que propõe uma forma de manifestar o bem querer entre as pessoas da comunidade ele reforça o conceito de Deus que é comunhão, que é família e que se manifesta na Trindade.

No Evangelho João apresenta a culminância de uma extraordinária história de amor: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”.  As gerações, tal como o povo de Israel continua com as mesmas dificuldades de outrora que agora se manifestam em práticas egoístas, alienação, escravidão, discórdias e assim por diante. Em Jesus que se fez obediente todos são convidados a aprender que a vida plena consiste em obedecer ao Pai e doar a vida pelo bem de todos.

Deus não mandou seu filho ao encontro dos perfeitos, justos e bons, mas de todo aquele que nele crer, para todos Jesus apresenta a proposta de um novo estilo de vida. Em Jesus o divino se torna humano e o humano alcança divindade.

A Trindade é a manifestação de Deus que acolhe com ternura todos e cada uma ensinando a formar comunhão, partilha e solidariedade. A trindade no estimula “encorajai-vos, cultivai a concórdia, vivei em paz”.