sexta-feira, 31 de maio de 2019

HOMILIA PARA O DIA 02 DE JUNHO DE 2019 - ASCENSÃO DO SENHOR - ANO C


VOCÊS SERÃO MINHAS TESTEMUNHAS

É bastante comum cultivar sentimentos de compaixão, solidariedade, respeito, colaboração, independente de professar uma determinada religião e até mesmo entre aqueles que se dizem agnósticos ou ateus. Pode-se dizer que a grande maioria das pessoas merece ser chamada de testemunhas e defensoras de alguma causa de valorização da vida.
Pois é a função de testemunhas do seu estilo de vida e das suas propostas que Jesus confia aos discípulos. Na liturgia da Igreja o tempo da páscoa se estende por 40 dias, mais do que uma soma de dias contados cronologicamente, esse tempo tem o significado de aprendizado e de assimilação das verdades que tinham sido ensinadas por Jesus.
No Evangelho deste domingo Jesus reforça aos discípulos sua presença no meio deles pela ação do Espírito Santo. Ou seja, eles já não o verão mais fisicamente, mas suas palavras e seu ensinamento se perpetuará na vida e nas comunidades por onde eles andarem e isso será reconhecido na maneira como viverão a boa notícia que proclamam com as palavras.
Depois de recordar a finalidade da sua vinda de junto do Pai assumindo a condição humana Jesus reafirma o que já havia dito em outra ocasião: “Vós sois testemunhas disso. Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos com a força do alto. Depois Jesus levou os discípulos até junto de Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu. Eles prostraram-se diante de Jesus, e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria. E estavam continuamente no templo, bendizendo a Deus”.
Naquele momento, que pode ter sido o dia mesmo da ressurreição, os discípulos ainda não tinham claro o que significava testemunhar e propagar aquilo que viram e creram. Mas logo depois o testemunho de pessoas deixa isso muito claro tanto para aqueles que viveram com Jesus como para aqueles que apenas ouviram falar sobre ele. Assim temos o texto da segunda leitura que é uma espécie de carta circular enviada a diversas comunidades e nela São Paulo recomenda algumas ações básicas que Deus realiza em favor de todos: “O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de luz para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes”.
Isso que Paulo assegura aos que ouvem a sua palavra faz parte da recordação da missão dos discípulos narrada nos Atos dos Apóstolos: “Vós, porém, sereis batizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias... e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra... Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu”.
Os ensinamentos de Jesus dado aos seus discípulos podem ser assimilados por cada pessoa e por todas as comunidades cristãs. Voltando para junto do Pai, de onde Ele veio, Jesus deixou uma tarefa claríssima aos que nele acreditam: Tornar realidade o seu projeto libertador no meio do mundo. Cabe nesta celebração que nos perguntemos: na condição de cristãos podemos dizer que nosso dia a dia serve de testemunha desse projeto? Somos realmente fiéis à missão que aceitamos como batizados? Nossas ações permitiram transformar a realidade ao nosso redor? Que real impacto para as famílias, para as comunidades para o ambiente profissional o fato de afirmar que somos cristãos? Ou nossa vida de fé se resume a olhar para o céu, até fazendo muitas e longas orações e se esquecendo de se envolver nos grandes dramas e sofrimentos das pessoas que conosco convivem. Aqui cabe o que disse São João Paulo II aos participantes da Ultreia (Encontro festivo do movimento de Cursilho) mundial do ano 2000: “Evangelizar os ambientes do terceiro milênio Cristão eis aí um desafio para os cursilhistas do nosso tempo”.





domingo, 26 de maio de 2019

Homilia para o dia 26 de maio de 2019 - 6º domingo da páscoa - ANO C


DEIXO-LHES A MINHA PAZ

Pessoas que se querem bem em algum momento das suas relações emitem opiniões, conselhos e orientações que parecem ser úteis para o desenrolar da vida e das atividades nas quais estão envolvidas. Isso acontece na relação entre pais e filhos, companheiros de trabalho, com aqueles que tem laços de parentesco de qualquer grau, vizinhos, amigos de um mesmo movimento ou organização. São palavras quase sempre tidas como sábias e que normalmente são levadas a sério. Não raro se diz: “quem vê uma solução de fora, enxerga com outros olhos”.
É esta uma mensagem que se pode tirar da Palavra de Deus neste domingo. No evangelho Jesus continua falando aos discípulos no contexto da sua despedida. Semana passada ele se apresentou como o Caminho, e deixou claro aos que o aceitam como tal que todos são convidados a percorrer o mesmo caminho. Ou seja, entrega, dom total, comprometimento com as necessidades e sofrimentos alheios. Hoje ele orienta como dar conta de encarar essa decisão que se resume em duas situações amar e guardar a sua Palavra. “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”.
Se a pessoa se entende sendo morada do Pai e do Filho não precisa ter medo de nada, pois ambos trazem uma terceira força que Jesus identifica como o Advogado, aquele que vai recordar tudo o que já haviam sido ensinados. Em resumo: Não há o que temer para aqueles que conhecem a amam Jesus e cumprem a sua palavra.
Muito medos também marcaram a vida das primeiras comunidades cristãs. A começar pelo medo de se misturar com gente desconhecida, de ver sua palavra sendo interpretada de modo equivocado, de querer impor normas e regras possíveis de serem cumpridas apenas por alguns poucos privilegiados. Isso é o que se lê na primeira leitura dos Atos dos Apóstolos: “Ficamos sabendo que alguns dos nossos causaram perturbações com palavras que transtornaram vosso espírito. Eles não foram enviados por nós. Então decidimos, de comum acordo, escolher alguns representantes e mandá-los até vós, junto com nossos queridos irmãos Barnabé e Paulo, homens que arriscaram suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, estamos enviando Judas e Silas,
que pessoalmente vos transmitirão a mesma mensagem. Porque decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo, além destas coisas indispensáveis
”. Já não se trata de cumprir à risca regras e normas que sempre fizeram parte da organização das comunidades, pelo contrário o essencial agora é Cristo e sua proposta de salvação, o resto é periférico e de pouca importância.
E a segunda leitura completa com a ideia da cidade nova, fundada sobre o número doze dos apóstolos e das tribos de Israel e cujo significado faz compreender que se trata da totalidade dos filhos e filhas de Deus. Quando definitivamente Deus morar em todos nascerá a cidade nova de portas abertas, capaz de acolher os que estiverem dispostos a seguir Jesus como o único e verdadeiro caminho.
Peçamos também a nós o discernimento para compreender as palavras de Jesus e viver segundo a “paz que ele nos dá”. Na verdade, a palavra de Jesus é uma espécie de conselho dado por alguém que enxerga a solução para os problemas a partir de fora e que, portanto, vê com outros olhos.


quinta-feira, 16 de maio de 2019

HOMILIA PARA O DIA 19 DE MAIO DE 2019 - 5º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C


UM NOVO MANDAMENTO
As comunidades cristãs, os grupos organizados, as associações e entidades comunitárias são espaços e oportunidades para manifestar e realizar gestos concretos de amor ao próximo e de doação, isso ninguém dúvida. Com frequência se pode ver a realização de coletas em favor de causas nobres e para atender necessidades imediatas de grupos e famílias. Bingos e jantares de solidariedade que buscam construir a comunhão e a partilha fazem parte do dia a dia de todas as comunidades, instituições e associações. Não há porque duvidar que tudo isso é sinal e vivência do mandamento dado por Jesus: “Amem-se uns aos outros como eu amei vocês”. Todas essas atividades não acontecem sem dificuldades, provações e desafios que em nada se diferenciam das primeiras comunidades cristãs.
O texto dos Atos dos Apóstolos, é muito preciso quando afirma: “Paulo e Barnabé voltaram a Listra, a Iconio e a Antioquia. Iam fortalecendo as almas dos discípulos e exortavam-nos a permanecerem firmes na fé, porque – diziam eles – temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no reino de Deus”. Estas palavras são mais do que claras e apresentam o cerne da vida das primeiras comunidades chamadas a viver a doutrina do amor vivenciado pelo mestre. Diante das crises e dificuldades próprias do tempo os que recebiam a palavra dos apóstolos se fortaleciam na ajuda fraterna, davam testemunho do amor de Deus e cultivavam a generosidade de quem é capaz de amar acima de qualquer condição e situação. O entusiasmo em receber e viver a boa notícia os fortalecia diante dos perigos e tribulações do tempo.
Já o autor do Apocalipse faz questão de afirmar sua convicção que a meta e o destino para onde caminham os seguidores de Jesus são os novos céus e a nova terra, a morada de Deus que enxugará as lágrimas dos olhos de todos e para onde se encaminham aqueles que vivem o amor ensinado por Jesus.
As palavras de Jesus, no Evangelho, podem ser entendidas como um testamento para o qual Jesus pede doação radical capaz de reproduzir entre as pessoas a experiência do amor materno e paterno de Deus. A ordem de Jesus para os discípulos é evidente, não há tempo para conversa fiada: “Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco. Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros”.
A mensagem central da Palavra de Deus neste domingo é simples e objetiva: pertencer à comunidade cristã implica aceitar as exigências do amor de Deus revelado em Jesus. O amor que o mestre pede aos seus seguidores não permite comportamentos egoístas, interesseiros, que limitem horizontes, que roubem a liberdade, pelo contrário, pede um amor que se faça serviço, que inclua e não marginalize que se faça dom total para que todos tenham vida em abundância.



quarta-feira, 8 de maio de 2019

HOMILIA PARA O DIA 12 DE MAIO DE 2019 - 4º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C


BUSCAI ANTES O REINO DE DEUS E A SUA JUSTIÇA

Nos últimos dias os bispos do Brasil estiveram reunidos em Assembleia, pelo menos três coisas merecem ser lembradas e que fazem sintonia com a Palavra de Deus proclamada na liturgia deste domingo. Olhando o futuro foram aprovadas as Novas Diretrizes para Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil para os próximos quatro anos; para dar continuidade ao trabalho colegial do episcopado foi eleita a nova equipe diretiva da CNBB; e antes da conclusão do evento, na condição de líderes da grande comunidade católica que vive no Brasil, os bispos deram uma palavra de pastores enviando uma “Mensagem ao povo brasileiro”.
O documento afirma a confiança e a alegria dos bispos e da Igreja no Brasil em relação ao testemunho do Evangelho que é dado pelos cristãos comprometidos com a vivência do amor. Sem medo de expor seu ponto de vista o episcopado está plenamente de acordo com várias questões nacionais que precisam ser enfrentadas com seriedade sob pena de deixar o Brasil e o os brasileiros em situação de “ovelhas” perdidas e fadadas à miséria e ao sofrimento.
No documento estão mencionadas as necessárias reformas política, tributária e da previdência, mas fica bem clara a posição da Igreja: “nenhuma se legitima se não tiver como ponto de partida o bem comum e a garantia de que os pobres sejam os primeiros a serem ouvidos, respeitados e valorizados”.
O documento dos bispos fala de outra maneira o que se lê na primeira leitura: “Fiz de ti a luz das nações, para levares a salvação até aos confins da terra’». Ao ouvirem estas palavras, os gentios encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor”. Quando se trata de justiça e de verdade, a questão é muito maior do que “proclamar Deus acima de tudo” como se alguém tivesse o monopólio e a propriedade dele, pelo contrário, trata-se de tratar as pessoas com dignidade de Filhos de Deus.
O convite para a esperança que é feito pelos bispos da Igreja no Brasil se confirma na frase que encerra a segunda leitura: “O Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água viva. E Deus enxugará todas as lágrimas dos seus olhos”.
Como ovelhas que pertencem ao único e verdadeiro Pai todos podemos ter a certeza absoluta: “O Brasil que queremos emergirá do comprometimento de todos os brasileiros com os valores que têm o Evangelho como fonte da vida, da justiça e do amor”. Que sejamos todos capazes de discernir a voz dos verdadeiros pastores e líderes apontando e trabalhando pelo bem-estar de todos.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

HOMILIA PARA O DIA 05 DE MAIO DE 2019 - 3º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C


CORDEIRO FIGURA DO PODER QUE SALVA

Não é raro entre as famílias e comunidades que depois de alguma tragédia, fracasso, desilusão e situação de profunda tristeza ser necessários alguns dias par retomar as atividades e mesmo assim as coisas não andam como se gostaria. Frequentemente depois destas provações a gente leva algum tempo para se refazer e todas as atividades demoram para ganhar cor e sabor. Entre os cristãos tem-se a prática bonita de rezar juntos e de partilhar com aqueles que se convive a situação dolorosa experimentada pelos atingidos de perto pelo fato em questão.
Este é o sentimento dos apóstolos narrado no evangelho deste domingo. Tinham convivido com Jesus, se decepcionado com sua morte, viram a sua ressurreição e ascensão, estavam convencidos que Ele ainda voltaria. Porém era preciso retomar as atividades e dar continuidade ao ritmo que a vida lhes impunha. Entrar no barco e voltar ao trabalho era comparado a uma noite escura cujo resultado seria dificultado, como de fato foi: “Trabalharam a noite inteira e nada pescaram”. Sem dúvida lhes vinha à mente a palavra do Mestre: “Sem mim nada podeis fazer”.
Eis que ao clarear do dia o Senhor lhes aparece, o cenário toma outro colorido a pesca é abundante e eles são confirmados de acordo com o dia que ouviram o primeiro chamado: “De hoje em diante vocês serão pescadores de homens”, esta atividade de cunho divino será dirigida com a limitação de todas as fraquezas humanas. O escolhido para coordenar o grupo é ninguém menos do que Pedro que se recusou aceitar ter os pés lavado pelo mestre, tirou a espada reagindo à prisão do mestre, o negou por três vezes no palácio. Isso significa entender que a Igreja fundada no sangue do cordeiro é santa na sua origem, mas pecadora na sua continuação pelas mãos humanas.
 Neste contexto eles compreendem bem a figura descrita pela segunda leitura quando o autor escreve diante das perseguições sofridas pelos cristãos do primeiro século na qual apresenta vencedor o cordeiro que é ao mesmo tempo “servo de Deus” – manso levado ao matadouro; “Cordeiro pascal” cujo sangue é sinal eficaz sobre a escravidão; “Cordeiro apocalíptico” vencedor da morte guia do rebanho dotado de poder e realeza. Confiar na presença deste cordeiro significa pescar na claridade do dia e ver o resultado fecundo do seu trabalho.
Obviamente que essa tarefa não é uma ação fácil e que pode ser levada com pouca seriedade. As provações e perseguições narradas na primeira leitura mostram o desafio de dar testemunho de Jesus. Foram presos e libertados miraculosamente, de novo presos e conduzidos diante das autoridades e finalmente proibidos de anunciar o nome e a doutrina de Jesus. Entretanto, “Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria, por terem merecido serem ultrajados por causa do nome de Jesus”.
Para as pessoas do terceiro milênio a mensagem mais importante que se pode tirar da liturgia deste domingo é um convite a colocar sempre Jesus Cristo vivo e ressuscitado como centro da missão e das atividades que cada um realiza. Em resumo: Todos os esforços para o mudar o mundo, realizados, a qualquer hora do dia, serão uma pesca noturna de resultados infrutíferos se Cristo não estiver presente e enquanto sua voz não for ouvida e reconhecida. Todo e qualquer esforço humano será infrutífero sem a presença viva do Senhor.


quinta-feira, 25 de abril de 2019

HOMILIA PARA O DIA 28 DE ABRIL DE 2019 - 2º DA PÁSCOA - ANO C


SOLIDARIEDADE E COMUNHÃO 

Gestos e atitudes de solidariedade e caridade são frequentes no dia a dia da sociedade contemporânea. Diante de catástrofes ou de sofrimentos de pessoas e grupos não faltam voluntários e grupos organizados que arregaçam as mangas e não temem colocar em risco a própria vida para resgatar outras vidas. Para essas atitudes costuma-se aplicar o adjetivo “estender a mão na hora da necessidade”. E este gesto é tido em alta estima por todas as culturas e povos.
Pois é exatamente isso que acontecia com os discípulos logo depois da ressurreição de Jesus. Esta é a narrativa da primeira leitura: “Muitos sinais e maravilhas eram realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos. Todos os fiéis se reuniam, com muita união, o povo estimava-os muito. Chegavam a transportar para as praças os doentes em camas e macas, a fim de que, quando Pedro passasse, pelo menos a sua sombra tocasse alguns deles”. Ora, se fosse para tirar uma lição desta primeira leitura é possível afirmar que os cristãos da atualidade têm a responsabilidade de dar continuidade na ação de Jesus e por seu testemunho continuar a mostrar Cristo presente e misericordioso diante de tudo e de todos os sofrimentos que a vida lhes impõe.
O livro do Apocalipse, de onde se extrai a leitura de hoje, foi escrito no final do primeiro século, ocasião em que os cristãos eram perseguidos de forma violenta e organizada. O autor mesmo se diz prisioneiro por causa do Evangelho e mesmo nesta condição não se furta de reconhecer o Espírito para reconhecer a voz que lhe pedia: “Não temas. Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos.
Escreve, pois, as coisas que viste, tanto as presentes como as que hão-de acontecer depois destas
”. Nesta leitura Jesus é apresentado como alguém que caminha lado a lado com a igreja e com as pessoas sugerindo que n’Ele se encontra a força para vencer as forças contrárias à vida do jeito que Deus quer para o mundo.
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor”. As palavras iniciais do Evangelho deste domingo confirmam que o Senhor ressuscitado é o centro da comunidade e que nenhum medo, nenhuma perseguição, nenhuma dificuldade pode ofuscar a presença d’Ele sendo reconhecido pela comunidade reunida.
Distanciar-se da comunidade, como fez Tomé, é um perigo para si e para todos. Longe uns dos outros abre-se uma fenda como a lança que abriu o lado do Cristo morto. Também a nós ele sugere o que ordenou a Tomé: “Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente”. Reconhecer Jesus implica frutificar no amor, ser alento e conforto para os sofredores, iluminar os que estão nas trevas, ser sinal de esperança para os entristecidos. Em resumo: estar de pé no meio da comunidade quando o sofrimento toma conta das pessoas, da família, da igreja e da comunidade. Aprender com Jesus a ser misericordioso!

quarta-feira, 17 de abril de 2019

HOMILIA PARA O DOMINGO DE PÁSCOA - 21 DE ABRIL DE 2019 - ANO C


NÃO SE CANSAR DE BUSCAR AS COISAS DO ALTO

Qualquer pessoa, empresa ou instituição que tenha preocupação com a continuidade da sua condição e existência está continuamente traçando metas e objetivos. De tal modo se planeja que uma vez alcançado um determinado ponto no caminho do sucesso se coloca novas metas e distância no horizonte o topo onde quer chegar.
Isso é o que acontece com os cristãos em relação às conquistas na vida de fé e a expectativa do encontro definitivo com o ressuscitado. Toda a liturgia da Igreja é organizada nesta perspectiva de tal modo que uma determinada celebração nunca é finalizada em si mesma.
O exemplo mais claro desta busca incansável é a páscoa. Durante quarenta dias as celebrações da quaresma vão apontando para o domingo da ressurreição. Chegada a culminância deste período depositamos ali as dores, as lutas, os sofrimentos e os desafios. Deixamos tudo na sepultura onde o autor da vida sepultou a morte.
Os próximos passos para os cristãos é afirmar com a vida e com a palavra o que os apóstolos fizeram logo depois de reconhecer o ressuscitado, conforme diz Pedro na primeira leitura: “E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia”. Ou então como destaca São Paulo: “Ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres”.
Encontrando o túmulo vazio os amigos de Jesus sentiram que naquele lugar não havia espaço para a morte e a tristeza, pelo contrário diz o Evangelho: “João viu e acreditou... Jesus está vivo, apesar de eles ainda não terem compreendido o que significa ressurreição dos mortos...”
Celebrar o domingo de Páscoa implica renovar a esperança, reinventar-se, beber da fonte da salvação. Que nada, nem ninguém nos distancie do empenho em garantir o direito e a justiça para todos em todo lugar.

HOMILIA PARA O SÁBADO SANTO - 20 DE ABRIL DE 2019 - ANO C


VIVOS PARA DEUS EM JESUS CRISTO RESSUSCITADO

Algumas circunstâncias na vida são tão extraordinárias que não basta serem contadas como uma reportagem jornalística. Assim os pais costumam contar aos filhos e a muitos dos seus amigos fatos que lhes aconteceram ao longo da história, como por exemplo: a conquista de um novo emprego, a recuperação da saúde, o nascimento de um filho, a compra do seu primeiro imóvel e por aí a fora.  Isso é o que aconteceu com os hebreus saídos do Egito. Os feitos realizados durante a travessia do deserto e a chegada à terra prometida foram de tal modo significativos que a narrativa do fato é contada com todos os detalhes de uma espetacular vitória. Os Israelitas entendem que Deus mesmo fez a travessia com eles e fazem questão que seus descendentes não percam nada daquele feito extraordinário.
Guardadas as proporções este é o sentido da páscoa para os Cristãos. Nas noites escuras quando a vida nos prega algumas peças derrubando todas as esperanças nós celebramos o Cristo fazendo a travessia dos mares bravios cuja vitória só ele pode nos dar. A celebração da vigília pascal não é um fato para ser realizado na passividade das coisas que acontecem ao acaso, pelo contrário se trata de reinventar-se vestindo se as roupas de quem vai ao encontro do impossível, como fizeram as mulheres amigas de Jesus: No primeiro dia da semana, bem de madrugada, as mulheres foram ao túmulo de Jesus”.  Esta coragem lhes rendeu a maravilhosa resposta: “Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? 6Ele não está aqui. Ressuscitou! Lembrai-vos do que ele vos falou, quando ainda estava na Galileia: O Filho do Homem deve ser entregue nas mãos dos pecadores, ser crucificado e ressuscitar ao terceiro dia”.
O resultado da celebração da vigília não pode ser outro senão provar da inesgotável fonte de vida que a ressurreição de Jesus faz borbulhar para todos os que nele acreditam. Em síntese é possível afirmar como São Paulo: “Ó morte onde está tua vitória...” e “Deus amou tanto o mundo que nos deu o seu Filho único não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele”. 

HOMILIA PARA A SEXTA FEIRA DA PAIXÃO - 19 DE ABRIL DE 2019 - ANO C


O GRÃO DE TRIGO PRECISA MORRER

Não são poucas as dificuldades humanas diante da certeza da morte. Embora se tenha clareza que a morte é certa e que em algum momento todos haverão de experimentar essa realidade ela é sempre sofrida, dolorida e sem explicação plausível.  
Mas é também certo que a morte de uma pessoa em idade avançada, ou depois de uma longa enfermidade ou mesmo se bastante jovem, mas que deixa como legado ensinamentos que podem ser assimilados e servem de exemplo para os que tomam conhecimento do fato, tem-se a impressão que dor é diminuída ou pelo menos amenizada.
Certamente esse é o sentimento dos cristãos nesta solene celebração da Sexta-feira da Paixão. O Crucificado que desde cedo foi identificado com o Cordeiro manso levado ao matadouro do qual fala a primeira leitura: “Ei-lo, o meu Servo será bem-sucedido; sua ascensão será ao mais alto grau. Assim como muitos ficaram pasmados ao vê-lo - tão desfigurado ele estava que não parecia ser um homem ou ter aspecto humano -do mesmo modo ele espalhará sua fama entre os povos”. Ou o sacerdote descrito na carta aos hebreus: “Temos um sumo sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus, o Filho de Deus.
Por isso, permaneçamos firmes na fé que professamos. Com efeito, temos um sumo sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado”. As duas figuras é o mesmo que João descreve sendo condenado e sepultado entre dois jardins, sinais de que a morte não tem a última palavra, mas como num jardim bem irrigado é a semente que cai na terra, morre e germina para produzir muitos frutos.
Reunidos nesta celebração da paixão os cristãos não fazem outra coisa senão ter certeza que a dor e a desilusão da morte vislumbram os mistérios da grandeza de Deus que convida para ações cotidianas por meio das quais o mundo escuro das cruzes e das dores possa brilhar como sol fecundo de amor e paz. Por isso celebramos a paixão do Senhor cantando sem medo: “Vitória tu reinarás, ó Cruz tu nos salvarás

HOMILIA PARA A QUINTA FEIRA SANTA - 18 DE ABRIL DE 2019 - ANO C


DEI-LHES O EXEMPLO, FAÇAM A MESMA COISA

“Qualquer pessoa pode lhe dar um bom conselho, mas nem todas podem lhe dar um bom exemplo”. Esta e tantas outras frases se prestam para entender a narrativa do Lava pés na liturgia desta quinta-feira santa. O que Jesus realizou com os discípulos na última ceia foi a culminância de todas as suas ações de respeito e de valorização das pessoas e da sintonia entre o que Ele ensinou e o que viveu.
É claro para os cristãos que o Pai enviou Jesus Cristo ao mundo para confirmar de maneira definitiva a aliança que havia feito com o seu povo desde o início dos tempos. As ações de Deus narradas ao longo da história mostram como Ele sempre cumpriu suas promessas e foi fiel à aliança que selou com a humanidade.
A ideia central da primeira leitura se pode destacar na frase: “Este dia será para vocês uma festa memorável em honra do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações, como instituição perpétua”. O texto que descreve a regulamentação e a motivação para a páscoa dos judeus deixa muito claro que a aceitação do projeto de Deus para as gerações futuras dependia do exemplo que seria dado por aqueles que vivenciaram os fatos extraordinários e que iriam manifestar aos descendentes celebrando de modo solene a festa da passagem.
Aos coríntios, São Paulo escreve, na segunda leitura, e recorda as palavras de Jesus quando na ceia deu-se em comida e bebida para a salvação de todos e pede que os discípulos repitam em sua memória: “Todas as vezes que comerem deste pão ou beberem deste cálice lembrem-se da morte do Senhor até que ele venha”.
As duas leituras deixam mais do que claro que a memória daquilo que Deus realizou ao longo do tempo é uma instituição perpétua e que vai ser continuada mediante o exemplo daqueles que farão a sua memória.
Na ceia de despedida com os discípulos Jesus não se limitou a repetir as palavras da instituição da Eucaristia, mas em associar a elas um gesto que confirma todos os outros: “Dei-lhes o exemplo, façam vocês a mesma coisa”.
Que a celebração da quinta-feira santa nos ajude ainda mais ser gente de testemunho e de coragem para que antes de dar bons conselhos demos também bons exemplos.



sexta-feira, 12 de abril de 2019

HOMILIA PARA O DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR - 14/04/2019 - ANO C


AS PEDRAS NUNCA FALARÃO

Uma das atitudes bonitas e que merece ser valorizada nas pessoas é o sentimento de compaixão. E mesmo o coração mãos duro e insensível mostra-se compadecido e despedaçado diante do sofrimento alheio. A fome que assola regiões inteiras, a violência física e moral que muitas pessoas são vítimas, o abandono de crianças e idosos, o descaso com a coisa pública e uma lista infinita de situações dolorosas fazem qualquer coração experimentar a compaixão e a solidariedade. Este sentimento foi sendo desenvolvido nos cristãos durante a caminhada da quaresma chegando ao Domingo de Ramos. Nesta celebração a liturgia faz memória da solene e vitoriosa entrada de Jesus aclamado como Rei em Jerusalém e na sequência mostra a traição dos seus companheiros condenando-o injustamente.
Na celebração de Ramos resplandece o convite para contemplar o amor de Deus que desceu e experimentou toda a fragilidade humana. Deixou-se humilhar para desta condição elevar a humanidade dispersa. A liturgia faz perceber que nenhuma ação humana é mais significativa que doar-se para promover a qualidade da vida.
O profeta anônimo da primeira leitura não se recusa a testemunhar o amor de Deus para todos, a figura desta pessoa mais tarde foi identificada com Jesus Cristo que fez a mesma coisa.
São Paulo escreve aos filipenses e também apresenta a pessoa de Jesus como o modelo a ser imitado quando se trata de viver a compaixão, a humildade, a obediência e a entrega da própria vida por uma causa muito maior.
As duas comparações das leituras têm como base exatamente o que aconteceu com Jesus. Revivendo o mistério da sua paixão e morte pode-se perceber o dom supremo de sua vida feita serviço pela libertação de todos. Na cruz Ele revela o extraordinário amor de Deus que nada guarda para si.
Diante da humilhação pela qual passa o Filho de Deus, as pedras se calaram, porque até os incrédulos proclamaram: “verdadeiramente esse homem era o Filho de Deus”.
Que as celebrações da semana santa renovem em todos e particularmente nos cristãos o compromisso e a compaixão diante do sofrimento de todos. Que a oração, o jejum e a esmola façam de todos apaixonados pela vida num compromisso com as políticas públicas que favoreçam o direito e a justiça em todos os lugares.

terça-feira, 2 de abril de 2019

HOMILIA PARA O DIA 07 DE ABRIL DE 2019 - 5º DOMINGO DA QUARESMA - ANO C


VAI E NÃO PEQUES MAIS

Não é raro que a gente se encontre refém dos nossos próprios erros e comportamentos. Com relativa frequência não se tem a quem perdoar e nem tampouco a quem pedir perdão porque se é vítima da própria armadilha. Numa linguagem popular esta situação costuma ser traduzida por ditados populares: “A língua é o chicote da bunda...”; “Cuspiu para o alto e lhe caiu na cara..” “Bebeu do próprio veneno...”
Pois era esta a situação do povo de Israel no tempo do profeta Isaías. Estavam de novo exilados e tinham consciência do seu próprio erro e dos seus pecados. O Profeta aproveita pare lhes apresentar uma proposta extraordinária: “Eis o que diz o Senhor: «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas. Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes? Vou abrir um caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida”. Deus, a quem o profeta revela por meio da sua pregação, é libertador e acompanha a caminhada do seu povo para a liberdade. O Deus que acompanhou o povo de Israel é o mesmo que se faz presente no dia a dia das comunidades contemporâneas e cujo objetivo é levar para a “terra prometida onde a vida nova é abundante”.
Paulo escreve aos filipenses estando já na prisão e aguardando a sua execução. De lá escreve de maneira afetuosa fazendo um convite a libertar-se de tudo o que impede o reconhecimento e a identificação com Cristo.
No Evangelho, mais uma vez, lá estão os fariseus e doutores da lei querendo deixar Jesus em “saia justa”. Apresentam-lhe um fato que é abominável. Trata-se de um pecado público e que não pode ser tolerado. Entretanto eles não estão apresentando o caso como uma alternativa de solução para um tipo de pecado muito corriqueiro naqueles tempos. A intenção é ver se Jesus tem ousadia de desafiar a lei.
Na mesma proporção que eles tentam colocar Jesus a prova ele mais uma vez “sai pela tangente”. Não desafia a lei, nem tampouco compromete a misericórdia de Deus da qual ele é o rosto humano. E nesta situação o evangelho é claro: “Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão. Como persistiam em interrogá-lo, ergueu-Se e disse-lhes: «Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra». Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão”
Quando colocado o problema diante de Jesus ele não minimiza, nem relativiza a dimensão do pecado. Ele sabe que esta não é uma atitude aceitável, Por outro lado ele também se recusa a aplicar uma lei que mata em nome de Deus. Silenciando diante dos acusadores Jesus cria um suspense que incomoda a todos e por fim realiza o desmonte dos acusadores: “quem de vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra”.

À medida que todos os acusadores se dão conta das próprias fragilidades Jesus coloca em prática a missão para a qual foi enviado. Dá um voto de confiança na mulher fazendo a recomendação que faria para cada um de nós: “Vai você também e não repita a mesma coisa”. 






sexta-feira, 29 de março de 2019

HOMILIA PARA O DIA 31 DE MARÇO DE 2019 - 4º DA QUARESMA - ANO C


DEIXAR-SE GUIAR PELA MISERICÓRDIA

Tomar decisões erradas, andar por caminhos que nem sempre são muito confiáveis. Literalmente “quebrar a cara” por conta de escolhas pouco claras e seguras não raro obrigam as pessoas “cortar na própria carne” como alternativa para reencontrar o caminho e corrigir os destinos equivocados. É destas situações e decisões que trata a Palavra de Deus neste domingo e faz um convite a descobrir o amor de Deus e sua misericórdia que reabilita a retomar o caminho e reconstruir a comunhão e a fraternidade.
A primeira leitura narra a entrada e instalação do povo na terra prometida, os filhos nascidos durante a travessia do deserto são circuncidados como um sinal da pertença ao povo de Deus. Renovados os filhos dos hebreus constituem uma nação renovada e participantes de um processo coletivo de conversão que marca também o fim da humilhação sofrida no Egito e assinala um tempo novo que recupera a aliança com o verdadeiro Deus.
No tempo da quaresma os cristãos são também convidados a fazer a mesma experiência dos israelitas que significa colocar um ponto final na escravidão e no deserto e recomeçar uma vida nova de liberdade e de paz. A circuncisão que os cristãos são chamados a fazer não se trata de um corte físico, mas de um corte nos costumes e nas práticas que impedem a celebração de um verdadeiro compromisso com Deus.
Por sua vez São Paulo também faz a mesma exortação servindo-se de outras palavras: “Nós somos, portanto, embaixadores de Cristo; é Deus quem vos exorta por nosso intermédio.
Nós vos pedimos em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus”
. A recomendação fundamental para a comunidade de Corinto é reconciliação, ou seja, coragem de começar de novo e de um jeito diferente. Basicamente a mesma lição que se pode tirar da primeira leitura: Na condição de uma comunidade renovada pela pessoa de Jesus Cristo a hora é de reconstruir a aliança com Deus e a comunhão com todos.
A longa e extraordinária parábola do Filho Pródigo, ou do Pai misericordioso tem o mesmo pano de fundo e dela se pode tirar a mesma lição. Apesar das infidelidades humanas Deus continua a oferecer um projeto de comunhão e de amor. Ter a coragem do filho infiel é um convite para cada pessoa e para todos nas comunidades: Reconhecer o pecado, levantar-se e ir ao encontro do Pai de toda a misericórdia.
Seja ao filho arrependido, seja ao filho mais velho que se acha perfeito e incapaz de perdoar o Pai oferece sempre o projeto de comunhão longe de qualquer egoísmo, autossuficiência e desamor: “Filho tudo o que e meu é seu, mas era preciso se alegrar porque o seu irmão estava morto e voltou a viver, estava perdido e foi reencontrado”.
Todos são desafiados para ir além da lógica e da justiça humana e permitir que a misericórdia de Deus possa transparecer nas relações do cotidiano. É isso que se reza no salmo deste domingo:  “Provai e vede como o Senhor é bom. Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes, o vosso rosto não se cobrirá de vergonha. Este pobre clamou e o Senhor o ouviu, salvou-o de todas as angústias”.

sábado, 23 de março de 2019

HOMILIA PARA O DIA 24 DE MARÇO DE 2019 - 3º DA QUARESMA - ANO C


CONVERTA-SE E CREIA NO EVANGELHO
Se dermos uma olhada no cotidiano em que estamos inseridos, sem grande dificuldade vamos nos deparar com sofrimentos de toda ordem. Catástrofes naturais e alguns lugares, acidentes graves no trânsito e no trabalho em outro, violência provocada por questões muito insignificantes, corrupção e descaso com a coisa pública, feminicídio e discriminação de pessoas. Seria muito simples dar responder com poucas palavras e liberando-se da responsabilidade por estas questões. Em uma frase pode-se resumir tudo isso: Castigo de Deus.
Entretanto, se ouvirmos bem fizermos uma clara e objetiva interpretação da Palavra de Deus neste domingo, teremos uma resposta que se resume numa única palavra, que nos exime da nossa responsabilidade e que continua colocando Deus no centro de todas as questões.
No evangelho Jesus cita dois fatos históricos do seu tempo que eram interpretados exatamente como nós fazemos: Castigo de Deus. Retomando os fatos ele os conclui com a mesma e única palavra que serve para a atualidade: “vieram contar a Jesus que Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus, juntamente com o das vítimas que imolavam. Jesus respondeu-lhes: Julgais que, por terem sofrido tal castigo, esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus? Eu digo-vos que não.
E se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo. E aqueles dezoito homens,
que a torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou? Julgais que eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante”.
Obviamente que Deus sempre está disposto a dar uma nova oportunidade e para este caso Jesus conclui com a parábola da figueira. Sobre ela se pode compreender a infinita misericórdia de Deus: “Vou colocar adubo em torno dela...” Entretanto não se pode deixar de compreender que cada nova oportunidade não deixa de ser tempo perdido, ou seja, quanto antes tivesse sido reparado a causa do pecado, antes e em maior proporção se teria produzido os frutos para os quais a pessoa humana foi criada.
Se tem uma cosia que deixa Deus incomodado é a inércia humana quando se trata de fazer libertar as pessoas das escravidões que o pecado lhes impõe: “Então Deus chamou-o do meio da sarça: «Moisés! Moisés!» Ele respondeu: «Aqui estou!» Continuou o Senhor: «Não te aproximes daqui, tira as sandálias dos pés, porque o lugar que pisas é terra sagrada». E acrescentou: «Eu sou o Deus de teu pai, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob”. Então Moisés cobriu o rosto, com receio de olhar para Deus. Disse-lhe o Senhor:
«Eu vi a situação miserável do meu povo no Egito; escutei o seu clamor provocado pelos opressores. Conheço, pois, as suas angústias”.
Com outras palavras e em outro contexto São Paulo fala aos coríntios que o pecado não consiste na observância de regras externas. O pecado não é comer ou não comer carnes sacrificadas, o pecado é não se converter e deixar-se conduzir pelas tentações anteriores. Em resumo trata-se de fazer esforço para construir a comunhão com Deus e com as pessoas.
Em resumo, trata-se de compreender em única palavra: Conversão.




quinta-feira, 14 de março de 2019

HOMILIA PARA O DIA 17 DE MARÇO DE 2019 - ANO C - 2º DA QUAREMSA


OLHA E CONTA AS ESTRELAS DO CÉU...

A promessa feita a Abraão na primeira leitura de hoje certamente se concretiza na sociedade contemporânea. Os desafios e provações experimentados pelo pai de muitos povos na fé, pouco ou nada se difere dos desafios e provações da atualidade. Sem precisar ser sensacionalista vale lembrar que apenas nos primeiros três meses de 2019 o Brasil já vivenciou pelo menos três grandes tragédias: A barragem de brumadinho; O incêndio no centro de treinamento do Flamengo; e o massacre de Suzano. Ora, isso pode dar a impressão que Deus está surdo, ou indiferente aos sofrimentos do povo.
O longo relato da conversa entre Deus e Abraão permite perceber como a ação humana precisa ser repleta de coragem e determinação diante das provocações que a vida lhe impõe e o resultado dessa ousadia é a confirmação da aliança de Deus com aquele que o aceita em todas as circunstâncias. Abraão poderia ter tomado outro caminho, mas não fez e isso lhe rendeu as bênçãos prometidas.
A comunidade dos filipenses, para quem Paulo escreve o texto de hoje tinha diante de si a figura do apóstolo que se descreve como modelo a ser imitado: “Sede meus imitadores e ponde os olhos naqueles que procedem segundo o modelo que tendes em nós”. Fazendo essa afirmação Ele também deixa claro que existe outra opção: “Porque há muitos, de quem tenho falado várias vezes e agora falo a chorar, que procedem como inimigos da cruz de Cristo”. Por causa desta realidade fica ainda melhor de entender a conclusão paulina: “Portanto, meus amados e queridos irmãos, minha alegria e minha coroa, permanecei firmes no Senhor”.
O convite para todos é não se considerar como atletas vitoriosos diante dos sofrimentos, provações e dificuldades, mas sempre como alguém que corre ao encontro da meta que sempre lhes é proposta de um modo renovado.
Jesus, no Evangelho mostra aos discípulos todo o seu esplendor, não sem deixar claro que isso também é resultado de um processo de escolha, de sofrimento, de dor e de morte: “Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém”.
Jesus, por meio de quem o Pai oferece sua aliança também convida a aceitar o sofrimento, a dor e as dificuldades. Aceitar o sofrimento não significa concordar com as tragédias humanas e permitir que elas continuem se repetindo como se não tivéssemos nenhuma participação e responsabilidade para evitar que aconteçam.
Aceitar o sofrimento implica descer da montanha das certezas humanas, caminhar na planície das provocações e colaborar para que políticas públicas sejam construídas na base do direito e da justiça que libertem a todos em todos os lugares.
Tenhamos certeza que só o Senhor é a certeza de nossa Salvação.




sábado, 9 de março de 2019

HOMILIA PARA O DIA 10 DE MARÇO DE 2019 - 1º DOMINGO DA QUARESMA - ANO C


DAI-NOS O PÃO DE CADA DIA E NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO

A quaresma como a própria palavra significa tem a ver com repensar as ações cotidianas dar-se conta das fraquezas e limitações que se está sujeito e retomar a vida respondendo de modo adequado às fraquezas que ameaçam as relações de fraternidade e de comunhão. A palavra de São Paulo aos Romanos é uma exortação que se presta para todos na atualidade: “Acolham-se uns aos outros como Cristo acolheu vocês para a glória de Deus”.
No dia a dia da vida não faltam oportunidades para se deixar levar pelas tentações. O orgulho, a autossuficiência, a prepotência são situações rotineiras que fazem as pessoas se fechar em si mesmas julgando-se melhor que os demais e considerando aqueles como desnecessários para a construção da comunhão e da fraternidade.
A primeira leitura é uma seleção de discursos proferidos por Moisés enquanto os Israelitas se organizavam para entrar na terra prometida. A síntese das palavras de Moisés por de ser entendida como um convite a renovar e fidelidade da aliança da comunidade com seu Deus e, portanto, a eliminar os falsos deuses: “Invocamos o Senhor Deus dos nossos pais e o Senhor ouviu a nossa voz, viu a nossa miséria, o nosso sofrimento e a opressão que nos dominava. O Senhor fez-nos sair do Egito com mão poderosa e braço estendido, espalhando um grande terror e realizando sinais e prodígios. Conduziu-nos a este lugar e deu-nos esta terra, uma terra onde corre leite e mel.
Tais exortações podem ser aplicadas para a sociedade contemporânea sempre convidada a deixar os caminhos da desumanidade, do egoísmo, do orgulho que em lugar da comunhão facilita a morte e a exclusão.
Paulo, na carta aos Romanos deixa mais do que claro que suas palavras são uma atualização dos discursos de Moisés: “A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração. Esta é a palavra da fé que nós pregamos. Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor e se acreditares no teu coração que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo. Pois com o coração se acredita para obter a justiça e com a boca se professa a fé para alcançar a salvação. Na verdade, a Escritura diz: Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido”.
O interesse de Paulo é provocar nos cristãos originários de diversas tradições a compreensão de que a única garantia capaz de promover o crescimento da comunidade é agir do jeito de Jesus: “Acolham-se uns aos outros como Cristo acolheu vocês para a glória de Deus”.
A longa e bonita disputa entre as tentações e a graça na vida de Jesus podem ser igualmente uma regra de vida para a atualidade. Aceitar o caminho de obediência ao Pai e de serviço à vida ou enveredar pelo messianismo e pela busca desenfreada de poder e gloria. Frente a frente estão a lógica de Deus e a lógica humana. Olhar apenas para suas vantagens e interesses pessoais ou empenhar-se na construção de caminhos mais fraternos e solidários.
As tentações de Jesus são o contraponto para a sociedade do consumo e do individualismo que também a Campanha da Fraternidade sugere nesta quaresma. Fraternidade e políticas públicas é um desafio a pensar coletivamente nos problemas que dizem respeito a todos e que merecem ser tratados como questão de justiça e de direito que irá garantir a libertação das tentações que buscam soluções para os problemas pessoais e individuais.
Que a penitência desta quaresma ensine de novo o caminho da fraternidade solidária em favor da vida plena com dignidade para todos.




sábado, 2 de março de 2019

HOMILIA PARA O DIA 03 DE MARÇO DE 2019 - 8º COMUM - ANO C


A BOCA FALA DAQUILO QUE O CORAÇÃO ESTA CHEIO

Não há segmento da sociedade que hoje não e beneficie e dependa das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TDIC). Mas é verdade também que as redes sociais e as tecnologias como um todo são um campo minado de palavras desnecessárias, informações descabidas, inverdades e muitas vezes calunia. Inclusive entre pessoas da Igreja que rezam muito e respeitam as mais legítimas doutrinas, conhecem documentos dos papas e não raro se utilizam dos recursos da tecnologia para difamar, caluniar, levantar falso testemunho. No âmbito da política as famosas delações premiadas envolvem sem escrúpulos e sem provas pessoas que ocupam ou não ocupam funções e responsabilidades. Associam situações e casos que muitas vezes causa náusea de ver e ouvir.
Pois a Palavra de Deus proclamada neste domingo trata do uso da palavra como era utilizada cerca de duzentos anos antes de Cristo. No livro do Eclesiástico o autor usa a imagem da fala para deixar claro como por meio dela uma pessoa manifesta o que tem no seu coração. Em resumo, algumas pessoas tentam fingir com comportamentos, gestos, roupas, disfarces e até enganam bem, mas quando se trata de ouvir suas retas intenções desnudam os seus sentimentos mais profundos. O convite da leitura de hoje é claro e obvio: Não se deixar impressionar por gestos e atitudes teatrais, elas quase nada significam.
Lucas está preocupado com os falsos mestres, aqueles que se apresentam bonito, mas com atitudes interesseiras. As palavras de Jesus relatadas pelo evangelista apontam por onde anda o verdadeiro discípulo de Jesus. Nas comunidades, servindo-se também das TDIC pode-se ver pessoas que se consideram iluminadas, que nunca erram e muito menos se enganam, se fazem exigentes com os erros alheios e nunca percebem que seu telhado é de vidro. São aqueles que Jesus chama de hipócritas, dissimulados, falsos cujos atos não correspondem às suas vãs palavras para estes se aplica a expressão do Antigo Testamento: perverso e ímpio e nas palavras de Jesus “árvore ruim” da qual não se pode esperar outro fruto.
Na segunda leitura São Paulo fala da vida futura e conclui com um pedido extraordinário: “Assim, caríssimos irmãos, permanecei firmes e inabaláveis, cada vez mais diligentes na obra do Senhor, sabendo que o vosso esforço não é inútil no Senhor”. Estas palavras não são outra coisa senão ter certeza que acreditar na ressurreição significa empenhar-se na construção de um mundo mais humano e fraterno, eliminando as forças do egoísmo e do pecado como ensina o Concílio Vaticano II “A importância das tarefas terrenas não é diminuída pela esperança na ressurreição, mas antes reforça a sua execução” (Gaudim et Spes 21).
Em resumo, participar da Eucaristia é um desafio para conciliar as palavras e as ações de modo que tudo em nós revele exatamente aquilo que está em nosso interior. Ou seja, que nosso coração apareça em nossas mãos e palavras.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 24 DE FEVEREIRO DE 2019 - 7º COMUM - ANO C


NÃO JULGUEM E NÃO SERÃO JULGADOS

Não é necessário muito esforço para perceber como as relações sociais são marcadas pela violência e intolerância. Perde-se a paciência com facilidade e por causa de situações cotidianas muito banais. A falha de um motorista no trânsito, uma palavra ouvida de forma equivocada, o cansaço depois de um dia de trabalho, a falta de dinheiro para pagamento de algum compromisso assumido, e por aí afora se estende uma lista interminável de ocasiões e situações nas quais a capacidade de amar e perdoar estão distantes das pessoas.
Como que na contramão destas situações, ou para iluminar e estimular outras atitudes a Palavra de Deus deste domingo sugere a todos a capacidade de amar incondicionalmente sem fazer distinção de pessoas ou de situações. As leituras são um convite a deixar de lado todas as oportunidades de violência e intolerância com a devida substituição pela lógica do amor.
O relato do encontro de Davi com as tropas de Saul é o que se pode chamar de “estar com a faca e o queijo na mão”. Encontrando o inimigo com suas tropas abatidos pelo cansaço, Davi poderia ter feito a vingança e se livrado de vez do infortúnio adversário seguindo o conselho do seu companheiro: “Então Abisaí disse a David: Deus entregou-te hoje nas mãos o teu inimigo. Deixa que de um só golpe eu o crave na terra com a sua lança e não terei de o atingir segunda vez”. Davi, por sua vez, escolheu eliminar os mecanismos capazes de gerar violência: “David levou da cabeceira de Saul a lança e o cantil e os dois foram-se embora”. O texto é um convite a refletir sobre as formas de lidar com a aquilo que atinge e provoca mal-estar. Querer “pagar com a mesma moeda” ou seguindo outra lógica substituir a agressão pelo perdão, dando um basta a espiral que só faz crescer a intolerância.
O Evangelho segue a mesma lógica do perdão e da misericórdia. Jesus supera de longe as práticas legais do Antigo Testamento. Quando se trata de amor ao próximo ele supera todos os limites praticados por seus conterrâneos: “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; abençoai os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos injuriam. A quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica. Dá a todo aquele que te pedir e ao que levar o que é teu, não os reclames. Como quereis que os outros vos façam fazei-lhe vós também. Se amais aqueles que vos amam, que agradecimento mereceis? Também os pecadores amam aqueles que os amam”.
Declarar-se seguidor de Jesus significa empreender todos os esforços para inverter as práticas de violência e orgulho que ferem e magoam muitas vezes causando dor até na alma. O cristão não recorre à nenhuma forma de “fazer justiça com as próprias mãos”, pelo contrário é capaz de pedir ao Pai perdão para os seus algozes.
Isto não é sinônimo de ser conivente com as injustiças e as arbitrariedades, mas acima de tudo estar sempre disposto a dar o primeiro passo para reencontrar e perdoar. Isso não significa necessariamente esquecer as falhas, mas ter um coração aberto para o perdão.
A Palavra de Deus convida a rezar com o salmista: “O Senhor é clemente e cheio de compaixão. O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade; não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos castigou segundo as nossas culpas”.