quinta-feira, 30 de março de 2023

HOMILIA PARA O DIA 06 DE ABRIL DE 2023 - QUINTA FEIRA DA SEMANA SANTA - ANO A

 

QUINTA FEIRA DA SEMANA SANTA –

CELEBRAÇÃO DA CEIA DO SENHOR

 

Com a celebração da “Missa do Lava Pés”, como é popularmente chamada a Eucaristia da noite de Quinta Feira Santa, a Igreja encerra o tempo da quaresma e dá início ao tríduo pascal que se estende até o Domingo da Páscoa.

Lá no Antigo Testamento, o povo de Israel foi convidado a celebrar a páscoa e a compreender que o clima de medo e insegurança que estava reinando no acampamento não poderia se limitar a isso, pelo contrário, na páscoa se realiza o gesto favorável de Deus contra o sofrimento dos seus amigos. A páscoa é para eles desde aquele tempo a garantia de que o Amor de Deus os salvou e por isso mesmo são chamados a fazer memória para sempre.

Repetindo de forma solene o gesto de Jesus na última ceia a comunidade cristã é convidada a perceber os sofrimentos de todos e ao mesmo tempo a coragem de Jesus para transformar tudo isso em serviço, em alegria, em luz e em pré-anuncio da ressurreição.

Reunidos em assembleia de oração todos são chamados a dizer como São Paulo: transmito a vocês o que eu mesmo recebi: façam isto em memória de mim. Transformar a Eucaristia em serviço é um jeito de tornar Jesus presente no meio de todos e proclamar como se reza no salmo: “que poderei retribuir ao Senhor por tudo o que ele me fez”.

Ao final desta celebração os participantes precisam reconhecer que a Páscoa de Cristo pode brilhar na sociedade atual, e pode ser vista muito mais facilmente na medida em que todos respondam “eis-me aqui, envia-me!”. Que a adoração a Eucaristia se concretize no serviço a todos como um gesto de lavar os pés uns dos outros.

 

 

HOMILIA PARA O DIA 02 DE ABRIL DE 2023 - DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR - ANO A

 NA CRUZ A VITÓRIA DA VIDA

A aparente contradição entre os dois textos do Evangelho que são proclamados nesse Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, é apenas mais uma oportunidade para perceber como Jesus foi reconhecido por uma grande parcela da população e traído por quem tinha o poder de decidir e determinar o destino da cidade e das pessoas.

Na celebração do Domingo de Ramos está diante de nós um Deus que confirma sua missão de partilhar da nossa condição humana e do meio de todos os sofrimentos e provocações estimular a todos a deixar morrer tudo o que não condiz com a qualidade e a dignidade da vida.

O cumprimento da profecia de Isaias: “Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado num jumento, num jumentinho, num potro de jumenta". Não é outra forma de entender se não que ele é o Servo Sofredor descrito na primeira leitura: “Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado”. Desde muito cedo os cristãos reconheceram que em Jesus se cumpria tudo o que havia sido dito pelos profetas e que nele todos seriam restabelecidos e aproximados de Deus e dos seus projetos. Em Jesus somos convidados a fazer de nossa vida um serviço radical em favor de todos. Não temos o direito de permanecer indiferentes diante do sofrimento dos que estão próximos de nós.

São Paulo escreve aos filipenses que é uma comunidade quase perfeita, e por isso mesmo ele sugere aos destinatários da carta que tomem como modelo a pessoa de Jesus: “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome”. Essa insistência de Paulo serve para cada um de nós. Deixar nossa arrogância e autossuficiência são as condições indispensáveis para alcançar a plena realização para nossas vidas.

As aclamações que todos fazem a Jesus enquanto entra na cidade de Jerusalém: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor”, se misturam com as condenações que o levam a morte na cruz. Jesus não se deixa elevar pela efusiva saudação do Domingo de Ramos, como também não se deixa abater pela condição de crucificado. O relato da paixão e morte é apenas a antecipação da alegria que vamos experimentar no domingo da páscoa e que nós rezamos com o salmista:

Anunciarei o vosso nome a meus irmãos *
e no meio da assembleia hei de louvar-vos!

Vós que temeis ao Senhor Deus, dai-lhe louvores,

glorificai-o, descendentes de Jacó, *
e respeitai-o, toda a raça de Israel!

 





quarta-feira, 22 de março de 2023

HOMILIA PARA O DIA 26 DE MARÇO DE 2023 - 5º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A

 

PARA ALÉM DA MORTE A VIDA DEFINITIVA

 

Perdas e situações de luto e dor são frequentes em nossa vida. Lidar com essas experiências requer muito equilíbrio físico e emocional. Facilmente nos revoltamos contra tudo e contra todos. Dentre as situações mais difíceis que somos obrigados a enfrentar uma delas é a morte e ainda mais quando se trata da morte de pessoas que amamos. A morte é uma dor sem nome que enche nossos olhos com a neblina da saudade.

Porém, para os que acreditam na Palavra de Jesus Cristo a morte é a travessia deste mundo para a situação de vida plena na qual Deus enxugará toda lágrima dos nossos olhos.

A Palavra de Deus deste domingo nos garante que o desígnio de Deus nos faz superar todas as finitudes e fragilidades desta vida que é efêmera e passageira.

O profeta Ezequiel fala para um povo desiludido e sem esperança garantindo-lhes que mesmo quando tudo parece perdido Deus continua transformando o desespero em coragem. Em cada instante da história Deus está presente recriando o que havia sido perdido: “Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel; e quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair delas, sabereis que eu sou o Senhor”.

Ontem como hoje Deus age por meio de pessoas como o profeta Ezequiel que por meio de palavras e exemplos fazem reacender a esperança em mundo novo.

Na carta aos Romanos Paulo deixa claro para aqueles que aceitaram Jesus Cristo e a sua Palavra que estes já não vivem mais somente sob a realidade finita da carne humana, mas já carregam em si uma vida guiada pelo Espírito: “Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito. Cristo está em vós, embora vosso corpo esteja ferido de morte por causa do pecado, vosso espírito está cheio de vida, graças à justiça. E, se o Espírito daquele
que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então aquele que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós”.

A relação de Jesus com Marta, Maria e Lázaro é conhecida por outros fatos relatados no Evangelho. No texto de Hoje fica claro que Jesus, embora amigo dos três não faz questão de modificar o curso da vida. Quando fica sabendo da doença de Lázaro não se apressa em ir ao seu encontro para não o deixar morrer. E quando o encontra sepultado a quatro dias ele sofre com as irmãs e os amigos. Diz o Evangelho que Jesus “comoveu-se interiormente”.

Mas o diálogo com as irmãs prova que a morte física não passa de um sono do qual todos os que nele acreditam acordarão para a vida definitiva: “Senhor, se tivesses estado aqui ,meu irmão não teria morrido” E Jesus lhe desafia: “Eu sou a ressurreição e a vida. Você acredita nisso? Respondeu ela: "Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo".

Contrariando todas as expectativas humanas Jesus ordena ao que estava morto: “Jesus levantou os olhos para o alto e disse: "Pai, eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre me escutas. Mas digo isto por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste". Tendo dito isso, exclamou com voz forte: Lázaro, vem para fora!" O morto saiu”.

O que Jesus realiza confirma sua fidelidade à missão que o Pai lhe havia confiado. Para quem crê em Jesus a morte física não é uma destruição nem aniquilação da vida, mas apenas passagem para uma vida plena junto de Deus.

Peçamos a graça e a coragem de não nos deixar abater pelas situações de tristeza e de dor que o cotidiano nos oferece, mas que tenhamos a coragem de proclamar como as irmãs de Lázaro: “Eu creio Senhor que és a ressurreição e a vida”.

Rezemos com o salmista:

No Senhor ponho a minha esperança,*
espero em sua palavra.

A minh'alma espera no Senhor *
mais que o vigia pela aurora. 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 16 de março de 2023

HOMILIA PARA O DIA 19 DE MARÇO DE 2023 - 4º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A

 

Ó LUZ DO SENHOR QUE VEM SOBRE A TERRA...

Em diversas ocasiões quando estamos diante de algum problema de difícil solução usamos expressões do tipo: “Preciso de uma luz”; ou então “É como caminhar no escuro” e por adiante. As três leituras desse domingo nos apresentam pessoas em situações que exigem discernimento, precisam de uma luz. Nos três casos o resultado é sempre a experiência de “encontrar uma clareira diante das situações do cotidiano.

O texto de Samuel que ouvimos na primeira leitura não usa a expressão “Luz”, mas põe o personagem diante da difícil decisão de escolher entre os filhos de Jessé um para ocupar a função de líder de todo o povo judeu que vivia numa profunda divisão e sem ver luz que resolvesse seus problemas diante dos outros povos.

Note-se que a lógica de Deus vai muito além do que o olhar humano pode ver. Tendo visto a aparência dos filhos de Jessé Samuel estava ainda indeciso sobre qual deles escolher. Inspirado pela “LUZ” do Senhor pede para chamar o último dos filhos: "Estão aqui todos os teus filhos? Jessé respondeu: Resta ainda o mais novo que está apascentando as ovelhas". E Samuel ordenou a Jessé: "Manda buscá-lo, pois não nos sentaremos à mesa enquanto ele não chegar". Jessé mandou buscá-lo. Era Davi. E o Senhor disse: Levanta-te, unge-o: é este!" Samuel tomou o chifre com óleo e ungiu a Davi na presença de seus irmãos”.

O relato é absolutamente claro no sentido de fazer compreender que a escolha parte sempre de Deus e que os seus critérios, a sua lógica, nem sempre coincidem com a nossa.

Paulo escreve à comunidade de Éfeso deixando claro que para quem conheceu Jesus Cristo a vida tem outra dimensão: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz. E o fruto da luz chama-se: bondade, justiça, verdade”. O convite que Paulo dirige aos efésios serve também para nós: Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá". Na condição de batizados somos conhecedores da Luz do Senhor e não temos o direito de nos fingir de cegos diante dos sofrimentos do mundo.

No Evangelho, mais uma vez, Jesus se confronta com os fariseus e dessa vez numa situação bem particular de uma pessoa que mais do enxergar precisava ser liberto de todas as amarras e prescrições que a religião judaica impunha àqueles que eram acometidos por alguma doença ou deficiência.

Nesse caso o debate se dá em torno de um cego de nascença o qual continuaria nessa condição se não fossem os preconceitos e as cegueiras que o impediam de ver a bondade de Deus.

Antes de realizar a cura do cego Jesus se dá a conhecer como “Luz do mundo” e deixa claro que sua missão é eliminar o orgulho, o egoísmo, a autossuficiência que permeava todas as relações legais das práticas farisaicas.

Para mostrar concretamente porque veio Jesus convidou o cego a tomar uma atitude depois de afirmar que Ele é a luz do mundo e que veio para realizar as obras da Luz o desafiou:  Jesus cuspiu no chão, fez lama com a saliva e colocou-a sobre os olhos do cego. E disse-lhe: "Vai lavar-te na piscina de Siloé. O cego foi, lavou-se e voltou enxergando”.

Todo o diálogo na sequência não é outra coisa senão a reação de uma sociedade indiferente para com o sofrimento alheio e nada preocupada com a qualidade de vida das pessoas. O Cego do Evangelho é apenas mais um dos muitos que vivem “prisioneiros da escuridão”. Dando ouvidos à Palavra de Jesus, o homem que antes dependia das esmolas na porta do Templo, torna-se agora uma pessoa das certezas, dos argumentos, da agilidade, da inteligência. Trata-se de uma pessoa madura, livre e sem medo. Perguntado sobre aquele que lhe abriu os olhos ele respondeu com firmeza: “É um profeta, eu era cego e agora vejo".

Insistindo no descumprimento dos preceitos legais e continuando a pressionar o que tinha sido curado, esse respondeu: “Espantoso! Vós não sabeis de onde ele é? No entanto, ele abriu-me os olhos! Sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aquele que é piedoso e que faz a sua vontade. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se este homem não viesse de Deus, não poderia fazer nada".

Em resumo o Evangelho nos sugere que deixemos nosso estilo de fariseus fechados num pessimismo inútil de quem vive fechado a Deus e às outras pessoas e nos deixar iluminar pela Luz que é Jesus que pode fazer brilhar a luz que elimina as trevas e que permite reconhecer a mão de Deus que se estende para todas as circunstâncias da vida.

 A quaresma é um tempo de iluminação, deixemo-nos conduzir pela oração, pela esmola, pelo Jejum, pela penitência e deixemos Jesus curar as cegueiras que existem em nós. Que essa quaresma nos facilite enxergar os sofrimentos de tantos que próximo de nós repetem o mandato de Jesus: “Vocês não precisam mandar embora, deem vocês mesmos de comer”.



 

 

quarta-feira, 8 de março de 2023

HOMILIA PARA O DIA 12 DE MARÇO DE 2023 - 3º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A

 

ENTRADA LIVRE

Em um recente discurso o Papa Francisco ele afirmou: “Eu as vezes penso que deveríamos colocar na porta das nossas igrejas uma placa dizendo: “Entrada Livre” e continua: “A paróquia deve ser uma comunidade de proximidade, sem burocracia, centrada nas pessoas e onde todos podem encontrar de presente os sacramentos. As paróquias devem ser escolas de serviço e generosidade com suas portas sempre abertas aos excluídos e incluídos. A paróquia não pode ser um clube para poucos. Por favor sejamos audazes, repensemos o estilo de nossas paróquias. Rezemos para que as paróquias aprendam a colocar no centro de suas preocupações a comunhão entre as pessoas e sejam cada vez mais comunidades de acolhimento aos mais necessitados”.

O que o Papa sugere para as paróquias não é outra coisa senão compreender o jeito de ser de Deus, sua presença na história do povo e sua oferta de realização plena. O texto do livro do Êxodo proclamado na primeira leitura relata as dificuldades e desafios enfrentados pelo povo de Israel na caminhada para a Terra Prometida e como nem sempre percebeu a mão de Deus que os conduzia diante de cada nova provação. No episódio de hoje, mais uma vez Deus reage com sua misericórdia e paciência: “Que farei por este povo? Por pouco não me apedrejam! O Senhor disse a Moisés: Passa adiante do povo e leva contigo alguns anciãos de Israel. Toma a tua vara com que feriste o rio Nilo e vai. Eu estarei lá, diante de ti, sobre o rochedo, no monte Horeb. Ferirás a pedra e dela sairá água para o povo beber".

Nos longos desertos da nossa vida, não poucas vezes nos revoltamos com Deus. Apesar disso Ele está ao nosso lado em cada passo da caminhada e sempre nos oferece água que mata a sede de vida, felicidade e possibilidade de caminhar seguros pelas estradas da vida.

A carta de São Paulo aos Romanos é a confirmação da companhia de Deus na história humana, Ele oferece sua ajuda de forma gratuita e incondicional. Dizendo que Deus é justo está claro para São Paulo que Deus supera todas as formas legais e todas as prescrições humanas fazendo sempre prevalecer a bondade e a misericórdia: Justificados pela fé, estamos em paz com Deus, pela mediação do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por ele tivemos acesso, pela fé, a esta graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus. E a esperança não decepciona”.

O Evangelho confirma como a pessoa de Jesus é a verdadeira presença de Deus, a “água viva” que sacia a todos no caminho da vida. A mulher anônima do Evangelho é a própria comunidade da Samaria que teve “cinco maridos” isso é buscou diversos deuses e nenhum deles foi capaz de lhe saciar a sede. A Samaria continua buscando respostas no passado, mas Jesus lhe abre um caminho para o futuro.

Para todos os que estão agarrados a verdades e costumes que não libertam e tornam melhor a vida o autor do Evangelho de João quer mostrar como o verdadeiro sentido para todas as necessidades humanas é a pessoa de Jesus e nele todos serão guiados e admitidos como filhos e filhas de Deus.

Aos samaritanos Jesus deixa claro o que serve para cada um de nós e que o Papa Francisco chama de ousadia: Em lugar de transformar nossas paróquias em alfândegas do céu somos chamados a nos encontrar e reconhecer Jesus e a partir dele ser comunicadores da Palavra.

Jesus sentado junto ao poço que pertenceu aos antepassados deixa claro que não se trata de cumprir prescrições e normas sobre o lugar e quando reconhecer e louvar a Deus. Ele passa a ser o novo poço e a água que jorra para a vida eterna.

Tal como a Samaritana de outrora também nós somos chamados a abandonar o “cântaro” das nossas respostas limitas, falíveis e incompletas: Então a mulher deixou o seu cântaro e foi à cidade, dizendo ao povo: "Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Será que ele não é o Cristo?"

Ontem como hoje todos somos convidados a não permanecer na segurança de nossas casas e de nossas verdades, mas partir com entusiasmo sendo uma testemunha coerente e entusiasmada próprio de quem encontrou e reconheceu Jesus como água viva e verdadeira que mata toda sede.

Não tenhamos medo de rezar com o salmista:


Vinde adoremos e prostremo-nos por terra,*
e ajoelhemos ante o Deus que nos criou!

Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor, 
e nós somos o seu povo e seu rebanho,*
as ovelhas que conduz com sua mão.
 


 

quarta-feira, 1 de março de 2023

HOMILIA PARA O DIA 05 DE MARÇO DE 2023 - 2º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A

 

JESUS É O FILHO AMADO DO PAI!

Rubem Alves, foi um grande educador brasileiro. Em um dos seus escritos ele criou uma palavra que não existe na língua brasileira, dizia Ruben Alves: “Sempre vejo anunciado cursos de oratória, nunca ouço falar em um curso de “escutatória”. Todo mundo aprende a falar e ninguém se dispõe aprender a ouvir. Escutar é complicado porque não basta ter ouvidos, é preciso silenciar o coração. Pois é sobre “Escutatória” que trata a Palavra de Deus para esse domingo da quaresma. Todo verdadeiro discípulo precisa estar com o coração silenciado para ouvir Deus e a sua proposta para a humanidade.

Abraão, sendo uma pessoa de fé, vive em perfeita sintonia e Escuta de Deus. Sabe ler os sinais dos tempos, responde ao chamado com séria obediência. Abraão é o modelo da pessoa que ouve Deus com o coração: “O Senhor disse a Abrão: "Sai da tua terra, da tua família e da casa do teu pai, e vai para a terra que eu te vou mostrar. Farei de ti um grande povo e te abençoarei: engrandecerei o teu nome, de modo que ele se torne uma bênção. E Abrão partiu, como o Senhor lhe havia dito”.

Enquanto os que viveram antes de Abraão fecharam os ouvidos e o coração afastando-se de Deus, Abraão aceita o convite, não como um privilégio, mas decidido a ser um sinal de Deus por entre os povos. As ações de Abraão valem mais do que mil palavras. Deus lhe acena com uma promessa e ele não duvida simplesmente se põe a caminho. O exemplo de Abraão serve para todos no nosso tempo que nunca temos tempo para perceber os sinais de Deus. Andamos sempre e demais atarefados em ganhar a vida, dinheiro, construir carreira e assim por diante.

São Paulo fala para o amigo Timóteo: “Caríssimo: Sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus. Deus nos salvou e nos chamou com uma vocação santa, não devido às nossas obras, mas em virtude do seu desígnio e da sua graça”. Aos cristãos de ontem como de hoje deve ficar claro que ouvir Deus, significa não se deixar tomar pelo medo, comodismo, ou qualquer outra distração. Em meio às crises do cotidiano é necessário que não tenhamos medo de enfrentar com determinação todos os problemas que se apresentam. Nada nem ninguém pode nos desiludir, ou estimular a indiferença para com os sofrimentos do tempo presente. Paulo repete para cada um de nós: “Sofre comigo pelo Evangelho, sinta-se fortificado pelo poder de Deus e Dê você mesmo de comer aos que passam fome ao seu redor”.

O Evangelho conta a glória de Jesus apesar dos sofrimentos. Com diversos símbolos já presentes no Antigo Testamento Jesus deixa claro aos discípulos que diante das dificuldades que se apresentam não precisam ficar desiludidos e assustados.

A narrativa da transfiguração não deixa margem para duvidar da filiação divina de Jesus: “Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: "Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o"!

Jesus faz a ponte entre o velho e o novo, Ele é a própria aliança de Deus com a humanidade que supera toda a lei e todos os profetas. Jesus vai descer da montanha com os discípulos, caminhar com eles nas estradas para a liberdade.

Muitas vezes, nós temos a mesma sensação de Pedro: Senhor, é bom ficarmos aqui”, mas tal como aos discípulos o mestre continua convidando: “Levantai-vos, e não tenhais medo".

Duas coisas devem ficar muito claro a partir da Palavra de Deus nesse domingo: A primeira coisa é ouvir Deus Pai que nos diz: “Esse é meu Filho Amado, escutem o que Ele diz”. E a segunda ouvir o próprio Jesus dizendo: “levantem, não tenham medo de enfrentar os desafios do cotidiano”.

Dentre os desafios o que nos propõe a Campanha da Fraternidade: “Não precisa despedir os famintos, deem vocês mesmos de comer”.

Quando o medo se avizinhar rezemos com o salmista:

No Senhor nós esperamos confiantes,*
porque ele é nosso auxílio e proteção!

 

Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,*
da mesma forma que em vós nós esperamos!
 

 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 26 DE FEVEREIRO DE 2023 - 1º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A

 

SENHOR, NÃO AFASTE DE NÓS A VOSSA FACE!

Caminhar juntos é o grande desafio que o Papa Francisco está nos propondo com a preparação do Sínodo sobre a sinodalidade, ou seja, sobre como aprender caminhar juntos. Caminhar juntos é a proposta penitencial da quaresma e o convite que a Igreja no Brasil nos faz para viver a Campanha da Fraternidade sendo solidários com todos os que dependem da nossa resposta para ter acesso ao pão de cada dia.

Que nesta quaresma, nos deixemos guiar pela Palavra de Deus, caminhando juntos vencendo as tentações da autopromoção e da indiferença em relação aos sofrimentos alheios.

O autor do livro do Gênesis, cuja primeira leitura foi proclamada hoje, não tem por objetivo principal contar como surgiu a pessoa humana, mas deixar claro que a vida em toda a sua plenitude tem origem em Deus. E que Deus criou a espécie humana para a vida plena e para a felicidade, por isso o colocou no jardim indicando-lhe a árvore da vida. Em contrapartida está a árvore do bem e do mal e que a escolha dessa segunda opção implica querer viver sem Deus, fechados em nossas próprias verdades e esquemas cultivando o orgulho e a prepotência. Quando a criatura humana escolhe a árvore da vida caminha com Deus e Deus com ele, quando escolher a árvore do bem e do mal se coloca um solitário na estrada da vida.

O mesmo jogo de palavras e de capacidade de escolhas São Paulo trabalha na segunda leitura. Enquanto que na primeira leitura as criaturas escolheram o pecado e a morte, e caminharam com Adão na estrada da morte, os seguidores de Jesus Cristo caminham juntos para a vida. O modelo centrado em Adão gera sofrimento e dor, o modelo centro em Jesus Cristo gera vida plena e definitiva: “Por um só homem, pela falta de um só homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça. Como a falta de um só acarretou condenação para todos os homens, assim o ato de justiça de um só trouxe, para todos os homens, a justificação que dá a vida”.

Enquanto Adão representa a pessoa que se põe no caminho por conta própria e longe de Deus, Jesus Cristo que ouviu e acatou a proposta do Pai é o modelo para todos os que querem caminhar juntos na estrada da vida!

A narrativa das tentações de Jesus não deixa margem para interpretar sua absoluta fidelidade ao Pai e sua coerência de Vida. Recusando todas as propostas do Diabo Jesus já antecipa o que o Papa o Francisco fala na atualidade: “Com o diabo não se conversa”

Jesus rechaça todas as investidas do tentador citando a Sagrada Escritura não aceita nenhuma vantagem pessoal porque essas não estão de acordo com a vontade do Pai e contradizem a missão que havia assumido. As tentações narradas no Evangelho desse domingo apenas antecipam a coragem de Jesus para não ceder todas as demais provocações que Ele receberá ao longo da vida e que o afastariam da vida em Deus.

Da fidelidade de Jesus vai nascer um povo novo livre do pecado, diferente daquele formado no exemplo de Adão. A questão central da Palavra de Deus nesse domingo consiste em perceber a diferença entre viver à margem das propostas de Deus e viver em comunhão com o Pai.

 Como Jesus, também nós, sobretudo nesse período da quaresma, somos convidados a não nos deixar levar pelos atalhos das falsas promessas e mantendo como escudo a Palavra de Deus, rezar com o salmista:

Criai em mim um coração que seja puro,*
dai-me de novo um espírito decidido.

Ó Senhor, não me afasteis de vossa face,*
nem retireis de mim o vosso Santo Espírito! 

 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 22 DE FEVEREIRO DE 2023 - QUARTA FEIRA DE CINZAS - ANO A

 

RASGAR OS CORAÇÕES E NÃO SOMENTE AS VESTES

Nos últimos tempos multiplicaram-se as “oficinas do corpo” cuja preocupação primeira é transformar as pessoas em padrões de beleza. Essas práticas incluem atividades físicas, dietas, cirurgias e uma série de outros padrões exibidos pelas mídias sociais. Apesar disso existe uma preocupação de saúde pública que é a obesidade e sedentarismo. Todas essas práticas não deixam de ter o seu valor e suas justas preocupações, mas elas perdem sua verdadeira importância à medida que são vistas apenas como satisfação pessoal e valorização dos próprios interesses e necessidades.

Muito anterior que tudo isso está a prescrição judaica do jejum e da abstinência, e que está longe de se assemelhar com os objetivos contemporâneos. Já o profeta Joel, cuja leitura ouvimos nesse domingo, amplia o sentido e a importância das práticas legais sugerindo ir muito além: “rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus. Tocai trombeta em Sião, prescrevei o jejum sagrado, convocai a assembleia; congregai o povo essa prática toca o coração de Deus que se compadece do seu povo”.

A mesma coisa diz São Paulo aos coríntios: “Irmãos, somos embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. Como colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus”.

E Jesus recorda aos seus conterrâneos o equívoco do exibicionismo, que de alguma maneira é o que norteia as práticas de “culto ao corpo” na atualidade: “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles”.

O desafio de Jesus consiste em evitar a autopropaganda de quem contra vantagens em relação às próprias obras. O que conta mesmo é a conversão a Deus e aos irmãos. Na quarta-feira de cinzas a Igreja no Brasil faz a abertura da Campanha da Fraternidade. A cada ano nos propõe uma situação bem particular e concreta para a qual pede a nossa conversão que se dá por meio das práticas do Jejum, da abstinência, da oração e de gestos concretos.

Nesse ano a preocupação com a fome das multidões faz ressoar em nossos ouvidos o desafio que Jesus propôs aos discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Isso significa nenhuma das nossas práticas de culto ao corpo, de abstinência e de jejum religioso tem nenhum sentido se realizados apenas quando olhamos para os nossos próprios interesses e nos fazendo indiferentes com o sofrimento alheio.

Nesta quaresma somos convidados a rezar com o salmista:

Misericórdia, ó Senhor, pois pecamos.

Criai em mim um coração que seja puro, *
dai-me de novo um espírito decidido.

Dai-me de novo a alegria de ser salvo *
e confirmai-me com espírito generoso!

 

Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar, *
e minha boca anunciará vosso louvor! 

 

 

 

 

 

HOMILIA PARA O DIA 19 DE FEVEREIRO DE 2023 - 7º DOMINGO COMUM - ANO A

 ALEGRAI-VOS E EXULTAI

Alguns provérbios populares são frequentemente repetidos e muitas vezes nem nos damos canta do alcance que eles podem ter à medida que colocados em prática. Por exemplo: “Violência gera Violência”, ou o contrário “Gentileza gera gentileza”. As instituições públicas e particulares, associações e grupos organizados repetidamente organizam campanhas pela paz em todos os níveis e ambientes. Nas Escolas públicas de Santa Catarina é obrigatório a organização do Núcleo de Prevenção, atenção e atendimento às violências na Escola.

Estas e outras iniciativas pela harmonização das relações entre as pessoas, nada tem a ver com a prática de alguma religião e na maior parte delas se quer tem alguma referência ou fundamento na Palavra Deus. Mas a liturgia da Palavra desse domingo, além de insistir nas relações de fraternidade entre as pessoas aponta essa prática como condição para a santidade, ou seja, a construção de um mundo novo e muito melhor começa pelas práticas cotidianas de bem querer e de respeito.

As três leituras deixam claro que Deus é misericordioso e não nos trata segundo nossos merecimentos, nem tampouco segundo nossas falhas, mas na proporção da sua infinita misericórdia. Para quem se declara cristão está aí uma resposta necessária que significa ter atitudes concretas em favor da paz e da comunhão com todos.

Usando o convite para a santidade a Palavra de Deus sugere que a perfeição é um caminho nunca acabado, mas que pede sempre e de novo compromisso sério e radicalidade generosa que se concretize numa sociedade onde todos vivam como irmãos.

O Papa Francisco quando fala da santidade afirma que existe um único caminho para a santidade e este implica na vivência das bem-aventuranças. No documento sobre a santidade no mundo contemporâneo o Papa declara textualmente que a santidade está ao alcance de todos os que vivem as suas obrigações com responsabilidade. O caminho da santidade diz Francisco exige ousadia e ardor o que em outras palavras significa dizer que neste caminho não tem espaço para a tristeza e o desânimo.

A primeira leitura começa com um desafio que sai da boca do próprio Deus: “Sejam santos porque eu, seu Deus sou santo”. E ser santo não significa andar de cabeça inclinada o tempo todo olhando para o céu esquecendo-se do amor e do compromisso com as pessoas com quem convivemos. A santidade passa pela construção de relações fraternas nas quais não tenha lugar a agressividade, a vingança, o rancor, pelo contrário, implica determinação na construção da felicidade ao alcance de todos. Em resumo santidade não é um projeto para se construir sozinho e na indiferença com os demais.

Na segunda leitura São Paulo sugere reconhecer que nada nesse mundo é maior do que Deus e o seu amor pela humanidade e se tem alguma atitude que deve nortear a nossa existência significa permitir que Deus faça morada em nós: “Acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós? Tudo é vosso, mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”. São Paulo não está negando os valores e a sabedoria humana, mas deixa claro que antes de tudo o que é humano está Deus e a sua sabedoria.

As leis têm por objetivo evitar que a violência se torne a medida de retribuição das ofensas e injúrias recebidas. Jesus, porém, vai muito além e não se dá por realizado com a estrita prática da lei. Ele propõe acabar com a espiral de violência. A proposta de Jesus implica numa revolução da mentalidade em vigor na sua época: “Vós ouvistes o que foi dito: 'Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!' Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis”?

Para os seguidores de outrora e para cada cristão da atualidade o desafio é o mesmo: Superar o restrito cumprimento da lei e multiplicar as oportunidades de comunhão que segundo o Papa Francisco implica viver: “O amor fraterno que multiplica a nossa capacidade de alegria porque nos torna capazes de rejubilar com o bem dos outros”.

É isso que rezamos no salmo:

O Senhor é indulgente, é favorável,*
é paciente, é bondoso e compassivo.

Não nos trata como exigem nossas faltas,*
nem nos pune em proporção às nossas culpas. 

quanto dista o nascente do poente,*
tanto afasta para longe nossos crimes.

Como um pai se compadece de seus filhos,*
o Senhor tem compaixão dos que o temem. 


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 12 DE FEVEREIRO DE 2023 - 6º DOMINGO COMUM - ANO A

 

AMAR AS PESSOAS E RESPEITÁ-LAS NA SUA INDIVIDUALIDADE

A expressão “telhado de vidro” é frequentemente usada para se referir aos próprios limites, defeitos e pecados. Toda pessoa de bom senso sabe que suas ações nem sempre são absolutamente corretas e que até involuntariamente comete pecados, equívocos e falhas das quais se envergonha.

Na época de Jesus a situação não era diferente, diversos grupos organizados tinham consciência da sua condição humana e das suas limitações e fragilidades. Mas, existia um grupo conhecido como “fariseus” que se consideram “a última bolacha do pacote”, isto é, levavam uma vida de mentira e hipocrisia, para estes Jesus chamou “sepulcros caiados”. Mesmo  sabendo das suas impurezas os fariseus ditavam regras, normas, preceitos sempre exigindo dos outros o que eles mesmo não cumpriam.

Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento”. Jesus deixa muito claro que sua intenção é fazer uma releitura da lei em outro contexto de quando ela foi dada a Moisés. Em lugar do legalismo doentio Ele propõe um compromisso com a vida e para isso será necessário respeito para com a dignidade e individualidade de todos. A nova lei não prescreve somente não matar, muito antes que isso será preciso romper com a escalada da violência, da discriminação, das ofensas, pois o que agrada a Deus e torna uma vida útil é o perdão a reconciliação.

Em lugar da prescrição legal: “Não cometer adultério”. Jesus declara que todas as vezes que alguém olhar com cobiça para aquilo que não lhe é de direito já está cometendo pecado. Não se trata apenas do adultério que é o topo dos grandes pecados da carne, trata-se de não permitir que a vida de quem quer que seja se torne objeto de injustiças e de maldades. Em resumo a palavra que sai da boca de uma pessoa que se declara seguidor de Jesus Cristo deve ser digna de crédito. Os juramentos de nenhum tipo combinam com as relações de confiança. Em resumo, todos os problemas merecem ser contornados no diálogo fraterno e no perdão incondicional.

Esta condição de escolha já havia dito o autor do livro do eclesiástico: “Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal, os olhos do Senhor estão voltados para os que o respeitam. Ele conhece todas as obras das pessoas. Não mandou a ninguém agir como ímpio e a ninguém deu licença de pecar”.

E São Paulo reafirma aos coríntios: “Como está escrito, 'o que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram nem os ouvidos ouviram nem coração algum jamais pressentiu”. Portanto quem agir desse modo haverá de experimentar a verdadeira vida como se reza no salmo: “Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo! Feliz o homem que observa seus preceitos, e de todo o coração procura a Deus”.

A questão central abordada pela Palavra de Deus deste domingo está na liberdade humana que tem à sua frente diversos caminhos que lhe interpelam e desafiam. Agir com responsabilidade é um imperativo para a pessoa que não quer passar a vida inteira encolhendo os ombros e fazendo de conta que o problema não é seu. Cumprir um conjunto de regras e normas, de modo algum pode ser garantia de salvação, pelo contrário, muito mais do que uma vida legalista, ou uma vida do tipo “atirar pedra no telhado alheio”, se espera de cada pessoa uma verdadeira adesão ao projeto de Deus revelado em Jesus.

O evangelho desse domingo é só mais uma oportunidade para Jesus deixar claro que não se trata de viver uma religião de fachada a verdadeira espiritualidade evita o combate a cultura do ódio os discursos ofensivos, os preconceitos. Ontem como hoje os mandamentos são indicações para nos fazer crescer na proximidade com Deus.

Rezemos com o salmista pedindo a graça de sintonizar nossa vida com o evangelho:


Ensinai-me a viver vossos preceitos;*
quero guardá-los fielmente até o fim!

dai-me o saber, e cumprirei a vossa lei,*
e de todo o coração a guardarei.


 

sábado, 4 de fevereiro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 05 DE FEVEREIRO DE 2023 - 5º DOMINGO COMUM - ANO A

 

FELIZ QUEM É CARIDOSO E PRESTATIVO

Há pouco mais de duas dezenas de anos se multiplicaram nas gôndolas dos supermercados a variedade e composição para enriquecer a aparência do sal, mas no final das contas o que conta mesmo é que o sal, por si mesmo, é o elemento mais importante para dar sabor e para conservar os alimentos.

Na mesma proporção se multiplicaram as luminárias e os elementos que compõe as lâmpadas para distintos ambientes. Recentemente nota-se grande investimento nas chamadas energias limpas. Também, como o sal, o que conta é que a lâmpada clareie. A luz só faz sentido quando ilumina!

O Evangelho deste domingo usa as comparações da luz e do sal e está na sequência das Bem-aventuranças, isso significa que a felicidade consiste em não viver somente para si e em função de si. A felicidade consiste em ser Sal e Luz, ou seja, dando sabor e colaborando para que as pessoas caminhem seguros por estradas de fraternidade, de comunhão, de construção da paz,

O desafio de ser sal e luz é uma proposta que Jesus fez aos seguidores de outrora e que continua sendo colocada para cada um de nós. Se somos de fato cristãos não temos o direito de nos acomodar na indiferença e na facilidade do cotidiano, nem tampouco nas práticas de piedade que não se comprometem com o mundo e com as relações de fraternidade.

Ser sal e luz implica compreender o pedido do Papa na Carta Fratelli Tutti: não se fazer de descomprometido diante da dor e das feridas do cotidiano. Afinal somos todos irmãos e, portanto, responsáveis para garantir a conservação e o cuidado da vida em todas as suas formas e em todos os tempos de modo que todos vivam em segurança e bem guiados todos os dias.

E como fazer isso se não com gestos concretos como nos pede o profeta na primeira leitura: “Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá”.

E para fazer essas atitudes não são necessárias a eloquência e a presença dos holofotes São Paulo deu aos coríntios uma lição que serve para todos: “Irmãos, quando fui à vossa cidade anunciar-vos o mistério de Deus, não recorri a uma linguagem elevada ou ao prestígio da sabedoria humana. Pois, entre vós, não julguei saber coisa alguma, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado”.

A verdadeira religião, a que se faz sal e luz não é uma religião de ritos e práticas vazias de compromisso, antes é uma religião que ilumina para uma nova terra mais cheia de paz, de esperança e de solidariedade.

Deixemo-nos conduzir pela oração do salmista:

Uma luz brilha nas trevas para o justo,
 permanece para sempre o bem que fez.