quinta-feira, 24 de setembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 27 DE SETEMBRO DE 2020 - 26º COMUM - ANO A

 

MOSTRAI-NOS Ó SENHOR VOSSOS CAMINHOS

Estamos entrando num período eleitoral e neste tempo, pipocam nas redes sociais propagandas de todos os tipos e de distintos candidatos. A nossa reação normal é fazer julgamentos ou mais comumente logo encaminhar para os nossos contatos.  Em ambos os casos é normal a reação com as seguintes palavras: Em tempo de política todos se lembram da gente; ou este ou aquele candidato não é uma pessoa de palavra, não se pode confiar no que ele promete!  Ora, é sobre “ser uma pessoa de coerência” que trata a liturgia da Palavra deste domingo.

O povo de Israel passava por uma dura provação vivendo no exílio. O profeta Ezequiel insiste com eles para que não tenham medo de se comprometer, sem meias palavras, sem desculpas, sem promessas vazias, mas aceitando com determinação e coerência aquilo que expressam com a boca. Expulsos da sua terra e das suas cidades, com sua religião colocada a prova, a comunidade estava tentada a encontrar culpados e a responsabilizar alguém por sua desgraça, mas Ezequiel é muito claro: Não se trata de encontrar culpados, antes cada pessoa é responsável por uma parte daquilo que acontece com todos. À medida que cada um assume a sua parte e se empenha em modificar o seu estilo de vida a comunidade inteira pode tomar outro rumo.

A mesma coisa se percebe no evangelho no diálogo do pai com os dois filhos. Na prática aquele que parecia irresponsável é o que cumpre a vontade do pai. Isso reforça o pedido do profeta, é necessário ser uma pessoa coerente, ou seja, que cumpre aquilo que diz! É extraordinária a conversa de Jesus com seus interlocutores: “Qual dos dois fez a vontade do pai?' Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: 'O primeiro.' Então Jesus lhes disse: 'Em verdade vos digo, que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele”. O elogio de Jesus não é para a condição de pecado destes últimos, mas pela aceitação da conversão. A repreensão que Jesus dá aos sacerdotes e sábios do seu tempo pode ser aplicada também a nós. Muitas vezes merecemos o título que o Papa Francisco muito bem aplicou: “Cristãos papagaios” que falam muito, rezam bastante, se dirigem insistentemente clamando “Senhor, Senhor”, mas não vivem aquilo que supostamente acreditam. A pergunta que precisa ser respondida por cada cristão contemporâneo poderia ser mais ou menos assim: O jeito como pratico a religião me aproxima do jeito de ser de Jesus, ou até mais simples um pouco: As minhas orações me fazem agir semelhante a qual dos dois filhos da parábola? Certamente nos assemelhamos muitas vezes ora ao primeiro, ora ao segundo filho do Evangelho, alternamos, em nosso dia a dia, momentos de fraqueza e fragilidade com momentos de coerência e de responsabilidade.

Talvez seja pedir muito, entretanto, a exortação de São Paulo aos filipenses parece ter sido escrita para cada um de nós: “Nada façais por competição ou vanglória, mas, com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante, e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro. Tende entre vós o mesmo sentimento
que existe em Cristo Jesus. Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo”.

Cultivar os mesmos sentimentos de Jesus implica em não se considerar melhor que os outros, mais perfeitos, menos pecadores, nem precisa se fazer notar pelas muitas orações, por nossas roupas ou adereços que ostentem o título de cristão que frequentemente fazemos questão de apresentar em praça pública. O pedido de São Paulo para nos colocar na estrada da humildade não é outro senão aquele que rezamos no salmo:

Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,*
e fazei-me conhecer a vossa estrada!
Vossa verdade me oriente e me conduza,
porque sois o Deus da minha salvação;*
em vós espero, ó Senhor, todos os dias!

 

 

 

 

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 20 DE SETEMBRO DE 2020 - 25º DOMINGO COMUM - ANO A

 

A LÓGICA DE DEUS

Se tem uma coisa que estamos acostumados são disputas familiares entre os irmãos com argumentos do tipo: “Ele é um rapa de tacho... A mãe gosta dele e não gosta de mim... O pai tem seu filho preferido...” Quer ver quando é filho único a especialidade dele é jogar o pai contra a mãe  e vice-versa, sempre com argumentos de preferência em relação a todas as suas vontades. Na verdade, salvo raras exceções, os pais sempre tratam os filhos com justiça e equidade, não necessariamente com igualdade, mas cuidam deles segundo as suas necessidades.

Dito isto é muito fácil compreender a Palavra de Deus deste domingo.  A começar pela primeira leitura: “Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor. Estão meus caminhos tão acima dos vossos caminhos e meus pensamentos acima dos vossos pensamentos, quanto está o céu acima da terra”. O profeta faz um convite a refletir sobre a ideia que nós fazemos de Deus, a qual quase sempre é feita segundo nosso juízo e vontade, ou seja, gostaríamos de um Deus  que fizesse todas as coisas na  hora e do jeito que nós queremos. Um Deus que funcione dentro dos nossos esquemas mentais.  Para que isso aconteça criamos todo tipo de negociação e arranjos pensando com isso diminuir a distância entre nossas vontades e a equidade necessária entre as pessoas, como aquela que estabelecem os pais na relação com os filhos.

A parábola de misericórdia contada no Evangelho deste domingo é igualmente um desafio em relação aos nossos esquemas de meritocracia a que estamos habituados ou gostaríamos que fosse praticado também na relação com Deus: “Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o calor o dia inteiro”. Quer ver quando se trata de ser atendido nas demandas que apresentamos a Deus. “Eu não entendo porque eu rezo tanto e Deus parece que não me ouve... fulano nunca vem pra Igreja e pra ele tudo dá certo”. Na volta da pandemia então é que se poderá perceber ainda mais as queixas em relação ao acolhimento daqueles que supostamente são menos merecedores dos serviços da Igreja. Fulano nem fez o curso de batismo e já pode batizar, beltrano nunca participou da catequese online e vai fazer a primeira comunhão, aquele outro nunca mais veio a missa e agora já aparece pra se casar... e assim por diante. Como gostaríamos que as coisas de Deus fossem medidas segundo nossos interesses e juízos. Tal como em uma família não são as qualidades que tornam um filho mais merecedor que o outro, mas as necessidades fazem com que os pais tratem a todos de acordo com aquilo que precisam. Essa é também a lógica de Deus: “Quando chegou a tarde, o patrão disse ao administrador: `Chama os trabalhadores e paga-lhes uma diária a todos, começando pelos últimos até os primeiros”. Entrar na dinâmica do Reino implica perceber as diferentes necessidades de cada pessoa e deixar Deus agir segundo a sua misericórdia.

Afinal é isso que rezamos no Salmo:

Misericórdia e piedade é o Senhor,
ele é amor, é paciência, é compaixão.
O Senhor é muito bom para com todos,
sua ternura abraça toda criatura.

 

 

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 13 DE SETEMBRO DE 2020 - 24º COMUM - ANO A

 

CERCAR-SE DE CARINHO E COMPAIXÃO

Não é difícil perceber como todas as nossas forças, capacidades, sabedoria, recursos econômicos, e mil outras formas de se considerar capaz para resolver todos os problemas e superar todas as provações e provocações que a vida nos oferece caem por terra.  Por conta da nossa suposta onipotência vamos criando soluções que nada solucionam ou como se diz popularmente “estamos enxugando gelo”, e as alternativas que parecem estar ao alcance da mão nunca chegam. É nestes momentos que a palavra de São Paulo, na segunda leitura deste domingo, parece ter sido escrito para o nosso tempo: “Ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor”.

A mensagem que Paulo deixa para todos se resume em poucas palavras: “a única coisa importante e decisiva é Jesus Cristo, sua palavra, seu ensinamento, seu jeito de ver e fazer as coisas, é a Ele que pertencemos”.

Internalizar essa verdade e viver para Cristo é um processo que a gente vai fazendo ao longo da vida, não é uma solução que encontramos num passe de mágica. Viver com menor sofrimento as debilidades que a vida nos apronta ou que nós aprontamos para a vida implica sabedoria que o autor da primeira leitura foi muito feliz ao nos dizer: “O rancor e a raiva são coisas detestáveis... Se alguém guarda raiva... Se não tem compaixão, como poderá pedir perdão dos seus pecados?” Quanto mais dificuldades colocamos para perdoar, maiores serão os sofrimentos aos quais nós mesmos estamos sujeitos. E isso fica obvio no texto do Evangelho.

Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?'... Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”.  E na sequência conta a parábola de alguém que foi perdoado e não soube perdoar.  O texto do evangelho deixa muito claras duas atitudes fundamentais para quem se reconhece e percebe que não é o dono nem de si mesmo: perdoar e reconciliar. Não há outra coisa capaz de nos conduzir para soluções duradouras e felizes.  Agir nas relações humanas com o coração de Deus é uma condição sem a qual não vamos a lugar nenhum. É isso que rezamos no salmo sugerido para esse domingo:

O Senhor é bondoso, compassivo e carinhoso.


1Bendize, ó minha alma, ao Senhor,
e todo o meu ser, seu santo nome!
2Bendize, ó minha alma, ao Senhor,*
não te esqueças de nenhum de seus favores!

3Pois ele te perdoa toda culpa,*
e cura toda a tua enfermidade;
4da sepultura ele salva a tua vida*
e te cerca de carinho e compaixão.

9Não fica sempre repetindo as suas queixas,*
nem guarda eternamente o seu rancor.
10Não nos trata como exigem nossas faltas,*
nem nos pune em proporção às nossas culpas.

11Quanto os céus por sobre a terra se elevam,*
tanto é grande o seu amor aos que o temem;
12quanto dista o nascente do poente,*
tanto afasta para longe nossos crimes.

 

 

 

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 06 DE SETEMBRO DE 2020 - 23 º COMUM - ANO A

 

NÃO FIQUEM DEVENDO NADA A NINGUÉM

A última frase da carta de São Paulo proclamada na liturgia deste domingo diz assim: “O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei”. Ele faz esta afirmação depois de recordar os mandamentos que traduzidos para a atualidade significa preocupar-se com o bem estar de todos.

Uma das exigências contemporâneas consiste em superar a indiferença e cuidar do próximo. Tanto a primeira leitura quanto o evangelho apresentam uma maneira de prestar atenção e de cuidar das pessoas.

Ao sugerir a correção fraterna como um caminho necessário os dois textos permitem entender que se trata de ganhar as pessoas para a vida e não ganhar das pessoas.

Amar e cuidar implica na capacidade de incluir, recuperar, procurar e buscar. O êxito desta tarefa nunca é uma atitude solitária, antes conta sempre com a participação da comunidade que abre espaço e se abre para o perdão e a vida fraterna como se canta no salmo:

 Vinde adoremos e prostremo-nos por terra,
e ajoelhemos ante o Deus que nos criou!
Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor,
e nós somos o seu povo e seu rebanho,
as ovelhas que conduz com sua mão”.

A figura descrita na primeira leitura não se trata de uma pessoa que está vigiando a vida alheia. Pelo contrário, o profeta, faz uma analogia com a responsabilidade das forças de segurança numa cidade cuja finalidade é perceber e vigiar para que nada ali aconteça em dissonância com os projetos de Deus e com o aviltamento da dignidade das pessoas. Ou seja, diante do sofrimento e das ameaças contra a vida aquele que ama não pode ficar indiferente.

Na mesma direção Jesus insiste no Evangelho na missão que todos temos para estabelecer um diálogo fraterno e acolhedor que não condene o pecador, mas que facilite sua reinserção na sociedade por meio do amor misericordioso e compassivo. É nisto que se resumem todos os mandamentos e que São Paulo afirma ser a única dívida realmente importante e que devemos tratar de saldá-la sem demora: Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, - pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei”.

Peçamos a graça de transformar nossas famílias, nossas comunidades, e todas as nossas relações em oportunidades para que se possam ver as marcas do amor. De tal modo que todos proclamem: “Vejam como eles se amam”.

Reunidos fisicamente, ou pelas redes sociais somos alimentados pela Palavra, pela Eucaristia e pela Oração comunitária e solidária. Juntos vamos construindo um lugar onde as pessoas seguem Jesus Cristo superam seus erros e fraquezas ganhando sempre mais irmãos ao longo do caminho e de cada circunstância. Então sim podemos cantar de novo:

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos o Rochedo que nos salva!
Ao seu encontro caminhemos com louvores,
e com cantos de alegria o celebremos”.

 

 

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

HOMILIA PARA O DIA 30 DE AGOSTO DE 2020 - 22º COMUM - ANO A

 

SEDUZISTE-ME SENHOR

Provações, dificuldades, contrariedades, desilusão e uma lista infinita de sofrimentos fazem parte do nosso cotidiano. Muitas vezes a gente se empenha de corpo e alma em alguma tarefa ou empreendimento e de repente parece que todos os esforços foram em vão e todas as nossas boas intenções vão por água abaixo. Temos a impressão que estamos sozinhos e com vontade de desistir de tudo e de todos.

Pois é esse o sentimento do profeta Jeremias narrado na primeira leitura: Sentiu o chamado para a profecia desde muito cedo, abraçou a causa e exerceu de modo apaixonado e com todas as suas forças. No texto de hoje ele se descreve como alguém que foi “iludido” por Deus: Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder. Tornei-me alvo de irrisão o dia inteiro, todos zombam de mim. Todas as vezes que falo, levanto a voz, clamando contra a maldade e invocando calamidades; a palavra do Senhor tornou-se para mim fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro”.

Sua fala reflete a de alguém desiludido entregue aos insultos e zombaria dos adversários diante dessa realidade está decidido a abandonar tudo: Não quero mais lembrar-me disso nem falar mais em nome dele”.

Entretanto a paixão pela causa a que ele se dedicou, a força do chamado que Deus lhe dirige não lhe permitem que desista das suas boas obras, ainda que estas lhe custem sofrimento e dor: Senti, então, dentro de mim um fogo ardente”.

De alguma maneira, a história de Jeremias é a história de todos aqueles que Deus chama para ser profeta e para isso ter a coragem de enfrentar injustiça, opressão, interesses egoístas. Aceitar a Palavra de Deus e deixar-se seduzir por ele não é um caminho de glórias, de facilidade, de aplausos e triunfos.

Exatamente o que aconteceu com Jeremias se repete muito mais tarde com Jesus. Jesus começou a mostrar a seus discípulos que devia ir à Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei.” Jesus tem consciência que sua missão é difícil e exigente, mas com a mesma convicção do profeta não se deixa abater nem tampouco sofrer influências para mudar seus planos. Quando Pedro lhe propõe uma alternativa mais cômoda Ele recusa com firmeza: “Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!”

E na sequência Jesus dirige um convite provocativo para todos os que sentem a Palavra de Deus arder no seu coração: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida.”

Então, também para os cristãos na atualidade o desafio é desconsiderar as preocupações que os fazem olhar apenas para o seu interior, para as próprias necessidades, vantagens, sonhos e projetos pessoais. Desconsiderar segurança, bem estar, êxito, triunfo, aplausos e fazer de sua existência um dom generoso às pessoas e a Deus.

O verdadeiro discípulo de Jesus é capaz de agir como recomenda São Paulo na segunda leitura: Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito”.

Rezemos para que nossa vida seja verdadeiramente dedicada ao serviço da vida cuidando das pessoas e da nossa casa comum.

 

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

HOMILIA PARA O DIA 23 DE AGOSTO DE 2020 - 21º COMUM - ANO A

 

COMPLETAI EM MIM A OBRA COMEÇADA

O Salmo que rezamos neste domingo é uma espécie de agradecimento pela ação de Deus no mundo que se realiza na história e por meio das pessoas em todos os tempos: Ó Senhor, de coração eu vos dou graças, porque ouvistes as palavras dos meus lábios! Eu agradeço vosso amor, vossa verdade, porque fizestes muito mais que prometestes; naquele dia em que gritei, vós me escutastes e aumentastes o vigor da minha alma. Ó Senhor, vossa bondade é para sempre! Eu vos peço: não deixeis inacabada, esta obra que fizeram vossas mãos”.

A obra começada por Deus não é outra senão a comunidade daqueles que reconhecem Jesus como o seu enviado, aqueles que Pedro, por sua palavra e ação desligou dos pecados e da fragilidade do mundo para ligá-los ao Pai em Jesus Cristo a quem ele declara ser o Filho do Deus Vivo.

A tarefa que Jesus confiou a Pedro, como prêmio e responsabilidade por sua corajosa resposta, é o cerne da missão da Igreja e de todos os que aceitam que Jesus é o enviado do Pai. Todos, indistintamente, são chamados a dar testemunho de tudo o que acreditam sendo capazes de adaptar os ensinamentos de Jesus aos desafios do mundo e de acolher na comunidade todos os que também aguardam a manifestação do Filho de Deus.

Declarar que se aceita Jesus como Messias implica fazer correto uso das chaves, para não correr o risco de perder a confiança como aconteceu com o administrador infiel narrado pelo profeta Isaias na primeira leitura: Eu vou te destituir do posto que ocupas
e demitir-te do teu cargo”.
Ter nas mãos as chaves implica na capacidade de abrir as portas para acolher e cuidar garantindo com solicitude, com amor e justiça o acesso de todos aos bens e serviços que Deus disponibiliza para a humanidade.

Entregar-se confiantes nas mãos de Deus e permitir que o espanto em relação ao mistério transformem as nossas vidas num hino de amor a Deus libertador conforme afirma São Paulo na carta aos romanos é o convite feito para todos: “Na verdade, tudo é dele, por ele, e para ele. A ele, a glória para sempre. Amém!”.

Em resumo, reconhecer quem é Jesus implica compreender o significado que tem a nossa vida na relação com as propostas do Reino e os valores que a pessoa de Jesus Cristo trouxe para a humanidade. À medida que tivermos a coragem de Pedro, poderemos receber o mesmo elogio dado a Pedro: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu”.

 

 

 

 

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

HOMILIA PARA O DIA 16 DE AGOSTO DE 2020 - ASSUNÇÃO DE MARIA - ANO A

 

ATÉ QUE CRISTO SE FORME

Esta semana, numa das publicações de redes sociais, vi uma matéria que me inspirou a homilia deste domingo. Na cena o filho proprietário de uma empresa de médio porte, fez um grande e bom negócio. Para a inauguração do evento ele não convidou nenhuma autoridade importante, pelo contrário, chamou sua mãe, mulher agricultora, que recebeu as chaves e abriu as portas do novo empreendimento.

Pois é inspirado nessa imagem que me parece importante celebrar a Solenidade da Assunção de Maria ao Céu. Quem é grande, é rei, vencedor da morte é o Filho de Maria, mas é óbvio que ele não esqueceria aquela que “guardava e meditava todas essas coisas no seu coração”, mesmo quando uma “espada de dor lhe transpassava até a alma”.

Sem muitas delongas, é nesse sentido que a Igreja convida a colocar Maria como Mãe, Modelo e advogada nossa.  A bem da verdade, nós não rezamos para Maria, mas rezamos com Ela por Jesus ao Pai. Ela é nossa advogada e dá sua vida para nos defender, como se lê na leitura do Apocalipse neste domingo: “Então apareceu no céu um grande sinal:
uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava em dores de parto, atormentada para dar à luz... o Filho foi levado para junto de Deus e do seu trono. A mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar. Ouvi então uma voz forte no céu, proclamando: Agora se realizou a salvação, a força e a realeza do nosso Deus, e o poder do seu Cristo".

O poder do seu Cristo é o que Paulo descreve na segunda leitura: “Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos... E, quando todas as coisas estiverem submetidas a ele, então o próprio Filho se submeterá àquele que lhe submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos”.

E para que Deus seja tudo em todos, precisamos de muitas Marias, que sejam merecedoras da saudação do Anjo: “Maria Deus está contente com você...” Em resposta, Ela imediatamente colocou os pés na estrada para ajudar a prima Isabel. O resultado não poderia ser outro, senão o reconhecimento público que na figura de Maria se revelava a ação de Deus: “Bem-aventurada Aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu".

E eis que chega o merecido dia no qual o Filho, junto de Deus e do seu trono, coloca a coroa de 12 estrelas sobre a cabeça da Mãe e simbolicamente sobre os pés daquela que caminhou com ele nesta conquista, toda dor e tristeza do mundo simbolizados na serpente e na escuridão do pecado.

Ontem como hoje todos podem rezar de novo: “A minha alma engrandece o Senhor, e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador, pois, ele viu a pequenez de sua serva, eis que agora as gerações hão de chamar-me de bendita. O Poderoso fez por mim maravilhas e Santo é o seu nome! Seu amor, de geração em geração,
chega a todos que o respeitam. Demonstrou o poder de seu braço,
dispersou os orgulhosos. Derrubou os poderosos de seus tronos
e os humildes exaltou. De bens saciou os famintos despediu, sem nada, os ricos. Acolheu Israel, seu servidor, fiel ao seu amor, como havia prometido aos nossos pais, em favor de Abraão e de seus filhos, para sempre".

E proclamar sem medo como rezamos no salmo: “À vossa direita se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de Ofir”.

 

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

HOMILIA PARA O DIA 09 DE AGOSTO DE 2020 - 19º COMUM - ANO A

 

O SENHO NOS DARÁ TUDO O QUE É BOM

As palavras e o pensamento do Papa Francisco são repetidos exaustivamente no cotidiano de nossas comunidades. Igreja em saída é uma das expressões muito queridas e que se torna quase banalizada pelo excesso de repetição. O Evangelho deste domingo nos ajuda melhor entender o significado e a importância que a expressão pode ter para o nosso tempo e nosso jeito de ser Igreja.

Jesus ordena que os discípulos se dirijam para o outro lado do mar, nesta travessia a Ele não está fisicamente presente e o grupo é sacudido pelas ondas do mar. Ora, também nossas comunidades, levando em conta a intuição do Papa Francisco, são um barco singrando os mares bravios com todo tipo de tempestade e provação. Mas todos são chamados a ir para o outro lado, ou seja, ir ao encontro daqueles que não fazem parte do nosso grupo, buscar os que estão perdidos e afastados. Mesmo que isso possa machucar a Igreja e desestabilizar o barco que normalmente na veja em ondas tranquilas.

A primeira leitura é um convite para as comunidades reencontrar a origem da sua fé e do seu compromisso. Isso significa enfrentar as tempestades que se abatem violentamente contra essa peregrinação. Note-se o relato que o autor do livro faz sobre o profeta Elias: Naqueles dias, ao chegar a Horeb, o monte de Deus, o profeta Elias, entrou numa gruta, onde passou a noite.E eis que a palavra do Senhor lhe foi dirigida nestes termos:Sai e permanece sobre o monte diante do Senhor, porque o Senhor vai passar'... veio um vento impetuoso e forte... Mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto. Mas o Senhor não estava no terremoto. Passado o terremoto, veio um fogo. Mas o Senhor não estava no fogo. E depois do fogo ouviu-se um murmúrio de uma leve brisa”. Isso significa dizer que Deus se dá a conhecer na simplicidade, na intimidade, na humildade, no silêncio. Deus não precisa de sinais espetaculares, curas, milagres e obras portentosas.

Não perceber o amor de Deus no cotidiano e nas oportunidades singelas da missão é o mesmo que instalar-se numa autossuficiência de quem não quer perceber o ritmo de Deus, nem tampouco descobrir os novos desafios para cada fase da vida.

Na arriscada e difícil travessia ao encontro daqueles que não estão no mesmo barco tanto os discípulos de ontem, como os fieis contemporâneos podem ter a certeza que Deus está com eles e acalma as ondas bravias. Crer na sua presença garante a possibilidade de caminhar em segurança sobre tudo aquilo que causa pânico e medo. A desconfiança de Pedro lhe fez afundar: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água.' E Jesus respondeu: 'Vem! Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e começando a afundar, gritou: 'Senhor, salva-me!' Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: 'Homem fraco na fé, por que duvidaste?'

Em meio às turbulências do cotidiano, Jesus continua reanimando a todos com as palavras: Coragem! Sou eu. Não tenhais medo”.

O mandato que Jesus deu aos discípulos de outrora se repete e desafia a responder se diante das adversidades do tempo presente estamos dispostos a embarcar para a outra margem ao encontro daqueles que ainda não caminham conosco? Somos desafiados a ir ao encontro daqueles que tem sede de amor e de esperança, de modo que eles percebam na Igreja destes tempos um sinal coerente que os faça acreditar na força transformadora do Reino. A proposta não é solução fácil e na qual se recebe aplausos, antes é desafiador e exige coragem. Que a oração de todos e a Palavra proclamada sejam sustento e alento nos mares revoltos. Que sejamos capazes de levar a sério o que rezamos no salmo: Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei”.

 

 

 

sexta-feira, 31 de julho de 2020

HOMILIA PARA O DIA 02 DE AGOSTO DE 2020 - 18º DOMINGO COMUM - ANO A

É TEMPO DE CUIDAR

O texto da carta de São Paulo proclamado hoje começa assim: “Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo? Espada?”. Nós poderíamos acrescentar: pandemia, ciclone, violência, corrupção, politicagem, e São Paulo responde: “Em tudo isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou”.

Porém, de uma coisa é certa, a vitória sobre todas essas situações começa pela compaixão, pelo cuidado, pela responsabilidade partilhada. Não se trata de coisinhas ou programinhas de auxílio emergencial, ou de pequenos gestos de caridade, embora eles sejam úteis e até necessários.  Mas, para sair vencedores implica uma revolução na mentalidade de toda a sociedade. Trata-se de compreender que os “cinco pães e os dois peixes” que cada um possui, se somados, equivalem a sete.  E sete na linguagem bíblica significa quantidade e responsabilidade suficiente para resolver os problemas de todos partindo daquilo que Deus coloca diariamente nas mãos de cada pessoa.

Deus, segundo São Paulo e nos gestos de Jesus, mostra que a solução dos problemas está na compaixão que é uma responsabilidade de todos: pessoas, Igrejas, associações, governos, sociedade em geral. Jesus continua nos desafiando: “Não é necessário deixar ninguém com fome: Deem vocês mesmos de comer”.

Esta foi a atitude de Deus em toda a história e que nos é narrada na primeira leitura deste domingo: “Assim diz o Senhor: Vós todos que estais com sede, vinde às águas; vós que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei, vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite, sem nenhuma paga. Inclinai vosso ouvido e vinde a mim, ouvi e tereis vida”. O profeta Isaias nos apresenta e garante que Deus nunca fica indiferente diante de um povo atolado na miséria, no sofrimento e na desolação. Ao mesmo tempo é um convite para que tenhamos o mesmo sentimento e as mesmas atitudes. A palavra do profeta nos desafia, diante do sofrimento a que estamos submetidos, mostrar o nosso coração amoroso, que apoia e devolve a esperança, que ajuda a recuperar a dignidade e o gosto pela vida.

Nossas ações, neste deserto em que todos estamos imersos precisam ser respostas que matam a fome de pão e a sede de justiça, de fraternidade, de comunhão, de solidariedade, de amor e de paz. Que a oração de todos e a Palavra ouvida, seja também a comunhão partilhada de maneira que ao final de tudo ainda seja possível recolher doze cestos cheios com os pedaços que sobraram. Então sim poderemos rezar com a consciência tranquila de quem reconhece que é

É justo o Senhor em seus caminhos,*
é santo em toda obra que ele faz.
Ele está perto da pessoa que o invoca,*
de todo aquele que o invoca lealmente”.


sexta-feira, 24 de julho de 2020

HOMILIA PARA O DIA 26 DE JULHO DE 2020 - 17ª COMUM - ANO A


SER IMAGEM DE JESUS CRISTO
O trecho da carta de São Paulo proclamada neste domingo começa assim: “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus... e... aqueles que Deus contemplou com seu amor desde sempre, a esses ele predestinou a serem conformes à imagem de seu Filho...” Os escritos de Paulo são repletos de afirmações sobre a certeza que ele tem de ser amado como também quanto Deus ama indistintamente a todos. O texto de hoje é mais um convite para que possamos reconhecer o que Deus, desde sempre, preparou para a humanidade. Um convite que já estava expresso pelos profetas e justos do Antigo Testamento. 
Que Salomão foi um rei sábio e respeitado por todo o povo de Israel, não é preciso e nem é esse o momento de fazer uma longa explicação. Mas, que Deus ama o seu povo está claro na resposta que Salomão recebe ao seu pedido: “Senhor meu Deus, tu fizeste reinar o teu servo... Dá, pois, ao teu servo, um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal... E Deus disse a Salomão: 'Já que pediste sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu pedido; dou-te um coração sábio e inteligente, como nunca houve outro igual antes de ti, nem haverá depois de ti”. A resposta de Deus à prece de Salomão está baseada no estilo de vida que o rei apresenta e para o qual ele pede ajuda. Colocando-se na condição de responsável pela vida do seu povo o rei sabe muito bem o que é importante, necessário e útil naquela circunstância para os seus governados.
Fazer escolhas sábias de acordo com a necessidade e a oportunidade é o que Jesus explica aos seus seguidores por meio de três simples e sugestivas comparações: “O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo...O Reino dos Céus também é como um comprador que procura pérolas preciosas... O Reino dos Céus é como uma rede lançada ao mar...” em todas as circunstâncias as pessoas envolvidas nessas questões tem diferentes oportunidades e possibilidades e precisam de clareza e discernimento para fazer a escolha certa.
Essa lição vale para cada um de nós e para todas as comunidades. Reconhecer o amor que Deus tem para conosco e responder a esse amor com sabedoria, ou pedir que na sua misericórdia Ele nos mostre o melhor caminho significa saber discernir entre um tesouro e outro.
Perceber as manifestações de Deus no cotidiano da vida implica viver com alegria todas as escolhas, ainda que elas nem sempre sejam fáceis e muito claras. Muitas das decisões precisam ser tomadas entre conflitos e dificuldades exigindo sempre maior coerência e responsabilidade.
O Reino de Deus está ao alcance de nossas mãos e de nossas atitudes, trata-se de reconhecê-lo e discernir sem se deixar iludir pelas respostas passageiras que muitas vezes fascinam a mente e o coração.
Ontem como hoje é importante ter a humildade e a sabedoria de Salomão, vamos rezar juntos pedindo que Deus nos conceda  escolha certa neste tempo tão incerto:
Senhor nosso Deus, tu nos colocaste num tempo de dificuldade, estamos provados por todos os lados e não passamos de uma sociedade de adolescentes inseguros, nós e nossos governantes. Somos um povo numeroso, cada dia mais ameaçado e contaminado por um vírus impiedoso. Concede a nós, Senhor um coração compreensivo capaz de cuidar de si mesmo e de todos. Concede a nossas autoridades a sabedoria para discernir entre o bem e o mal, o justo e o injusto, em cada momento, para esse povo tão numeroso. Dá a todos Senhor, a sabedoria que partilha o vosso trono e faz-nos reconhecer o vosso amor conforme prometestes aos nossos pais para sempre Amém!

quinta-feira, 16 de julho de 2020

HOMILIA PARA O DIA 19 DE JULHO DE 2020 - 16º COMUM - ANO A


AMOR, PACIÊNCIA E PERDÃO
Nunca se ouviu falar tanto em medidas protetivas e responsabilidades partilhadas como nestes tempos de pandemia. Todas as instâncias de governo, os organismos internacionais, os órgãos responsáveis pela saúde pública, as agências reguladoras, os meios de comunicação social, todos, a comunidade científica mundial, indistintamente dedicam horas do seu tempo tentando encontrar alternativas menos traumáticas para mostrar sua preocupação com a saúde e o cuidado com a vida em todas as suas formas.
Por outro lado, nunca como agora, foi possível perceber como a sociedade inteira está mergulhada num ritmo estonteante , numa corrida frenética atrás do tempo, numa carga de stress desumanizante que transforma todos me máquinas de ganhar tempo e dinheiro.
Pois é neste contexto que se pode mais facilmente compreender o texto da carta aos romanos proclamado na liturgia deste domingo: “Também, o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis. E aquele que penetra o íntimo dos corações sabe qual é a intenção do Espírito. Pois é sempre segundo Deus que o Espírito intercede em favor dos santos”. De uma coisa podemos ter certeza: É Deus quem nos dá força e discernimento para viver segundo o espírito cuja decisão é muito superior à frenética corrida em que estamos todos metidos.
Esta certeza não tem outro fundamento se não nas palavras da Sabedoria que é parte da liturgia deste domingo. Deus com sua força e onipotência, em nenhum momento age como se poderia esperar de alguém que ocupe tal posição na relação com as pessoas e o mundo. Pelo contrário ele se mostra misericordioso, compassivo, favorável, indulgente: “Não há, além de ti, outro Deus que cuide de todas as coisas... No entanto, dominando tua própria força, julgas com clemência... e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores”.
Esta não é outra atitude senão a que Jesus revela nas parábolas do Evangelho. Fazendo a comparação entre o Reino de Deus e as realidades do mundo Jesus esclarece que a vontade de Deus não é a construção de uma sociedade de perfeitos, uma comunidade de justos, um grupo fechado no qual só tem lugar os bons, os puros, os perfeitos. Pelo contrário, a seu tempo, todos serão julgados a partir do próprio egoísmo e pecado.  O mundo como lugar da morada de Deus é um processo que vai sendo construído tendo como base a misericórdia e a compaixão, a solidariedade e o compromisso. Cada pessoa no ritmo das suas capacidades e escolhas vai fazendo produzir os sinais da presença de Deus na sua vida e nas relações que estabelece mediante um processo de conversão e de transformação cotidiana. Deus a quem Jesus Cristo anuncia não está interessado em destruir quem quer que seja, nem mesmo o pecador simbolizado pelo joio semeado no meio da boa semente. No seu amor e na sua misericórdia Deus não tem pressa no julgamento e no castigo, sempre dá oportunidade para rever nossas escolhas. A lição do Evangelho consiste em aprender com o grão de mostarda ou com a pitada de fermento, ainda que pareça insignificante, como todos podem dar sua contribuição para que o bem cresça e aconteça e então sim, será possível reconhecer a bondade e a compaixão do nosso Deus.  


sábado, 11 de julho de 2020

HOMILIA PARA O DIA 12 DE JULHO DE 2020 - 15º COMUM - ANO A


ANIMADOS PELA ESPERANÇA

Nesta semana a Igreja no Brasil celebrou a memoria de Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus. Dentre as frases selecionadas e que são atribuídas a Santa Paulina, uma delas diz assim: “Não desanimem nunca, nunca, mesmo que venham ventos contrários”. Certamente a Santa pronunciou esta frase numa das ocasiões nas quais a vida lhe impunha dificuldades e “ventos contrários” cuja tentação seria desanimar.
Ora, se fizermos uma leitura do contexto no qual Jesus contou a parábola do semeador proclamada no Evangelho deste domingo  vamos nos deparar exatamente numa situação de ventos contrários em relação a tudo o que Ele fazia e anunciava.  Em Corazim e Betsaida sua palavra era rejeitada; os fariseus procuravam mata-lo e o acusavam de agir de acordo com os demônios;  o anuncio do Reino não era compreendido por grande parte dos seguidores que apenas  lhe procuravam  em vista de uma solução imediata e o buscavam apenas em virtude dos milagres e do pão que Ele multiplicava.
Nessa situação Jesus conta uma parábola cujo resultado supera todas as expectativas. À época o normal seria um terreno produzir entre sete e dez por um. A parábola apresenta uma produção extraordinária destacando que independente da qualidade do terreno a  colheita será muito maior do que qualquer semeador pudesse esperar.
Ora, isso deixa muito claro, seja para os seguidores de Jesus quanto para a atualidade: O Reino, a justiça,  a misericórdia, a bondade de Deus irão prevalecer independente  de todas as dificuldades que as adversidade da vida nos apresentarem ao longo do tempo  resistindo a esse projeto.
Assim também fica mais fácil entender a palavra de São Paulo na carta aos romanos: “Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós. De fato, toda a criação está esperando ansiosamente o momento de se revelarem os filhos de Deus”. Ao mesmo tempo em que faz uma constatação da realidade Paulo convida todos se libertarem do próprio egoísmo, do orgulho, da autossuficiência, ou seja, de toda forma de terreno que impeça a  boa semente crescer e produzir.
Entretanto de uma coisa podemos ter certeza escutar e colocar em prática a Palavra de Deus  nos deixa confiantes e serenos diante dos ventos contrários que a vida nos oferece porque “assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”.
Rezemos com todos e por todos para que nos deixemos guiar pela Palavra preparando o terreno do coração para colheitas abundantes.