terça-feira, 25 de junho de 2024

HOMILIA PARA O DIA 30 DE JUNHO DE 2024 - SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO - ANO B

 

ENRAIZADOS NO AMOR DE DEUS

A última oração da missa deste domingo pede que tenhamos a graça de viver “enraizados no amor de Deus”. Essa expressão não necessitada de explicações, mas ela pode ser alargada com diversos outros adjetivos: sustentados, firmados, ancorados, fixados, estruturados, conectados. Pois é este o testemunho que nos dão Pedro e Paulo e mais uma lista infinita de pessoas que viveram a experiência da amizade com Deus e os irmãos ao longo da sua vida terrena.

Na Segunda leitura Paulo descreve o seu sofrimento e a convicção do dever cumprido e da recompensa que receberá por sua fidelidade e coragem. Ao mesmo tempo o Apóstolo tem a convicção que os seus méritos são extensivos a todos os que imitarem seus exemplos: Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa”.

Por sua vez o texto dos Atos dos Apóstolos, apresenta as provações iniciais experimentadas pela Igreja nascente e personificada nas pessoas de Pedro e Paulo. Não ter medo das dificuldades que a vida e o contexto em que se vive nos proporciona é uma maneira de experimentar também o amor e o cuidado de Deus: “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar” Rezemos também nós confiantes que Deus não se cansa de estender sua mão quando as correntes do medo e da intolerância nos aprisionam e dificultam a tarefa de testemunhar o Evangelho. Não tenhamos medo: “De todos os temores nos livrou o Senhor Deus”!

O Evangelho pode ser lido sob dois aspectos. O primeiro é ter a coragem de responder sem rodeios quem é Jesus Cristo para nós. Essa reposta, como disse o Papa João Paulo II, na sua primeira visita ao Brasil em 1980: “A resposta a essa pergunta já mudou a vida de muita gente e pode mudar também a sua! ”. O segundo aspecto é não ter medo: Jesus lhe disse: "Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus".

Neste contexto homens e mulheres viveram a experiência de fidelidade a Jesus Cristo ao longo do tempo. Pedro e Paulo são reconhecidos como colunas que sustentam a Igreja na sua longa e difícil travessia pelas estradas da vida. Os Papas são sinais visíveis da unidade e da comunhão da Igreja. Francisco como um Papa que veio do fim do mundo nos desafia a renovar a Igreja construindo pontes de comunhão e estradas de sinodalidade: “Sonho com uma Igreja missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes da Igreja, os modos de fazer as coisas, os tempos e horários, a linguagem e as estruturas sejam evangelizadoras do mundo de hoje. Que a Igreja seja um lugar onde todos possam estar sentados na Ceia do Cordeiro e viver a comunhão com Ele. Abandonemos as polêmicas para ouvirmos o que o Espírito diz a Igreja, mantenhamos a comunhão”. E noutra declaração “Precisamos construir uma Igreja onde caibam todos”

Ouçamos o que o Espírito diz para a Igreja e aprendamos e rezemos pelo Papa abraçando as inciativas de inclusão já iniciadas por São Paulo: “Fiz-me tudo para com todos a fim de ganhar alguns a qualquer custo” (1Cor 9,22).

 

quarta-feira, 12 de junho de 2024

HOMILIA PARA O DIA 16 DE JUNHO DE 2024 - 11º DOMINGO COMUM - ANO B

 

NO REINO NÃO TEM LUGAR PARA O MEDO

A palavra de Deus deste domingo nos lança o desafio a não ter medo do medo, pelo contrário nos chama a confiar em Deus, mesmo diante das mais absurdas situações sempre há uma esperança, é assim que podemos ver o Reinado de Deus ir pouco a pouco se concretizando.

Para o crescimento do Reino de deus não é necessário grande aparato, ou estardalhaço. Jesus faz duas comparações relativas ao trabalho do agricultor. Mesmo sem ser reconhecido ele joga a semente na terra que por sua vez se encarrega de fazer germinar e crescer a planta e produzir fruto. Tal como o semeador, todo discípulo de Jesus é desafiado a fazer a mesma coisa.

Mesmo quando as contrariedades parecem se avolumar o convite é não se deixar amedrontar, o bem sempre aparece, vai ampliando horizontes e fazendo perceber a presença de Deus trazendo um novo dinamismo como uma dádiva de Deus para a humanidade. Deus atua sempre independente das circunstâncias e nada irá frustrar que o trabalho produza frutos. Não se trata de forçar o tempo e a dinâmica da semente, ambos têm seu próprio desenvolvimento e na hora oportuna será possível ver e colher os resultados.

Seja o anuncio do Reino feito outrora por Jesus e seus discípulos, seja aquele realizado ao longo do tempo por seus seguidores e na atualidade por todos os que se dispõe seguir o ensinamento do mestre, nenhuma fragilidade vai impedir a irresistível força do Reino de Deus. O texto do Evangelho é mais uma vez um desafio de paciência, confiança, coragem. Não tenhamos medo o dinamismo de Deus sempre encontra caminhos para realizar seu projeto de amor e salvação da obra criada.

Esta ideia foi apresentada também pelo profeta Ezequiel na primeira leitura, apesar das voltas que a história deu, aqueles que em Deus confiam não devem desistir, Deus nunca deixou ninguém à margem da história e continua a oferecer um futuro de paz e de justiça. A primeira leitura é também uma mensagem de esperança e só Deus é o Senhor da História.

Por isso nós rezamos no Salmo:

Mesmo no tempo da velhice darão frutos, *
cheios de seiva e de folhas verdejantes;

e dirão: "É justo mesmo o Senhor Deus: *
meu Rochedo, não existe nele o mal!"

 

São Paulo nos garante que toda a nossa vida terrena não é outra coisa senão uma caminhada na sombra das asas de Deus: “Estamos sempre cheios de confiança e bem lembrados de que, enquanto moramos no corpo, somos peregrinos longe do Senhor; pois caminhamos na fé e não na visão clara”. Tal como a semente plantada que a seu tempo produz fruto, um dia todos nos sentaremos à mesa na casa de Deus, essa é a certeza que deve orientar nossa vida.

quinta-feira, 6 de junho de 2024

HOMILIA PARA O DIA 09 DE JUNHO DE 2024 - 10º DOMINGO COMUM - ANO B

 

QUEM É QUEM DIANTE DE DEUS E DO MUNDO

A Palavra de Deus proclamada na liturgia deste domingo tem por objetivo responder duas perguntas. Com quem a pessoa se relaciona e a quem ela obedece. No Evangelho mais uma vez as autoridades dos judeus tentam desmoralizar Jesus, desta vez relacionando a sua pessoa com o príncipe dos demônios. Esta atitude farisaica em nada se diferencia das práticas contemporâneas, quando alguém ou algum grupo que desacreditar uma pessoa procura sempre atacar sua integridade pessoal e moral, silencia as boas obras e fortalece os defeitos.

Os textos do Evangelho de Marcos que estamos ouvindo nos domingos deste ano estão centrados sobre duas ideais fundamentais o Reino e o discipulado. O evangelista deixa claro que as ações de Jesus em nada se comparam com as autoridades mundanas. Pelo contrário, enquanto as autoridades humanas se sustentam sobre a autoridade, o poder e a força, Jesus mostra que sua ação é pautada pelo amor e pela obediência à vontade de Deus. E esse convite ele faz a todos os que aceitam ser seus discípulos e seguidores. Quando lhe dizem: “Sua mãe e seus irmãos estão ali fora e querem lhe ver” ele não os desqualifica como parentes de sangue, mas estende o parentesco para todos os que agem como Ele e como sua mãe: olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe". Ao contrário de ideias mágicas sobre a religião, Jesus apresenta seu projeto criando laços de amizade e fraternidade, em outras palavras construindo uma verdadeira e única família que é sinal da presença do Reino de Deus no meio de todos.

Quando ele é chamado como Novo Adão fica claro que entre Jesus e a primeira criatura humana existe uma diferença simples, mas fundamental. Adão se fez de surdo e não soube explicar quem ele era e onde estava. Procurou desculpas e subterfúgios atribuindo a Eva o seu pecado e desobediência. Enquanto Jesus se confirma obediente e convida todos a ter as mesmas atitudes.  Em resumo para fazer parte do Reino de Deus somos chamados a permanecer alertas quando se trata das tentações que o mundo oferece.

Tentações que na segunda leitura Paulo chama de tribulações e sofrimentos as quais ofuscam e diminuem o ardor missionário. Paulo, se autodeclarando discípulo de Jesus deixa também claro que a fé na pessoa e ressurreição de Jesus é a condição para superar todas as dificuldades terrenas. Nossa vida precisa ter dois eixos: comunhão com Jesus e com as pessoas é assim que rezamos na oração da missa: “Fazei-nos pensar o que é reto e realizá-lo com vossa ajuda”.

 

 

 

sábado, 1 de junho de 2024

HOMILIA PARA O DIA 02 DE JUNHO DE 2024 - 9º DOMINGO COMUM - ANO B

 

CULTIVAR A SOLIDARIEDADE E A COMUNHÃO

Nesta semana a Igreja no Brasil inteiro celebrou a solenidade de Corpus Christi. Paralelo com a arte e a criatividade na confecção dos tapetes foram inúmeras as iniciativas de solidariedade e de partilha sugeridas para completar a adoração que fazemos a Jesus presente na Eucaristia. Na mesma direção, são inúmeras as iniciativas de diferentes religiões e instituições que promovem campanhas de partilha e corresponsabilidade. A Palavra de Deus nos mostra como esses gestos fazem parte das características e do jeito de ser de Deus!

A primeira leitura destaca a necessidade de um dia dedicado ao Senhor, o qual é também um dia de cuidado para consigo mesmo, com a obra criada e obviamente com todas as pessoas. Ao fazer a recordação da condição em que viveram os antepassados o autor do livro deixa claro que a mão de Deus sempre os acompanhou: “Lembra-te de que foste escravo no Egito e que de lá o Senhor teu Deus te fez sair com mão forte e braço estendido. É por isso que o Senhor teu Deus te mandou guardar o sábado”.

A solidariedade, a partilha e o comprometimento com os sofrimentos das pessoas é o remédio capaz de curar todas as formas de humilhação e exclusão. No Evangelho Jesus desmistifica o rigorismo da lei de Moisés aplicada pelas autoridades do seu tempo e confirma a supremacia da pessoa diante da lei, das necessidades e sofrimentos. Ele justifica a colheita de espigas para matar a fome e cura o homem que estava sendo humilhado pela exclusão mais do que pela doença: “E perguntou-lhes: 'É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?' Mas eles nada disseram. Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao homem: 'Estende a mão'. Ele a estendeu e a mão ficou curada”.

Apesar das inúmeras oportunidades de acolhimento, partilha e solidariedade sempre estamos sujeitos a nos fechar em nossas verdades, nossos costumes e sobretudo na mania de perfeição  e sobre isso nos recorda São Paulo: “Somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angústia; postos entre os maiores apuros, mas sem perder a esperança; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados; por toda parte e sempre levamos em nós mesmos os sofrimentos mortais de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifestada em nossos corpos”.

Então, celebremos cada dia como uma boa oportunidade para fazer o bem: adorar a Deus participando das celebrações, descansar e fortalecer os laços de amizade e família. Lembremos que o centro da obra de Deus é o ser humano, criado à Sua imagem e semelhança. Por isso, Jesus disse ao homem da mão seca: “Venha para o meio” (Mc 3,3) e o curou. Jesus está a serviço da vida.


quarta-feira, 22 de maio de 2024

HOMILIA PARA O DIA 26 DE MAIO DE 2024 - DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE - ANO B

 


TRINDADE, COMUNIDADE DE AMOR

A Trindade, perfeita comunidade de amor, serve como modelo para todos os seguidores de Jesus, que são chamados a formar comunidades acolhedoras, onde se vive o amor fraterno e a sinodalidade. A caminhada conjunta do povo de Deus, reflete a unidade e a comunhão da Trindade.

O texto do Deuteronômio apresenta Deus que vai ao encontro das pessoas, falando de uma maneira que elas podem entender, apontando caminhos seguros nos quais Ele mesmo intervém quando aqueles que Ele ama se sentem ameaçados e inseguros nas travessias: “Existe, porventura, algum povo que tenha ouvido a voz de Deus falando-lhe do meio do fogo, ou terá jamais algum Deus vindo escolher para si um povo entre as nações, por meio de provações, de sinais e prodígios, por meio de combates, com mão forte e braço estendido, e por meio de grandes terrores, como tudo o que por ti o Senhor vosso Deus fez. Reconhece, pois, hoje, e grava-o em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima do céu e cá embaixo na terra, e que não há outro além dele”.

É importante que nos perguntemos sobre nossa relação com Deus. Compreendemos e recorremos a Ele como um Deus amoroso e sensível ao nosso cotidiano e às nossas fraquezas, ou cultivamos a imagem de um Deus intolerante, duro e insensível, sempre disposto a castigar e vingar sem piedade os deslizes humanos? Celebrar a Santíssima Trindade implica um convite para descobrir o verdadeiro rosto de Deus, um Deus que caminha conosco sinodalmente, compartilhando nossa jornada e nos guiando com amor.

São Paulo escreve aos Romanos: “Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. De fato, vós não recebestes um espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, no qual todos nós clamamos: Abá - ó Pai”. Estas palavras confirmam que o Deus em quem acreditamos não é alguém que vê de longe e com indiferença os dramas e sofrimentos humanos, mas acompanha com paixão a caminhada da humanidade.

No Evangelho, Jesus esclarece a vinculação das pessoas com a Santíssima Trindade: “Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”. Este mandato reflete a essência da sinodalidade, uma Igreja que caminha junto, em comunidade, compartilhando a missão de anunciar o Evangelho.

 

Jesus envia os discípulos, e a nós hoje, com a missão de fazer discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O batismo, que insere os filhos e filhas de Deus na comunidade cristã, realizado em nome da Trindade santa, recorda a cada cristão que a unidade de amor existente em Deus é um ideal a ser buscado aqui na terra. Essa unidade é vivida na caminhada sinodal, onde todos participam ativamente da missão da Igreja.

Ao celebrarmos a Trindade, celebramos a perfeita comunhão de amor de Deus e nossa própria missão de batizados. Marcados no batismo pelo selo do amor divino, somos chamados a vivenciar em comunidade esse amor, acolhendo todos, especialmente os esquecidos e abandonados.

A sinodalidade nos convida a participar dessa dinâmica divina do amor, onde nossa missão é vivida em comunidade, construindo relações transformadas pelo amor infinito da Trindade. Não há outro caminho para entrar na misteriosa dinâmica do amor de Deus, senão através da nossa caminhada conjunta, onde cada um contribui para a edificação do Corpo de Cristo na unidade e no amor.

quarta-feira, 15 de maio de 2024

HOMILIA PARA O DIA 19 DE MAIO DE 2024 - DOMINGO DE PENTECOSTES - ANO B

 

VEM ESPÍRITO SANTO DE AMOR

 

Certamente, para a maioria de nós, o avanço das tecnologias e a facilidade da inteligência artificial é um marco no que se refere ao domínio e alcance do conhecimento. Sentimos, sem dúvida, o poder de nos conectar com o mundo. Os avanços da tecnologia e da ciência parecem estar em nossas mãos. Temos a sensação de ter todas as respostas ao nosso alcance. O desejo de compreender e ser compreendido é latente ao mesmo tempo somos acometidos de medo e incertezas. Tal como os seguidores de Jesus sentimos grande entusiasmo diante de toda a novidade, mas ao mesmo tempo inseguros com tudo o que acontece ao nosso redor situações para as quais não temos explicações e justificativas.

Numa análise livre das limitações desta comparação, podemos refletir sobre a celebração de Pentecostes. Hoje, celebramos o dom do Espírito Santo, que representa a abertura da Igreja a todas as nações. Por meio deste dom inefável, Deus fez com que a Palavra do Filho alcançasse todas as nações conhecidas de outrora.

Na Igreja de hoje, pedimos também que o mesmo Espírito Santo abra os nossos corações para a unidade na diversidade. Oramos para que o Espírito Santo nos transforme e transforme o mundo. Que, mais uma vez, pela Sua graça, a solidariedade, a justiça e todo bem prevaleçam.

Nas Escrituras, o Espírito de Deus é comparado ao sopro de Jesus sobre os apóstolos, com o objetivo de conceder-lhes o poder de levar o perdão e uma nova vida a todos. Na primeira leitura, podemos aprender com o povo da primeira aliança, lá a incapacidade de compreender os caminhos de Deus resultou na construção da Torre de Babel, levando à confusão de línguas e nações. No entanto, com o Pentecostes, pessoas de todas as raças e línguas se compreendem, dando origem à Igreja, aberta e ecumênica capaz de caminhar juntos.

São Paulo, na segunda leitura, confirma a promessa feita por Jesus: o Espírito Santo é o advogado que revela a presença de Jesus no mundo, não necessariamente de forma física, mas real por meio da Sua palavra e, sobretudo, pela vivência dos Seus ensinamentos.

Em nossas celebrações, é comum entoarmos um cântico litúrgico que expressa: 'No povo renasce a confiança, ó Espírito Santo de Deus.' Desde Unidos como irmãos, suplicamos para que o extraordinário acontecimento de Pentecostes se repita em nossa sociedade hoje. Que através de nossas palavras e testemunho de vida, a verdadeira comunhão se estabeleça em todos os lugares. Que a unidade da Eucaristia e da Palavra se manifeste em nossas igrejas, famílias, sociedades e em nossa relação com toda a criação.

Assim como os cristãos de outrora, nós, os cristãos contemporâneos, vivemos em um mundo tumultuado, marcado pela violência e arrogância, e todos temos a missão de proclamar e construir a paz. Precisamos de pessoas capazes de promover a alegria, o dinamismo, o perdão, e semear esperança diante dos desafios do mundo atual.

Que o Espírito Santo nos capacite a ser promotores de uma vida cada vez mais humana e de melhor qualidade para todos, em todos os lugares. Este pedido é repetido em diferentes momentos de nossas celebrações, especialmente na oração Eucarística, quando o sacerdote diz: 'Ao comungarmos o corpo e o sangue do Vosso Filho, que sejamos repletos do Espírito Santo e nos tornemos um só corpo e um só Espírito.'


Parte superior do formulário

Que o perdão dos pecados prometido por Jesus signifique a tarefa de todos empenhados na organização de uma sociedade fraterna, responsável, justa e cuidadora de todos e da Casa Comum.

quinta-feira, 9 de maio de 2024

HOMILIA PARA O DIA 12 DE MAIO DE 2024 - ASCENÇAÕ DO SENHOR - ANO B

 

TODOS CONTINUADORES DA MISSÃO DE JESUS

A Igreja celebra nesse domingo a Ascenção de Jesus ao céu. A Palavra de Deus neste domingo mais do que relatar o distanciamento físico de Jesus do grupo dos discípulos, tem por objetivo lhes indicar a missão e a responsabilidade que lhes cabe depois de o terem conhecido e com ele partilhado a experiência de fazer a vontade do Pai. Na mesma medida para nós cristãos, celebrar a Ascenção significa visualizar a meta da nossa vida na condição de continuadores da tarefa que Jesus confiou aos discípulos.

Somos todos missionários da boa noticia de Jesus, na caminhada da vida continuamos encontrando Jesus nas pessoas com quem convivemos e tal como ele somos desafiados a diminuir o sofrimento daqueles que experimentam na sua própria carne as duras realidades contemporâneas. Somos chamados a ser sinais de esperança dando continuidade à ação de Jesus.

Nossa tarefa é facilitada por muitos recursos modernos de comunicação e compartilhamento de saber e de informação. Dentre eles nos recorda o Papa Francisco, podemos contar com a colaboração da Inteligência Artificial. Na Mensagem para o dia mundial das comunicações sociais Francisco escreveu: “Os sistemas de inteligência artificial podem contribuir para o processo de libertação da ignorância e facilitar a troca de informações entre diferentes povos e gerações. Por exemplo, podem tornar acessível e compreensível um patrimônio enorme de conhecimentos, escrito em épocas passadas, ou permitir às pessoas comunicarem em línguas que lhes são desconhecidas”. Para que os recursos da tecnologia cumpram o seu papel todos somos convidados a manter um “coração incorruptível em relação a tudo o que ferir a dignidade da pessoa”.

Tal como os discípulos também nós fomos formados na “escola” de Jesus e temos como missão levar sua palavra para todas as criaturas, por sua vez, Ele nos acompanha e nos mostra o caminho.

A conversa de despedida que Jesus faz com seus discípulos se dá ao redor de uma mesa, que sugere também para nós participantes da mesa da Eucaristia reconhecer a missão e o tipo de vida que devemos transmitir ao mundo pela palavra e pelo testemunho. Quem abraçar esta causa fará coisas extraordinárias: expulsarão demônios, falarão novas línguas, por suas mãos os doentes serão curados. Estas realizações maravilhosas poderiam ser ditas em outras palavras: Na condição de missionários dos novos tempos os cristãos serão uma presença de paz e de entendimento, sinais de esperança e de vida nova, e ninguém precisa ter medo porque o Senhor mesmo estará nos acompanhando: “Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam”.

De modo que podemos tomar para nós as palavras ditas aos apóstolos pelo autor da primeira leitura: “Apareceram então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: "Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu".

sexta-feira, 3 de maio de 2024

HOMILIA PARA O DIA 05 DE MAIO DE 2024 - 6º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B

 

SOMOS GENTE TRANSFORMADA PELO AMOR

A palavra AMOR é uma das mais faladas e cantadas em todos os estilos de música e poesia. No repertório sertanejo uma delas tem a seguinte letra:

Só o amor vale tudo na vida Só o amor é a inspiração Sem amor a esperança é perdida Por amor escrevi esta canção.

As três leituras deste domingo nos colocam diante de uma peça de amor cujo tecelão é Deus nele tudo começa e nele tudo tem sua culminância. Essa manifestação é tão extraordinária que se concretiza na entrega do seu Filho e que mostrou por gestos e palavras o amor de Deus levado ao extremo, nele toda a humanidade é sempre renovada e transformada em gente nova e repetidamente enviada a multiplicar a experiência de amor que Deus nos revela em Jesus Cristo.

Essa verdade está muito clara no texto da segunda leitura quando afirma: Porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor”. E o amor de Deus pela humanidade não é uma troca de favores, ele nos ama de modo gratuito, desinteressado, nos ama apesar das nossas escolhas, da nossa indiferença, das nossas revoltas. Obviamente, que diante de uma tão grandiosa manifestação da parte de Deus não nos resta outra coisa que não seja amar as pessoas segundo os mesmos critérios, porque todo aquele que ama conhece a Deus!

Uma das primeiras exigências que precisamos fazer a nós mesmos consiste em compreender e superar os limites que costumamos colocar para amar alguém. Em outras palavras, o amor que Deus nos implica numa mudança dos nossos esquemas mentais e organizacionais. Facilmente amamos aqueles que nos retribuem, aqueles que constam dos nossos registros e círculos de relacionamento, que pertencem ao nosso clube, ao nosso movimento, a nossa paróquia e assim por diante.

Na condição de filhos somos provocados a praticar gestos desinteressados de cuidado, de solidariedade que abra portas e permita caminhar juntos. Não basta manifestar nosso amor dentro da sacristia e nas nossas igrejas, não basta cabeça inclinada olhando para o céu, não basta ter amor pelas coisas da religião e não perceber os pobres, os sofredores, os que não pensam como nós. Ser filho de Deus implica compreender o que significa: Somos todos irmãos!

O que o autor da segunda leitura nos propõe não é outra coisa senão as palavras de despedida que Jesus dirige aos discípulos no Evangelho: “amem-se como eu os amei”! Isto significa gente que sai ao encontro que abre portas só assim poderemos produzir frutos como quem permanece conectado com Jesus. Deve ficar clara uma verdade: amar como Jesus implica lutar contra as forças que produzem dor, sofrimento e morte e ter a certeza que nessas ocasiões Jesus caminha ao nosso lado.

Um dos gestos concretos que podemos aprender com os discípulos está no discurso de Pedro na primeira leitura: “Pedro tomou a palavra e disse: De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença".

 

 Em resumo, “só o amor vale tudo na vida”!

quinta-feira, 25 de abril de 2024

HOMILIA PARA O DIA 28 DE ABRIL DE 2024 - 5º DOMINGO DA PÁSCOA ANO B

 

EM JESUS CONECTADOS COM O PAI

O texto do Evangelho deste domingo é apresentado pelos estudiosos como parte do discurso de despedida. Provavelmente Jesus disse estas palavras no contexto da última ceia, quando deu também outras orientações sobre as atitudes necessárias que os discípulos deveriam manter depois que não estivessem mais na sua presença física.

Jesus se compara a videira e aos ramos planta e estilo de vida bem familiar às comunidades do seu tempo. Nesta figura de linguagem mostra o resultado de quem permanece unido a Ele e vivenciando os seus ensinamentos.

Se fosse hoje, talvez Jesus iria dizer: “A minha palavra é a senha para lhes manter conectados” Nesta comparação diríamos que os cristãos do nosso tempo são os aplicativos e os dispositivos móveis, Deus Pai é a grande rede de armazenamento e com possibilidade de navegação em tempo real e nas velocidades compatíveis com a memória de cada dispositivo. A Palavra de Jesus vivenciada e os seus ensinamentos colocados em prática formam a senha de uma rede solidária e de comunhão capazes de transformar todas as relações interpessoais.

Em nenhum momento Jesus, como Palavra encarnada do Pai e por Ele cuidada deixou de produzir os efeitos e cumprir a função para a qual foi enviado. Tal como Jesus, os seus discípulos e agora a comunidade cristã é convidada a permanecer conectada e a eliminar todos os ruídos e dificuldades que manchem a vivência cristã, e a construção da sinodalidade e da solidariedade. Não perceber ou fazer de conta que não precisamos da senha que Jesus nos deixou significa produzir e disseminar fake News, ou seja, transformar a nossa vida em um ambiente que em lugar de produzir e compartilhar bons frutos produzimos e compartilhamos egoísmo, divisão, discórdia, fofoca, e por aí afora.

A primeira leitura nos mostra como deve ser uma autêntica conexão com Deus Pai por meio de Jesus. O texto começa apresentando alguns cristãos que se achavam melhor que os outros e que cultivaram o medo e a restrição para acolher Saulo. Barnabé, porém, lhes abre a mente e os corações e faz perceber como Saulo, apesar de toda as resistências que lhe eram apresentadas só tinha a somar no seio da comunidade. A acolhida de Paulo mostra como aceitar Jesus implica também ser uma casa de portas abertas, um espaço onde todos têm lugar para fazer acontecer o encontro com Jesus ressuscitado.

E o autor da segunda carta começa com uma advertência que não podemos relativizar: “Filhinhos, não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade! Aí está o critério para saber que somos da verdade e para sossegar diante dele o nosso coração”

Nos reunimos em assembleia precisamente para aprender com a Palavra, pela Oração e na Partilha eucarística a realizar gestos concretos de amor aos irmãos e a Deus Pai permanecendo conectados com Jesus.

 

 

 

quinta-feira, 18 de abril de 2024

HOMILIA PARA O DIA 21 DE ABRIL DE 2024 - 4º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B

 

O SENHOR FAZ MARAVILHAS AOS NOSSOS OLHOS

O brasileiro sempre tem explicações muito distintas para uma mesma realidade e isso tem a ver também com o sentido que se dá a determinadas expressões. Por exemplo, quando falamos a palavra “BOM” podemos nos referir ao paladar e a certos pratos apresentados para as refeições; usamos também para qualificar uma peça de roupa que cai no gosto das pessoas; é Bom também um determinado objeto que se compra ou vende. Bom é também um professor, um advogado, um trabalhador braçal, um pai, uma mãe e assim por diante.

Pois no Evangelho desse domingo Jesus se intitula “Bom pastor”. Ora, quais sentidos podemos dar a esta expressão de acordo com a riqueza do nosso idioma? Certamente podemos dizer que a expressão signifique: “Modelo de pastor, ideal de pastor, pessoa comprometida com a causa, sujeito que veste a camisa, aquele que não tem medo de enfrentar as adversidades da profissão” e assim por diante.

O evangelista que põe na boca de Jesus a expressão Bom pastor e mercenário para os maus pastores buscou o sentido da expressão no profeta Ezequiel que havia dado uma chamada de atenção nos líderes judaicos do seu tempo dizendo: “Vocês foram maus pastores, não cuidaram do rebanho, Deus mesmo vai retirar as responsabilidades que lhes havia confiado e via assumir o cuidado do seu povo”.

E agora Jesus se apresenta exatamente como aquele que veio para assumir o lugar dos outros que não haviam “vestido a camisa” quando se tratava de cuidar do rebanho, e não somente do rebanho que estava seguro: “Eu conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem... Tenho ainda outras ovelhas que não são deste rebanho, também a elas devo procurar e cuidar. Eu sou o Bom Pastor”.

É com base nesta afirmação que Pedro vai recuperar o que rezamos no Salmo: “Ele é a pedra que os pedreiros rejeitaram e que se tornou agora a pedra principal, pelo Senhor é que foi feito tudo isso e é obra admirável aos nossos olhos”.

E o autor da segunda leitura afirma que Deus age como aquele que cuida porque nos tem como filhos e filhas, sua preocupação está centrada em nos ajudar a superar todas as fragilidades e debilidades de um rebanho que nem sempre se cuidou e nem tampouco foi cuidado como deveria.

Como tarefa para e responsabilidade de cristãos, seguidores de Jesus todos somos convidados a participar da mesma missão de Jesus que consiste em dar a vida por suas ovelhas e ir ao encontro daquelas que estão perdidas, desgarradas. Somos convidados a ultrapassar as fronteiras do rebanho e independente da situação de cada pessoa trabalhar para que se forme um só rebanho e um só pastor. E para que isto aconteça não devemos desperdiçar nenhuma das pequenas oportunidades para acolher, incluir e fazer caminhar juntos. Nada nem ninguém deve nos impedir de caminhar juntos!

 

 

 

sexta-feira, 5 de abril de 2024

HOMILIA PARA O DIA 14 DE ABRIL DE 2024 -3º DOMINO DA PÁSCOA - ANO B

 

VOCÊS SERÃO TESTEMUNHAS DE TUDO ISSO!

Dentre as sensações que gostamos de sentir, uma delas é a consciência tranquila e frequentemente dizemos: O melhor travesseiro é uma consciência limpa! Pois o salmo que rezamos hoje nos coloca uma condição fundamental “Eu tranquilo vou deitar-me e na paz logo adormeço, pois só vós, ó Senhor Deus, dais segurança à minha vida”!

E a segurança que Deus nos dá passa pelo reconhecimento de quem é Jesus: “Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos”. Na primeira leitura Pedro garante que Jesus está vivo e continua a oferecer-se para todos os que o acolhem. Tanto para os que tramaram a morte de Jesus, como para a sociedade contemporânea Jesus Cristo continua sendo a presença amorosa e misericordiosa de Deus que abre sempre portas e possibilidade para a reconciliação. Jesus não é uma figura do passado. Ele continua vivo e presente nos caminhos do mundo.  Cabe a nós, por nosso estilo de vida facilitar que as pessoas percebam, descubram e façam também eles a experiência do encontro vivo com Jesus vivo!

Na segunda leitura o autor insiste que o encontro com Jesus supõe a capacidade de viver de forma coerente as propostas que Ele apresentou. Apesar dos pecados e fragilidades de cada pessoa somos sempre desafiados a viver os mandamentos de Deus. Em resumo, a possibilidade de viver a comunhão com Deus implica viver a comunhão com as pessoas. Um cristão que gasta todo o seu tempo em muitas rezas e solenes liturgias, mas não tem compaixão das pessoas feridas e abandonas nas estradas da vida, este não entendeu nada sobre o Deus que Jesus revelou com sua vida.

No Evangelho Lucas conta mais uma aparição de Jesus, não faz isso com o objetivo de relatar um fato extraordinário, mas com a finalidade de mostrar como é extraordinária a experiência do encontro com Jesus e deixa claro que o lugar para isso é a comunidade. Naturalmente o reconhecimento do ressuscitado exige um caminho penoso e carregado de dúvidas e incertezas, mas se trata de percorrer com a mente e o coração abertos. Tanto os discípulos de ontem como os cristãos de hoje são convidados a percorrer o mesmo caminho. Tanto para os discípulos de outrora como para cada um de nós é importante ter claro que a iniciativa é sempre d’Ele e que continua sendo o mesmo Jesus que trilhou com os discípulos os caminhos da Palestina de outrora.

O Evangelho se conclui com uma tarefa que se perpetua até hoje: “O Cristo sofrerá
e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, e no seu nome, serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém'. Vós sereis testemunhas de tudo isso".

 

 

 

HOMILIA PARA O DIA 07 DE ABRIL DE 2024 - 2º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B

 

FELIZES AQUELES QUE ACREDITAM

Na oração inicial deste domingo o padre nos convida a rezar com as seguintes palavras: “Aumentai a graça que nos destes, para que todos compreendam melhor o batismo que nos lavou, o Espírito que nos deu vida nova e o sangue que nos resgatou”.

Esta afirmação tem por objetivo nos ajudar a perceber que os cinquenta dias depois do domingo da páscoa é a oportunidade para fundamentar tudo o que acreditamos colocando Jesus como centro de nossas vidas. A páscoa é um convite para construir valores de comunhão, de fraternidade, de sinodalidade. O tempo é para relativizar os caprichos e vontades pessoais e seguindo o exemplo dos discípulos moldar nossas vidas na vida de Jesus.

Os desafios contemporâneos não são menores que aqueles vivido pelas comunidades primitivas. Mas todos somos desafiados a incluir e construir a paz, a diminuir as desigualdades e fazer triunfar a justiça.

A páscoa nos ensina a esperança e alegria de quem reconhece no testemunho da tantos homens e mulheres que ao longo do tempo compreenderam e viveram a fé que depositavam na pessoa de Jesus Cristo.

O texto dos Atos dos Apóstolos, escrito cerca de 50 anos depois da morte de Jesus, já encontrava comunidade desanimadas e pouco afeitas ao estilo de vida daqueles que conviveram com Jesus. Nesse contexto o autor do livro dos Atos dos apóstolos recorda um modelo de comunidade do início do cristianismo e conclui: “e não havia necessitados entre eles”. Em resumo a proposta de Jesus não foi para os primeiros cristãos uma “conversa de buteco”, mas a instalação de novo estilo de vida comprometendo uns com os outros um amor que partilha e que é solidário.

A carta de João afirma que aquele ama a Deus e aceita Jesus Cristo faz de sua vida um serviço de comunhão e fraternidade afinal todos somos irmãos.

No Evangelho mais uma vez Jesus aparece como o centro da comunidade e somente quem o reconhece, ainda que não o tenha visto fisicamente, tem coragem para enfrentar todas as dificuldades que a vida lhe apresenta. E não há outra forma de ver Jesus se não na prática de caminhar juntos.

De toda forma a proposta do Evangelho é para os que estão na comunidade e para os que estão fora. Todos chamados a inclusão e acolhida. Uns e outros são desafiados e acreditar no testemunho e na palavra: “Felizes os que creram sem ter visto”!

sexta-feira, 22 de março de 2024

HOMILIA PARA O DIA 30 DE MARÇO DE 2024 - SÁBADO SANTO - ANO B

 

RENOVAÇÃO PARA UMA VIDA NOVA

É um entendimento geral que a história das pessoas e do mundo é marcada por ciclos, e que após períodos difíceis, novas oportunidades se abrem. É com esse pensamento que os cristãos encaram o Sábado Santo, celebrando a vitória da vida sobre todas as forças da morte, desafiando as previsões mais sombrias. A celebração do Sábado Santo é uma oportunidade de fortalecer a fé da Igreja e de todas as pessoas, reconhecendo Jesus Cristo, que continua renovando todas as coisas.

As leituras e os salmos proclamados nas celebrações do Sábado Santo fazem uma retrospectiva de toda a história, desde a criação até a redenção definitiva em Jesus Cristo. A fraqueza humana levou homens e mulheres, em todos os tempos, a se desviarem de Deus e de Seu plano, uma situação que ecoa muito no mundo contemporâneo. No entanto, é certo que Deus não nos abandona.

Celebrar a Páscoa de Cristo implica compreender que a ressurreição de Jesus ocorre novamente sempre que pessoas e comunidades trabalham de forma decidida no cuidado com a vida, como salientou o Papa Francisco no documento Laudato Si: "Dessa forma, cuida-se do mundo e da qualidade de vida dos mais pobres, com um senso de solidariedade que é, ao mesmo tempo, a consciência de habitar na casa comum que Deus nos confiou. Essas ações comunitárias, quando expressam um amor que se doa, podem transformar-se em experiências espirituais intensas".

Orar no Sábado Santo, unindo as vozes de todos os fiéis, é uma maneira de reconhecer a vitória da ressurreição de Jesus e o convite continuo que é feito: trabalhar para transformar a história e o mundo. A palavra dirigida às mulheres no sepulcro ressoa para cada pessoa neste Sábado de Aleluia: "Não procurem entre os mortos aquele que está vivo".

A comunhão de fé e esperança, unindo os crentes na ressurreição de Jesus, enche as comunidades de alegria e faz com que recordem as maravilhas de Deus ao longo da história. Essa lembrança fortalece as comunidades que enfrentam todo tipo de sofrimento e dor.

 

 

 



 

HOMILIA PARA O DIA 31 DE MARÇO DE 2024 - DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B

 


PERSEVERAR NA BUSCA DO DIVINO

 

Celebrar o Domingo da Páscoa é reiterar a convicção de que condições melhores são possíveis para a vida de todos. Tanto no imaginário popular quanto no comércio, os símbolos utilizados para a Páscoa estão carregados de significado simbólico que apontam para a abundância da vida.

São João Crisóstomo, que viveu por volta do século IV d.C., observou: "Percebo que nossa assembleia está mais resplandecente hoje do que de costume, e que a Igreja de Deus exulta por causa de seus filhos".

O próximo passo para os cristãos é testemunhar com a vida e com a palavra, assim como fizeram os apóstolos ao reconhecerem o Ressuscitado, como afirmou Pedro na primeira leitura: "Nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia". Ou como enfatizou São Paulo: "Ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às terrenas".

Ao se depararem com o túmulo vazio, os amigos de Jesus perceberam que ali não havia espaço para a morte e a tristeza. Como registra o Evangelho: "João viu e acreditou... Jesus está vivo, embora ainda não tenham compreendido plenamente o significado da ressurreição dos mortos".

Assim como ontem, hoje, a ressurreição de Jesus continua sendo o evento mais extraordinário, alimentando a esperança e abrindo caminho para uma nova vida. À medida que se crê nas palavras do Evangelho, cada pessoa é convidada a celebrar a Páscoa, deixando-se transformar por essa verdade, sem medo de amar a Deus na pessoa de cada irmão e sem hesitar em proclamar com a boca aquilo que se vive com o coração.

 

HOMILIA PARA O DIA 29 DE MARÇO DE 2024 - SEXTA FEIRA DA PAIXÃO - ANO B

 

EIS O SÍMBOLO DA RENÚNCIA...

 

As vicissitudes humanas diante da inevitabilidade da morte são inúmeras. Mesmo conscientes de que a morte é uma certeza e que todos, em algum momento, a enfrentarão, ela permanece dolorosa, angustiante e muitas vezes inexplicável. Ao celebrar a morte de Jesus de forma solene, não estamos enaltecendo a morte ou a dor em si. Pelo contrário, com essa celebração, a Igreja nos convida a lembrar do seu próprio nascimento. É da abertura do lado de Cristo que surge a Igreja e os sacramentos nela instituídos.

A observância da Sexta-feira Santa, dentro da liturgia da Igreja, traz à tona o sofrimento de Cristo na cruz, destacando a ideia de que a "Páscoa de Cristo" é também a "Páscoa da Gente". Neste contexto, os fiéis não se reúnem apenas para lembrar um evento ocorrido há dois mil anos, mas para refletir sobre como o sofrimento de Cristo ecoa nos sofrimentos do povo contemporâneo.

Nesse momento, somos também instados a ter a firme determinação de não nos calarmos nem nos acovardarmos diante dos sofrimentos alheios. Celebrar o Cristo que deu sua vida por todos é uma convocação para aguardar o dia jubiloso da vinda gloriosa do Senhor, quando não haverá mais dor, sofrimento ou morte.

Celebrar devotamente a Sexta-feira Santa implica fazer escolhas significativas. Podemos adotar a postura de Pilatos, lavando as mãos diante das aflições alheias, ou seguir o exemplo de Pedro, negando qualquer conexão com o sofrimento dos outros. Também há a opção de agir como Judas, traindo aqueles que nos são próximo em momentos de necessidade. No entanto, a verdadeira essência do cristianismo se manifesta na postura do ladrão arrependido, reconhecendo sua própria fragilidade diante do divino, ou na atitude do Cirineu, que auxilia o próximo a carregar seus fardos. Podemos, ainda, nos assemelhar a Maria Madalena, Maria, a Mãe de Jesus, e outras mulheres que acompanharam Cristo até o Calvário.

Não é por acaso que foi a essas mulheres que Jesus apareceu primeiro após a ressurreição, no domingo de Páscoa. A Sexta-feira Santa nos convida a experimentar aquilo que é proclamado na carta aos Hebreus: temos um sumo sacerdote eminente em Jesus Cristo, o Filho de Deus. Portanto, devemos permanecer firmes na nossa fé.

Durante sua vida terrena, Cristo dirigiu súplicas fervorosas, com lágrimas e clamores, e foi ouvido devido à sua perseverança. Sendo divino, ele também conheceu o sofrimento, mas não se rendeu a ele, conforme expresso na sua súplica no Getsêmani. Sua resiliência o permitiu superar os desafios, as ameaças e até mesmo a morte.

A Sexta-feira Santa nos coloca diante das cruzes cotidianas e nos desafia a ser persistentes e firmes na nossa fé. É a participação de todos que assegurará a transição do Calvário para a vida renovada da Páscoa.

Reunidos nesta celebração da paixão, os cristãos têm a certeza de que a dor e a desilusão da morte revelam os mistérios da grandiosidade de Deus, convidando-os a ações cotidianas através das quais o mundo sombrio das cruzes e do sofrimento pode resplandecer como o sol fértil de amor e paz. Por isso, entoamos sem temor: "Vitória tu reinarás, ó Cruz tu nos salvarás".

 

quinta-feira, 21 de março de 2024

HOMILIA PARA O DIA 28 DE MARÇO DE 2024 - QUINTA FEIRA DA SEMANA SANTA - ANO B

 LAVAR OS PÉS, A FORÇA DA COMPAIXÃO


Neste dia, estamos prestes a vivenciar uma festa memorável. A celebração de eventos que deixam marcas indeléveis na vida pessoal, familiar e comunitária tem se tornado uma prática cada vez mais difundida em todas as sociedades e culturas. Estas ocasiões não apenas são oportunidades para festividades, mas também para a promoção de valores, cultura e a transmissão de ensinamentos de geração em geração. Dentre os ensinamentos que os cristãos guardam com carinho, um dele diz respeito a compaixão e ao serviço manifestados no gesto simbólico de lavar os pés!

As festas, muitas vezes, carregam consigo uma aura de nostalgia, especialmente as reuniões familiares que têm se popularizado nos últimos tempos. Nestes encontros, reunimos parentes próximos, distantes e até mesmo não parentes, mas o importante é a confraternização e o compartilhamento de momentos especiais.

Esses eventos nos remetem às festas da Páscoa, que têm um significado profundo para o povo judeu. Ano após ano, as festividades da Páscoa judaica são recuperadas com toda a solenidade, lembrando a ação de Deus em favor de seus antepassados e como essa presença divina continuou influenciando a história do povo.

É por meio desses gestos que os cristãos, ao recordarem a vida, paixão e morte de Jesus, se reúnem com o objetivo claro de incorporar os mesmos sentimentos e comportamentos de Jesus e de seus seguidores em suas próprias vidas e rotinas diárias.

A celebração da Quinta-feira Santa apresenta dois momentos distintos que ensinam uma mesma lição. No gesto do Lava-pés, os cristãos são chamados a lembrar da importância do serviço mútuo. Na instituição da Eucaristia, aprendem sobre a importância da partilha e do sacrifício para uma vida plena e digna para todos.

O texto do livro do Êxodo, proclamado na liturgia da quinta-feira que antecede a Páscoa cristã, visa recordar os detalhes da festa, enfatizando sua importância como uma instituição perpétua, uma festa memorável em honra do Senhor, a ser celebrada por todas as gerações.

Em reconhecimento à ação divina, os antigos rezavam o Salmo, expressando gratidão e prometendo cumprir suas promessas diante de Deus e de seu povo reunido.

Jesus, ao realizar o lava-pés, demonstrou ser o anfitrião da festa e da casa, associando intimamente a Páscoa judaica com o serviço de acolhida. Este gesto desafiador continua sendo um convite aos seus seguidores até os dias de hoje: celebrar a Páscoa e a instituição da Eucaristia implica lavar os pés uns dos outros.

Nesta Quinta-feira Santa, esse gesto reforça o compromisso da Campanha da Fraternidade que nos convidou a Amizade Social. Não é suficiente ser piedoso e adorar Jesus na Eucaristia; fazer memória deste fato significa repetir o gesto de humildade e serviço que Ele mesmo realizou: "Se eu, que sou o mestre e o Senhor, lavei os pés de vocês, vocês também devem lavar os pés uns dos outros”, porque vocês são todos irmãos!