quinta-feira, 27 de agosto de 2020

HOMILIA PARA O DIA 30 DE AGOSTO DE 2020 - 22º COMUM - ANO A

 

SEDUZISTE-ME SENHOR

Provações, dificuldades, contrariedades, desilusão e uma lista infinita de sofrimentos fazem parte do nosso cotidiano. Muitas vezes a gente se empenha de corpo e alma em alguma tarefa ou empreendimento e de repente parece que todos os esforços foram em vão e todas as nossas boas intenções vão por água abaixo. Temos a impressão que estamos sozinhos e com vontade de desistir de tudo e de todos.

Pois é esse o sentimento do profeta Jeremias narrado na primeira leitura: Sentiu o chamado para a profecia desde muito cedo, abraçou a causa e exerceu de modo apaixonado e com todas as suas forças. No texto de hoje ele se descreve como alguém que foi “iludido” por Deus: Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder. Tornei-me alvo de irrisão o dia inteiro, todos zombam de mim. Todas as vezes que falo, levanto a voz, clamando contra a maldade e invocando calamidades; a palavra do Senhor tornou-se para mim fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro”.

Sua fala reflete a de alguém desiludido entregue aos insultos e zombaria dos adversários diante dessa realidade está decidido a abandonar tudo: Não quero mais lembrar-me disso nem falar mais em nome dele”.

Entretanto a paixão pela causa a que ele se dedicou, a força do chamado que Deus lhe dirige não lhe permitem que desista das suas boas obras, ainda que estas lhe custem sofrimento e dor: Senti, então, dentro de mim um fogo ardente”.

De alguma maneira, a história de Jeremias é a história de todos aqueles que Deus chama para ser profeta e para isso ter a coragem de enfrentar injustiça, opressão, interesses egoístas. Aceitar a Palavra de Deus e deixar-se seduzir por ele não é um caminho de glórias, de facilidade, de aplausos e triunfos.

Exatamente o que aconteceu com Jeremias se repete muito mais tarde com Jesus. Jesus começou a mostrar a seus discípulos que devia ir à Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei.” Jesus tem consciência que sua missão é difícil e exigente, mas com a mesma convicção do profeta não se deixa abater nem tampouco sofrer influências para mudar seus planos. Quando Pedro lhe propõe uma alternativa mais cômoda Ele recusa com firmeza: “Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!”

E na sequência Jesus dirige um convite provocativo para todos os que sentem a Palavra de Deus arder no seu coração: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida.”

Então, também para os cristãos na atualidade o desafio é desconsiderar as preocupações que os fazem olhar apenas para o seu interior, para as próprias necessidades, vantagens, sonhos e projetos pessoais. Desconsiderar segurança, bem estar, êxito, triunfo, aplausos e fazer de sua existência um dom generoso às pessoas e a Deus.

O verdadeiro discípulo de Jesus é capaz de agir como recomenda São Paulo na segunda leitura: Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito”.

Rezemos para que nossa vida seja verdadeiramente dedicada ao serviço da vida cuidando das pessoas e da nossa casa comum.

 

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

HOMILIA PARA O DIA 23 DE AGOSTO DE 2020 - 21º COMUM - ANO A

 

COMPLETAI EM MIM A OBRA COMEÇADA

O Salmo que rezamos neste domingo é uma espécie de agradecimento pela ação de Deus no mundo que se realiza na história e por meio das pessoas em todos os tempos: Ó Senhor, de coração eu vos dou graças, porque ouvistes as palavras dos meus lábios! Eu agradeço vosso amor, vossa verdade, porque fizestes muito mais que prometestes; naquele dia em que gritei, vós me escutastes e aumentastes o vigor da minha alma. Ó Senhor, vossa bondade é para sempre! Eu vos peço: não deixeis inacabada, esta obra que fizeram vossas mãos”.

A obra começada por Deus não é outra senão a comunidade daqueles que reconhecem Jesus como o seu enviado, aqueles que Pedro, por sua palavra e ação desligou dos pecados e da fragilidade do mundo para ligá-los ao Pai em Jesus Cristo a quem ele declara ser o Filho do Deus Vivo.

A tarefa que Jesus confiou a Pedro, como prêmio e responsabilidade por sua corajosa resposta, é o cerne da missão da Igreja e de todos os que aceitam que Jesus é o enviado do Pai. Todos, indistintamente, são chamados a dar testemunho de tudo o que acreditam sendo capazes de adaptar os ensinamentos de Jesus aos desafios do mundo e de acolher na comunidade todos os que também aguardam a manifestação do Filho de Deus.

Declarar que se aceita Jesus como Messias implica fazer correto uso das chaves, para não correr o risco de perder a confiança como aconteceu com o administrador infiel narrado pelo profeta Isaias na primeira leitura: Eu vou te destituir do posto que ocupas
e demitir-te do teu cargo”.
Ter nas mãos as chaves implica na capacidade de abrir as portas para acolher e cuidar garantindo com solicitude, com amor e justiça o acesso de todos aos bens e serviços que Deus disponibiliza para a humanidade.

Entregar-se confiantes nas mãos de Deus e permitir que o espanto em relação ao mistério transformem as nossas vidas num hino de amor a Deus libertador conforme afirma São Paulo na carta aos romanos é o convite feito para todos: “Na verdade, tudo é dele, por ele, e para ele. A ele, a glória para sempre. Amém!”.

Em resumo, reconhecer quem é Jesus implica compreender o significado que tem a nossa vida na relação com as propostas do Reino e os valores que a pessoa de Jesus Cristo trouxe para a humanidade. À medida que tivermos a coragem de Pedro, poderemos receber o mesmo elogio dado a Pedro: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu”.

 

 

 

 

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

HOMILIA PARA O DIA 16 DE AGOSTO DE 2020 - ASSUNÇÃO DE MARIA - ANO A

 

ATÉ QUE CRISTO SE FORME

Esta semana, numa das publicações de redes sociais, vi uma matéria que me inspirou a homilia deste domingo. Na cena o filho proprietário de uma empresa de médio porte, fez um grande e bom negócio. Para a inauguração do evento ele não convidou nenhuma autoridade importante, pelo contrário, chamou sua mãe, mulher agricultora, que recebeu as chaves e abriu as portas do novo empreendimento.

Pois é inspirado nessa imagem que me parece importante celebrar a Solenidade da Assunção de Maria ao Céu. Quem é grande, é rei, vencedor da morte é o Filho de Maria, mas é óbvio que ele não esqueceria aquela que “guardava e meditava todas essas coisas no seu coração”, mesmo quando uma “espada de dor lhe transpassava até a alma”.

Sem muitas delongas, é nesse sentido que a Igreja convida a colocar Maria como Mãe, Modelo e advogada nossa.  A bem da verdade, nós não rezamos para Maria, mas rezamos com Ela por Jesus ao Pai. Ela é nossa advogada e dá sua vida para nos defender, como se lê na leitura do Apocalipse neste domingo: “Então apareceu no céu um grande sinal:
uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava em dores de parto, atormentada para dar à luz... o Filho foi levado para junto de Deus e do seu trono. A mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar. Ouvi então uma voz forte no céu, proclamando: Agora se realizou a salvação, a força e a realeza do nosso Deus, e o poder do seu Cristo".

O poder do seu Cristo é o que Paulo descreve na segunda leitura: “Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos... E, quando todas as coisas estiverem submetidas a ele, então o próprio Filho se submeterá àquele que lhe submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos”.

E para que Deus seja tudo em todos, precisamos de muitas Marias, que sejam merecedoras da saudação do Anjo: “Maria Deus está contente com você...” Em resposta, Ela imediatamente colocou os pés na estrada para ajudar a prima Isabel. O resultado não poderia ser outro, senão o reconhecimento público que na figura de Maria se revelava a ação de Deus: “Bem-aventurada Aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu".

E eis que chega o merecido dia no qual o Filho, junto de Deus e do seu trono, coloca a coroa de 12 estrelas sobre a cabeça da Mãe e simbolicamente sobre os pés daquela que caminhou com ele nesta conquista, toda dor e tristeza do mundo simbolizados na serpente e na escuridão do pecado.

Ontem como hoje todos podem rezar de novo: “A minha alma engrandece o Senhor, e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador, pois, ele viu a pequenez de sua serva, eis que agora as gerações hão de chamar-me de bendita. O Poderoso fez por mim maravilhas e Santo é o seu nome! Seu amor, de geração em geração,
chega a todos que o respeitam. Demonstrou o poder de seu braço,
dispersou os orgulhosos. Derrubou os poderosos de seus tronos
e os humildes exaltou. De bens saciou os famintos despediu, sem nada, os ricos. Acolheu Israel, seu servidor, fiel ao seu amor, como havia prometido aos nossos pais, em favor de Abraão e de seus filhos, para sempre".

E proclamar sem medo como rezamos no salmo: “À vossa direita se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de Ofir”.

 

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

HOMILIA PARA O DIA 09 DE AGOSTO DE 2020 - 19º COMUM - ANO A

 

O SENHO NOS DARÁ TUDO O QUE É BOM

As palavras e o pensamento do Papa Francisco são repetidos exaustivamente no cotidiano de nossas comunidades. Igreja em saída é uma das expressões muito queridas e que se torna quase banalizada pelo excesso de repetição. O Evangelho deste domingo nos ajuda melhor entender o significado e a importância que a expressão pode ter para o nosso tempo e nosso jeito de ser Igreja.

Jesus ordena que os discípulos se dirijam para o outro lado do mar, nesta travessia a Ele não está fisicamente presente e o grupo é sacudido pelas ondas do mar. Ora, também nossas comunidades, levando em conta a intuição do Papa Francisco, são um barco singrando os mares bravios com todo tipo de tempestade e provação. Mas todos são chamados a ir para o outro lado, ou seja, ir ao encontro daqueles que não fazem parte do nosso grupo, buscar os que estão perdidos e afastados. Mesmo que isso possa machucar a Igreja e desestabilizar o barco que normalmente na veja em ondas tranquilas.

A primeira leitura é um convite para as comunidades reencontrar a origem da sua fé e do seu compromisso. Isso significa enfrentar as tempestades que se abatem violentamente contra essa peregrinação. Note-se o relato que o autor do livro faz sobre o profeta Elias: Naqueles dias, ao chegar a Horeb, o monte de Deus, o profeta Elias, entrou numa gruta, onde passou a noite.E eis que a palavra do Senhor lhe foi dirigida nestes termos:Sai e permanece sobre o monte diante do Senhor, porque o Senhor vai passar'... veio um vento impetuoso e forte... Mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto. Mas o Senhor não estava no terremoto. Passado o terremoto, veio um fogo. Mas o Senhor não estava no fogo. E depois do fogo ouviu-se um murmúrio de uma leve brisa”. Isso significa dizer que Deus se dá a conhecer na simplicidade, na intimidade, na humildade, no silêncio. Deus não precisa de sinais espetaculares, curas, milagres e obras portentosas.

Não perceber o amor de Deus no cotidiano e nas oportunidades singelas da missão é o mesmo que instalar-se numa autossuficiência de quem não quer perceber o ritmo de Deus, nem tampouco descobrir os novos desafios para cada fase da vida.

Na arriscada e difícil travessia ao encontro daqueles que não estão no mesmo barco tanto os discípulos de ontem, como os fieis contemporâneos podem ter a certeza que Deus está com eles e acalma as ondas bravias. Crer na sua presença garante a possibilidade de caminhar em segurança sobre tudo aquilo que causa pânico e medo. A desconfiança de Pedro lhe fez afundar: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água.' E Jesus respondeu: 'Vem! Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e começando a afundar, gritou: 'Senhor, salva-me!' Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: 'Homem fraco na fé, por que duvidaste?'

Em meio às turbulências do cotidiano, Jesus continua reanimando a todos com as palavras: Coragem! Sou eu. Não tenhais medo”.

O mandato que Jesus deu aos discípulos de outrora se repete e desafia a responder se diante das adversidades do tempo presente estamos dispostos a embarcar para a outra margem ao encontro daqueles que ainda não caminham conosco? Somos desafiados a ir ao encontro daqueles que tem sede de amor e de esperança, de modo que eles percebam na Igreja destes tempos um sinal coerente que os faça acreditar na força transformadora do Reino. A proposta não é solução fácil e na qual se recebe aplausos, antes é desafiador e exige coragem. Que a oração de todos e a Palavra proclamada sejam sustento e alento nos mares revoltos. Que sejamos capazes de levar a sério o que rezamos no salmo: Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei”.

 

 

 

sexta-feira, 31 de julho de 2020

HOMILIA PARA O DIA 02 DE AGOSTO DE 2020 - 18º DOMINGO COMUM - ANO A

É TEMPO DE CUIDAR

O texto da carta de São Paulo proclamado hoje começa assim: “Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo? Espada?”. Nós poderíamos acrescentar: pandemia, ciclone, violência, corrupção, politicagem, e São Paulo responde: “Em tudo isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou”.

Porém, de uma coisa é certa, a vitória sobre todas essas situações começa pela compaixão, pelo cuidado, pela responsabilidade partilhada. Não se trata de coisinhas ou programinhas de auxílio emergencial, ou de pequenos gestos de caridade, embora eles sejam úteis e até necessários.  Mas, para sair vencedores implica uma revolução na mentalidade de toda a sociedade. Trata-se de compreender que os “cinco pães e os dois peixes” que cada um possui, se somados, equivalem a sete.  E sete na linguagem bíblica significa quantidade e responsabilidade suficiente para resolver os problemas de todos partindo daquilo que Deus coloca diariamente nas mãos de cada pessoa.

Deus, segundo São Paulo e nos gestos de Jesus, mostra que a solução dos problemas está na compaixão que é uma responsabilidade de todos: pessoas, Igrejas, associações, governos, sociedade em geral. Jesus continua nos desafiando: “Não é necessário deixar ninguém com fome: Deem vocês mesmos de comer”.

Esta foi a atitude de Deus em toda a história e que nos é narrada na primeira leitura deste domingo: “Assim diz o Senhor: Vós todos que estais com sede, vinde às águas; vós que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei, vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite, sem nenhuma paga. Inclinai vosso ouvido e vinde a mim, ouvi e tereis vida”. O profeta Isaias nos apresenta e garante que Deus nunca fica indiferente diante de um povo atolado na miséria, no sofrimento e na desolação. Ao mesmo tempo é um convite para que tenhamos o mesmo sentimento e as mesmas atitudes. A palavra do profeta nos desafia, diante do sofrimento a que estamos submetidos, mostrar o nosso coração amoroso, que apoia e devolve a esperança, que ajuda a recuperar a dignidade e o gosto pela vida.

Nossas ações, neste deserto em que todos estamos imersos precisam ser respostas que matam a fome de pão e a sede de justiça, de fraternidade, de comunhão, de solidariedade, de amor e de paz. Que a oração de todos e a Palavra ouvida, seja também a comunhão partilhada de maneira que ao final de tudo ainda seja possível recolher doze cestos cheios com os pedaços que sobraram. Então sim poderemos rezar com a consciência tranquila de quem reconhece que é

É justo o Senhor em seus caminhos,*
é santo em toda obra que ele faz.
Ele está perto da pessoa que o invoca,*
de todo aquele que o invoca lealmente”.


sexta-feira, 24 de julho de 2020

HOMILIA PARA O DIA 26 DE JULHO DE 2020 - 17ª COMUM - ANO A


SER IMAGEM DE JESUS CRISTO
O trecho da carta de São Paulo proclamada neste domingo começa assim: “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus... e... aqueles que Deus contemplou com seu amor desde sempre, a esses ele predestinou a serem conformes à imagem de seu Filho...” Os escritos de Paulo são repletos de afirmações sobre a certeza que ele tem de ser amado como também quanto Deus ama indistintamente a todos. O texto de hoje é mais um convite para que possamos reconhecer o que Deus, desde sempre, preparou para a humanidade. Um convite que já estava expresso pelos profetas e justos do Antigo Testamento. 
Que Salomão foi um rei sábio e respeitado por todo o povo de Israel, não é preciso e nem é esse o momento de fazer uma longa explicação. Mas, que Deus ama o seu povo está claro na resposta que Salomão recebe ao seu pedido: “Senhor meu Deus, tu fizeste reinar o teu servo... Dá, pois, ao teu servo, um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal... E Deus disse a Salomão: 'Já que pediste sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu pedido; dou-te um coração sábio e inteligente, como nunca houve outro igual antes de ti, nem haverá depois de ti”. A resposta de Deus à prece de Salomão está baseada no estilo de vida que o rei apresenta e para o qual ele pede ajuda. Colocando-se na condição de responsável pela vida do seu povo o rei sabe muito bem o que é importante, necessário e útil naquela circunstância para os seus governados.
Fazer escolhas sábias de acordo com a necessidade e a oportunidade é o que Jesus explica aos seus seguidores por meio de três simples e sugestivas comparações: “O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo...O Reino dos Céus também é como um comprador que procura pérolas preciosas... O Reino dos Céus é como uma rede lançada ao mar...” em todas as circunstâncias as pessoas envolvidas nessas questões tem diferentes oportunidades e possibilidades e precisam de clareza e discernimento para fazer a escolha certa.
Essa lição vale para cada um de nós e para todas as comunidades. Reconhecer o amor que Deus tem para conosco e responder a esse amor com sabedoria, ou pedir que na sua misericórdia Ele nos mostre o melhor caminho significa saber discernir entre um tesouro e outro.
Perceber as manifestações de Deus no cotidiano da vida implica viver com alegria todas as escolhas, ainda que elas nem sempre sejam fáceis e muito claras. Muitas das decisões precisam ser tomadas entre conflitos e dificuldades exigindo sempre maior coerência e responsabilidade.
O Reino de Deus está ao alcance de nossas mãos e de nossas atitudes, trata-se de reconhecê-lo e discernir sem se deixar iludir pelas respostas passageiras que muitas vezes fascinam a mente e o coração.
Ontem como hoje é importante ter a humildade e a sabedoria de Salomão, vamos rezar juntos pedindo que Deus nos conceda  escolha certa neste tempo tão incerto:
Senhor nosso Deus, tu nos colocaste num tempo de dificuldade, estamos provados por todos os lados e não passamos de uma sociedade de adolescentes inseguros, nós e nossos governantes. Somos um povo numeroso, cada dia mais ameaçado e contaminado por um vírus impiedoso. Concede a nós, Senhor um coração compreensivo capaz de cuidar de si mesmo e de todos. Concede a nossas autoridades a sabedoria para discernir entre o bem e o mal, o justo e o injusto, em cada momento, para esse povo tão numeroso. Dá a todos Senhor, a sabedoria que partilha o vosso trono e faz-nos reconhecer o vosso amor conforme prometestes aos nossos pais para sempre Amém!

quinta-feira, 16 de julho de 2020

HOMILIA PARA O DIA 19 DE JULHO DE 2020 - 16º COMUM - ANO A


AMOR, PACIÊNCIA E PERDÃO
Nunca se ouviu falar tanto em medidas protetivas e responsabilidades partilhadas como nestes tempos de pandemia. Todas as instâncias de governo, os organismos internacionais, os órgãos responsáveis pela saúde pública, as agências reguladoras, os meios de comunicação social, todos, a comunidade científica mundial, indistintamente dedicam horas do seu tempo tentando encontrar alternativas menos traumáticas para mostrar sua preocupação com a saúde e o cuidado com a vida em todas as suas formas.
Por outro lado, nunca como agora, foi possível perceber como a sociedade inteira está mergulhada num ritmo estonteante , numa corrida frenética atrás do tempo, numa carga de stress desumanizante que transforma todos me máquinas de ganhar tempo e dinheiro.
Pois é neste contexto que se pode mais facilmente compreender o texto da carta aos romanos proclamado na liturgia deste domingo: “Também, o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis. E aquele que penetra o íntimo dos corações sabe qual é a intenção do Espírito. Pois é sempre segundo Deus que o Espírito intercede em favor dos santos”. De uma coisa podemos ter certeza: É Deus quem nos dá força e discernimento para viver segundo o espírito cuja decisão é muito superior à frenética corrida em que estamos todos metidos.
Esta certeza não tem outro fundamento se não nas palavras da Sabedoria que é parte da liturgia deste domingo. Deus com sua força e onipotência, em nenhum momento age como se poderia esperar de alguém que ocupe tal posição na relação com as pessoas e o mundo. Pelo contrário ele se mostra misericordioso, compassivo, favorável, indulgente: “Não há, além de ti, outro Deus que cuide de todas as coisas... No entanto, dominando tua própria força, julgas com clemência... e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores”.
Esta não é outra atitude senão a que Jesus revela nas parábolas do Evangelho. Fazendo a comparação entre o Reino de Deus e as realidades do mundo Jesus esclarece que a vontade de Deus não é a construção de uma sociedade de perfeitos, uma comunidade de justos, um grupo fechado no qual só tem lugar os bons, os puros, os perfeitos. Pelo contrário, a seu tempo, todos serão julgados a partir do próprio egoísmo e pecado.  O mundo como lugar da morada de Deus é um processo que vai sendo construído tendo como base a misericórdia e a compaixão, a solidariedade e o compromisso. Cada pessoa no ritmo das suas capacidades e escolhas vai fazendo produzir os sinais da presença de Deus na sua vida e nas relações que estabelece mediante um processo de conversão e de transformação cotidiana. Deus a quem Jesus Cristo anuncia não está interessado em destruir quem quer que seja, nem mesmo o pecador simbolizado pelo joio semeado no meio da boa semente. No seu amor e na sua misericórdia Deus não tem pressa no julgamento e no castigo, sempre dá oportunidade para rever nossas escolhas. A lição do Evangelho consiste em aprender com o grão de mostarda ou com a pitada de fermento, ainda que pareça insignificante, como todos podem dar sua contribuição para que o bem cresça e aconteça e então sim, será possível reconhecer a bondade e a compaixão do nosso Deus.  


sábado, 11 de julho de 2020

HOMILIA PARA O DIA 12 DE JULHO DE 2020 - 15º COMUM - ANO A


ANIMADOS PELA ESPERANÇA

Nesta semana a Igreja no Brasil celebrou a memoria de Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus. Dentre as frases selecionadas e que são atribuídas a Santa Paulina, uma delas diz assim: “Não desanimem nunca, nunca, mesmo que venham ventos contrários”. Certamente a Santa pronunciou esta frase numa das ocasiões nas quais a vida lhe impunha dificuldades e “ventos contrários” cuja tentação seria desanimar.
Ora, se fizermos uma leitura do contexto no qual Jesus contou a parábola do semeador proclamada no Evangelho deste domingo  vamos nos deparar exatamente numa situação de ventos contrários em relação a tudo o que Ele fazia e anunciava.  Em Corazim e Betsaida sua palavra era rejeitada; os fariseus procuravam mata-lo e o acusavam de agir de acordo com os demônios;  o anuncio do Reino não era compreendido por grande parte dos seguidores que apenas  lhe procuravam  em vista de uma solução imediata e o buscavam apenas em virtude dos milagres e do pão que Ele multiplicava.
Nessa situação Jesus conta uma parábola cujo resultado supera todas as expectativas. À época o normal seria um terreno produzir entre sete e dez por um. A parábola apresenta uma produção extraordinária destacando que independente da qualidade do terreno a  colheita será muito maior do que qualquer semeador pudesse esperar.
Ora, isso deixa muito claro, seja para os seguidores de Jesus quanto para a atualidade: O Reino, a justiça,  a misericórdia, a bondade de Deus irão prevalecer independente  de todas as dificuldades que as adversidade da vida nos apresentarem ao longo do tempo  resistindo a esse projeto.
Assim também fica mais fácil entender a palavra de São Paulo na carta aos romanos: “Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós. De fato, toda a criação está esperando ansiosamente o momento de se revelarem os filhos de Deus”. Ao mesmo tempo em que faz uma constatação da realidade Paulo convida todos se libertarem do próprio egoísmo, do orgulho, da autossuficiência, ou seja, de toda forma de terreno que impeça a  boa semente crescer e produzir.
Entretanto de uma coisa podemos ter certeza escutar e colocar em prática a Palavra de Deus  nos deixa confiantes e serenos diante dos ventos contrários que a vida nos oferece porque “assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”.
Rezemos com todos e por todos para que nos deixemos guiar pela Palavra preparando o terreno do coração para colheitas abundantes.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

HOMILIA PARA O DIA 04 DE JULHO DE 2020 - 14º COMUM - ANO A


MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO
As atitudes de Jesus durante sua vida terrena causaram impacto em todos os segmentos da sociedade. Os simples e desprovidos de autoridade e importância no contexto de outrora encontram na pessoa de Jesus o acolhimento que lhes faltava e a valorização que nunca tinham recebido. Ao passo que os poderosos e importantes do templo viram em Jesus uma ameaça e um perigo aos seus privilégios e benesses que acumulavam à custa da exploração das pessoas.
É nesse contexto que ganha ainda mais força a palavra de São Paulo na segunda leitura: “Pois, se viverdes segundo a carne, morrereis, mas se, pelo espírito, matardes o procedimento carnal, então vivereis”. Essa expressão de Paulo recorda a ação de Jesus que para cumprir a vontade do Pai gastou a sua vida e as suas forças para ajudar os mais desprovidos de qualquer recurso e socorro. Aos discípulos foi pedido nada mais do que a determinação para levar o mesmo estilo de vida de Jesus e este é o pedido que a leitura deixa para cada pessoa do nosso tempo: Se viverem somente preocupados com as coisas do tempo presente, diante de uma pandemia avassaladora, ou de um ciclone bomba, todos cairão em desespero e continuarão a insistir em manter suas seguranças em forças que não são seguras.
O mesmo recado tinha sido dado pelo profeta Zacarias: “Exulta, cidade de Sião! Rejubila, cidade de Jerusalém. Eis que vem teu rei ao teu encontro, ele é justo, ele salva; é humilde e vem montado num jumento”. Não tenhamos medo da chegada desse rei vitorioso, sua chegada será mansa e pacífica, totalmente diferente de todos os prepotentes da terra em todos os tempos.
E Jesus mesmo se dá essa qualificação ao nos presentear com seu diálogo com o Pai: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”. Contrastando com os fariseus e doutores da lei que se consideravam justos e melhores que os outros Jesus deixa absolutamente clara a sua condição. Ele vem para aliviar o fardo que a pesada estrutura do templo tinha colocado sobre os ombros das pessoas: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
A nós hoje é dirigida a pergunta: Qual a nossa estratégia para chegar a Deus? Como percebemos o seu rosto? Como fazemos a experiência de Deus? Costumamos fazer discursos bonitos e estar sempre disponíveis para todas as atividades na Igreja? Ou pelo contrário, fazemos isso ao mesmo tempo em que seguimos Jesus no caminho da entrega, da doação da vida às pessoas, no acolhimento e no cuidado com a vida de todas e da nossa casa comum. Que a Palavra e a oração de todos nos ajude, ensine e fortaleça nossa jornada.



quarta-feira, 24 de junho de 2020

HOMILIA PARA O DIA 28 DE JUNHO DE 2020 - SÃO PEDRO E SÃO PAULO - ANO A - DIA DO PAPA


O SENHOR ESTEVE COMIGO E ME DEU FORÇAS

A passagem que se proclama na segunda leitura deste domingo é conhecida como “Testamento de Paulo”. Fazendo uma espécie de despedida e balanço da sua vida Paulo deixa claro sua confiança no Senhor. Ele não fez corpo mole quando se tratava de dar conta da missão que havia recebido, mas ao mesmo tempo tem certeza que todas as suas forças seriam incapazes de lhe garantir sucesso na sua missão e então afirma: O Senhor esteve a meu lado e me deu forças...” Deste texto é possível tirar a mesma lição para a nossa vida. Usando as palavras de Paulo: Combater o bom combate, não fugir de nenhuma responsabilidade quando se trata de testemunhar o Reino de Deus e de aproximar as pessoas desta realidade, por outro lado, se tem alguém que merece ser reconhecido pelo bom termo desta tarefa é: Ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações... A ele a glória, pelos séculos dos séculos! Amém”.
E Que Deus com sua força e sua graça caminha ao nosso lado mesmo nas horas mais tenebrosas é fácil compreender na leitura dos Atos dos Apóstolos: Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele... Eis que apareceu o anjo do Senhor e uma luz iluminou a cela... Então Pedro caiu em si e disse: Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar...” Convenhamos que também nos embates do nosso cotidiano, não poucas vezes nos vimos aprisionados e sem possibilidade para dar mais nenhum passo e à medida que nos confiamos à graça e ao poder de Deus sentimos como uma luz iluminando nossa vida.
Nos dois casos Reconhecer quem é Jesus e qual a missão que Deus lhe confiou é a garantia que nunca estaremos desamparados. A resposta dada por Pedro em nome de todos os discípulos é a mesma que cada pessoa pode fazer todos os dias: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo". Obvio que fazer essa afirmação implica em alguma responsabilidade cuja tarefa exige firmeza e coragem: “Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus". A missão que Jesus confia a Pedro, de alguma maneira, é também dada a todos os cristãos e se resume em buscar e acolher, ligar e desligar.
Do ponto de vista da instituição o Papa é a autoridade no mundo para conduzir a Igreja e Ele, primeiramente, tem a missão de garantir a continuidade da Igreja e da missão que recebeu como sucessor de Pedro. Rezemos por Ele e caminhemos com Ele por uma vida santa e guiada pela graça de Deus a fim de que possamos repetir como São Paulo: “Só me resta a coroa da justiça que o Senhor justo juiz me dará naquele dia, não somente a mim, mas a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa”.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

HOMILIA PARA O DIA 21 DE JUNHO 2020 - 12º COMUM - ANO A



NÃO TENHAM MEDO

Situações que causam desconforto, solidão, abandono e preocupação ao nosso cotidiano são frequentes e dizem respeito à maneira de fazer e de organizar a vida algumas vezes causada pelo desequilíbrio da natureza, frequentemente pelas relações inadequadas entres as pessoas, grupos e sociedades.  A maneira como as autoridades constituídas se comportam no exercício do governo e uma infinidade de situações é provocadora de medo e desconforto.  A liturgia da Palavra deste domingo oferece conforto e aponta alternativas para superar essas situações.
Jeremias é o profeta que experimenta todos os sentimentos que ainda hoje nos assustam, apesar disso ele não tem medo de testemunhar Deus e a sua proposta. Como resposta declara: “O Senhor está ao meu lado, como forte guerreiro. Cantai ao Senhor, louvai o Senhor, pois ele salvou a vida de um pobre homem”. Aprender com Jeremias é um consolo para quem se reconhece ter recebido no batismo a missão de profeta que é uma tarefa difícil, mas que no exercício desta missão Deus nunca abandona aqueles que o testemunham com coragem e verdade.
São Paulo escreve aos romanos e afirma que a fidelidade aos projetos de Deus gera vida nova todos os dias e que nada, nenhum sofrimento, nenhum medo pode superar a força divina que o Senhor nos concedeu por meio do seu Filho: “A transgressão de um só levou a multidão humana à morte, mas foi de modo bem mais superior que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos”.
Enviando os discípulos em seu nome Jesus não lhes ilude apontando facilidades e sinais extraordinários, pelo contrário fala em perseguição, incompreensão, abandono, desconforto, situações que causam medo. Porém, ao mesmo tempo garante a sua presença e o cuidado de Deus para com eles repetindo três vezes: “não tenham medo, pois nada há de encoberto que não seja revelado; Não tenham medo daqueles que matam o corpo; Não tenham medo, Vós valeis mais do que muitos pardais”.
Então, não tenhamos medo de testemunhar para o mundo a alegria de ter encontrado Jesus e de permitir que ele transforme a nossa vida. Isso não significa acreditar que tudo é possível e que ser cristão não exija coragem profética, ao mesmo tempo misericórdia e fraternidade. Ser discípulo de Jesus implica não se deixar levar pelo fanatismo e por ofertas gratuitas. O valor extraordinário de nossa condição missionária implica reconhecer o coração terno e paterno de Deus que é bondoso e solícito. Que a Eucaristia, a Palavra e o testemunho dos irmãos nos ajude compreender o amor de Deus que nos acolhe sempre que encontramos dificuldades na caminhada

sexta-feira, 12 de junho de 2020

HOMILIA PARA O DIA 14 DE JUNHO DE 2020 - 11º COMUM - ANO A


O SENHOR DEUS É BOM
A primeira metade do ano 2020 expos ao mundo todo e para o todo o mundo a fragilidade da confusão e do atropelo que as pessoas e as instituições estavam envolvidas no cotidiano das suas relações.  A pandemia que assola a humanidade facilita, até aos mais incrédulos, reconhecer a presença, o amor e o cuidado de Deus. As três leituras deste domingo apresentam a ação de Deus em favor das pessoas caminhando lado a lado e facilitando laços de comunhão e de libertação duradouras.
A mesma proposta que Deus fez aos filhos de Israel depois da difícil passagem pelo deserto continua a apresentar para a comunidade contemporânea acometida por provações e dificuldades para as quais não encontra alternativa de descontinuidade. A Palavra de Deus é reconfortadora: “Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa”.
São Paulo escrevendo aos romanos esclarece a dimensão do amor de Deus pela comunidade que Ele escolheu. Por sua vez aqueles que nele acreditam tem uma tarefa simples e ao mesmo tempo exigente que implica dar testemunho deste amor que é eterno, gratuito e único: Quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado. Dificilmente alguém morrerá por um justo;
por uma pessoa muito boa, talvez alguém se anime a morrer. Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores”.
À medida que a pessoa reconhece o amor que Deus lhe dedica será capaz de enfrentar cada dia as dificuldades com serenidade, alegria e esperança.
Confiando a missão aos discípulos para agirem numa tarefa maior que as próprias forças e repleta de dificuldades, que aparentemente seriam assustadoras, Jesus deixa claro que Deus nunca se ausentou da história humana e que, também hoje, continua construir a salvação prometida outrora levando as pessoas ao encontro da verdadeira liberdade.
A presença de Deus não é uma ação anônima e distante ou que não possa ser percebida pelas pessoas, pelo contrário se faz notar nas palavras e gestos daqueles que nele creem e com sua vida anunciam e realizam: “O Reino dos Céus está próximo'. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar”.  
A tarefa de tornar conhecida a ação de Deus no mundo e nas provações a que todos estamos submetidos não é uma espécie de missão impossível, ou responsabilidade para super-homens, antes é confiada, como outrora, aos discípulos escolhidos do meio do povo e que representam a totalidade do povo.
Ontem como hoje todos somos convidados e desafiados a lutar contra tudo e todas as situações que provocam sofrimento, medo, e tristeza. Que a oração deste domingo seja para todos força e determinação para a missão que valorize e promova a dignidade e a qualidade da vida para todos em todos os lugares.






quarta-feira, 10 de junho de 2020

HOMILIA PARA O DIA 11 DE JUNHO DE 2020 - SOLENIDADE DO CORPO E SANGUE DE CRISTO -


VERDADEIRA COMIDA E VERDADEIRA BEBIDA

O texto do livro do Deuteronômio proclamado na primeira leitura de hoje parece ter sido escrito para as comunidades de hoje: “Lembra-te de todo o caminho por onde o Senhor teu Deus te conduziu estes quarenta anos, no deserto, para te humilhar e te pôr à prova, para saber o que tinhas no teu coração e para ver se observarias ou não seus mandamentos. 3Ele te humilhou, fazendo-te passar fome...” poderíamos parafrasear estas palavras dizendo: “Lembra-te da quarentena que te está sendo imposta, serve para provar sua humildade e te colocar a prova, é um tempo para observar o que tens guardado no seu coração. A humilhação do isolamento social é também causa de desemprego, de falta de trabalho, de preanuncio de fome...”
E a leitura continua: “Não te esqueças do Senhor teu Deus que te fez sair do Egito, da casa da escravidão, 15e que foi teu guia no vasto e terrível deserto, onde havia serpentes abrasadoras, escorpiões e uma terra árida e sem água nenhuma. Foi ele que fez jorrar água para ti da pedra duríssima 16e te alimentou no deserto com maná, que teus pais não conheciam”. Do mesmo modo se pode afirmar em relação ao tempo de retomada das atividades depois da quarentena: “Lembra-te que Deus está ao teu lado, é pela força de sua mão poderosa e de seu braço forte que será possível passar por este tempo de provação e dificuldade. Mesmo na mais dura provação Deus não te abandonou à tua própria sorte”.
Na sequencia desta leitura se lê a palavra de Jesus garantindo sua presença como alimento que satisfaz todas as fomes e toda a sede: ““Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo... Em verdade, em verdade vos digo, se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. 55Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue, verdadeira bebida. 56Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. 57Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por causa do Pai, assim aquele que me recebe como alimento viverá por causa de mim”.
Nossa resposta a esta palavra não poderia ser diferente daquela que nos sugere o Papa Francisco em sua catequese sobre a Eucaristia: “A celebração eucarística é muito mais do que um simples banquete: é precisamente o memorial da Páscoa de Jesus, o mistério da salvação. «Memorial» não significa apenas uma recordação, uma simples lembrança, mas quer dizer que cada vez que nós celebramos este Sacramento participamos no mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo. A Eucaristia constitui o apogeu da obra de salvação de Deus: com efeito, fazendo-se pão partido para nós, o Senhor Jesus derrama sobre nós toda a sua misericórdia e todo o seu amor, a ponto de renovar o nosso coração, a nossa existência e o nosso próprio modo de nos relacionarmos com Ele e com os irmãos... Mas a Eucaristia que eu celebro leva-me a sentir todos verdadeiramente como irmãos e irmãs? Faz crescer em mim a capacidade de me alegrar com quantos rejubilam, de chorar com quem chora? Impele-me a ir ao encontro dos pobres, dos enfermos e dos marginalizados? Ajuda-me a reconhecer neles o rosto de Jesus? Todos nós vamos à Missa porque amamos Jesus e, na Eucaristia, queremos compartilhar a sua paixão e ressurreição. Mas amamos, como deseja Jesus, os irmãos e irmãs mais necessitados? Por exemplo, nestes dias...” em que todos somos ameaçados por essa pandemia temos tido o cuidado necessário em relação a precaução e transmissão desse terrível vírus que ameaça o mundo?


sexta-feira, 5 de junho de 2020

HOMILIA PARA O DIA 07 DE JUNHO DE 2020 - SANTÍSSIMA TRINDADE - ANO A


DEUS MISERICORDIOSO E CLEMENTE

Tenho a convicção que o Papa Francisco se tornou, neste tempo de pandemia, uma das vozes mais respeitadas em todo o mundo.  Dentre seus gestos que impactaram a humanidade continua sendo reproduzida a imagem daquela tarde chuvosa na praça vazia Francisco abraçou o mundo mostrando seu sofrimento solidário com todos. Embora estivesse só, o Papa estava em comunhão com o mundo inteiro.
Outro fato que não passa despercebido é a condição de isolamento social. Certamente para muitas famílias foi a oportunidade de experimentar a proximidade física e humana que talvez nunca foi vivenciada ou que havia sido perdida por razões diversas.
Viver juntos exigiu construir comunhão e fraternidade, partilha e solidariedade, esperança e sofrimento. Pode-se dizer que este tempo de reclusão ajudou as famílias fazerem a experiência da comunhão que a liturgia de hoje apresenta como qualidade da Santíssima Trindade.
Deus que se revela a Moisés na primeira leitura se  auto apresenta como comunhão  na qual sobressai  a misericórdia e a compaixão: “O Senhor desceu na nuvem e permaneceu com Moisés, e este invocou o nome do Senhor. Moisés gritou: 'Senhor, Senhor! Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel”.
Por sua vez São Paulo escreve aos coríntios e convida a comunidade fazer a descoberta de Deus e do seu amor. Paulo apresenta Deus que é comunhão e família e recomenda três atitudes indispensáveis para quem quer encontrar Deus: “Alegrai-vos, Trabalhai, encorajai-vos...” fazendo isso afirma Paulo: O Deus do amor e da paz estará com vocês. O Evangelho é mais do que claro mostrando a dimensão do amor que brota do coração da Trindade:  Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”.
No contexto do isolamento social, da situação de medo e insegurança que grassa nossas famílias e sociedades, a Santíssima Trindade é um convite e desafio para que todos, a começar nas famílias sejam testemunhas do amor de Deus que se revela no cuidado e na responsabilidade de todos para com todos.
Que a celebração da Santíssima Trindade fortaleça em todos a consciência e a responsabilidade na criação de novas comunidades e novas relações de amor, de comunhão e de inclusão. Convidemos Jesus para subir no  barco de nossa vida e não percamos a oportunidade de cultivar a esperança que muito mais poderemos fazer juntos e fraternalmente.