terça-feira, 26 de abril de 2022

HOMILIA PARA O DIA 01 DE MAIO DE 2022 - 3º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C

 

SENHOR, TU SABES TUDO...

É muito ouvida na atualidade uma canção de pagode em que uma das frases diz o seguinte: “nada foi sorte sempre foi Deus” e cuja letra diz ainda: “Nessa guerra constante, ser perseverante é fundamental, para manter sempre acesa no peito a certeza que o bem vence o mal”.

Uma semana depois da morte de Jesus, os discípulos ainda não tinham entendido tudo o que estava acontecendo, mas se mostravam perseverantes na certeza que o bem vence o mal. Também nós podemos aprender com a comunidade dos discípulos a manter acesa no peito a chama que garante a presença de Deus em nossos desacertos.

A narrativa do fracasso de uma noite inteira de trabalho com o desfecho do amanhecer é cheia de simbologia. A noite representa a ausência de Jesus na vida deles e o amanhecer coincide com o reconhecimento do ressuscitado. Isso pode ser aplicado para todas as nossas fracassadas ações realizadas nas noites da ausência de Deus e na convicção de que ao amanhecer Deus está ao nosso lado renovando as esperanças e nos fazendo superar todas as expectativas quando nossos esforços parecem em vão.

No caso da pesca fracassada o evangelho conta a desolação de sete discípulos de Jesus. Notemos que sete, na Sagrada Escritura e na tradição da Igreja, sempre significou a totalidade. As mesmas coisas dizem os estudiosos do mundo da Bíblia para quem o número 153 representava a totalidade das espécies de peixes que existiam no mar da Galileia. Em outras palavras a totalidade das pessoas, alguma vez na vida já tiveram experiências desoladoras e experimentaram noites de escuridão, nas quais estavam longe de Deus!

A pesca fracassada dos sete discípulos, que representam a comunidade dos primeiros seguidores, mostra como é infrutífera e sem sentido a missão sem a presença de Jesus e sem a obediência à sua Palavra. De fato, tudo muda quando Jesus lhes aparece e eles lhe obedecem: ninguém fica de fora. Os discípulos tinham sido chamados por Ele para ser pescadores de gentes e fiéis ao seu ensinamento recolhem dos perigos do mar todas as pessoas simbolizadas na totalidade das espécies de peixe. Reconhecendo a voz de Jesus a missão alcança a todos e nada poderá rompê-la.

 Para confirmar sua presença de amor e de serviço, mais uma vez Jesus reparte com eles pão e peixe e para confirmar o que espera dos seus seguidores confirma a missão de Pedro: “Simão filho de Jonas, Você me ama mais do que os outros? ” É como se Jesus dissesse você é capaz de dar sua vida pelos amigos!

Peçamos também para nós, em tempo de sínodo sobre a sinodalidade, a capacidade de amar mais e reconhecer Jesus que nos ajuda a acolher todos e puxar para fora dos perigos e frustrações da vida todas as pessoas, porque:


Quando o dia mal chegar
Não vai desanimar e nem esmorecer
O choro dura uma noite
Mas a alegria vem no amanhecer

Bote um sorriso no rosto
Que a tua vitória já 'tá pra chegar
Papai do céu abre a porta
E homem nenhum é capaz de fechar

Quando a bênção chegar
Nunca foi sorte, sempre foi Deus
Quando o Sol clarear
Nunca foi sorte, sempre foi Deus!


 

sexta-feira, 22 de abril de 2022

HOMILIA PARA O DIA 24 DE ABRIL DE 2022 - 2º DA PÁSCOA - ANO C

 

ETERNA É A SUA MISERICÓRDIA

Não é raro que a nossa vida seja marcada por dias de penumbra como se fosse o cair da tarde que nos obriga a silenciar e nos recolher na segurança das nossas incertezas. Pois este era o sentimento que rondava a vida dos discípulos nos dias subsequentes à morte de Jesus. O Evangelho de hoje começa de novo com a expressão: “Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam”. A ausência de Jesus entre eles parecia indicar que tudo havia terminado no trágico desfecho da cruz, o medo e o desânimo preenchiam toda a vida dos discípulos.

Porém a verdade ainda não tinha aparecido. O fato de estar com as portas fechadas não impediu que o encontro vivo com Jesus vivo se realizasse de maneira plena: “Jesus entrou e pondo-se no meio deles,
disse: 'A paz esteja convosco'.
E depois de ter dito isto, soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo”.
E lhes envia com uma tarefa que consiste em continuar a missão que haviam iniciado juntos, ou seja, cada discípulo foi enviado a ser portador da mesma paz que recebeu.

Diante dos medos e incertezas que a vida oferece Jesus se apresenta como o sinal de comunhão e o centro onde eles podem se fortalecer no cotidiano da missão.

Longe e desconectados de Jesus somos ramos secos e uma sociedade estéril, fechada e medrosa incapaz de garantir a plenitude da vida sempre querida por Deus!

A leitura do Apocalipse começa com uma afirmação da vida real: Eu, João, vosso irmão e companheiro na tribulação, e também no reino e na perseverança em Jesus” esta frase deixa mais do que claro que a centralidade da vida de uma comunidade é a pessoa de Jesus e que perseverar na sua presença é maneira mais segura para não cair no desanimo e não se deixar engolir pelas provações da vida.

Quando o discípulo percebeu suas forças se esvaírem ouviu a Palavra que lhe deu forças: “Ele colocou sobre mim sua mão direita e disse:
'Não tenhas medo. Eu sou o Primeiro e o Último, aquele que vive.
Estive morto, mas agora estou vivo para sempre. Eu tenho a chave da morte e da região dos mortos”
. Ele é o princípio e o fim de todas as coisas!

 O texto dos Atos dos Apóstolos aponta como a capacidade de caminhar juntos faz da comunidade dos apóstolos o modelo para a Igreja em todos os tempos: “Muitos sinais e maravilhas eram realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos. Crescia sempre mais o número dos que aderiam ao Senhor pela fé; era uma multidão de homens e mulheres”. Em resumo nada é impossível para quem para quem se coloca à sombra de Cristo.

Realizar milagres, não significa sinais extraordinários mas imitar os apóstolos com gestos de acolhida, amor, partilha, solidariedade e paz. Estes são também os verdadeiros milagres que a comunidade cristã pode continuar realizando e dessa maneira dar testemunho da ressurreição de Jesus como diz em outro texto dos Atos dos apóstolos: “Vejam como eles se amam”.

A mensagem central da liturgia desse domingo pode ser resumida na expressão: “não ter medo”! Apesar das situações de insegurança, fome, desemprego, sofrimento, dor e até a própria morte, quando nossos dias terminam como a penumbra da noite que vem chegando, se tivermos como referência para nossas ações a pessoa de Jesus ele será coragem, força e alegria no cotidiano.

Então sim, podemos rezar:

A pedra que os pedreiros rejeitaram,
tornou-se agora a pedra angular.
Pelo Senhor é que foi feito tudo isso:
Que maravilhas ele fez a nossos olhos!
Este é o dia que o Senhor fez para nós,
alegremo-nos e nele exultemos!

quarta-feira, 13 de abril de 2022

HOMILIA PARA O DIA 17 DE ABRIL DE 2022 - 1º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C

 

RESSUSCITADOS COM CRISTO

É da natureza humana não se conformar com situações de perca, de sofrimento e de dor. E quando isso nos acontece buscamos de toda forma maneiras para aliviar o sofrimento que tais fatos nos provocam. O domingo da ressurreição foi, desde o princípio, para os seguidores de Jesus o ponto fundamental para soltar o grito de alegria que estava preso ao sofrimento da cruz.

O texto dos Atos dos Apóstolos tem por objetivo confirmar que todo aquele que como Jesus “passou pelo mundo fazendo o bem” poderá também com Cristo ressuscitar para a vida e receber o prêmio por tudo aquilo que realizou: “Pedro tomou a palavra e disse: Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judéia, a começar pela Galileia. E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez. Todo aquele que crê em Jesus recebe, em seu nome, o perdão dos pecados”. A ressureição de Jesus é apresentada como a culminância de tudo o que Ele fez e ensinou. Isso significa que sempre que alguém se identifica com Jesus esforçando-se por vencer o egoísmo, a mentira, a injustiça e faz triunfar o amor, também esse ressuscita todos os dias.

Aos colossenses Paulo recorda que uma vez batizados todos são convidados a caminhar por novos caminhos sendo coerente com todas as exigências desse estilo de vida: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, 2onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres”.

O Evangelho começa com uma indicação de tempo: “No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, ” não se trata de um tempo cronológico, mas do início de um novo ciclo que precisa ser entendido como o tempo da Nova Criação, da páscoa definitiva, da gente nova.

Para fazer parte dessa nova criação é preciso a determinação de Maria Madalena o do outro discípulo, isso é, estar pronto a ir de madrugada e correndo ao encontro da nova realidade que se apresenta pela força do Cristo Ressuscitado.

Com frequência também para nós se apresentam noites escuras, para as quais somente a fé no Cristo ressuscitado e a coragem dos primeiros discípulos pode nos fazer encontrar Jesus não na escuridão do túmulo, nem tampouco enfaixado e imobilizado pelo poder da morte. Somos convidados a tornar nossa fé sólida e madura e andar por toda para fazendo o bem!

HOMILIA PARA O DIA 16 DE ABRIL DE 2022 - VIGÍLIA DE PÁSCOA - ANO C

 

PORQUE ELE VIVE, EU POSSO CRER NO AMANHÃ

 

O mundo cristão se reúne festivamente nesta noite santa e revive a alegre esperança da mais extraordinária passagem que a espécie humana anseia: Vencer a morte a dor, a tristeza e exultar com a vitória da vida. A ressurreição de Jesus é a maravilha definitiva que Deus Pai realizou como prova do seu amor pela humanidade.

A atitude das mulheres indo bem de madrugada ao túmulo de Jesus tem por objetivo render homenagem aquele seu amigo fiel e bom que depois de fazer tanto bem havia sido eliminado do seu convívio.

Como prêmio por sua fidelidade foram as primeiras a receber a alegre notícia e confirmação “Não procurem entre os mortos aquele que está vivo! ”

Com tão extraordinária notícia não tiveram dificuldade de lembrar das palavras do Mestre e compreenderam que algo novo estava acontecendo.

O anúncio que as mulheres deram aos discípulos é a ponte entre o fato que estavam vivenciando e a fé que alimenta a Igreja em todos os tempos.

Vinte séculos depois o anúncio feito às mulheres ecoa nas palavras do Papa Francisco:  “A ressurreição de Cristo é o acontecimento mais fascinante da história humana, que atesta a vitória do amor de Deus sobre o pecado e a morte e doa à nossa esperança de vida um fundamento sólido como a rocha”.

 

Por isso podemos rezar sem medo:

A mão direita do Senhor fez maravilhas,
a mão direita do Senhor me levantou,
a mão direita do Senhor fez maravilhas!'

HOMILIA PARA O DIA 15 DE ABRIL DE 2022 - SEXA FEIRA DA PAIXÃO - ANO C

 

DEUS VEIO AO NOSSO ENCONTRO

Por medo, para não se envolver em problemas que não são nossos, por simples curiosidade facilmente ficamos olhando a distância os inúmeros problemas pelos quais passam muitas pessoas na sociedade contemporânea. A narrativa da Paixão termina dizendo que José de Arimatéia, por medo, foi às escondidas tirar o corpo de Jesus da Cruz, outra versão da paixão fala de uma multidão que ficou a distância observando tudo o que estava acontecendo. Segundo o Papa Francisco um dos graves pecados da atualidade é a indiferença, ou seja, sacudimos os ombros e fazemos de conta que o problema não é nosso ou temos medo de nos expor diante dos sofrimentos de tantos que gritam por socorro em nossa sociedade.

Morrendo na cruz Jesus se mostrou Solidário com os pobres e sofredores. Ele assumiu a cruz por fidelidade à missão que o Pai lhe confiou. Fazendo memória do gesto de Jesus somos convidados a seguir seus passos e fazer comunhão com tantas pessoas vítimas da pandemia e que não tiveram acesso à medicina e outros recursos de tratamento, aos desempregados, aos jovens fora da escola, tantos excluídos, desprezados e marginalizados de muitas maneiras até por nós cristãos de missa dominical.

Muitas vezes nos tornamos cúmplices da violência contra os justos, são tantos os que precisam ser amados, acolhidos, respeitados. Não são poucas as pessoas acusadas injustamente pelo simples fato de se fazer próximo daqueles que a sociedade discrimina e condena.

A sociedade tem medo de mostrar o Cristo Crucificado porque não quer se comprometer com a forma como Jesus amou a humanidade. Celebrar a paixão do Senhor é um convite a fazer como Ele fez. Olhar para a cruz implica oferecer nosso tempo, nossa inteligência, nossos esforços para o bem de todos.

A sexta feira da paixão nos deixa claro que Jesus é o rosto de Deus Pai que veio para mostrar a sua misericórdia que fica absolutamente clara nas palavras d’Ele mesmo: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem”!

segunda-feira, 11 de abril de 2022

HOMILIA PARA O DIA 14 DE ABRIL DE 2022 - QUINTA FEIRA SANTA - ANO C

 

FAÇAM TUDO ISSO EM MINHA MEMÓRIA

 

Recordar fatos, ensinamentos, memórias, é uma coisa realmente bonita. Conhecer a biografia de grandes personagens da história e até de pessoas que tiveram apenas alguma pequena importância para uma pequena parcela da humanidade é uma coisa de grande valor. Como por exemplo conhecer a história de vida de Nelson Mandela, líder negro sul-africano e uma infinidade de outras pessoas que deixaram marcas de suas vidas na sociedade ou em pequenos grupos.

A pessoa de Jesus Cristo, independente de acreditar na sua natureza divina, merece ser recordada como ele é de fato reconhecido: um grande líder que mudou a história do mundo.

Para os cristãos o gesto revolucionário de Jesus que não pode ser esquecido é o relato do lava-pés. Na condição de Mestre ele mostrou uma nova forma de relacionamento entre as pessoas. O que conta é a disponibilidade para o serviço, não importa a função, mas a preocupação e o cuidado com bem-estar de todos.

Lavando os pés dos discípulos no contexto de uma ceia faz os cristãos lembrar que a missa é oportunidade imperdível para aprender a servir!

Quando no relato da instituição da Eucaristia o padre reza: “Façam tudo isso em minha memória”, não significa apenas a repetição das palavras de Jesus sobre as formas do pão do e do vinho, mas significa também que todos precisam repetir o gesto de Jesus lavando os pés uns dos outros.

sábado, 9 de abril de 2022

HOMILIA PARA O DIA 10 DE ABRIL DE 2022 - DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR - ANO C

 

BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR

Se tem uma atitude apreciada por todos é a simplicidade no falar e no agir. Quando alguém se coloca com ar de superioridade sobre outra pessoa ou grupo em geral gera desconfiança e medo. Aquele que se apresenta como sendo mais perfeito ou merecedor de gestos de reverência é normalmente servido por medo e não por admiração. Na história bíblica não foram poucos os personagens que agiram dessa maneira. Mas também na história bíblica não foram poucos os personagens que misturaram a sua vida com a vida do povo e esses são lembrados com admiração e respeito.

Jesus, é uma das pessoas que se deu a conhecer não como Chefe e Senhor, mas como cumpridor das profecias antigas como se lê na primeira leitura: “O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e cusparadas”. Ninguém antes dele foi reconhecido como Rei aparecendo montado num jumentinho. O que Jesus faz é uma denúncia a toda forma de discriminação, de dominação e de violência. Com seu gesto deixa claro que nele se cumpre a profecia e que sua missão é proclamar a construção de um Reino de paz, de fraternidade e de justiça, acolhimento e inclusão.

São Paulo escreve aos filipenses mostrando quem é o Cristo e como Ele se comportou para deixar claro aos que se declaram cristãos como estes também devem pautar a sua vida: “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens”. Tal como o Cristo os seus seguidores serão um dia glorificados depois de todas as provações desta vida tanto quanto forem capazes de se fazer igual a todos em tudo.

A morte de Jesus não é outra coisa senão a culminância do seu estilo de vida. Para ser fiel à missão que havia recebido do seu Pai Ele não recuou quando se tratava de enfrentar os privilégios de alguns para se aproximar dos pobres, daqueles cujos corações estavam feridos, daquela pessoa cuja liberdade tinha sido cerceada. Seu amor nunca permitiu a exclusão de quem quer fosse, nem mesmo os pecadores. No plano de Deus os mais sofridos são também os preferidos. Sem excluir ninguém desafiou a todos ter um coração aberto e acolhedor, avisou aqueles que se instalavam no orgulho, na prepotência e no egoísmo que tais comportamentos os levariam a própria condenação.

Na cruz, finalmente Ele é reconhecido como o Homem Novo. Na hora derradeira proclama sua absoluta fidelidade àquele lhe enviou: 'Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.' Dizendo isso, expirou”. Diante dos fatos todos tem uma atitude de aceitação e por isso foi reconhecido até por seus algozes: O oficial do exército romano viu o que acontecera e glorificou a Deus dizendo: 'De fato! Este homem era justo!' E as multidões, que tinham acorrido para assistir, viram o que havia acontecido, e voltaram para casa, batendo no peito. Todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres que o acompanhavam desde a Galileia, ficaram à distância, olhando essas coisas”.

Em síntese a cruz de Jesus revela o dinamismo do mundo novo que o Filho de Deus veio inaugurar e que todos somos convidados a acompanhar e reconhecer como as multidões que assistiram a trágico desfecho daquela injusta condenação proclamando com a vida: Na verdade esse homem era o Filho de Deus!


terça-feira, 29 de março de 2022

HOMILIA PARA O DIA 03 DE ABRIL DE 2022 - 5º DOMINGO DA QUARESMA - ANO C

 MUDAI A NOSSA SORTE, Ó SENHOR!

A expressão: “fulano está sempre com quatro pedras na mão” é usada para qualificar alguém que sempre tem um julgamento pronto e uma condenação a fazer de tudo e de todos aqueles com quem tem alguma discordância ou desafeto.

A liturgia de hoje faz um convite para cada pessoa em particular e também a todos indistintamente a perceber que ninguém está livre dos pecados e fragilidades e que todos temos necessidade de conversão e de perdão. A palavra de Deus realça o seu amor que nos desafia a ultrapassar toda forma de escravidão com foco na vida nova e num outro estilo de viver.

O profeta faz um apelo à comunidade de Israel, no sentido de esquecer o passado, não porque não seja importante, mas para que não fiquemos presos a um saudosismo que oprime, faz sofrer e produz a morte: Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis? Pois abrirei uma estrada no deserto e farei correr rios na terra seca”. Olhar para frente e reconhecer que a mão de Deus que agiu no passado continua acompanhando com carinho e cuidado toda a caminhada do povo em todos os tempos.

Na segunda leitura São Paulo reforça a mesma perspectiva:
Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema
que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele eu perdi tudo. Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele, não com minha justiça provindo da Lei, mas com a justiça por meio da fé em Cristo, a justiça que vem de Deus, na base da fé
”. As palavras do apóstolo são um convite a reconhecer na pessoa de Jesus a extraordinária presença de Deus na vida de todos em todos os tempos. Quem encontra e reconhece o Cristo está apto para entrar na vida nova: “Não que já tenha recebido tudo isso, ou que já seja perfeito. Mas corro para alcançá-lo, visto que já fui alcançado por Cristo Jesus”.

O Evangelho é mais uma das provas de fogo que os fariseus fazem questão de colocar para Jesus. Em outras palavras eles colocam Jesus entre a lei e a misericórdia. Com a serenidade e sabedoria que lhe eram particulares Jesus não faz nem defesa, nem acusação. Antes, na perspectiva de Deus, mostra que para a dignidade do pecador nem a intolerância, nem o castigo se apresentam como solução, pelo contrário só o amor e a misericórdia são fontes de vida que permitem o surgimento de uma pessoa nova e transformada: “Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: 'Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.' E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. Em seguida “Jesus se levantou e disse: 'Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?' Ela respondeu: 'Ninguém, Senhor.' Então Jesus lhe disse: 'Eu também não te condeno.
Podes ir, e de agora em diante não peques mais”.

A lógica de Deus não é a lógica da morte, Jesus faz perceber que todos necessitam do perdão de Deus e que todos precisam de conversão. A vida cristã é uma caminhada rumo à páscoa, como os fariseus de outros tempos também nós somos convidados a deixar para trás as coisas e hábitos antigos abrindo-se à novidade do Evangelho.

A quaresma sempre nos desinstala convidando-nos a olhar para o futuro na perspectiva da construção de pessoas novas e de novas relações onde estar com quatro pedras na mão não é a atitude adequada, mas é preciso fundamentar nossa vida em Cristo e na sua Palavra certos de que:

Chorando de tristeza sairão,
espalhando suas sementes;
cantando de alegria voltarão,
carregando os seus feixes!

Porque:

Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!

 

 

 

quarta-feira, 16 de março de 2022

HOMILIA PARA O DIA 27 DE MARÇO DE 2022 - 4º DOMINGO DA QUARESMA - ANO C

 

TODAS AS VEZES QUE O BUSQUEI, ELE ME OUVIU!

A expressão fazer justiça com as próprias mãos é abundantemente utilizada para justificar nossas atitudes e daqueles que estão próximos de nós. Todos temos a convicção que essa prática raramente se justifica, temos a consciência que é sempre melhor resolver as questões do cotidiano servindo-se dos meios legais ou com o recurso da conciliação.

Neste quarto domingo da quaresma a liturgia nos faz compreender como Deus utiliza de todos os recursos para colocar a criatura humana no caminho da reconciliação e da comunhão.

A ideia central da primeira leitura é a celebração festiva da páscoa do povo livre e no começo da sua nova vida na terra prometida: “ O Senhor disse a Josué: 'Hoje tirei de cima de vós o opróbrio do Egito'. 10Os israelitas ficaram acampados em Guilgal e celebraram a Páscoa no dia catorze do mês” Esta celebração mostra como a comunidade de Israel, que havia se rebelado contra Deus reconhece que foi sua mão que os garantiu a terra onde corre leite e mel.

Também a nós a quaresma é um convite para circuncidar o coração, reconciliar-se com as pessoas e com Deus. É importante que nos perguntemos: O que eu preciso cortar na minha vida para dar início a uma nova etapa? Quais são as circunstâncias que impedem a mim e a minha comunidade de selar um sério compromisso com Deus?

Paulo convida a comunidade de Corinto acolher a oferta de amor que Deus faz através de Jesus Cristo, esta é a única forma de recuperar a condição de criaturas renovadas, naturalmente isso exige reconciliação com as pessoas: Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo. Somos, pois, embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo quem exorta através de nós deixai-vos reconciliar”.

No Evangelho não poderia ficar mais clara a máxima de “fazer justiça com as próprias mãos”. Os fariseus e doutores da lei estavam com o julgamento e a condenação pronta para todos os publicanos e pecadores e por extensão a Jesus que os acolhia, e fazia refeição com eles.

Jesus que compreendia as práticas farisaicas não se perde em dar respostas que eles não iriam aceitar. Contando a parábola do Pai Misericordioso Jesus desmonta toda a estrutura judaica de exclusão das pessoas. Na figura do pai e dos dois filhos Jesus coloca todas as categorias de pessoas sob os cuidados da misericórdia de Deus.

Um pai que perdoa, acolhe e reintegra festejando a recuperação do que estava perdido. Um filho arrependido e nele uma parcela da comunidade que foi irresponsável e perdeu muitas e boas oportunidades para ser melhor. Um filho perfeito e autossuficiente que se julga melhor do que tudo e mais justo do que o próprio pai.

Também para nós o Evangelho serve de lição nas inúmeras vezes que assumimos a personagem de ambos os filhos. Nesta quaresma somos convidados a reconhecer o amor de Deus e evitar toda forma de julgamento e de justiça com as próprias mãos, antes, porém procurar a conciliação a misericórdia e o perdão. Afinal é isso que rezamos no salmo:

Contemplai a sua face e alegrai-vos,
e vosso rosto não se cubra de vergonha!
Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido,
e o Senhor o libertou de toda angústia.


HOMILIA PARA O DIA 20 DE MARÇO DE 2022 - 3º DA QUARESMA - ANO C

 

O SENHOR NOS CERCA DE CARINHO E COMPAIXÃO

Uma antiga historieta que pode ser chamada como recurso pedagógico de mãe, tem por título “O João depois”. Diz a historieta que o menino de nome João cada vez que era chamado pela mãe para realizar qualquer tarefa respondia sempre “depois eu vou” e o tempo do “depois” nunca chegava. Certo dia a mãe do João depois resolveu lhe dar uma lição de sabedoria. Enquanto o menino brincava distraído a mãe fazia seus afazeres domésticos e chamava pelo garoto que lhe respondia “depois eu vou”. Chegada a hora do almoço João depois se aproximou da mãe procurando comida, ao que a mãe respondeu: “depois eu faço” e assim a mãe respondeu por diversas vezes com a mesma frase. Daquele dia em diante nunca mais João depois respondeu: “Depois eu vou”.

A história do João depois é uma lição de conversão e serve como pano de fundo para entender a Palavra de Deus deste domingo. No contexto da quaresma é mais intenso o convite para mudança de direção, de mentalidade, de ação e de vida. Não precisamos muito esforço para no convencer que todos e sempre temos necessidade de melhorar nosso estilo de vida e que não podemos esperar para depois.

Na primeira leitura o autor do livro do Êxodo apresenta a imagem de um Deus que não se conforma com a injustiça e a arbitrariedade de uns sobre outros e para que isso aconteça se serve da colaboração das pessoas: “E Deus disse: 'Não te aproximes! Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é uma terra santa'. E acrescentou: 'Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó'. E o Senhor lhe disse: 'Eu vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi o seu clamor por causa da dureza de seus opressores. Sim, conheço os seus sofrimentos. Desci para libertá-los das mãos dos egípcios, e fazê-los sair daquele país para uma terra boa e espaçosa, uma terra onde corre leite e mel”.

Aos coríntios São Paulo reforça a importância de colocar em prática tudo o que diz respeito à coerência entre fé e vida. Não são os rituais externos e vazios, nem a prática de normas e regras, nem mesmo a recepção dos sacramentos como se tudo fosse um ato mágico que vão garantir a salvação o que é essencial é uma vida transformada por gestos de amor e Irmãos, não quero que ignoreis o seguinte: Os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem e todos passaram pelo mar; todos foram batizados em Moisés, partilha com as outras pessoas. No entanto, a maior parte deles desagradou a Deus, pois morreram e ficaram no deserto. Esses fatos aconteceram para serem exemplos para nós, a fim de que não desejemos coisas más, como fizeram aqueles no deserto”. Não se trata de parecer sem bom e justo, mas estar sempre em processo de conversão. Não serve a máxima do “depois eu faço”.

No Evangelho Jesus faz referência a dois fatos da sociedade judaica do seu tempo e desautoriza a ideia de encontrar culpados para os problemas do cotidiano. Ao mesmo tempo Jesus nos previne da ideia de pensar que determinados problemas não acontecem conosco porque somos justos e melhores que os outros.

A parábola da figueira que parece ter um tom ameaçador reforça o convite para a conversão. Ao longo da história da salvação o povo de Israel foi comparado diversas vezes a uma figueira estéril e infiel sendo objeto da ira divina. Para o nosso tempo a parábola é um convite para mudar nossa referência. Deus tem paciência, mas a figueira precisa produzir frutos antes que seja tarde.

Como a figueira que recebe tratamento diferenciado também para nós está em jogo a nossa felicidade. Mão podemos adiar a oportunidade produzir frutos. Não tenhamos medo, mas não fiquemos na inércia de uma vida infrutífera.

Afinal é isso que rezamos no Salmo:

Pois ele te perdoa toda culpa,

e cura toda a tua enfermidade;
da sepultura ele salva a tua vida
e te cerca de carinho e compaixão.

quinta-feira, 10 de março de 2022

HOMILIA PARA O DIA 13 DE MARÇO DE 2022 - 2º DA QUARESMA - ANO C

 

O SENHOR É MINHA LUZ E SALVAÇÃO

Uma antiga lenda conta a história de um rei poderoso que reuniu todos os sábios da corte e lhes propôs a seguinte questão: “Existe um mantra ou uma sugestão que possa funcionar em qualquer situação, em qualquer circunstância, em todo lugar e a qualquer momento? Algo que possa me ajudar quando nenhum de vocês estiverem ao meu lado para me darem conselhos? Digam-me, existe um mantra assim?”

Depois de muito pensar os sábios levaram ao Rei a seguinte resposta: “Em todas as circunstâncias ó Rei Lembre-se sempre que – Tudo isso passará”!

Pois é exatamente essa a lição que a Palavra de Deus quer nos dar nesse domingo. Todos somos diariamente chamados a fazer nossa transfiguração e para isso temos modelos em toda a história da salvação.

Abraão foi convidado a manifestar sua confiança total e radical na Palavra de Deus mesmo sendo já velho, sem filhos, sem a terra sonhada. Sua vida parecia ser destinada ao fracasso quando Deus lhe disse: “Olha para o céu e conta as estrelas, se fores capaz! E acrescentou: 'Assim será a tua descendência'. Abrão teve fé no Senhor, que considerou isso como justiça”. Aceitar o convite e a proposta de Deus apontando para novos tempos significou para Abraão compreender que “tudo isso passará”.

São Paulo convida os filipenses: “Sede meus imitadores, irmãos e observai os que vivem de acordo com o exemplo que nós damos. Nós somos cidadãos do céu. Aguardamos o nosso Salvador, o Senhor, Jesus Cristo. Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso, com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas. Assim, meus irmãos, a quem quero bem e dos quais sinto saudade, minha alegria, minha coroa, meus amigos, continuai firmes no Senhor”. Diante de todas as provações e dificuldades que a vida oferece é como se Paulo dissesse “Tudo isso passará”!

No Evangelho Jesus mostra toda a transformação pela qual passará a sua vida, ao mesmo tempo em que anuncia sua vitória mostra como ela se fundamenta na história do povo de Israel e passa por todos os sofrimentos e incompreensões que a missão lhe exigia: “Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha para rezar. Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante. Eis que dois homens estavam conversando com Jesus: eram Moisés e Elias. Eles apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a morte, que Jesus iria sofrer em Jerusalém”.

Entretanto os discípulos dormiam! Em outras palavras os discípulos não conseguiam acompanhar Jesus, mas apesar disso queriam fazer algo, mas não tinham ainda entendido a voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz”!

Ontem como hoje é a palavra de Jesus que deve ser ouvida trata-se de aprender com Ele que oração e vida andam juntos e são duas faces da mesma moeda. Precisamos aprender que a oração não tem por objetivo nos afastar das coisas do mundo, mas que em meio aos problemas da vida a oração nos permite escutar a voz de Deus, não nos deixando dormir na montanha da nossa indiferença com os problemas do mundo. A oração verdadeira é aquela que nos ajuda a perceber que as alegrias e as tristezas da vida “também passarão”!

E que não podemos sempre cantar:

O Senhor é minha luz e salvação;*
de quem eu terei medo?
O Senhor é a proteção da minha vida;*
perante quem eu tremerei?

 

 

 

sexta-feira, 4 de março de 2022

HOMILIA PARA O DIA 06 DE MARÇO DE 2022 - 1º DOMINGO DA QUARESMA - ANO C

 O SENHOR É REÚGIO E PROTEÇÃO

 

Nesta semana entramos no tempo litúrgico da quaresma. São quarenta dias de provisoriedade, de preparação para algo extraordinário e muito melhor. A penitência, o jejum, a oração e a esmola como práticas sugeridas para esse tempo não devem ser vistas como sacrifícios separados da vitória de Cristo. Esses quarenta dias que nos separam da festa da páscoa são uma oportunidade para experimentar a compaixão com Cristo e com as pessoas. Trata-se de um tempo para repensar nosso estilo de vida e reconhecer as tentações que nos distanciam da vida digna que Deus quer nos doar.

 

O texto da primeira leitura deixa muito claro que se trata de reconhecer o único e verdadeiro Deus: “Dirás, então, na presença do Senhor teu Deus: 'Meu pai era um arameu errante, que desceu ao Egito com um punhado de gente e ali viveu como estrangeiro. Ali se tornou um povo grande, forte e numeroso”. E depois de uma série de provações e dificuldades, enfim reconhece: “o Senhor nos tirou do Egito com mão poderosa e braço estendido, no meio de grande pavor, com sinais e prodígios”. Nada nem ninguém tem mais força e poder do que o único e verdadeiro Deus a quem se deve todas as conquistas e realizações humanas. Por isso nós rezamos no salmo: “Sois meu refúgio e proteção, sois o meu Deus, no qual confio inteiramente”.

Lucas narrando as tentações de Jesus tem como único objetivo mostrar como Jesus sempre se deixou conduzir pelo Espírito do Pai. Nenhuma das extraordinárias e espetaculares possibilidades de sucesso convencem Jesus de abandonar sua proximidade com o Pai e o Espírito Santo! Sua relação íntima com a proposta de Deus Pai não lhe faz um lutador solitário.

Em outros tempos o povo de Israel se deixou vencer pelas tentações do deserto exatamente porque se afastou do Espírito de Deus, agora Jesus mostra como é importante se deixar guiar por Ele como condição para vencer os tempos difíceis que atravessamos. O Evangelho e a quaresma nos apontam para atitudes de acolhida e compaixão com todos os caídos e aqueles que sofrem

A mensagem do Evangelho já foi sugerida por Paulo na carta aos Romanos: Se, pois, com tua boca confessares Jesus como Senhor e, no teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. Portanto, não importa a diferença entre judeu e grego; todos têm o mesmo Senhor, que é generoso para com todos os que o invocam”. Paulo deixa claro que todas as conquistas humanas não são méritos da própria pessoa, mas um dom gratuito de Deus que está ao alcance de todos.

A quaresma é a oportunidade para moldar nossa vida e percorrer nossa estrada por diferentes caminhos que não sejam pautados por nossas vontades, antes guiados por Deus como rezamos no salmo:

Quem habita ao abrigo do Altíssimo
e vive à sombra do Senhor onipotente,
diz ao Senhor: 'Sois meu refúgio e proteção,
sois o meu Deus, no qual confio inteiramente'.

 

Porque a mim se confiou, hei de livrá-lo
e protegê-lo, pois, meu nome ele conhece.
Ao invocar-me hei de ouvi-lo e atendê-lo,
e a seu lado eu estarei em suas dores.