quinta-feira, 28 de novembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 01 DE DEZEMBRO DE 2019 - PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO - ANO A


VIGILANTES E CAMINHANTES
A letra de uma canção religiosa dos anos 1980 diz mais ou menos assim: “Perdido, confuso, vazio, sozinho na estrada tentando encontrar um caminho que seja o meu, não importa se é duro, eu quero buscar. Pegadas pra um lado e pra outro, estradas sem rumo terei que lutar. Caminheiro, você sabe, não existe caminho. Passo a passo, pouco a pouco e o caminho se faz. Iguais, são todos iguais, ninguém tem coragem sequer de pensar. Será que ninguém é capaz de sentir esta vida e com ela vibrar? Será que não vale a pena ariscar tudo, tudo e a vida encontrar”?
Pois é sobre caminhar e encontrar caminhos que trata a Palavra de Deus prevista para esse primeiro domingo do advento quando a Igreja inicia o novo ano litúrgico. As três leituras são um convite a empreender um caminho com vigilância e perseverança. No tempo de Noé, o diluvio foi o sinal dado por Deus para alertar as pessoas sobre os caminhos errados que estavam tomando.
No advento, fazendo memória da vinda de Jesus acontecida há pouco mais de dois mil anos o fato continua sendo um alerta para todos a não se instalar no comodismo, na passividade, no desleixo, na rotina, na indiferença, pelo contrário, convida todos a caminhar atentos e preparados para acolher o Senhor que vem para responder aos anseios e sonhos de todos os que lutam e esperam por uma nova história ocasião em que Deus fará justiça. A vinda de Jesus coloca à luz do dia as incoerências do mundo moderno e aponta para uma nova maneira das pessoas se relacionar e de construir bases para uma sociedade melhor e mais fraterna. Celebrar a vinda de Jesus é um convite a ter coragem de vibrar com a vida, de arriscar tudo para encontrar o verdadeiro bem.
Assim afirma o profeta na primeira leitura: “Acontecerá, nos últimos tempos, que o monte da casa do Senhor estará firmemente estabelecido no ponto mais alto das montanhas e dominará as colinas. A ele acorrerão todas as nações, para lá irão numerosos povos e dirão: 'Vamos subir ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos e nos ensine a cumprir seus preceitos. Ele será juiz no meio das nações e árbitro de povos sem número. Converterão as espadas em relhas de arado
e as lanças em foices. Não levantará a espada nação contra nação, nem mais se hão de preparar para a guerra. Vinde, ó casa de Jacob, caminhemos à luz do Senhor”.
A primeira leitura é um convite do qual ninguém fica excluído e que tem uma direção certa: Caminhar ao encontro do Senhor cujo resultado será um mundo de concórdia, de harmonia e de paz sem fim.
E São Paulo recomenda aos romanos: “Vós sabeis em que tempo estamos, pois já é hora de despertar. Com efeito, agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé. A noite já vai adiantada, o dia vem chegando: deixemos para traz as ações das trevas e vistamos as armas da luz. Procedamos honestamente, como em pleno dia”. Este convite pode ser traduzido em ações que implicam deixar para traz o egoísmo, a injustiça, a mentira, o pecado e revestindo-se da luz que Cristo veio acender caminhar na alegria e na esperança ou seja: “arriscar tudo para a vida encontrar”.
No evangelho Jesus faz um passeio no tempo: “A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé. Pois nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca” e conclui: “Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá”.
Esta advertência de Jesus ajuda compreender que não tem nenhuma utilidade viver mergulhado nos prazeres que alienam, ou no trabalho excessivo, nem tampouco em ficar de braços cruzados esperando que as oportunidades caiam do céu. Viver com maturidade o dom do batismo que cada um recebeu consiste em caminhar vigilante percebendo os sinais da presença do Senhor. Responder aos desafios que a vida vai imponto e empenhar-se na construção de mundo melhor.
Caminhando com olhos abertos e aproveitar cada momento para “fazer um caminho” no qual o projeto de Deus possa ser reconhecido e vivenciado por todos. Isso significa tomar conta da casa que é o mundo, cuidar e construir com a justiça do Evangelho relações fraternas que resgatam a dignidade dos mais sofridos.
Que a preparação do Natal seja oportunidade para arrumar a casa da nossa vida, afinal de contas a visita que Deus nos faz não é por um motivo qualquer, ele vem para transformar a nossa vida e a de todos.





quinta-feira, 21 de novembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 24 DE NOVEMBRO DE 2019 - CRISTO REI DO UNIVERSO - ANO C


CRISTO REI CARIDOSO, AMOROSO E COMPASSIVO

É bastante comum entre nós usar a expressão: “Em time que está ganhando não se mexe...” esta frase tem um significado mais profundo para dizer que “Se alguma coisa está dando certo, deixa como esta porque mudar pode dar errado”.  Mais ou menos essa sensação tinha o povo de Israel em relação ao reinado de Davi. Com ele Israel viveu um tempo de felicidade, de abundância, de paz que nunca seria esquecido nem mesmo pelas gerações futuras. Nos séculos seguintes quando as coisas já não tinham o mesmo brilho o povo começou a sonhar com o retorno da era da felicidade e a restauração do Reino de Davi. Diante desta expectativa os profetas prometeram que Deus iria intervir em favor de Israel e faria nascer da descendência de Davi um Rei com as mesmas características, porém, muito mais poderoso, diferente de Davi o seu descendente instalaria um reinado que nunca teria fim. Um rei que iriar concretizar o sonho dos Israelitas.  
A instalação do Reino esperado foi experimentado pela comunidade dos Colossenses para quem São Paulo escreve a segunda leitura: “Com alegria dai graças ao Pai, que vos tornou capazes de participar da luz, que é a herança dos santos. Ele nos libertou do poder das trevas e nos recebeu no reino de seu Filho amado, por quem temos a redenção, o perdão dos pecados. Ele é a imagem do Deus invisível...”  Afirmar que Cristo é a imagem de Deus invisível significa aceitar que em tudo Ele é igual ao Pai inclusive no jeito de ser e de fazer todas as coisas e que nele é Deus mesmo quem se dá a conhecer mostrando a eficácia do seu Reinado.
Na cruz de Jesus o centro de todas as atenções é a frase que Pilatos ordenou colocar no alto da cruz: “Jesus de Nazaré o Rei dos Judeus”. Mas que Rei é este cujo trono é uma cruz? Ele é o rei que governa a partir da cruz instalando um Reino de serviço, de amor, de entrega. Enquanto alguns o insultam e dele fazem pouco caso Jesus garante ao ladrão arrependido: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. A expressão não traz em si um significado cronológico, pelo contrário, indica que a salvação definitiva e o Reino que não terá fim vai se concretizando a partir da cruz. Na cruz é possível reconhecer a realeza de Jesus que se pode experimentar no perdão, na renovação, na vida plena que está ao alcance de todos os que acolhem a salvação.
Celebrar a Festa de Cristo Rei do Universo não é celebrar um Deus forte, dominador que se impõe e que assusta, mas implica celebrar um Deus que serve, que acolhe e que reina nos corações com a força desarmada do amor. A cruz se torna um ponto de chegada, um trono no qual Deus que serve instala seu reinado através do amor e da entrega da própria vida.
Certamente a Igreja precisa aprender sempre e de novo exercer sua missão como instituição que serve antes de dominar e decidir e se apresentar cheia de honras e de poder. Na vida pessoal todos são convidados a aprender do Rei da Cruz a deixar de lado as pretensões ridículas de honra, de glória, de títulos, de aplausos. O Reinado de Cristo é um convite a deixar de lado nossas manias de grandezas, nossas invejas mesquinhas, nossas rivalidades que em lugar de promover e dignificar destroem e denigrem a vida dos outros. Celebrar Cristo Rei do Universo consiste em trabalhar por uma vida de comunhão e de liberdade. Daí sim será correto rezar como se faz no salmo: “Que alegria quando me disseram, vamos à casa do Senhor”.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 17 DE NOVEMBRO DE 2019 - 33º COMUM - ANO C.


A ESPERANÇA DOS POBRES JAMAIS SE FRUSTRARÁ

Santa Dulce dos Pobres... Rogai por nós!
No mês de outubro ganhamos o testemunho de Santa Dulce dos Pobres. Nas Palavras do Papa Francisco “Com sua dedicação, abriu caminhos à partilha que promove as pessoas tirando-as da marginalização. Dedicou toda a sua vida aos irmãos com deficiências profundas e quem muitas vezes a sociedade excluía”. Santa Dulce é o que se pode chamar “Santidade ao pé da porta – Classe média da Santidade”. Com sua vida e seu empenho devolveu o sorriso a tantas pessoas fragilizadas pela pobreza e pelo sofrimento. Santa Dulce dos Pobres fez de sua vida a regra do Evangelho e aquilo que rezamos no salmo deste domingo: “O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça julgará. Exultem na presença do Senhor, pois ele vem, vem julgar a terra inteira. Julgará o universo com justiça e as nações com equidade”.
A oração do salmista é uma confirmação da Esperança anunciada pelo profeta Malaquias: “Eis que virá o dia, abrasador como fornalha, em que todos os soberbos e ímpios serão como palha; e esse dia vindouro haverá de queimá-los, diz o Senhor dos exércitos, tal que não lhes deixará raiz nem ramo. Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas”. As palavras do profeta são uma antecipação, um anuncio do dia do Senhor, elas podem ser lidas como a vinda libertadora do messias, o novo sol da justiça que brilha no mundo e que aponta o Reino acessível para todas as pessoas.
No evangelho Jesus confirma o que já havia sido dito por todos os profetas. A vinda do Messias se caracterizará por “Dias em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” O anuncio feito por Jesus não é para amedrontar ninguém, pelo contrário é para animar na esperança. A destruição predita visa o mundo velho no qual o que é mau, soberbo, impuro, será queimado e dará lugar para o sol da Justiça. Jesus foi muito claro afirmando: Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: 'Sou eu!' E ainda: O tempo está próximo. Não sigais essa gente!  Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida”.
Para os cristãos do terceiro milênio o discurso de Jesus define a missão da Igreja em Saída que caminha na história serena até a segunda vinda. O tempo não é de medo, mas de dar testemunho da Boa Nova do Reino contando sempre com ajuda e a força de Deus que em Jesus está presente todos os dias até o fim dos tempos.
A ocasião é para imitar São Paulo: “Bem sabeis como deveis seguir o nosso exemplo, pois não temos vivido entre vós na ociosidade. De ninguém recebemos de graça o pão que comemos. Pelo contrário, trabalhamos com esforço e cansaço, de dia e de noite”. Em nome de Jesus Cristo ordenamos que ninguém se ocupe em não fazer nada. Viver em comunidade exige responsabilidade de todos colocando seus próprios dons para contribuir com o equilíbrio e harmonia entre todos. 
Conforme afirma o Papa Francisco na sua mensagem para o dia mundial dos pobres: “A tantos voluntários, a quem muitas vezes é devido o mérito de ter sido os primeiros a intuir a importância desta atenção aos pobres, peço para crescerem na sua dedicação. Queridos irmãos e irmãs, exorto-vos a procurar, em cada pobre que encontrais, aquilo de que ele tem verdadeiramente necessidade; a não vos deter na primeira necessidade material, mas a descobrir a bondade que se esconde no seu coração, tornando-vos atentos à sua cultura e modos de se exprimir, para poderdes iniciar um verdadeiro diálogo fraterno. Coloquemos de parte as divisões que provêm de visões ideológicas ou políticas, fixemos o olhar no essencial que não precisa de muitas palavras, mas dum olhar de amor e duma mão estendida. Nunca vos esqueçais que «a pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual”.







sexta-feira, 8 de novembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 10 DE NOVEMBRO DE 2019 - 32º COMUM - ANO C


A ESPERANÇA NÃO DECEPCIONA

Imaginemos que estamos numa viagem e fazendo planos diversos sobre as oportunidades que esta viagem nos reserva. Ao nosso lado outras pessoas também andam com outros objetivos e destinos diferentes. Se tem uma coisa que incomoda e causa stress para todos é a sensação que a viagem será interrompida por algum problema na rodovia e de repente acontece. Do nada o trânsito para e sem nenhuma explicação o seu GPS já não dá mais previsão de chegada, pelo contrário aquela voz incômoda anuncia: “Sinal de GPS perdido” e Você fica inerte. Para frente não vai. Retornar é impossível a única alternativa é tentar se acalmar e esperar que “quando Deus quiser essa coisa ande”.
Pois é de viagem interrompida e da ação de Deus no decurso dessa viagem que tratam as leituras deste domingo. A carta de São Paulo aos Tessalonicenses afirma: “ Irmãos, 16nosso Senhor Jesus Cristo e Deus nosso Pai, que nos amou em sua graça e nos proporcionou uma consolação eterna e feliz esperança, 17animem os vossos corações e vos confirmem em toda boa ação e palavra. O Senhor nos dá a certeza de que vós estais seguindo e sempre seguireis as nossas instruções. 5Que o Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à firme esperança em Cristo”. Estas palavras de São Paulo são uma injeção de ânimo a nos dizer que com a ajuda de Deus nem tudo está perdido e que nenhum empreendimento é inútil e nenhuma viagem será interrompida para sempre. A leitura ajuda compreender que o bom êxito da viagem desta vida se dará com a nossa participação decisiva, mas ao mesmo tempo que o final feliz não se deve somente aos nossos méritos e esforços, pelo contrário muitas pessoas vão colaborar com todo o empreendimento, trata-se de não perder a esperança.
O texto da primeira leitura é o primeiro no Antigo Testamento que deixa clara a certeza que a vida não termina na experiência humana do poder, da autoridade e dos limites deste mundo. Os irmãos Macabeus com a sua mãe são vítimas de uma perseguição absurda. Condenados a morrer aceitam o martírio com a crueldade daqueles que se julgam senhores e donos da vida de tudo e de todos. A família inteira tem convicção que o sofrimento presente é apenas um “congestionamento passageiro”, mas que a viagem continuará com segurança e um depois do outro fazem a mesma afirmação: “Tu, ó malvado, nos tiras desta vida presente. Mas o rei do universo nos ressuscitará para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis... E disse, cheio de confiança: “Do céu recebi estes membros; por causa de suas leis, os desprezo, pois do céu espero recebê-los de novo... Prefiro ser morto pelos homens, tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia nos ressuscitará”
E no evangelho os saduceus fazem uma pergunta acadêmica e hipotética, tipo problema de quebra cabeça sem solução. Como sempre Jesus responde com sabedoria sem entrar na polêmica por eles apresentada: “Jesus respondeu aos saduceus: “Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se, 35mas os que forem julgados dignos da ressurreição dos mortos e de participar da vida futura, nem eles se casam nem elas se dão em casamento; 36e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram. 37Que os mortos ressuscitam, Moisés também o indicou na passagem da sarça, quando chama o Senhor de ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. 38Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele”. Recorrendo a própria lei de Moisés, que os saduceus bem conheciam, Jesus lhes recorda que os antepassados deles vivem com Deus e que, portanto, a vida continua de outra maneira porque “Deus não é um Deus dos mortos”.
O resultado final da viagem não está restrito simplesmente que o trânsito volte a andar, mas que continue andando de uma maneira diferente como foi até onde se foi forçado a parar. A certeza que a viagem não termina “num engarrafamento qualquer” é que garante a coragem de continuar na estrada, como se reza no salmo: “Os meus passos eu firmei na vossa estrada, / e por isso os meus pés não vacilaram. / Eu vos chamo, ó meu Deus, porque me ouvis, / inclinai o vosso ouvido e escutai-me”.



quarta-feira, 23 de outubro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 27 DE OUTUBRO DE 2019 - 30º COMUM


O SENHOR É JUSTO JUIZ
O nosso tempo tem muitas semelhanças com o contexto em que foi escrita a carta a Timóteo: Confusão, desânimo, intrigas, problemas de relacionamento entre as pessoas, corrupção generalizada. Manter-se firme em algum bom propósito nesta situação nem sempre é uma coisa fácil e muitas vezes tem-se a sensação que não vale a pena remar contra a maré. Para nós vale as palavras de Paulo como foram útil também naquele tempo: Na minha primeira defesa, ninguém me assistiu; todos me abandonaram. Oxalá que não lhes seja levado em conta. Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me libertará de todo mal. Com todas as dificuldades e provações que o apostolado lhe oferece Paulo não perde a esperança e não se cansa de confortar: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor”. Talvez nenhum outro apóstolo tenha sido tão firme nas suas convicções e feito tanto pela divulgação do Evangelho como São Paulo. Com a figura dele pode-se fazer um parelelo com os personagens da primeira leitura e do Evangelho.
O autor da primeira leitura parte de uma realidade concreta, trata das viúvas e dos órfãos como categoria de pessoas desassistidas pela sociedade. Apesar disso ele garante: “O Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas. Ele não é parcial em prejuízo do pobre, mas escuta, sim, as súplicas dos oprimidos; jamais despreza a súplica do órfão, nem da viúva, quando desabafa suas mágoas”. O autor é muito categórico e afirma que Deus está sempre disposto a ouvir as preces e súplicas daqueles que são vítimas das injustiças e do pecado. O que conta não é o pecado das pessoas, mas a disposição em restabelecer o direto e a justiça e endireitar a vida tortuosa.
Nos dois personagens do Evangelho se confrontam mais do que duas pessoas, dois estilos de vida. Um correto, justo, cumpridor da lei de Moisés. O fariseu do Evangelho não pode ser acusado de não levar uma vida correta. Sobre ele pesa a arrogância, a prepotência, o julgar-se melhor e mais perfeito do que todos. Quase como quem diz: Nem de Deus e da sua misericórdia eu preciso. As minhas obras são tão justas e perfeitas que “Deus tem o dever de me salvar”.  Já do outro lado está o publicano um sujeito de vida torta. Todos os seus atos são abomináveis e de ninguém ficam escondidos. A diferença entre o primeiro e o segundo não está na perfeição da vida, mas na atitude de quem se coloca em atitude de abertura e disponibilidade.
Enquanto o primeiro se auto justifica: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros...” o segundo se reconhece necessitado do perdão e da misericórdia e se propõe andar por outro caminho: O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: `Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador”.
Como ideia central para este domingo pode-se concluir que Deus está sempre atento aos nossos pedidos. Essa mensagem que já se repete em domingos anteriores fundamenta a atitude que se pode ter diante da misericórdia de Deus. Nada temos a exigir de Deus, ser justo, bom e correto não é mais do que uma obrigação da própria situação humana, mas quando nossas fragilidades nos impedem de agir assim apresentar-se diante dele com humildade e simplicidade de coração parece ser a alternativa, como se reza no salmo: O pobre clama a Deus e ele escuta: o Senhor liberta a vida dos seus servos... Do coração atribulado ele está perto e conforta os de espírito abatido. Mas o Senhor liberta a vida dos seus servos, e castigado não será quem nele espera”.




sábado, 19 de outubro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 20 DE OUTUBRO DE 2019 - 29 º COMUM - ANO C


DO SENHOR É QUE VEM O SOCORRO
As relações humanas da atualidade são marcadas pela tecnologia, o nosso tempo é chamado de Era da Informação, Era Digital, Terceira Revolução Industrial. Todos esses nomes para designar a necessidade que se criou de estar conectado 24 horas por dia. Em qualquer espaço público uma das informações indispensáveis é a “senha da internet”. Dá a impressão que se não estivermos conectados estamos fora do mundo.
A Palavra de Deus deste domingo nos mostra como uma comunicação eficaz e como estar conectado com Ele modificou a vida e a história de muitas gerações e pode modificar também a nossa. A primeira leitura conta de um modo amedrontador como o povo de Israel, na caminhada do deserto, venceu uma dura batalha. O que é importante no relato não é batalha, nem a vitória. O que conta é como por meio de Moises, Aarão e Hur o povo se manteve ligado a Deus. Enquanto aqueles estavam em sintonia com Deus nenhuma batalha era invencível: “E, enquanto Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia”; Quando perdia a conexão os adversários venciam: “quando abaixava a mão, vencia Amalec”. Ora, pensemos no nosso dia a dia quantas vezes tivemos “duras batalhas” e sempre que fomos ajudados por Deus e pelos amigos d’Ele apesar das dificuldades sempre tivemos êxito, ainda que isso não fosse com a velocidade e no tempo que nós esperávamos.
A história do juiz injusto e da viúva insistente tem por objetivo mostrar como Deus não é surdo ao nosso clamor e cego ao sofrimento do povo: “'Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: `Faze-me justiça contra o meu adversário!” A insistência da viúva quer ajudar a perceber como Deus ama e tem um projeto para atender a todos, resta ter a coragem e a determinação de não desistir diante das dificuldades, porque: “Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa”. Cabe a cada pessoa descobrir Deus e reconhecer sua ação por meio da oração e do diálogo perseverante.
São Paulo volta a insistir com seu amigo que o encontro com Deus é a maneira mais extraordinária de vencer todas as dificuldades e provações da vida: “Caríssimo, permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como verdade; tu sabes de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras:
elas têm o poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus”.
E o encontro se dá por meio da Palavra que indica a direção a ser seguida por quem quer garantir vida plena: “eu te peço com insistência: proclama a palavra, insiste com toda a paciência e doutrina”.
Em resumo, para que as dificuldades e provações do mundo atual não nos deixem no desespero e na revolta é preciso garantir sempre a comunhão, a intimidade, o diálogo, a conexão com Deus. Isso se dá na oração, nas obras de misericórdia, na prática da justiça e quando agimos assim vemos perceber que Deus não é surdo, cego e indiferente aos sofrimentos.  Pode até não agir na proporção do nosso tempo e das soluções que nós julgamos adequadas para cada situação, mas age sempre.  Conectados com Ele todas as duras batalhas da vida terminam em final feliz.
Desta maneira fica mais fácil compreender o que cantamos no salmo:
Do Senhor é que me vem o meu socorro,
do Senhor que fez o céu e fez a terra.



sexta-feira, 11 de outubro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 13 DE OUTUBRO DE 2019 - 28º DOMINGO COMUM


VIVER CONCRETAMENTE O AMOR AO IRMÃOS

Hoje o Papa Francisco declarou que o Brasil tem oficialmente sua primeira santa: “Irmã Dulce dos Pobres”. A vida desta baiana em nada se diferencia da grande maioria dos brasileiros se não na sua dedicação para com os pobres. Uma leitura simples da sua biografia vai nos colocar diante da cadeira, onde em agradecimento pela saúde de uma das suas irmãs, Irmã Dulce dormiu todas as noites durante 38 anos. Outro fato que merece destaque foi a transformação do “galinheiro numa casa de acolhida de pobres e doentes. ”  O maior milagre da Dulce dos Pobres pode ser considerado a manutenção de uma rede de atenção à saúde 100% gratuita com atendimento a mais de três e meio milhões de atendimentos por ano.
Este exemplo é apenas mais uma coincidência com as leituras que se proclama neste domingo. As três leituras ajudam entender muito concretamente como Deus tem um projeto para oferecer a humanidade e reconhecer este amor e esta gratidão é a condição para vencer a alienação e o sofrimento.
A primeira leitura e o evangelho contam a história de uma categoria de pessoas que era excluída da sociedade e considerada impura. Nos dois casos aceitar o que Deus lhes oferece garante que sejam integrados na sociedade: “Naqueles dias: Naamã, o sírio, desceu e mergulhou sete vezes no Jordão, conforme o homem de Deus tinha mandado, e sua carne tornou-se semelhante à de uma criancinha, e ele ficou purificado. Em seguida, voltou com toda a sua comitiva para junto do homem de Deus. Ao chegar, apresentou-se diante dele e disse: 'Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda a terra, senão o que há em Israel”.
E no Evangelho: “Ao vê-los, Jesus disse: 'Ide apresentar-vos aos sacerdotes. Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados. Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e lhe agradeceu”.
Nos dois casos pode-se ver como Deus oferece a todos a salvação e a vida sem limites, às pessoas cabe acolher o dom de Deus, reconhecer que Ele nos quer bem e manifestar gratidão por todas as extraordinárias coisas que nos acontecem.
Identificar-se com Jesus é o convite que Paulo faz ao seu amigo Timóteo e que é extensivo a cada um de nós. Quem acolhe o dom de Deus torna-se discípulo, vive no amor e na entrega aos irmãos vê a realização das promessas no seu dia a dia.
“Caríssimo: Lembra-te de Jesus Cristo. Merece fé esta palavra: se com ele morremos, com ele viveremos”. Hoje temos Santa Dulce dos pobres, uma das brasileiras que soube colocar em prática essa palavra. Mas a lista dos que consumiram sua vida em favor dos irmãos é muito extensa e que esta é verdadeiramente uma vida plenamente realizada.

HOMILIA PARA O DIA 12 DE OUTUBRO DE 2019 - NOSSA SENHORA APARECIDA


ELA É MINHA MÃE...

Amanhã, o Papa Francisco eleva à glória dos altares, atribuindo o título de Santa Dulce dos Pobres, a irmã Rita de Souza Brito. O que há de comum entre essa Santa Brasileira e Nossa Senhora Aparecida se não que ambas conquistaram o coração dos pobres e em consequência o coração de todos.
Com a frase “Ela é Minha Mãe”, o Papa Francisco define Nossa Senhora e não tenho dúvidas que todo católico responderia com as mesmas palavras. No caso de Nossa Senhora Aparecida muitos ainda diriam que Ela é a Santa Brasileira. Um autor brasileiro publicou uma “biografia de Nossa Senhora Aparecida” definindo-a como “A santa que perdeu a cabeça, ficou negra, foi roubada, cobiçada pelos políticos e conquistou o Brasil”.
E poderíamos ir muito longe ainda tentando descrever a paixão que o Brasil inteiro nutre pela Santinha. Mas onde estaria a origem se não na certeza que em qualquer uma das imagens ou de seus infinitos nomes estamos sempre falando da mesma pessoa: “Maria Imaculada a Mãe de Jesus nosso único Salvador”.
As três leituras na liturgia de hoje ajudam compreender porque Maria ganhou tanto carinho e o povo lhe atribui tanta veneração.  Na primeira leitura a Rainha Ester se apresenta diante do Rei num momento de muita perseguição e opressão que se desencadeava contra o povo e lhe pede apenas uma coisa: “Se ganhei as tuas boas graças, ó rei, e se for de teu agrado, concede-me a vida - eis o meu pedido! - E a vida do meu povo - eis o meu desejo”.
No relato da segunda leitura temos a figura de uma mulher prestes a dar à luz e correndo todos os riscos próprios da situação e muitos outros e o autor afirma: “E ela deu à luz um filho homem, que veio para governar todas as nações com cetro de ferro. A terra, porém, veio em socorro da mulher”. Ora, quem é o Filho a quem atribuímos o governo de todas as nações senão Jesus Cristo. Isso é o suficiente para entender que o autor fala de Maria Mãe de Jesus a quem o povo chama de Nossa Senhora.
O Evangelho narra uma história de casamento em que um noivo é pego de “calças curtas” deixando faltar vinho para os convivas. E ninguém menos que a Mãe de Jesus faz o “meio de campo” e resolve a situação.
São poucas as pessoas que não tem alguma promessa feita a Nossa Senhora e que dela não tenha recebido a devida atenção. O Papa Francisco, quando ainda cardeal de Buenos Aires esteve uma vez em Aparecida e na ocasião um funcionário do hotel teria dito: “Cardeal, se o Senhor for eleito Papa, volte a nos visitar...” e Bergoglio Responde: “Como não”. E não teve dúvida. A Sua primeira viagem como Papa foi para o Rio de Janeiro na Jornada Mundial da Juventude e deu o jeito de estender o passo até Aparecida e lá ele declarou: “É de Maria que se aprende como ser discípulo, é por isso que a Igreja sai em missão sempre protegida pela sombra de Maria”.

sábado, 14 de setembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 15 DE SETEMBRO DE 2019 - 24º COMUM - ANO C


VOU AGORA, LEVANTAR-ME, VOLTO À CASA DO MEU PAI
Não resta dúvida que ao longo da vida todos tivemos a oportunidade de presenciar alguma cena de reconciliação que certamente nos deixou impressionados e porque não até intrigados. É também verdade que não faltaram ocasiões também nas quais nos sentimos “um verme” diminuídos em nossa dignidade e sem coragem de levantar e retomar o caminho. As teorias contemporâneas de autoajuda usam a expressão “resiliência” quando se trata de levantar com determinação e coragem a partir dos próprios fracassos. Ninguém dúvida também que tanto nos fracassos pessoais como nas cenas de reconciliação que se tenha presenciado existe a participação e cumplicidade de outras pessoas.
Pois é sobre perdão, reconciliação, cumplicidade que trata a Palavra de Deus deste domingo. As três leituras e o salmo são de uma clareza extraordinária para fazer perceber a lógica do amor de Deus. Na relação com suas criaturas Deus amar de modo incondicional e indescritível. Nem o pecado interrompe ou nos afasta do amor de Deus.
A primeira leitura é uma recuperação do contratado feito entre Deus e o seu povo por meio de Moisés que lhes trouxe as tabuas da lei. Um dos preceitos da aliança consistia em não fazer imagens de Deus de nenhuma maneira. Não porque Deus não goste de imagens, mas, porque a sua extraordinária misericórdia, bondade e grandeza não podem ser expressas de nenhuma maneira. Exatamente no mesmo contexto onde haviam selado a aliança o povo se deixou vencer pela sua fraqueza e como não podia representar o seu Senhor se prostra diante de um bezerro de ouro.
Diante dessa incoerência Deus se irrita e está disposto a romper a aliança: “Vejo que este é um povo de cabeça dura. Deixa que minha cólera se inflame contra eles. Eis que, mais uma vez, a intermediação de Moisés permite restabelecer a relação amorosa entre as partes: “Por que, ó Senhor, se inflama a tua cólera contra o teu povo, que fizeste sair do Egito com grande poder e mão forte? Lembra-te de teus servos Abraão, Isaac e Israel, com os quais te comprometeste, por juramento, dizendo: 'Tornarei os vossos descendentes tão numerosos como as estrelas do céu”. A leitura termina com a afirmação: “E o Senhor desistiu do mal que havia ameaçado fazer ao seu povo”.
Paulo, na segunda leitura reitera sua absoluta confiança no amor de Deus que se tornou conhecido na pessoa de Jesus Cristo. Paulo tem certeza que amor de Deus é incondicional e se derrama de modo abundante sobre todos, também sobre os pecadores transformando-os em gente nova: “Agradeço àquele que me deu força, Cristo Jesus, nosso Senhor, pela confiança que teve em mim ao designar-me para o seu serviço, a mim, que antes blasfemava, perseguia e insultava. Mas encontrei misericórdia, porque agia com a ignorância de quem não tem fé. Transbordou a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus... Segura e digna de ser acolhida por todos é esta palavra: Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores”.
A história do Filho Pródigo não poderia ser mais sugestiva para compreender a dimensão do amor de Deus. Ele se faz conhecer como um pai que espera o regresso do filho inconsequente, que o abraça e o faz reentrar em casa: “este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado”.
Se quisermos tirar uma lição infalível da Palavra de Deus deste domingo certamente se poderá dizer sem medo de errar: O amor de Deus é incondicional, Deus ama apesar do pecado.  Nesta certeza podemos rezar como o salmista:
Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia!*
Na imensidão de vosso amor, purificai-me!
4Lavai-me todo inteiro do pecado,*
e apagai completamente a minha culpa! R.

12Criai em mim um coração que seja puro,*
dai-me de novo um espírito decidido.
13ó Senhor, não me afasteis de vossa face,*
nem retireis de mim o vosso Santo Espírito! R.

17Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar,*
e minha boca anunciará vosso louvor!
19Meu sacrifício é minha alma penitente,*

não desprezeis um coração arrependido!



sexta-feira, 6 de setembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 08 DE SETEMBRO DE 2019 - 23º DO TEMPO COMUM - ANO C


SEM MEDO DE ESCOLHER O DISCIPULADO
As Exigências do mundo contemporâneo desafiam todos a desenvolver um espirito de empreendedorismo. As pessoas, as empresas e as instituições são valorizadas e respeitadas à medida que forem capazes de ter “foco”, ou seja clareza da sua missão e da sua visão de mundo, de sociedade, de futuro e assim por diante. Costuma-se dizer que é preciso ser proativo em relação a todas demandas que se apresentam no dia a dia. Em outras palavras se diz que não basta ser bombeiro para apagar incêndio, mas antes precisa prevenir que não aconteçam. Pois bem, é sobre essas questões que se refere a Palavra de Deus proclamada neste domingo.
As leituras são um convite a perceber as exigências e implicações para a vida de uma pessoa, sociedade ou comunidade que queira escolher o caminho do “Reino”. Essa decisão implica em renuncias e dedicação pela causa abraçada. O texto da primeira leitura começa com uma pergunta que deixou perplexas todas as gerações: “Qual o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Acaso alguém teria conhecido o teu desígnio, sem que lhe desses Sabedoria e do alto lhe enviasses teu santo Espírito? Só assim se tornaram retos os caminhos dos que estão na terra, e os homens aprenderam o que te agrada, e pela Sabedoria foram salvos”. Em outras palavras significa compreender que conhecer Deus e seus caminhos exige “foco, força e fé”. Só em Deus e com Ele será possível a felicidade plena e encontrar o verdadeiro sentido para a vida.
Ao seu amigo Filêmon, São Paulo recorda a importância do amor e do perdão como única condição para superar as desigualdades e intransigências em relação às pessoas e suas escolhas: “Caríssimo: faço-te um pedido em favor do meu filho que fiz nascer para Cristo na prisão, Onésimo. Eu o estou mandando de volta para ti. Ele é como se fosse o meu próprio coração”. As palavras do apóstolo deixam mais do que claro que na relação com as pessoas e com a vida em geral só há uma atitude que não se esgota nunca: “o amor deverá ser a suprema e insubstituível norma para dirigir os comportamentos e decisões em todas as circunstâncias da vida. O amor tem consequências práticas que não podem ser deixadas e segundo plano”.
No Evangelho Jesus esclarece como as decisões baseadas no amor não podem ser egoístas e preocupadas apenas no pequeno mundo das escolhas pessoais. O caminho do discipulado tem como “foco” o Reino e esta alternativa deve colocar no lugar certo o amor para com as pessoas em particular e o amor que alcança o interesse de todos. Muito além dos interesses e esquemas pessoais quem se decide amar deverá fazê-lo verdadeiramente ou nem vale a pena começar.
Neste sentido merecem ser recordadas as palavras do Papa Francisco em uma de suas audiências de quarta-feira na Praça de São Pedro: “Vamos pedir a graça de não ser cristãos mornos, cristãos de meia tigela que deixam esfriar o pirão”.
A proposta de Jesus não é demagógica, cheia de promessas fáceis para atrair multidões a qualquer preço. Aceitar a Palavra de Jesus implica adesão séria, exigência radical, nada de colocar panos quentes ou ser bombeiro só para apagar incêndios.
Que sejamos pessoas com a determinação e abertura que se canta no salmo deste domingo:
Ensinai-nos a contar os nossos dias,
para chegarmos à sabedoria do coração.
Voltai, Senhor! Até quando...
Tende piedade dos vossos servos.

Saciai-nos desde a manhã com a vossa bondade,
para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
Desça sobre nós a graça do Senhor nosso Deus.
Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos.


sexta-feira, 23 de agosto de 2019

HOMILIA PARA O DIA 25 DE AGOSTO DE 2019 - 21º DO TEMPO COMUM - DIA DO CATEQUISTA


NA MESA DO REINO TODOS TEM LUGAR
Nesta semana estamos celebrando pelo Brasil afora a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência intelectual e múltipla.   Esta data tem uma relação muito próxima com a Campanha da Fraternidade deste ano que tratava das políticas públicas  como um direito a ser construído por todos e para todos. O tema desta semana coloca a família como a primeira e principal responsável pela inclusão das pessoas portadoras de alguma deficiência: Família e pessoa com deficiência, protagonistas na implementação das políticas públicas.” O que tem de mais importante na comemoração desta semana consiste em fazer a sociedade perceber que na sociedade todos tem direito e merecem respeito e tratamento igualitário. Ora, a Palavra de Deus proclamada na liturgia deste domingo trata exatamente do direito e da possibilidade ampla e para todos de participar do Reino de Deus.  A pessoa com deficiência tem direito de ser tratada de acordo com a sua  necessidade, mas isso não significa que esteja dispensada de cumprir ou respeitar as normas e leis a que todos estão sujeitos na sociedade. Assim também para o Reino de Deus, todos tem direito e na mesa do Pai ninguém ficará excluído, basta renunciar  o orgulho, o egoísmo, a prepotência  e ser capaz de amar e entregar a sua vida como um serviço e como entrega.
Na primeira leitura o profeta começa afirmando: Assim diz o Senhor: Eu que conheço suas obras e seus pensamentos, virei para reunir todos os povos e línguas; eles virão e verão minha glória... Esses enviados anunciarão às nações minha glória, e reconduzirão, de toda parte, até meu santo monte em Jerusalém.”  Esta afirmação deixa claro que a “comunidade de Deus” é universal e nela todos tem espaço, todos são acolhidos sem nenhuma discriminação.
A segunda leitura é uma palavra de estímulo falando das dificuldades próprias de cada tempo e situação: Já esquecestes as palavras de encorajamento que vos foram dirigidas como a filhos... Portanto, firmai as mãos cansadas e os joelhos enfraquecidos; acertai os passos dos vossos pés', para que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado”. A compreensão da carta aos Hebreus é uma forma de estimular os cristãos a enfrentar com coragem os sofrimentos e provações e ao mesmo tempo apresenta como Deus  educa, corrige e mostra o sentido das escolhas que se faz no caminho para o Reino.
O ensinamento sobre a porta estreita é uma maneira pedagógica de Jesus para mostrar que não há “bilhetes reservados” para alguns, pelo contrário que a mesa do Pai é para todos basta fazer a escolha certa e aceitar seguir Jesus e seu ensinamento doando-se no amor total aos irmãos: Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. Alguém lhe perguntou: 'Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?' Jesus respondeu: 'Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita”, Uma vez que a pessoa fizer a escolha e abraçar com determinação e coragem o estilo de vida sugerido pelo Mestre a mesa está posta para todos: Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”.
Entrar pela “porta estreita” segundo a palavra de Jesus implica cultivar os valores da amizade, do serviço, do amor aos outros, da entrega da vida. Ao contrário da proposta do Evangelho, na sociedade contemporânea faz parte das perspectivas de um grande número de pessoas “as portas largas” da felicidade imediata, da fama, da exposição social, do dinheiro no bolso, da manipulação das consciências. Tem-se a impressão que estas coisas definem o êxito de uma pessoa ou sociedade.
Quanto a nós: Qual tem sido em nosso dia a escolha que fazemos? Estamos convencidos que o acesso a Mesa do Reino nunca é uma conquista definitiva, mas algo que Deus nos oferece a cada dia? (Sempre tem mais um lugar na mesa...)