sexta-feira, 20 de outubro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 22 DE OUTUBRO DE 2023 - 29º DOMINGO COMUM - ANO A

 

TODOS SOMOS IRMÃOS AMADOS E ESCOLHIDOS POR DEUS

Corações ardentes e pés a caminho! Esta frase foi ouvida muitas vezes ao longo desse ano nas atividades da Igreja. Hoje mais uma vez ela se presta para ajudar compreender a Palavra de Deus que ouvimos nas três leituras. Em poucas palavras a expressão significa não ter medo de enfrentar os desafios do cotidiano e colocar sempre em Deus toda a confiança pois é Ele a única e absoluta segurança quando se trata de empreender todos os esforços para que as relações cotidianas sejam fraternas, justas e responsáveis.

O profeta Isaias confirma as ações de Deus quando se trata de mostrar os caminhos por onde é preciso andar: “Isto diz o Senhor sobre Ciro, seu Ungido: "Tomei-o pela mão. Por causa de meu servo Jacó, e de meu eleito Israel, chamei-te pelo nome; Eu sou o Senhor, não existe outro”. As palavras são aplicadas a Ciro Rei da Pérsia, a escolha que Deus faz por ele não tem o objetivo de lhe engrandecer e cumular de poder para que fosse reconhecido como tal, pelo contrário a ação de Deus tem um objetivo bem claro: “Fiz tudo isso por causa do meu servo e do meu povo”! A autoridade confiada ao Rei só se justifica à medida que é colocada a serviço da felicidade e do bem-estar do povo! Ontem, como hoje, Deus atua no mundo com simplicidade e discrição, chama quem e do jeito que Ele quer, mas sempre vista da missão.

Paulo escreve aos tessalonicenses elogiando sua seriedade e compromisso com tudo o que dele tinham recebido. Apesar das dificuldades as pessoas daquela comunidade foram testemunhas corajosas de tudo o que Deus lhes tinha mostrado por meio de Paulo: “Damos graças a Deus por todos vós, lembrando-vos sempre em nossas orações. Diante de Deus, nosso Pai, recordamos sem cessar a atuação da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo”.

 Mais uma vez os fariseus se apresentam com perguntas embaraçosas cujo objetivo é armar uma cilada: “Os fariseus fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra”. Como das outras vezes Jesus não se deixa envolver pelas intrigas dos seus adversários e lhes devolve o questionamento com outra pergunta: “De quem é a figura e a inscrição desta moeda?" Obrigados a dar uma resposta de acordo com o sistema que eles apoiavam os fariseus não tiveram outra alternativa que não confirmar as suas reais intenções. Então Jesus faz a necessária distinção entre os compromissos sociais, políticos e econômicos e a pertença a Deus de toda a existência humana: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus".

Enquanto na moeda do império está gravada a imagem do imperador, no coração humano está gravada a imagem de Deus. Portanto, vivendo no mundo a pessoa tem a responsabilidade de cumprir todas as obrigações inerentes às relações de pertença e de colaboração com o bom êxito de todas as atividades realizadas no seu cotidiano. Mas, como propriedade marcada por Deus deve ao mesmo tempo relativizar todas as coisas e confiar toda a sua existência nas mãos de Deus.

Também para os cristãos dos nossos tempos a referência fundamental precisa ser Deus com todas as suas implicações e responsabilidade, ao mesmo tempo não se pode viver à margem do mundo sendo omisso diante das responsabilidades na construção de um mundo bom e fraterno, um mundo onde caibam todos e todos sejam respeitados e valorizados na sua individualidade.

Como seguidores de Jesus somos desafiados a viver com entusiasmo a fé, a esperança e a caridade, não nos deixem insensíveis as coisas bonitas, mas não permita que nos silenciemos diante da morte e da dor que muitas vezes tomam conta das relações cotidianas.

Concede-nos de proclamar e reconhecer o que rezamos no salmo:

Adorai-o no esplendor da santidade, *
terra inteira, estremecei diante dele!

Publicai entre as nações: "Reina o Senhor!" *

pois os povos ele julga com justiça.

 

sábado, 14 de outubro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 15 DE OUTUBRO DE 2023 - 28º DOMINGO COMUM - ANO A

 

FELICIDADE E TODO BEM HÃO DE SEGUIR-ME

A liturgia do 28º Domingo do Tempo Comum utiliza a imagem do “banquete” para descrever um mundo de felicidade, de amor e de alegria sem fim que Deus quer oferecer a todos os seus filhos. Estas questões são para todas as relações humanas uma necessidade imperiosa e da qual não se pode abrir mão.

A certeza de que Deus ama seu povo de verdade é o tema central que está perpassando todas as leituras dos últimos domingos. Hoje, mais uma vez o pano de fundo é a bondade de Deus que acolhe e perdoa todos.

No texto do profeta Isaias é Deus mesmo quem prepara e serve o banquete, o qual é muito mais do que abundância de comida e bebida. A verdadeira festa de Deus é a destruição da morte para sempre: “O Senhor Deus eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces e acabará com a desonra do seu povo em toda a terra, disse o Senhor”.

Isaías anuncia o “banquete” que um dia Deus, vai oferecer a todos os Povos na sua própria casa.  Acolher o convite de Deus e participar nesse “banquete” é aceitar viver em comunhão. Dessa comunhão resultará, para o homem, a felicidade total, a vida em abundância.

Uma tal imagem de Deus só pode merecer confiança total e ação de graças por sua ação extraordinária: “O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma. Pelos prados e campinas verdejantes ele me leva a descansar. Para as águas repousantes me encaminha, e restaura as minhas forças. Preparais à minha frente uma mesa, felicidade e todo bem hão de seguir-me”.

São Paulo está fazendo uma espécie de testamento, a carta aos filipenses foi escrita na prisão. É neste contexto que Paulo deixa bem claro para aquela comunidade que Deus é providente e previdente: “O meu Deus proverá esplendidamente com sua riqueza a todas as vossas necessidades, em Cristo Jesus”. Paulo manifesta a convicção que Deus não o abandonou, nem mesmo na hora do martírio e pede que os amigos tenham o mesmo espírito que ele convidando-os a uma confiança extraordinária: “Tudo posso naquele que me dá força. O meu Deus proverá esplendidamente com sua riqueza”.

Um “apóstolo” que se preocupa, antes de mais, com a sua comodidade ou com o seu bem-estar torna-se escravo das coisas materiais, passa a ser um “funcionário do Reino” com horário limitado e com trabalho limitado e rapidamente perde o sentido da sua entrega e do seu empenhamento.

Na história da festa de casamento fica mais do que claro que Deus quer acolher a todos, e que de cada um ele espera, não muita coisa, apenas que sejam chamados para um novo tempo.

O Evangelho sugere que é preciso “agarrar” o convite de Deus. Os interesses e as conquistas deste mundo não podem distrair-nos dos desafios de Deus. A opção que fizemos no dia do nosso batismo não é “conversa fiada”; mas é um compromisso sério, que deve ser vivido de forma coerente.

O sentido da parábola é óbvio… Deus é o rei que convidou Israel para o “banquete” do encontro, da comunhão, da chegada dos tempos messiânicos (as bodas do “filho”). Os sacerdotes, os escribas, os doutores da Lei recusaram o convite e preferiram continuar agarrados aos seus esquemas, aos seus preconceitos, aos seus sistemas de auto salvação. Então, Deus convidou para o “banquete” do Messias esses pecadores e desclassificados que, na perspectiva da teologia oficial, estavam excluídos da comunhão com Deus e do Reino. Esta parábola explicita bem o cenário em que o próprio Jesus se move… Ele aparece, com frequência, a participar em “banquetes” ao lado de gente duvidosa e desclassificada, ao ponto de os seus inimigos o acusarem de “comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e de pecadores” (Mt 11,19; Lc 7,34). Porque é que Jesus participa nesses “banquetes”, correndo o risco de adquirir uma fama tão desagradável? Porque no Antigo Testamento – como vimos na primeira leitura – os tempos messiânicos são descritos com a imagem de um “banquete” que Deus prepara para todos os povos. 

Não há o que temer diante das ameaças e suposta violência contra as pessoas também na atualidade. Deus leva cada pessoa em particular a fazer sua parte e a reconhecer em Jesus uma pessoa capaz de agir em favor do povo.

Todos os cristãos destes tempos são chamados a serem missionários do banquete de Deus agindo solidariamente com todos os demais. Que o Senhor nos ajude pela Eucaristia e pela oração de todos. 

terça-feira, 26 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 08 DE OUTUBRO DE 2023 - 27º DOMINGO COMUM - ANO A

QUE O DEUS DA PAZ ESTEJA COM TODOS!

 

Dentre as frustrações e desilusões que afetam a nossa vida algumas delas dizem respeito às grandes apostas e investimentos que fazemos em ações, situações e pessoas e o resultado acaba não sendo o esperado. Nestas ocasiões nos sentimos desiludidos e arrasados, muitas vezes perdemos a vontade de lutar. Numa linguagem figurada se diz que é necessário resiliência, isto é, desenvolver a capacidade de se adaptar às novas situações sem perder a esperança e coragem de lutar. Pois a Palavra de Deus que ouvimos nesse domingo nos apresenta como Deus retoma seus propósitos, se readapta às novas condições e retoma sua disposição de colaborar com a criatura humana para que esta produza frutos de acordo com sua condição.

O profeta Isaias usa a figura da vinha e do cuidado que o proprietário tem com a plantação fazendo uma comparação com o cuidado que Deus tem para com a comunidade de Israel. Tal como uma lavoura bem cuidada, um povo amado por Deus deveria corresponder a tudo o que recebe produzindo bons frutos. A profecia se conclui com umas poucas palavras sobre o resultado esperado e o que de fato aconteceu: “Pois bem, a vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e o povo de Judá, sua dileta plantação; eu esperava deles frutos de justiça — e eis injustiça; esperava obras de bondade — e eis iniquidade”. Ontem como hoje todos pertencemos e somos cuidados pela mão amorosa de Deus, em resposta somos convidados a ir muito além do que aparências, não bastam abundantes práticas de piedade, procissões, romarias e rezas, tudo isso é útil e necessário, mas devem culminar num amor que transforme a si e aos outros.

A segunda leitura é a continuação da carta de Paulo aos amigos da cidade de Filipos. Sem fazer alusão a vinha e a nenhuma figura de linguagem o apóstolo recomenda: “ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor”. Esse convite de Paulo é dirigido a cada um de nós no sentido que todo podemos aproveitar as muitas e boas oportunidades que o mundo oferece para produzir bons frutos que tenham sabor de honestidade, coerência e responsabilidade.

No Evangelho Jesus conta uma história que tem como pano de fundo a imagem da vinha descrita pelo profeta. A intenção de Jesus deixa claro que está se referindo às autoridades do seu tempo, que tiveram muitas oportunidades para fazer o bem e cuidar do seu povo. Entretanto: “Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro apedrejaram e ao verem o filho, disseram entre si: 'Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!' Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram”.

Essas atitudes são detestáveis e o resultado não poderia ser outro: “Por isso, eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos".

Os destinatários do Evangelho de Mateus tinham perdido o entusiasmo e alegria de produzir frutos para o Reino, o autor tem por objetivo reacender a esperança e lhes propor um novo ardor para que a vinha do Senhor não fique saqueada e depredada. Mateus sugere aos seus leitores que saiam do comodismo e que produzindo frutos correspondam a tudo o que receberam de Deus na pessoa de Jesus o Filho amado do Pai.

Também para nós se trata de um convite a coerência entre aquilo que acreditamos e aquilo que vivemos. Uma vinha bem cuidada não pode relegar a segundo plano o amor, o serviço, a doação, a partilha. Para quem conhece e acredita em Jesus Cristo o desafio consiste em dar frutos que estejam a altura dos investimentos que foram aplicados ao longo do tempo.
Sem negligenciar a oração somos convidados pelo salmista a pedir:

Voltai-vos para nós, Deus do universo! †
Olhai dos altos céus e observai.*
Visitai a vossa vinha e protegei-a!

Foi a vossa mão direita que a plantou; *
protegei-a, e ao rebento que firmastes

 



 

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 01 DE OUTUBRO DE 2023 - 26º DOMINGO COMUM - ANO A

 MOSTRAI-ME Ó SENHOR VOSSOS CAMINHOS

Dentre as muitas falas atribuídas a São Francisco de Assis, uma delas diz assim: “Pregue o Evangelho todo o tempo, se necessário use palavras”. O Papa Francisco numa de suas falas faz uma advertência aos cristãos “Iludidos pela mundanidade espiritual que rezam como papagaios, sem qualquer entusiasmo pelo Evangelho”.

Essa mesma crítica fez o profeta Ezequiel no texto que ouvimos na primeira leitura fazendo um convite aos seus conterrâneos todos são desafiados a viver com coerência a aliança que fizeram com Javé. Tal como os israelitas também nós somos convidados a um compromisso sério e sem rodeios. Quando se trata de viver na perspectiva do Reino não servem meias palavras.

Paulo escreve aos cristãos da cidade de Filipos sugerindo seguir o exemplo de Cristo: “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas esvaziou-se a si mesmo”. Cristo tendo aceitado se fazer igual a todos deixou para o mundo a maior lição de amor. A recomendação de Paulo também serve para nós, trata-se de praticar a solidariedade e a comunhão não somente com palavras bonitas. Paulo conclui seu texto com a comparação entre Adão e Jesus o primeiro foi desobediente o segundo obediente. O resultado de um de outro não permite meias palavras.

No Evangelho Jesus apresenta mais um exemplo de coerência e de falta de coerência. Com a parábola dos dois filhos Jesus deixa claro que não bastam palavras bonitas e boas intenções. Mais do que responder com prontidão trata-se de cumprir o que se promete. O texto vem na continuação do último domingo, dizer sim implica em não se fazer indiferente quando se trata de colocar em prática aquilo que se acredita. Falando aos entendidos em leis e conhecedores da escritura e dos profetas Jesus garante que muitos dos que disseram não e se arrependeram são mais merecedores do que os que se julgam bons e perfeitos mas fazem somente com palavras bonitas e não entenderam nada da dinâmica do Reino.

A lição que Jesus dá aos fariseus se aplica a cada de nós que muitas vezes dissemos sim e agimos como quem disse não, outras vezes dizemos não e voltamos atrás agindo com lealdade superando a indiferença indo além de declarações teóricas e de boas intenções. O Verdadeiro cristão não é aquele que passa uma boa impressão, que finge respeitar as regras e tem um comportamento de fachada. O verdadeiro discípulo de Jesus e que faz como o Mestre é aquele que cumpre a vontade do Pai. Em resumo, ninguém está dispensado de colaborar na construção de uma sociedade mais fraterna, inclusiva e humana. Não serve, no dizer do Papa Francisco Cristãos papagaios. É mais importante e necessário o que diz Francisco de Assis: Prega o Evangelho sempre, se necessário use palavras.



quinta-feira, 21 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 24 DE SETEMBRO DE 2023 - 25º DOMINGO COMUM - ANO A

 

 MISERICÓRDIA E PIEDADE É O SENHOR

  

Uma das situações que aborrece qualquer pessoa é a falta de seriedade em relação aquilo que promete. Por exemplo, você agenda uma visita fica esperando e a pessoa não aparece; você compra um produto e no dia marcado o produto não chega; você faz um orçamento e na execução do serviço lhe apresentam outro valor. Em todas essas situações o que está em jogo é a seriedade e lealdade nas palavras. A Bíblia é o livro que contém a Palavra de Deus, e precisamente se dia A PALAVRA, porque Deus não é uma pessoa de muitas palavras.

A fala do profeta Isaias neste domingo não poderia ser mais animadora e cheia de ternura: Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor”. Tudo o que está nas mãos de Deus supera infinitamente todas as capacidades humanas. A palavra do profeta se resume: “Fidelidade, lealdade, coerência”.

Por isso mesmo a Igreja inteira reza, respondendo à Palavra do profeta: “Misericórdia e piedade é o Senhor, ele é amor, é paciência, é compaixão. O Senhor é muito bom para com todos, sua ternura abraça toda criatura”.

São Paulo, preso e apenas esperando sua execução, faz um balanço de toda a sua vida e de todas as suas ações e conclui com um convite que merece ser aplicado ao dia a dia de todas as pessoas: “Só uma coisa importa: vivei à altura do Evangelho de Cristo”.

Como em outras ocasiões, na parábola do bom patrão Jesus mostra como sua vida está em sintonia com as preocupações do seu tempo e do seu povo. Ele tinha clareza da falta de trabalho e oportunidade que deixava muitas pessoas à margem da sociedade. A prática do patrão não se limita a partir do certo e do errado a da concordância com a lei. O evangelho confirma o que disse o profeta: “meus pensamentos não são como os vossos pensamentos...” A pessoa justa, segundo a medida do coração de Jesus não se acomoda enquanto todos não estiverem incluídos no seu projeto e mais importante do que pagar com justiça aos trabalhadores é pagar o suficiente para que todos tenham o necessário para sua sobrevivência e a dignidade da sua família.

Jesus desmonta a ideia de direitos e méritos, ele identifica a inveja daqueles que se acham melhores que os demais. Na dinâmica do reino não tem espaço para disputas mesquinhas sobre quanto alguém faz supostamente pelo outro. Jesus de novo propõe a qualidade da ação mais do que a quantidade. O pagamento de uma diária igual, mais do que um valor numérico é uma maneira que Jesus tem para dizer: Deus não faz diferença entre as pessoas.

Reunidos em Assembleia de oração em súplica e ação de graças todos os que cremo no Cristo. Reunidos rezamos a elevamos louvores e agradecimentos pedindo por todos e com todos que a justiça de Deus aconteça em todos os lugares e com a colaboração de todos.

A liturgia convida a todos e a cada pessoa em particular a se deixar moldar pela Palavra de Deus de modo que pela prática dos conselhos evangélicos seja possível a construção de uma sociedade sempre mais autêntica, humana e fraterna. 

 

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 17 DE SETEMBRO DE 2023 - 24º DOMINGO COMUM - ANO A

 

O SENHOR É BONDOSO E COMPASSIVO!

Dentre as atitudes extraordinárias e que servem de lições para todos, estão os gestos de fraternidade e comunhão entre as crianças. Na simplicidade das suas relações muitas vezes disputam o mesmo brinquedo, o colo da mesma pessoa, os mesmos espaços e isto costuma causar algum tipo de desavença e até de choro, que parece ser muito dolorido. Entretanto, passados poucos minutos tudo volta ao normal a alegria toma conta e entre eles não há tristeza e rancor. Esses comportamentos merecem apreendidos por todos em todas as circunstâncias e tempos.

São Paulo, na segunda leitura desse domingo fala aos cristãos de Roma, chamando a atenção para uma verdade que nós conhecemos e nem sempre vivemos de acordo com o que acreditamos: “Ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos”. Esta constatação é absolutamente clara quando consideramos a brevidade da nossa vida, apesar disso muitas vezes gastamos tempo, forças e inteligência acumulando raiva, rancor, vingança, sofrimento, vaidade e assim por diante. O Convite do apóstolo está numa palavra que usamos com muita frequência: “Manter o foco”. Ou seja, vamos voltar nosso olhar e nossas preocupações naquilo que é essencial: Jesus Cristo que morreu e ressuscitou por todos. Logo, somos chamados a aprender com Ele o que significa viver como família com a simplicidade das crianças.

O ensinamento que a vida e a Palavra de Jesus nos transmitem não é outra coisa senão o que a sabedoria antiga já recomendava para a comunidade de Israel: “O rancor e a raiva são coisas detestáveis; até o pecador procura dominá-las. Perdoa a injustiça cometida por teu próximo: assim, quando orares, teus pecados serão perdoados”. Uma lição simples de ser entendida: nada mais cabe num recipiente que já está cheio. Ora, se nossa vida está repleta de raiva, rancor, vingança, e outros sentimentos que fazem sofrer obviamente não caberá nela a misericórdia e o perdão. Todavia, enquanto a misericórdia e o perdão produzem gratidão e felicidade, a raiva e o rancor produzem tristeza e sofrimento. A escolha é livre e de cada um.

Na mesma direção está a lição que Jesus dá a Pedro: “Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?  Jesus respondeu: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. Depois de dizer isso Jesus exemplifica com a parábola do patrão e do empregado. Num coração endurecido pela vingança não cabe mais nada e o resultado não poderia ser outro. Mais uma vez somos chamados a exercitar o que se chama “gentileza, gera gentileza”. Gente que sabe cultivar a reconciliação e o perdão não se paralisa no ódio e no rancor, na tristeza e na vingança. Um coração endurecido somente enxerga a força bruta como resposta possível a todo e qualquer erro alheio, ao contrário, uma alma generosa sabe separar as rosas dos espinhos, como bem sabemos cantar: Fica sempre um pouco de perfume!

Daí sim faz sentido cantar o salmo previsto para a liturgia desse domingo:

O Senhor é bondoso, compassivo e carinhoso.

Pois ele te perdoa toda culpa, *
e cura toda a tua enfermidade;

da sepultura ele salva a tua vida *
e te cerca de carinho e compaixão. R.

 

Não fica sempre repetindo as suas queixas, *
nem guarda eternamente o seu rancor.

Não nos trata como exigem nossas faltas, *
nem nos pune em proporção às nossas culpas. 

 

sábado, 9 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 10 DE SETEMBRO DE 2023 - 23º DOMINGO COMUM - ANO A

 

QUEM AMA SE COMPROMETE COM A PESSOA AMADA

Uma das exigências contemporâneas consiste em superar a indiferença e cuidar do próximo. Tanto a primeira leitura quanto o evangelho apresentam uma maneira de prestar atenção e de cuidar das pessoas.

Realizando qualquer tipo de consulta à população em geral, ou acompanhando os noticiários de rádio e TV, não é difícil perceber como as pessoas tem necessidade de ajuda e de solidariedade diante das dificuldades e provações que experimentam a cada dia.

As pessoas necessitam de perdão, de acolhida, de amparo de uma palavra amiga. Em resumo precisam ser amadas e reconhecidas.

As três leituras e o salmo desse domingo são uma resposta para essa necessidade: “Não feche hoje o seu coração, antes esteja aberto para a voz do Senhor”. É claro que a voz de Deus não vem do nada, ou do vento. A voz do Senhor poderá ser reconhecida naquele que pede e naquele que se dispõe falar e ouvir.

A figura descrita na primeira leitura não se trata de uma pessoa que está vigiando a vida alheia. Pelo contrário, o profeta, faz uma analogia com a responsabilidade das forças de segurança numa cidade cuja finalidade é perceber e cuidar para que nada ali aconteça em dissonância com os projetos de Deus e com o aviltamento da dignidade das pessoas. Ou seja, diante do sofrimento e das ameaças contra a vida aquele que ama não pode ficar indiferente.

A prática da correção e a orientação em vista de uma vida melhor e mais santa tem por finalidade trazer de volta aqueles que por qualquer motivo estão longe dos caminhos do Senhor. Não se trata de julgamentos para a condenação, mas de acolhida e carinho de modo que ninguém fique excluído ou se perca por falta de cuidado.

São Paulo proclama na liturgia deste domingo dizendo: “O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei”. Esta afirmação é a consequência dos mandamentos dos quais ele faz uma releitura ao longo do texto.  

A orientação dada por Paulo é o cumprimento das Palavras que foram ditas por Jesus: “Onde dois ou três vivem em comunhão, Deus aí está”.

De modo que a grande e primeira lição da Palavra de Deus neste domingo consiste em viver a comunhão e a fraternidade.

Neste sentido um momento importante e indispensável para todos os que querem provar o sabor do evangelho, reside no encontro de oração que a Igreja convida a cada domingo e que esta assembleia proporciona.

Reunidos na oração e na escuta os cristãos também participam da Eucaristia e partilham a palavra e a oração de tal modo que se realiza o que é rezado no Salmo: “Vinde Adoremos o Deus que nos criou. Ele é nosso Deus, nosso Pastor e nós somos o seu povo e seu rebanho”.

Na mesma direção Jesus insiste no Evangelho na missão que todos temos para estabelecer um diálogo fraterno e acolhedor que não condene o pecador, mas que facilite sua reinserção na sociedade por meio do amor misericordioso e compassivo. É nisto que se resumem todos os mandamentos e que São Paulo afirma ser a única dívida realmente importante e que devemos tratar de saldá-la sem demora: Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, - pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei”.

Peçamos a graça de transformar nossas famílias, nossas comunidades, e todas as nossas relações em oportunidades para que se possam ver as marcas do amor. De tal modo que todos proclamem: “Vejam como eles se amam”.

Reunidos nesta assembleia santa somos alimentados pela Palavra, pela Eucaristia e pela Oração comunitária e solidária. Juntos vamos construindo um lugar onde as pessoas seguem Jesus Cristo superam seus erros e fraquezas ganhando sempre mais irmãos ao longo do caminho e de cada circunstância. Então sim podemos cantar de novo:

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos o Rochedo que nos salva!
Ao seu encontro caminhemos com louvores,
e com cantos de alegria o celebremos.

 

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

HOMILIA PARA O DIA 03 DE SETEBMRO DE 2023 - 22º DOMINGO COMUM - ANO A

 

A MINHA ALMA TEM SEDE DE DEUS!

Conta a história que o rei Dom João V, teria estabelecido o preço de seis vinténs para uma saca de açúcar. Valor que foi considerado irrisório pelos produtores da época que nessas circunstâncias preferiram consumir o açúcar em vez de comercializar. Neste contexto surgiu o provérbio: “Mais vale um gosto do que seis vinténs”. Pois é sobre o prazer de fazer alguma atividade, a alegria e a determinação para realizar tarefas e projetos que trata a Palavra de Deus que ouvimos nesse domingo.

De outra maneira se pode dizer que a liturgia faz um convite para experimentar a loucura da cruz, cujo resultado será sempre a sensação de dever cumprido e de uma vida realizada no amor e por amor.

Na primeira leitura Jeremias faz um desabafo referindo-se ao fato de ter sido incompreendido na função de profeta. Se dependesse dos resultados e da aceitação tudo teria sido em vão. Ele se apresenta inicialmente como alguém revoltado contra Deus e disposto a abandonar tudo. Porém, o seu comprometimento e a certeza que ele tem de não estar trabalhando em vão não lhe permitem “jogar a toalha”, ou “pendurar a chuteira” como se diz hoje: “Todas as vezes que falo, levanto a voz, clamando contra a maldade; a palavra do Senhor tornou-se para mim fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro. Tornei-me alvo de riso o dia inteiro. Não quero mais lembrar-me disso nem falar mais em nome dele". Entretanto suas convicções são muito maiores que a revolta: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder”. Esta pode ser também na atualidade a certeza daqueles que aceitam a proposta e o convite de Deus vivendo com determinação e coragem os valores do Reino. Para quem se compromete com a Palavra de Deus verá que o coração arde de paixão pela causa e não se amedronta de colocar os pés na estrada. Não são as dificuldades que devem nos abater, mas a coragem que deve nos sustentar quando se trata de superar os percalços que a vida nos oferece.

Na mesma direção São Paulo recorda aos cristãos de Roma que entregar-se sem reservas nas mãos de Deus é a melhor e mais agradável oferenda que uma pessoa pode oferecer àquele que nos chamou para sair das trevas em direção a uma luz admirável: “Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus”. Viver em Deus e para Deus é muito mais do que milhões em ouro e prata, sem ser jocoso: “Mais vale um gosto do que seis vinténs”!

No Evangelho Jesus dialoga com os discípulos na mesma direção do profeta e de Paulo: “Jesus começou a mostrar a seus discípulos que devia ir a Jerusalém e sofrer muito...” Pedro, que sempre falava em nome de todos, não tinha entendido o anuncio do mestre e nesse texto age como o demônio descrito em outra passagem sempre querendo desviar Jesus da missão que havia assumido. Com firmeza Jesus repreende Pedro e estende o convite a todos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida”. Ontem, como hoje aceitar a proposta do Evangelho consiste mais em sair de si mesmo, das suas verdades e possibilidades de sucesso para transformar a sua vida em doação e serviço generoso aos irmãos e irmãs. Como palavra de conclusão a liturgia de hoje nos faz repetir com Jeremias: “Seduziste-me Senhor e eu me deixei seduzir”. Ou então vale muito mais fazer aquilo que nos traz realização pessoal do que abocanhar e acumular muito dinheiro, patrimônio, riquezas e viver em função de cuidar das coisas em lugar da gente.

 Não tenhamos medo de rezar com o salmista:

A minh'alma tem sede de vós,
como a terra sedenta, ó meu Deus
!

terça-feira, 22 de agosto de 2023

HOMILIA PARA O DIA 27 DE AGOSTO DE 2023 - 21º DOMINGO COMUM - ANO A

 

TUDO É DELE, POR ELE E PARA ELE!

 

Um dos piores sentimentos humanos diz respeito a confiança traída. A gente aposta em alguém com quem partilha e compartilha trabalhos, sentimentos, atividades, confidências e num determinado momento sem nenhuma razão aparente a resposta é uma quebra de confiança que desencanta qualquer possibilidade de continuar o trabalho e os relacionamentos que pareciam ser duradouros.

Na segunda leitura desse domingo, São Paulo escreve aos Romanos, começa e termina com algumas afirmações que retratam a sua absoluta confiança no Deus que ele acredita: “Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Como são inescrutáveis os seus juízos e impenetráveis os seus caminhos! Na verdade, tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória para sempre. Amém”! No entender de Paulo é impossível para a finitude humana compreender Deus. Mas de uma coisa todos podem ter certeza quem se entrega confiadamente nas mãos dele nunca terá o que temer. O convite é para todos reconhecer Deus como se reza no salmo:

Altíssimo é o Senhor, mas olha os pobres, *
e de longe reconhece os orgulhosos.

Ó Senhor, vossa bondade é para sempre! † 

Eu vos peço: não deixeis inacabada, *
esta obra que fizeram vossas mãos!

 

Ao contrário de Deus, as pessoas nem sempre são merecedoras da confiança que lhes é depositada. Esse é o sentimento narrado pelo profeta Isaias na primeira leitura: “Assim diz o Senhor a Sobna, o administrador do palácio: "Eu vou te destituir do posto que ocupas e demitir-te do teu cargo. Acontecerá que nesse dia chamarei meu servo Eliacim, filho de Helcias, e o vestirei com a tua túnica e colocarei nele a tua faixa, porei em suas mãos a tua autoridade; ele será um pai para os habitantes de Jerusalém e para a casa de Judá”. As palavras do profeta são um desabafo em relação a alguém que deixou de cumprir aquilo que tinha sido acordado. Ao longo do tempo as pessoas entenderam que se tratava também de uma quebra de confiança do povo de Israel nas relações com Deus, que por sua vez não lhes deixa na insegurança e no medo, pelo contrário estabelece outro acordo que permite ao seu povo seguir sem medo: “Hei de fixá-lo como estaca em lugar seguro e aí ele terá o trono de glória na casa de seu pai". Esta profecia vai se concretizar na pessoa de Jesus, que por sua vez estende sua missão a todos aqueles que lhe reconhecem: “Então Jesus lhes perguntou: "E vós, quem dizeis que eu sou?" Simão Pedro respondeu: "Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo". Respondendo, Jesus lhe disse: "Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus". Pedro representa a comunidade dos discípulos que merece a confiança irrestrita do mestre para agir com a força do amor: “Tudo o que ligarem na terra será ligado nos céus e o que desligarem na terra será desligado nos céus”. Jesus não precisa que ninguém diga quem ele é: “Jesus, então, ordenou aos discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Messias”.  Ele espera apenas que sejam fiéis seguidores dos seus ensinamentos e do seu estilo de ver e fazer as coisas. Responder à pergunta que Jesus continua a nos dirigir como fez com os discípulos não se trata de dar lições de catequese, de bíblia, de liturgia, de doutrina da Igreja, implica olhar para dentro do nosso coração e no cotidiano de nossas ações responder com sinceridade qual é o lugar de Jesus na minha vida!

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

HOMILIA PARA A FESTA DA ASSUNÇÃO DE MARIA - 20 DE AGOSTO DE 2023 - ANO A

 

EIA, POIS ADVOGADA NOSSA

A Salve Rainha é uma das preces da piedade popular que aprendemos desde muito cedo. Muitas vezes repetimos sem nos dar conta do significado da frase no mistério da nossa salvação. Mas de uma coisa é certa recorrer a Maria e rezar com Ela ao Pai é a forma mais segura de alcançar aquilo que precisamos. O adjetivo advogado Jesus também aplica ao Espírito Santo, nós usamos todas as vezes que precisamos de um socorro quando nossas forças e argumentos já não são suficientes diante das necessidades.

São Paulo VI escreveu sobre a Assunção de Maria com as seguintes palavras: “É a festa do seu destino de plenitude e de bem-aventurança, da glorificação da sua alma imaculada e do seu corpo virginal, da sua perfeita configuração com Cristo ressuscitado”.

Na oração eucarística na Missa de hoje nós rezamos: “Aurora esplendor da Igreja triunfante, ela é consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho, pois preservastes da corrupção da morte aquela que gerou, de modo inefável, o vosso próprio Filho feito homem, autor de toda a vida”.

Nós repetimos também as palavras de sua prima Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres”. Na festa da Assunção fazemos memória do dia em que o “Bendito fruto do seu ventre” acolhe sua mãe na glória do céu e a coroa com 12 estrelas.

Mas não podemos pensar que Maria alcançou o mérito da glória sem antes ter experimentado as dificuldades e agruras da vida.

A figura da mulher descrita na primeira leitura é a descrição de Maria que participa da vitória da Cristo sobre o mal e a morte. Vestida de sol, coroada de estrelas, venceu o dragão e foi alimentada por Deus no deserto.

A mesma coisa rezamos no salmo: A esposa do rei é Maria que encontra graça diante de Deus pelos méritos do seu Filho: “À vossa direita se encontra a rainha com veste esplendente de ouro de Ofir”.

Na carta aos coríntios, mais uma vez o Homem Novo, que ao contrário de Adão, venceu as tentações do pecado faz da Virgem Maria a Nova Eva. Ela está na sequência daqueles que ressuscitam: “Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada: Em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo”.

Agradecida por ter sido escolhida como Mãe do Salvador, Maria não se limita a palavras bonitas de gratidão. Ela realiza na prática aquilo que acredita: “Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia não sem razão o Papa Francisco, durante a Jornada Mundial da juventude, a chamou de A virgem que sai correndo, a Virgem apressada quando se trata de correr ao encontro dos necessitados.

A festa de hoje é um convite para aprender rezar com Maria que guardou todas as coisas no seu coração. Coloquemos nossos pés nos rastros de Maria e aprendamos com ela a fazer tudo o que Filho pedir!

 

 

                                                                                                   

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

HOMILIA PARA O DIA 13 DE AGOSTO DE 2023 - 19º DOMINGO COMUM - ANO A

 SENHOR, NÃO NOS DEIXE SER VENCIDOS PELO MEDO

 

Yuri Gagarin, o primeiro cosmonauta, que no dia 12 de abril de 1961 foi lançado ao espaço a bordo do foguete denominado Zemiorka deixou gravado a frase: A paisagem é absolutamente linda e nova ... a superfície da terra muda de cor à medida que é iluminada pelo céu negro, de onde vejo muito bem as estrelas". É atribuída também a ele a frase: “Olhei para todos os lados, mas não vi Deus”. É mais provável que o cosmonauta tenha afirmado que “não encontrou na estratosfera qualquer marca de Deus...” De fato, Deus não é uma criatura que tocamos com nossos sentidos, nenhum radar espacial jamais detectou qualquer vestígio de Deus. Convenhamos que não é necessário muito discurso para aceitar que todos somos pessoas a quem Deus inquieta. Independente de professar uma religião o coração humano contém interrogações sobre o extraordinário, o transcendente, o totalmente outro e que de modo nenhum os sentidos conseguem expressar.

É essa a imagem de Deus que as leituras bíblicas desse domingo querem revelar. Trata-se de um Deus disposto a percorrer passo a passo os caminhos humanos.

Elias retorna ao monte Sinai, onde pela primeira vez Deus falou com Moisés e ali de uma maneira totalmente diferente de tudo o que se poderia esperar reconhece a presença de Deus: ouviu-se um murmúrio de uma leve brisa. Ouvindo isso, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta”. A intenção do autor desta passagem é clarear também para nós que Deus não se manifesta em sinais extraordinários, amedrontadores e espetaculares, mas se dá a conhecer no silêncio e na calmaria do coração.

Também para nós, como para o cosmonauta Russo, não faltam oportunidades extraordinárias e propostas de felicidade ecoando em alta voz que não poucas vezes nos arrastam para a indiferença com os sofrimentos alheios. O texto da primeira leitura é um convite para nos encontrar de novo com o nosso interior.  

A carta de São Paulo aos Romanos é um convite a não perdermos as oportunidades que Deus nos oferece. Ele nunca falha e deixa claro que embora as pessoas nem sempre tenham sido fiéis aos compromissos assumidos a misericórdia de Deus se derrama com abundância sobre todos: “Irmãos: Não estou mentindo, Tenho no coração uma grande tristeza”. Paulo diz isso por causa da ingratidão dos seus conterrâneos, apesar disso o apóstolo afirma: “Eles são israelitas. A eles pertencem a filiação adotiva, a glória, as alianças, as leis, o culto, as promessas e também os patriarcas. Deles é que descende, quanto à sua humanidade, Cristo, o qual está acima de todos, Deus bendito para sempre! Amém!”.

O Evangelho desse domingo é a continuação do que ouvimos semana passada. Lá Jesus desafiou os discípulos a garantir comida para todos de uma maneira extraordinária e muito simples: “sentar e repartir”!

Agora, na travessia do mar os discípulos experimentam como nós as tempestades que desmascaram nossas seguranças e colocam a descoberto nossa vulnerabilidade, nossos programas, projetos hábitos e prioridades. As tempestades derrubam a maquiagem das nossas certezas. Quando somos tomados pelo medo e pela insegurança mais uma vez Deus se apresenta na serenidade da madrugada: “A barca, porém, já longe da terra, era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário. Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar” A reação dos discípulos diante de tudo o que estava acontecendo não poderia ser outra: ficaram apavorados, e gritaram de medo dizendo: "É um fantasma". Mas Jesus se encarrega de lhes revelar sua verdadeira identidade”: "Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!"

É bom ter presente que a comunidade para quem Mateus escreveu esse evangelho, por volta de 50 anos depois da morte de Jesus, já havia perdido o entusiasmo e vivia a fé com frieza e acomodação. As contrariedades do cotidiano, as perseguições representavam tempestades, confusão, medo, insegurança. Tal como os cristãos daqueles tempos também nós estamos numa continua travessia em que as ondas contrárias ameaçam e nos fazem como Pedro ter medo e começar a afundar. A resposta continua sendo a mesma. Para quem reconhece em Jesus a bondade e a segurança de Deus que é amor, comunhão e compaixão percebe que ele continua estendendo a mão que nos faz vencer a adversidade, a desilusão e todos os medos. O Evangelho se conclui com o a repreensão a Pedro e o convite para todos: “Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: "Senhor, salva-me!" Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: "Homem fraco na fé, por que duvidaste?" Assim que subiram no barco, o vento se acalmou. Os que estavam no barco, prostraram-se diante dele, dizendo: "Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!"

Não tenhamos medo embora não seja visível em carne e osso o Senhor nunca deixa de nos acompanhar. O maior problema não são as tempestades, mas nossa falta de fé! Sempre que colocamos o foco das nossas preocupações e nos nossos medos Jesus se torna um fantasma, uma miragem, uma aparição sem sentido. Bem declarou o Papa Francisco durante a pandemia: “não somos autossuficientes: precisamos do Senhor, convidemos Jesus a subir no barco da nossa vida”. Isso também rezamos no salmo:

Quero ouvir o que o Senhor irá falar: *

é a paz que ele vai anunciar.

Está perto a salvação dos que o temem, *
e a glória habitará em nossa terra. 

 

 



terça-feira, 1 de agosto de 2023

HOMILIA PARA O DIA 06 DE AGOSTO DE 2023 - 18º DOMINGO COMUM - ANO A - TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR BOM JESUS!

 

DEUS É REI! EXULTE A TERRA DE ALEGRIA

Se tem uma situação que faz parte das preocupações cotidianas é a que diz respeito ao futuro, às realizações profissionais, a felicidade e até ao que virá depois da morte. A liturgia da Igreja nos convida a fazer memória da Transfiguração do Senhor, também chamada na piedade popular de Festa do Senhor Bom Jesus. Note-se que esta celebração acontece 40 dias antes da Exaltação da Santa Cruz, e tem por objetivo deixar bem claro que a bondade e a vitória do Bom Jesus não estão desligadas da Cruz e do sofrimento. A Palavra de Deus que ouvimos nesse domingo nos apresenta três situações que apontam exatamente nessa direção.

Na primeira leitura o profeta Daniel fala de um reino futuro que não terá fim, mas que antes exige enfrentar provações: “Eu continuava olhando até que foram colocados uns tronos, e um Ancião de muitos dias aí tomou lugar. Seu trono eram chamas de fogo, e as rodas do trono, como fogo em brasa. Derramava-se aí um rio de fogo que nascia diante dele”. Passando por essa provação o que estava sentado no trono: “Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá”.

São Pedro, na segunda leitura, escreve com a autoridade de quem vivenciou todo o processo que levou Jesus à glória e a realeza: “Não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. Efetivamente, ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando do seio da esplêndida glória se fez ouvir aquela voz que dizia: "Este é o meu Filho bem-amado, no qual ponho o meu bem-querer". O texto de hoje se conclui com uma recomendação para o nosso tempo: “Façam brilhar a Palavra que vocês ouviram como um tesouro em seus corações”.

Mateus começa o Evangelho desse domingo apresentando os discípulos testemunhas da mais extraordinária revelação. Pedro, Tiago e João, foram levados para a montanha, lugar onde normalmente Deus se revelou aos antepassados, ali ouviram a voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!" O Fato acontece no sexto dia, o mesmo que Deus criou o primeiro homem que se deixou corromper pelo pecado, agora Deus revela sua nova criatura: O Filho de Deus plenamente renovado, o qual faz novas todas as criaturas.

Não se trata de uma mágica para impressionar os desavisados discípulos. A transfiguração acontece no contexto do cumprimento da lei cujo representante é Moisés e no cumprimento das profecias cujo representante é Elias. A nova criatura que se dá a conhecer no sexto dia é o cumprimento perfeito de tudo o que o povo de Israel acreditava. O homem perfeito veio realizar tudo que tinha sido prometido ao longo do tempo.

Os discípulos ficaram encantados com a cena deslumbrante que presenciavam e estavam dispostos a permanecer nessa condição para sempre. Entretanto a voz que veio do céu não termina com o reconhecimento daquele que foi enviado, mas convida todos em todos os tempos seguir o único e verdadeiro mestre. O Filho de Deus que se fez conhecer no sinal da transfiguração continua convidando-nos a descer da montanha das nossas certezas e seguranças para transfigurar o mundo

Jesus continua a chamar cada pessoa, como fez com os três discípulos: “Levantem-se não tenham medo”! Se acreditamos na oração que fazemos no salmo, podemos caminhar sem medo:

 Deus é Rei, é o Altíssimo,
 muito acima do universo.

As montanhas se derretem como cera *
ante a face do Senhor de toda a terra;

e assim proclama o céu sua justiça, *
todos os povos podem ver a sua glória!