quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 02 DE FEVEREIRO DE 2020 - APRESENTAÇÃO DO SENHOR - ANO A


SOLIDÁRIOS UNS COM OS OUTROS A PARTIR DE JESUS
Embora a sociedade contemporânea viva num ritmo frenético e a mídia aproveitem todas as situações delicadas para colocar medo e isolar as pessoas potencializando as dificuldades e os problemas do cotidiano ainda são bastante frequentes os casos de pessoas que são solidárias e constroem pontes ajudando-se mutuamente. Sempre que isso acontece são construídos laços de amizade e de partilha que costumam serem considerados espaços familiares de bem querer. Frequentemente se vê alguém dizer “fulano de tal é como se fosse meu irmão”, “Beltrano é o irmão que eu não tive”, e assim por diante.
Pois é uma relação familiar, e sobre um irmão que não temos que tratam as leituras desse domingo.  É com essa comparação que a carta aos Hebreus descreve a pessoa de Jesus: “Visto que os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Jesus participou da mesma condição, para assim destruir, com a sua morte,
aquele que tinha o poder da morte e libertar os que, por medo da morte, estavam a vida toda sujeitos à escravidão.
Pois, afinal, não veio ocupar-se com os anjos, mas com a descendência de Abraão. Por isso devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e digno de confiança nas coisas referentes a Deus, a fim de expiar os pecados do povo”.
Compreender que Deus enviou seu Filho divino, sem fazer uso desta prerrogativa, mas antes assumir as fragilidades e limitações humanas ilustra e não deixa margens para dúvidas. A intensidade do amor de Deus pela humanidade. A constatação desta verdade enche o nosso coração de serenidade e alegria e garante que é possível encarar a vida, os medos e os limites da existência humana com esperança, com coragem e confiança. Com uma ajuda desta forma é certo que a vida pode ter um final feliz.
E toda a vida e as ações de Jesus começam desde a sua infância cumprindo tudo aquilo que fazia parte das relações e da legislação vigente no seu tempo para as famílias e a sociedade. Na primeira leitura o nome Malaquias significa “meu mensageiro” e começa descrevendo o dia em que Deus vai descer ao encontro do seu povo para criar uma nova realidade. Nesse dia será eliminado o orgulho, o egoísmo e o pecado. O enviado via inaugurar o tempo novo da comunhão verdadeira entre o criador e a sua criatura: “Eis que envio meu anjo, e ele há de preparar o caminho para mim; Ele é como o fogo da forja e como a barrela dos lavadeiros; e estará a postos, como para fazer derreter e purificar a prata assim ele purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata”.
No evangelho Lucas narra um dos episódios da infância de Jesus para deixar bem claro quem é aquele que desde a infância se propõe a cumprir todos os preceitos da lei de Moisés que José e Maria cumprem com rigorosidade: “Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor. Conforme está escrito na Lei do Senhor: Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”. Foram também oferecer o sacrifício - um par de rolas ou dois pombinhos - como está ordenado na Lei do Senhor”. No templo não faltou quem reconheceu no recém-nascido o mensageiro prometido pelo profeta e que a carta aos Hebreus, muito mais tarde, chamou de Sumo Sacerdote. Seja o sábio Simeão, seja a profetiza Ana, ambos fazem com outras palavras as mesmas declarações: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel. Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma. Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém”.
A festa da apresentação do Senhor revela que desde o início da sua caminhada terrena Jesus escolheu o caminho da fidelidade aos mandamentos e projetos do Pai. Essa escolha o fez exatamente igual a todos e serve como luz para todos. É nesse sentido que trazemos as velas para serem abençoadas como quem diz: guiados pela luz de Jesus todos caminhamos seguros nos mares bravios da vida certos que Ele também caminha conosco. Dele também precisamos aprender a fazer-se um com todos como o anjo anunciado pelo profeta ou misericordioso como o sacerdote Jesus.  


quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 26 DE JANEIRO DE 2020 - 3ª DOMINGO COMUM - ANO A


JESUS, A LUZ NO FIM DO TÚNEL

Para quem vive no litoral de Santa Catarina, ou circula pela BR 101 a passagem pelo túnel do Morro do  Boi tem sempre uma sensação de apreensão e de certeza.  É uma travessia rápida, uns poucos minutos e logo se avista uma luz do fim do túnel. Todos tem certeza que realmente isso acontecerá, entretanto, sempre se trata de uma surpresa.  Pois é sobre a possibilidade de ver o clarão de uma nova luz que se refere a liturgia da Palavra deste 3º domingo comum.
A passagem do profeta Isaias, como todas as passagens sobre o projeto de Deus para a humanidade foi entendida como profecias depois de aplicadas à pessoa de Jesus como aquele que veio para efetivar as promessas e os desejos das pessoas e das comunidades do seu tempo.
No texto de hoje Isaias afirma que  as trevas terão fim significando com isso a libertação das injustiças, dos sofrimentos, do desespero e até da própria morte. E tudo isso acontecerá com uma decisiva ação de Deus em favor do seu povo: recentemente o Senhor cobriu de glória o caminho do mar. O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu. Fizeste crescer a alegria, e aumentaste a felicidade; todos se regozijam em tua presença como alegres ceifeiros na colheita”. Quando isso acontecer os dias serão de paz sem fim. Este tempo é comparado a alegria da colheita celebrada na abundância dos alimentos. Quem está garantindo a realização destas profecias não é outra pessoa senão o próprio Deus, a luz no fim do túnel que irá proporcionar uma alegria sem fim é um dom de Deus.
O evangelho descreve a realização das promessas do profeta. Durante muitos anos a comunidade de Israel foi alimentando a esperança de ver brilhar a luz da profecia e eis que na pessoa de Jesus se concretiza o sonho de todos: “Jesus voltou para a Galileia, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz”. Como no domingo passado o Evangelho confirma que  a ação de Jesus é realizada contando com a parceria dos envolvidos. No caso de hoje a atividade do Mestre conta com a ajuda dos discípulos a quem Ele chama com um verbo no imperativo: “Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens”.
Crendo nas palavras de Jesus aqueles que lhe ouvem percebem que a luz começa a brilhar no fim do túnel sendo a concretização da justiça verdadeira, da misericórdia infinita, da abundância e da paz sem fim. Obviamente que a realização de tudo isso implica num processo de conversão e mudança de mentalidade. Numa reorganização da vida colocando no centro de todas as preocupações a mesma perspectiva de Deus.
Ontem como hoje as comunidades experimentam o entusiasmo daquele anuncio com uma mistura de preocupação e de sofrimento conforme escreve São Paulo na Carta aos Coríntios: “Irmãos, eu vos exorto, pelo nome do Senhor nosso, Jesus Cristo, a que sejais todos concordes uns com os outros e não admitais divisões entre vós. Pelo contrário, sede bem unidos e concordes no pensar e no falar”. O pedido de Paulo continua sendo válido para nossas comunidades e para cada cristão em particular que consiste em redescobrir os fundamentos da fé e os compromissos assumidos no batismo. Paulo é categórico na afirmação: Cristo e somente ele é a fonte de salvação. A nossa fé não pode depender do carisma de uma ou de outra pessoa, desta ou daquela personalidade, deste ou daquele indivíduo. Só Jesus Cristo é a verdadeira luz no fim do túnel.
Neste sentido cabe uma pergunta para todos: que sentido faz os ciúmes, os conflitos, os partidos que existem em nossas comunidades? As rivalidades muitas vezes cultivadas entre grupos, movimentos, pastorais, e serviços em nossas comunidades são um sinal de que Jesus não é o centro de nossas ações, pelo contrário ali estão os interesses próprios de quem age para se autopromover. O cristão de verdade não precisa de incenso, de culto a sua própria personalidade ou ao seu grupo. Quando isso acontece falta para todos voltar o olhar para quem de fato merece: Jesus Cristo.
Peçamos a graça de realizar em nossa vida o que se reza no salmo:
O Senhor é minha luz e salvação;*
de quem eu terei medo?
Senhor é a proteção da minha vida;*
perante quem eu tremerei?
O Senhor é minha luz e salvação.
O Senhor é a proteção da minha vida”.



sábado, 18 de janeiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 19 DE JANEIRO DE 2020 - ANO A - 2º TEMPO COMUM


CONVIDADOS PARA SEREM TESTEMUNHAS

As exigências do mundo contemporâneo são cada vez mais desafiadoras e o sucesso de qualquer projeto depende de ações coletivas e de responsabilidades partilhadas. Assim cada vez mais é exigida capacidade de trabalhar em equipe, de somar forças e de agir no coletivo. Os grandes empreendimentos são marcados pelas ações de parceria e corresponsabilidade.
Pois  é exatamente sobre soma de forças, parcerias, responsabilidades partilhadas que tratam as leituras da Palavra de Deus neste domingo.  Compreendendo que Deus tem um projeto para a humanidade fica mais fácil admitir que todos são convidados a participar como testemunhas deste projeto.
Na sequência do último domingo o profeta Isaias fala de um Servo anônimo a quem Deus escolheu e enviou para levar sua boa notícia a todos os povos. Vivendo no meio do povo exilado o profeta não é apenas um sujeito, mas a comunidade inteira interpelada a se ajudar mutuamente de modo que possam retornar para a sua terra, aos seus costumes e se reconstituir como povo: “O Senhor me disse: 'Tu és o meu Servo, para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os remanescentes de Israel: eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até aos confins da terra”. Deus tem claro o que o povo precisa e sabe como fazer para que isso se realize, mas não abre de fazer com o seu povo uma parceria cuja finalidade é fazer sua ação chegar à terra inteira.
Paulo escreve aos coríntios e lhes faz lembrar que Ele mesmo foi chamado a ser Apóstolo, mas deixa claro que todos estão associados ao seu apostolado: Paulo, chamado a ser apóstolo de Jesus Cristo, por vontade de Deus, escrevo para a Igreja de Deus que está em corinto: aos que foram santificados em Cristo Jesus, chamados a serem santos junto com todos que, em qualquer lugar, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso. Para vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo”. A mensagem de Paulo serve para os cristãos de todos os tempos e de todos os lugares cuja missão continua hoje mais exigente: garantir para todos a paz da parte de Deus nosso Pai.
João apresenta Jesus Cristo como aquele que tira o pecado do mundo. Não se trata das inúmeras pequenas faltas do cotidiano ou acumuladas ao longo dos dias. Trata-se de do único e verdadeiro pecado da escravidão assumida pela condição humana quando Adão e Eva se recusaram a ouvir a voz de Deus.  O pecado é do mundo e está no mundo inteiro enquanto este recusa a luz e a vida que Jesus veio oferecer. Deus se propõe tirar este peso dos ombros de todos garantindo-lhes o acesso a vida plena que é transmitida no dom do Espírito Santo. Depois de afirmar que Jesus é o Cordeiro, João declara eu vi o Espírito Santo descer sobre ele: “João viu Jesus aproximar-se dele e disse: 'Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Dele é que eu disse: Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque existia antes de mim. Eu vi o Espírito descer, como uma pomba do céu, e permanecer sobre ele. Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus”.
A Palavra de Deus deste domingo deixa absolutamente claro que a salvação de Deus está destinada para toda a humanidade, e que por isso mesmo ninguém está destinado ao fracasso, ou a caminhar no escuro rumo a um beco sem saída, pelo contrário, é importante reconhecer Deus e sua mão em cada curva da estrada apontando o caminho para um novo céu e uma nova terra. Ou seja, uma nova realidade que pode ser melhor e mais solidamente construída com a colaboração e participação de todos. Mesmo quando parece que caminhamos à beira do abismo e que os obstáculos parecem intransponíveis é importante erguer os olhos e perceber a presença amorosa de Deus reascendendo a esperança em nossos corações e dando-nos a certeza de que juntos somos mais e caminhamos para um final de feliz.






quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 12 DE JANEIRO DE 2020 - BATISMO DO SENHOR - 1º DO TEMPO COMUM - ANO A


BATIZADO COM A MISSÃO DE SALVAR
Uma das coisas indispensáveis para qualquer empreendimento na atualidade é ter claro sua visão de mundo e sua missão diante da realidade que se descortina e na qual pretende intervir. Se multiplicam instituições e pessoas oferecendo serviços de consultoria e garantindo o sucesso e o retorno para qualquer investimento. Ora, a liturgia da Igreja nos apresenta ao longo do ano como Deus foi construindo o seu projeto de ação no mundo e quais as expectativas de retorno ao longo do tempo. Entre o natal e esse primeiro domingo do tempo comum a liturgia apresenta alguns momentos muito claros os quais podem ser chamados como visão e missão no mundo.
Começando com a Festa da Sagrada família, da Santa Mãe de Deus, da Epifania e do Batismo do Senhor. Pode-se afirmar sem medo que Deus tem uma visão do mundo construído em corresponsabilidade no qual todos se ajudam e interagem, como uma grande família. Na família não pode faltar alguém que ocupe e faça as funções maternas. O mundo é o lugar para se dar a conhecer com todas as fragilidades e potencialidades como se vê no domingo da epifania. E diante de tudo isso não resta outra atitude senão assumir a missão, que se dá por meio do batismo.
A Palavra de Deus deste domingo narra o processo de escolha e o batismo do Escolhido. O pano de fundo do cenário é o projeto salvador que Deus tem para a humanidade e para isso revela seu Filho amado e sua missão que consiste em salvar e libertar todas as pessoas. Assumindo a condição humana, o Filho partilhou todas as fragilidades que essa condição impõe, mas sua vida foi um empenho a toda prova para promover e recuperar a dignidade perdida garantindo que todos pudessem alcançar a plenitude da vida.
O profeta Isaias faz o anuncio da missão de um “Servo” que seria enviado para garantir a paz, o bem, a concórdia e a justiça sem fim. O enviado realizaria sua missão com humildade e simplicidade, sem recorrer ao poder e a força próprias da prepotência humanas: “'Eis o meu servo ele promoverá o julgamento das nações. Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas. Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra; os países distantes esperam seus ensinamentos. Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas”.
A profecia de Isaias se concretiza na pessoa de Jesus como se lê no Evangelho. Jesus se apresenta como o enviando do Pai, n’Ele repousa o Espírito Santo e sua missão consiste em realizar o que todos esperaram por centenas de anos. Caminhando ao lado dos fragilizados, dos sofredores e dos pecadores promoveu a reconciliação e a melhoria na qualidade de vida como se lê no texto de hoje: “Naquele tempo: Jesus veio da Galileia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João e ser batizado por ele. Depois de ser batizado, Jesus saiu logo da água. Então o céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e vindo pousar sobre ele. E do céu veio uma voz que dizia: 'Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado”. Obediente à missão que o Pai lhe confiou Ele refaz a comunhão entre Deus e a humanidade, da sua atividade resulta uma nova humanidade e um jeito novo das pessoas se relacionar.
Essa nova criação se concretiza nas palavras de São Pedro na segunda leitura: “De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença. Deus enviou sua palavra por meio de Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem”.
Ora, na condição de seguidores de Jesus, cada pessoa tem hoje a missão de dar testemunho de tudo aquilo que acredita de modo que a salvação de Deus chegue a todos os povos. A prova do nosso empenho e da nossa fé se realiza à medida que formos capazes de testemunhar com gestos de bondade e de misericórdia, vencendo a cobiça, a exploração, a solidão, o analfabetismo, a violência e todas as formas de sofrimento. Então sim, poderemos rezar como fez o salmista: “Eis a voz do Senhor sobre as águas, sua voz sobre as águas imensas! Eis a voz do Senhor com poder! Eis a voz do Senhor majestosa. Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!”.



sábado, 4 de janeiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 05 DE JANEIRO 2020 - DOMINGO DA EPIFANIA - ANO A


JUNTOS BUSCAMOS A VERDADEIRA LUZ

A queima de fogos de artifício na virada do ano reuniu por toda a parte multidões de pessoas que, independente de professar alguma religião, queriam celebrar a chegada do ano com todas as promessas e expectativas que este novo ciclo de tempo pode trazer para todos. Guardadas as proporções, o sonho de mudar de vida de uma hora para outra encheu as casas lotéricas para realizar as apostas da mega da virada e no dia primeiro de janeiro todos os noticiários se referiram aos acertadores das dezenas sorteadas com o adjetivo de “sortudos”. Esses dois fatos servem para ilustrar e ajudar melhor entender a Palavra de Deus neste domingo da Manifestação do Senhor.
Conhecido como domingo de Reis as celebrações deste dia na liturgia católica tem por objetivo apresentar a pessoa de Jesus ao mundo. A primeira novidade do fato se pode perceber na condição em que Ele nasceu: “Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judéia” isso significa não no centro da cidade de Jerusalém onde estavam concentrados todos os poderes do seu tempo. Belém por sua vez remetia ao Rei Davi que em outros tempos governou o povo de Israel com equidade e com justiça. Esse nascimento concretiza o que o profeta anuncia na primeira leitura: “Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor. Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti. Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora. Levanta os olhos ao redor e vê: todos se reuniram e vieram a ti; teus filhos vêm chegando de longe com tuas filhas, carregadas nos braços” Esta promessa tem a ver com a chegada de um novo tempo que transformará toda a realidade sofrida que o povo de Israel experimentava ao longo do tempo e para lá atrairia a atenção de todos os povos do mundo, neste caso representado pelos “magos do oriente”.
Mateus narra com detalhes no Evangelho a visita dos estrangeiros ao menino que acabava de nascer. Tal visita pode ser comparada às multidões que foram ver a queima dos fogos ou apostar na mega da virada. Os três personagens que vão ao encontro de Jesus estão alimentados pela esperança de encontrarem a salvação de Deus que não é restrita apenas aos poucos escolhidos de um determinado tempo e lugar. Em Jesus se concretiza a salvação de Deus extensiva a todos e que tinha sido rejeitada por alguns ao longo do tempo.
E São Paulo reafirma na carta aos Efésios que o projeto salvador de Deus é uma realidade que alcança toda a humanidade juntando as pessoas de todas as partes como uma única e verdadeira comunidade de irmãos a qual ele denomina “comunidade de Jesus”:Se ao menos soubésseis da graça que Deus me concedeu para realizar o seu plano a vosso respeito, e como, por revelação, tive conhecimento do mistério. Este mistério, Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas mas acaba de o revelar agora, pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas: os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho”.
Quanto aos cristãos que se reúnem hoje para celebrar a manifestação de Jesus cabe se perguntar com seriedade e honestidade: Como estamos recebendo o dom do amor de Deus? Como nos deixamos guiar e ser conduzidos pela luz de Jesus que veio para todos os povos. Em nossas comunidades criamos espaços para todos os que buscam a luz libertadora de Deus? Aqueles que trazem na sua vida a marca do fracasso, da dor e do sofrimento encontram em nossas comunidades acolhida, respeito e amor? As diferenças entre pessoas e raças são vistas como uma riqueza ou os tratamos com rejeição?
Os reis magos aparecem no Evangelho como pessoas dos sinais. Eles sabem reconhecer na estrela a verdadeira luz sinal da chegada da libertação definitiva. Quanto a nós, somos pessoas atentas aos sinais dos tempos e prontos para reconhecer a luz de Deus em nossas vidas?
Reunidos em assembleia de oração, vamos pedir que o Senhor realize em nós aquilo que o padre reza na oração inicial da missa: “Senhor Deus omnipotente, que neste dia revelastes o vosso Filho Unigénito aos magos guiados por uma estrela, concedei a nós que já Vos conhecemos pela fé contemplar face a face a vossa glória”.
Que não sejamos pessoas que apenas correm para ver a queima de fogos da virada ou a montanha de dinheiro na mega da virada, mas antes sejamos pessoas que caminham ao encontro do Cristo e que com ele acolhamos a todos formando a grande comunidade onde todos têm lugar.


terça-feira, 31 de dezembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 01 DE JANEIRO DE 2020 - MARIA MÃE DE DEUS - DIA MUNDIAL DA PAZ - ANO A


A PAZ COMO CAMINHO DE ESPERANÇA
Celebrar a Eucaristia neste primeiro dia do ano novo implica fazer, pelo menos, três considerações: A liturgia nos recorda Santa Maria Mãe de Deus; A pedido do Santo Papa Paulo VI, desde 1968, é celebrado nesta data o dia mundial da Paz e em terceiro lugar é o primeiro dia de um novo ano civil.
A figura de Maria, Mãe de Deus nos lembra a raiz da nossa condição humana e atualiza a nossa vocação: Como Maria todos somos chamados a dar nosso “Sim” ao projeto de Deus. A resposta de Maria garantiu que a humanidade pudesse conhecer a pessoa de Jesus e o seu projeto libertador. O dia Mundial da Paz, a cada ano, vem iluminado por uma mensagem do Papa. Neste ano Francisco recorda que o caminho da paz é sempre um caminho de esperança e que a paz como promessa de Deus se concretizou para o mundo com o nascimento de Jesus. Ora, para aqueles que creem no Cristo a paz não é um sonho distante, uma utopia, pelo contrário, a Paz que Ele nos trouxe é uma força que transforma a vida e a história humana. Ao iniciar um novo ano merece ser considerado por todos o esforço que a Igreja e tantas outras instituições realizam ao longo do tempo com a finalidade de promover uma boa convivência, um bom diálogo, e o verdadeiro bem comum.
Esta missão está clara também na Palavra de Deus. As três leituras são muito claras quando se trata de perceber a presença contínua de Deus na caminhada de todos: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz”
A carta de São Paulo aos Gálatas, escrita por ocasião de uma crise na comunidade facilita entender a razão fundamental para o nascimento de Jesus: “Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abá - ó Pai! Assim já não és mais escravo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro: tudo isso, por graça de Deus”. A atitude dos pastores indo ao encontro da Boa notícia que lhes fora transmitida pelo anjo mostra como a vinda do Senhor Jesus provoca alegria e felicidade plena convidando todos, sem exceção, a louvar a Deus e a testemunhar os sinais libertadores no meio do mundo: “Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido, conforme lhes tinha sido dito. E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam”.
De Maria a Mãe de Deus, que nos proporcionou o reencontro definitivo da criatura com o seu criador, precisamos aprender a sensibilidade de “guardar todas as coisas no coração”. Tal como Maria todos somos chamados, segundo o Papa Francisco a buscar de maneira apaixonada a paz como uma busca por estabelecer a verdade, a justiça e o diálogo colocando a família no centro de todas as atenções. Agindo desta maneira será possível perceber como a Paz será sempre um caminho de Esperança!


sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 29 DE DEZEMBRO DE 2019 - SAGRADA FAMÍLIA - ANO A


RESPEITAR OS PAIS NOS FILHOS E
NELES ACOLHER DEUS E SUA PALAVRA
Poucas realidades humanas são tão significativas e tocam de maneira tão profunda e extraordinária a vida inteira das pessoas quanto a relação daqueles que se unem por laços familiares. E por maiores que sejam as dificuldades e diferenças entre os membros de uma mesma família a unidade e a comunhão entres seus membros se fortalece nas horas das dificuldades e das provações.  As leituras da Palavra de Deus previstas para esse domingo da Sagrada Família ajudam a compreender as responsabilidades de cada pessoa e fortalecer os laços de comunhão precisamente quando nem sempre conseguimos entender a razão para determinados acontecimentos. As três leituras podem ser entendidas como uma série de lições práticas para que as famílias possam ser sempre mais felizes apesar das dificuldades.
O texto do Eclesiástico apresenta uma forma objetiva e sem rodeios para provar que se ama alguém: “Quem respeita a sua mãe é como alguém que ajunta tesouros. Quem honra o seu pai, terá alegria com seus próprios filhos; e, no dia em que orar, será atendido. Quem respeita o seu pai, terá vida longa, e quem obedece ao pai é o consolo da sua mãe. Meu filho, ampara o teu pai na velhice e não lhe causes desgosto enquanto ele vive. Mesmo que ele esteja perdendo a lucidez, procura ser compreensivo para com ele; não o humilhes, em nenhum dos dias de sua vida, a caridade feita a teu pai não será esquecida”.
Já a segunda leitura valoriza o amor que brota daqueles que aceitam e reconhecem Jesus Cristo como seu único Senhor: “Vós sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos. Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai vós também. Mas, sobretudo, amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição. Que a paz de Cristo reine em vossos corações, à qual fostes chamados como membros de um só corpo. Tudo o que fizerdes, em palavras ou obras, seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo. Por meio dele dai graças a Deus, o Pai”.
Mateus contando passagens da infância de Jesus apresenta o comportamento de uma família exemplar. Dentre os traços que merecem destaque estão a solidariedade entre os membros e a confiança nos caminhos da vida que são lidos à luz da proposta de Deus. Diante de todas as dificuldades que a família de Nazaré enfrentou a comunhão e a solidariedade entre de todos garantiu soluções razoáveis para não se deixar abater pelo desânimo. Pelo contrário, mantiveram a união e fortaleceram a responsabilidade com a defesa da vida vendo todas as alternativas como guiadas pela mão de Deus: “Anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse... Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito... Por isso, depois de receber um aviso em sonho”.  Nesta celebração da Sagrada Família peçamos também nós a clareza e a compreensão da mão de Deus estendida em todas as dificuldades que a vida sempre nos apresenta.



HOMILIA PARA O DIA 25 DE DEZEMBRO MISSA DO DIA DE NATAL 2019 - ANO A


UM MENSAGEIRO QUE FALA COM AUTORIDADE

Ano após ano, a liturgia da Igreja nos insere no mistério do Natal do Senhor. Já temos suficiente clareza que não se trata da simples comemoração de “mais um aniversário de Jesus”. Celebrar a solenidade do natal consiste em compreender a salvação de Deus que se repete no HOJE da história de cada pessoa e da cada comunidade. A celebração festiva da memória de Deus que assume a natureza humana é a confirmação do amor incondicional de Deus que tem por objetivo mudar a nossa sorte como se lê na primeira leitura: Alegrai-vos e exultai ao mesmo tempo o Senhor consolou seu povo e resgatou Jerusalém. O Senhor desnudou seu santo braço aos olhos de todas as nações; todos os confins da terra hão de ver a salvação que vem do nosso Deus”. Isso significa que Deus não nos deixa percorrer sozinhos os caminhos do sofrimento, mas que Ele mesmo nos envia um mensageiro que com autoridade põe luz nas trevas da vida.
A Palavra que existia desde o princípio se concretiza no “menino de Belém”, n’Ele é Deus que vem ao encontro de todos com a ternura de quem tudo fez e acompanha desde o princípio: “No princípio estava ela com Deus. Tudo foi feito por ela e sem ela nada se fez de tudo que foi feito. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas. A Palavra estava no mundo, veio para o que era seu e deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus. E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória”.
Uma vez beneficiados pela força desta Palavra resta-nos dar uma resposta corajosa, autentica e comprometida como prova do nosso amor para com Ele que nos amou primeiro convencidos que essa vida é apenas passageira e que, portanto, nossas obras devem provar nossa identificação com o Senhor descrito na carta aos Hebreus: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho, a quem ele constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também ele criou o universo. Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele sustenta o universo com o poder de sua palavra. Tendo feito a purificação dos pecados, ele sentou-se à direita da majestade divina, nas alturas”.
Que o natal nos estimule a tornar realidade o Reino de Deus e a não compactuar com a injustiça, a guerra, a violência, a indiferença, mas antes nos faça sentir responsáveis por relações de fraternidade e de bem querer onde todos tenham lugar. Então sim, poderemos cantar com o salmista: “Os confins do universo contemplaram da salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, alegrai-vos e exultai! Cantai salmos ao Senhor ao som da harpa e da cítara suave! Aclamai, com os clarins e as trombetas, ao Senhor, o nosso Rei”.


HOMILIA PARA O DIA 22 DE DEZEMBRO DE 2019 - 4º DO ADVENTO - ANO A


ABRAM AS PORTAS PARA QUE ELE POSSA ENTRAR
A brilhante companha do Flamengo em 2019, conquistando os títulos carioca, brasileirão, libertadores e... transformou a maior torcida brasileira num grupo de entusiastas defensores e propagadores das virtudes do clube carioca, entre elas: A garra dos seus jogadores, a astúcia do seu técnico a esperteza dos seus dirigentes e uma série de outras que muitas vezes passavam despercebidas. Isso não significa esquecer que o mesmo time, agora elevado às alturas, não tenha manchado a sua história com situações menos honrosas e que dispensam ser citadas aqui. Ora, mas qual a relação desta saga do futebol com a Palavra de Deus deste 4º domingo do advento?
O povo Hebreu, escolhido por Deus e que experimentou sua mão libertadora em diversas ocasiões na história não foi sempre muito justa, honesta e sem manchas. Apesar disso em um determinado momento fez a melhor campanha de todos os tempos. A Palavra proclamada na liturgia de hoje deixa mais do que claro que Israel vive a melhor fase de todos os tempos: Ele mesmo “Deus conosco” veio ao encontro do seu povo e lhes oferece uma proposta de salvação que na pessoa de Jesus se torna definitiva.
Isaias deixa claro que Deus não abandona o seu Povo e que caminha de mãos dadas com todos os que se deixam conduzir por essa mão forte facilitando-lhes alcançar vitorias espetaculares apesar das suas fragilidades e pecados: “Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel”.
No texto de Mateus Jesus é apresentado como a presença mais extraordinária que Deus pode fazer em favor daqueles que Ele ama. Em contrapartida pede-se apenas que os escolhidos abram sua vida e seu coração e se deixem transformar por essa presença: “não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus,
pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados'. Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: 'Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco.' Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado, e aceitou sua esposa
”. Compreender esse texto significa torcer pelo seu time com todas as suas forças e apresentar todas as qualidades e virtudes que tornam suas campanhas exitosas. Compreender que o Natal é verdadeiramente o encontro de cada pessoa com Deus é uma situação que só acontece plenamente se nossa vida estiver disponível para acolher e abraçar  a proposta que ele veio fazer.
Celebrar o Natal como resultado de uma campanha de time vencedor implica fazer desta festa muito mais do que as celebrações consumistas regadas pela comida e pelos presentes. Essas realidades fazem parte de uma festa muito maior que supõe reconhecer as virtudes de Maria e de José com sua disponibilidade de quem se deixa envolver por Deus e responde com um sim total e irrestrito.
Será mediante essa condição que cada pessoa é também convidada a dizer sim todos os dias, de maneira tal que todos reconheçam pelo empenho dos seguidores como Deus continua sendo Um conosco. Na condição de seguidores de Jesus, tal como torcedores apaixonados pelo seu time, todos temos a missão de levar sua Palavra para todos os lugares como sugere São Paulo na segunda leitura: “É por Ele que recebemos a graça da vocação para o apostolado, a fim de podermos trazer à obediência da fé todos os povos pagãos, para a glória de seu nome. Entre esses povos estais também vós, chamados a ser discípulos de Jesus Cristo”.
O natal será verdadeiramente sinal da presença de Deus conosco à medida que por nossa vida e nossa voz as pessoas puderem experimentar uma ação viva, ativa e transformadora capaz de produzir condições melhores e mais humana para todos de tal maneira que se possa perceber concretamente o que se reza no salmo: “Sobre este desce a bênção do Senhor e a recompensa de seu Deus e Salvador”.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 08 DE DEZEMBRO DE 2019 - IMACULADA CONCEIÇÃO - 2º DOMINGO DO ADVENTO - ANO A


COMO MARIA, BENDITOS, ESCOLHIDOS
E CHEIOS DE GRAÇA
Nas relações familiares, sobretudo, com filhos adolescentes uma das situações mais constrangedoras acontece quando os pais flagram os filhos em alguma atitude suspeita. Na Escola um dos fatos mais corriqueiros e que mostram a fragilidade das relações é o uso do celular em sala de aula para finalidade diferente daquela que o professor havia solicitado. E convenhamos que todo o cotidiano é marcado por desconfortos quando uma pessoa percebe que está sendo vigiada, ou que alguma de suas atitudes nem sempre poderiam ser realizadas à luz do dia.
Pois esta foi a situação de Adão e Eva narrada na primeira leitura. O texto do Gênesis proclamado neste domingo não tem o objetivo de contar um fato acontecido num passado distante e necessariamente com as duas primeiras criaturas humanas. Pelo contrário, o pecado de Adão e Eva pode ser entendido como todos os pecados que cada pessoa vai fazendo ao longo da vida e em todos os tempos. Em algum momento da vida a própria consciência acusa aqueles que imaginam estar se alimentando da “árvore da vida” e que nunca terão suas atitudes ilícitas reconhecidas. De repente tudo se desmorona e como Adão procura responsabilizar um terceiro ou arrumar uma explicação para o inexplicável. É dessa situação que surgiu o título dado a Eva como a mãe do pecado e que por causa dele fez um nó na relação com o criador.
Exatamente o contrário do que ocorreu com Eva se dá com Maria. A Imaculada nada tem a esconder, o anjo lhe aparece como o enviado de Deus e Ela não precisa se esconder. Exatamente onde está, nas lidas do cotidiano, na sua própria casa, ocupada com os afazeres da sua condição recebe a visita que lhe diz: “Maria Cheia de Graça”, ou em outras palavras – Maria Deus está contente com Você. E por causa disso foi escolhida para dar continuidade a tudo o que Deus sonhou para a humanidade.
A lição que se pode tirar nos dois casos é muito simples e objetiva a vida de todas as pessoas está nas mãos de Deus e Ele conhece por inteiro. D’Ele nada precisamos esconder, quanto mais transparente for nossa relação com o Senhor de todas as coisas mais poderemos experimentar o que diz São Paulo na segunda leitura: “Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e  irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por intermédio de Jesus Cristo”.
Mas o que significa ser santos e irrepreensíveis senão perceber que Deus tem um projeto para que somos desafiados a concretizá-lo no nosso dia a dia, no meio das solicitações do mundo, das exigências da nossa vida profissional, social e familiar garantir tempo para encontrar Deus sem medo e sem subterfúgios.
Na festa de Maria Imaculada que soube dizer Sim a Deus peçamos que ela ajude a desatar os nós que nossos pecados fazem todos os dias.



HOMILIA PARA O DIA 15 DE DEZEMBRO DE 2019 - TERCEIRO DO ADVENTO - ANO A


O SENHOR É FIEL PARA SEMPRE
Dentre as muitas frases motivacionais disponíveis pelo toque de um dedo na tela do celular, uma delas diz mais ou menos assim: “O otimista vê oportunidade em cada dificuldade enquanto o pessimista vê dificuldade em cada oportunidade”.
Vivenciando o tempo do advento, a questão das oportunidades e dificuldades que a vida nos apresenta é o cerne da liturgia da Palavra deste terceiro domingo. A palavra de Deus faz um convite para transbordar de alegria porque somos amados por Deus e que seu amor traz manifestações de liberdade, de resgate da vida e da esperança, embora essa verdade não elimine as tribulações e incertezas.
Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio. Germine e exulte de alegria e louvores. Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. Dizei às pessoas deprimidas: 'Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar'. Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará e se desatará a língua dos mudos”.
Experimentar a alegria do Natal não é querer que tudo seja um mar de rosas, que todas as dificuldades deixem de existir. Anunciar o Cristo que vem significa fazer a experiência do evangelho que aponta para um tempo em que Deus terá a última palavra. Um tempo em que a bondade e o amor vencerão todo ódio e toda dor, ocasião em que Deus será tudo em todos.
É isso que fica claro no Evangelho que começa descrevendo a realidade da perseguição e da condenação injusta sofrida por João depois de ter falado a verdade em relação ao pecado do rei. Apesar disso Jesus afirma que a presença de Deus se evidencia pelos sinais: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados”. O que se realizou no tempo de Jesus continua sendo uma verdade para os nossos dias: Deus não nos abandona e continua vindo ao nosso encontro.
As pessoas poderão reconhecer a visita de Deus por meio das ações e atitudes dos cristãos. Será pelo nosso modo de viver que a ação libertadora de Deus será compreendida e vivenciada no mundo. Sempre será natal quando por nossa ação as pessoas doentes puderem se sentir acolhidas e amadas, os desesperados e entristecidos puderem experimentar o abraço acolhedor e o afeto de quem promove e respeita a sua condição. As diversas formas de cegueira e surdez que a sociedade apresenta pela falta de diálogo encontrem em nós exemplos e sinais de comunhão. As cegueiras do egoísmo e da violência encontrem na comunidade uma oportunidade para que seus olhos sejam abertos. Sempre será oportunidade de alegria quando as cadeias que impedem de caminhar com dignidade e respeito sejam quebradas pela compreensão e pela tolerância.
Desta maneira poderemos melhor compreender o significado da esperança que São Paulo escreve na segunda leitura: “Irmãos: Ficai firmes até à vinda do Senhor. Vede o agricultor: ele espera o precioso fruto da terra e fica firme até cair a chuva do outono ou da primavera. Também vós, ficai firmes e fortalecei vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima. Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para que não sejais julgados. Eis que o juiz está às portas. Irmãos, tomai por modelo de sofrimento e firmeza os profetas, que falaram em nome do Senhor”.
Peçamos a graça e a determinação de não nos deixarmos abater pelas dificuldades do cotidiano e pelo pessimismo diante delas, antes sejamos testemunhas do projeto de Deus apontando para a luz da esperança que nunca se apague.
Então sim poderemos cantar com o salmista.



quinta-feira, 28 de novembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 01 DE DEZEMBRO DE 2019 - PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO - ANO A


VIGILANTES E CAMINHANTES
A letra de uma canção religiosa dos anos 1980 diz mais ou menos assim: “Perdido, confuso, vazio, sozinho na estrada tentando encontrar um caminho que seja o meu, não importa se é duro, eu quero buscar. Pegadas pra um lado e pra outro, estradas sem rumo terei que lutar. Caminheiro, você sabe, não existe caminho. Passo a passo, pouco a pouco e o caminho se faz. Iguais, são todos iguais, ninguém tem coragem sequer de pensar. Será que ninguém é capaz de sentir esta vida e com ela vibrar? Será que não vale a pena ariscar tudo, tudo e a vida encontrar”?
Pois é sobre caminhar e encontrar caminhos que trata a Palavra de Deus prevista para esse primeiro domingo do advento quando a Igreja inicia o novo ano litúrgico. As três leituras são um convite a empreender um caminho com vigilância e perseverança. No tempo de Noé, o diluvio foi o sinal dado por Deus para alertar as pessoas sobre os caminhos errados que estavam tomando.
No advento, fazendo memória da vinda de Jesus acontecida há pouco mais de dois mil anos o fato continua sendo um alerta para todos a não se instalar no comodismo, na passividade, no desleixo, na rotina, na indiferença, pelo contrário, convida todos a caminhar atentos e preparados para acolher o Senhor que vem para responder aos anseios e sonhos de todos os que lutam e esperam por uma nova história ocasião em que Deus fará justiça. A vinda de Jesus coloca à luz do dia as incoerências do mundo moderno e aponta para uma nova maneira das pessoas se relacionar e de construir bases para uma sociedade melhor e mais fraterna. Celebrar a vinda de Jesus é um convite a ter coragem de vibrar com a vida, de arriscar tudo para encontrar o verdadeiro bem.
Assim afirma o profeta na primeira leitura: “Acontecerá, nos últimos tempos, que o monte da casa do Senhor estará firmemente estabelecido no ponto mais alto das montanhas e dominará as colinas. A ele acorrerão todas as nações, para lá irão numerosos povos e dirão: 'Vamos subir ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos e nos ensine a cumprir seus preceitos. Ele será juiz no meio das nações e árbitro de povos sem número. Converterão as espadas em relhas de arado
e as lanças em foices. Não levantará a espada nação contra nação, nem mais se hão de preparar para a guerra. Vinde, ó casa de Jacob, caminhemos à luz do Senhor”.
A primeira leitura é um convite do qual ninguém fica excluído e que tem uma direção certa: Caminhar ao encontro do Senhor cujo resultado será um mundo de concórdia, de harmonia e de paz sem fim.
E São Paulo recomenda aos romanos: “Vós sabeis em que tempo estamos, pois já é hora de despertar. Com efeito, agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé. A noite já vai adiantada, o dia vem chegando: deixemos para traz as ações das trevas e vistamos as armas da luz. Procedamos honestamente, como em pleno dia”. Este convite pode ser traduzido em ações que implicam deixar para traz o egoísmo, a injustiça, a mentira, o pecado e revestindo-se da luz que Cristo veio acender caminhar na alegria e na esperança ou seja: “arriscar tudo para a vida encontrar”.
No evangelho Jesus faz um passeio no tempo: “A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé. Pois nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca” e conclui: “Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá”.
Esta advertência de Jesus ajuda compreender que não tem nenhuma utilidade viver mergulhado nos prazeres que alienam, ou no trabalho excessivo, nem tampouco em ficar de braços cruzados esperando que as oportunidades caiam do céu. Viver com maturidade o dom do batismo que cada um recebeu consiste em caminhar vigilante percebendo os sinais da presença do Senhor. Responder aos desafios que a vida vai imponto e empenhar-se na construção de mundo melhor.
Caminhando com olhos abertos e aproveitar cada momento para “fazer um caminho” no qual o projeto de Deus possa ser reconhecido e vivenciado por todos. Isso significa tomar conta da casa que é o mundo, cuidar e construir com a justiça do Evangelho relações fraternas que resgatam a dignidade dos mais sofridos.
Que a preparação do Natal seja oportunidade para arrumar a casa da nossa vida, afinal de contas a visita que Deus nos faz não é por um motivo qualquer, ele vem para transformar a nossa vida e a de todos.