SEDUZISTE-ME
SENHOR
Provações,
dificuldades, contrariedades, desilusão e uma lista infinita de sofrimentos fazem
parte do nosso cotidiano. Muitas vezes a gente se empenha de corpo e alma em
alguma tarefa ou empreendimento e de repente parece que todos os esforços foram
em vão e todas as nossas boas intenções vão por água abaixo. Temos a impressão
que estamos sozinhos e com vontade de desistir de tudo e de todos.
Pois é
esse o sentimento do profeta Jeremias narrado na primeira leitura: Sentiu o
chamado para a profecia desde muito cedo, abraçou a causa e exerceu de modo
apaixonado e com todas as suas forças. No texto de hoje ele se descreve como
alguém que foi “iludido” por Deus: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me
seduzir; foste
mais forte, tiveste mais poder. Tornei-me alvo de irrisão o dia inteiro, todos
zombam de mim. Todas
as vezes que falo, levanto a voz, clamando contra a maldade e invocando calamidades; a
palavra do Senhor tornou-se para mim fonte de vergonha e de chacota o dia
inteiro”.
Sua fala reflete a de alguém desiludido
entregue aos insultos e zombaria dos adversários diante dessa realidade está decidido
a abandonar tudo: “Não quero
mais lembrar-me disso nem falar mais em nome
dele”.
Entretanto a paixão pela causa a que ele
se dedicou, a força do chamado que Deus lhe dirige não lhe permitem que desista
das suas boas obras, ainda que estas lhe custem sofrimento e dor: “Senti, então, dentro de mim um fogo ardente”.
De alguma maneira, a história de Jeremias é a história de
todos aqueles que Deus chama para ser profeta e para isso ter a coragem de
enfrentar injustiça, opressão, interesses egoístas. Aceitar a Palavra de Deus e
deixar-se seduzir por ele não é um caminho de glórias, de facilidade, de
aplausos e triunfos.
Exatamente o que aconteceu com Jeremias se repete muito mais
tarde com Jesus. “Jesus
começou a mostrar a seus discípulos que devia ir à
Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos
mestres da Lei.” Jesus tem consciência que sua
missão é difícil e exigente, mas com a mesma convicção do profeta não se deixa
abater nem tampouco sofrer influências para mudar seus planos. Quando Pedro lhe
propõe uma alternativa mais cômoda Ele recusa com firmeza: “Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque
não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!”
E na sequência Jesus dirige um convite
provocativo para todos os que sentem a Palavra de Deus arder no seu coração: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si
mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a
sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida
por causa de mim, vai encontrá-la. De fato, que adianta ao
homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O
que poderá alguém dar em troca de sua vida.”
Então, também para os cristãos na
atualidade o desafio é desconsiderar as preocupações que os fazem olhar apenas
para o seu interior, para as próprias necessidades, vantagens, sonhos e
projetos pessoais. Desconsiderar segurança, bem estar, êxito, triunfo, aplausos
e fazer de sua existência um dom generoso às pessoas e a Deus.
O verdadeiro discípulo de Jesus é capaz de
agir como recomenda São Paulo na segunda leitura: “Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando
vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da
vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito”.
Rezemos para que nossa vida seja verdadeiramente
dedicada ao serviço da vida cuidando das pessoas e da nossa casa comum.
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