sexta-feira, 2 de agosto de 2024

HOMILIA PARA O DIA 04 DE AGOSTO DE 2024 - 18º DOMINGO COMUM - ANO B

 

EM JESUS RECEBEMOS MAIS DO QUE O PÃO DE CADA DIA!

 

Sem amor ninguém vive Há um ditado que diz Só um grande amor Só um grande amor faz a gente feliz!

Que o corpo humano necessita ser nutrido e ter suas necessidades biológicas satisfeitas ninguém duvida. E um dos sentimentos mais dolorosos é assistir cenas de pessoas passando necessidades básicas e frequentemente procurando comida nos cestos e depósitos de lixo. Mas é certo também que não basta dar de comer e saciar a fome do corpo. Nesse contexto ganha sentido as inúmeras canções folclóricas e populares que também tratam de outras necessidades humanas além do atendimento fisiológico.

É sobre a satisfação de outras necessidades humanas que se desenrola a Palavra de Deus neste domingo. Por traz da fome que o povo experimentava na travessia do deserto existia outra carência que nem sempre sabiam manifestar. Ao reclamar pela falta de comida, sentiam ainda mais a falta da presença de Deus. Para dar conta da longa travessia o povo não reconheceu a mão da Deus que os alimentou e por isso não se sentiu nem satisfeito na sua fome de pão, nem na sua fome de vida!

No Evangelho Jesus toca na questão da insensibilidade dos seus conterrâneos que não tinha percebido a sua verdadeira fome: “Quando o encontraram no outro lado do mar,
perguntaram-lhe: ‘Rabi, quando chegaste aqui?' Jesus respondeu: "Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará”.  Jesus lhes ajuda a perceber que devem enxergar mais longe do que os olhos veem e o estômago sente. A existência humana ultrapassa a satisfação do estômago, dizer isso não é fazer pouco caso da fome que assola milhões pelo mundo a fora. Comer para atender as necessidades corporais é indiscutível, mas não se pode permanecer apenas nessa dimensão e por isso ele se apresenta como verdadeira comida e bebida:
Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá fome, e o que crê em mim nunca mais terá sede” (Jo 6,35). Reconhecer que as necessidades humanas são muito maiores que a fome de pão é a lição deixada por Jesus nesse domingo.

E São Paulo na carta aos Efésios confirma que somente compreender que Jesus é o único e verdadeiro pão da vida será a condição para a felicidade completa. Encontrar-se com Ele e aceitar sua Palavra e seu ensinamento exige uma mudança radical no jeito de ver e fazer todas a coisas: “Renunciando à vossa existência passada, despojai-vos do homem velho, que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras, e renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade. Revesti o homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade”.

Também para nós caminhantes no século XXI experimentamos provações e privações, carências e fomes mas temos muitas outras necessidades cuja saciedade não se dará somente com o pão de cada dia, somos desafiados a deixar nossa zona de conforto e reconhecer Deus que nos acompanha com carinho paterno oferecendo-nos um alimento muito mais nutritivo do que o maná do deserto e a satisfação das necessidades corporais. Todos somos convidados a deixar o comodismo e a tranquilidade nas quais facilmente nos instalamos e buscar o verdadeiro alimento que dá a vida duradoura e plena. Lições de amor, partilha, generosidade e serviço são muitas vezes uma refeição mais nutritiva e duradoura e que todos temos para dar e todos precisamos receber.

 

quarta-feira, 24 de julho de 2024

HOMILIA PARA O DIA 28 DE JULHO DE 2024 - 17º DOMINGO COMUM - ANO B

 

LIÇÕES DE GENEROSIDADE

Dentre os provérbios populares bastante conhecidos um deles diz mais ou menos assim: “Pouco com Deus é bastante”. É essa a lição que Palavra de Deus deste domingo nos transmite com clareza. Como já dissemos outras vezes, a linguagem bíblica é simbólica e muitos relatos ensinam mais pela simbologia do que pela narrativa.

Assim na liturgia deste domingo nos deparamos com uma multidão faminta. Neste caso referindo-se a todos os povos e pessoas que ao longo do tempo colocaram suas vidas e necessidades nas mãos de Deus.

No evangelho o menino que tem os cinco pães e os dois peixes representa a simplicidade e pequenez daqueles que se dispõe a repartir da sua pobreza. Cinco pães e dois peixes, somam sete, que significa infinitos, ou seja, garantia que não faltará para ninguém.

Felipe é o tipo da pessoa a quem Jesus provoca para uma solução e que pensa resolver o problema somente sob o ponto de vista econômico e enxerga a situação somente a partir da soma dos números e valores que certamente não será também a resposta para a necessidade que estava sendo apresentada. Por sua vez André é o modelo de pessoa preocupada com os pequenos, com aqueles que teoricamente não são vistos pela sociedade baseada no dinheiro. É ele quem reconhece o menino e sua pequena contribuição.

Diz o evangelho que Jesus sabia qual era a solução para o problema da multidão faminta, a primeira ação que os discípulos são desafiados a fazer é acomodar as pessoas. Isto é, aquietar a multidão que buscava em Jesus uma resposta para todos os seus problemas.

Jesus não se furta em apresentar uma alternativa, primeiro valorizando o pouco que um “menino anônimo” teria para repartir, na sequência agradecendo a Deus pela pequena porção que está sendo colocada à disposição de todos.

No final cinco mil pessoas ficaram saciadas e ainda sobrou doze cestos, isto é, sobrou o suficiente para todos. Esse banquete é a antecipação da nova páscoa. Enquanto no Antigo Testamento a páscoa era apenas a recordação da libertação da escravidão do Egito, a nova Páscoa inaugurada por Jesus será a libertação de todas as prisões.

A lição que se pode tirar da Palavra de Deus se resume em três pontos singelos e muito significativos: Tal como um menino, todos temos alguma coisa para colocar em comum; A solução para o problema da fome e todos os outros problemas da humanidade não virá somente pelo recurso da economia e do dinheiro. Mais do que imitar a preocupação de Felipe, podemos ter a sensibilidade de André e perceber como a solidariedade, a partilha a generosidade e a comunhão são mais eficazes que a contabilidade e o dinheiro.

Por isso rezamos: “Concedei, Senhor, que usemos de tal modo os bens que passam a fim de poder abraçar aqueles que não passam”.

 

 

 

 

quinta-feira, 18 de julho de 2024

HOMILIA PARA O DIA 21 DE JULHO DE 2024 - 16º DOMINGO COMUM - ANO B

 

DEUS QUE OLHA, CUIDA E ACOLHE

A gente costuma dizer que os dedos de uma mão são como filhos e filhas, todos diferentes, mas a quem os pais cuidam com as mesmas preocupações. Como um pai e uma mãe que cuidam dos filhos independente da sua condição assim age Deus em relação às suas criaturas. É isso que ouvimos mais uma vez na liturgia desse domingo. Ao longo da existência todos experimentamos situações de desespero e de dor, mas é exatamente nessa hora que todos ocupam um lugar especial no coração de Deus. 

Na primeira leitura o profeta qualifica as pessoas como um rebanho que é cuidado por Deus. Ele mesmo se encarrega de tirar as ovelhas que haviam sido confiadas a pastores que não as cuidaram, ele mesmo vai tomar conta, na sequencia vai escolher novos pastores e finalmente promete um novo tempo e uma nova condição de vida. O que aconteceu com os conterrâneos do profeta é muito semelhante com o nosso cotidiano que bastante vezes nos damos conta de andar sem rumo, desorientados, traídos, como que abandonados diante da violência, dos fundamentalismos, da miséria, dos conflitos, dos problemas no trabalho e na família, das catástrofes ambientais e tragédias de toda sorte. A palavra do profeta ecoa em nossos ouvidos e no coração, Deus continua cuidando das nossas necessidades: “E eu reunirei o resto de minhas ovelhas de todos os países para onde forem expulsas, e as farei voltar a seus campos, e elas se reproduzirão e multiplicarão. Eis que virão dias, diz o Senhor, em que farei nascer um descendente de Davi; este é o nome com que o chamarão: 'Senhor, nossa Justiça'".

A mesma tonalidade tem as palavras de Paulo na carta aos Efésios. Ele declara que sua missão é anunciar um Deus que se preocupa e cuida de todos, independente da condição de cada pessoa. Deus quer trazer para perto de si todos os que em Jesus Cristo foram feitos irmãos e herdeiros. A vida de Jesus derrubou todas as barreiras que dividiam os povos. Deus age de modo diferente de como normalmente estamos habituados, enquanto nós inventamos alfândegas, fronteiras, barreiras, Deus abre portas, acolhe, protege, reúne e ensina a caminhar juntos. 

No Evangelho a atitude de Jesus não é diferente: “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor”. A expressão compaixão significa sofrimento com o objetivo de livrar os sofredores. Guardadas as proporções, compaixão é a atitude de uma mãe que é capaz de qualquer sacrifício para diminuir as dores e o sofrimento de um filho. O que Jesus fez é também a tarefa que Ele atribui aos discípulos, e depois os reúne para avaliar a eficácia da missão e o alcance das atividades desenvolvidas: “os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado”. O encontro avaliativo é uma espécie de relatório detalhado do seu trabalho. Jesus os previne contra o perigo do ativismo, mas ao mesmo tempo permite que vejam quanto é volumoso o trabalho e as exigências: “Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer”.

As ovelhas perdidas do nosso tempo é a multidão de pessoas sem rosto e sem voz deixadas à margem da sociedade e muitas vezes das nossas igrejas que sofrem a discriminação e a exclusão, que carregam culpas por feridas abertas muitas vezes por falta de acolhimento e de perdão. Seguidores de Jesus peçamos a graça e a capacidade de aprender o que significa compaixão e cuidado, ver como Jesus e se compadecer: “para que repletos de fé, esperança e caridade guardemos fielmente os vossos mandamentos”.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

HOMILIA PARA O DIA 14 DE JULHO DE 2024 - 15º DOMINGO COMUM - ANO B

 

Anunciar com Liberdade e Rapidez

 

Na vida de hoje, todos nós queremos liberdade e agilidade. Parece que a tecnologia nunca é rápida o suficiente para suprir nossas necessidades de autonomia e velocidade. As leituras deste domingo mostram como Deus age com prontidão e cuidado quando realiza Suas obras em favor do Seu povo.

Nos tempos do profeta Amós, a religião era cheia de festas, sacrifícios e cerimônias esplendorosas. Mas, infelizmente, essas celebrações não refletiam a vida real das pessoas. Muitos rezavam, mas adoravam um deus que não libertava nem cuidava das pessoas. O profeta Amós foi enviado para acabar com essa forma vazia de culto, afirmando que sua missão vinha de Deus: “Não sou profeta nem filho de profeta; sou pastor de gado e cultivo sicômoros. O Senhor chamou-me, quando eu cuidava do rebanho, e me disse: ‘Vai profetizar para Israel, meu povo’”. Amós foi a voz de Deus para denunciar todas as injustiças cometidas pelos falsos profetas e pelos amigos do rei.

São Paulo, na carta aos Efésios, também nos ensina que nossa existência e todas as nossas atividades devem ser para Deus, que nos criou e, em Jesus Cristo, nos fez herdeiros da Sua graça. Devemos ser verdadeiros, fiéis e radicais em nossa fé: “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda a bênção espiritual, em Cristo. Em Cristo, ele nos escolheu antes da criação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis em seu amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por meio de Jesus Cristo, conforme a sua vontade, para o louvor da sua glória e graça”.

Em Jesus, temos clareza sobre os novos caminhos que Deus quer que sigamos, guiados pelo Espírito Santo. No projeto de Deus, todos têm um papel importante.

Os discípulos enviados por Jesus tinham a missão de caminhar juntos e não perder tempo com coisas de pouca importância. Eles eram chamados a viver de maneira simples, levando apenas o necessário. Doze discípulos foram enviados em duplas, representando todos os que seriam enviados e todas as pessoas que precisavam ouvir a mensagem. Ninguém é excluído da missão: uns têm a tarefa de anunciar e outros, de receber a mensagem. A missão de Jesus é comunitária e visa unir aqueles que estão dispersos.

Assim como os discípulos, também somos chamados a continuar a missão de Jesus. Não basta ter ritos bonitos e cerimônias vistosas se elas não estiverem conectadas com a vida real das pessoas. Precisamos ser livres e agir com humildade, sempre abertos às novidades que a simplicidade pode nos ensinar.

 

quarta-feira, 3 de julho de 2024

HOMILIA PARA O DIA 07 DE JULHO DE 2024 - 14º DOMINGO COMUM - ANO B

 

SANTO DE CASA NÃO FAZ MILAGRE

A Igreja católica sempre valorizou o testemunho de vida das pessoas como sinal de santidade. Sem descuidar das graças alcançadas pela intercessão daqueles que são elevados à glória dos altares, o estilo de vida e os exemplos de vida são cada vez mais valorizados quando se trata de atribuir a alguém o título de Santo. Dentre os próximos santos a serem declarados pelo Papa Francisco, um deles é jovem Carlo Acutis, que soube muito bem utilizar o campo minado da internet para anunciar a boa notícia e tornar conhecida a mensagem de Jesus Cristo. Ele, como uma série de outras pessoas ao longo do tempo são a prova que “santo de casa também faz milagre”.

As três leituras deste 14º domingo do tempo comum mostram a estratégia de Deus para se aproximar de nós e para continuar sua obra de cuidado. Para essa tarefa Deus se serve das pessoas e do testemunho cotidiano, independente das fragilidades de cada uma.

A primeira figura que aparece nos relatos de hoje é o profeta Ezequiel, chamado de “filho do homem” que significa dizer uma pessoa que vive e está no meio de todos com todas as suas virtudes e debilidades, mas que apesar de tudo realiza com maestria a tarefa de anunciar Deus e o seu projeto: “Filho do homem, eu te envio aos israelitas, A estes filhos de cabeça dura e coração de pedra, vou-te enviar, e tu lhes dirás: 'Assim diz o Senhor Deus. Quer te escutem, quer não - pois são um bando de rebeldes - ficarão sabendo que houve entre eles um profeta".

Ser profeta é uma tarefa confiada também a cada batizado que configurados a Cristo é chamado a ser no meio do mundo um sinal de Deus cuja voz deve ecoar mais pelo exemplo do que pelas palavras.

A mesma situação se repete com Paulo, é ele mesmo quem declara: “Irmãos: Para que a extraordinária grandeza das revelações não me ensoberbecesse, foi espetado na minha carne um espinho”. E continua o apóstolo: Basta-te a minha graça. Pois é na fraqueza que a força se manifesta. Por isso, de bom grado, eu me gloriarei das minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim”. Em resumo nenhuma fragilidade humana serve para como justificativa para não exercer a tarefa que Deus nos confia.

No Evangelho, desta vez, já não são os fariseus e doutores de lei que duvidam de Jesus, mas seus próprios conterrâneos. Jesus está no seu povoado de origem, todos ali o conhecem, bem como sabem da sua história de vida. Par reforçar a razão de sua incredulidade as pessoas não o chamam nem pelo nome nem pela filiação paterna, antes e referem a Ele com a expressão “não é Ele o filho de Maria”. Apesar desta falta de respeito e consideração Jesus continua a mostrar-lhes como Deus oferece o seu cuidado: “Jesus lhes dizia: "Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares". E ali não pôde fazer milagre algum. Apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. E admirou-se com a falta de fé deles. Jesus percorria os povoados das redondezas, ensinando”.

Em resumo, acreditar em Deus supõe ter fé e isso significa superar preconceitos, mudar a mentalidade, ver além das aparências enxergar as pessoas como sinais e instrumentos de Deus. Em Jesus Cristo, Deus Pai continua aproximando-se de todos revelando ao mundo o rosto misericordioso do criador. Não tenhamos medo, sejamos também nós anunciadores de Deus e do seu amor generoso amor para com todos. Que se torne realidade em nós o que rezamos na prece inicial da missa: “Pela humilhação do vosso Filho, enchei todas as criaturas de santa alegria”.

 

terça-feira, 25 de junho de 2024

HOMILIA PARA O DIA 30 DE JUNHO DE 2024 - SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO - ANO B

 

ENRAIZADOS NO AMOR DE DEUS

A última oração da missa deste domingo pede que tenhamos a graça de viver “enraizados no amor de Deus”. Essa expressão não necessitada de explicações, mas ela pode ser alargada com diversos outros adjetivos: sustentados, firmados, ancorados, fixados, estruturados, conectados. Pois é este o testemunho que nos dão Pedro e Paulo e mais uma lista infinita de pessoas que viveram a experiência da amizade com Deus e os irmãos ao longo da sua vida terrena.

Na Segunda leitura Paulo descreve o seu sofrimento e a convicção do dever cumprido e da recompensa que receberá por sua fidelidade e coragem. Ao mesmo tempo o Apóstolo tem a convicção que os seus méritos são extensivos a todos os que imitarem seus exemplos: Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa”.

Por sua vez o texto dos Atos dos Apóstolos, apresenta as provações iniciais experimentadas pela Igreja nascente e personificada nas pessoas de Pedro e Paulo. Não ter medo das dificuldades que a vida e o contexto em que se vive nos proporciona é uma maneira de experimentar também o amor e o cuidado de Deus: “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar” Rezemos também nós confiantes que Deus não se cansa de estender sua mão quando as correntes do medo e da intolerância nos aprisionam e dificultam a tarefa de testemunhar o Evangelho. Não tenhamos medo: “De todos os temores nos livrou o Senhor Deus”!

O Evangelho pode ser lido sob dois aspectos. O primeiro é ter a coragem de responder sem rodeios quem é Jesus Cristo para nós. Essa reposta, como disse o Papa João Paulo II, na sua primeira visita ao Brasil em 1980: “A resposta a essa pergunta já mudou a vida de muita gente e pode mudar também a sua! ”. O segundo aspecto é não ter medo: Jesus lhe disse: "Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus".

Neste contexto homens e mulheres viveram a experiência de fidelidade a Jesus Cristo ao longo do tempo. Pedro e Paulo são reconhecidos como colunas que sustentam a Igreja na sua longa e difícil travessia pelas estradas da vida. Os Papas são sinais visíveis da unidade e da comunhão da Igreja. Francisco como um Papa que veio do fim do mundo nos desafia a renovar a Igreja construindo pontes de comunhão e estradas de sinodalidade: “Sonho com uma Igreja missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes da Igreja, os modos de fazer as coisas, os tempos e horários, a linguagem e as estruturas sejam evangelizadoras do mundo de hoje. Que a Igreja seja um lugar onde todos possam estar sentados na Ceia do Cordeiro e viver a comunhão com Ele. Abandonemos as polêmicas para ouvirmos o que o Espírito diz a Igreja, mantenhamos a comunhão”. E noutra declaração “Precisamos construir uma Igreja onde caibam todos”

Ouçamos o que o Espírito diz para a Igreja e aprendamos e rezemos pelo Papa abraçando as inciativas de inclusão já iniciadas por São Paulo: “Fiz-me tudo para com todos a fim de ganhar alguns a qualquer custo” (1Cor 9,22).

 

quarta-feira, 12 de junho de 2024

HOMILIA PARA O DIA 16 DE JUNHO DE 2024 - 11º DOMINGO COMUM - ANO B

 

NO REINO NÃO TEM LUGAR PARA O MEDO

A palavra de Deus deste domingo nos lança o desafio a não ter medo do medo, pelo contrário nos chama a confiar em Deus, mesmo diante das mais absurdas situações sempre há uma esperança, é assim que podemos ver o Reinado de Deus ir pouco a pouco se concretizando.

Para o crescimento do Reino de deus não é necessário grande aparato, ou estardalhaço. Jesus faz duas comparações relativas ao trabalho do agricultor. Mesmo sem ser reconhecido ele joga a semente na terra que por sua vez se encarrega de fazer germinar e crescer a planta e produzir fruto. Tal como o semeador, todo discípulo de Jesus é desafiado a fazer a mesma coisa.

Mesmo quando as contrariedades parecem se avolumar o convite é não se deixar amedrontar, o bem sempre aparece, vai ampliando horizontes e fazendo perceber a presença de Deus trazendo um novo dinamismo como uma dádiva de Deus para a humanidade. Deus atua sempre independente das circunstâncias e nada irá frustrar que o trabalho produza frutos. Não se trata de forçar o tempo e a dinâmica da semente, ambos têm seu próprio desenvolvimento e na hora oportuna será possível ver e colher os resultados.

Seja o anuncio do Reino feito outrora por Jesus e seus discípulos, seja aquele realizado ao longo do tempo por seus seguidores e na atualidade por todos os que se dispõe seguir o ensinamento do mestre, nenhuma fragilidade vai impedir a irresistível força do Reino de Deus. O texto do Evangelho é mais uma vez um desafio de paciência, confiança, coragem. Não tenhamos medo o dinamismo de Deus sempre encontra caminhos para realizar seu projeto de amor e salvação da obra criada.

Esta ideia foi apresentada também pelo profeta Ezequiel na primeira leitura, apesar das voltas que a história deu, aqueles que em Deus confiam não devem desistir, Deus nunca deixou ninguém à margem da história e continua a oferecer um futuro de paz e de justiça. A primeira leitura é também uma mensagem de esperança e só Deus é o Senhor da História.

Por isso nós rezamos no Salmo:

Mesmo no tempo da velhice darão frutos, *
cheios de seiva e de folhas verdejantes;

e dirão: "É justo mesmo o Senhor Deus: *
meu Rochedo, não existe nele o mal!"

 

São Paulo nos garante que toda a nossa vida terrena não é outra coisa senão uma caminhada na sombra das asas de Deus: “Estamos sempre cheios de confiança e bem lembrados de que, enquanto moramos no corpo, somos peregrinos longe do Senhor; pois caminhamos na fé e não na visão clara”. Tal como a semente plantada que a seu tempo produz fruto, um dia todos nos sentaremos à mesa na casa de Deus, essa é a certeza que deve orientar nossa vida.

quinta-feira, 6 de junho de 2024

HOMILIA PARA O DIA 09 DE JUNHO DE 2024 - 10º DOMINGO COMUM - ANO B

 

QUEM É QUEM DIANTE DE DEUS E DO MUNDO

A Palavra de Deus proclamada na liturgia deste domingo tem por objetivo responder duas perguntas. Com quem a pessoa se relaciona e a quem ela obedece. No Evangelho mais uma vez as autoridades dos judeus tentam desmoralizar Jesus, desta vez relacionando a sua pessoa com o príncipe dos demônios. Esta atitude farisaica em nada se diferencia das práticas contemporâneas, quando alguém ou algum grupo que desacreditar uma pessoa procura sempre atacar sua integridade pessoal e moral, silencia as boas obras e fortalece os defeitos.

Os textos do Evangelho de Marcos que estamos ouvindo nos domingos deste ano estão centrados sobre duas ideais fundamentais o Reino e o discipulado. O evangelista deixa claro que as ações de Jesus em nada se comparam com as autoridades mundanas. Pelo contrário, enquanto as autoridades humanas se sustentam sobre a autoridade, o poder e a força, Jesus mostra que sua ação é pautada pelo amor e pela obediência à vontade de Deus. E esse convite ele faz a todos os que aceitam ser seus discípulos e seguidores. Quando lhe dizem: “Sua mãe e seus irmãos estão ali fora e querem lhe ver” ele não os desqualifica como parentes de sangue, mas estende o parentesco para todos os que agem como Ele e como sua mãe: olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe". Ao contrário de ideias mágicas sobre a religião, Jesus apresenta seu projeto criando laços de amizade e fraternidade, em outras palavras construindo uma verdadeira e única família que é sinal da presença do Reino de Deus no meio de todos.

Quando ele é chamado como Novo Adão fica claro que entre Jesus e a primeira criatura humana existe uma diferença simples, mas fundamental. Adão se fez de surdo e não soube explicar quem ele era e onde estava. Procurou desculpas e subterfúgios atribuindo a Eva o seu pecado e desobediência. Enquanto Jesus se confirma obediente e convida todos a ter as mesmas atitudes.  Em resumo para fazer parte do Reino de Deus somos chamados a permanecer alertas quando se trata das tentações que o mundo oferece.

Tentações que na segunda leitura Paulo chama de tribulações e sofrimentos as quais ofuscam e diminuem o ardor missionário. Paulo, se autodeclarando discípulo de Jesus deixa também claro que a fé na pessoa e ressurreição de Jesus é a condição para superar todas as dificuldades terrenas. Nossa vida precisa ter dois eixos: comunhão com Jesus e com as pessoas é assim que rezamos na oração da missa: “Fazei-nos pensar o que é reto e realizá-lo com vossa ajuda”.

 

 

 

sábado, 1 de junho de 2024

HOMILIA PARA O DIA 02 DE JUNHO DE 2024 - 9º DOMINGO COMUM - ANO B

 

CULTIVAR A SOLIDARIEDADE E A COMUNHÃO

Nesta semana a Igreja no Brasil inteiro celebrou a solenidade de Corpus Christi. Paralelo com a arte e a criatividade na confecção dos tapetes foram inúmeras as iniciativas de solidariedade e de partilha sugeridas para completar a adoração que fazemos a Jesus presente na Eucaristia. Na mesma direção, são inúmeras as iniciativas de diferentes religiões e instituições que promovem campanhas de partilha e corresponsabilidade. A Palavra de Deus nos mostra como esses gestos fazem parte das características e do jeito de ser de Deus!

A primeira leitura destaca a necessidade de um dia dedicado ao Senhor, o qual é também um dia de cuidado para consigo mesmo, com a obra criada e obviamente com todas as pessoas. Ao fazer a recordação da condição em que viveram os antepassados o autor do livro deixa claro que a mão de Deus sempre os acompanhou: “Lembra-te de que foste escravo no Egito e que de lá o Senhor teu Deus te fez sair com mão forte e braço estendido. É por isso que o Senhor teu Deus te mandou guardar o sábado”.

A solidariedade, a partilha e o comprometimento com os sofrimentos das pessoas é o remédio capaz de curar todas as formas de humilhação e exclusão. No Evangelho Jesus desmistifica o rigorismo da lei de Moisés aplicada pelas autoridades do seu tempo e confirma a supremacia da pessoa diante da lei, das necessidades e sofrimentos. Ele justifica a colheita de espigas para matar a fome e cura o homem que estava sendo humilhado pela exclusão mais do que pela doença: “E perguntou-lhes: 'É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?' Mas eles nada disseram. Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao homem: 'Estende a mão'. Ele a estendeu e a mão ficou curada”.

Apesar das inúmeras oportunidades de acolhimento, partilha e solidariedade sempre estamos sujeitos a nos fechar em nossas verdades, nossos costumes e sobretudo na mania de perfeição  e sobre isso nos recorda São Paulo: “Somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angústia; postos entre os maiores apuros, mas sem perder a esperança; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados; por toda parte e sempre levamos em nós mesmos os sofrimentos mortais de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifestada em nossos corpos”.

Então, celebremos cada dia como uma boa oportunidade para fazer o bem: adorar a Deus participando das celebrações, descansar e fortalecer os laços de amizade e família. Lembremos que o centro da obra de Deus é o ser humano, criado à Sua imagem e semelhança. Por isso, Jesus disse ao homem da mão seca: “Venha para o meio” (Mc 3,3) e o curou. Jesus está a serviço da vida.


quarta-feira, 22 de maio de 2024

HOMILIA PARA O DIA 26 DE MAIO DE 2024 - DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE - ANO B

 


TRINDADE, COMUNIDADE DE AMOR

A Trindade, perfeita comunidade de amor, serve como modelo para todos os seguidores de Jesus, que são chamados a formar comunidades acolhedoras, onde se vive o amor fraterno e a sinodalidade. A caminhada conjunta do povo de Deus, reflete a unidade e a comunhão da Trindade.

O texto do Deuteronômio apresenta Deus que vai ao encontro das pessoas, falando de uma maneira que elas podem entender, apontando caminhos seguros nos quais Ele mesmo intervém quando aqueles que Ele ama se sentem ameaçados e inseguros nas travessias: “Existe, porventura, algum povo que tenha ouvido a voz de Deus falando-lhe do meio do fogo, ou terá jamais algum Deus vindo escolher para si um povo entre as nações, por meio de provações, de sinais e prodígios, por meio de combates, com mão forte e braço estendido, e por meio de grandes terrores, como tudo o que por ti o Senhor vosso Deus fez. Reconhece, pois, hoje, e grava-o em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima do céu e cá embaixo na terra, e que não há outro além dele”.

É importante que nos perguntemos sobre nossa relação com Deus. Compreendemos e recorremos a Ele como um Deus amoroso e sensível ao nosso cotidiano e às nossas fraquezas, ou cultivamos a imagem de um Deus intolerante, duro e insensível, sempre disposto a castigar e vingar sem piedade os deslizes humanos? Celebrar a Santíssima Trindade implica um convite para descobrir o verdadeiro rosto de Deus, um Deus que caminha conosco sinodalmente, compartilhando nossa jornada e nos guiando com amor.

São Paulo escreve aos Romanos: “Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. De fato, vós não recebestes um espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, no qual todos nós clamamos: Abá - ó Pai”. Estas palavras confirmam que o Deus em quem acreditamos não é alguém que vê de longe e com indiferença os dramas e sofrimentos humanos, mas acompanha com paixão a caminhada da humanidade.

No Evangelho, Jesus esclarece a vinculação das pessoas com a Santíssima Trindade: “Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”. Este mandato reflete a essência da sinodalidade, uma Igreja que caminha junto, em comunidade, compartilhando a missão de anunciar o Evangelho.

 

Jesus envia os discípulos, e a nós hoje, com a missão de fazer discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O batismo, que insere os filhos e filhas de Deus na comunidade cristã, realizado em nome da Trindade santa, recorda a cada cristão que a unidade de amor existente em Deus é um ideal a ser buscado aqui na terra. Essa unidade é vivida na caminhada sinodal, onde todos participam ativamente da missão da Igreja.

Ao celebrarmos a Trindade, celebramos a perfeita comunhão de amor de Deus e nossa própria missão de batizados. Marcados no batismo pelo selo do amor divino, somos chamados a vivenciar em comunidade esse amor, acolhendo todos, especialmente os esquecidos e abandonados.

A sinodalidade nos convida a participar dessa dinâmica divina do amor, onde nossa missão é vivida em comunidade, construindo relações transformadas pelo amor infinito da Trindade. Não há outro caminho para entrar na misteriosa dinâmica do amor de Deus, senão através da nossa caminhada conjunta, onde cada um contribui para a edificação do Corpo de Cristo na unidade e no amor.

quarta-feira, 15 de maio de 2024

HOMILIA PARA O DIA 19 DE MAIO DE 2024 - DOMINGO DE PENTECOSTES - ANO B

 

VEM ESPÍRITO SANTO DE AMOR

 

Certamente, para a maioria de nós, o avanço das tecnologias e a facilidade da inteligência artificial é um marco no que se refere ao domínio e alcance do conhecimento. Sentimos, sem dúvida, o poder de nos conectar com o mundo. Os avanços da tecnologia e da ciência parecem estar em nossas mãos. Temos a sensação de ter todas as respostas ao nosso alcance. O desejo de compreender e ser compreendido é latente ao mesmo tempo somos acometidos de medo e incertezas. Tal como os seguidores de Jesus sentimos grande entusiasmo diante de toda a novidade, mas ao mesmo tempo inseguros com tudo o que acontece ao nosso redor situações para as quais não temos explicações e justificativas.

Numa análise livre das limitações desta comparação, podemos refletir sobre a celebração de Pentecostes. Hoje, celebramos o dom do Espírito Santo, que representa a abertura da Igreja a todas as nações. Por meio deste dom inefável, Deus fez com que a Palavra do Filho alcançasse todas as nações conhecidas de outrora.

Na Igreja de hoje, pedimos também que o mesmo Espírito Santo abra os nossos corações para a unidade na diversidade. Oramos para que o Espírito Santo nos transforme e transforme o mundo. Que, mais uma vez, pela Sua graça, a solidariedade, a justiça e todo bem prevaleçam.

Nas Escrituras, o Espírito de Deus é comparado ao sopro de Jesus sobre os apóstolos, com o objetivo de conceder-lhes o poder de levar o perdão e uma nova vida a todos. Na primeira leitura, podemos aprender com o povo da primeira aliança, lá a incapacidade de compreender os caminhos de Deus resultou na construção da Torre de Babel, levando à confusão de línguas e nações. No entanto, com o Pentecostes, pessoas de todas as raças e línguas se compreendem, dando origem à Igreja, aberta e ecumênica capaz de caminhar juntos.

São Paulo, na segunda leitura, confirma a promessa feita por Jesus: o Espírito Santo é o advogado que revela a presença de Jesus no mundo, não necessariamente de forma física, mas real por meio da Sua palavra e, sobretudo, pela vivência dos Seus ensinamentos.

Em nossas celebrações, é comum entoarmos um cântico litúrgico que expressa: 'No povo renasce a confiança, ó Espírito Santo de Deus.' Desde Unidos como irmãos, suplicamos para que o extraordinário acontecimento de Pentecostes se repita em nossa sociedade hoje. Que através de nossas palavras e testemunho de vida, a verdadeira comunhão se estabeleça em todos os lugares. Que a unidade da Eucaristia e da Palavra se manifeste em nossas igrejas, famílias, sociedades e em nossa relação com toda a criação.

Assim como os cristãos de outrora, nós, os cristãos contemporâneos, vivemos em um mundo tumultuado, marcado pela violência e arrogância, e todos temos a missão de proclamar e construir a paz. Precisamos de pessoas capazes de promover a alegria, o dinamismo, o perdão, e semear esperança diante dos desafios do mundo atual.

Que o Espírito Santo nos capacite a ser promotores de uma vida cada vez mais humana e de melhor qualidade para todos, em todos os lugares. Este pedido é repetido em diferentes momentos de nossas celebrações, especialmente na oração Eucarística, quando o sacerdote diz: 'Ao comungarmos o corpo e o sangue do Vosso Filho, que sejamos repletos do Espírito Santo e nos tornemos um só corpo e um só Espírito.'


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Que o perdão dos pecados prometido por Jesus signifique a tarefa de todos empenhados na organização de uma sociedade fraterna, responsável, justa e cuidadora de todos e da Casa Comum.

quinta-feira, 9 de maio de 2024

HOMILIA PARA O DIA 12 DE MAIO DE 2024 - ASCENÇAÕ DO SENHOR - ANO B

 

TODOS CONTINUADORES DA MISSÃO DE JESUS

A Igreja celebra nesse domingo a Ascenção de Jesus ao céu. A Palavra de Deus neste domingo mais do que relatar o distanciamento físico de Jesus do grupo dos discípulos, tem por objetivo lhes indicar a missão e a responsabilidade que lhes cabe depois de o terem conhecido e com ele partilhado a experiência de fazer a vontade do Pai. Na mesma medida para nós cristãos, celebrar a Ascenção significa visualizar a meta da nossa vida na condição de continuadores da tarefa que Jesus confiou aos discípulos.

Somos todos missionários da boa noticia de Jesus, na caminhada da vida continuamos encontrando Jesus nas pessoas com quem convivemos e tal como ele somos desafiados a diminuir o sofrimento daqueles que experimentam na sua própria carne as duras realidades contemporâneas. Somos chamados a ser sinais de esperança dando continuidade à ação de Jesus.

Nossa tarefa é facilitada por muitos recursos modernos de comunicação e compartilhamento de saber e de informação. Dentre eles nos recorda o Papa Francisco, podemos contar com a colaboração da Inteligência Artificial. Na Mensagem para o dia mundial das comunicações sociais Francisco escreveu: “Os sistemas de inteligência artificial podem contribuir para o processo de libertação da ignorância e facilitar a troca de informações entre diferentes povos e gerações. Por exemplo, podem tornar acessível e compreensível um patrimônio enorme de conhecimentos, escrito em épocas passadas, ou permitir às pessoas comunicarem em línguas que lhes são desconhecidas”. Para que os recursos da tecnologia cumpram o seu papel todos somos convidados a manter um “coração incorruptível em relação a tudo o que ferir a dignidade da pessoa”.

Tal como os discípulos também nós fomos formados na “escola” de Jesus e temos como missão levar sua palavra para todas as criaturas, por sua vez, Ele nos acompanha e nos mostra o caminho.

A conversa de despedida que Jesus faz com seus discípulos se dá ao redor de uma mesa, que sugere também para nós participantes da mesa da Eucaristia reconhecer a missão e o tipo de vida que devemos transmitir ao mundo pela palavra e pelo testemunho. Quem abraçar esta causa fará coisas extraordinárias: expulsarão demônios, falarão novas línguas, por suas mãos os doentes serão curados. Estas realizações maravilhosas poderiam ser ditas em outras palavras: Na condição de missionários dos novos tempos os cristãos serão uma presença de paz e de entendimento, sinais de esperança e de vida nova, e ninguém precisa ter medo porque o Senhor mesmo estará nos acompanhando: “Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam”.

De modo que podemos tomar para nós as palavras ditas aos apóstolos pelo autor da primeira leitura: “Apareceram então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: "Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu".

sexta-feira, 3 de maio de 2024

HOMILIA PARA O DIA 05 DE MAIO DE 2024 - 6º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B

 

SOMOS GENTE TRANSFORMADA PELO AMOR

A palavra AMOR é uma das mais faladas e cantadas em todos os estilos de música e poesia. No repertório sertanejo uma delas tem a seguinte letra:

Só o amor vale tudo na vida Só o amor é a inspiração Sem amor a esperança é perdida Por amor escrevi esta canção.

As três leituras deste domingo nos colocam diante de uma peça de amor cujo tecelão é Deus nele tudo começa e nele tudo tem sua culminância. Essa manifestação é tão extraordinária que se concretiza na entrega do seu Filho e que mostrou por gestos e palavras o amor de Deus levado ao extremo, nele toda a humanidade é sempre renovada e transformada em gente nova e repetidamente enviada a multiplicar a experiência de amor que Deus nos revela em Jesus Cristo.

Essa verdade está muito clara no texto da segunda leitura quando afirma: Porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor”. E o amor de Deus pela humanidade não é uma troca de favores, ele nos ama de modo gratuito, desinteressado, nos ama apesar das nossas escolhas, da nossa indiferença, das nossas revoltas. Obviamente, que diante de uma tão grandiosa manifestação da parte de Deus não nos resta outra coisa que não seja amar as pessoas segundo os mesmos critérios, porque todo aquele que ama conhece a Deus!

Uma das primeiras exigências que precisamos fazer a nós mesmos consiste em compreender e superar os limites que costumamos colocar para amar alguém. Em outras palavras, o amor que Deus nos implica numa mudança dos nossos esquemas mentais e organizacionais. Facilmente amamos aqueles que nos retribuem, aqueles que constam dos nossos registros e círculos de relacionamento, que pertencem ao nosso clube, ao nosso movimento, a nossa paróquia e assim por diante.

Na condição de filhos somos provocados a praticar gestos desinteressados de cuidado, de solidariedade que abra portas e permita caminhar juntos. Não basta manifestar nosso amor dentro da sacristia e nas nossas igrejas, não basta cabeça inclinada olhando para o céu, não basta ter amor pelas coisas da religião e não perceber os pobres, os sofredores, os que não pensam como nós. Ser filho de Deus implica compreender o que significa: Somos todos irmãos!

O que o autor da segunda leitura nos propõe não é outra coisa senão as palavras de despedida que Jesus dirige aos discípulos no Evangelho: “amem-se como eu os amei”! Isto significa gente que sai ao encontro que abre portas só assim poderemos produzir frutos como quem permanece conectado com Jesus. Deve ficar clara uma verdade: amar como Jesus implica lutar contra as forças que produzem dor, sofrimento e morte e ter a certeza que nessas ocasiões Jesus caminha ao nosso lado.

Um dos gestos concretos que podemos aprender com os discípulos está no discurso de Pedro na primeira leitura: “Pedro tomou a palavra e disse: De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença".

 

 Em resumo, “só o amor vale tudo na vida”!

quinta-feira, 25 de abril de 2024

HOMILIA PARA O DIA 28 DE ABRIL DE 2024 - 5º DOMINGO DA PÁSCOA ANO B

 

EM JESUS CONECTADOS COM O PAI

O texto do Evangelho deste domingo é apresentado pelos estudiosos como parte do discurso de despedida. Provavelmente Jesus disse estas palavras no contexto da última ceia, quando deu também outras orientações sobre as atitudes necessárias que os discípulos deveriam manter depois que não estivessem mais na sua presença física.

Jesus se compara a videira e aos ramos planta e estilo de vida bem familiar às comunidades do seu tempo. Nesta figura de linguagem mostra o resultado de quem permanece unido a Ele e vivenciando os seus ensinamentos.

Se fosse hoje, talvez Jesus iria dizer: “A minha palavra é a senha para lhes manter conectados” Nesta comparação diríamos que os cristãos do nosso tempo são os aplicativos e os dispositivos móveis, Deus Pai é a grande rede de armazenamento e com possibilidade de navegação em tempo real e nas velocidades compatíveis com a memória de cada dispositivo. A Palavra de Jesus vivenciada e os seus ensinamentos colocados em prática formam a senha de uma rede solidária e de comunhão capazes de transformar todas as relações interpessoais.

Em nenhum momento Jesus, como Palavra encarnada do Pai e por Ele cuidada deixou de produzir os efeitos e cumprir a função para a qual foi enviado. Tal como Jesus, os seus discípulos e agora a comunidade cristã é convidada a permanecer conectada e a eliminar todos os ruídos e dificuldades que manchem a vivência cristã, e a construção da sinodalidade e da solidariedade. Não perceber ou fazer de conta que não precisamos da senha que Jesus nos deixou significa produzir e disseminar fake News, ou seja, transformar a nossa vida em um ambiente que em lugar de produzir e compartilhar bons frutos produzimos e compartilhamos egoísmo, divisão, discórdia, fofoca, e por aí afora.

A primeira leitura nos mostra como deve ser uma autêntica conexão com Deus Pai por meio de Jesus. O texto começa apresentando alguns cristãos que se achavam melhor que os outros e que cultivaram o medo e a restrição para acolher Saulo. Barnabé, porém, lhes abre a mente e os corações e faz perceber como Saulo, apesar de toda as resistências que lhe eram apresentadas só tinha a somar no seio da comunidade. A acolhida de Paulo mostra como aceitar Jesus implica também ser uma casa de portas abertas, um espaço onde todos têm lugar para fazer acontecer o encontro com Jesus ressuscitado.

E o autor da segunda carta começa com uma advertência que não podemos relativizar: “Filhinhos, não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade! Aí está o critério para saber que somos da verdade e para sossegar diante dele o nosso coração”

Nos reunimos em assembleia precisamente para aprender com a Palavra, pela Oração e na Partilha eucarística a realizar gestos concretos de amor aos irmãos e a Deus Pai permanecendo conectados com Jesus.

 

 

 

quinta-feira, 18 de abril de 2024

HOMILIA PARA O DIA 21 DE ABRIL DE 2024 - 4º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B

 

O SENHOR FAZ MARAVILHAS AOS NOSSOS OLHOS

O brasileiro sempre tem explicações muito distintas para uma mesma realidade e isso tem a ver também com o sentido que se dá a determinadas expressões. Por exemplo, quando falamos a palavra “BOM” podemos nos referir ao paladar e a certos pratos apresentados para as refeições; usamos também para qualificar uma peça de roupa que cai no gosto das pessoas; é Bom também um determinado objeto que se compra ou vende. Bom é também um professor, um advogado, um trabalhador braçal, um pai, uma mãe e assim por diante.

Pois no Evangelho desse domingo Jesus se intitula “Bom pastor”. Ora, quais sentidos podemos dar a esta expressão de acordo com a riqueza do nosso idioma? Certamente podemos dizer que a expressão signifique: “Modelo de pastor, ideal de pastor, pessoa comprometida com a causa, sujeito que veste a camisa, aquele que não tem medo de enfrentar as adversidades da profissão” e assim por diante.

O evangelista que põe na boca de Jesus a expressão Bom pastor e mercenário para os maus pastores buscou o sentido da expressão no profeta Ezequiel que havia dado uma chamada de atenção nos líderes judaicos do seu tempo dizendo: “Vocês foram maus pastores, não cuidaram do rebanho, Deus mesmo vai retirar as responsabilidades que lhes havia confiado e via assumir o cuidado do seu povo”.

E agora Jesus se apresenta exatamente como aquele que veio para assumir o lugar dos outros que não haviam “vestido a camisa” quando se tratava de cuidar do rebanho, e não somente do rebanho que estava seguro: “Eu conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem... Tenho ainda outras ovelhas que não são deste rebanho, também a elas devo procurar e cuidar. Eu sou o Bom Pastor”.

É com base nesta afirmação que Pedro vai recuperar o que rezamos no Salmo: “Ele é a pedra que os pedreiros rejeitaram e que se tornou agora a pedra principal, pelo Senhor é que foi feito tudo isso e é obra admirável aos nossos olhos”.

E o autor da segunda leitura afirma que Deus age como aquele que cuida porque nos tem como filhos e filhas, sua preocupação está centrada em nos ajudar a superar todas as fragilidades e debilidades de um rebanho que nem sempre se cuidou e nem tampouco foi cuidado como deveria.

Como tarefa para e responsabilidade de cristãos, seguidores de Jesus todos somos convidados a participar da mesma missão de Jesus que consiste em dar a vida por suas ovelhas e ir ao encontro daquelas que estão perdidas, desgarradas. Somos convidados a ultrapassar as fronteiras do rebanho e independente da situação de cada pessoa trabalhar para que se forme um só rebanho e um só pastor. E para que isto aconteça não devemos desperdiçar nenhuma das pequenas oportunidades para acolher, incluir e fazer caminhar juntos. Nada nem ninguém deve nos impedir de caminhar juntos!

 

 

 

sexta-feira, 5 de abril de 2024

HOMILIA PARA O DIA 14 DE ABRIL DE 2024 -3º DOMINO DA PÁSCOA - ANO B

 

VOCÊS SERÃO TESTEMUNHAS DE TUDO ISSO!

Dentre as sensações que gostamos de sentir, uma delas é a consciência tranquila e frequentemente dizemos: O melhor travesseiro é uma consciência limpa! Pois o salmo que rezamos hoje nos coloca uma condição fundamental “Eu tranquilo vou deitar-me e na paz logo adormeço, pois só vós, ó Senhor Deus, dais segurança à minha vida”!

E a segurança que Deus nos dá passa pelo reconhecimento de quem é Jesus: “Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos”. Na primeira leitura Pedro garante que Jesus está vivo e continua a oferecer-se para todos os que o acolhem. Tanto para os que tramaram a morte de Jesus, como para a sociedade contemporânea Jesus Cristo continua sendo a presença amorosa e misericordiosa de Deus que abre sempre portas e possibilidade para a reconciliação. Jesus não é uma figura do passado. Ele continua vivo e presente nos caminhos do mundo.  Cabe a nós, por nosso estilo de vida facilitar que as pessoas percebam, descubram e façam também eles a experiência do encontro vivo com Jesus vivo!

Na segunda leitura o autor insiste que o encontro com Jesus supõe a capacidade de viver de forma coerente as propostas que Ele apresentou. Apesar dos pecados e fragilidades de cada pessoa somos sempre desafiados a viver os mandamentos de Deus. Em resumo, a possibilidade de viver a comunhão com Deus implica viver a comunhão com as pessoas. Um cristão que gasta todo o seu tempo em muitas rezas e solenes liturgias, mas não tem compaixão das pessoas feridas e abandonas nas estradas da vida, este não entendeu nada sobre o Deus que Jesus revelou com sua vida.

No Evangelho Lucas conta mais uma aparição de Jesus, não faz isso com o objetivo de relatar um fato extraordinário, mas com a finalidade de mostrar como é extraordinária a experiência do encontro com Jesus e deixa claro que o lugar para isso é a comunidade. Naturalmente o reconhecimento do ressuscitado exige um caminho penoso e carregado de dúvidas e incertezas, mas se trata de percorrer com a mente e o coração abertos. Tanto os discípulos de ontem como os cristãos de hoje são convidados a percorrer o mesmo caminho. Tanto para os discípulos de outrora como para cada um de nós é importante ter claro que a iniciativa é sempre d’Ele e que continua sendo o mesmo Jesus que trilhou com os discípulos os caminhos da Palestina de outrora.

O Evangelho se conclui com uma tarefa que se perpetua até hoje: “O Cristo sofrerá
e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, e no seu nome, serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém'. Vós sereis testemunhas de tudo isso".

 

 

 

HOMILIA PARA O DIA 07 DE ABRIL DE 2024 - 2º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B

 

FELIZES AQUELES QUE ACREDITAM

Na oração inicial deste domingo o padre nos convida a rezar com as seguintes palavras: “Aumentai a graça que nos destes, para que todos compreendam melhor o batismo que nos lavou, o Espírito que nos deu vida nova e o sangue que nos resgatou”.

Esta afirmação tem por objetivo nos ajudar a perceber que os cinquenta dias depois do domingo da páscoa é a oportunidade para fundamentar tudo o que acreditamos colocando Jesus como centro de nossas vidas. A páscoa é um convite para construir valores de comunhão, de fraternidade, de sinodalidade. O tempo é para relativizar os caprichos e vontades pessoais e seguindo o exemplo dos discípulos moldar nossas vidas na vida de Jesus.

Os desafios contemporâneos não são menores que aqueles vivido pelas comunidades primitivas. Mas todos somos desafiados a incluir e construir a paz, a diminuir as desigualdades e fazer triunfar a justiça.

A páscoa nos ensina a esperança e alegria de quem reconhece no testemunho da tantos homens e mulheres que ao longo do tempo compreenderam e viveram a fé que depositavam na pessoa de Jesus Cristo.

O texto dos Atos dos Apóstolos, escrito cerca de 50 anos depois da morte de Jesus, já encontrava comunidade desanimadas e pouco afeitas ao estilo de vida daqueles que conviveram com Jesus. Nesse contexto o autor do livro dos Atos dos apóstolos recorda um modelo de comunidade do início do cristianismo e conclui: “e não havia necessitados entre eles”. Em resumo a proposta de Jesus não foi para os primeiros cristãos uma “conversa de buteco”, mas a instalação de novo estilo de vida comprometendo uns com os outros um amor que partilha e que é solidário.

A carta de João afirma que aquele ama a Deus e aceita Jesus Cristo faz de sua vida um serviço de comunhão e fraternidade afinal todos somos irmãos.

No Evangelho mais uma vez Jesus aparece como o centro da comunidade e somente quem o reconhece, ainda que não o tenha visto fisicamente, tem coragem para enfrentar todas as dificuldades que a vida lhe apresenta. E não há outra forma de ver Jesus se não na prática de caminhar juntos.

De toda forma a proposta do Evangelho é para os que estão na comunidade e para os que estão fora. Todos chamados a inclusão e acolhida. Uns e outros são desafiados e acreditar no testemunho e na palavra: “Felizes os que creram sem ter visto”!