quinta-feira, 18 de novembro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 21 DE NOVEMBRO DE 2021 - CRISTO REI DO UNIVERSO - ANO B

 

UM REINO DE OUTRO MUNDO

Nesse domingo que celebramos realeza de Cristo Senhor do Universo, também fazemos presente a missão dos cristãos leigos no mundo. Nesse contexto cabe lembrar que não são poucas as experiências de comando, de exercício de autoridade, de coordenação e liderança e que muito pouco se assemelham ao Reino e ao Reinado proposto e exercido por Jesus.

Na oração de despedida dos seus amigos Jesus rezou: Pai eu não te peço que os tire do mundo, mas que os guarde das tentações do mundo. Esse pedido dirigido ao Pai continua sendo desafiador para todos os cristãos a quem os nossos bispos recordam que: “O desafio do cristão será sempre viver no mundo sem ser do mundo... e a partir da fé e dos valores do Reino de Deus, como Igreja iluminar as realidades do mundo”. (cf. CNBB Doc. 105).

O que se pede aos cristãos contemporâneos não é diferente das  recomendações dadas por Daniel na primeira leitura desse domingo cuja finalidade é transmitir a esperança a todos os perseguidos e desiludidos do seu tempo. O filho de homem que aparece nas nuvens no texto de Daniel em nada se compara aos reis e reinos instalados no mundo de outrora. Ele vem de Deus e pertence ao mundo de Deus. Uma vez instalado o reinado desse filho de homem, Deus devolverá a paz e a tranquilidade a todos os que eram perseguidos e oprimidos pelas forças do mundo do homens.

O livro do Apocalipse narra as mazelas, perseguições e ameaças pelas quais passa a comunidade cristã no final do primeiro século e objetivo do autor é fortalecer nos cristãos a esperança em mundo novo cuja vitória final será de Deus e daqueles que lhe forem fieis.

A mesma tonalidade é possível ver na conversa entre Jesus e Pilatos. Enquanto o governador está preocupado se Jesus é o “Rei dos Judeus”, Jesus desmascara a autoridade e a condenação que lhe fazem respondendo: “O meu Reino não é deste mundo”. As palavras de Jesus confirmam o que o autor do quarto Evangelho fala em outras passagens: De tal modo Deus amou o mundo, que deu o seu Filho unigênito… não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele” (Jo 3,16-17). Em sua oração, Jesus diz: “Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo… Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei ao mundo” (Jo 17,15.16.18)”.

Diante de Pilatos Jesus não está interessado em afirmar seu poder, mas em manifestar seu amor e misericórdia sua realeza não é de natureza humana, mas está sustentada em Deus e no seu projeto. Seu reino toca os corações produzindo vida e liberdade, o reinado que Jesus trouxe não será imposto pela força das armas e da autoridade.

Aos cristãos e a todos os que querem um mundo habitável, sustentável e fraterno a Palavra de Deus deste domingo é um convite a não criar estruturas com a força e o poder das autoridades da terra, antes todos são convidados a testemunhar o amor e a solidariedade, a comunhão e  o acolhimento.

Em nossas comunidades, que desejam ser seguidoras de Jesus e do seu reinado não pode ter lugar a exclusão de pessoas, o controle autoritário de uns sobre os outros, da imposição de títulos e funções, de honras e privilégios. Como seguidores do Reino que Jesus quis construir com o dom de Sua vida a igreja inteira e nela cada pessoa é chamada e desafiada a se preocupar com o serviço simples, humilde, acolhedor, capaz de partilhar e acolher sem distinção. Reunidos para agradecer a Deus pelo amor que em Jesus Ele nos demonstrou somos convidados a substituir todos os esquemas de egoísmo, de prepotência e de poder pelo amor, a doação, a acolhida e caridade fraterna.

Afinal é isso que rezamos no salmo: Verdadeiros são os vossos testemunhos,
refulge a santidade em vossa casa pelos séculos dos séculos, Senhor!

terça-feira, 9 de novembro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 14 DE NOVEMBRO DE 2021 - 33º COMUM - ANO B

 

OS TEMPOS DE DEUS

Duas coisas costumam chamar atenção de qualquer pessoa nas andanças de cada dia. De um lado a suntuosidade das construções, a arquitetura das edificações faraônicas de nossas cidades, incluindo nelas as igrejas e templos das mais diversas manifestações de fé. De outro lado a pobreza e a miserabilidade das multidões famintas dispersas por toda parte, sofridas nas intermináveis filas de atendimento da previdência social, dos postos de saúde e hospitais por toda parte. Vendo essas duas situações nos damos conta que a comparação que Jesus faz entre a videira e a segunda vinda do Filho de Deus no fim dos tempos é um convite para que tenhamos cuidado com os reinos passageiros e que não facilitemos quando se trata de agir com humanidade e de humanizar as relações preparando-nos cada dia para vinda do Reino de Deus.

Todos somos convidados a ultrapassar a barreira das noites escuras do mundo em uma aurora de vida sem fim. Essa é a mensagem da primeira leitura: “Naquele tempo, muitos dos que dormem no pó da terra, despertarão, os que tiverem sido sábios, brilharão como o firmamento; e os que tiverem ensinado a muitos homens os caminhos da virtude, brilharão como as estrelas, por toda a eternidade”. Esta é a esperança que todos podemos cultivar a cada dia.

Que Jesus veio ao mundo para “fazer a vontade de Pai” é uma verdade que os cristãos têm suficiente clareza. Toda a vida e as ações de Jesus tiveram por objetivo ensinar e estimular as pessoas repetir diariamente as mesmas atitudes de Jesus: “Cristo sentou-se para sempre à direita de Deus, levou à perfeição definitiva os que ele santifica”.

Ele sentado à direita do Pai é o testemunho mais evidente para todos os que querem ter o mesmo destino, ou seja, viver com fidelidade e coerência todos os compromissos que assumimos no dia do nosso batismo. Não ter medo de enfrentar as dificuldades e provações que a vida nos apresenta cada dia.

No Evangelho Jesus deixa claro que o mais importante não é definir o tempo exato em que as coisas antigas ficarão no esquecimento, mas ter confiança e prestar atenção aos sinais que fazem reconhecer um novo tempo.

Os tempos e lugares nos quais as fraquezas e fragilidades deixarão de acontecer não são importantes, a única certeza que todos podemos ter é que Deus fará acontecer um tempo novo, da nossa parte como os discípulos de outrora resta que fiquemos preparados e vigilantes Naqueles dias, depois da grande tribulação, o sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas. Então vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. Ele enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma extremidade à outra da terra”.

A certeza da presença de Deus nos faz caminhar na confiança e nos permite olhar o mundo com esperança. Na condição de discípulos e discípulas de Jesus não podemos ser profetas da desgraça nem tampouco fazer de conta que não enxergamos as noites escuras que rondam a nossa existência.

          Quando se trata de noites escuras é preciso trazer presente a intuição do Papa Francisco que nos convida a enxergar nossos pobres e a pobreza: “A fé nos impulsiona a juntos sonhamos e trabalharmos por um mundo onde a pobreza seja superada. Não podemos nos acostumar com a pobreza e nos tornarmos indiferentes aos pobres”

Filhos e filhas de Deus somos chamados a espalhar a serenidade e a alegria na certeza de que quem dirige a história humana é Deus e que a salvação não é reservada a um grupo privilegiado, mas que o Filho do Homem abriu espaço para toda a comunidade. Isso significa a não ter indiferença frente ao sofrimento das pessoas em situação de vulnerabilidade e à crescente pobreza socioeconômica que assola mais 51,9 milhões de brasileiros e brasileiras. Não é lícito que fiquemos de braços cruzados esperando que o os novos tempos cheguem de forma milagrosa, a palavra de Jesus tem por objetivo abrir os nossos corações: “Aprendei, pois, da figueira esta parábola: quando seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, sabeis que o verão está perto. Assim também, quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Filho do Homem está próximo”.


sexta-feira, 29 de outubro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 03 DE NOVEMBRO DE 2021 - AÇÃO DE GRAÇAS NOS 31 ANOS DE ORDENAÇÃO PRESBITERAL - ANO B

 

ESCOLHER SEM MEDO

Ao externar minha gratidão a Deus pelo dom da vocação e o exercício do ministério faço com um exame de consciência a partir das palavras de São Paulo: “Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, - pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei” ao longo desses 31 anos tenho consciência de haver procurado cumprir com seriedade a missão que me foi confiada, entretanto, as fragilidades humanas nem sempre me permitiram saldar a dívida recomendada na carta aos Romanos: o amor é o cumprimento perfeito da Lei”.

E o amor ao próximo se revela na disponibilidade integral capaz de abandonar todas as seguranças, vontades e certezas. Para continuar a tarefa de “servir na alegria e na caridade” peço que o Senhor me conceda sabedoria e discernimento capaz de amar sem medida colocando-me inteiramente a serviço da justiça, do amor e da solidariedade.

Recordando o apelo do Papa Francisco na Carta Alegria do Evangelho, peço oração de vocês para que eu seja livre da tentação de me “fechar em um grupo de elite que não sai a procura dos que andam perdidos nem das imensas multidões sedentas de Cristo. Que eu não perca o ardor evangélico” (EG 95), antes que Deus me dê a coragem que pede o Papa Francisco na mesma carta: “Sonho com uma escolha missionária, capaz de transformar tudo para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a vida da Igreja se tornem um canal eficiente para a evangelização do mundo atual” (Eg 27).

Isto significa carregar a cruz atrás de Jesus, planejar com Ele para dar conta de tudo aquilo que nos propomos fazer, daí sim poderei rezar sempre: Feliz o homem que respeita o Senhor e que ama com carinho a sua lei! Sua descendência será forte sobre a terra, abençoada a geração dos homens retos”.

HOMILIA PARA O DIA 07 DE NOVEMBRO DE 2021 - DOMINGO DE TODOS OS SANTOS - ANO B

 MÃOS PURAS E CORAÇÃO INOCENTE

Quando falamos a palavra Santo e Santidade nos vem à mente uma infinita lista de situações e pessoas para as quais costumamos aplicar este adjetivo. Neste domingo em que a Igreja nos convida a celebrar todos os Santos a Palavra de Deus sugerida para a liturgia nos ajuda aperfeiçoar e simplificar o significado e a maneira como é possível ser Santo e o caminho para se chegar a santidade.
O livro do Apocalipse nos diz que Santos “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro". Em outras palavras a Santidade é um caminho que se cosntroi em meio as fragilidades da vida quando não perdemos o foco daquele que derramou o seu sangue para nos garantir a salvação.
De uma coisa é certa Deus nos fez seus filhos e nos predestinou a alcançarmos a santidade sendo esse caminho um processo que começa no dia do nosso batismo: “Caríssimos, vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos”.
Alcançar a santidade significa percorrer caminhos que nem sempre são os habituais deste mundo. As bem-aventuranças que ouvimos no Evangelho são um caminho para santidade e sobre elas o Papa Francisco declarou no documento Alegrai-vos e exultai!
Quando a riqueza desmorona então sim é que se percebe o caminho da santidade;
Quando a inimizade, o orgulho e a vaidade cedem lugar a mansidão aí está a santidade;
Quando temos a coragem de partilhar, compartilhar e se solidarizar com o sofrimento alheio começamos a trilhar a estrada da santidade;
Quando não temos medo de praticar a justiça, mesmo no meio da incompreensão e das injustiças, isso é santidade;
Quando somos capazes de perdoar e agir sempre com misericórdia, estamos no caminho da santidade;
Quando amamos com gestos e atitudes mais do que com palavras, isso é santidade;
Quando não somos causa de conflito e nem de incompreensão, antes construímos ponte em vez de muros, estamos na estrada da santidade;
Quando não nos acomodamos na mediocridade, mas nos dispomos gastar nossa vida por causas que valham a pena, isso é santidade.
Ser santo não é, necessariamente revirar os olhos e inclinar a cabeça em supostos êxitos, mas quando fazemos isso e também agimos com misericórdia encontrando e reconhecendo Deus nas pessoas.
O salmo que nós rezamos neste domingo é uma síntese do que é o caminho da santidade: Quem tem mãos puras e inocente coração,
quem não dirige sua mente para o crime. Sobre este desce a bênção do Senhor e a recompensa de seu Deus e Salvador".
 É assim a geração dos que procuram o Senhor!

 

 



HOMILIA PARA O DIA 02 DE NOVEMBRO DE 2021 - COMEMORAÇÃO DOS FIÉSI DEFUNTOS - CELEBRAÇÃO DA ESPERANÇA

 

PARA AS ÁGUAS REPOUSANTES NOS ENCAMINHA

A celebração dos fiéis defuntos tem sua origem numa antiga tradição da Igreja e cujo objetivo implica em rezar juntos e juntos enxugar nossas lágrimas sendo essa oportunidade para fortalecer nosso compromisso com a vida.

Rezar pelos nossos queridos significa afirmar nossa esperança no Reino e na misericórdia de Deus. No fundo do seu sofrimento Jó proclama aquilo que na esperança todos podemos repetir: Eu sei que o meu redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó; e depois que tiverem destruído esta minha pele,
na minha carne, verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão”.

O amor que Deus tem por suas criaturas não nos permite o desespero porque a morte é apenas um fim para esta existência passageira, mas sobretudo a morte é o começo da vida em plenitude. Obviamente que diante da finitude da vida as palavras do Evangelho caem como uma luva na mão: Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar. Vós também ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes".

Uns com os outros rezamos com sofrimento diante do desaparecimento físico das pessoas que amamos, a partida deles do nosso convívio só aperfeiçoa o amor e aqueles que já morreram, lá do céu nos mostram o melhor caminho a seguir enquanto peregrinamos na terra.

 

 

 

 

 

 

 

 

Permito-me recitar um texto do professor Sérgio Cursino, Jornalista, radialista e publicitário contemporâneo:

A GENTE VAI EMBORA e fica tudo aqui, os planos a longo prazo e as tarefas de casa, as dívidas com o banco, as parcelas do carro novo que a gente comprou pra ter status.

A GENTE VAI EMBORA sem sequer guardar as comidas na geladeira, tudo vai apodrecendo, a roupa fica no varal.

A GENTE VAI EMBORA, se dissolve, a gente some, toda nossa importância se esvai, essa importância que pensávamos que tínhamos..., a vida continua, ela segue, as pessoas superam e vão seguindo suas rotinas.

A GENTE VAI EMBORA, as brigas, grosserias, impaciência, infidelidade, tudo isso serviu para nos afastar de quem só nos trazia felicidade e amor.

A GENTE VAI EMBORA e o mundo continua assim, caótico, muito louco, como se a nossa presença ou ausência não fizesse a menor diferença. Aqui entre nós, não faz. Nós somos pequenos, mas nós somos arrogantes, prepotentes, metidos a besta. 

A GENTE VAI EMBORA. E é bem assim: Piscou, num estalo, a vida vai. O cachorro que eu amo tanto, ele é doado. O cachorro se apega aos novos donos. Os viúvos se casam de novo, eles andam de mãos dadas, apaixonados e vão até ao cinema. 

A GENTE VAI EMBORA e nós somos rapidamente substituídos naquele cargo que a gente ocupou na empresa. Nós somos substituídos no outro dia. As coisas que nós nem emprestávamos são doadas, algumas jogadas fora.

Quando menos a gente espera, A GENTE VAI EMBORA. Aliás, quem é que espera morrer? Se a gente esperasse pela morte, talvez a gente vivesse mais. Talvez a gente colocasse nossa melhor roupa hoje, talvez a gente comesse a sobremesa até antes do almoço. Talvez a gente esperasse menos dos outros. Talvez a gente risse mais, saísse à tarde para ver o pôr do sol, talvez a gente quisesse mais tempo e menos dinheiro. 

Hoje o tempo voa, amor. A partir do momento em que a gente nasce, começa essa viagem, essa jornada fantástica veloz com destino ao fim, rumo ao fim - e ainda tem aqueles que vivem com pressa! Eu ainda tenho pressa! O que é que eu estou fazendo agora com o tempo que me resta? 

Que possamos ser cada dia melhores. Que saibamos reconhecer o que realmente importa nesta nossa breve passagem pela Terra. Só isso. Até porque, A GENTE VAI EMBORA. A GENTE VAI EMBORA!

 

HOMILIA PARA O DIA 31 DE OUTUBRO DE 2021 - 31º COMUM - ANO B

 

O SENHOR É A NOSSA ROCHA SEGURA


Os fatos que se sucederam nos últimos dois anos marcaram de uma maneira tão extraordinária a humanidade inteira e podem servir de lição para todos: Céus e terra passarão e nós passaremos com eles. A realidade finita da existência humana poderá ensinar a todos que em virtude da brevidade da vida a nossa mente orgulhosa, prepotente, não tem nenhuma importância. Essa lição se reforça com a Palavra de Deus deste domingo.

Ouve, Israel, e cuida de os pôr em prática, para seres feliz e te multiplicares sempre mais, na terra onde corre leite e mel, como te prometeu o Senhor, o Deus de teus pais”. Esse pedido com força de lei que Moisés apresenta ao povo deixa claro três ações que dizem respeito a cada pessoa do nosso tempo: Escutar com os ouvidos, acolher com o coração e colocar em prática com as mãos!

O autor da carta aos Hebreus repete o jogo de verdades entre a finitude de tudo o que é deste mundo e aquilo é definitivo. Em outras palavras reforça a diferença entre as realidades perfeitas e as imperfeitas. Jesus é o sacerdote por excelência e nele todos alcançaremos a perfeição para isso é imprescindível que imitemos Jesus no que diz respeito a amar a Deus e amar as pessoas.

Respondendo a mais uma provocação de um mestre da lei: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força! O segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo! Não existe outro mandamento maior do que estes”. Jesus deixa claro que não se trata de fazer escolhas entre rezar e trabalhar, amar a Deus e amar aos irmãos, cumprir os mandamentos e colocar em prática. Trata-se de fazer as duas coisas ao mesmo tempo.

O Evangelho desse domingo nos desafia a praticar uma verdadeira religião que consiste em nos tornar amorosos para com todos. Se deixar de cumprir os mandamentos Jesus nunca colocou no centro das suas preocupações a prática da lei, mas sim em fazer a vontade do Pai e isso implica a entrega da vida em favor da vida das pessoas.

E isso nos pede a Igreja hoje nas palavras do Papa Francisco: O amor de Jesus, porém, é ação. Isso vale para todas as instâncias da vida e, especialmente, para a vivência religiosa. “Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos.  Saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo. Prefiro uma igreja acidentada, ferida, enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma e agarrada as próprias seguranças”.

Não tenhamos medo! Afinal é isso que cantamos no salmo desse domingo! Eu vos amo, ó Senhor, porque sois minha força”

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 24 DE OUTUBRO DE 2021 - 30º COMUM - ANO B

 

MARAVILHAS FEZ CONOSCO O SENHOR!

Nas últimas semanas temos ouvido muito boas notícias em relação ao controle da pandemia que assolou o mundo, resta-nos manter ainda certas medidas de prevenção e solidariedade para não recair no marasmo que já estivemos perdidos há bem pouco tempo. Simultâneo a essa realidade está a retomada da economia e do emprego e dos investimentos junto com crise política, econômica e de exclusão de milhões de pessoas pelo Brasil afora cuja imagem pode ser traduzida nos “cegos à beira da estrada” que estão nas ruas, nos semáforos, nas filas dos desempregados.

Neste contexto a Igreja celebra o dia mundial das missões e o início da caminhada para o Sínodo da comunhão. Na mensagem sobre a missionariedade da Igreja Francisco recorda: “É urgente que tenhamos missionários da esperança, lembrando que ninguém se salva sozinho. Jesus precisa de corações capazes de construir caminhos para as periferias do mundo”. E na abertura do sínodo insistiu na necessidade de encontrar, ouvir e discernir. Esta realidade é o que ouvimos da Palavra de Deus nesse domingo.

O profeta Jeremias fala com vibração: Isto diz o Senhor: Exultai de alegria eis que eu os trarei do país do Norte e os reunirei desde as extremidades da terra; entre eles há cegos e aleijados, mulheres grávidas e parturientes: são uma grande multidão os que retornam. Eles chegarão entre lágrimas e eu os receberei entre preces”

Os personagens citados no texto representam a tristeza, a dor e os sofrimentos ao mesmo tempo a fecundidade, a alegria e a esperança. Ontem como hoje, o Deus em quem acreditamos está sempre atento às nossas necessidades, fragilidades e fraquezas, cuida de todos como um pai que ama aquilo que é seu. O convite para todos os que se sentem formados na “escola de Deus” é ter a coragem de olhar para o mundo com suas dores e sofrimentos e manter a esperança como a da mulher grávida que reconhece as dores do parto na certeza que com sua colaboração nascerá uma nova vida.

Já o autor da carta aos Hebreus declara: “Todo sumo sacerdote é tirado do meio dos homens e instituído em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados”. Em toda a carta fica clara a ideia que Jesus assumiu as nossas fraquezas e saiu vitorioso. Logo todos os que se declaram crentes são convidados a alimentar a mesma esperança, a mesma confiança, a mesma solidariedade capaz de se compadecer com todos aqueles que o mundo deixa mendigando à margem das estradas da vida.

O texto de hoje nos questiona sobre nossa capacidade de testemunhar a compaixão de Deus diante dos desamparados pela sociedade.

O Evangelho narra um fato corriqueiro do nosso cotidiano, ou seja, à beira do nosso caminho de práticas religiosas estão muitos cegos que gritam: tem piedade de mim”. Nossa tentação é nos desvencilhar desses incômodos, porém Jesus continuar a nos interpelar com a mesma atitude do Evangelho: “Tragam o cego até aqui”

Jesus mostra sua compaixão e devolve a esperança ao excluído e silenciado por seus amigos. Ontem como hoje temos o dever e a responsabilidade de nos fazer próximo dos que se encontram à margem da nossa ação evangelizadora.

Nossa prática costumeira é repetir o que fizeram os amigos de Jesus: “Muitos o repreendiam para que se calasse”. Repetindo com outras palavras da atitude de Jesus a Igreja inteira é convidada a “Encontrar, escutar e discernir” o grito daqueles que estão sentados à beira do nosso caminho.

Não tenhamos medo de nos aproximar do “filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, que está sentado à beira do caminho”.  O resultado será o que vimos no combate a pandemia: o testemunho de tantas pessoas que não ficaram indiferentes diante da morte e sofrimento, que foram missionários da esperança e aliviaram os gritos de compaixão de milhões de pessoas por todos os cantos do mundo. Então sim poderemos cantar com o salmista:  Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria”

sábado, 16 de outubro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 17 DE OUTUBRO DE 2021 - 29º COMUM - ANO B

                             NO SENHOR NÓS ESPERAMOS CONFIANTES

Mateus escreve o episódio que ouvimos hoje em Marcos, com uma riqueza de detalhes que se assemelham muito ao nosso cotidiano. No capítulo 20 de Mateus está escrito: “A mãe dos filhos de Zebedeu se aproximou de Jesus...” Em nossas relações é frequente as pessoas pedirem ajuda e procurar intermediações para solucionar problemas, facilitar algum negócio ou situação embaraçosa e muitas vezes até sem nenhum escrúpulo são propostas situações cujo objetivo primeiro é “levar vantagem” cuja expressão muitas vezes se traduz pelo provérbio popular: “Fulano é capaz de vender até a mãe para conseguir o que ele quer”.

A Palavra de Deus deste domingo aponta exatamente em outra direção fazendo um convite a deixar de lado nossas pretensões de poder, de grandeza, de dar ‘um jeitinho’ e em lugar disso gastar nossas forças no serviço, na entrega, na humildade, e perceber como nessa forma de viver se alcança com dignidade a verdadeira qualidade de vida para si e para todos.

Aos olhos de Deus, a simplicidade, a entrega, o empenho por causas mais nobres que os interesses pessoais se torna fecundidade, realização e libertação plena como lemos na primeira leitura: “Por esta vida de sofrimento, alcançará luz e uma ciência perfeita. Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens”. Na linguagem do profeta o sofrimento não é um castigo inútil, mas oportunidade para gerar nova vida construída na justiça e no bem para si e para “inúmeras pessoas”.

Os cristãos, desde o início associaram a figura de Jesus ao servo sofredor narrado pelo profeta. A comunidade a quem se destinava a carta que nós lemos estava passando por momentos muito difíceis de onde o autor lhes faz recordar que: “Temos um sumo sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus, o Filho de Deus. Por isso, permaneçamos firmes na fé que professamos. Com efeito, temos um sumo sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós”.

Jesus Cristo não se esconde no seu poder, na sua onipotência, antes vem ao encontro das pessoas, vive como sacerdote sendo fiel ao Pai e misericordioso é capaz de modificar as pessoas por inteiro. A leitura é um convite também a nós fazermos de nossa vida um serviço com gestos concretos de amor e de acolhida. Tarefa que bem precisa ser revista pela Igreja inteira, como nos convida o Papa Francisco com essa proposta de ir ao encontro, escutar as pessoas e discernir seus anseios. 

Neste contexto não é difícil entender como a atitude de João e Tiago, e também dos outros discípulos que estavam enciumados por causa da pretensão dos irmãos, seja reprovada por Jesus que também reprova os nossos anseios de poder e autoridade. Dizendo aos discípulos “Vocês não sabem o que estão pedindo” o Evangelho se concluí com uma exortação que serve para todos: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas, entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos'.

Essa conclusão é um convite a repensar nossa forma de nos situar na família, na escola, no trabalho, na sociedade e em todas as nossas relações. A instrução que Jesus dá aos discípulos é uma denúncia as jogadas de poder, de domínio, ao nosso sonho de grandeza em relação a quem está ao nosso lado. O Evangelho é ao mesmo tempo uma proposta a deixar de lado todas as manobras políticas cujo objetivo é conquistar honras, privilégios e posições de prestigio. Ao contrário colocando em nossa prática cotidiana todos os nossos melhores esforços em serviço gratuito e em gestos generosos a serviço da vida com dignidade para todos.


quarta-feira, 6 de outubro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 12 DE OUTUBRO DE 2021 - NOSSA SENHORA APARECIDA - ANO B

 

EIS QUE APARECEU UM GRANDE SINAL

A Leitura do livro do Apocalipse nesta solenidade de Nossa Senhora Aparecida não poderia ser mais adequada para os tempos que estamos vivendo: Apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas”. Diante dessa aparição tão extraordinária não há dragão, serpente, rio de fogo, ou qualquer outro mal que possa fazer sucumbir os filhos e filhas de Deus.

Ao longo da história da humanidade e particularmente no Brasil não foram poucas as vezes que fomos ameaçados, escravizados, explorados, enganados, perseguidos, mas em todas elas saímos mais que vitoriosos, Deus pela presença da sua mãe nos reergueu de novo e nos saciou com vinho novo que é o seu próprio Filho.

A Mãe de Deus e nossa, como fez nas bodas de Caná continua a nos sugerir a única e segura atitude a ser tomada quando nos falta o vinho da esperança e a coragem da mudança: “Façam tudo o que Ele lhes disser”.

HOMILIA PARA O DIA 10 DE OUTUBRO DE 2021 - 28º COMUM - ANO B

 

DAI AO NOSSO CORAÇÃO

As palavras visão, missão e objetivo fazem parte da vida de todas as pessoas e com muito mais intensidade nestes tempos de transformações rápidas e de modernidade liquida. Nestas circunstâncias ainda mais as pessoas procuram ajuda, conselho e opinião para suas decisões e escolhas. Entretanto, nem sempre procuram o conselheiro e a opinião mais segura para tomar decisões importantes e decisivas em suas vidas.

As leituras deste domingo apontam alternativas seguras quando uma pessoa quer errar menos e correr menor risco em relação às suas escolhas. A Palavra de Deus nos recorda o provérbio popular: “Nem tudo o que reluz é ouro” e que uma correta visão de mundo e missão de acordo com aquilo que se acredita implica também em renunciar certas propostas e outros caminhos.

O autor do livro da Sabedoria, na primeira leitura, é categórico em afirmar que a única e verdadeira sabedoria vem de Deus e só por meio dela será possível tomar decisões acertadas. A sabedoria é um dom que Deus dá gratuitamente, porém para isso é necessário um coração e uma vida abertos e acolhedores que reconheça a finitude da própria existência e não se julgue autossuficiente e capaz de prescindir de Deus e dos seus dons. A leitura é um convite a colocar na hierarquia correta os valores sobre os quais construímos nossa visão de mundo e nossa missão nele: “Preferi a Sabedoria aos cetros e tronos e em comparação com ela, julguei sem valor a riqueza; a ela não igualei nenhuma pedra preciosa, pois, a seu lado, todo o ouro do mundo é um punhado de areia e diante dela, a prata, será como a lama”.

No Evangelho, a pessoa que se ajoelha diante de Jesus em nada se compara aos fariseus e doutores da lei que vinham com propostas embaraçosas para colocar Jesus a prova. Este se ajoelha e o chama de bom e de mestre e coloca pra Jesus questões que o inquietam ao mesmo tempo pede uma luz para o mais alto objetivo da sua vida, ou seja, quer saber qual sua verdadeira missão no mundo.

Jesus reconhece a honestidade e a sinceridade da pessoa que lhe apresenta o pedido remetendo-lhe à lei de Moisés a qual o interlocutor garante conhecer e cumprir fielmente. Diante dessa afirmativa Jesus o desafia a dar um passo maior: Já não se trata somente de ganhar a vida eterna, mas ser participante do reino desde essa vida, como Ele vai dizer depois aos discípulos: ‘Vai vende o que tens e dá aos pobres depois vem e segue-me”.

A visão de mundo e a missão que Jesus lhe apresenta implicam partilha, solidariedade, doação fazer essas escolhas garante o que todos terão ainda nesta vida:  Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições e, no mundo futuro, a vida eterna”.

A vida eterna é um dom gratuito de Deus que nós começamos a vivenciar à medida que deixamos a nossa bolha de segurança dos falsos e efêmeros valores desse mundo para entrar na dinâmica da compaixão e da lógica de Deus. Em resumo podemos dizer que a vida eterna se compara ao provérbio popular: “Na cama que você fizer, nela se deitará”.

E ninguém melhor do que compreender e aceitar a Palavra de Deus, como nos mostra a carta aos Hebreus, pode ajudar as pessoas a discernir entre o bem e o mal o caminho correto e as escolhas eficazes: “A Palavra de Deus é viva, eficaz. Ela julga os pensamentos e as intenções do coração. E não há criatura que possa ocultar-se diante dela. Tudo está nu e descoberto aos seus olhos, e é a ela que devemos prestar contas”.

Peçamos a graça de compreender a Palavra que ouvimos, nos deixar moldar pela oração que fazemos e alimentados pela Eucaristia que recebemos compreender com precisão qual é nossa missão purificando a visão e os objetivos que temos para nossa existência no mundo.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 03 DE OUTUBRO DE 2021 - 27º DOMINGO COMUM - ANO B

 

A MEDIDA DO AMOR É AMAR SEM MEDIDA

Quem trabalha na educação em todos os níveis certamente já ouviu a expressão: “Contação de histórias! ” Como um recurso pedagógico capaz de auxiliar pais, professores e alunos compreenderem algum tema ou situação de difícil entendimento. Pais e mães costumam contar histórias para os filhos em diversas circunstâncias da vida. Todos sabemos que as histórias, por si mesmas, nem sempre são verdadeiras, mas as lições que se pode tirar de cada uma delas revelam verdades tornando mais fácil compreender aquilo que sem esse recurso seria muito complexo.

Pois esse é o recurso que o autor do livro do Gênesis se serve na primeira leitura deste domingo cujo objetivo é mostrar que no início de tudo e de todas as coisas está a mão misericordiosa de Deus propondo um estilo de vida que implica compreender a igual dignidade da humanidade como obra prima de Deus: O Senhor Deus disse: 'Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele'.  E Adão Exclamou: Desta vez, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada 'mulher' porque foi tirada do homem'. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne”.

A maneira como o autor conta a criação do homem e da mulher tem por objetivo deixar claro que eles são da mesma carne, isso significa iguais em dignidade e que devem um ao outro respeito e que na relação entre eles não pode existir dominação, escravidão, prepotência, e outras formas de tratamento que considerem a pessoa como propriedade e posse para ser negociada com vantagens de um sobre o outro.

No Evangelho, mais uma vez, estão os fariseus querendo colocar Jesus a prova e tentar encontra algum motivo para lhe condenar. Sem fugir da perspectiva legal Jesus lhes recorda o plano de Deus para a humanidade e que antecede em muito as perspectivas legais impostas por Moisés. A intenção inicial do criador tinha por finalidade a ajuda, o amor, a complementariedade isso significa a capacidade de viver um para o outro e qualquer ruptura nesse projeto será sempre um fracasso que não está nos planos de Deus. .

Quando se trata da felicidade e realização plena das criaturas o divórcio não entra nesse projeto as pessoas existem para formar um com o outro comunhão e unidade. Acolhendo as crianças e repreendendo aqueles que as querem afastar Jesus denuncia quem trilha os caminhos da autossuficiência, do orgulho, do calculismo contrariando a lógica de Deus.

As crianças são o modelo de pessoas frágeis que precisam de cuidado e compreensão da comunidade e de todos, que é também a atitude que a comunidade precisa ter com as pessoas que apesar do seu esforço e da sua boa vontade não conseguem viver plenamente os ideais do Evangelho. Esse é também o conselho que o Papa Francisco sugere aos casais unidos e felizes os quais podem entender melhor do que qualquer outro a ferida e o sofrimento causado por uma falência do amor. Por isso é importante que consigam levar o testemunho de um casal feliz acolhendo os que fracassaram com suas feridas sob o olhar do Cristo Bom Pastor sem esquecer o sofrimento indescritível das crianças, vocês podem dar-lhes muito, recomenda o Papa.

Quando se trata de famílias em situação de sofrimento indescritível nos encontramos com a comunidade para quem foi escrita a Carta aos Hebreus cujo texto é a segunda leitura de hoje. Os destinatários da carta tinham perdido o fervor do Evangelho e se deixaram dominar pelo desânimo. O autor da carta cumpre o papel de levar aquela comunidade a crescer na fé, para isso mostra como também Cristo enfrentou as debilidades e a própria morte, no entanto provou que sua vida está nas mãos de Deus e que a vitória é certa.

Também nós podemos crer, que, não obstante todos os sofrimentos e provações, fracassos e decepções no final seremos acolhidos como Jesus fez com as crianças “Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas”. Quem caminha com Jesus não fica prisioneiro da dor e do sofrimento, como escreveu o poeta Fernando Sabino: “No fim tudo vai dar certo e se não deu certo ainda é porque não chegou ao fim”.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 26 DE SETEMBRO DE 2021 - 26º DOMINGO COMUM - ANO B

 

FRATERNIDADE DO EVANGELHO E AMIZADE SOCIAL

Ano passado o Papa Francisco publicou uma carta intitulada Fratelli Tutti cujo conteúdo trata da fraternidade e acolhimento aos diferentes. O Papa começa sua carta recordando um ensinamento de São Francisco de Assis que não fazia guerra dialética impondo suas doutrinas e seus pontos de vista, antes comunicava o amor de Deus. Estamos vivendo tempos de intolerância quer seja por meios físicos, quer por palavras ou recursos de mídia as pessoas se confrontam e criam conflitos que prejudicam as relações e ameaçam a vida em todos os lugares.

Ao contrário dessa situação a Palavra de Deus desse domingo é a mesma que sustentou as convicções de São Francisco de Assis e nos apresenta alternativas para que aprendamos reconhecer a presença de Deus em todas as pessoas independente de pertencerem ou não ao nosso grupo de amigos, à nossa Igreja, ou qualquer instituição a que pertencemos.

O livro dos Números narrando como o Espírito de Deus foi distribuído entre os setenta é uma referência clara da liberdade e alcance das maravilhas que Deus realiza em todos e convida cada pessoa a agir como Moisés, isso é reconhecer a presença de Deus em todas as circunstâncias que se realizam à nossa volta. A resposta de Moisés para aquele que lhe fez uma queixa sobre outra pessoa, é a mesma que pode ser dada na atualidade: Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta, e que o Senhor lhe concedesse o seu espírito”.

No Evangelho nos encontramos com Jesus ainda dando ensinamentos aos seus discípulos e os convidando e pensar e agir de acordo com a lógica do Reino. Na proposta de Deus não tem espaço para arrogância, ciúmes, presunção, posse exclusiva do bem e da verdade, antes o Espírito de Deus que paira no mundo é um convite a acolhida, a liberdade, a inclusão e arrancar da própria vida todas as atitudes e situações que são incompatíveis com essa forma de agir.

Ontem como hoje aqueles que seguem e acreditam em Jesus correm o risco de formar pequenos guetos de pessoas que se julgam melhores e mais perfeitos, adotam posturas de quem se considera melhor que os demais, formam grupos de privilegiados. Jesus que já havia dado mostras de acolhimento, de perdão, de inclusão sem julgamentos repete com outras palavras o que Moisés disse outrora ao seu interlocutor: Quem não é contra nós é a nosso favor. Em verdade eu vos digo: quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. E, se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço”.

Nós como os discípulos de outrora facilmente esquecemos que o único poder que vale a pena é o poder do amor, e que só esse poder pode nos fazer todos irmãos. Jesus procura mostrar aos discípulos a necessidade de ultrapassar uma visão egoísta em relação aos valores do reino. O ensinamento de Jesus propõe a capacidade de viver e conviver com as diferenças não se fechando como diz o Papa Francisco numa Igreja que quer “engaiolar o Espírito Santo. ” Acima dos interesses de cada pessoa ou da própria Igreja ou instituição os cristãos devem pensar no bem comum.

Ontem como hoje muitos cristãos e muitos católicos tem medo de ver os seus sonhos de grandeza e de poder ameaçados e por isso criam regras, normas, permissões e proibições que impedem outras pessoas de fazer parte do seu grupo que se considera melhor e mais merecedor do Reino. Em nome da doutrina, da ordem e da disciplina excluímos multidões de pessoas da possibilidade da comunhão eucarística e não nos damos conta da insistência que continua a fazer o Papa Francisco: A Eucaristia não é um prêmio para os bons, mas um remédio para os doentes!

Peçamos as luzes do Espirito Santo que nos iluminem e nos ensinem a enxergar a presença de Deus e nos faça fiéis a missão recebida no Batismo de sermos no meio do mundo o bom perfume de Jesus, sinais do seu sacerdócio, da sua profecia e do seu reinado.