sábado, 17 de outubro de 2009

ÉTICA E MORAL

I - ÉTICA E MORAL*

Para tratar deste tema a primeira atitude que temos de ter é atitude de Jesus. Não podemos reduzir as questões morais a casos isolados. É preciso que tomemos o tema na sua relação com a totalidade da existência do ser humano.
E para isso partimos de algumas citações da Sagrada escritura:

-“QUAL O HOMEM QUE NÃO AMA A SUA VIDA E NÃO QUER SER FELIZ TODOS OS DIAS? (Sl 34,12)

- “É PRECISO OBEDECER ANTES A DEUS DO QUE AOS HOMENS” (At 5, 29)

- “NÃO FAÇO O BEM QUE QUERO, MAS PRATICO O MAL QUE NÃO QUERO” ( Rm 7 ,19)

“TUDO O QUE QUEREIS QUE OS OUTROS OS FAÇAM FAZEI-O TAMBÉM A ELES”. (Mt 7, 12)

– “FOI PARA A LIBERDADE QUE CRISTO NOS LIBERTOU” (Gl 5,1)

E Santo Agostinho escreveu assim:

“Há dois modos de renunciar a liberdade: a submissão e alienação. Do ponto de vista ético, há frequentemente na modernidade um equívoco: o de pensar a liberdade como simples autonomia da pessoa, que não se sujeitaria a nada e a ninguém. Na realidade a pessoa humana se torna livre enquanto não está submetida a outro indivíduo humano, mas principalmente quando aceita a voz da consciência, o apelo a uma vida ética, em que são reconhecidos direitos e deveres de todos. Além disso, se é verdade que a liberdade humana é uma liberdade a ser realizada, que pode e deve crescer, ela exige o empenho permanente da libertação, a luta contra a alienação. Contra a situação de quem está impedido de realizar suas possibilidades. A liberdade se realiza plenamente no amor oblativo”.

Há uma lenda grega que fala de um anel misterioso capaz de tornar invisível aquele que virasse para dentro o engaste. Conta a lenda sobre um certo pastor de nome Giges que estava a serviço do rei, depois de ter se salvado de um abalo sísmico, retirou de um cadáver o referido anel. Percebendo que podia ficar invisível quando quisesse, nesta condição entrou no castelo e seduziu a rainha tramando com ela a morte do rei e obteve o poder.

Essa lenda nos leva a pensar sobre os motivos que estimulam ou coíbem uma ação. Por exemplo, se alguém pudesse se tornar invisível e entrar numa loja e ali praticar pequenos ou grandes roubos, isso não seria problema já que o flagrante estaria descaracterizado.

De algum modo esta é uma prática na sociedade moderna na qual facilmente as pessoas se comportam BEM para serem recompensadas, ou para parecerem justas ao olhar dos outros. É bastante normal ouvirmos as mães aconselharem seus filhos a viver e se portar bem porque os “vizinhos podem ver”, o “padre ficará bravo”, a “polícia vai te pegar”.

Mais comum ainda é abusar da velocidade, ou cometer infração de qualquer forma de lei quando a autoridade responsável não está nos vigiando. Este tipo de comportamento não pode ser entendido como atitude moral, posto que é realizada por medo e sob pressão. Há um provérbio popular que diz mais ou menos assim: “Os bons meninos vão para o céu e os maus...” Todas estas formas de pautar a vida é um modo errôneo de compreender o significado das palavras moral e ética. A pessoa age mais por medo do que por convicção.

Uma primeira condição para o comportamento moral é a questão da autonomia, à qual não pode ser confundida como individualismo, no sentido que a pessoa age como se os seus atos digam respeito exclusivamente a si próprio. Autonomia está muito além de fechar-se em si mesmo. Nenhum ser humano é uma ilha, as pessoas vivem num mundo de relações e de inter-subjetividade.

Dito isto fica fácil compreender moral como uma via de mão dupla na qual será preciso ter presente o que é bom para si e o compromisso com o outro. Este outro não necessariamente é uma pessoa. Considerando esta ótica quebramos uma barreira significativa no conceito de moral, indo muito além da compreensão de subjugação e constrangimento.

Podemos concluir esta introdução dando um conceito para o vocábulo:
“A moral responde à pergunta: o que devo fazer? É o conjunto dos meus deveres os quais reconheço como legítimos. É a lei que me imponho independente do olhar de terceiros ou de qualquer recompensa ou reprimenda”.
É mais ou menos sob está ótica que Santo Agostinho explica Deus e a sua morada. “Aquele que não é contido em nenhum lugar tem por morada a consciência dos justos”. Ou no dizer de Santo Tomás: “A consciência é a norma última do pecado”. Em resumo moral responde à pergunta: Qual a minha responsabilidade diante da vida? E não o que os outros devem fazer?



* Os textos postados sob o título Ética e Moral são tópicos tomados das seguintes obras:
Temas de Filosofia, Maria Lúcia de Arruda Aranha, são Paulo, Editora Moderna;
Ética na Empresa, Marculino Camargo, Petrópolis, Editora Vozes;
Documento de Aparecida, CELAM, Brasília, Edições CNBB;
Diretório Nacional de Catequese, CNBB, São Paulo, Edições Paulinas.

Um comentário:

  1. VALEU ,MUITO BOM O TEMA E AS PISTAS .JOSÉ A.L.ALUNO DO CURSO DE TEOLOGIA.

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