quinta-feira, 25 de julho de 2019

HOMILIA PARA O DIA 28 DE JULHO DE 2019


ORAÇÃO: ENCONTRO PESSOAL COM DEUS 
POR MEIO DE JESUS

As teorias educacionais costumam valorizar aspectos distintos quando se fala na pedagogia para tratar com os filhos e em todas as relações familiares.  Pois a liturgia deste domingo nos apresenta dois textos muito precisos com referências claríssimas indicando um diálogo responsável que retrata paternidade, autoridade, filiação e responsabilidade. Ao mesmo tempo as leituras servem para tirar lições sobre a persistência na oração e como não transformar nossa oração numa repetição mecânica de fórmulas e palavras que não são mais do que verbalizações pouco comprometedoras e algumas vezes beirando a magia.
Na primeira leitura Abraão está face a face com Deus, entrega-se no absoluto amor do Pai e faz todas as justificativas para testar até onde a bondade do criador se estende. As intervenções de Abraão para pedir misericórdia são valorosas e cheias de comprometimento com a causa daqueles que quer salvar: “Vais realmente exterminar o justo com o ímpio? Se houvesse cinquenta justos na cidade, acaso iríeis exterminá-los? Não pouparias o lugar por causa dos cinquenta justos que ali vivem? Longe de ti agir assim, fazendo morrer o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio. Longe de ti! O juiz de toda a terra não faria justiça” e assim continua até o limite: “Estou sendo atrevido em falar a meu Senhor... Não se irrite o meu Senhor, se ainda falo... 'Já que me atrevi a falar a meu Senhor, e se houver vinte justos?”
O Evangelho narra uma das ocasiões em que Jesus se retira para rezar o que comove os discípulos não são as palavras, mas o testemunho e por causa da atitude do Mestre os seguidores lhe pedem umas aulas de oração e são prontamente atendidos: “Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: 'Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos. Quando rezardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação”.
E Jesus conclui seu ensinamento com duas simples, mas profundas comparações: O amigo que vai pedir um socorro no meio da noite e uma situação familiar na qual pais e filhos são comparados com o Pai de todos.
São Paulo na segunda leitura sugere que toda a nossa vida seja referenciada a Cristo o único e melhor modelo de proximidade com o Pai: “Com Cristo fostes sepultados no batismo; com ele também fostes ressuscitados por meio da fé no poder de Deus, que ressuscitou a Cristo dentre os mortos”.
O Papa Francisco em suas catequeses falou sobre oração dizendo: “A oração não é uma varinha mágica. A oração ajuda a conservar a fé em Deus e a nos entregar a Ele mesmo quando não compreendemos a sua vontade. Nisto, Jesus, que rezava tanto, é um exemplo para nós”
Certamente se tivermos em relação a Deus a compreensão que tiveram Jesus, Abraão, São Paulo e tantos outros ao longo da história melhor entenderemos que Deus continua vindo ao nosso encontro, sentando à nossa mesa e estabelecendo comunhão com as nossas necessidades. Este é um Deus com o qual podemos dialogar com amor e com respeito Ele está sempre aberto a ouvir nossos apelos e necessidades.


HOMILIA PARA O DIA 21 DE JULHO DE 2019


ACOLHEI-VOS UNS AOS OUTROS COMO CRISTO ACOLHEU VOCÊS
Quando a gente quer contar algum acontecimento com certa complexidade para ser compreendido normalmente se recorre a lendas, parábolas, contos, historietas e assim por diante. Este tipo de recurso também foi utilizado pelo autor sagrado em diversas ocasiões. Os capítulos 12 a 36 do livro do Gênesis são uma série de parábolas que faziam parte da cultura dos povos primitivos e foram aplicadas a Abraão. No texto de hoje o autor utiliza uma lenda em que três visitantes divinos são acolhidos por um migrante anônimo e como recompensa este último recebe a dádiva de ter um filho. Ora, Abraão e sua esposa Sara já em idade avançada ainda esperavam o cumprimento da promessa que Deus lhes havia feito em relação a numerosa descendência e neste caso as visitas já não se dão mais a pessoa anônima, mas o personagem Abraão se torna o Herói desta história.
As leituras deste domingo fazem um convite e um alerta pertinente para todos na atualidade no sentido de não descuidar de um valor fundamental para a qualidade das relações humanas e que consiste na prática da hospitalidade e do acolhimento. Naturalmente que a principal forma de acolhimento é a que se dá entre Deus e a humanidade e que Ele pôs em prática primeiro quando veio ao encontro da humanidade enviando seu Filho.
No caso, Abraão é apresentado como um modelo de acolhimento e cuidado com quem precisa de atenção e hospedagem. O gesto do Patriarca recebe como recompensa a efetivação da promessa que é o nascimento do filho e que será a sementeira da descendência numerosa que Deus lhe havia prometido: “Voltarei, sem falta, no ano que vem, por este tempo, e Sara, tua mulher, já terá um filho”.
O Evangelho retrata mais uma cena de acolhimento e hospitalidade, neste caso das irmãs Marta e Maria. O diálogo de Jesus com Marta é um indicativo para os cristãos da atualidade: Receber Deus em casa não é sinônimo de ativismo desenfreado, de muitas atividades e correrias incansáveis, mas implica também na capacidade de sentar e ouvir como Maria. Obvio que o ouvir consiste também em prontidão para sair. Acolher a Palavra é um caminho que não permite a passividade inerte de quem não se comove com as necessidades alheias: Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.
Paulo, falando aos Colossenses deixa bem claro o que significa aceitar a visita que Deus nos faz por meio do seu Cristo. A vida e as palavras de Jesus são uma referência fundamental para a construção de qualquer valor que implique respeito e atenção para com todos: “Irmãos: Alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar na minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo, em solidariedade com o seu corpo, isto é, a Igreja. A ela eu sirvo, exercendo o cargo que Deus me confiou de vos transmitir a palavra de Deus em sua plenitude: o mistério escondido por séculos e gerações, mas agora revelado aos seus santos”.
Convenhamos que nós vivemos numa correria frenética para ganhar alguns minutos, porque ‘tempo é dinheiro’, mudamos de faixa no trânsito, passamos o sinal vermelho, comemos de pé ao lado da mesa, não temos tempo de brincar com os filhos. Sim, tudo isso é exigência da vida moderna, mas o que poderia ser feito para encontrar tempo de sentar aos pés de Jesus e acolhê-lo na pessoa dos irmãos necessitados.
Também em nossas comunidades algumas pessoas assumem muitos serviços se dão completamente nas pastorais e nos movimentos e sobram pouco ou nada de tempo para doar-se até mesmo para os próprios filhos e familiares. O desafio é encontrar um tempo para acolher e escutar Jesus perceber os novos desafios que Deus e o mundo nos apresentam. Por exemplo, como pensamos e agimos diante de tantos migrantes que chegam diariamente às nossas cidades e que precisam de atenção e de partilha de perceber que estamos preocupados com ele e com sua situação. É certo que o problema da migração não é uma responsabilidade de algumas pessoas, mas a solução pode passar pelo empenho de todos. Afinal de contas quem quer morar na casa de Deus tem como máxima o salmo deste domingo: “O que não faz mal ao seu próximo, nem ultraja o seu semelhante, o que tem por desprezível o ímpio, mas estima os que temem o Senhor”.





quarta-feira, 3 de julho de 2019

HOMILIA PARA O DIA 07 DE JULHO DE 2019 - 14º COMUM - ANO C


ALEGREM-SE E EXULTEM NO AMOR

As redes sociais e a facilidade de acesso à informação com o uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação transformaram todas as pessoas em “paparazzi”, ou seja, em repórter insistente a procura da primeira grande notícia para ser imediatamente disparada ao seu grupo de contatos sempre em primeira mão. Obvio que essa ânsia para ser o primeiro a transmitir alguma mensagem ou notícia nem sempre tem a ver com comprometimento e responsabilidade por alguma causa.
Exatamente o contrário é o que sugere a Palavra de Deus deste domingo, as três leituras indicam que todos são convidados e enviados a transmitir boas notícias, mas não se trata simplesmente de disparar mensagens para grupos de contato, o que está em jogo é um comprometimento com a causa a que se refere a notícia ou o fato que se quer divulgar e tornar no conhecido.
Seja o profeta do Antigo Testamento, São Paulo por meio de suas cartas ou os discípulos que receberam a missão diretamente da pessoa de Jesus todos tem por objetivo anunciar um Deus que ama e que não mede as consequências dos seu amor e que Paulo afirma: “Quanto a mim, que eu me glorie somente da cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo.
Por ele, o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo”.
O Profeta do Antigo testamento vai em nome de Deus e sua missão é consolar e libertar as pessoas de todos os medos e anunciar que Deus é Pai e que ama com ternura materna apontando para todos a esperança de um mundo novo: “Alegrai-vos com Jerusalém e exultai com ela todos vós que a amais; tomai parte em seu júbilo, todos vós que choráveis por ela, para poderdes sugar e saciar-vos ao seio de sua consolação, e aleitar-vos e deliciar-vos aos úberes de sua glória. Sereis amamentados, carregados ao colo e acariciados sobre os joelhos. Como uma mãe que acaricia o filho, assim eu vos consolarei; e sereis consolados em Jerusalém”.
Aos Gálatas Paulo declara que o anuncio da boa nova de Jesus e o testemunho que alguém dá da sua doutrina não pode ser movido pelo orgulho ou por qualquer interesse pessoal, antes deve testemunhar com a própria vida o amor radical que faz nascer uma nova pessoa: “Pois nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor; o que conta é a criação nova”.
E Jesus envia os doze com uma missão clara e bem específica: “Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz esteja nesta casa, Curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: O Reino de Deus está próximo de vós”. Em resumo a tarefa dos discípulos não é outra coisa senão continuar a obra libertadora que Jesus começou propondo a todos a Boa nova do Reino. E isso não pode ser uma coisa para se realizar a ‘passos de tartaruga’, pelo contrário, não percam tempo e façam com simplicidade e amor.
Se tem uma resposta que nós cristãos são desafiados a dar a partir da Palavra de Deus deste domingo consiste em compreender que “somos convidados a tomar consciência de que Deus nos envia a testemunhar o seu Reino”.
É bom que nos perguntemos: Na prática como anunciamos Jesus e seu reino? A doutrina e a boa notícia d’Ele já chegaram ao nosso local de trabalho, à nossa escola, à nossa paróquia. Conseguimos dormir tranquilo quando o egoísmo e a injustiça continuam correndo solto nos arraias da vida impedindo que a semente do Reino aconteça?


quarta-feira, 26 de junho de 2019

HOMILIA PARA A MISSA DA VIGÍLIA SOLENIDADE SÃO PEDRO E SÃO PAULO 2019


TU ME AMAS MAIS DO QUE ESTES...


Na relação com as pessoas alguns traços chamam mais atenção do que outros e costuma-se dizer que a “primeira impressão é que fica”. As vezes nos deparamos com alguma pessoa que não tem garra, pouco empreendedora, que coloca dificuldade em tudo, sempre acha que nada vai dar certo. Esse tipo de pessoa costuma ser qualificada como “corpo mole”, “Maria vai com as outras”, “Banana”, “Frouxo” e uma série de outros adjetivos. Já quando nos deparamos com uma pessoa determinada, disposta para muitos desafios se diz que é um sujeito empreendedor, resiliente, capaz de renascer das cinzas.
Ora, se tem uma coisa que não se pode dizer em relação ao Apóstolo Pedro é que ele fosse um desses tipo de pessoa de fazer corpo mole diante das dificuldades. Pelo Contrário, todas as referências que se tem sobre Ele, e que são abundantes na Sagrada Escritura, confirmam que se trata de um sujeito de “pulso”, corajoso e determinado. Não sem razão recebeu de Jesus o título de Pedra.
Nascido na Galileia é o tipo do “peixeiro” dito caipira até no jeito de falar. Quando Jesus bateu o olho no “pescador da Galileia” sua primeira impressão foi marcada pelas palavras: “Você é Pedro e vai se chamar Pedra”. Jesus tinha clareza que estava diante de uma pessoa que não poderia ser chamada de “Maria vai com as outras”. E de fato Pedro prova isso todo o tempo que esteve com o Mestre. E depois da morte de Jesus, foi o primeiro a discursar e anunciar as verdades que acreditava diante de mais de três mil pessoas.
As ações de Pedro depois da morte de Jesus confirmam o que se lê no Evangelho proclamado na liturgia da vigília da solenidade de São Pedro e São Paulo: “Simão filho de Jonas Você me ama mais do que estes? Senhor tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo”. No final deste Evangelho João afirma que Jesus antecipou a forma como Pedro haveria de morrer e a história diz que o Apóstolo pediu para ser crucificado de cabeça para baixo pois não se achava digno de morrer como o mestre.
O texto da primeira leitura mostra como logo no início das atividades Pedro havia conquistado a confiança das pessoas. No caso uma pessoa portadora de necessidades especiais a vida inteira e que vivia de esmolas na porta do Templo acredita nas palavras de Pedro e o resultado é surpreendente: “Ouro e prata não tenho, mas o que tenho lhe dou: Em nome de Jesus Cristo levante-se ande... no mesmo instante a pessoa se colocou de pé e entrou no Templo cantando e louvando a Deus”.
Nesta festa de São Pedro, ocasião em que veneramos todos os padroeiros que a exceção de Maria Mãe de Jesus, imitaram as virtudes do “Apóstolo da primeira hora”, peçamos para nossas vidas a coragem e a determinação e capacidade de responder a pergunta que Jesus continua a nos fazer: “Você me ama?” Que o Apóstolo Pedro nos ajude a responder sem titubear: “Senhor tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo”.


quarta-feira, 19 de junho de 2019

HOMILIA PARA O DIA 23 DE JUNHO DE 2019 - ANO C


DESDE A AURORA ANSIOSO VOS BUSCO

A história está repleta de sábios e de pessoas que procuraram a sabedoria. Dentre os famosos estudiosos da antiguidade Sócrates é citado com abundância em situações muito diversas. Uma das máximas socráticas diz assim: “Só sei que nada sei e quanto mais eu sei, sempre me dou conta que não sei”.
Ora, as leituras deste domingo nos colocam diante da necessidade de se conhecer, de conhecer os outros e de reconhecer em si mesmo e nos outros o próprio autor de toda a vida e princípio de toda criatura.
No Evangelho Jesus desafia seus amigos a lhe fazerem um compromisso de acordo com as suas convicções. Contextualizando a sua permanência entre eles pergunta opiniões a seu respeito e conclui sua provocação com a pergunta: “Para vocês quem sou Eu?” Ele não estava interessado que lhe dessem um biografia nem tampouco que lhe apontassem uma perspectiva de sucesso futuro. Com a pergunta e a resposta de Pedro, Jesus construiu um mosaico que apresentava o significado de reconhecer sua pessoa. Em lugar de lhe pedir uma descrição biográfica ele pede que aceitem sua doutrina, que sejam capazes de segui-lo, que repitam os gestos da sua entrega e dispondo-se a amar sem medida: Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará”.
Ter a coragem de renunciar a si mesmo e repetir os mesmos gestos de Jesus supõe simplicidade, serviço, humildade, generosidade. Estas atitudes nem sempre fazem parte da prática de muitos cristãos que procuram títulos, postos elevados, reconhecimento, autopromoção. Estas coisas todas não criam comunhão, antes fomentam conflitos, rivalidades, ciúmes e mal-estar.
O profeta Zacarias apresenta a figura de uma pessoa desconhecida, mas que foi ferida de morte, entretanto esse aparente fracasso não é uma derrota, mas aponta um caminho que gera vida para todos: “Ao que eles feriram de morte, hão de chorá-lo, como se chora a perda de um filho único, e hão de sentir por ele a dor... Naquele dia, haverá uma fonte acessível à casa de Davi e aos habitantes de Jerusalém, para ablução e purificação”.
E Paulo aos gálatas reforça a mesma mensagem presente na primeira leitura e no Evangelho. Aceitar Jesus, reconhecer que Ele é o enviado do Pai, o servo sofredor significa percorrer o caminho do amor e do dom da vida que garante a todos igualdade e dignidade e faz de todos herdeiros da vida em plenitude.
Declarando-se cristãos somos capazes de assumir o compromisso de viver como Cristo e assumir seus valores fazendo de nossa vida um dom de amor para construir um mundo de justiça e de paz onde todos tenham lugar?
Não nos esqueçamos de rezar com o salmo deste domingo: “Para mim fostes sempre um socorro; de vossas asas à sombra eu exulto! Minha alma se agarra em vós; com poder vossa mão me sustenta. A minh'alma tem sede de vós, como a terra sedenta, ó meu Deus”. 

HOMILIA PARA O DIA 20 DE JUNHO DE 2019 - CORPO DE CRISTO - ANO C


CRESCER E PERPETUAR NA UNIDADE E NA PAZ

Se devêssemos responder o que é preciso para que uma espécie de vida se perpetue, certamente iríamos considerar pelo menos quatro necessidades fundamentais: Adaptação ao ambiente, alimentos, sobrevivência aos predadores e reprodução. Se quisermos aplicar esta condição antropológica a nossa fé poderíamos dizer que a crença em Deus tem exatamente estas quatro necessidades, sem as quais as religiões surgem e desaparecem permanecendo apenas como fatos históricos.
O texto do Gênesis proclamado na primeira leitura de hoje trata da providência divina, simbolizados na benção e na ação de graças e do cuidado humano daqueles que são responsáveis pela perpetuação da vida. O Rei Melquisedec aparece uma única vez na relação entre Abraão e Deus. E sua intervenção tem por objetivo mostrar a preocupação do Criador com as suas criaturas. Preocupação que se revela na benção dada ao patriarca que este por sua vez retribui com ações de graças: Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho e como sacerdote do Deus Altíssimo, abençoou Abrão, dizendo: 'Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, criador do céu e da terra! Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou teus inimigos em tuas mãos!' E Abrão entregou-lhe o dízimo de tudo”.
Na Segunda leitura Paulo reafirma a tradição que recebeu dos apóstolos que consiste em fazer memória do gesto de Jesus na última ceia: “isto é, meu corpo e meu sangue, comei e bebei” ao mesmo tempo convida a permanecer atentos para a segunda vinda. Neste sentido a Eucaristia é uma refeição de esperança: “Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha”.
A narrativa da multiplicação dos pães deixa mais do que claro uma das necessidades fundamentais para a preservação de qualquer espécie. Para viver é preciso comer. E como Deus quer suas criaturas vivas, na pessoa de Jesus, Ele mesmo intervém como um Pai que cuida partilha com todos a responsabilidade para partir e repartir o alimento necessário para todos.
Muitas vezes também nós diante das necessidades e dificuldades do cotidiano temos a tentação dos discípulos: “A tarde vinha chegando. Os doze apóstolos aproximaram-se de Jesus e disseram: 'Despede a multidão, para que possa ir aos povoados e campos vizinhos procurar hospedagem e comida, pois estamos num lugar deserto.' Ontem como hoje Jesus repete o mesmo mandamento: “Mas Jesus disse: 'Dai-lhes vós mesmos de comer”.
Esta ordem de Jesus completa o seu gesto de entrega na forma do pão e do vinho. Ou seja, não seremos verdadeiramente seguidores de Cristo se nossa devoção a Eucaristia não estiver associada ao gesto de “lavar os pés”, de praticar o mandamento do amor e garantir comida e cuidado na hora certa.
São João Crisóstomo, falando sobre a devoção ao Santíssimo Sacramento foi direto e exigente quando disse: “Vocês querem horar o Corpo de Cristo com vestes de seda e vasos de ouro, fazem bem! Mas não esqueçam que o mesmo Jesus que disse isso é meu corpo e isso é meu sangue também disse, Eu estive como fome e você me deu de comer, eu estava nu e você me vestiu”, portanto diz o santo: “vai primeiro dar de comer a quem fome e vestir quem está nu e com aquilo que sobra faça adoração ao Cristo na Eucaristia”.
Daqui a pouco vamos seguir a Cristo presente na forma de pão e para manifestar nossa devoção e respeito enfeitamos o lugar por onde Ele vai passar, peçamos que esta prática de piedade nos ensine e anime garantir a preservação da vida humana e da crença no Deus criador de tudo facilitando a todos a adaptação ao ambiente, repartindo o pão com os necessitados, defendendo-se dos predadores e reproduzindo a nossa fé para todos os descendentes.





sábado, 15 de junho de 2019

HOMILIA PARA O DIA 16 DE JUNHO DE 2019 - FESTA DA SANTÍSSIMA TRINDADE - ANO C


TEU NOME, SENHOR, É TÃO BONITO

Se você quer ver os olhos de um pai ou de uma mãe brilhar e seus lábios não conter o sorriso é fazer um elogio aos seus filhos.  Não há pai ou mãe capaz de esconder  a alegria e vibrar com o sucesso das suas crias. Imaginemos pois, qual será a reação de Deus quando rezamos no salmo deste domingo:  Contemplando estes céus que tu fizestes e formastes com dedos de artista; vendo a lua e estrelas brilhantes, perguntamos: 'Senhor, que é a pessoa humana, para dela assim vos lembrardes e a tratardes com tanto carinho? Ó Senhor nosso Deus, como é grande vosso nome por todo o universo!
Não sem razão o salmo 8 está colocado na liturgia deste domingo como uma resposta à primeira leitura que sugere a contemplação do Deus criador cuja bondade e amor estão inscritos na harmonia das obras criadas cuja manifestação maior é o próprio Filho Jesus que revelou toda a sabedoria de Deus.
O texto dos provérbios proclamado na primeira leitura deste domingo afirma que a Sabedoria é a primeira de todas as obras de Deus e que ela deu origem a todas as demais criaturas. Quase três séculos mais tarde o Evangelho de João vai afirmar que Jesus Cristo é a Palavra sábia de Deus que existia antes de tudo e que tudo foi feito por meio dela.

A mensagem da primeira leitura faz nos compreender a ação de um Pai providente e cuidadoso que tem um projeto bem definido para todos e que as criaturas reconhecem e contemplam esse Pai na beleza e na harmonia das coisas. Nessa direção vale recordar o que disse, já no século XIX, Dostoievski: “A beleza salvará o mundo”.

São Paulo, escreveu aos Romanos o que lemos hoje e que é um convite a contemplar Deus que nos amou primeiro e que enviou seu Filho para derramar sobre a humanidade todos os seus dons que garantem vida em plenitude: “Justificados pela fé, estamos em paz com Deus, pela mediação do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por ele tivemos acesso, pela fé, a esta graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus, porque a esperança não decepciona, e o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”.

No Evangelho a convocação parte do próprio Jesus e faz um apelo para contemplar o amor do Pai manifestado na sua pessoa e no dom de sua vida que acompanha com sabedoria todas as criaturas no dom do Espírito Santo: “Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora. Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade”.

As palavras de Jesus estão dentro do contexto do seu discurso de despedida como se estivesse deixando um testamento e para os destinatários da sua palavra ele afirma que sua proposta continuará na ação do Espírito Santo presente e atuante por meio das comunidades e no coração de cada crente. O ensinamento do Espírito não é novo, pelo contrário, continuará recordando a palavra de Jesus como uma referência na caminhada de todos pelo mundo em todos os tempos.

Para os cristãos do nosso tempo a liturgia deste domingo é um desafio em forma de pergunta: “Somos capazes de nos sentir provocados pela sabedoria e descobrir a bondade de Deus por meio de suas criaturas?”.

A festa da Santíssima Trindade é uma oportunidade para todos contemplar e louvar Deus que é amor manifestado na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo.  


sexta-feira, 7 de junho de 2019

HOMILIA PARA O DIA 09 DE JUNHO DE 2019 - PENTECOSTES - ANO C


CHEIOS DO ESPÍRITO SANTO

“Creio no Espírito Santo que renova o homem com a liturgia, creio no Espírito Santo que mata a fome na Eucaristia”.
De fato, acreditar no Espírito Santo como o enviado do Pai que renova todas as coisas é uma afirmação de fé extraordinária e que se entende como o maior Dom de Deus para a Igreja e para o mundo.
A maneira quase poética com que o autor dos Atos dos Apóstolos conta a descida do Espírito Santo sobre Maria e os apóstolos permite atualizar em nossas comunidades a mesma certeza: “O Espirito Santo cria e recria, ultrapassa as diferenças e comunica o amor de Deus a todos os povos”.  Ouvir e entender as maravilhas de Deus significa compreender a Boa notícia que fará gerar uma comunidade universal a qual, embora, mantendo suas particularidades tem como centro a proposta de Jesus que significa falar a mesma linguagem do amor.
O exemplo mais clássico disso é a comunidade de Corinto. Fervorosa no que dizia respeito às reuniões e orações, mas pouco exemplar no que dizia respeito a vivência do amor e da fraternidade. Aos Coríntios Paulo assegura que no Espírito Santo se encontra a fonte de toda vida, que Ele concede todos os dons e enriquece a comunidade fazendo de todos um único corpo mantendo todas as diferenças e particularidades de cada um, fazendo ao mesmo tempo perceber que os dons não devem ser usados em benefício próprio, mas colocados a serviço de todos.
No Evangelho Jesus novamente aparece aos discípulos num contexto muito sugestivo: estavam reunidos no final do dia com as portas fechadas, por medos dos judeus. Jesus aparece e dissipa suas angústias com a primeira saudação: “A paz esteja com Vocês” e mostra os sinais evidentes “as mãos e o lado”. Diante de tais certezas não resta outra coisa senão compreender a reação de todos: “Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor”. Entre Jesus e a comunidade reunida há uma sintonia de interesses que foi terminar exatamente como previsto: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”. 
As palavras que concluem o Evangelho plenificam a comunidade e a capacita a transformar suas vidas em dom de amor a todos. Impulsionados pelo Espírito a nova comunidade é chamada a testemunhar o amor de Jesus que se concretiza no perdão dos pecados.
Ontem como hoje aceitar a proposta de Jesus significa ser integrado à nova comunidade, estar ligado na terra e igualmente ligado nos céus. Desde aquele tempo até os nossos dias aceitar o cristianismo significa ser mediador da salvação garantida pela doação que Jesus fez da própria vida e que pela força do Espírito Santo levou até às últimas consequências.
Aprendamos também nós, comunidade devota e fervorosa a superar as diferenças e divisões e se colocar a serviço de todos.


sexta-feira, 31 de maio de 2019

HOMILIA PARA O DIA 02 DE JUNHO DE 2019 - ASCENSÃO DO SENHOR - ANO C


VOCÊS SERÃO MINHAS TESTEMUNHAS

É bastante comum cultivar sentimentos de compaixão, solidariedade, respeito, colaboração, independente de professar uma determinada religião e até mesmo entre aqueles que se dizem agnósticos ou ateus. Pode-se dizer que a grande maioria das pessoas merece ser chamada de testemunhas e defensoras de alguma causa de valorização da vida.
Pois é a função de testemunhas do seu estilo de vida e das suas propostas que Jesus confia aos discípulos. Na liturgia da Igreja o tempo da páscoa se estende por 40 dias, mais do que uma soma de dias contados cronologicamente, esse tempo tem o significado de aprendizado e de assimilação das verdades que tinham sido ensinadas por Jesus.
No Evangelho deste domingo Jesus reforça aos discípulos sua presença no meio deles pela ação do Espírito Santo. Ou seja, eles já não o verão mais fisicamente, mas suas palavras e seu ensinamento se perpetuará na vida e nas comunidades por onde eles andarem e isso será reconhecido na maneira como viverão a boa notícia que proclamam com as palavras.
Depois de recordar a finalidade da sua vinda de junto do Pai assumindo a condição humana Jesus reafirma o que já havia dito em outra ocasião: “Vós sois testemunhas disso. Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos com a força do alto. Depois Jesus levou os discípulos até junto de Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu. Eles prostraram-se diante de Jesus, e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria. E estavam continuamente no templo, bendizendo a Deus”.
Naquele momento, que pode ter sido o dia mesmo da ressurreição, os discípulos ainda não tinham claro o que significava testemunhar e propagar aquilo que viram e creram. Mas logo depois o testemunho de pessoas deixa isso muito claro tanto para aqueles que viveram com Jesus como para aqueles que apenas ouviram falar sobre ele. Assim temos o texto da segunda leitura que é uma espécie de carta circular enviada a diversas comunidades e nela São Paulo recomenda algumas ações básicas que Deus realiza em favor de todos: “O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de luz para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes”.
Isso que Paulo assegura aos que ouvem a sua palavra faz parte da recordação da missão dos discípulos narrada nos Atos dos Apóstolos: “Vós, porém, sereis batizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias... e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra... Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu”.
Os ensinamentos de Jesus dado aos seus discípulos podem ser assimilados por cada pessoa e por todas as comunidades cristãs. Voltando para junto do Pai, de onde Ele veio, Jesus deixou uma tarefa claríssima aos que nele acreditam: Tornar realidade o seu projeto libertador no meio do mundo. Cabe nesta celebração que nos perguntemos: na condição de cristãos podemos dizer que nosso dia a dia serve de testemunha desse projeto? Somos realmente fiéis à missão que aceitamos como batizados? Nossas ações permitiram transformar a realidade ao nosso redor? Que real impacto para as famílias, para as comunidades para o ambiente profissional o fato de afirmar que somos cristãos? Ou nossa vida de fé se resume a olhar para o céu, até fazendo muitas e longas orações e se esquecendo de se envolver nos grandes dramas e sofrimentos das pessoas que conosco convivem. Aqui cabe o que disse São João Paulo II aos participantes da Ultreia (Encontro festivo do movimento de Cursilho) mundial do ano 2000: “Evangelizar os ambientes do terceiro milênio Cristão eis aí um desafio para os cursilhistas do nosso tempo”.





domingo, 26 de maio de 2019

Homilia para o dia 26 de maio de 2019 - 6º domingo da páscoa - ANO C


DEIXO-LHES A MINHA PAZ

Pessoas que se querem bem em algum momento das suas relações emitem opiniões, conselhos e orientações que parecem ser úteis para o desenrolar da vida e das atividades nas quais estão envolvidas. Isso acontece na relação entre pais e filhos, companheiros de trabalho, com aqueles que tem laços de parentesco de qualquer grau, vizinhos, amigos de um mesmo movimento ou organização. São palavras quase sempre tidas como sábias e que normalmente são levadas a sério. Não raro se diz: “quem vê uma solução de fora, enxerga com outros olhos”.
É esta uma mensagem que se pode tirar da Palavra de Deus neste domingo. No evangelho Jesus continua falando aos discípulos no contexto da sua despedida. Semana passada ele se apresentou como o Caminho, e deixou claro aos que o aceitam como tal que todos são convidados a percorrer o mesmo caminho. Ou seja, entrega, dom total, comprometimento com as necessidades e sofrimentos alheios. Hoje ele orienta como dar conta de encarar essa decisão que se resume em duas situações amar e guardar a sua Palavra. “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”.
Se a pessoa se entende sendo morada do Pai e do Filho não precisa ter medo de nada, pois ambos trazem uma terceira força que Jesus identifica como o Advogado, aquele que vai recordar tudo o que já haviam sido ensinados. Em resumo: Não há o que temer para aqueles que conhecem a amam Jesus e cumprem a sua palavra.
Muito medos também marcaram a vida das primeiras comunidades cristãs. A começar pelo medo de se misturar com gente desconhecida, de ver sua palavra sendo interpretada de modo equivocado, de querer impor normas e regras possíveis de serem cumpridas apenas por alguns poucos privilegiados. Isso é o que se lê na primeira leitura dos Atos dos Apóstolos: “Ficamos sabendo que alguns dos nossos causaram perturbações com palavras que transtornaram vosso espírito. Eles não foram enviados por nós. Então decidimos, de comum acordo, escolher alguns representantes e mandá-los até vós, junto com nossos queridos irmãos Barnabé e Paulo, homens que arriscaram suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, estamos enviando Judas e Silas,
que pessoalmente vos transmitirão a mesma mensagem. Porque decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo, além destas coisas indispensáveis
”. Já não se trata de cumprir à risca regras e normas que sempre fizeram parte da organização das comunidades, pelo contrário o essencial agora é Cristo e sua proposta de salvação, o resto é periférico e de pouca importância.
E a segunda leitura completa com a ideia da cidade nova, fundada sobre o número doze dos apóstolos e das tribos de Israel e cujo significado faz compreender que se trata da totalidade dos filhos e filhas de Deus. Quando definitivamente Deus morar em todos nascerá a cidade nova de portas abertas, capaz de acolher os que estiverem dispostos a seguir Jesus como o único e verdadeiro caminho.
Peçamos também a nós o discernimento para compreender as palavras de Jesus e viver segundo a “paz que ele nos dá”. Na verdade, a palavra de Jesus é uma espécie de conselho dado por alguém que enxerga a solução para os problemas a partir de fora e que, portanto, vê com outros olhos.


quinta-feira, 16 de maio de 2019

HOMILIA PARA O DIA 19 DE MAIO DE 2019 - 5º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C


UM NOVO MANDAMENTO
As comunidades cristãs, os grupos organizados, as associações e entidades comunitárias são espaços e oportunidades para manifestar e realizar gestos concretos de amor ao próximo e de doação, isso ninguém dúvida. Com frequência se pode ver a realização de coletas em favor de causas nobres e para atender necessidades imediatas de grupos e famílias. Bingos e jantares de solidariedade que buscam construir a comunhão e a partilha fazem parte do dia a dia de todas as comunidades, instituições e associações. Não há porque duvidar que tudo isso é sinal e vivência do mandamento dado por Jesus: “Amem-se uns aos outros como eu amei vocês”. Todas essas atividades não acontecem sem dificuldades, provações e desafios que em nada se diferenciam das primeiras comunidades cristãs.
O texto dos Atos dos Apóstolos, é muito preciso quando afirma: “Paulo e Barnabé voltaram a Listra, a Iconio e a Antioquia. Iam fortalecendo as almas dos discípulos e exortavam-nos a permanecerem firmes na fé, porque – diziam eles – temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no reino de Deus”. Estas palavras são mais do que claras e apresentam o cerne da vida das primeiras comunidades chamadas a viver a doutrina do amor vivenciado pelo mestre. Diante das crises e dificuldades próprias do tempo os que recebiam a palavra dos apóstolos se fortaleciam na ajuda fraterna, davam testemunho do amor de Deus e cultivavam a generosidade de quem é capaz de amar acima de qualquer condição e situação. O entusiasmo em receber e viver a boa notícia os fortalecia diante dos perigos e tribulações do tempo.
Já o autor do Apocalipse faz questão de afirmar sua convicção que a meta e o destino para onde caminham os seguidores de Jesus são os novos céus e a nova terra, a morada de Deus que enxugará as lágrimas dos olhos de todos e para onde se encaminham aqueles que vivem o amor ensinado por Jesus.
As palavras de Jesus, no Evangelho, podem ser entendidas como um testamento para o qual Jesus pede doação radical capaz de reproduzir entre as pessoas a experiência do amor materno e paterno de Deus. A ordem de Jesus para os discípulos é evidente, não há tempo para conversa fiada: “Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco. Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros”.
A mensagem central da Palavra de Deus neste domingo é simples e objetiva: pertencer à comunidade cristã implica aceitar as exigências do amor de Deus revelado em Jesus. O amor que o mestre pede aos seus seguidores não permite comportamentos egoístas, interesseiros, que limitem horizontes, que roubem a liberdade, pelo contrário, pede um amor que se faça serviço, que inclua e não marginalize que se faça dom total para que todos tenham vida em abundância.



quarta-feira, 8 de maio de 2019

HOMILIA PARA O DIA 12 DE MAIO DE 2019 - 4º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C


BUSCAI ANTES O REINO DE DEUS E A SUA JUSTIÇA

Nos últimos dias os bispos do Brasil estiveram reunidos em Assembleia, pelo menos três coisas merecem ser lembradas e que fazem sintonia com a Palavra de Deus proclamada na liturgia deste domingo. Olhando o futuro foram aprovadas as Novas Diretrizes para Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil para os próximos quatro anos; para dar continuidade ao trabalho colegial do episcopado foi eleita a nova equipe diretiva da CNBB; e antes da conclusão do evento, na condição de líderes da grande comunidade católica que vive no Brasil, os bispos deram uma palavra de pastores enviando uma “Mensagem ao povo brasileiro”.
O documento afirma a confiança e a alegria dos bispos e da Igreja no Brasil em relação ao testemunho do Evangelho que é dado pelos cristãos comprometidos com a vivência do amor. Sem medo de expor seu ponto de vista o episcopado está plenamente de acordo com várias questões nacionais que precisam ser enfrentadas com seriedade sob pena de deixar o Brasil e o os brasileiros em situação de “ovelhas” perdidas e fadadas à miséria e ao sofrimento.
No documento estão mencionadas as necessárias reformas política, tributária e da previdência, mas fica bem clara a posição da Igreja: “nenhuma se legitima se não tiver como ponto de partida o bem comum e a garantia de que os pobres sejam os primeiros a serem ouvidos, respeitados e valorizados”.
O documento dos bispos fala de outra maneira o que se lê na primeira leitura: “Fiz de ti a luz das nações, para levares a salvação até aos confins da terra’». Ao ouvirem estas palavras, os gentios encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor”. Quando se trata de justiça e de verdade, a questão é muito maior do que “proclamar Deus acima de tudo” como se alguém tivesse o monopólio e a propriedade dele, pelo contrário, trata-se de tratar as pessoas com dignidade de Filhos de Deus.
O convite para a esperança que é feito pelos bispos da Igreja no Brasil se confirma na frase que encerra a segunda leitura: “O Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água viva. E Deus enxugará todas as lágrimas dos seus olhos”.
Como ovelhas que pertencem ao único e verdadeiro Pai todos podemos ter a certeza absoluta: “O Brasil que queremos emergirá do comprometimento de todos os brasileiros com os valores que têm o Evangelho como fonte da vida, da justiça e do amor”. Que sejamos todos capazes de discernir a voz dos verdadeiros pastores e líderes apontando e trabalhando pelo bem-estar de todos.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

HOMILIA PARA O DIA 05 DE MAIO DE 2019 - 3º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C


CORDEIRO FIGURA DO PODER QUE SALVA

Não é raro entre as famílias e comunidades que depois de alguma tragédia, fracasso, desilusão e situação de profunda tristeza ser necessários alguns dias par retomar as atividades e mesmo assim as coisas não andam como se gostaria. Frequentemente depois destas provações a gente leva algum tempo para se refazer e todas as atividades demoram para ganhar cor e sabor. Entre os cristãos tem-se a prática bonita de rezar juntos e de partilhar com aqueles que se convive a situação dolorosa experimentada pelos atingidos de perto pelo fato em questão.
Este é o sentimento dos apóstolos narrado no evangelho deste domingo. Tinham convivido com Jesus, se decepcionado com sua morte, viram a sua ressurreição e ascensão, estavam convencidos que Ele ainda voltaria. Porém era preciso retomar as atividades e dar continuidade ao ritmo que a vida lhes impunha. Entrar no barco e voltar ao trabalho era comparado a uma noite escura cujo resultado seria dificultado, como de fato foi: “Trabalharam a noite inteira e nada pescaram”. Sem dúvida lhes vinha à mente a palavra do Mestre: “Sem mim nada podeis fazer”.
Eis que ao clarear do dia o Senhor lhes aparece, o cenário toma outro colorido a pesca é abundante e eles são confirmados de acordo com o dia que ouviram o primeiro chamado: “De hoje em diante vocês serão pescadores de homens”, esta atividade de cunho divino será dirigida com a limitação de todas as fraquezas humanas. O escolhido para coordenar o grupo é ninguém menos do que Pedro que se recusou aceitar ter os pés lavado pelo mestre, tirou a espada reagindo à prisão do mestre, o negou por três vezes no palácio. Isso significa entender que a Igreja fundada no sangue do cordeiro é santa na sua origem, mas pecadora na sua continuação pelas mãos humanas.
 Neste contexto eles compreendem bem a figura descrita pela segunda leitura quando o autor escreve diante das perseguições sofridas pelos cristãos do primeiro século na qual apresenta vencedor o cordeiro que é ao mesmo tempo “servo de Deus” – manso levado ao matadouro; “Cordeiro pascal” cujo sangue é sinal eficaz sobre a escravidão; “Cordeiro apocalíptico” vencedor da morte guia do rebanho dotado de poder e realeza. Confiar na presença deste cordeiro significa pescar na claridade do dia e ver o resultado fecundo do seu trabalho.
Obviamente que essa tarefa não é uma ação fácil e que pode ser levada com pouca seriedade. As provações e perseguições narradas na primeira leitura mostram o desafio de dar testemunho de Jesus. Foram presos e libertados miraculosamente, de novo presos e conduzidos diante das autoridades e finalmente proibidos de anunciar o nome e a doutrina de Jesus. Entretanto, “Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria, por terem merecido serem ultrajados por causa do nome de Jesus”.
Para as pessoas do terceiro milênio a mensagem mais importante que se pode tirar da liturgia deste domingo é um convite a colocar sempre Jesus Cristo vivo e ressuscitado como centro da missão e das atividades que cada um realiza. Em resumo: Todos os esforços para o mudar o mundo, realizados, a qualquer hora do dia, serão uma pesca noturna de resultados infrutíferos se Cristo não estiver presente e enquanto sua voz não for ouvida e reconhecida. Todo e qualquer esforço humano será infrutífero sem a presença viva do Senhor.


quinta-feira, 25 de abril de 2019

HOMILIA PARA O DIA 28 DE ABRIL DE 2019 - 2º DA PÁSCOA - ANO C


SOLIDARIEDADE E COMUNHÃO 

Gestos e atitudes de solidariedade e caridade são frequentes no dia a dia da sociedade contemporânea. Diante de catástrofes ou de sofrimentos de pessoas e grupos não faltam voluntários e grupos organizados que arregaçam as mangas e não temem colocar em risco a própria vida para resgatar outras vidas. Para essas atitudes costuma-se aplicar o adjetivo “estender a mão na hora da necessidade”. E este gesto é tido em alta estima por todas as culturas e povos.
Pois é exatamente isso que acontecia com os discípulos logo depois da ressurreição de Jesus. Esta é a narrativa da primeira leitura: “Muitos sinais e maravilhas eram realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos. Todos os fiéis se reuniam, com muita união, o povo estimava-os muito. Chegavam a transportar para as praças os doentes em camas e macas, a fim de que, quando Pedro passasse, pelo menos a sua sombra tocasse alguns deles”. Ora, se fosse para tirar uma lição desta primeira leitura é possível afirmar que os cristãos da atualidade têm a responsabilidade de dar continuidade na ação de Jesus e por seu testemunho continuar a mostrar Cristo presente e misericordioso diante de tudo e de todos os sofrimentos que a vida lhes impõe.
O livro do Apocalipse, de onde se extrai a leitura de hoje, foi escrito no final do primeiro século, ocasião em que os cristãos eram perseguidos de forma violenta e organizada. O autor mesmo se diz prisioneiro por causa do Evangelho e mesmo nesta condição não se furta de reconhecer o Espírito para reconhecer a voz que lhe pedia: “Não temas. Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos.
Escreve, pois, as coisas que viste, tanto as presentes como as que hão-de acontecer depois destas
”. Nesta leitura Jesus é apresentado como alguém que caminha lado a lado com a igreja e com as pessoas sugerindo que n’Ele se encontra a força para vencer as forças contrárias à vida do jeito que Deus quer para o mundo.
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor”. As palavras iniciais do Evangelho deste domingo confirmam que o Senhor ressuscitado é o centro da comunidade e que nenhum medo, nenhuma perseguição, nenhuma dificuldade pode ofuscar a presença d’Ele sendo reconhecido pela comunidade reunida.
Distanciar-se da comunidade, como fez Tomé, é um perigo para si e para todos. Longe uns dos outros abre-se uma fenda como a lança que abriu o lado do Cristo morto. Também a nós ele sugere o que ordenou a Tomé: “Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente”. Reconhecer Jesus implica frutificar no amor, ser alento e conforto para os sofredores, iluminar os que estão nas trevas, ser sinal de esperança para os entristecidos. Em resumo: estar de pé no meio da comunidade quando o sofrimento toma conta das pessoas, da família, da igreja e da comunidade. Aprender com Jesus a ser misericordioso!

quarta-feira, 17 de abril de 2019

HOMILIA PARA O DOMINGO DE PÁSCOA - 21 DE ABRIL DE 2019 - ANO C


NÃO SE CANSAR DE BUSCAR AS COISAS DO ALTO

Qualquer pessoa, empresa ou instituição que tenha preocupação com a continuidade da sua condição e existência está continuamente traçando metas e objetivos. De tal modo se planeja que uma vez alcançado um determinado ponto no caminho do sucesso se coloca novas metas e distância no horizonte o topo onde quer chegar.
Isso é o que acontece com os cristãos em relação às conquistas na vida de fé e a expectativa do encontro definitivo com o ressuscitado. Toda a liturgia da Igreja é organizada nesta perspectiva de tal modo que uma determinada celebração nunca é finalizada em si mesma.
O exemplo mais claro desta busca incansável é a páscoa. Durante quarenta dias as celebrações da quaresma vão apontando para o domingo da ressurreição. Chegada a culminância deste período depositamos ali as dores, as lutas, os sofrimentos e os desafios. Deixamos tudo na sepultura onde o autor da vida sepultou a morte.
Os próximos passos para os cristãos é afirmar com a vida e com a palavra o que os apóstolos fizeram logo depois de reconhecer o ressuscitado, conforme diz Pedro na primeira leitura: “E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia”. Ou então como destaca São Paulo: “Ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres”.
Encontrando o túmulo vazio os amigos de Jesus sentiram que naquele lugar não havia espaço para a morte e a tristeza, pelo contrário diz o Evangelho: “João viu e acreditou... Jesus está vivo, apesar de eles ainda não terem compreendido o que significa ressurreição dos mortos...”
Celebrar o domingo de Páscoa implica renovar a esperança, reinventar-se, beber da fonte da salvação. Que nada, nem ninguém nos distancie do empenho em garantir o direito e a justiça para todos em todo lugar.